Edição 290 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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29 DE MAIO DE 2018 ANO XXVIII Nº290 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR CARLOS ALMEIDA EDITORES EXECUTIVOS LUÍS ALMEIDA E PEDRO DINIS SILVA

acabra JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Parceria entre Académicas: positivo ou negativo?

Atletas da Secção de Futebol da AAC descontentes com protocolo firmado com AAC/OAF. Questões económicas e de profissionalização em jogo fora das quatro linhas. PÁG. 8 e 9

ENSINO - PÁG. 3 -

Secção Gastronómica não apresenta contas na tesouraria há mais de um ano. Presidente preocupado em angariar associados para manter portas abertas.

CIÊNCIA - PÁG. 5 -

Prevenir a obesidade pode ser possível através de proteína que regula o apetite. FFUC e CNC como parceiros no estudo

DESPORTO - PÁG. 7 -

Cidade prepara-se para os EUG 2018. Destacam-se reestruturações do Pavilhão Engº Jorge Anjinho e Estádio Universitário de Coimbra

CULTURA - PÁG. 10 -

Vida de António Portugal contada pela voz de Manuel Alegre e Manuel Portugal. Referência da guitarra portuguesa das antigas e novas gerações

CIDADE - PÁG. 11 -

Localização da nova maternidade nos CHUC não acolhe consenso­­dos conimbricenses­­.Vozes da ­­so­­­­­­­­­­ci­­­­­­edade civil preferem o Hospital dos Covões HUGO GUÍMARO


29 DE MAIO DE 2018 ENSINO SUPERIOR -2-

ESTATUTOS DA AAC EM PERSPETIVA UM ANO DEPOIS DA SUA APROVAÇÃO

Regulamento de base de toda a Académica fortalece poder fiscalizador da casa. Jorge Graça considera que “estatutos não são perfeitos, mas vieram para ficar” - POR GABRIELA MOORE -

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s atuais Estatutos da Associação Académica de Coimbra (AAC) entraram em vigor há um ano, mas o processo de adaptação das estrutu­ ras da casa aos mesmos ainda está a decorrer. Os despachos 5/2018 e 6/2018 emitidos pelo Conse­ lho Fiscal da AAC (CF/AAC) neste mês de maio demonstram isso mesmo. Como previsto nos novos estatutos, o processo de revisão dos regulamentos internos dos núcleos e das secções, de modo a adequá-los ao novo do­ cumento geral da AAC, tinha de estar concluído até abril deste ano. Com o prazo final a aproximar-se e muitos ainda sem entregar toda a documentação referente a este processo, o CF/AAC decidiu acres­ centar 15 dias à data limite. Acabado o novo prazo, 47 núcleos e secções ainda não haviam cumprido o exigido pelos estatutos. A fim de “garantir a estabi­ lidade e funcionamento das estruturas”, o prazo foi alargado mais uma vez, mas 19 organismos continu­ aram sem o cumprir e viram as suas contas bloquea­ das e o acesso aos serviços da AAC suspensos. A flexibilidade com que o CF/AAC tem lidado com a situação deve-se à tentativa de “tornar este período de transição o mais suave possível para as estruturas”, como refere o despacho 5/2018. O pres­ idente do CF/AAC, Jorge Graça, atenta, no entanto, ao facto de que “entender uma situação específica de uma secção é diferente de permitir que cada uma faça o que quiser, como quiser”. O presidente do CF/AAC na altura da mudança, Eric Jorge, considera ser normal que as secções te­ nham alguma dificuldade na adaptação, já que os es­ tatutos são “muito mais burocráticos em compara­ ção com os anteriores”. Jorge Graça recorda que “na altura da revisão muitos ficaram espantados com a complexidade que eles ganharam”. De um docu­ mento de 52 páginas e 109 artigos, passou-se a 112 páginas e 216 artigos. João André Oliveira, membro integrante da última Assembleia de Revisão dos Es­ tatutos (ARE), também recorda que muitas pessoas consideraram o novo documento “muito jurídico”. A opinião dos três, no entanto, é a de que os no­ vos Estatutos são mais estruturados, organizados e detalhados. O presidente do CF/AAC crê que a “vaguidão” dos antigos estatutos permitiram, ao longo dos anos, que quem incorresse contra os mesmos saísse impune. Agora, por exemplo, quan­ do alguém se candidata a um cargo de dirigente as­

sociativo, tem de assinar uma declaração de aceit­ ação. Jorge Graça explica que antes não havia nada que vinculasse os dirigentes eleitos das secções e núcleos às responsabilidades do cargo, de modo que as irregularidades cometidas por estes não ­­podiam ser punidas. “Todas as estruturas da casa têm uma missão” Um ponto que demonstra a especificidade que os estatutos adquiriram é motivo de crítica por parte dos núcleos de estudantes. Este ponto diz respeito a uma suposta limitação das suas atividades política, cultural e desportiva, segundo Jorge Graça. O mesmo explica que, ao longo dos anos, “os gru­ pos estudantis adquiriram uma competência políti­ ca que cabia à Direção-Geral da AAC (DG/AAC)”. João André Oliveira conta que a ARE percebeu que a DG/AAC estava “um pouco perdida” com tantas atribuições e, de modo a evitar a sobreposição de competências, entendeu ser necessário especificar nos próprios Estatutos qual é a alçada de cada estru­ tura dentro da AAC. Os atuais estatutos reforçam que o campo de atu­ ação dos núcleos é o pedagógico. Jorge Graça afirma que, apesar disso, “ninguém está impedido de fazer o que quer que seja”. Segundo o mesmo, o que se tem de perceber é que “todas as estruturas da casa têm uma missão” e “não se pode ter a iniciativa sozinho num tema que não é da sua competência”. Assim, os núcleos podem ter uma componente cul­ tural e desportiva, desde que o façam “em conjunto com as secções da casa que têm essa especialidade material”. Sobre a componente política, Jorge Graça expli­ ca que a DG/AAC pode consultar quem quiser so­ bre essas questões, mas julga não fazer sentido uma proposta chegar à Assembleia Magna assinada pela DG/AAC e pelos grupos estudantis. “Um núcleo ter decisão política torna a DG/AAC desresponsabili­ zada do sucesso ou insucesso das suas medidas”. Grande mudança na fiscalização da casa Uma das principais novidades dos estatutos foi a criação de uma Comissão Disciplinar, que surgiu com a intenção de reforçar o trabalho de fiscalização dentro da AAC e que antes cabia ao CF/AAC. Além de dividir funções de fiscalização com a Comissão Disciplinar, o Conselho Fiscal

HUGO GUÍMARO

sofreu uma grande mudança na sua estruturação. O número de membros passou de sete para 11 e foi estipulada uma divisão em dois plenos, que se complementam nas suas funções de fiscalização, deliberação e decisão, o que garante maior isenção e rigor nos seus trabalhos. Esta divisão em plenos permitiu que o CF/AAC pudesse fazer, este ano, uma fiscalização da Queima das Fitas (QF) “a nível de atos”, exemplifica o atual presidente do órgão. “Como o parecer do Relatório Anual e Contas da QF é da responsabilidade do ple­ no geral e de núcleos, o pleno de secções tem le­ gitimidade e afastamento suficiente para fazer uma fiscalização do ato da festa”. Jorge Graça explica que agora um relatório vai ser feito pelo pleno de secções, selado e entregue na Secretaria da AAC. O conteúdo deste relatório só vai ser conhecido pelos membros do outro pleno no mesmo momento que o relatório e contas elaborado pela Comissão Organizadora da QF for entregue. Mudanças a serem revistas Neste primeiro ano em vigor, alguns pontos dos estatutos causaram, e ainda estão a causar, alguma confusão. Eric Jorge não considera que existam pontos incompletos ou incorretos. O ex-presidente do CF/AAC admite, no entanto, a existência de al­ guns pontos dúbios, mas considera que seja função do Conselho Fiscal a interpretação dos mesmos quando surgirem. Um exemplo destes, apontado por Jorge Graça, surgiu numa das eleições deste mês de abril e foi em relação à definição de maioria absoluta e votos váli­ dos. O atual presidente do CF/AAC considera pro­ por que seja feita uma revisão extraordinária dos estatutos, não para alterar esses pontos dúbios, mas sim esclarecê-los. Jorge Graça considera que é preciso que todos percebam que, mesmo “não sendo perfeitos, os estatutos estão cá para ficar”. Para o presidente da CF/AAC, “a Académica deve estar sempre na van­ guarda da mudança” e o exemplo deve partir de coisas básicas, como estar disposto a aceitar mu­ danças, ainda que essas se revelem más mais tarde”. Jorge Graça diz estar convicto de que “estes estat­ utos vão ser benéficos para que a AAC se projete nos próximos 10 ou 20 anos de uma forma correta, rigorosa e sustentável”.


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SEM CONTAS E ATIVIDADE, A SECÇÃO GASTRONÓMICA TENTA REERGUER-SE

Contradições entre órgãos diretivos refletem falta de sintonia na casa. Esperança no futuro em paralelo com vontade de dar vida à estrutura

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om 130 anos de existência, a Associação Académica de Coimbra (AAC) tem al­ bergado diversas secções que, à sua maneira, fo­ mentam o dinamismo na academia. Ao longo do tempo, estas têm apresentado diferentes níveis de atividade, com casos de prosperidade e recupe­ ração, de dificuldades e inércia. Neste momento, no espetro negativo deste quadro encontra-se a Secção Gastronómica da AAC (SG/AAC) sem registo de atividade, tanto prática como financei­ ra, há mais de um ano. Falta de membros reflete incumprimento estatutário “As secções culturais pecam muito, sem cul­ pa nenhuma, por não terem matéria humana necessária para conseguirem fazer atividades”. As­ sim refere Mariana Rodrigues, vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), como forma de justificar a carência de projetos dina­mizadores e irregularidades estatutárias da secção. Neste momento, a SG/AAC detém um núme­ ro insuficiente de associados efetivos para conse­ guir apresentar uma lista candidata à direção da secção. Como explica o presidente do Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), Jorge Graça, “qualquer secção que apresente menos de 13 associados ati­ vos está incapacitada de fazer eleições”. Segundo os Estatutos da AAC, apenas passados três meses de um membro se inscrever junto da Secretaria da AAC é este considerado um associado com ca­ pacidade eleitoral, o que os habilita a votar e a ser eleitos. A SG/AAC apresentou o seu caderno eleitoral constituído por um número superior a 13 mem­ bros. Porém, nem todos se classificavam como as­ sociados com capacidade eleitoral, pelo que não foi entregue uma lista candidata. Caso a SG/AAC falhe em reunir este número de associados até uma data predefinida pelo CF/AAC, será organi­

- POR ANDRÉ CRUJO E PEDRO EMAUZ SILVA -

zada uma Comissão Administrativa. O objetivo desta consiste em definir a aptidão de uma secção para se manter como em funções. De acordo com o artigo 75º, ponto 14, se a secção em causa não for capaz de apresentar lista a sufrágio, o CF/AAC convoca uma assembleia de secções culturais cujo único ponto de deliberação é a extinção da secção. A SG/AAC falhou também a entrega do seu Regulamento Interno, mesmo com o prazo a ser estendido por 15 dias adicionais. Para o presidente da SG/AAC, João Martinho, as prioridades da SG/AAC visam a revitalização da sua atividade. Para isto foi determinado que a recuperação de membros é vital para a dis­ posição de matéria humana, de modo a possi­ bilitar a conformidade com os estatutos e levar a termo as eleições. “Se a renovação dos membros e da sua ati­ vidade falha, tudo o resto vai seguir o mesmo destino, pois é uma consequência de ter uma direção disfuncional”, justifica Jorge Graça. João Martinho afirma que, de modo a facilitar o pro­ cesso de recolha de membros, a secção vai pedir auxílio à DG/AAC para “manter o barco seguro”. Mariana Rodrigues complementa a ideia ao afir­ mar que “é prioridade da DG/AAC revitalizar a própria secção dentro de si”. Para tal, é necessário “criar uma ligação mais presencial entre a Di­ reção-Geral e a SG/AAC”, de modo a “curar um pouco as feridas da secção, para que prevaleça no futuro”. Esta preocupação da DG/AAC é alvo de críticas por parte do Conselho Cultural da AAC (CC/AAC). “Desde que tomaram posse, a 15 dezembro, a Direção-Geral diz que vai re­ solver todos os problemas. No entanto, a meio de maio nada está feito”, acusa o secretário-geral do CC/AAC, Paulo Abrantes. Órgãos da AAC e o contraste de opiniões A Assembleia de Secções Culturais da AAC HUGO GUÍMARO

reúne todas as direções das mesmas, vários el­ ementos do CC/AAC e elementos da DG/AAC. Segundo Paulo Abrantes, verifica-se que a pre­ sença da SG/AAC nas assembleias está mais ati­ va do que antes. “No passado nem apareciam, mas tomaram parte nas últimas quatro”, sub­ linha. No entanto, Mariana Rodrigues contradiz e indica que, das quatro assembleias efetuadas desde dezembro, “a SG/AAC não tem marcado presença”. No que toca ao registo de valores monetários, as opiniões desencontram-se de novo. Segundo a vice-presidente da DG/AAC, a ­­­SG/AAC­­­ não regista movimentos de conta. Isto significa que apresenta ao Serviço de Contabilidade, Tesoura­ r ia e Pessoal da AAC (CTP/AAC) valores nulos de mês a mês, sem saídas nem entradas na sua conta bancária. Porém, tanto o secretário-geral do CC/AAC como o presi­ dente do CF/AAC contrariam esta opinião ao afirmar que a secção não apresenta, de todo, quaisquer contas à CTP/AAC. A diferença entre estes dois casos revela-se na manifestação de inatividade por parte da secção, no primeiro, e um incumprimento naquilo que são as obrigações impostas pelos estatutos, no segundo. Foi possível confirmar na CTP/AAC que, de facto, a SG/AAC não apresenta contas desde abril do ano passado. Esta situação, se­ gundo João Martinho, deve-se “ao facto de não haver atividade, logo não é necessário mexer nas contas”. Quando questionado acerca deste lapso estatutário, o mesmo sublinha que, enquanto pre­ sidente, prioriza a angariação de membros sobre o cumprimento dos estatutos e a apresentação de contas todos os meses. Uma cozinha vazia “A maior dificuldade é um potencial membro chegar à secção e não existir um plano estru­ turado”, lamenta João Martinho. Acrescenta que os problemas se agravam numa secção que nem sala própria tem, visto que o espaço é cedido pelo Centro de Informática da AAC, que conta apenas com uma mesa para reuniões. Segundo o presi­ dente da SG/AAC, a confiança num futuro prom­ issor prende-se à “quantidade crescente de amigos e conhecidos que não querem que a secção acabe e estão prontos a trabalhar”. Jorge Graça reco­ nhece que “há vontade da própria secção de recu­ perar algo que foi talvez fruto de algum desleixo por parte da mesma, mas também de uma se­ quência dos interesses dos estudantes”. Esta sen­ sação é compartilhada por Paulo Abrantes, que fica com “a ideia de que há pessoas a tentar re­ tomar a direcção da SG/AAC”. Desta situação, o secretário-geral do CC/AAC retira que não existe comunicação entre os órgãos diretivos da casa e que “ninguém está em sintonia”.


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MAIO DE 1968: OS 50 ANOS DA REVOLUÇÃO IMAGINÁRIA

Movimento não é considerado uma revolução, mas a imaginação disso. Vários pontos do mundo foram, na época, abalados pelos ventos da mudança - POR VITTORIO ALVES E INÊS GAMA -

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s ruas agitavam-se. A multidão de estu­ dantes percorria as avenidas e ocupava a Universidade de Sorbonne. Ecoavam palavras de ordem. “Imaginação ao poder”, gritavam. Daniel Cohn-Bendit sentava-se onde outrora somente os professores se sentavam. Na Costa Oeste dos Esta­ dos Unidos da América contestava-se a guerra no Vietname. Praga levantava-se contra a ocupação soviética. Na Cidade do México estudantes caíam em prol da democratização do ensino. O Maio de 1968 não foi uma revolução, mas uma imaginação disso. Para Rui Bebiano, historiador e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), os estudantes que fizeram par­ te do movimento não pretendiam tomar o poder. Em vez disso, “colocaram em causa princípios que tinham a ver com a forma como as aulas eram da­ das, aspetos de natureza moral e como os profes­ sores se relacionavam com os alunos”, explica. A luta em França começa em março daquele ano. Inaugurava-se uma residência estudantil na Uni­ versidade de Nanterre, em Paris. O moralismo da época ditava que as áreas de convívios dos rapazes deveriam ser separadas das das raparigas. “A exigên­ cia era que os espaços de convivência se unissem”, esclarece Rui Bebiano. O mal estar da época “tinha a ver com os limites da democracia representativa e com a burocratização do sistema e das instituições em geral”, elucida Elísio Estanque, sociólogo do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. As palavras de ordem que vinham das ruas de Paris queriam que se deitassem abaixo as políticas decrépitas gaullianas. Os precursores do movimento que se alastrou por todo o globo, contudo, vieram do Novo Mun­ do. Na Califórnia, a contracultura ‘hippie’ levan­ tou-se contra as atrocidades cometidas pelo gover­ no americano no Vietname. Martin Luther King Jr. representava o alvorecer do sonho americano para os negros oprimidos e assassinados nas ruas da América. Já na Cidade do México, durante os Jogos

Olímpicos, era cometido um massacre contra estu­ dantes. Na tentativa de abafar as reivindicações dos jovens e evitar constrangimentos frente aos turistas, “o governo mexicano assassinou cerca de duzentos manifestantes”, revela Rui Bebiano. Um movimento democrático baseado na igualdade­­­ “Senhor Sartre, tem cinco minutos”. O filósofo francês pediu a palavra e teve tanto tempo de fala quanto qualquer outro que estava num dos au­ ditórios de Sorbonne. O episódio demonstra bem o ambiente das assembleias estudantis da época. O intelectual prestigiado era igual a qualquer outro cidadão. O movimento teve ainda na sua génese um di­ visor de águas. Optou-se pela articulação estudan­ til em detrimento da associativista, como refere o professor da FLUC. Enquanto a última defendia as reivindicações dos estudantes a partir de uma abordagem sindical, a primeira dispunha de uma dimensão mais politizada. Tratava-se de “associar a luta estudantil a algo que não ficava tanto pela uni­ versidade ou pelo Ministério da Educação”, comple­ ta o historiador. A emancipação das mulheres foi também um foco. Apesar de ainda nenhuma mulher ocupar um cargo de topo nas direções das associações estudan­ tis, estas desempenharam um papel ativo na cor­ rente. A pílula anticoncecional trouxe “uma liber­ dade da qual antes as mulheres não dispunham”, destaca Rui Bebiano. A questão da igualdade de género ganhou um novo rumo baseado nos ideais de Simone de Beauvoir. A lusofonia revolucionária Rui Bebiano aponta para o “erro comum” de as­ sumir a Crise Académica de 1969 em Coimbra, cu­ jos traços simpatizavam mais com o associativismo, como impacto direto do Maio de 1968. “É evidente que [os estudantes] sabiam que este tinha aconte­

cido, e isso pode ter ajudado as pessoas a sentirem que não estavam sozinhas na luta”, esclarece. A primavera “libertária e revolucionária”, entre­ tanto, veio alguns anos depois, por volta de 1972. O regime do Estado Novo havia fechado a Asso­ ciação Académica de Coimbra (AAC). O histori­ ador reflete que a medida se assemelhou ao dece­ par de uma Hidra, criadora mitológica. Ao cortar uma cabeça nasceram vários outros focos de re­ sistência, desta vez desenvencilhados da respons­ abilidade institucional da AAC. Rui Bebiano foi testemunha do estado de es­ pírito estudantil. Um dos fundadores do primeiro grupo maoísta de Coimbra, o historiador recorda os encontros que tinha com os seus camaradas ativistas num milheiral à beira do Mondego. “Fa­ ziam-se reuniões de cócoras para tapar as cabeças e ninguém dar conta. Era ali que se decidiam for­ mas de luta”, relembra. Um movimento derrotado que perpetuou no tempo A maior manifestação que existiu em França, du­ rante o Maio de 1968, foi convocada pela direita em apoio ao general De Gaulle. Desfilaram pela aveni­ da Champs Elyseés 500 mil pessoas. Nas eleições do ano seguinte, o partido do sucessor de De Gaulle, Georges Pompidou, junto com o de Giscard d’Es­ taing, recebeu 71 por cento dos votos. “O movimento de Maio de 1968 e aquilo que representava na política, num curto prazo, foi der­ rotado”, considera Rui Bebiano. No entanto, as mu­ danças que desencadeou foram algo diferente. A longo prazo, o movimento estudantil deu a ideia de que é preciso pôr em causa o ensino, a crise social e, acima de tudo, afirmar que é possível existir orga­ nizações de estudantes que tenham uma dimensão politizada. Para o professor da FLUC, “este lado li­ bertário um pouco anárquico continua a existir. E é isso que fica”. DIREITOS RESERVADOS


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FFUC NO PÓDIO DOS PRÉMIOS JANSSEN INOVAÇÃO

Investigação aprofunda conhecimento acerca das funcionalidades da proteína que regula o apetite. Prémio de vinte mil euros ajuda a desenvolver estudos

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revenir a obesidade pode ser possível através da proteína Ataxina-2 presente no hipotála­ mo, uma das áreas cerebrais que regulam o apetite. É esta a conclusão de uma investigação liderada pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (­CNC/ UC)­. A equipa foi distinguida, a 9 de maio, no Por­ to, com o 2º lugar dos Prémios Janssen Inovação. Estes visam distinguir trabalhos científicos na área da saúde, como hipertensão pulmonar, imunolo­ gia, infecciologia, neurociências e oncologia. A proteína Ataxina-2 está presente em todos os tecidos do corpo humano, embora se possa encon­ trar em maiores quantidades em certas regiões do cérebro. “Não se sabia muito sobre esta proteína para além da importância que tinha na regulação do ‘stress’ e da atividade celular”, refere Sara Carmo Silva, autora da tese que deu origem à investigação. Através do estudo verificou-se que é possível pre­ venir a obesidade com o aumento da concentração de Ataxina-2 no hipotálamo. Os investigadores de­ tetaram nesta região cerebral, em ratos obesos, que a proteína tinha concentrações mais baixas. No en­ tanto, quando estimulavam o “aumento dos níveis de Ataxina-2 no cérebro dos animais, alimentados

- POR MÓNICA REGO -

ILUSTRAÇÃO GENTILMENTE CEDIDA POR SARA CARMO SILVA

com uma dieta rica em gorduras, eles não se torna­ vam obesos”, garante Sara Carmo Silva. Ao transpôr os resultados da investigação para humanos, Cláudia Cavadas, professora da FFUC e uma das líderes da investigação, informa que não existem registos de pessoas sem a proteína Ataxi­ na-2 no seu corpo. Todavia, há indivíduos que têm o seu “código genético estragado”, o que pode estar

“associado a doenças neurodegenerativas”, explica. Neste momento, o objetivo dos investigadores é procurar uma “estratégia menos invasiva” para admi­nistrar em seres humanos. A solução pas­ sa por recorrer a um fármaco “que seja idêntico à Ataxina-2”, informa Cláudia Cavadas. Ainda assim, se o fármaco vier a existir não será cem por cento eficaz. Este deve ser complementado com uma alimentação saudável, garante a professo­ ra da FFUC. O processo deve começar no super­ mercado, “onde as pessoas devem comprar produ­ tos saudáveis”. Frisa também a importância de se ter “um sono regular”, visto que a diminuição do número de horas tem impacto no peso do paciente. Em relação ao prémio obtido, Cláudia Cavadas adianta que os vinte mil euros vão ser aplicados em estudos que até agora não tiveram financiamento e na compra de material de laboratório. O galardão representa “a validação dos resultados obtidos para a sociedade”, bem como do “reconhecimento pes­ soal por todo o esforço e persistência”, declara Sara Carmo Sil­­­va­. Foi a segunda vez que a equipa da FFUC recebeu um Prémio Jassen Inovação. Este reconhecimento para Sara Carmo Silva reflete a qualidade dos gru­ pos de investigação portugueses.

ESTUDO PROCURA SOLUÇÃO PARA INFEÇÕES DENTÁRIAS ATRAVÉS DE TERAPIA FOTODINÂMICA

Investigadores da UC analisam nova forma de tratar problema dentário que afeta metade da população com mais de 50 anos. Método pode ser mais seguro e eficaz do que os convencionais

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Terapia Fotodinâmica (TFD), um novo possível tratamento para infeções dentárias, foi desenvolvido por investigadores da área de Medicina Dentária, do Instituto de Microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e do Centro de Neu­ rociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra. A investigação foi feita no âmbito do doutoramento de Patrícia Diogo, estudante da Universidade de Coimbra. O estudo “surge como uma nova possibilidade com a capacidade de mostrar resultados supe­ riores às técnicas convencionais na elimi­nação de micróbios”, afirma João Miguel Santos, um dos coordenadores do projeto. A investigação, que também envolveu a coordenadora Teresa Gonçalves, ainda está na fase pré-clínica, mas o uso de fotossensibilizadores no combate à in­ feção dentária é um “potencial tratamento”, su­ blinha João Miguel Santos. Os fotossensibilizadores são moléculas capa­ zes de interagir com a luz de modo a produ­zir es­ pécies reativas de oxigénio, que podem ser úteis no combate a cancros ou na inativação de outros agentes patogénicos. A utilização de fotossensibi­ lizadores noutro tipo de tratamentos mostrou-se bem-sucedida. Porém, a sua aplicação no com­

- POR ANA LAURA SIMON -

bate a infeções dentárias “tem de ser aprovada por entidades competentes para serem utilizados em clínicas”, esclarece ­o ­investigador­­. “Um dos objetivos da pesquisa foi a necessi­ dade de encontrar estratégias mais eficazes na eliminação completa do biofilme do interior dos canais radiculares”, afirma o coordenador. Os biofilmes, comunidades de microrganismos que estabelecem relações de simbiose entre si, podem ser resistentes aos métodos convencionais, como a desvitalização. Para além disso, “o hipoclorito de sódio usado no tratamento das infeções tem limitações, quer quanto ao facto de ter micror­ ganismos que não são eliminados por completo, quer quanto à sua toxicidade para o paciente”, rei­tera João Miguel Santos. Este foi um estudo publicado em duas revistas, dividido em mais que uma fase. De acordo com o investigador, a primeira consistiu em comparar “a TFD com os desinfetantes clássicos” e fazer um estudo in vitro. A fase seguinte consistiu em avaliar “o desenvolvimento de biofilmes em den­ tina radicular”, e aplicar a terapia fotodinâmica nos mesmos, explica João Miguel Santos. Com­ plementa que “muitas vezes as proteínas e a com­ posição da dentina podem interagir com o fotos­ sensibilizador de modo a reduzir a sua eficácia”,

de forma que é necessário continuar os estudos laboratoriais. Os estudos realizados “não envolveram apenas amostras in vitro”, o fotossensibilizador foi testa­ do também “no próprio dente, ou seja, os bio­ filmes foram desenvolvidos em contacto com a raiz do mesmo”, completa o investgador. Elucida que a evolução do projeto envolve também uma preocupação com “a estética dos dentes dos paci­ entes”, além de aspetos práticos, como o “desen­ volvimento de uma fonte de luz cujo o pico seja adequado para o máximo rendimento do teste”. As infeções dentárias são um problema que afeta metade da população com mais do que 50 anos e “os tratamentos populares apresentam margem para progredir e melhorar”, assegura João Miguel Santos. De momento, a equipa está a procurar produtos biocompatíveis para este tra­tamento e mantém as pesquisas laboratori­ ais, que vão continuar pelos próximos quatro a seis anos. Esta pretende, ainda, envolver estu­ dantes, com o objetivo de “participarem em todo o projeto de elaboração e na parte laboratorial”, declara o coordenador. O estudo contou ainda com o au­xílio da Universidade de Aveiro e da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil.


29 DE MAIO DE 2018 DESPORTO -6-

PAVILHÃO ENGº JORGE ANJINHO: A RECUPERAÇÃO DE “UM ­ESPAÇO DA ACADÉMICA”

EUG 2018 são “uma questão de oportunidade” para as obras em curso. Alexandre Amado prevê criação de um museu da Académica no espaço

A

- POR MIGUEL MESQUITA MONTES E MARIA FRANCISCA ROMÃO -

ntes de o apito inicial dos European Univer­ sities Games 2018 (EUG 2018) se fazer ouvir por toda a cidade, é o som das obras que impera dentro e fora das paredes do Pavilhão Jorge Anjinho. Depois de requalificada, a infraestrutura da Solum vai acolher as modalidades de basquetebol e ténis de mesa da competição europeia. “Uma das principais obras na agenda prende-se com a alteração do piso”, indica o presidente da Di­ reção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Alexandre Amado. No entanto, o mes­ mo alerta para a possibilidade de esta poder não fi­ car pronta a tempo dos EUG 2018. Se essa hipótese se verificar, “vai ser colocado um piso temporário e, só depois dos jogos, um definitivo”, esclarece. “Quem conhece o pavilhão sabe que ele preci­ sa de muitas obras”, garante o secretário-geral dos EUG 2018, Mário Santos. Assim, também a ilumi­ nação vai ser refeita e os balneários reconstruídos. O mesmo admite que, “a médio prazo, gostaria que a cobertura sofresse uma intervenção”. Por seu lado, Alexandre Amado assegura o que, de facto, vai ser alvo de mudança ainda antes dos jogos. Para além dos já referidos piso, iluminação e balneários, “vai ser dada uma maquilhagem ao pavilhão, que con­ siste em pintar os corrimões e as paredes principais e fazer uma limpeza de fundo”. A reabilitação desta infraestrutura desportiva, que para Mário Santos é “um momento histórico”, segue-se à assinatura de um contrato de gestão e partilha de espaço entre a DG/AAC e a AAC/Or­ ganismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF). “Os espaços que foram arrendados à Direção-Geral são a nave central do pavilhão, todas as suas salas e os

balneários”, enfatiza Alexandre Amado. O Pavilhão Jorge Anjinho vai continuar a ser uma casa para o Núcleo de Veteranos da OAF e para a sua claque, Mancha Negra. A diferença reside no facto de agora a DG/AAC também usufruir deste espaço. Alexandre Amado considera que faz sentido que assim seja, uma vez que “é importante que se man­ tenham a identidade, proximidade e ligação à AAC/ OAF através daquela infraestrutura”. A permanên­ cia do Bar da Mancha no pavilhão constitui mais uma das semelhanças com o passado. “Os EUG 2018 não são fogo-de-artifício” Nas palavras do secretário-geral dos EUG 2018, “o fogo-de-artifício é muito bonito, mas quando acaba resta apenas uma conta para pagar”. Mário Santos expressa, por isso, o desejo de que os jogos sejam mais do que um simples espetáculo. Entre partidas desportivas, apoio de claques e convívio entre atletas, “o objetivo é que este evento deixe uma marca e um legado, tanto material quanto imaterial”. No que diz respeito à parte material, salienta a “reconstrução de infraestruturas que estavam em estados degradantes e sem dignidade para a prática desportiva”. Mário Santos sugere ainda que esta oportunidade se esten­ da a outros equipamentos da cidade. Quanto ao legado imaterial, frisa que “é impor­ tante valorizar o desporto na formação dos estu­ dantes universitários”, até porque considera que “existe uma correlação entre a atividade física e a qualidade de vida”. Mário Santos destaca, por fim, a possibilidade de os jogos universitários potenciarem a prática desportiva entre os habitantes da cidade dos estudantes.

Um pavilhão para a cidade inteira Os EUG 2018 foram o ponto de partida para a requalificação do Pavilhão Jorge Anjinho. As obras respondem, portanto, à necessidade de um espaço que pudesse “acolher um conjunto de jogos que, em planos iniciais, iriam acontecer em lugares desloca­ dos e fora da cidade”, informa Alexandre Amado. Aquele que vai ser agora o “pavilhão da Académi­ ca” também “vai servir as secções desportivas que, em tempos, já lá tinham treinado”, explica. O presi­ dente da DG/AAC acrescenta que muitos destes or­ ganismos “passeiam por Coimbra de forma avulsa e desorganizada e sem grande capacidade de gestão a curto prazo”, situação que “prejudica em muito o projeto desportivo das secções”. No seu entender, “este espaço é um símbolo da academia e, como tal, faz sentido que lá treine e jogue a AAC”. Deste modo, Alexandre Amado clarifica que “o objetivo destas mudanças não é apenas o de dar sede às secções desportivas da AAC no pavilhão”. O mes­ mo expõe que “muitos espaços vão ser arrendados pela DG/AAC a outras entidades para garantir algu­ ma estabilidade financeira adicional”. Com o olhar no futuro, o presidente da DG/AAC adianta que tenciona “criar um museu do despor­ to da Académica no Pavilhão Jorge Anjinho”. Para isso, “é preciso recolher os troféus e medalhas dis­ persos no Museu Académico Desportivo, nas salas das secções no edifício-sede e no Estádio Cidade de Coimbra e concentrar tudo num único museu”, sin­ tetiza. Alexandre Amado conclui que “vai ser pos­ sível criar um espaço de adeptos que saibam que ali se joga andebol, basquetebol, futsal ou hóquei”. DIREITOS RESERVADOS


29 DE MAIO DE 2018 DESPORTO -7-

COIMBRA EM CONTAGEM DECRESCENTE PARA OS EUG 2018 Obstáculos de acomodação ultrapassados com residências universitárias e alojamento local como solução. Oportunidade de a cidade sobressair é um dos principais desejos da organização - POR CARLOS ALMEIDA E ANDRÉ CRUJO JOÃO RUIVO

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reze modalidades, treze dias: esta é a du­ ração dos Jogos Europeus Universitári­ os, ou European Universities Games 2018 (EUG 2018), que vão ocorrer na cidade de Coimbra. “Com uma média de dois mil atletas e cerca de 350 universidades”, o evento é o maior “multidesport­ ivo organizado em Portugal” como adianta Mário Santos, secretário-geral dos EUG 2018 e coorde­ nador do Gabinete de Desporto da Universidade de Coimbra (UC). De acordo firmado no dia 30 de novembro de 2015, a Associação Académica de Coimbra (AAC), a Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e a UC, trazem a Coimbra um projeto “com um orça­ mento operacional de cerca de cinco milhões de eu­ ros” como informa Mário Santos. Meio milhão de euros vem da parte da Comissão Europeia e mais de um milhão foi investido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, sendo que o montante que resta vem da parte FADU, CMC, Estado e patroci­ nadores, de forma respetiva. Grande parte do investimento está a ser alocado em obras de reestruturação de instalações despor­ tivas como os Pavilhões 1 e 3 do Estádio Universi­ tário de Coimbra e o Pavilhão Jorge Anjinho. A área de estacionamento, exterior ao estádio, foi constru­ ida de raíz. “Quando se fala em obras, são reestru­ turações que são para ficar para mais de cinquenta anos”, assim afirma o secretário-geral dos EUG 2018.

os EUG 2018 “vão trazer uma movimentação muito grande e, portanto, um estímulo também grande à economia local”. Já Mário Santos expõe que “a nível económico, o impacto é grande, só de pensar que a nível de alojamentos representa uma receita supe­ rior a um milhão de euros”. Em termos de visitantes, a cidade vai receber cer­ ca de duas mil presenças, vindas de fora, por dia. “Este é talvez um número que representa a capaci­ dade hoteleira de Coimbra”, explica o coordenador dos EUG 2018. “Vai ser uma janela de oportunidade para dar conhecer Coimbra como cidade universi­ tária a milhares de atletas e estudantes da Europa”, acrescenta ainda. Esta previsão é também corrob­ orada por Alexandre Amado que afirma que se “podem abrir portas” e que “é uma oportunidade histórica para a cidade se afirmar no contexto eu­ ropeu”. Tanto o presidente da DG/AAC como Mário Santos, explicam que a nível de alojamento os atle­ tas vão ficar parte em alojamento local e parte em residências universitárias. “Neste momento só para atletas e árbitros existem 2200 camas por noite”, como conta o secretário-geral dos EUG que assegu­ ra ainda que Coimbra foi a cidade escolhida porque “aquilo que vendeu é, de forma concreta, aquele es­ pírito único de uma cidade universitária” e Coim­ bra tem “um ambiente híbrido [entre estudantes e população geral] e único, com grande envolvimento dos estudantes”.

Cidade pronta para os impactos turístico e económico? Quanto ao impacto económico que este evento pode trazer à cidade, Alexandre Amado, presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), explana que

Um dos eventos desportivos com mais voluntários Os EUG 2018 são, como explica o presidente da DG/AAC, o terceiro maior evento desportivo a nível mundial com um elevado número de voluntários,

“Fala-se de cerca de mil voluntários”, confirma o presidente da DG/AAC. “São os voluntários que vão fazer o evento, sob a orientação de um ‘staff’ e de uma equipa da comissão organizadora composta por pessoal contratado” dos European University Sports Association, que é a principal entidade que organiza e dinamiza os EUG 2018, completa ainda. Mário Santos acredita que o envolvimento dos es­ tudantes como voluntários “ajuda na sua formação e a adquirir competências que na vida profissio­ nal os vai fazer sobressair”. Reforça ainda que “são competências que a universidade pode não promo­ ver nas aulas”, mas que a AAC dinamiza e, que d­es­ ta forma, o coordenador deseja que sejam práticas transpostas, não só para o civismo em geral, mas também para o âmbito desportivo. EUG aproximam-se: um balanço dos preparativos Em termos de cômpto geral financeiro, “só de taxas de participação vai-se receber um milhão e setecentos mil euros. Em catering vai-se gastar um milhão e meio, o que são números consideráveis”, indica o presidente da DG/AAC. “Há um centro de custos próprio e é geri­ do pelas quatro instituições”, adianta também. Secretário-Geral dos EUG 2018 e Alexandre Amado falam de um “modelo único”. “Tem sido um enorme desafio porque como é a primeira vez que se faz um evento deste tipo, isso obriga a organização a criar modelos próprios e muitas vezes feitos à medida daquelas que são as realidades encontradas, numa ci­ dade como Coimbra”, remata Mário Santos. O mesmo conclui que esta é uma oportunidade para a cidade se rejuvenescer e se tornar uma referência internacional. Até ao fecho desta edição não foi possível contactar com a FADU ou a CMC.


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QUANDO SE ENTORTAM AS LINHAS DO CAMPO E SE DEIXA DE JOGAR À BOLA Jogadores da Secção de Futebol “iludidos com protocolo mascarado de melhorias logísticas”. Acordo oficial com AAC/OAF deixa estudantes no banco de suplentes - TEXTO E FOTOGRAFIAS POR MIGUEL MESQUITA MONTES -

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á dois anos, no Campeonato Nacional de Séniores (CNS), o roupeiro da equipa era um jogador. Andavam, como saltimbancos, de campo em campo para poderem treinar: Campo Carlos Filipe, Campo de Santa Cruz, Estádio Municipal de Taveiro e Estádio Municipal Sérgio Conceição. E jogar à bola, pode-se perguntar. Jogavam (e continuam a jogar) no Estádio Universitário de Coimbra. No sentido de resolver estas e outras questões, a Secção de Futebol da Associação Académica de Coim­ bra (SF/AAC) assinou, com a AAC/Organismo Autóno­ mo de Futebol (AAC/OAF), um protocolo de patrocínio e satelização, no início do presente ano letivo. Em 2015, a SF/AAC subiu para o CNS (o equivalente à terceira di­ visão) e, no ano seguinte, a AAC/OAF desceu de escalão, para a segunda liga, onde ainda permanece. “A SF/AAC foi lembrada, começaram a comparar-se as académicas e, por isso, fez-se um protocolo”, explica “Artur”, jogador da SF/AAC, que preferiu não revelar a sua identidade. Mas a SF/AAC nem sempre foi assim. Aliás, se a ver­ dade fosse dotada de voz, diria pois que assim já não o é. “Antes, os jogadores entravam em campo de capa”, recorda Pacheco, capitão da atual formação da secção. “Mas agora já não faz sentido”, esclarece, pelo facto de que “não se pode obrigar um profissional a trajar”. Quando um protocolo não é o que era 8 de outubro de 2017, 15 horas. No relvado do Está­ dio Universitário defrontaram-se SF/AAC e Oliveira do Hospital, para a terceira jornada da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra. Os golos que ditaram a derrota dos estudantes foram marcados por David Almeida e Varela. Para “Artur”, o adversário era “muito experiente”, ao contrário da sua equipa, “ainda muito jovem”, embora com potencial.

“Vieram logo para cima da nós”, aponta o joga­ dor, ao referir-se à direção da AAC/OAF. “E assim foi sempre”. Quando, segundo o ponto de vista de “Artur”, “eles começaram a falhar, nunca vimos o compromisso deles ser posto em causa”, confiden­ cia. Porém, admite que talvez devesse ter partido do seu coletivo reclamar com a direção do organismo autónomo. “Mas sempre tivemos medo”, justifica. “Abdiquei de jogar noutra equipa para regressar à secção”, declara “Artur”. O mesmo conta que fêlo pelo treinador com o qual a SF/AAC começou a temporada, Pedro Ilharco, que “foi escolhido pela AAC/OAF”, como determina o próprio protocolo. O atleta reitera que aceitou a proposta para regressar à secção “em concordância com as condições que o treinador ofereceu e que seriam diferentes por causa do acordo” entre as duas instituições. Assim, a parte em que se sente mais prejudicado pelo protocolo “é a nível monetário”. E no futebol, “se falha dinheiro, falha tudo”. Para além disso, relembra o ano que passou de forma queixosa. “Também posso falar do facto de os jogadores que vêm da AAC/OAF terem de jogar sempre e nas posições que o treinador deles escolhe”, aponta. Assim, quando tal acontece, os futebolistas da secção são deixados no banco de suplentes para os profissionais terem minutos de jogo. “E eles nem sequer fazem um único treino connosco”, denun­ cia ainda o jogador da SF/AAC. Mas tal não consta do protocolo, só a palavra aqui impera. “O mister ­I­lharco disse que os atletas que viessem da AAC/ OAF iriam ter de jogar a titulares, mas que se ele visse que isso não ia ser benéfico para o coletivo, não o fazia”, afirma. Os jogadores da SF/AAC pensavam então que a gestão da equipa partiria sempre do seu

treinador, mas cedo perceberam que não. “O mister Ilharco tinha reuniões semanais com o então treinador da AAC/OAF, Ivo Vieira, e já ti­ nham posto em cima da mesa três ou quatro nomes de atletas da SF/AAC para irem ao estádio treinar”, indica “Artur”. Entretanto, com a primeira troca de treinadores por parte do organismo autónomo, “o novo técnico, Ricardo Soares, disse ao nosso mis­ ter que tinha vindo para subir e mais nada”, o que, como constata, acabou por deixar de parte a inte­ gração dos seus colegas na equipa principal da Brio­ sa. O jogador especula, até, que “a AAC/OAF podia querer fazer uma equipa de sub-23 para ser clube formador”, mas que isso também dependia da even­ tual subida – um feito que não aconteceu. Mas “os primeiros meses [do protocolo] foram fantásticos”, garante “Artur”. Depois, aquando da mudança de treinador por parte da secção, “tudo com isso mudou”, afirma. Acrescenta também que o apoio vindo da AAC/OAF foi vítima de mudanças. A SF/AAC, como defende o protocolo, passou a trei­ nar na Academia Ledman, no Campo do Bolão, às terças-feiras. A equipa júnior do organismo autóno­ mo treinava, então, no Campo Sérgio Conceição.


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“Aconteceu, por vezes, os juniores da AAC/OAF não irem para o Sérgio Conceição e a secção ficar sem espaço”, denuncia o jogador. “Tivemos de trabalhar a meio-campo com eles”, relata, e “um trabalho de uma equipa a meio-campo não dá para nada”. O jogador sintetiza que “os campos de treino esconderam, em certa parte, a falta de dinheiro e ­apoio”. Insiste na ideia de que, neste desporto, o a­ poio não deve ser só monetário, apesar de o considerar o mais importante. “Eles deram o que não custa a dar”, diz “Artur”, num tom recriminatório para com a direção da AAC/OAF. “Ainda por cima, a SF/AAC treina sempre antes das outras equipas, enquanto o campo está parado”, e conclui que tal “não lhes causa nenhum prejuízo”. No Campo do Bolão joga-se com a cabeça Ao saírem dos balneários para os relvados, os jogadores, sejam eles da SF/AAC (para quem é tudo ainda novidade), AAC/OAF, benjamins ou seniores, todos fazem uma ligeira vénia ou estendem a mão em jeito de cumprimento a quem por lá se encontra. Aqui se vê que nem só de pais e avós surge edu­ cação e instrução, mas também do desporto. O que aqui se pratica é o futebol. Quando calcam a relva húmida, vítima da rega automática, os futebolis­ tas não cessam de olhar o treinador. A palestra está dada, a cabeça dos estudantes (e profissionais) está no campo, mas os primeiros toques na bola são da­ dos com o pé. Depois, já inteirados de como tudo vai correr, os atletas perdem a tensão pré-treino, disparam-na para a baliza ou fintam o colega. Mas atenção: não vale faltar ao respeito. A educação foi também categórica nesse ponto e não permite, muito menos, que zaraga­ tas se gerem naquele campo. Na hora do jogo livre, já no final do treino, o mister veste, também ele, um dos coletes que os jogadores usaram. Despe-se da au­ toridade e confunde-se agora, entre dobras e trian­ gulações, com os seus jogadores.

menos o local de treino agora é fixo”, ressalva o ca­ misola 10. O atleta, que atua como avançado poliva­ lente, sugere ainda que “os jogadores da AAC/OAF não treinam com a equipa”. A integração, a seu ver, pode ficar comprometida, “já que chega o fim-de-se­ mana e eles têm de jogar”. Já Pacheco, o ponta-de-lança que carrega também a braçadeira, conta que “em dois anos de CNS [entre 2015 e 2017], o roupeiro era um jogador”. Remonta a

O futebol e as condições também interessam “O protocolo não faz grande diferença porque, no fundo, estamos aqui para jogar futebol”, remata Jorge Correia, também capitão da formação da SF/ AAC. “Apesar de não jogarmos onde treinamos, ao

MARTA EMAUZ SILVA

esse tempo para comparar com a realidade atual da secção: “agora é vantajoso chegar ao campo e ter uma camisola no cesto para o caso de estar frio”, repara. O capitão ilustra, ainda, que “antes desaparecia rou­ pa e havia falta de material”. Estas mudanças surgiram com a chegada do pro­ tocolo, que prevê que a falta de um roupeiro seja col­ matada. “Hoje temos uma pessoa, paga pela AAC/ OAF, responsável pela equipa e por se um jogador usa meia-calça ou não”, exemplifica o número 9. Por out­ ro­­lado, Pacheco, que é também o mais velho na casa, conclui que é desvantajoso a equipa passar a receber jogadores externos: “a secção ficou estritamente mais profissional e isso vem quebrar a sua tradição”. Um protocolo a eternizar? Para além do protocolo que está atualmente em vigor até ao final da época de 2018/2019, Pacheco Mendes é a ponte que liga a SF/AAC à AAC/OAF. O vice-presidente da secção é, também, o vice-presi­ dente do organismo autónomo. O mesmo realça que, “em setembro, a secção tinha contraído uma dívida astronómica”, que acabou por ser coberta pelo or­ ganismo autónomo logo após a assinatura do acordo. O vice-presidente anuncia que se “supõe uma renovação contínua do acordo”, que categoriza a SF/ AAC como “uma espécie de equipa satélite, ou sub23”, constata. “Alguns futebolistas jovens saíram da AAC/OAF, e eram necessários jogadores sub-23 para ser creditada como escola de formação”, acrescenta o dirigente, acerca do documento de patrocínio e sate­ lização. “Segundo o protocolo, os seniores da SF/AAC têm apoio logístico total vindo da AAC/OAF, como o pagamento de inscrições ou policiamento”, sumari­ za. Pacheco Mendes, em relação a outros escalões de futebol abrangidos pelo acordo, conclui que, “como os juvenis da secção subiram ao nacional, o protoco­ lo foi atualizado e as suas condições ficaram seme­ lhantes às dos juvenis do organismo autónomo”. A AAC/OAF declarou, através do seu assessor de imprensa, Filipe Dinis, que não era “oportuno co­ mentar, nesta fase, esse assunto”. Até ao fecho desta edição, não foi possível entrar em contacto com Pa­ checo Mendes acerca das reações dos jogadores da SF/AAC ao protocolo.


29 DE MAIO DE 2018 CULTURA - 10 -

O INQUIETO GUITARRISTA QUE TOCAVA COM PAIXÃO António Portugal impulsionou a “era de ouro” do fado nos anos 50. É relembrado como um companheiro e guitarrista da Canção de Coimbra que tocava “como mais ninguém o fazia” - POR JÉSSICA GONÇALVES -

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esde a fotografia à música e política, foram várias as áreas nas quais António Portugal se destacou. Apesar de ter nascido em terras africa­ nas, a sua família regressou a Coimbra e aí o músico viveu até ao final dos seus dias. Foi um dos impulsio­ nadores de uma nova era para o fado na cidade dos estudantes e dava tudo de si quando se apresentava para o p ­ úblico. Manuel Alegre, escritor e cunhado do artista, re­ corda a “grande amizade e cumplicidade” que tinha com ele. “Foi um dos maiores guitarristas da história de Coimbra e também do país”, realça. António Portugal tinha um espírito inquieto. “Quando havia um espetáculo ficava sempre muito nervoso”, ilus­ tra. Segundo o mesmo, António Portugal era muito exigente em relação à forma como tocava e a quem o acompanhava. “Tocava com paixão e chegava até a partir as cordas da guitarra pela inquietação que FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA POR MANUEL PORTUGAL

exprimia na sua música”, recorda o escritor. Por fim, admite ter “muitas saudades do amigo e artista, mas acima de tudo, do companheiro dos tempos da ju­ ventude ­­­­­­­­­­­em Coimbra”. A sua ligação à Canção de Coimbra surgiu des­ de muito cedo. Aprendeu a tocar guitarra de Coim­ bra com um barbeiro da Velha Alta que se chamava Flávio Rodrigues. No liceu juntou-se a dois colegas, um deles era Zeca Afonso, e, juntos, começaram a dar os primeiros passos no fado. “Eram jovens que começaram a trabalhar num nível que, nos dias de hoje, seria algo fora do comum”, afirma Manuel Por­ tugal, um dos filhos de António Portugal. O fado na cidade de Coimbra teve duas grandes gerações. A primeira surgiu nos anos 20, com nomes como Edmundo Bettencourt, António Menano e Artur Paredes. Por volta dos anos 50, a geração de António Portugal contribuiu para um novo estímulo

da música, e fez com que esta fosse lançada para pal­ cos nacionais e internacionais. Um dos marcos para que este reconhecimento acontecesse foi o lançamento do disco “Serenata de Coimbra”, produzido pela Philips, no qual um dos protagonistas foi o próprio António Portugal. “Esta obra foi o disco português mais vendido no mun­ do”, informa Manuel Portugal. “No fundo, ele ficou conhecido como um guitarrista compositor, mas na altura tinha o papel que nos dias de hoje é o de um produtor”, acrescenta, acerca do seu pai. Relembra ainda que, naquela época, o artista “soube identificar pessoas que queriam tocar e cantar de uma forma mais séria”. “Foi um grande exemplo porque organizava mui­ tos trabalhos que obrigavam as pessoas a ficarem liga­ das ao fado”, conta. “Era uma pessoa muito envolvida com a academia, apesar de nunca ter sido professor”, revela o seu filho. No entanto, “apreciava muito a ju­ ventude dinâmica”, recorda. Esteve também ligado às movimentações políti­ cas e estudantis. Contribuiu ainda para a criação da Secção de Estudos Fotográficos da Associação Académica de Coimbra. Através deste feito, com a parceria que tinha com o fotógrafo Varela Pé ­Curto, conseguiram projetar a fotografia de Coim­ bra a ­nível ­nacional. António Portugal conseguia conciliar a vida artísti­ ca com a vida familiar. O filho revela que “ele não se afastava para tocar”, já que a sua casa era “um dos principais pontos de ensaio”. Por isso, não se afastava dos seus filhos e da sua esposa. As memórias criadas ao longo dos anos são aquilo que António Portugal transmitia aos seus descendentes. Recordados fi­ cam momentos únicos, como a presença de Adri­ ano­­Correia de Oliveira em várias ocasiões. Manuel Portugal confessa ser “fascinado pela figura dele” e recorda com carinho o momento em que lhe deu a mão pela primeira vez. Quando António Portugal se dedicou à política, afastou-se do fado. Apesar disso, deu à família uma grande riqueza quando levava os seus amigos para o seu meio íntimo. Nenhum dos seus filhos se queixa disso, pois viam os amigos do pai como “tios”, segun­ do Manuel Portugal. “Um dia normal era ele entrar em casa com al­ guns amigos e tocar por puro prazer”, refere o seu filho. Lembra os seus dias de miúdo e de “estar a dar palpites ao Luiz Goes” enquanto se riam. “Já manda­ va palpites acerca das músicas que tocavam” nesses serões em sua casa. Tudo isto enriqueceu a ligação en­ tre pai e filhos. “Era um pai único, não só pelo músico que foi, mas por todas as memórias que são mais ricas por causa disso”, completa Manuel Portugal. Deste modo, António Portugal soube cultivar uma boa ligação com Florêncio de Carvalho, que foi um dos responsáveis por ensinar quem queria cantar a Canção de Coimbra. Muitos daqueles que trabalha­ ram com ele tornaram-se figuras de destaque, tais como Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes, entre outros. Manuel Alegre conclui ao relembrar que António Portugal deu um ímpeto que resultou na “evolução da guitarra portuguesa e do fado de Coimbra”. “Ele ti­ rava da guitarra um som como nunca mais ninguém tirou”, sublinha. Com Daniela Pinto


29 DE MAIO DE 2018 CIDADE - 11 -

FESTAS DA RAINHA SANTA ANIMAM MÊS DE JULHO EM COIMBRA Comemorações celebram a padroeira da cidade. Culto a figura lendária faz parte da história portuguesa e do legado feminino - POR MARIA FRANCISCA ROMÃO -

JÉSSICA GONÇALVES

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oi pela cidade do Mondego que, há sete séculos atrás, a Rainha Santa Isabel se deixou encantar. Não poderia, pois, ser outro o cenário das festas em sua homenagem que, a cada dois anos, pintam Coimbra com as cores da re­ ligião e da cultura. O programa festivo estende-se de 1 a 8 de julho e vai ter como momentos al­ tos a procissão de domingo e as missas solenes. A esposa do fundador da Universidade de Coimbra, D. Dinis, ficou para a história como “uma “mãe carinhosa para todos, sempre pronta

a oferecer o seu conselho, piedade e esmola”, re­ corda o presidente da Confraria da Rainha San­ ta Isabel, António Rebelo. A histórica, lendária e santa, somam-se os episódios e os milagres que a celebram como “um exemplo digno de imitação para a figura feminina”, esclarece. Talvez por isso sejam mais as mulheres quem procura os lojistas da Baixa, na tentativa de alu­ gar fatinhos de anjo para as crianças que integram a procissão. Dona Celeste, uma das lojistas, vê o negócio renascer de dois em dois anos: “encomen­

do os fatos, mas sou eu quem os decora à mão”, explica. Adianta que os pais vestem os filhos de querubins para cumprir as promessas que fize­ ram à Rainha Santa. A lojista conta que também ela, em tempos, vestiu o filho de anjo, mas que foi proeza única – “nunca mais o consegui fazer usar outro fato”, recorda a lojista por entre sorrisos. António Rebelo lamenta que nem sempre se va­ lorize este culto “por ser dado como garantido”. No entanto, salienta que os soldados portugueses mo­ bilizados para a Guerra do Ultramar a invocavam como “medianeira da paz”. No entender do pre­ sidente da Confraria da Rainha Santa Isabel, tam­ bém os estudantes a ela recorrem “em momentos de aflição” ou para “obter um acompanhamento espiritual ao longo da sua futura atividade profis­ sional”. Defende que “são muitos os sinais de que a religião não está assim tão esquecida no ambiente universitário”. Dona Celeste faz um diagnóstico diferente: “há quatro anos, a procissão tinha perto de dois mil anjinhos; há dois anos, o número de participantes nem a mil chegava; e, este ano, para lá se caminha outra vez”. Assim, avalia o futuro da tradição pela quantidade de fatos que vende.

LOCALIZAÇÃO DA FUTURA MATERNIDADE DE COIMBRA DIVIDE OPINIÕES

Forças políticas divergem quanto ao local das futuras instalações. Estacionamento, acessibilidade e condições assistenciais são dos argumentos mais evocados

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m abril de 2018 o presidente do Conse­ lho de Administração do Centro Hos­ pitalar da Universidade de Coimbra (CHUC), Fernando Regateiro, anunciou que a nova ma­ ternidade de Coimbra se iria localizar no polo central dos CHUC. A necessidade de substituir as maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Ma­ tos por uma nova é uma velha ambição dos ha­ bitantes da cidade. No entanto, o assunto parece não estar encerrado. Várias vozes contestaram a localização anunciada, com destaque para al­ guns partidos políticos com representação na Assembleia Municipal de Coimbra (AMC). A sociedade civil também se tem pronunciado. No entender de Rui Pato, médico aposentado do Sistema Nacional de Saúde, a melhor solução para a localização da futura maternidade passa pelo Hospital dos Covões, na margem esquerda do Mondego. O especialista explica que a área do Hospital Geral da UC, que a cidade conhece como Hospital Novo, “foi considerada por peri­ tos estrangeiros, uma das mais saturadas em trânsito da Europa”. Para o antigo presidente do Conselho de Administração do Centro Hos­ pitalar de Coimbra, “os argumentos científicos são falaciosos, porque com facilidade se equi­ pa o Hospital dos Covões com tudo aquilo que é necessário para o apoio às grávidas”. Acres­ centa ainda que “os pontos mais importantes

- POR JOSÉ GOMES DUARTE E INÊS GAMA -

para a decisão final são “as questões urbanísti­ cas, de construção e de saturação de trânsito”. A voz à política A posição de Ferreira da Silva, líder político do Partido Socialista na AMC, é a mesma do pre­ sidente da Câmara Municipal de Coimbra, Ma­ nuel Machado. Os socialistas, também a favor da instalação da futura maternidade no Hospital dos Covões, por considerarem que este tem “me­lhores condições ambientais e sanitárias” e porque “aju­ daria a descongestionar o Hospital Geral da UC”. Para além disso, Ferreira da Silva avisa que “é preciso respeitar o Plano Diretor Municipal, sob pena de qualquer ato de licenciamento ser nulo”. O movimento Cidadãos por Coimbra, na voz da sua líder na AMC, Graça Simões, também partilha da ideia de que a futura maternidade deve situar-se no Hospital dos Covões. A deputada municipal afirma que “localizar mais um serviço no Hospital Geral da UC, é um autêntico disparate”. Explica ainda que “o polo central dos CHUC está sobre­ lotado” e que “é possível criar todas as valências de apoio às mães e crianças no Hospital dos Covões”. A deputada municipal e líder política do Somos Coimbra na AMC, Filomena Girão, esclarece que ainda não tem uma posição formal. Este grupo político está a organizar um debate acerca deste tema para o próximo dia 14 de junho para mais

tarde apresentar a sua posição oficial. Apesar dis­ so, no que toca à localização da futura materni­ dade, clarifica que “tem de existir um absoluto respeito pelos direitos assistenciais das mães e crianças”. Acrescenta ainda que não ignora os re­ sultados do relatório solicitado pelo Ministério da Saúde e tornado público pelo Somos Coimbra. O líder da Coligação Democrática Unitária na AMC, Manuel Pires da Rocha, afirma que “as soluções que estão em cima da mesa, não são credíveis”. Ainda assim, explica que o seu grupo político “está disponível para discutir qualquer situação”. Contudo, considera ser um erro o ajuste do Hospital Geral da UC”. Na posição da líder do Centro Democrático So­ cial na AMC, Lúcia Santos, “a localização ideal seria no Hospital Geral da UC”. A deputada municipal justifica a escolha por ser a “situação que melhor resposta daria às necessidades da criança e da mãe”. Esclarece também que está “consciente dos problemas de estacionamento e de trânsito”, embo­ ra considere que “a criação da nova maternidade obrigaria a uma reestruturação dessas questões”. Após várias tentativas de contacto com o líder do Partido Social-Democrata na AMC, Nuno Freitas, não foi possível obter a sua posição oficial. O Gabi­ nete de Comunicação dos CHUC, quando solici­ tado a agendar uma entrevista com o presidente do CHUC, considerou o momento “não oportuno”.


29 DE MAIO DE 2018

SOLTAS - 12 -

O PODER DO VOLUNTARIADO - POR SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

Fotografia por Ana Rita Teles - Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

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a SDDH/AAC somos associados, mas antes disso, somos voluntários. E esta definição tem mais peso do que se possa imaginar­­­. O voluntário é mais do que a pessoa que procu­ ra preencher o seu tempo livre. Ele tem uma missão: a de se envolver, com pessoas de todos os credos e partes do país, e trabalhar. Sim, porque o voluntário também trabalha. “Mas se não é pago, não é trabalho”. Quantas vezes não ouvimos esta expressão? Mas não se deixem enganar: o voluntário pode não receber um salário, mas a “riqueza” que rece­ be também tem a sua importância. Ora deixem-me explicar. Comecei na SDDH/AAC há um par de anos. Não sabia bem o que fazer. Ia à descoberta, de procurar saber, realmente, como é que se tra­ balham os direitos humanos? Sabia falar deles, sabia enumerar alguns deles, onde os encontrar até (os intrumentos legais são

inúmeros), e sabia participar numa conversa ou num debate sobre a mais recente notícia ligada à temática. Na SDDH/AAC deram-me ferramentas para mais enriquecer o meu vocabulário sobre direi­ tos humanos, e aprendi a falar sobre eles, para a proteção deles, num púlpito, qual palestrante ex­ periente. Estou a falar de soft skills: um belíssimo es­ trangeirismo que ilustra uma falha do nosso ensino. Se a escola me ensinou sobre o que são direitos humanos, a SDDH/AAC ensinou-me a pensá-los. As discussões passaram a ser debates, alguns divertidos outros um tanto ou quanto acesos. E todas as semanas aprendia a melhor falar, racio­ cinar, a ouvir ideias completamente diferentes das minhas. O mundo realmente expande-se pelo volunta­ riado.

E aprendi mais sobre o Outro: o seu sofrimen­ to, a sua crença, os seus ideais e sonhos. E aprendi a construir esses sonhos. Vejam lá: de simples convidado, passei a convidar outros, amantes desta mesma temática, a eventos que aprendi a organizar. Conheci teóricos, professores, profissionais e as suas histórias (algumas de arrepiar). E aprendi o verdadeiro significado de respon­ sabilidade. No mundo do voluntariado ninguém te obriga a nada, tu dás o tempo que podes e que­ res; mas o tempo que dás é precioso, e é pelo seu cumprimento que se medem os futuros grandes profissionais! E finalmente, mas não menos importante: é o “obrigado” no final de cada atividade que nos faz continuar. Saber que tocámos a vida de alguém para melhor, que marcámos a diferença é algo impagável. E para ti, o que é o voluntariado?


29 DE MAIO DE 2018 SOLTAS - 13 -

CANTIGAS DE MÉ-MÉ - POR CABRA TROVADORA -

No CHUC ou nos Covões para mim tanto faz! Desde que haja lugar para os popós dos papás. Sim, porque por minha vontade, Nascia no Paço do Rei No cimo da colina onde um dia casarei. Certo estou que boa serventia podia ter a Sala Grande dos Atos Melhor seria que fosse uma grande Sala de Partos. Ao som da velha Cabra, música para meus ouvidos Nasceria embalado por fortes dós sustenidos Perto da Via Latina, onde a cidade nasceu Que bom lugar seria para o primeiro berro meu!

Os EUG chegam das barcas pelas marés E ninguém os vai conseguir parar Coimbra vibra com a emoção de ver os universitários a jogar com paixão! Quando estudam só se querem baldar, Mas o importante é participar Nesta festa que está a começar! Estádio Universitário, Jorge Anjinho, São os magos das infraestruturas Jorge Anjinho, Estádio Universitário, Vão fazer história Estádio Universitário, Jorge Anjinho, Sonham ser uns matulões...

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

WHO YOU GONNA CALL?

E

xistem, mas ninguém os vê. Salas vazias que não podem ser ocupadas. A quem prestam contas ninguém sabe, mas à tesouraria não é de certeza... Fe­ lizmente, os patrões são benevolentes e deixam-nos andar. Mas a sua ausência não quer ser reparada. Se a medicina tivesse palavra nesta matéria, diria que estão em estado vegetativo. Pelo me­ nos, até que, finalmente, alguém lhes desligue a máquina. Com a eutanásia na ordem do dia, talvez sejam alocadas verbas para a construção de uma sala de cuidados paliativos.

MORRA O TACHO! MORRA, PIM!

R

evolução? Oh, 68! Qual é o melhor dia para revolucionar? Como a mu­ dança demora a chegar, eu entretanto vou beber! Pode ser que para o ano já me deem voz para falar. Será que algum dia vão agir aqueles que pelos estudan­ tes falam? De 1968 a 2018 já nem se sabe quantos anos passaram. Foi uma eter­ nidade desde que os estudantes e seus dirigentes eram reivindicativos. Agora só temos choramingas e humoristas de redes sociais. Basta! Pim! Basta! Uma geração que se deixa governar por cho­ ramingas é uma geração que nunca o foi.


29 DE MAIO DE 2018 ARTES FEITAS - 14 -

CINEMA Uma sátira colossal - POR PEDRO DINIS SILVA -

Deadpool 2 De David Leitch Com Ryan Reynolds, Josh Brolin, morena bacca­ rin 2018

P

assaram dois anos desde que Deadpool se ­d ignou aparecer no grande ecrã de novo. Dois longos anos, diga-se. O humor negro que drastica­ mente o caracteriza volta em Deadpool 2, e com ele a violência, os ossos partidos e, sobretudo, as quebras constantes da quarta parede. O primeiro filme contou a história de Wade ­Wilson, um mercenário que, desesperado, se submete a um tratamento extraordinário para tratar o cancro que lhe foi diagnosticado. O tratamento resulta, mas não só traz consigo um poder de regeneração que permite curar todo o tipo de ferimentos, como também des­ figura por completo o corpo de Wilson. Entretanto, este torna-se Deadpool, um anti-herói que procura vingança pelo que lhe fizeram. Na segunda película, Deadpool regressa mais pers­ picaz e atrevido que nunca; contudo, o filme não é tanto sobre ele, mas sim sobre tudo o que se passa à

sua volta. O enredo é mais desenvolvido e complexo, focando-se nas relações que o herói mantém com as restantes personagens. Nomes como Vanessa, Dopin­ der, Blind Al e Colossus voltam e têm mais tempo de ecrã. Surgem ainda novas caras, como Cable, Firefist e Domino, que desempenham um papel de relevân­ cia ao longo da história. Tudo isto em menos de duas horas. O filme é sobretudo uma colagem rebuscada de referências metalinguísticas, piadas inapropriadas e emoções explosivas. Esta componente emocional é regida pela norma do tudo ou nada: ou se chora de riso, ou se soltam lágrimas de tristeza. O elemento surpresa também é um fator interessantíssimo na pe­ lícula. Tão depressa assistimos à tentativa de suicídio do protagonista, como estamos envolvidos numa luta épica entre Colossus e Juggernaut. Deadpool 2, en­ tre outras características possíveis, é um exercício de

atenção desenhado para o espectador, especialmen­ te divertido para aqueles que acompanham o Marvel Cinematic Universe. Quanto a esta crítica, a sua utilidade é questioná­ vel. Pode ter prestado um serviço de aconselhamento a quem a lê por ser fã assíduo do ‘franchise’ da Mar­ vel. Pode apenas ter servido para escapar aos assuntos do restante jornal. Na verdade, não interessa muito. O que interessa é que, entre um riso e uma barreira ultrapassada, Deadpool 2 fornece motivos mais que suficientes para voltar às salas de cinema.

A Cabra aconselha

JOGO

God of War - POR ALEXANDRE SILVA -

C

om o lançamento no passado dia 20 de Abril, este novo jogo da franquia da Santa Monica Studios, vêm quebrar a tabus da indústria dos videojo­ gos assim como elevar a fasquia para os seu semelhan­ tes no futuro. Na era dos jogos multi-jogador online, poucos estú­ dios são ousados o suficientes para darem ao mundo experiências single player de relevo. Felizmente esses estúdios costumam estar ligados a Sony, que no ano passado nos brindou com Horizon: Zero Dawn, e este ano leva-nos mais além revigorando uma franquia cujo último título deixou bastante a desejar. Não sabemos quantos anos passaram, mas Kratos está mais velho, tem um filho e acaba de perder a es­ posa que tinha como último desejo que as suas cinzas fossem espalhadas do topo da montanha mais alta de Midgard. Este é o início da nova aventura de Kratos pela mitologia nórdica. Não ignora o passado mas não se deixa atrapalhar por ele, Kratos enverga agora um machado ao invés das Blades of Chaos que eram a sua arma de eleição no passado. Acompanhado pelo seu filho Atreus, ambos embarcam numa viagem de des­ coberta, onde vemos o esplendor de Midgard, e uma

história bem delineada na relação entre pai e filho. Uma das grandes diferenças deste jogo para os ante­ riores jogos da franquia, é a câmera over-the-shoulder, por oposição à câmera fixa. O combate não perdeu a complexidade, e a adição de Atreus, que obedece as ordens do pai, disparando flechas ou estrangulando inimigos com o seu arco, enquanto Kratos os dilacera à machadada são ótimas novas mecânicas. As armas e armaduras são customizáveis, dando benefícios e penalidades, consoante os inimigos que enfrentamos. E que inimigos, hordas interminaveis e Draugr, Trolls e os próprios deuses nórdicos. Não seria verdadeira­ mente um jogo de God of War se não matasse pelo menos um ou ou dois deuses. Com os melhores gráficos que a PS4 e a PS4 Pro têm pra oferecer, com uma narrativa interessante e filmado como único take ( a menos que morras ), este novo God of War promete e cumpre com 20 a 25 horas de acção, aventura e muito divertimento. Definitivamente um sério candidato a jogo do ano.

God of war De Sony Interactive Entertainment Para PlayStation 4 2018

A Cabra d’Ouro


29 DE MAIO 2018 ARTES FEITAS - 15 -

MÚSICA

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser melhor

O Novo Feitiço de Elisa

Razoável A Cabra aconselha

- POR FILIPE FURTADO -

S

ete anos depois de “Heart Mouth Dialogues”, Elisa Rodrigues regressa aos discos em nome próprio, no primeiro álbum de originais. Longe do trabalho com These New Puritans ou Rodrigo Leão, ouvimos “As Blue As Red”, com produção de Luísa Sobral. “Just Star a Fire” marca o prelúdio do disco. Despi­ da de adereços, Elisa comanda esta ‘work song’ com a leveza arrastada da sua voz, antes de entramos no universo blues e nas colorações folk de “Little Heart” (letra de Joana Espadinha), “In Around You” ou “Jus­ tine”. Quando ouvimos “Words” o blues cede lugar à atmosfera espectral da guitarra elétrica de Mário Delgado, que pinta a tensão entre silêncios e contor­ nos da melodia. “As Blue As Red” continua a privilegiar a língua in­ glesa onde Elisa Rodrigues se sente mais confortável. O idioma inglês é marca da influência jazzística e da possibilidade de maior internacionalização do disco. Todavia, podemos escutar duas pequenas exceções na língua de Camões: “Vai Não Vai” e “Pontinho”.

As Blue As Red De Elisa Rodrigues Editora Universal Music Portugal SA Género Blues, Folk, Pop, Jazz

A Cabra d’Ouro

Aqui cresce um pequeno desejo de pedinchar por mais temas em português, não por censura à esco­ lha natural de Elisa Rodrigues, mas pela elegância, ternura e fresca inocência com que interpreta na sua língua materna. Em “Other Men” viajamos pelo arco do contra­ baixo de António Quintino a moldar a estória da canção até ao final dos versos a capella. No dis­ co podemos revisitar também “If You Could Read My Mind”, composição de Gordon Lightfoot. Para além da guitarra de Mário Delgado ou do con­ trabaixo de Quintino, escutamos Carlos Miguel nos comandos da percussão e Luís Figueiredo no ­Piano e Hammond. “As Blue As Red” será menos jazzístico nos con­ tornos finais em comparação com “Heart Mouth Dialogues”, porém, mais permeável às referências musicais de Elisa Rodrigues e à versatilidade do feitiço que usa como voz.

A Cabra aconselha

2018

LIVRO A dopamina da publicidade - POR RITA FLORES -

D

ez foram as histórias/estudos que me acompanharam ao longo das últimas via­ gens de comboio entre a cidade a que chamo casa e a capital. No alfa pendular, onde a leitura faz com que a nossa perceção do tempo seja menor, apercebo-me do modo como as nossas ações e o nosso cérebro respondem aos estímulos que nos rodeiam e que são enviados pela publicidade. Seremos nós, consumidores, capazes de impedir a produção da hormona responsável pelo senti­ mento de satisfação e recompensa (dopamina)? Teremos nós essa capacidade de restrição ou de rejeição? Martim Linstrom descreve ao longo do seu livro o novo desafio que confronta as marcas. A provocação de conquistar não apenas os olhos dos consumidores, através do logótipo, por exemplo, mas também de os atrair emocionalmente através da audição e do olfato. Através de estudos real­ izados por médicos e investigadores foi possível encontrar as regiões do cérebro que respondem a um sentimento de lembrança, prazer ou repúdio.

No nosso cérebro existem um conjunto de neurónios denominados neurónios-espelho. Es­ tes atuam quer estejamos a ter um determinado comportamento, quer observemos alguém a fazêlo e, é por essa razão, que quando vemos alguém a comer um donuts na televisão acabemos por imaginar a sensação de o comer e até de ficar com água na boca. Num livro em que cruza a ciência e a gestão, o autor dinamarquês apresenta-nos aquele que é o conceito de branding sensorial. Nos momentos de aquisição os consumidores são influenciados pelos seus rituais, pelos seus sentidos e por isso este livro torna os seus leitores mais conscientes daquelas que são as estratégias das marcas. Porém, estaremos nós aptos para impedir a transmissão de mensagens entre as diferentes células nervosas (sinapse) do nosso cérebro e do nosso estômago quando sentimos o cheirinho a pão quente?

A Cabra aconselha

Buy.ology – A ciência do neuromarketing De Martim Lindstrom Editora Gestão Plus 2009


Mais informação disponível em

cabra.pt JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL - POR LUÍS ALMEIDA E PEDRO DINIS SILVA -

A irreverência de outrora é a ­desarrumação de hoje

M

uitas coisas têm mudado na academia. Com o primeiro aniversário dos novos Estatutos da Associação Académica de Coim­ bra (AAC), a casa viu-se num reboliço de bu­ rocracia a que não estava habituada. As eleições nas secções culturais e desportivas e núcleos de estudantes foram uma dor de cabeça. O novo Conselho Fiscal da AAC, que tinha acabado de tomar posse em abril, subiu ao posto no seio de uma casa desarrumada (recorde-se que, em 2016, todos os membros deste órgão se demiti­ ram). Com tantos sobressaltos no caminho de adaptação, é difícil manter a AAC a par das ne­ cessidades de todos. Com tanta burocracia des­ tinada à facilidade do cumprimento dos proces­ sos estatutários, ainda há uma secção da casa que não apresenta sinais de vida há mais de um ano sem qualquer tipo de intervenção por parte dos órgãos dirigentes. É preciso que se pense antes de se avançar. Numa altura em que se marca uma data de extrema relevância no contexto académi­ co, vemo-nos ainda ignorados por aqueles que, supostamente, nos representam. A revisão dos Estatutos da AAC visou uma mais clara abor­ dagem aos problemas da academia e, como tal, duplicaram-se o número de páginas e artigos do documento que rege as estruturas da sede dos estudantes de Coimbra. A mudança está a ser lenta, como seria de esperar. Mas é preciso uma mais rápida adaptação aos tempos que correm. É preciso fazer jus ao passado de uma academia que sempre se tentou distinguir pela irreverência.

Com tanta burocracia destinada à facilidade do cumprimento dos processos estatutários, ainda há uma secção da casa que não apresenta sinais de vida há mais de um ano”.

Ficha Técnica

Diretor Carlos Almeida

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Luís Almeida e Pedro Dinis Silva Equipa Editorial Luís Almeida e Pedro Dinis Silva (Ensino Supe­ rior), Daniela Pinto (Cultura), Miguel Mesquita Montes (Des­ porto), Pedro Emauz Silva (Ciência & Tecnologia), Isabel Simões (Cidade), Hugo Guímaro (Fotografia) Colaboraram nesta edição Vittorio Alves, André Crujo, José Gomes Duarte, Inês Gama, Jéssica Gon­çalves­­, Gabriela Moore, Mónica Rego, Maria Francisca Romão, Alexandre Silva, Ana Laura Simon Colaboradores Permanentes Inês Duarte, Rita Flores, Filipe ­Furtado, João Pimentel, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Fotografia Hugo Guímaro, Miguel Mesquita Montes, João Ruivo, Ana Rita Teles Paginação Luís Almeida, Pedro Dinis Silva Ilustração Marta Emauz Silva

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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