Edição 292 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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20 DE NOVEMBRO DE 2018 ANO XXVII Nº292 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR PEDRO DINIS SILVA EDITORES EXECUTIVOS LUÍS ALMEIDA E DANIELA PINTO

ELEIÇÕES AAC 2018

HUGO GUÍMARO

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

CIÊNCIA

CIDADE

A uma semana das eleições para os corpos gerentes, quatro listas na corrida à DG/AAC e três à MAM/AAC

“A Noite Imóvel”, obra de poesia de Luís Quintais, leva o professor da UC a finalista do Prémio Oceanos

Hugo Almeida regressa a Portugal para escrever nos relvados da Briosa. Ponta de lança revisita carreira pela Europa

Investigação realizada pela FMUC revela que dois terços da população portuguesa carece de vitamina D

Especulação imobiliária para o alojamento estudantil atinge Lisboa e Porto, mas ainda não chegou a Coimbra


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ELEIÇÕES NA AAC DEFINEM PRÓXIMOS DIRIGENTES Direção-Geral e Mesa da Assembleia Magna vão ter novos representantes empossados em dezembro. Discutidas propostas para aumentar a adesão estudantil - POR ANA LAGE, GABRIELA MOORE E MARIANA NOGUEIRA -

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os próximos dias 26 e 27 de novembro vão ser eleitas as novas Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC) e Mesa da Assembleia Magna da AAC (MAM/AAC). As 23 urnas disponíveis vão estar espalhadas em todas as faculdades da Universidade de Coimbra (UC) das 10 horas às 19 horas e no edifício da AAC entre as 21h30 e as 23h59. Bilhete de identidade e cartão de estudante ou certificado multiusos são os documentos necessários no ato de voto. Para a DG/AAC foram apresentadas quatro listas candidatas. Dois dos atuais vice-presidentes do órgão, Daniel Azenha e Mariana Rodrigues, encabeçam as listas C – “Contigo Somos Académica”, e P – “Atitude Preto no Branco”, respetivamente. As restantes são a lista A – “Agitar a Academia”, liderada por Miguel Mestre, e a lista M – “Mudança”, com Pedro Chaves como cabeça de lista. Destas, apenas a lista M não apresentou candidatura homónima para a MAM/AAC. Pedro Chaves confessa terem o­p tado por “dar primazia à lista para a DG/AAC e abdicar da outra candidatura”. Apesar do maior número de candidatos em relação aos anos anteriores, o presidente da Comissão Eleitoral, Pedro Matos Filipe, explica que nada se altera na logística da eleição, já que “o número de urnas e boletins é o mesmo”. Realça que, “ao ter mais candidatos, tem mais delegados”, visto que são as candidaturas que escolhem os estudantes que supervisionam cada urna. “Agitar a Academia” João Pinto Ângelo é o candidato à presidência da MAM/AAC pela lista A. O estudante do 4º ano de Direito na Faculdade de Direito da UC fez parte da última Assembleia de Revisão dos Estatutos da AAC, o que considera ser uma

“ajuda para compreender melhor os prazos que o cargo exige”. Admite que “há muitas coisas que estão mal e precisam de ser mudadas” e garante fazer melhor. O candidato tem uma posição crítica em relação ao trabalho da atual MAM/AAC, que acredita ter “falhado por completo”. O maior erro, de acordo com João Pinto Ângelo, foi a má divulgação das AM. “Não é suficiente colocar convocatórias no edifício da AAC e no Facebook”, ilustra. Esta problemática não é algo recente e já foi bandeira do mandato anterior. No entanto, o presidente da MAM/ AAC que cessa agora funções, Pedro Matos Filipe, considera ter havido evolução neste tópico, já que conseguiu “uma boa comunicação com a universidade de modo a poder difundir as convocatórias por ‘e-mail’”. O estudante de Direito considera que o principal objetivo a ser alcançado é reverter o atual quadro de afastamento entre a MAM/AAC e os universitários. “Sendo a mesa composta por quatro pessoas, é quase impossível chegar a todo o lado”, refere ao explicar a importância dos núcleos nesta aproximação. João Pinto Ângelo sugere ainda a disponibilização de transportes para que os alunos dos polos mais distantes possam participar na AM. Segundo o candidato, “poucos alunos dos Polos II e III assistem a estas reuniões porque não têm possibilidade de se deslocar”. “Atitude Preto no Branco” O candidato à MAM/AAC pela lista P, Raul Garcia, também reconhece este problema, mas sugere que a resposta passe pela realização de AM descentralizadas, para tratar dos assuntos de cada faculdade ou departamento “de uma forma mais objetiva”. O estudante do 5º ano do Mestrado Integrado em Ciências FarmacêutiGABRIELA MOORE

cas na Faculdade de Farmácia da UC ocupou os cargos de coordenador da Ação Social e coordenador de Núcleos nos últimos dois mandatos da DG/AAC e considera que “não há melhor ferramenta do que já ter integrado a casa e saber como esta funciona”. Sobre a baixa adesão às reuniões estudantis, reclamação que já se tem tornado frequente, Raul Garcia acredita ser “um problema intrínseco aos estudantes”. O candidato reflete que tal se deve à “falta de interesse e motivação” e propõe combater esta problemática com uma maior aproximação aos alunos logo no primeiro ano. Tem, com isto, o objetivo de “começar a incutir desde o princípio a ideia de que a AM é por excelência o sítio de decisão estudantil”. Além de uma melhor divulgação das convocações, o estudante de Ciências Farmacêuticas também atenta para a melhor difusão, dentro do tempo previsto, dos documentos necessários antes da realização da AM. Em seguida, depois da reunião, aponta a importância de comunicar a todos as decisões que foram tomadas. “Contigo Somos Académica” Pela lista C candidata-se João Bento, estudante do 5º ano de Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, que pertenceu ao núcleo estudantil do curso e ocupou o cargo de presidente no último ano. Esta experiência pôs o candidato em contacto com outras estruturas da AAC, o que lhe permitiu entender melhor a sua dinâmica. João Bento avalia que é “essencial trazer todas as partes da casa à AM” e dar a palavra a todos os estudantes. Para o candidato, o interesse pela Assembleia Magna deve ser estimulado de forma a que os universitários percebam que “é nela que têm poder de decisão e intervenção dentro da academia”. O finalista pretende que esta “seja de facto uma reunião de estudantes e que não fale só da DG/AAC e dos assuntos habituais e estatutariamente obrigatórios”. Tal como os restantes candidatos, João Bento aponta a divulgação como um aspeto a melhorar. Pretende que os alunos compreendam a importância de participarem nas AM de forma ativa e regular. O cabeça de lista acrescenta que o “trabalho desenvolvido pela atual mesa foi positivo”, apesar de haver pontos que “podem melhorar”. Sugere o exemplo da “reavaliação das condições do espaço e do envio das convocatórias com mais antecedência”. O órgão máximo da AAC A Assembleia Magna é composta por todo o corpo discente da UC e é o órgão máximo deliberativo da AAC. É nela que os estudantes colocam em pauta as suas reclamações e demandas e votam moções do seu interesse dentro da academia. O candidato da lista P reflete que “há espaço para votar, para discutir e para apresentar. Há espaço para tudo. É lá que são tomadas decisões que vão afetar todos”.


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A Comissão Eleitoral responsável pela logística das eleições dos órgãos centrais da AAC é presidida pelo presidente da MAM/AAC

AM/AAC MESA DA ASSEMBLEIA MAGNA Constituída por um presidente, um vice-presidente e dois secretários, é quem divulga, organiza e dirige a Assembleia Magna. Detém a responsabilidade pelas eleições dos órgãos centrais da casa, de modo que o seu presidente também preside a Comissão Eleitoral dos mesmos

CONSELHO FISCAL Principal órgão fiscalizador da casa, é responsável por dar os pareceres dos relatórios de contas de todos os organismos da AAC e festas académicas. É constituída por onze membros e as suas eleições ocorrem em março. Tem a palavra final no julgamento de irregularidades estatutárias investigadas pela Comissão Disciplinar

MAM/AAC DG/AAC CF/AAC CD/AAC

ASSEMBLEIA MAGNA Constituída por todos os estudantes da UC, é o órgão máximo deliberativo da casa. Pode ser convocada a pedido da Direção-Geral ou de cinco por cento dos associados efetivos da AAC e tem a obrigatoriedade de se reunir pelo menos quatro vezes ao ano. É da sua competência exclusiva a aprovação dos relatórios de contas uma semana após o parecer dado pelo Conselho Fiscal

DIREÇÃO-GERAL É o órgão máximo executivo da AAC e tem o poder de convocar Assembleias Magnas. Faz a gestão da casa a nível financeiro e de ordem de trabalhos e põe em prática as decisões tomadas na AM. Constituída por 15 a 25 elementos, é subdividida internamente por pelouros

COMISSÃO DISCIPLINAR É o órgão de investigação da casa, criado nos últimos Estatutos da AAC. É eleita, em março, por representantes das secções e núcleos. Detém a tutela e iniciativa da ação disciplinar na sua fase de inquérito. Posteriormente, elabora uma nota de culpa acusatória que é entregue ao Conselho Fiscal

Órgãos Centrais da AAC


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LISTA A “AGITAR A ACADEMIA” - POR BÁRBARA COSTA E INÊS CASAL RIBEIRO -

“Agitar a Academia” é o lema de Miguel Mestre, estudante do terceiro ano de História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Um Ensino Superior “sem propinas e sem barreiras de acesso” é o principal objetivo da lista. O combate às injustiças e a valorização do conhecimento, da discussão e da reivindicação são algumas ideias-chave

HUGO GUÍMARO


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Qual o motivo da tua candidatura à presidência da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC)? A nossa motivação é criar uma dinâmica em torno da academia que, por um lado, permita discutir os problemas efetivos que os estudantes enfrentam e, por outro lado, contribuir para a sua resolução. Estamos preocupados com todas as unidades orgânicas da casa, mas também com o Ensino Superior como um todo. A solução destas questões é a nossa derradeira meta, ao aproveitar toda a proatividade em torno das eleições para debater temas que afetam o Ensino Superior a nível nacional. Não queremos que a reflexão se esgote dentro da nossa própria lista ou dentro da AAC. Procuramos alargá-la aos espaços exteriores às estruturas oficiais. A tua candidatura conta com algum apoio partidário? Não. Quais são as principais bandeiras do teu projeto? O nosso objetivo é, num primeiro momento, resolver os problemas que enfrentamos. Neste sentido, pretendemos potenciar a discussão dos mesmos. Gostávamos de ver a AAC ocupar outra postura no Ensino Superior nacional. Defendemos que o debate não se restrinja a Coimbra, mas que se estenda a todo o país. O Encontro Nacional de Dirigentes Associativos é uma boa plataforma para o fazer. Assim, é nossa intenção ajudar todos os estudantes. Defendemos um Ensino Superior sem propinas e sem barreiras de acesso. Esta é a nossa principal bandeira, com especial ênfase na questão do financiamento, que consideramos que deve ser reforçado. Em casos mais específicos, como a degradação do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra (UC), a nossa bandeira é garantir as melhores condições possíveis. Trabalhamos em várias escalas para poder ter um conhecimento abrangente e próximo dos estudantes. Qual era a tua relação com a AAC antes de te candidatares? Para além de ser associado, como qualquer estudante, já concorri com outras listas para a DG/ AAC. Na última eleição para o Conselho Fiscal da AAC, fui também eleito como suplente. Sempre tentei participar o mais ativamente possível dentro da academia. O que te diferencia das restantes listas? Pautamo-nos por defender uma DG/AAC que valorize o conhecimento, a discussão e que crie u m a

imagem reivindicativa. Por exemplo, sabemos que o valor da propina vai baixar, mas não sabemos em que condições vão ser atribuídas as bolsas. Neste momento, em que se discute o Orçamento do Estado na Assembleia da República, temos uma boa oportunidade para reivindicar. O que queremos que nos diferencie é esta disponibilidade para combater as injustiças e as incertezas. Há casos em que é preciso que a DG/AAC tenha uma ação mais musculada em nome da defesa dos estudantes da UC e do próprio Ensino Superior. Não temos qualquer problema em assumir ações de luta, desde que a academia tenha atrás de si milhares de pessoas que se identifiquem com a causa. Na última Assembleia Magna, apresentámos uma moção ligada às questões do Orçamento do Estado, de forma a garantir que a redução da propina não afete o valor das bolsas. Foinos dito que não era o momento e, nos últimos anos, tem sido sempre esta a resposta. Consideramos que a luta pela descida das propinas devia ter sido levada mais longe. Em relação às outras listas, não é preciso ter medo. Não queremos que a DG/AAC nos faça sentir que temos de esperar para lutar pelas nossas causas. Assim sendo, quais as causas pelas quais pretendes lutar? Caso vençamos, pretendemos assumir uma postura reivindicativa, promover a discussão e aumentar a participação dos estudantes nas Assembleias Magnas, nas secções e nos organismos autónomos. Queremos implementar uma pressão para agir. A partir desta base, consideramos essencial debater questões ligadas à organização da Queima das Fitas (QF) e ao Programa de Apoio Social a Estudantes através de Atividades a Tempo Parcial (PASEP). Defendemos que os académicos não devem ocupar um posto de trabalho efetivo. Realçamos também a necessidade de acompanhar a revisão dos Estatutos da AAC. Que balanço fazes acerca do mandato anterior? Este mandato teve alguns momentos positivos e outros menos bons. A DG/AAC dos últimos dois anos teve um papel útil na luta pela redução da propina, mas continuou a ter medo de assumir posições reivindicativas e responsabilidades políticas. Entendemos que as decisões da DG/ AAC não devem ser influenciadas por agentes externos. No entanto, há uma certa falta de dinamismo e de articulação entre os diferentes órgãos da casa. Portanto, fazemos um balanço dual. Quais as tuas propostas para as secções da casa, para os núcleos e para os organismos autónomos? Acho que uma aproximação da DG/AAC aos estudantes pode contribuir para que a participação aumente também nos núcleos e na vida associativa. No entanto, o Processo de Bolonha comprometeu este envolvimento, porque os currículos foram muito comprimidos. Para além disto, queremos garantir que todas as estruturas da casa possam desenvolver o seu trabalho com as melhores condições. Como te posicionas em relação à Propina Zero, à propina dos estudantes internacionais e à dos alunos de doutoramento? Na nossa perspetiva, o Ensino Superior tem de ser público, gratuito e de qualidade, o que implica que os estudantes não estejam

sujeitos ao pagamento de propinas. Consideramos que as propinas devem ser abolidas, tanto nas licenciaturas quanto nos mestrados e doutoramentos. Parece-nos que ninguém que queira estudar deva pagar – situação válida para alunos nacionais e internacionais. No entanto, admitimos que este é um processo mais complexo, devido a questões políticas. O alojamento estudantil tem-se revelado um problema na cidade. O que é que pretendes fazer para o solucionar? O primeiro passo é a exigência de financiamento, para recuperar as residências que já existem, construir novas habitações e reforçar o número de camas. A nossa proposta é reordenar a rede de residências. É um contrassenso que, no ano em que a UC recebe mais inscrições, se reduzam os quartos nas residências reestruturadas, como é o caso da João Jacinto, que vai diminuir o número de vagas após as remodelações. O segundo passo é responsabilizar a DG/ AAC por procurar conhecer melhor as condições de vida dos estudantes. Estas não dependem apenas da habitação, mas também das refeições. Neste sentido, gostaríamos de saber quando é que a cantina amarela vai reabrir e de ter a garantia de que vai servir o prato social. No que toca à dívida interna, quais são os teus planos e objetivos? Em primeiro lugar, é importante perceber como é que a dívida interna é contraída, até porque esta afeta o próprio funcionamento da academia. Podemos depois delinear a estratégia para solucionar este saldo negativo. Esta fórmula pode passar por olhar para a dívida como um conjunto de parcelas individuais ou como um todo. No entanto, a sua resolução não pode implicar a paragem da atividade da AAC. Qual a tua visão relativa à QF? Achas que há questões por solucionar? Por um lado, é preciso haver uma noção mais clara do método de distribuição das verbas da QF. Por outro, é preciso repensar a forma como esta é organizada. Defendemos que as secções da casa e os núcleos devem ser mais valorizados. No entanto, reconhecemos que pode haver interesses em conflito na festa académica, nomeadamente entre a AAC e as entidades exteriores à academia. É o que acontece com o Conselho de Veteranos. Neste sentido, apresentámos, na última Assembleia Magna, uma nova proposta de funcionamento da QF, independente do Conselho de Veteranos. Na nossa visão, a QF é, acima de tudo, uma festa dos estudantes. O que consideras necessário ser visto e remodelado no Ensino Superior? Pensar o Ensino Superior implica refletir sobre a questão da redução da propina e da ação social. É essencial que estas formas de apoio aos estudantes não se fiquem pelos mínimos. Ambicionamos uma ação social que permita que todos os alunos tenham acesso às universidades e politécnicos. Em nome da defesa de um Ensino Superior público, consideramos que este deve ser frequentado sem restrições por qualquer aluno que queira estudar. Outro aspeto que precisamos de analisar com urgência prende-se com a questão dos PASEP e os moldes em que os trabalhos deste programa se realizam. É preciso que a DG/AAC tenha um papel de exigência na luta pelo Ensino Superior, tal como é previsto pela Constituição da República Portuguesa. Tens alguma coisa a acrescentar? Durante este processo das eleições vamos tentar conhecer as realidades de vários sítios e depois contribuir não só para a nossa reflexão individual enquanto lista, mas também para a própria reflexão da DG/AAC. Também quero deixar claro que o movimento “Agitar a Academia” não é uma coisa que queremos ver extinta no dia a seguir às eleições. Acho que é preciso discutir os problemas e arranjar soluções que resultem da conjugação de diferentes métodos. A luta é uma das nossas armas, mas privilegiaremos sempre o debate.


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LISTA C “CONTIGO SOMOS ACADÉMICA” - POR BEATRIZ FURTADO E GABRIEL REZENDE -

Daniel Azenha é mestrando em Geografia Humana, Planeamento e Territórios Saudáveis na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, atual vice-presidente da DG/AAC e candidato à presidência do órgão pela Lista C. Defende que “a dívida interna é uma barreira à própria atividade cultural e desportiva da casa”. Com o objetivo de aproximar a AAC dos estudantes, afirma que o projeto não é seu, “mas de todos aqueles que querem participar nele”

HUGO GUÍMARO


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O que motivou a tua candidatura à presidência da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC)? Concordo com aquilo que foi feito na DG/AAC nos últimos mandatos, pois também fiz parte dela. No entanto, sinto que ainda há muita coisa a fazer. A cultura e o desporto são áreas com um longo caminho por percorrer. Consideramos que os estudantes não estão desligados da cultura, mas que estão desinformados. Queremos divulgar as atividades culturais que a casa tem para oferecer. A nível desportivo, o foco tem estado nos Jogos Universitários Europeus (EUG). O desafio é, agora, valorizar a herança por eles deixada, como a melhoria das condições desportivas, e garantir a prática de desporto no pós-jogos. A tua candidatura conta com algum apoio partidário? Não. A tua candidatura conta com o apoio do atual presidente da DG/AAC, Alexandre Amado? Penso que o Alexandre Amado não vai querer demonstrar apoio a qualquer lista. Tenho uma excelente relação com a Mariana Rodrigues, fomos os dois vice-presidentes, por isso não espero um apoio direto do atual presidente da DG/AAC a qualquer um de nós. Quais são as principais bandeiras do teu projeto? Queremos uma lista centrada no estudante, nas suas necessidades e dificuldades diárias. Temos pena que haja muitos universitários desligados da AAC, por isso é o nosso objetivo aproximarmonos da comunidade estudantil. Defendemos uma saída do edifício-sede para estarmos mais perto dos departamentos e das faculdades. Os núcleos de estudantes já fazem esta ligação, mas queremos que também a DG/AAC seja uma porta aberta. De que forma é que a DG/AAC pode funcionar como “porta aberta”? O próximo ano vai trazer várias oportunidades de ação: as legislativas, as europeias e a possibilidade de delimitar novos objetivos para o quadro comunitário e, sobretudo, para a educação. Pretendemos discutir o Ensino Superior que queremos para a próxima década. Qual seria o papel da DG/AAC na discussão destas mudanças no Ensino Superior que se estendem do plano conimbricense ao plano nacional? Queremos apoiar os estudantes desde a entrada no Ensino Superior até à saída, o que

significa nos preocuparmos com os jovens que não têm capacidades financeiras para estudar. Assim, gostaríamos de nos focar nas bolsas e no financiamento das instituições. Por considerarmos que a Universidade de Coimbra (UC) não conseguiu transpor o processo de Bolonha do papel para a realidade, é nossa intenção discutir as questões pedagógicas, como a organização, a autonomia e a inovação. Outra das nossas lutas é o pós-universitário, nomeadamente a emancipação de quem já concluiu o curso. A AAC deve estar próxima dos estudantes no acesso à primeira habitação e ao primeiro emprego. Quais são as tuas propostas para as secções culturais da casa? As secções culturais também sofrem do desconhecimento em torno das atividades da casa. Assim, é nossa intenção implementar uma agenda cultural da AAC, para que a informação chegue aos estudantes. E para as secções desportivas? É importante que, assim que cheguem a Coimbra, os estudantes percebam que a AAC é um agente desportivo e que podem praticar desporto nas suas secções. Queremos que a casa pense como um clube, que cada secção tenha um plano desportivo e que se crie uma academia de união. No entanto, pretendemos que os bons resultados sejam acompanhados de um saldo positivo nas contas das secções. Só conseguimos esta estabilidade se trabalharmos com um plano uno para a casa. As secções sem espaço no edifício-sede da AAC também integram as vossas preocupações? O Pavilhão Engº Jorge Anjinho é um espaço que está ao nosso dispor e que pode solucionar este problema. Infelizmente, as instalações foram danificadas pela tempestade Leslie. No entanto, o tempo de reabilitação não vai ultrapassar os seis meses. Temos de ter a capacidade de nos reinventar. Quais as tuas propostas para os núcleos e para os organismos autónomos? Defendemos a mesma lógica de aproximação aos estudantes. A interação entre a DG/AAC e os núcleos e organismos autónomos reforça, com toda a certeza, a qualidade de ensino. Outro objetivo é dinamizarmos um Conselho de Tunas e um Conselho de Organismos Autónomos. Estes teriam que funcionar de forma informal, através de reuniões mensais para exporem as suas dificuldades, porque não estão previstos nos Estatutos da AAC. Seria algo que, no futuro, poderia vir a constar dos Estatutos da AAC? A nosso ver, sim. Contudo, de momento, não temos capacidade para fazer uma nova revisão estatutária, dado que foi feita uma recentemente. Mesmo assim, a AAC deve estar ao lado dos estudantes que trabalham na academia. Como te posicionas em relação à Propina Zero? O objetivo é repensar a questão do financiamento, da redução das propinas e da revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. Somos contra a propina. No entanto, percebemos que no próximo Orçamento do Estado seja difícil existir a sua redução imediata. Este ano, tivemos a excelente notícia da descida da propina, mas estamos a largos passos da sua eliminação, e, por isso, esta reivindicação tem de continuar.

Não podemos também esquecer as questões da ação social, do alojamento e da reabilitação de infraestruturas devolutas que planeamos transformar em residências. E em relação à propina dos estudantes internacionais? Somos totalmente contra a propina, quer dos estudantes nacionais, quer dos estudantes internacionais. E, por isso, a luta vai continuar também para as propinas internacionais. Pensas que as residências universitárias podem contribuir para solucionar o problema do alojamento estudantil na cidade? Lisboa e Porto têm um grave problema de alojamento e, num curto espaço de tempo, Coimbra vai enfrentar uma situação semelhante ou até pior. Como tal, é urgente criar um plano de ação social para residências. Queremos garantir qualidade, mas também quantidade. Temos condições para criar mais residências, basta que a UC e a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) tenham vontade de o fazer. Quanto à dívida interna, quais são os teus planos e objetivos? A dívida interna é uma barreira à própria atividade cultural e desportiva da AAC e até mesmo ao trabalho dos núcleos. O nosso objetivo é criar um gabinete de captação de financiamento público, área em que temos falhado. Existem imensos apoios para a cultura, para o desporto e para o associativismo jovem, não só a nível da CMC, como a nível nacional e internacional. Exemplos disso são o programa de empreendedorismo ‘Social for Your Life’ e o Festival Caminhos do Cinema Português. Não podemos estar reféns do financiamento privado. Qual a tua visão sobre a QF? Achas que há questões por solucionar? Antes de discutirmos medidas para a distribuição das verbas, temos de ter noção de como é feita a QF. A festa tem dado alguns problemas à casa, porque o financiamento não tem sido o esperado. Sem este, as secções e os núcleos perdem uma importante fonte de receitas. A resposta passa por tornar a QF rentável para a AAC. Como encaras as críticas feitas à organização das festas académicas? Recentemente, houve mesmo grupos da AAC a boicotar a Latada. Ocorreu um grande erro. As secções atuaram cedo demais, o que se refletiu na falta de público e na insatisfação dos grupos. O tempo é limitado e torna-se difícil conciliar as atuações dos grupos da casa e dos artistas principais. É necessária uma reorganização: se tivermos de diminuir um artista para termos as atuações das tunas mais tarde, fá-lo-emos sem qualquer problema. Temos de dar dignidade ao momento de atuação dos grupos académicos, porque representam a nossa casa. No entanto, é necessário ter peso e medida nesta decisão, pois é importante relembrar que os artistas principais são a maior atração. Tens alguma coisa a acrescentar? Quero acrescentar que esta lista é abrangente e vai fazer de tudo para que haja uma discussão com base nas dificuldades e na opinião de todos os estudantes. Só este debate permite responder às necessidades dos estudantes. O projeto não é meu, não é da lista, é de todos aqueles que querem participar nele. Os universitários são, sem dúvida, o pilar da nossa candidatura.


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LISTA M “MUDANÇA” - POR JÚLIA FERNANDES E PAULA MARTINS -

Pedro Chaves, estudante do terceiro ano de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e candidato pela Lista M, tem como linha condutora a promoção de uma “mudança real e efetiva em relação aos mandatos anteriores”. A lista candidata defende a importância de uma aproximação aos estudantes e promete “zelar por mais rigor e transparência dentro da academia”

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O que motivou a tua candidatura? E qual era a tua relação com a AAC? A primeira razão da nossa candidatura parte de um enorme descontentamento face ao que têm sido os últimos anos da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). Na nossa visão, há uma enorme falta de rigor nas políticas da AAC. Consideramos que a atual DG/AAC está muito fechada sobre si, ou seja, não consegue mobilizar a comunidade estudantil. Isso acontece porque a DireçãoGeral não tem interesse em chegar aos estudantes, mas sim em manter o status quo atual. Do plano académico para o plano nacional, acreditamos na luta pela construção de um país novo, mais humano e mais justo. A tua candidatura possui algum apoio partidário? Não. Quais são as bandeiras do projeto? O nosso projeto é uma alternativa que visa chegar aos estudantes evitando o isolamento que a DG/AAC tem tido nos últimos anos. Achamos que a Direção-Geral tem de se aproximar mais das secções. Na nossa conceção, estas foram ostracizadas ao longo dos dois anos passados. Depois, pretendemos conseguir que a AAC tenha mais rigor e transparência em relação às contas e aos problemas relacionados com a organização da Queima das Fitas (QF). Também defendemos a criação de uma bolsa que concilie o mérito associativo e académico dos estudantes. Esta seria criada pela AAC, no valor de 500 euros a atribuir a 20 estudantes. A lista assume uma posição neutra em relação à praxe, como salvaguarda da liberdade individual e do direito universal à autodeterminação. Pretendemos criar uma plataforma de debate na AAC para discutir o futuro do país, trabalho esse que deve começar na academia. É nossa intenção organizar conferências, debates e ‘think tanks’, convidar oradores especializados e promover discussões sobre a atualidade. O nosso principal objetivo é discutir e lutar pelo futuro do país. A nossa lista acredita que cada pessoa é um potencial motor de mudança. Na tua proposta para a bolsa de mérito académico e associativo, é dito que 50 por cento do cálculo vai ser baseado no trabalho semanal desenvolvido nas secções da AAC. Como pretendes controlar a assiduidade? A base do cálculo desta bolsa seria 50 por cento para a média que os estudantes têm na universidade e 50 por cento para o trabalho associativo que desenvolvem semanalmente na AAC. Existem três escalões de secções: o escalão A, constituído pelas secções em que os estudantes desenvolvem 12 horas de trabalho semanal; as de escalão B, em que o trabalho desce para as seis horas semanais; e as de escalão C, que implicam três horas de trabalho por semana. De forma a garantir que os estudantes cumpram as horas a que se propõem, uma das medidas é fazer uma auditoria para perceber a situação financeira das secções, mas também o trabalho que tem sido desenvolvido. Se estivermos a par do trabalho que as secções desenvolvem dá para perceber isso perfeitamente. Afirmas que a atual DG/AAC está “fechada sobre si mesma”. De que forma pretendes conseguir uma maior aproximação aos estudantes? Temos de começar pelo órgão soberano que toma as decisões legislativas na AAC, ou seja, pela Assembleia Magna. Na nossa perspetiva, esta reunião é, de uma maneira geral, muito mal anunciada. É preciso por isso investir na sua divulgação, não só nas faculdades, como também nos núcleos. Só se chegarmos aos estudantes conseguimos alterações fundamentais no ensino superior. A redução da propina, que aconteceu este ano, mostra que nós, estudantes, podemos mudar as coisas.

O que diferencia a tua lista das restantes e do mandato atual? O facto de zelarmos por mais rigor e transparência. Pretendemos chegar aos estudantes de várias formas, quer através dos núcleos, quer através da própria DG/AAC. Todas as nossas propostas apontam no sentido de uma demarcação das listas de continuidade. Assim, entendemos que, se os estudantes quiserem uma mudança real e efetiva na AAC, a nossa lista é essa alternativa. Somos a única lista diferente em relação ao que têm sido as listas candidatas nos últimos anos. Em relação aos problemas nas contas da QF, a tua lista promete uma organização mais “rigorosa e transparente”. Que medidas pretendes tomar? As contas da QF, importante parte do orçamento da casa, estão bloqueadas até o final deste ano, o que impede que as secções desenvolvam os trabalhos que lhes competem. Queremos aproximar-nos dos grupos académicos, como as tunas, às quais não são dadas condições que consideramos necessárias para uma boa atuação. Para além disso, existe um problema político e ético relacionado com as regalias que são atribuídas aos comissários da QF. Atualmente, os comissários podem oferecer um determinado número de bilhetes gerais. Defendemos que um comissário pode ter direito a um bilhete geral da QF, porque está a desenvolver um trabalho. No entanto, poder dar bilhetes a quem lhe apetece é uma forma de condicionar não só a democracia interna da AAC, como também a eleição dos comissários. Ademais, defendemos que a entidade tutelar da QF deve passar a ser exclusivamente a DG/AAC, o que implica o afastamento do Conselho de Veteranos. Em consequência, as verbas da QF seriam atribuídas apenas à academia, até porque o Conselho dos Veteranos não é um órgão que eleito pelos estudantes. De que forma pretendes resolver o problema da dívida interna? É essencial começar dentro da casa. Isso pressupõe fazer uma auditoria a cada secção da AAC, não só para perceber a atividade que desenvolvem, mas também a sua situação financeira. Ao acabar com os bilhetes gerais oferecidos para QF conseguimos poupar dinheiro. Para além disso, considero fundamental uma redução no orçamento da QF, mas não muito grande, para não alterar a magnitude do evento. Um dos objetivos da lista é acabar com o rés-do-chão do edifício da AAC como espaço comercial. Consideras que esta é uma opção viável sendo o arrendamento uma fonte de receitas? A AAC é dos estudantes e para os estudantes. Ponderamos acabar com o rés-do-chão como espaço comercial, caso existam secções com falta de espaço ou sem lugar no edifício-sede. Sentimos que as secções que tenham necessidade de espaço o devem receber, mesmo que tal implique o encerramento dos negócios no rés-do-chão. É importante não esquecer que o trabalho extracurricular que se desenvolve na AAC é o que a define enquanto comunidade académica. A reabertura do bar da AAC sem concessão é outra proposta da tua lista. Quais são as ideias para tornar o espaço rentável? O bar da AAC foi fechado no final do ano passado. A partir daí, deu-se início a um processo de concessão que, na nossa opinião, não foi muito transparente. Em várias conferências de imprensa, o atual presidente da DG/AAC, Alexandre Amado, recusou-se a prestar esclarecimentos sobre o estado desse processo. A concessão do bar da AAC deve ser explorada pela própria casa. Isto não significa que sejam os estudantes a trabalhar no bar, mas pode implicar que a DG/ AAC contrate um profissional para gerir o negócio e os empregados. Deve existir também um conceito de bar suficientemente apelativo para atrair clientes. Por exemplo, através da organização de noites temáticas, de jogos e de debates. Os mandatos anteriores já eram a favor da Propina Zero. Se fores eleito, vais continuar a dar voz ao movimento? Está consagrado nos Estatutos da AAC que o Ensino

Superior tem de ser público, democrático, universal, gratuito e de qualidade. Esta é uma visão que nós ambicionamos tanto para o Ensino Superior em Portugal, quanto para a educação em geral. Quanto à luta pela Propina Zero, a mais recente redução das propinas mostra que vale a pena que os estudantes se manifestem. A questão é sempre tentar chegar aos estudantes. Depois de os estudantes se unirem, cabe-nos divulgar melhor as manifestações e criar um grande movimento estudantil em Coimbra que faça com que a Assembleia da República e o Governo nos consigam ouvir. A AAC deve ser a grande força sindical para defender os direitos dos estudantes. Qual a tua posição em relação à propina dos estudantes internacionais? Consideramos que a propina internacional é profundamente discriminatória e prejudica a internacionalização da Universidade de Coimbra num mundo cada vez mais global. Por isso, a proposta seria que os estudantes internacionais tivessem um regime de igualdade em relação aos estudantes portugueses. Não achamos que a nacionalidade deva determinar o valor pago para estudar. Os estudantes de 3º ciclo também são uma das preocupações da tua lista. Que papel deve a AAC ocupar para garantir que as questões económicas não são motivo para abandonar investigações no caso dos doutoramentos? Em primeiro lugar, lutar contra a propina, porque esta constitui um fator de discriminação social que impede que cada pessoa possa alcançar o máximo da sua capacidade. Também estamos solidários com a luta que os doutorandos têm enfrentado em relação aos atrasos na atribuição das bolsas por parte da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Isto é um problema porque coloca a vida de milhares de doutorandos em suspenso devido à incerteza de saberem se vão ou não ter direito à bolsa. Neste momento, no doutoramento, as questões económicas contribuem para uma taxa de abandono que está cifrada nos 20 por cento. Ou seja, um em cada cinco estudantes que concorre ao doutoramento desiste. Defendemos que quem faz investigação deve ter não só vínculo de trabalho, como também remuneração. Outro agravante é o facto de, em Portugal, não serem cumpridos os direitos consagrados aos estudantes de 3º ciclo pela Carta Europeia do Investigador. Como é que, nesse sentido, a tua lista pode fazer a diferença? Ao reivindicar, uma vez que não tomamos decisões nesse âmbito. Portanto, é aderir à luta dos doutorandos nos protestos e nas alterações que sugerirem. Para mim, esta é uma causa de extrema importância porque a investigação é algo fundamental para o progresso do país. O problema da falta de vagas nas residências universitárias está na ordem do dia. De que forma pretendes incidir sobre esta questão? Um dos pontos que está a ser discutido para o Orçamento do Estado é criar mais residências universitárias. Isto também se prende com um problema de especulação no mercado de arrendamento que tem existido em Portugal, sobretudo no Porto e em Lisboa. Em Coimbra, começa a notar-se a subida das rendas praticadas pelos senhorios. Quanto às condições nas cantinas e nas residências, sentimos que deviam ser melhoradas. Tens algo a acrescentar? Estamos empenhados em chegar à comunidade estudantil e em dar atenção às secções da AAC. Também pretendemos mobilizar os alunos para criar um novo movimento estudantil em Coimbra, nomeadamente, no que toca ao combate à propina e à remodelação do modelo da QF. Queremos aproximar a AAC dos círculos culturais em Coimbra, porque entendemos que os estudantes devem desfrutar da cultura, o que nem sempre acontece por questões financeiras. Além disso, pretendemos, junto das secções desportivas, fazer um protesto na reitoria contra os valores exorbitantes exigidos para usar o Estádio Universitário de Coimbra.


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LISTA P “ATITUDE PRETO NO BRANCO” - POR BRUNA CADIMA E CLARA MIRANDA -

Mariana Rodrigues é estudante de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ocupa o cargo de vice-presidente da atual Direção-Geral da AAC. Este ano, candidatase com uma lista que almeja uma Académica “moderna, transparente e aberta”

HUGO GUÍMARO


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Qual o motivo da tua candidatura à presidência da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC)? Candidato-me porque o próximo ano está cheio de desafios para a AAC. Parece que existe um legado de vazio administrativo, tendo em conta o ano de definição de 2018. Nesse sentido, podem criar-se mecanismos de controlo e de ação administrativa ligados a causas sociais. O ano em que vamos entrar representa um momento de definição de política interna e externa, tanto para a AAC, como para a Universidade de Coimbra (UC). A nível cultural e desportivo, estamos perante uma oportunidade de captação e de reorganização. Tendo em conta a transversalidade da nossa equipa, 2019 é um ano muito motivador para se fazer alterações substanciais na academia. A tua candidatura conta com algum apoio partidário? Não. Quais são as principais bandeiras do teu projeto? Construímos a candidatura com base em três ideários. O primeiro é a inclusão e é com este objetivo em mente que pretendemos abranger as missões individuais de cada estudante, dentro do plano da AAC. Isso inclui um orçamento participativo e a criação de um departamento de ‘marketing’ e angariação de fundos que consiga ajudar cada colega a criar um plano individual. Depois, queremos assumir a cultura e o desporto como meios de participação ativa na academia ao alargar o seu âmbito, organização e atuação. Por último, ambicionamos uma AAC que preste apoio diário aos estudantes. Foste vice-presidente da DG/AAC que agora cessa funções. O que é que te diferencia do mandato atual? Existe continuidade na maneira como vemos a AAC, no que concerne a abrir portas a todas as estruturas e a captar uma participação mais ativa. No entanto, há definições políticas que têm obrigatoriamente de mudar, embora ressalve que algumas missões já foram concluídas. No ano passado, a candidatura “Académica de Causas” centrou-se na reorganização da Queima das Fitas (QF), no Regime Fundacional e nos Jogos Europeus Universitários. Este ano, os desafios são diferentes. Apesar de também assumirmos uma linha política forte e uma orientação cultural cada vez mais ativa, é preciso reorganizar o desporto e intensificar a proximidade com a comunidade. Essa relação nunca foi explorada por completo e é um desafio muito grande para nós. A tua candidatura conta com o apoio do atual presidente da DG/AAC, Alexandre Amado? Tanto eu como o Daniel Azenha somos vice-presidentes da atual DG/AAC. Podemos assumir uma linha de continuidade, mas também de rutura. O Alexandre Amado é, como é óbvio, imparcial. Falaste da cultura e do desporto como porta de entrada para o envolvimento dos estudantes na AAC. Quais são as tuas propostas para as secções da casa, para os núcleos e para os organismos autónomos? A nível cultural, é imprescindível aproveitar a candidatura da Câmara Municipal de Coimbra a Capital Europeia da Cultura em 2027 como forma de conseguir financiamento. Também é necessário criar um plano único da cidade, dialogando com agentes culturais que têm interesse em trabalhar connosco. Para as secções desportivas, torna-se essencial criar uma transversalidade e um maior diálogo entre elas e o desporto universitário, para aproveitar os espaços desportivos da cidade. A ideia é utilizar as secções como meios de formar estudantes através de uma maior captação a nível cultural e de uma reorgani-

zação do desporto. Os núcleos de estudantes devem ter uma política pedagógica mais preventiva e uma de saídas profissionais mais ativa. Quanto aos organismos autónomos, principalmente os culturais e os que partilham connosco o edifício, faz sentido trazer de novo o projeto de um Conselho dos Organismos Autónomos. Este órgão permitiria definir a gestão do espaço e aproximar-nos de todos estes elementos da casa. Como te posicionas relativamente à Propina Zero, à propina dos estudantes internacionais e à dos alunos de doutoramento? A AAC sempre defendeu a Propina Zero e eu sou totalmente apologista. No entanto, a redução da propina não pode significar a redução da ação social. A propina de sete mil euros dos estudantes internacionais não faz sentido, tendo em conta o custo que cada um desses estudantes tem para a universidade. Para colmatar isso, devem abrir-se, para estudantes internacionais, programas de ação social que lhes são vedados, como o Fundo de Apoio Social. O alojamento estudantil continua a ser um problema da cidade. O que é que pretendes fazer para o solucionar? É necessário, a nível nacional, perceber que isenções podem ser dadas aos senhorios. Também é importante criar um gabinete de apoio jurídico ao alojamento estudantil. Neste momento, as residências universitárias e as repúblicas têm um apoio direto da ação social. No próximo ano, com as eleições do reitor, existe uma excelente oportunidade para que se aumente o número de camas das residências e para que as repúblicas se tornem património municipal. Com o intuito de colmatar as disparidades de preços, é importante criar um plano nacional de residências estudantis. Por que é que consideras importante que as repúblicas passem a ser consideradas património municipal? Estas já são património cultural e político da cidade e uma marca da academia e da UC. Existem estudantes que necessitam das repúblicas porque têm rendas e alimentação mais baratas. Ao tornarem-se património municipal, ficam protegidas. Relativamente à dívida interna, quais são os teus planos e objetivos? Primeiro é necessário criar uma estrutura que acompanhe e reorganize as secções culturais, desportivas e os núcleos de estudantes. Depois, é necessário criar um departamento de ‘marketing’ e ‘fundraising’ que aumente a receita e financie as estruturas. O pagamento da dívida interna tem de ser feito conjuntamente com todas as estruturas. Qual a tua visão relativa à QF? Achas que há questões por solucionar? A QF vai estar em sufrágio, visto que foi aberta, na última Assembleia Magna, uma proposta de alteração estatutária. Neste momento, temos de esperar pela alteração dos Estatutos da AAC para fazer alguma proposta. O que consideras necessário ser visto e remodelado no Ensino Superior? A diminuição do valor das propinas e a tentativa de aumentar a ação social não desculpam todo um Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. É um avanço na política do Ensino Superior, mas muito aquém daquilo que ambicionamos. Não podemos parar por aqui. É importante criar um pelouro de política científica para a inovação e investigação e apostar na ação social indireta. Isto é, transportes, material escolar, alojamento e alimentação.

Isso põe-se em prática de que forma? Através, por exemplo, da criação de um banco de materiais. Este projeto está em curso e, no que depender de nós, vai transitar para o próximo ano. Outro exemplo é a criação de um Programa de Apoio Social a Estudantes através de Atividades a Tempo Parcial (PASEP) de âmbito científico em unidades orgânicas. O objetivo é que os estudantes de primeiro ciclo e mestrado integrado possam fazer parte de centros de investigação. Em que moldes pretendem desenvolver um PASEP de índole académica? A verdadeira origem do PASEP é acompanhar a área do saber. Por exemplo, o ‘site’ do banco de materiais que propomos criar está a ser feito por estudantes de Engenharia Informática. Não acho mal existir também PASEP de índole transversal, desde que os estudantes possam tirar alguma valência curricular dessa experiência. Caso contrário, estamos a substituir contratos de trabalho por programas a tempo parcial. Como é que pretendes potenciar o envolvimento da AAC com a comunidade conimbricense? No caso do abandono escolar, existem mecanismos de captação e prevenção. No entanto, há jovens que negam, logo à partida, a opção de ingressar no Ensino Superior. Neste sentido, um dos projetos que gostaríamos de trazer para a cidade, e que já existe no Porto com bons resultados, é a criação de uma lista de teor comunitário que faça um acompanhamento junto das escolas mais difíceis do distrito e que explique o que é o Ensino Superior, o Ensino Politécnico e o Ensino Profissional. O objetivo é criar uma base de voluntariado dentro dos estudantes da UC que ajude com explicações, acompanhadas por profissionais, e que consciencialize a comunidade para o acesso ao Ensino Superior. Consideras importante poderes vir a ser a primeira mulher a presidir a DG/AAC no século XXI e a quarta em 131 anos de existência da academia? É importante e acaba por ser muito recompensador, mas não é por ser mulher que me candidato. A defesa intransigente de todos os estudantes é global e transversal. Apesar disso, as considero que deve haver mais mulheres nos percursos associativos. O lema que escolheste é “Atitude Preto no Branco”. Porquê? Acima de tudo, a AAC tem de ser abrangente, transparente e moderna. Tudo aquilo que fazemos deve exprimir clareza, daí o “preto no branco”. Tendo em conta que existem estudantes que desconfiam de ações da DG/AAC à porta fechada, como pretendes explorar o conceito de transparência? Quando existe desconhecimento e falta de comunicação sobre o que a AAC faz é normal que se desconfie. Se queremos uma Académica mais transparente, temos de ter uma Académica mais aberta. A partir do momento em que uma lista é eleita, a primeira coisa que deve fazer é abrir recrutamento para que qualquer pessoa, independentemente da sua opinião no processo eleitoral, possa participar ativamente na DG/AAC. Desta forma, acredito que vai existir sempre transparência e possibilidade de crítica. Tens alguma coisa a acrescentar? Os estudantes devem ver todas as propostas, todas as listas, ouvir bem tudo o que cada candidato tem para dizer e depois tomar a sua decisão em total consciência. Este género de processo eleitoral é aquilo de que a AAC precisa para se renovar.


20 DE NOVEMBRO DE 2018 CULTURA - 12 -

ORÇAMENTO DO ESTADO PARA A CULTURA NÃO SATISFAZ ENTIDADES ARTÍSTICAS EM COIMBRA Com a proposta do OE2019 para a cultura, manifestações de descontentamento continuam. Entidades artísticas locais frisam a importância de melhorar as condições de trabalho nas instituições culturais

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o passado dia 15 de outubro foi publicada a proposta para o Orçamento do Estado de 2019 (OE 2019). Entre as medidas, o financiamento destinado ao Ministério da Cultura vai subir para 0,25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o que não satisfaz as necessidades das associações que trabalham neste setor. “Muito dececionante” foi a expressão utilizada pelo produtor d’A Escola da Noite, Pedro Rodrigues, para comentar a verba. Acrescenta ainda que a subida do orçamento “fica muito aquém daquilo que era expectável e necessário para o país”, após as promessas feitas pelo primeiro-ministro, António Costa, de que o Ministério da Cultura teria “o maior orçamento de sempre” em 2019. Sobre a promessa, Pedro Rodrigues acrescenta que “isso não se confirma, o que é grave”. Descontentamento das instituições Apesar de ter havido um acréscimo na verba, o objetivo era que as reivindicações da manifestação de 5 de abril fossem atendidas. A diretora artística d’O Teatrão, Isabel Craveiro, partilha da mesma opinião que o produtor d’A Escola da Noite e afirma que “o reforço orçamental deveria ser o quádruplo, ou seja, deveria chegar a 1 por cento”. Continua a relatar que o orçamento proposto “é insuficiente para a produção artística do país e para aquilo que se considera um orçamento mínimo para uma área tão importante, muito subestimada nas políticas do Estado”. No início, A Escola da Noite e O Teatrão não estavam abrangidos pelo resultado do concurso do Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes para o período 2018-2021. Contudo, após três reforços orçamentais sucessivos, assinaram o contra-

- POR CAROLINA OLIVEIRA E LÍVIA STAMATO -

to para os próximos quatro anos. Assim, ainda que o Orçamento do Estado para 2019 não afete estes apoios já consignados, Pedro Rodrigues afirma que o montante atribuído pelo concurso é inferior àquilo que recebiam há dez anos. Acrescenta que continuam “a ter condições mínimas para trabalhar, mas estas estão muito longe daquilo que seriam as condições necessárias para desenvolver trabalho”. Para além disso, considera ser “um problema transversal a todas as estruturas culturais do país” que o orçamento “se mantenha tão baixo”. O produtor d’A Escola da Noite admite, ainda, que as estruturas que trabalham na cultura em Coimbra “sofrem daquilo que é falta de financiamento público a nível nacional e a nível do estado central”. Insiste que, no futuro, o trabalho vai continuar a ser feito em condições de extrema dificuldade. No entanto, não antevê que os agentes culturais abdiquem do mesmo apesar das condições “muito precárias”. A diretora artística d’O Teatrão, em contrapartida, expressa otimismo por um futuro “risonho”, uma vez que “Coimbra tem uma população que frequenta as partes culturais e que está minimamente atenta àquilo que é a produção cultural”. Contudo, acredita que, para isso, deve haver um esforço maior de trabalho com as diversas faixas da comunidade, “em especial com o público escolar”. Centralização de apoios Outra questão que preocupa Isabel Craveiro e Pedro Rodrigues é a centralização dos apoios nas cidades de Lisboa e do Porto. Uma das medidas promovidas pelo OE2019 é que a Coleção Miró tenha casa na Fundação Serralves, na cidade do Porto. En-

tre os motivos alegados para tal ação estava a descentralização da arte. Para o representante d’A Escola da Noite, “os apoios oferecidos ao setor das artes performativas não contribuíram em nada para diminuir as assimetrias regionais e mantiveram uma excessiva concentração do financiamento”. Para Isabel Craveiro, a centralização de apoios é uma demonstração do desequilíbrio social, económico e cultural do país. A diretora d’O Teatrão completa que são necessárias políticas financeiras para a re­ solução do problema. Porquê a subida do orçamento? Questionado sobre a razão da subida do orçamento para a área da cultura, Pedro Rodrigues pondera uma opção política de propaganda. O Governo considera esta ascensão um reforço no Ministério da Cultura, mas “esta pequena subida não vem resolver nenhum problema”, tendo em conta os cortes de verba na última década, complementa. A diretora artística d’O Teatrão tem a mesma visão, sendo sucinta ao responder que acredita que esta seja uma medida eleitoralista. Apesar das contestações, a votação final do orçamento só tem data marcada para o dia 29 de novembro. Com isso em vista, os representantes das estruturas culturais da cidade confirmam continuar os protestos. Neste sentido, Pedro Rodrigues prometeu não abdicar da luta pela meta do 1 por cento [do PIB nacional], por acharem que isso corresponde ao interesse do público e às necessidades do país. Para Isabel Craveiro, “o público também se deve mani­ festar e reivindicar as próprias políticas culturais da cidade, para que evoluam e se desenvolvam”. VITTORIO ALVES


20 DE NOVEMBRO DE 2018 CULTURA - 13 -

LUÍS QUINTAIS: “A ESCRITA PODE CONDUZIR-NOS A SÍTIOS QUE NÃO PROGRAMAMOS”

O livro “A Noite Imóvel”, candidato ao Prémio Oceanos, é construído através da junção de vários fragmentos. A questão de receber a distinção não é o foco do poeta, mas sim destacar a necessidade de interpretação da sua obra - POR JULIA PECCINI E MARIA SALVADOR -

porventura os mais discretos”. Como se considera enquanto poeta? Procuro ser discreto e um bom poeta também. Acho que alguns dos poetas que mais admiro foram muito discretos. Passaram de uma maneira quase anónima no mundo, desapareceram e ganharam uma projeção absolutamente extraordinária. Mas essa projeção é póstuma. Basta pensar no nosso Pessoa, que era um indivíduo discreto e que praticamente não tinha impacto cultural no seu tempo. Portanto, esse lado das coisas e das pessoas que passam um bocadinho à sombra, e se afastam um bocado do mundo, sempre me interessou. Pode dizer que a sua escrita teve a influência de algum poeta português? Inspirei-me em imensos poetas, sobretudo da tradição anglo-saxónica, mas há muitos poetas portugueses que me influenciaram e que foram muito importantes para mim, sobretudo os da segunda metade do século XX. De alguma maneira o meu trabalho é uma extensão de muitas coisas que já estão na poesia portuguesa desse período. Desta época, Fiama Hasse Pais de Brandão é, para mim, a poetisa mais importante em língua portuguesa. É uma pessoa muito discreta, mas que deixou uma obra espantosa. Da segunda metade do século XX há muitos: desde Ruy Belo a Herberto Helder, António Ramos Rosa, António Franco Alexandre, todos aqueles poetas mais conhecidos, eu li-os quando era muito jovem e influenciaram-me seguramente de uma maneira muito profunda. Eu escrevo em português, mas não me considero um poeta português.

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aredes recheadas de influências e pensamentos fragmentados marcam o ambiente de trabalho de Luís Quintais, professor de Antropologia, poeta discreto nomeado ao Prémio Oceanos, uma das maiores premiações lusófonas de literatura. As inspirações que influenciaram a sua escrita, a preocupação com as palavras, o dedo da antropologia na sua poesia e o seu mais recente projeto são algumas das temáticas abordadas pelo poeta durante a conversa. Qual é a sensação de estar entre os finalistas do Prémio Oceanos? Eu acho agradável essa exposição, mas tento não dar muita importância porque não escrevo para ter prémios. Não sou obcecado pelo reconhecimento. Quem ganha não é necessariamente melhor que um outro autor. As coisas não se passam assim. Já tenho ganhado uns prémios e não os recuso, mas não é uma coisa que eu procure. Caso vença, vai haver alguma mudança a nível da sua realização pessoal? Não, acho que vou continuar a fazer a mesma coisa todos os dias. Ganhou um prémio com o seu primeiro livro, “A Imprecisa Melancolia”. De que forma este reconhecimento teve impacto na sua maneira de escrever e

MICAELA SANTOS

no seu desejo de continuar a fazê-lo? Receber este prémio teve interesse porque, quando eu era muito jovem, era muito difícil publicar. Ninguém me conhecia. Os poetas mais novos praticamente não existiam. Agora há muita gente interessada neles. Quando eu ganhei esse prémio, tive a minha vida mais facilitada porque nunca mais tive dificuldade em publicar. As editoras passaram a interessar-se por aquilo que eu fazia. Além disso, este não foi um prémio que tenha sido atribuído única e exclusivamente para originais em língua portuguesa. De onde nasceu “A Noite Imóvel”? “A Noite Imóvel” foi um livro construído a partir de fragmentos. São textos que aparecem e que vou acumulando sem saber exatamente o que é. Ou seja, sem nenhuma noção de virtualidade. Uma das coisas mais enigmáticas é que, quando voltamos atrás, olhamos aquilo com uma visão crítica e intensiva. O livro é uma espécie de ‘puzzle’. Quando comecei a construir esta obra, percebi que havia uma expressão que aparecia frequentemente e eu não sabia muito bem porquê. Era exatamente “a noite imóvel”, em todo lado. Portanto, esse lado fascina-me, pois a escrita pode conduzir-nos a sítios que nós não programamos, da natureza inconsciente. No seu blogue diz que “os melhores poetas serão

Como caracteriza a sua linguagem poética e a sua dinâmica literária ao longo do seu caminho profissional? Encontrou muitas mudanças ao longo deste trajeto? Acho que sim. Não sei se foram mudanças. Há uma certa continuidade. O meu exemplo é de uma poesia muito cerebral. Esse lado tornou-se-me cada vez mais claro de alguma maneira. Eu gostaria de definir a minha escrita como uma forma de meditação lírica sobre a natureza das coisas e também sobre aquilo que há de mais humilde na nossa relação com o mundo. Coisas absolutamente maravilhosas estão a um palmo da nossa cara e muitas vezes não vemos. Considero que escrevo de uma maneira muito parecida com a que me identificava no princípio. Andei por caminhos muito diferentes, mas pareço ter regressado ao início. Acha que a sua poesia é influenciada, de alguma forma, pela sua visão como antropólogo? A antropologia é um campo onde a dimensão literária é absolutamente inquestionável. Eu acho que não há separação entre aquilo que eu faço como antropólogo e aquilo que eu faço como poeta. Não é uma fronteira muito bem desenhada, não acredito sequer que exista. Eu acho que a poesia não é uma forma de conhecimento, é uma investigação que tem uma dimensão que não é necessariamente cognitiva; é outra coisa. A poesia tem muito mais perguntas do que respostas, e um antropólogo procura dar respostas a coisas, mesmo que essas respostas sejam frágeis. Eu acho que um poeta ou um escritor não está especialmente interessado nas respostas, está mais interessado nas perguntas.


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SECÇÃO DE XADREZ FAZ XEQUE-MATE NAS PROVAS RAINHAS Equipa alcança vitória na Taça e Supertaça de Portugal. Secção conta com cerca de 200 atletas e queixa-se de falta de espaço - POR RAFAELA CHAMBEL E FREDERICO MAGUETA -

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JOÃO RUIVO

Secção de Xadrez da Associação Académica de Coimbra (SX/AAC) tem acumulado vitórias no panorama nacional. A equipa arrecadou recentemente a Taça e Supertaça. O treinador do clube, Bruno Pais, conta que ganharam “todas as provas do ano passado”. O grupo conta com jogadores espalhados por toda a Europa. Ainda assim, o jogador Daniel Taboas consi­ dera que tal não é impedimento para o sucesso. Muito pelo contrário, pois considera a equipa “sólida”. Bruno Pais salienta que, ao longo das últimas décadas, a prática do xadrez caiu em desuso. É agora “uma modalidade colocada em último plano”, lamenta. Para o treinador, nos dias que correm, os jovens “não têm os mesmos interesses que tinham antes”. O treinador afirma que uma maior aposta em aplicações na ‘web’ pode resultar numa maior adesão por parte das gerações mais novas. Todavia, esse não é o objetivo da secção. Este passa por incentivar o convívio entre jogadores. Daniel Taboas reforça que o xadrez não tem muitos adeptos a nível mundial, “tampouco é uma coisa que desperte muito interesse”. Não obstante, o treinador aponta que “o desinteresse geral para com o desporto espelha a mentalidade portuguesa”, uma vez que o país não investe na prática. Com a finalidade de chegar a um maior público, a SX/AAC investiu em aulas dirigidas às escolas, de cariz mais ligeiro. Todas as segundas-feiras, a secção abre portas às chamadas “rapidinhas”. A partir das 21h,

acolhe pessoas de todas as idades para sessões descontraídas. O instrutor da equipa reforça que “o propósito não é que as pessoas se tornem grandes jogadoras, mas que aprendam os princípios básicos e que se juntem ao clube”. A Secção de Xadrez lamenta a falta de apoio e cobertura mediática por parte da Direção-Geral da AAC (DG/AAC). “Só está disponível aquela sala, não há mais espaço e dá muito trabalho gerir tudo”, sublinha Bruno Pais. O orçamento restringe a participação nas competições e o treinador menciona, em concreto, a carência de recursos na vertente logística. Para além disso, “o êxito da SX/AAC devia ser do interesse da DG/AAC”, completa. Ana Fernandes, vice-presidente da DG/AAC, esclarece que “não há nenhuma distinção entre a Secção de Xadrez e as restantes secções”. Reconhece a limitação de espaço, mas contra-argumenta com o facto de a DG/ AAC não possuir gestão plena do edifício. Contudo, adianta que não foi comunicada nenhuma adversidade à Direção-Geral. Conta, ainda, que a DG/AAC pondera a criação de uma plataforma exclusiva para a divulgação mais periódica e coerente dos resultados das secções. Para a próxima época, Bruno Pais ambiciona reviver vitórias anteriores, bem como subir na classificação da equipa juvenil. O coletivo deseja triunfar na etapa seguinte: a Liga dos Campeões.

TEMPESTADE LESLIE DEIXA ESPAÇOS DE TREINO EM SUSPENSO Danos provocados pela Leslie fazem-se sentir em inúmeras secções desportivas. DG/AAC aguarda por verbas de parceiros para iniciar requalificações - POR RITA FERNANDES E PATRÍCIA SILVA -

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o seguimento da tempestade Leslie, as secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC) verificaram diversos danos nas suas instalações. Destas destaca-se o Pavilhão Eng. Jorge Anjinho, que tinha sido alvo de requalificações para os European Universities Games de julho. “O apuramento dos estragos alcança valores de centenas de milhares de euros”, afirma o secretário-geral do Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC), Miguel Franco. Ana Fernandes, vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), esclarece que “se fez uma candidatura a um programa específico da Câmara Municipal de Coimbra (CMC)”. As recentes obras no pavilhão tiveram “um impacto significativo nas contas da DG/AAC, o que leva à necessidade de se estabelecerem parcerias”, conta Miguel Franco. “Gostaríamos que a Universidade de Coimbra nos ajudasse”, admite o secretário-geral do CD/AAC. Apesar dos danos graves, a maioria dos escalões em competição não viu a sua presença afetada. Contudo, os treinos sofreram alterações, que se traduzem na redução das horas semanais. É a consequência da realocação de secções que viram os seus espaços danificados e, por isso, tomaram o espaço de outras modalidades. Os transtornos são sentidos de forma mais notória no Estádio Universitário. Miguel Franco explica que “a competição não está a ser afetada, mas sim o rendimento”. Algumas estruturas, como a Secção de Patinagem da AAC (SP/AAC), que tinham o treino de formação no Pavilhão Eng. Jorge Anjinho, viram as suas atividades perturbadas. “Foi difícil”, admite a presidente da SP/AAC, Cristina Oliveira. Acrescenta que se “perderam alguns jovens atletas”.

A ocasião veio realçar a falta de espaços desportivos em Coimbra. Ana Fernandes revela que “junto da CMC, pediram-se alguns espaços adicionais”. Cristina Oliveira garante que “não há espaços alternativos na cidade”. A falta de infraestruturas exigiu solidariedade e cooperação entre as secções. “Nestas alturas tem de haver entreajuda e compreensão” admite o vice-presidente da Secção de Rugby, Pedro Henriques.

Ainda que não exista um orçamento final, ou uma adjudicação das obras de recuperação, o assunto é tomado como prioridade pela a DG/AAC. “O presidente Alexandre Amado garante que quer resolver esta questão”, su­ blinha Miguel Franco. Ana Fernandes reitera que “tudo está a ser resolvido o mais rápido possível, para que as obras se possam iniciar ainda no mandato em vigor”. CATARINA MAGALHÃES


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HUGO ALMEIDA: COIMBRA ABRE NOVO CAPÍTULO NA EPOPEIA DO “ALMA GRANDE” A aventura do internacional português arrancou no GD Buarcos. Após uma longa jornada no ­estrangeiro, Hugo Almeida está de regresso a Portugal, para representar a Académica

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os 34 anos, o camisola nove procura mais glórias na sua vida futebolística. Com uma carreira reconhecida, jogou ao lado de nomes como Miroslav Klose, Mesut Özil, Luís Figo, Rui Costa e Cristiano Ronaldo. Participou em dois Campeonatos do Mundo e ganhou a Liga dos Campeões. Esta época o internacional português atua na Briosa, e espera ajudar a equipa no regresso à Primeira Liga. Orgulhoso buarqueiro Foi no Ginásio Clube Figueirense que Hugo Almeida entrou em contacto pela primeira vez com o objeto esférico que mudou a sua vida. Contudo, na modalidade errada. O jovem natural de Buarcos, Figueira da Foz, tinha os pré-requisitos desejáveis para ser jogador de basquetebol. Apesar de ter altura, inquietude e a alegria de miúdo, faltava-lhe vontade de jogar no ‘court’. “Não era aquilo que me fazia feliz”, confidencia. Do basquetebol passou para o atletismo. No entanto, viria a encontrar a verdadeira felicidade atrás de uma bola, usando-a para abanar as redes. Após ouvir a sugestão paternal, Hugo Almeida reforçou, aos nove anos de idade, o Grupo Desportivo de Buarcos. Estava dado o pontapé inicial da carreira do 12º maior artilheiro da Seleção Portuguesa de Futebol. A revelação de uma alma grande Ainda adolescente Hugo Almeida rumou ao norte para jogar no FC Porto. As saudades de casa eram compensadas pelo companheirismo de todos aqueles que, tal como o jovem de 15 anos, iniciavam o primeiro jogo do resto das suas vidas. O atleta confessa que para quem “nunca tinha saído das saias da mãe, estar numa cidade era quase como um país novo”. No Porto, Hugo Almeida foi apelidado por Paulinho Santos, então treinador, como o “alma grande”, uma analogia ao seu metro e 92 e à sua amigável personalidade. Mais tarde, aquando do empréstimo ao União de Leiria, foi orientado por Manuel Cajuda, que o chamou para ir jogar na Primeira Liga. “Não podia recusar”, frisa o jogador. A boa relação mantém-se passados 16 anos, espelhada no reconhecimento e gratidão. Foi com particular brilho nos olhos que Hugo Almeida referiu o nome de Manuel Cajuda. Foi “um dos treinadores mais marcantes na minha carreira”, revela. Ao evocar a sua memória, o atual treinador do Académico de Viseu recorda um jogador “mais desenvolvido a nível técnico do que se pensa”. Manuel Cajuda destaca “a capacidade de escutar e de entender” de Hugo Almeida. “Estou grato por ele se lembrar de mim”, admite. Relembra, com um misto de sentimentos de missão cumprida e emoção, o reencontro dos dois na receção ao Viseu. “Quando fomos jogar a Coimbra”, revela Manuel Cajuda, “encontrei o Hugo e, antes do jogo, ele deu-me um abraço”. Emocionado, o técnico da formação viseense conta o que disse ao avançado da Briosa: “Oh Hugo, és grande em tamanho e em caráter”. Manuel Cajuda diz-se orgulhoso do percurso do jogador. “Hoje posso dizer que valeu a pena, como valeu a pena com o Tiago, o Quim ou com o Barroso, uma série de atletas que nos dão grandes medalhas como treinadores”, conclui. Hugo Almeida voltou à Invicta e, na época 2005/2006, conquistou a titularidade. A passagem do jogador pela formação

- POR SAUL DENOFRE E JOÃO M. MARECO -

portista fica na história, em especial pelo golo marcado frente ao FC Barcelona na inauguração do Estádio do Dragão. De azul e branco apontou um dos melhores golos da sua carreira na Liga dos Campeões, diante do Inter de Milão. Após cinco anos no futebol nacional, Hugo Almeida, ao comando de Co Adriaanse, foi jogar para a Alemanha. No Werder Bremen, o avançado encontrou Thomas Schaaf. Segundo o futebolista, este treinador foi determinante para o jogador que é hoje. A Bundesliga, defende Hugo Almeida, “está taco a taco com a liga inglesa, pela sua competividade, pelos atletas e equipas”. No inverno de 2010, o avançado português rumou a leste e no Besiktas, da Turquia, encontrou adeptos FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA PELA AAC/OAF

ferverosos. “Quando gostam de um jogador vão com ele até à morte”, destaca. Desejoso de ver semelhante ambiente nos estádios portugueses, lembra que “no futebol alemão, até nas divisões regionais existem estádios cheios”. De Cesena a Atenas - a epopeia Quatro anos após estrear-se no futebol turco, Hugo Almeida viaja para Itália, onde participa em dez partidas pelo Cesena. Em janeiro de 2015, o atleta muda-se para o Krasnodar, da Rússia. Após o verão desse ano, o jogador português deparou-se com uma das piores situações da sua carreira. “Quando assinei pelo Anzhi foi prometido que os jogadores iam viver em Moscovo. No entanto, seguimos para o Daguestão”, recorda. “Não sabia para o que ia; Foi um choque”. Existiam muitas guerrilhas, tiroteios e atropelamentos. Voltei outra vez aos meus 14 anos, quando vivia praticamente dentro de um estádio”, revela Hugo Almeida. A meio da época recebeu um convite do seu ex-treinador Thomas Schaaf. Sem hesitar, regressou à Alemanha, para jogar no Hannover. Depois de uma temporada atribulada, a formação germânica foi relegada à segunda divisão. Uma nova oportunidade surgiu com o AEK Atenas como destino. “Um dos melhores países em que joguei foi a Grécia. Senti-me em casa, adorei jogar lá”, recorda. Na meia-final da taça grega, Hugo Almeida foi, pela primeira vez, incumbido de, ao contrário do habitual, impedir golos. “O guarda-rede foi expulso. Naquele momento não poderia sair um defesa e, perante o poderio do Olympiacos e a nossa vantagem no marcador, era necessário manter a linha recuada”, explica. No princípio da presente época, o ponta de lança voltou a calçar as luvas, desta vez pela Académica. Salienta que “foi uma opção do treinador, é importante olhar para as melhores opções, de modo a não sofrer danos na defesa”. De regresso a casa Com 12 anos de experiência no estrangeiro, Hugo Almeida regressou a Portugal para defender o preto e branco dos estudantes. Apesar do começo conturbado na Segunda Liga, o jogador acredita que a Académica ainda pode dar a volta e sonhar com a subida. “Se conseguimos ou não, só depende de nós”, remata. A época é longa e Hugo Almeida lembra que “há muito ponto para disputar”. “No fundo, o futebol é uma caixinha de surpresas, nunca se sabe o que vai acontecer”, ilustra o jogador. Hugo Almeida assume que a sensação de se sentar num balneário com “mitos” como Luís Figo, Rui Costa ou Fernando Couto é irrepetível. Salienta que, apesar de todos os títulos conquistados dentro das quatro linhas, o prémio mais importante da carreira são os filhos.


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SECÇÕES DESPORTIVAS CONTESTAM NOVA POLÍTICA DE ARRENDAMENTO DE ESPAÇOS Reivindicações visam novo modelo de gestão financeira e manutenção da alta competição. DG/AAC e reitoria destacam as negociações entre ambos - POR VASCO BORGES E MARIANA ROSA -

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nova política da Universidade de Coimbra (UC) em relação ao arrendamento e utilização de espaços de treino e de jogo está a causar contestação junto das secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC). O principal motivo de queixa prendese com o alegado aumento das rendas. Secções temem pelo sustento e competitividade das suas equipas Em 2016, a UC fixou novas taxas para o arrendamento dos espaços desportivos. O montante era garantido pelo Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC) e, depois, descontado na distribuição das verbas. Com o arranque da nova época, o CD/AAC continuou a assegurar as despesas relacionadas com a prática das modalidades durante a semana. No entanto, o valor referente às competições ao fim de semana é agora suportado pelas próprias secções. O vice-presidente da Secção de Rugby da AAC (SR/AAC), Pedro Henriques, refere que este novo modelo torna a gestão financeira complicada. “As secções desportivas são obrigadas a pagar os valores associados à utilização do estádio sempre que jogam ao fim de semana, um valor que se torna incomportável”, reitera Pedro Henriques. Para além dos pagamentos mais elevados, o vice-presidente da SR/AAC critica a falta de articulação entre a Direção-Geral da AAC (DG/AAC), o CD/AAC e as secções. “Ainda há muito a resolver”, confessa. Pedro Henriques compreende a dificuldade da DG/AAC na gestão das dívidas, mas afirma que “os recursos financeiros devem ser direcionados para os verdadeiros objetivos”. A equipa sénior de rugby da AAC disputa a Primeira Liga. O vice-presidente da SR/AAC confessa que a instabilidade gerada pela nova política pode afetar o coletivo. “A direção vê-se obrigada a fazer esforços que poderiam estar centrados noutros objetivos e investimentos”, salienta. Pedro Henriques defende que “não há nenhuma equipa de alta competição que não sinta este tipo de incertezas”. Apesar de tudo, ressalva que a secção “não está contra o modelo em si” e saúda o apoio que a UC dá ao desporto universitário e federado. Também a Secção de Basquetebol da AAC (SB/AAC) tem enfrentado novas dificuldades com o regime de arrendamento. O presidente da SB/AAC, João Frazão, lamenta a falta de informação e apoio por parte dos órgãos gerentes. “A secção ainda não sabe o valor da verba a que vai ter direito, pelo que fez o orçamento sem contar com ajudas do CD/AAC”, revela. O dirigente sublinha ainda que a secção “já se habituou a procurar as próprias fontes de receita”. João Frazão aponta a falta de espaços de treino como um dos principais problemas neste momento. “A equipa sénior de basquetebol, que disputa hoje a Proliga, não tem onde treinar à segunda-feira”, esclarece. O dirigente salienta ainda a dificuldade em “conseguir programar treinos para a formação”, ainda que os espaços

de treino tenham sido requeridos com antecedência. Como consequência, o presidente da SB/AAC lamenta que os atletas “treinem menos vezes do que é compatível com o desporto de alta competição”. Segundo João Frazão, existe a possibilidade de a equipa sénior subir de divisão. Contudo, critica a falta de condições para combater as despesas da competição. De acordo com o presidente, o assumir de uma subida para a primeira divisão tem de ser um projeto não só da AAC, como da própria cidade de Coimbra e respetivas estruturas. “O pior que podia acontecer à AAC e a Coimbra seria a equipa estar numa situação de subida de divisão e ter de a recusar”, conclui. Órgãos gerentes espelham o outro lado da política desportiva O presidente da DG/AAC, Alexandre Amado, sublinha que as taxas já existiam desde 2012, mas só começaram a ser aplicadas a partir de 2016. “Fruto das remodelações no Estádio Universitário, a UC fixou taxas com um carácter mais obrigatório”, destaca. Mesmo com a nova realidade, Alexandre Amado garante que “a UC sempre mostrou a intenção de manter o Estádio Universitário como espaço das secções” e que “a DG/AAC transmitiu a decisão da UC às várias divisões desportivas”. Acrescenta que “as secções da AAC têm um desconto de 10 por cento sobre as taxas e um desconto adicional de 30 por cento para as equipas com 75 por cento de atletas estudantes da UC”. Quanto às alterações impostas para a nova época desportiva, o presidente da DG/AAC esclarece que “a única diferença é a forma de pagamento, que se tornou mais periódica”. Segundo Alexandre Amado, ao final de cada mês é feito um pagamento ao Estádio Universitário, que é suportado, em parte, pelo CD/AAC.

Em relação às queixas sobre a falta de espaços fixos para os treinos das modalidades de pavilhão, Alexandre Amado reitera que “é natural ser necessário recorrer a outros espaços”. O mais importante para o presidente da Direção-Geral é encontrar um equilíbrio. Numa perspetiva contabilística, Alexandre Amado destaca as negociações que a DG/AAC tem levado a cabo junto da UC. “Está na fase final a negociação para que os valores de arrendamento dos espaços se fixem entre 50 e 70 mil euros por ano”. O presidente da DG/AAC confessa que “são montantes comportáveis e aceitáveis”. Acrescenta que esta medida é fundamental para o futuro da AAC. “Nunca mais vai haver a necessidade de negociar valores no final do ano”, promete. O secretário-geral do CD/AAC, Miguel Franco, explica que o organismo tem trabalhado junto da reitoria, de modo a baixar o custo do arrendamento dos espaços. “A reitoria está disponível para isentar o CD/AAC de mais custos se existir uma maior aposta no desporto universitário”, destaca Miguel Franco. Amílcar Falcão, vice-reitor da UC, sublinha que “o dinheiro recebido pela UC do arrendamento das instalações é reinvestido no desporto universitário”. Acrescenta que “são cobrados à AAC preços abaixo da média, comparado com todas as outras universidades”. Amílcar Falcão destaca a relação entre a UC e a DG/AAC. “A articulação com a Direção-Geral tem sido permanente e fantástica”, realça. O vice-reitor da UC afirma que a academia “está aberta a todas as questões da AAC, e tem alterado as condições de trabalho, o preçário e a forma de pagamento”. Por fim, reitera a aposta no desporto universitário. “O fluxo financeiro proveniente da Universidade de Coimbra para a utilização de espaços no Estádio Universitário é forte, no que à área desportiva diz respeito”, conclui. MIGUEL MESQUITA MONTES


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DESREGULAÇÃO DO SONO DIMINUI PRODUTIVIDADE DOS ESTUDANTES Média de oito horas de descanso por noite aumenta concentração e memória. Investigadora associa maior repouso a melhores resultados académicos - POR MARIA LUÍSA CALADO E DIOGO MACHADO ANA RITA TELES

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ormir ocupa cerca de um terço da vida de uma pessoa e a sua manutenção é essencial para o bom desempenho do organismo. Após o ingresso no Ensino Superior, os hábitos de sono “mudam de forma radical. Há uma mudança muito acentuada na hora de deitar e levantar”, sublinha Ana Paula Amaral, docente e investigadora no Instituto de Psicologia Médica. Quando se discute a duração certa para que o sono seja reparador, Ana Rita Álvaro, investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), afirma que “um estudante, ou qualquer adulto, deve dormir entre sete a nove horas. Portanto, uma média de oito horas por dia”. Contudo, estar oito horas na cama nem sempre corresponde a um sono reparador. Na perspetiva de Ana Paula Amaral, este é “fundamental para que ocorra um ‘reset’ do nosso sistema”. É durante este período que o nosso organismo “faz uma limpeza daquilo que produziu durante o dia e é quando se dá a consolidação da memória”, explica. Ao abdicar do sono para estudar pela noite dentro, os efeitos são, de maneira geral, imediatos. Ana Allen Gomes, investigadora na área do comportamento do sono na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, exemplifica alguns, tais como a “sonolência diurna, a menor concentração e a redução da eficiência da memória”. Apesar disso, destaca o facto de “os estudantes aprenderem, mas de uma forma menos eficiente”. Na área dos problemas da saúde psiquiátrica, “a principal doença mental que está associada às alterações de sono é a depressão”, realça Ana Paula Amaral. A longo prazo, Ana Rita Álvaro expõe a possibilidade de se desenvolverem doenças neurodegenerativas como Alzheimer ou Parkinson.

Segundo a investigadora do CNC, associadas às consequências psicológicas, existem também as físicas, como “o cansaço e a perda de ‘performance’ durante a atividade física”. Além disso, a desregulação do sono provoca ainda “o desenvolvimento de doenças metabólicas como a obesidade ou a diabetes”, conclui. Na vida académica, os estudantes encontram muitas vezes o dilema de escolher entre dormir ou estudar. As três investigadoras concordam que, devido aos benefícios do sono, é melhor dormir do que perder uma noite de repouso. Ana Allen Gomes refere que foi constatado por estudos que “os alunos com desempenhos excelentes são, por norma, aqueles que dormem melhor também”. Ana Paula Amaral afirma que “a noite não é a altura em que o cérebro tem melhor desempenho, por isso é sempre desejável que se consiga descansar depois de um período de estudo”. O fator mais importante na análise do sono é perceber que “cada pessoa é um caso, e há pessoas que têm menos necessidade de dormir que outras”, enfatiza Ana Rita Álvaro. No entanto, a investigadora não esquece que as pessoas que dormem menos “vão acabar por pagar essa fatura”. Ao dormir “somente quatro horas por noite, não existe qualidade de vida”, completa. Ana Paula Amaral acredita haver uma privação de sono durante a semana por parte dos estudantes universitários, e, por consequência, a procura da reposição das horas perdidas através de sestas ou de mais horas de descanso durante o fim de semana. Aponta ainda que, se a pessoa conseguir gerir e não tiver problemas de sono, não vê essa compensação como “problemática”. Além da tentativa de reposição das horas de sono, os jovens também optam por tomar medicação para facilitar o início do sono. Em cola-

boração com a Clínica Médica do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Ana Rita Álvaro, verifica “um consumo excessivo de medicamentos indutores do sono”. A investigadora atenta para as complicações causadas por estes fármacos, tais como a dependência dos mesmos, e, a longo prazo, o aumento do “défice de memória e do perigo de doenças neurodegenerativas”. O que pode ser alterado? Ana Paula Amaral menciona a prática de atividade física como “muito importante na normalização do sono”. A investigadora, no entanto, não aconselha a prática de atividade física muito exigente perto da hora de deitar, dado que ativa o organismo. Recomenda também evitar alimentos que sejam estimulantes, tais como cafeína, álcool e cacau. Ana Allen Gomes responsabiliza os ecrãs luminosos por interferir na produção de melatonina, hormona responsável pela indução do sono. Televisores, telemóveis e computadores acabam por atrasá-lo, o que dificulta a gestão do mesmo. É fundamental “manter um horário regular das horas de deitar e levantar, mas sobretudo de levantar”, pois, segundo a investigadora, “não se deve ir dormir por obrigação, mas sim porque se tem sono”. Segundo Ana Rita Álvaro, é importante não considerar o sono uma perda de tempo. “É um ganho em qualidade de vida, memória e bem-estar”, reitera. A investigadora aconselha a dormir “o número de horas necessárias para o bom funcionamento do organismo” com a finalidade de tornar a atividade diária mais rentável. Ana Paula Amaral conclui que “acima de tudo é necessário um autoconhecimento”. Cada pessoa é diferente em relação às necessidades e capacidades de adaptação à desregulação do sono”, finaliza.


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A CIÊNCIA VISTA PELO MICROSCÓPIO DO JORNALISMO Profissionais das áreas mostram quais os principais desafios de comunicar a ciência. Boa preparação por parte do jornalista considerada essencial - POR PAULO CARDOSO E SOFIA GONÇALVES -

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enominado de jornalismo científico, este conceito une duas definições: jornalismo e ciência. É uma vertente que, desde os anos 90, tem vindo a assumir-se no mundo com o desenrolar das evoluções tecnológicas. De acordo com Carlos Fiolhais, físico e professor catedrático no Departamento de Física da Universidade de Coimbra (UC), o jornalismo de ciência evoluiu nos últimos 20 anos ao “adquirir algum espaço nos jornais em Portugal”. Em paralelo, João Figueira, professor da Licenciatura em Jornalismo e Comunicação na Faculdade de Letras da UC, reitera que o jor­n alismo na área da ciência “assume uma importância social grande”, que tem vindo a evoluir. João Figueira explica que, quando foi criada a editoria de ciência em Portugal, “só havia um jornalista com formação em ciência, feita nos Estados Unidos da América (EUA)”. Assim, países como os EUA ganham reconhecimento por oferecerem oportunidades de formação especializadas em áreas da ciência. Nestas formações, como, por

exemplo, um mestrado em ciência ambiental, na Universidade de Montana, o objetivo é que os jornalistas consigam aprender a escrever notícias científicas de forma correta. O professor re­ conhece, no entanto, que um jornalista recém-licenciado “não tem de ser especialista em tudo”. No entanto, precisa de entender “onde é que pode ir buscar informação mais credível”. No jornalismo português, João Figueira esclarece que a experiência de um redator tem de incluir “uma preparação que lhe permita tratar qualquer assunto”. Desta forma, a especialização na área da ciência e da tecnologia não é relevante. Importante é, para o professor da FLUC, que um jornalista “se transforme, todos os dias, num me­ lhor cidadão e profissional”. Aos olhos de Carlos Fiolhais, no ramo jornalístico “é preciso um esforço de aproximação do cientista com as fontes mediáticas”. Assim, a cobertura jornalística relativa à área da ciência necessita de uma preparação cuidada na transmissão de conhecimento.

Dentro da mesma temática, João Figueira reforça que é essencial um jornalista “investir na sua formação”. O professor realça o fator “atitude”, e declara que “o jornalismo começa por ser isso mesmo: a atitude do desassossego”, fundamental em qualquer instância mediadora, pois “se esta não existir, não se chega a lado nenhum”. João Figueira afirma que é bastante positivo o facto de as “instâncias mediadoras serem capazes de comunicar ciência de uma forma clara e percetível”. O físico considera positivas as notícias de ciência divulgadas nos ‘media’, porque são o reflexo do progresso da ciência na procura de soluções para os problemas atuais. Presumir que alguém tem a mesma base de co­ nhecimento que outra pessoa é, segundo Carlos Fiolhais, “o erro mais relevante no que cabe à comunicação da ciência”. Refere que a “maior parte das palavras ditas pelos cientistas não podem ser entendidas por toda a sociedade”. “Usar palavras desco­nhecidas não é maneira de comunicar”, conclui.

JBUC DEPOIS DA LESLIE: NOVAS PLANTAS NO LUGAR DAS CAÍDAS Araucárias, ginkgo bilobas, sequoias e figueira estranguladora são as árvores lesadas mais emblemáticas da coleção. Diretor realça necessidade de reestruturação do espaço com adição de novas plantas - POR ISABEL PINTO E DIANA RAMOS -

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inda em manutenção e limpeza, o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC) está aberto ao público. Com algumas zonas vedadas devido aos danos causados pela tempestade Leslie, a expectativa é a de que a recupe­ ração seja um processo lento, mas viável. Os estragos passaram pelo jardim, mata e área reservada à investigação do Instituto Botânico da UC. O cenário é composto por ramos partidos, árvores derrubadas e infraestruturas comprometidas. O terreno com cerca de 14 hectares foi em grande parte afetado, embora a Estufa quente do JBUC tenha saído ilesa. A reabilitação começou na segunda-feira seguinte e consiste no “tratamento, poda, correção e segurança das árvores”,

esclarece o diretor do JBUC, António Gouveia. André Caeiro, investigador do Instituto Botânico, refere que “as sequoias são bastante resilientes e, por isso, capazes de recuperar”. António Gouveia salienta que o jardim é dotado de exemplares de araucárias, escassas em Portugal continental. Um dos espécimes “partiu a meio e passou de 40 para 15 metros”, exemplifica o mesmo. Tanto as ginkgo bilobas como a figueira estranguladora sofreram também com os estragos. O desenho ornamental e paisagístico mostra-se um fator fundamental na proteção dos organismos vivos. No quadrado central, as feijoas, “que são mais pequenas, teriam sido arrancadas pela raiz caso não estivessem protegidas pelas árvores

de maior porte”, elucida André Caeiro. Para António Gouveia, o espaço deve ser repensado devido à introdução de novas plantas. “Estes jardins vão ter de se adaptar a um futuro onde estes furacões e tempestades são mais frequentes”, adianta. O JBUC, incluído no património mundial da UNESCO, contou com a ajuda de mais de 120 vo­ luntários nos primeiros 15 dias após a tempestade. De acordo com o diretor desta unidade orgânica, a intenção é expandir as ações de voluntariado para a comunidade em geral. Todas as entradas do jardim têm avisos relativos à situação. Para António Gouveia, o património vegetal “merece uma segunda oportunidade por ser memória do espaço e do fenómeno”. DIANA RAMOS


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ESTUDO REVELA CARÊNCIA DE VITAMINA D NA POPULAÇÃO PORTUGUESA Parceria da FMUC com a Nova Medical School alerta para a importância de vitamina D. Falta de exposição solar como principal causa - POR LEONOR GARRIDO E MARIA MONTEIRO -

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estudo “A Carência de Vitamina D em Portugal” da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), em parceria com a Nova Medical School, é o primeiro que cobre toda a população adulta, realizado sobre este problema. A investigação foi apresentada no Congresso do Fórum D, iniciativa da Clínica Universitária de Reumatologia da FMUC. De acordo com as recomendações da ‘Endocrine Society’, duas em cada três pessoas apresentam deficiência de vitamina D, 21.2 por cento apresentam uma deficiência grave desta vitamina e apenas 3.6 por cento apresentam valores consi­ derados normais. A parceria com a Nova Medical School deve-se ao facto de esta ser autora do estudo EpiReumaPt e detentora de dados e amostras de soros guardados em biobancos, cruciais à pesquisa do Fórum D. Assim, a colaboração foi “realizada por necessidade, mas também por justiça”, conta José António Pereira da Silva, médico reumatologista e professor catedrático de reumatologia da FMUC. A partir dos dados recolhidos nas entrevistas realizadas para o estudo EpiReumaPt, selecionaram-se as pessoas que mostravam sintomas sugestivos de doenças reumáticas para, numa segunda entrevista, se recolherem mais dados. A partir daí, “determinou-se o valor da vitamina D presente nos selecionados”, esclarece o professor. Com uma grande amostragem que afeta todo o território de Portugal, de pessoas maiores de 18 anos e de ambos os sexos, o estudo foi ainda corrigido estatisticamente para garantir uma boa representatividade do total nacional. Percebeu-se então que os Açores são a área geográfica onde os níveis de carência desta vitamina são mais acentuados. Os principais grupos de risco são as mulheres e os ido-

ENDOCRINE SOCIETY

sos. A obesidade, a inatividade física e o tabagismo também estão associados a esta insuficiência. A pesquisa concluiu que a principal causa desta situação nos portugueses é o facto de “uma reduzida da exposição solar”, segundo José António Pereira da Silva. De acordo com o médico, “a evolução da cultura e da civilização contribuiu para que se deixasse de viver como a natureza preparou o ser humano”. As consequências da carência dividem-se em duas dimensões. Por um lado, reflete-se na estrutura óssea, o que causa “raquitismo nas crianças e osteomalacia nos adultos”, refere o professor. Por outro

prisma, o mesmo sugere que “a carência de vitamina D pode contribuir para agravar uma variedade de doenças como a diabetes, a epilepsia, as infeções respiratórias e o Parkinson”. No entanto, admite que esta relação não está provada. A deficiência de vitamina D tem sido também associada a dor generalizada, cansaço muscular e até a um aumento da mortalidade. Para minimizar os efeitos da falta de vitamina D são recomendadas medidas em duas grandes ordens. A nível individual, aconselha-se “uma maior exposição solar ou algumas particularidades muito específicas na alimentação, como peixes gordos e suplementos alimentares”, explica o professor. A nível da saúde pública, deve proceder-se à recomendação de suplementos de vitamina D noutros grupos etários para além das crianças com menos de um ano. Salienta também “a importância de seguir o exemplo dos países nórdicos”, onde há reforço da vitamina na alimentação: leite, pão, manteiga e margarina. É importante referir que, a recente atenção sobre a vitamina D, em Portugal, existe há muitos anos noutros países mais desenvolvidos. De acordo com José António Pereira da Silva, “só agora se tem recuperado de um atraso muito prolongado na utilização de vitamina D e na correção dessa carência na generalidade da população”. De acordo com o professor, “a investigação, A Carência de Vitamina D em Portugal, revela-se decisiva na quantidade e qualidade da informação disponível sobre este problema no país”. Desta forma, contribui para “a consolidação de uma base de conhecimento alargada e sólida” que alerta para a definição de políticas de saúde adaptadas à realidade nacional, conclui. MARTA EMAUZ SILVA


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EXECUTIVO APROVA GRANDES OPÇÕES DE PLANO DE COIMBRA PARA 2019 Orçamento ainda vai ser validado pela Assembleia Municipal de Coimbra. Forças políticas divergem sobre principais temas do interesse da cidade - POR NINO CIRENZA, GABRIELLA KAGUEYAMA E PEDRO SILVA NINO CIRENZA

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executivo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), liderado por Manuel Machado do Partido Socialista (PS), aprovou, no final do mês de outubro, as Grandes Opções do Plano e Orçamento (GOP) para Coimbra em 2019. A meta foi validada numa reunião extraordinária, algo que só foi possível devido a um aumento, pró­ ximo de dois milhões de euros, correspondente à parte destinada às juntas de freguesia. Tal facto levou à abstenção do vereador da Coligação Democrática Unitária (CDU), Francisco Queirós, e causou um empate a cinco que foi definido com o voto do presidente da CMC. As GOP e o orçamento vão ser ratificados pela Assembleia Municipal de Coimbra (AMC) em breve. Sobraram críticas da oposição, a maioria em relação à quantia referente às freguesias, que consideram ser baixa. Nuno Freitas, deputado e representante do Partido Social Democrata (PSD) na AMC salientou a vontade de “alertar a cidade para uma estratégia que poderia ser mais inclusiva”. Ferreira da Silva, porta voz do PS na AMC, analisa a conjetura de forma positiva e enaltece a necessidade de se observar as GOP como parte de um “programa autárquico desenhado para quatro anos”. Verbas para as uniões de freguesia permitem aprovação das GOP A quantia destinada às Juntas de Freguesia é próxima de quatro milhões e trezentos mil euros (4 por cento do todo) e foi um ponto decisivo para a aprovação das GOP por parte do executivo. Graça Simões, do Cidadãos Por Coimbra (CPC), discorre acerca do valor “muito abaixo dos 10 por cento que a AMC aprovou.

Alega ainda uma incoerência por parte da CDU: “a própria CDU que propôs a recomendação na AMC”, para depois o seu vereador validar “um aumento inferior, ao abster-se na votação”, acrescenta. O documento inicial previa um valor semelhante ao ano passado para as juntas e uniões. Filomena Girão, do Somos Coimbra (SC), questionou a revisão ao relatar que “com a probabilidade de chumbo no exe­ cutivo, a reunião da CMC foi interrompida e adiada”. Interrogou-se sobre a origem dessa verba adicional, concedida “sem explicações no dia seguinte”. O deputado Manuel Pires da Rocha, da CDU, esclarece que a abstenção do seu partido se deve ao compromisso “com diversas questões das freguesias”.

carece de atenção das verbas do orçamento.

Em 2019 o destaque vai para o Planeamento Urbano A reabilitação dos edifícios da cidade e do Centro Histórico de Coimbra é uma das pautas mais discutidas entre as forças políticas da CMC. Ocupa a maior disposição nas GOP para 2019, com valor próximo a 25 milhões de euros. Lúcia Santos, do Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP), afirma que se trata de uma crítica comum a todos e acrescenta que “as casas estão degradadas. Nota-se uma falta de preocupação com a limpeza urbana”. Nuno Freitas, deputado do PSD, enquadra este tópico na ausência de projetos estruturantes para as GOP, que caracterizam uma “cidade parada no tempo”. Esses planos percorrem políticas ativas capazes de “alterar a fisionomia da cidade e dar um futuro”, como soluções para as questões das pessoas sem abrigo e sítios de droga no concelho, conclui. Graça Simões refere o problema das “árvores abatidas na cidade, sem vislumbre de plano para colmatar o problema”, como algo que

Transportes: mesma verba, mesmas preocupações A parte das GOP atribuída aos transportes é a mesma do ano anterior, no valor de 22 milhões de euros. O líder da bancada do PS, Ferreira da Silva, comentou a manutenção deste valor que se mantém “desde que o partido está no poder”. Também falou acerca das propostas da Via Central e do ‘metrobus’ que, a seu ver, podem “dar um empurrão aos transportes”. Para a oposição, a questão da mobilidade é outra falha neste orçamento. Nuno Freitas reiterou a necessidade de valorizar o transporte coletivo “sete dias por semana e 365 dias por ano”. Filomena Girão destaca a rede dos Serviços Muni­ cipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, a qual não chega a todas as partes do concelho. Para Ferreira da Silva, “não se pode levar um autocarro para ir buscar apenas um passageiro que vive a cinco ou dez quilómetros”. No total, Coimbra aprovou cem milhões e 800 mil euros para as GOP e Orçamento de 2019.

Investidores precisam-se na cidade A ausência de propostas para captar investimento é crítica unânime da oposição na AMC. Desde a “falta de uma política de atração de investimento”, apontada pela deputada do CDS-PP, Lúcia Santos, à “não criação de estruturas económicas” denunciada por Manuel Pires da Rocha, membro da CDU Coimbra. Já Ferreira da Silva, deputado do PS, , afirma que não há problema no investimento ao referir que, no “Anuário Financeiro do Município Português, Coimbra revelou uma grande atração dos investidores pela cidade e pelo concelho.”


20 DE NOVEMBRO DE 2018 CIDADE - 21 -

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA AINDA NÃO CHEGOU AO ALOJAMENTO ESTUDANTIL EM COIMBRA Estudantes deslocados encontram diferentes possibilidades de habitação na cidade. Pelo que foi ­possível apurar, o arrendamento por privados varia entre 180 e 250 euros - POR RAQUEL BEM E CAROLINA CARDOSO -

T

odos os anos, chegam a Coimbra novos estudantes provenientes de todos os cantos do país. A principal preocupação quando saem as listas de colocados no Ensino Superior é procurar alojamento na cidade. Entre as diversas opções, encontram as residências dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), as repúblicas de estudantes e os alojamentos arrendados por privados. Se em Lisboa ou no Porto o arrendamento sentiu, nos últimos anos, uma forte inflação, em Coimbra, o Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra foi conversar com a comunidade estudantil, a fim de aferir as condições e os valores dos alojamentos arrendados para estudantes. Os anúncios colados nos postes, um pouco por toda a cidade, chamam a atenção da maior parte dos recém-chegados. “Arrenda-se x quartos a raparigas/rapazes, com acesso a cozinha e ‘WC’”, seguido do número de telemóvel do senhorio, é um exemplo do que se pode ler. Ana Petinga e Miguel Carepa viveram e estudaram em Coimbra há sete anos e recordam-se de ter encontrado a primeira casa assim. Nos dias de hoje, além de espalharem papéis pela cidade, os senhorios recorrem também às redes sociais e a plataformas de venda online, onde podem complementar o anúncio com fotografias e detalhes da casa. Contudo, este tipo de anúncios ganhou, nos últimos anos, um novo concorrente: as imobiliárias. Através delas, os estudantes têm a garantia de que estão a fazer um negócio seguro e legal. AAC atribui certificados de habita­b ilidade No âmbito da procura de habitação, outra alternativa, menos conhecida, encontra-se no piso de entrada da sede da Associação Académica de Coimbra (AAC). O balcão do Ponto Já, um serviço do Instituto Português do Desporto e da Juventude, disponibiliza uma lista de quartos com certificado de habitabilidade, cujos preços variam entre os 180 e os 220 euros por mês. Todos os quartos da lista são vistoriados e classificados com “Excelente”, “Muito Bom” e “Razoável”. No entanto, aqueles que não conseguem atingir os critérios mínimos são, desde logo, chumbados e não constam da lista. Quando os alunos se dirigem ao balcão, Alda Teixeira, funcionária do Ponto Já, antes de fornecer a lista aos estudantes, começa sempre por aconse­ lhar as melhores zonas da cidade. Apesar do livro não conter fotografias, cada opção apresenta uma lista de características, apontadas ao pormenor pelo pelouro da Ação Social da AAC, responsável por vistoriar as casas. A presidente do pelouro, Bárbara Borges, conta que “o certificado de habitabilidade existe há cerca de 20 anos” e que são realizadas ava­ liações quase todos os dias, uma vez que eles têm período de vigência de um ano. A presidente do pelouro de Ação Social da AAC nunca chumbou nenhuma casa. No entanto, afirma que já aconselhou vários senhorios a fazer obras “que

legitimem o valor da renda”. Nos últimos certificados que atribuiu, Bárbara Borges não sentiu ter havido inflação, mas “muitos senhorios perguntaram se deveriam subir o preço”. Ou seja, os proprietários das casas, à semelhança do que se passa noutras cidades, começam a querer subir as rendas aos inquilinos. Bárbara Borges desaconselha-os por considerar que “não faz sentido, se as condições forem as mesmas”. Na visita às casas, os vistoriadores da AAC levam uma ‘checklist’ em que apontam informações gerais da casa, desde os acessos, tanto à habitação (escadas ou elevadores) quanto à rua; mas também às condições dos quartos e das áreas comuns. “Se alguém tiver um esquentador dentro da casa-de-banho é chumbo automático”, alerta Bárbara Borges. Outros aspetos que

MARGARIDA MANETA E MICAELA SANTOS

têm peso na avaliação das casas são a localização e a inclusão das despesas mensais no valor da renda. Imobiliárias fazem a mediação entre os estudantes e os senhorios Outra forma de encontrar casa é através de empresas de mediação imobiliária. Foi assim que João Branco arranjou um quarto em Coimbra. As funcionárias das empresas explicam que os estudantes procuram os seus serviços porque permitem uma pesquisa ajustada às suas preferências. Contudo, os alunos não exigem muito. Para João Branco, estudante do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, os principais fatores de decisão foram a localização e o preço. Os alunos também recorrem às imobiliárias com o intuito de arrendar uma casa inteira com amigos. Neste caso, a renda por pessoa acaba por ser menor, em comparação com o arrendamento de apenas um quarto. Porém, uma vez que os preços diferem consoante o número de quartos, não há valores exatos representativos.

Por último, as imobiliárias são uma garantia de que o arrendamento é legal. Ou seja, os estudantes têm a certeza de que os senhorios fazem um contrato com os inquilinos e passam recibo. Residências e repúblicas de estudantes como alternativas de alojamento O mercado de alojamento privado concorre ainda com as residências de estudantes dos SASUC e as repúblicas. Ao todo, são 1255 as camas de que os SASUC dispõem nas 14 residências aos estudantes nacionais deslocados. Neste caso, a fasquia de preços varia entre 75 e 138 euros para bolseiros, e 79 e 182 euros para não-bolseiros. Contudo, além das rendas, também as condições variam. A falta de privacidade é apontada como a principal razão para os estudantes preferirem arrendar a privados. Bárbara Borges é também residente numa unidade dos SASUC e considera que o alojamento privado “dá mais condições às pessoas”, pois no seu piso de residência, por exemplo, vivem 18 pessoas. As residências dos SASUC asse­ melham-se, neste aspeto, às repúblicas de estudantes, um tipo de alojamento característico de Coimbra. Rita Ferreira, estudante da Faculdade de Letras da UC, vive na República dos Galifões, onde paga 185 euros por mês com tudo incluído. A maioria das pessoas escolhe viver numa república “porque conhece alguém que vive lá”, explica. No entanto, as rendas diferem entre repúblicas, uma vez que “casas com pouca gente e com empréstimo bancário podem chegar aos 300 euros mensais”, esclarece Cláudio Valério, estudante da Faculdade de Economia da UC e repúblico. Por exemplo, enquanto, neste momento, vivem dez pessoas na república, no ano passado, moravam apenas três. Renda máxima para estudantes no limite dos 250 euros Embora seja impossível saber quanto cobram todos os senhorios, seja porque não há uma base de dados completa, ou porque muitos não o fazem de forma legal, é possível retirar algumas conclusões. Alda Teixeira, que trabalha na AAC há 36 anos, considera que, “nos últimos três anos, as rendas aumentaram, em média, 20 euros”. Ainda assim, em Coimbra, em nenhuma das tipologias de alojamento os estudantes pagam mais do que 250 euros de renda. Isto significa que, em comparação com outras cidades, Coimbra ainda não sentiu as consequências da especulação imobiliária. Ao mesmo tempo, “há um acréscimo significativo de registos de alojamento local na cidade”, declara o vereador da Câmara Municipal de Coimbra, Francisco Queirós, que relaciona este aumento com a entrada em vigor do Novo Regime de Arrendamento Urbano, em 2012.


20 DE NOVEMBRO DE 2018 CIDADE - 22 -

CEM ANOS APÓS O FIM DA I GRANDE GUERRA, A CIDADE LEMBRA OS MORTOS EM COMBATE Liga dos Combatentes celebra o centenário do Armistício. Militares do Regimento de Infantaria nº 23 retratados através de fotografias publicadas em livro - POR ANDRÉ CRUJO E JÚLIA LOPES ANDRÉ CRUJO

H

á um século foi assinado o Armistício da I Guerra Mundial em 11 de novembro. O Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes comemorou a data com eventos culturais que resgataram histórias e sentimentos do acontecimento bélico. Os dias contaram com palestras e uma caminhada pela paz, além da apresentação do livro “A Malta do 23”, em homenagem ao batalhão que saiu de Coimbra. Portugal começou a sua participação na guerra como não-beligerante. Isto significa que “apoia um dos lados, mas não entra diretamente no conflito”, explica João Avelãs Nunes, professor de da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Aliado da Inglaterra, Portugal procurou apoiar o seu esforço na frente da batalha. O apoio tornou-se direto quando, após o Reino Unido exigiu a Portugal a remoção dos barcos alemães que se encontravam nos seus portos, o que levou à declaração de guerra por parte da Alemanha. Os perigos enfrentados nas trincheiras da frente ocidental iam além dos associados ao combate. Doenças assolavam as tropas e cada ataque declarava uma sentença de morte à vaga de soldados que tentava alcançar a próxima trincheira. Um grupo de combatentes saídos de Coimbra deu azo a algumas narrativas. Perten­ciam ao Regimento de Infantaria nº 23, um grupo que mantinha no seu seio diversos nomes que, mais tarde, se revelaram importantes na política portuguesa, como informa o presidente do Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes de Coimbra, João Paulino. Apesar de o batalhão acolher vários licenciados, quem registou a sua passagem na guerra foi Abraão Coelho, um projecionista no cineteatro Avenida, em Coimbra. Designado ao serviço postal pelo Governo, Abraão escrevia diariamente à sua esposa. Esta ca-

o fotógrafo captou o comandante do batalhão na sua cama, uma representação pouco habitual das figuras de autoridade da época. Foi pelas 11 horas do mesmo dia e mês que as armas se silenciaram. O Armistício foi assinado pelas cinco da tarde. O tempo até ao cessar-fogo acordado foi ainda responsável pela perda de 2800 vidas. Cem anos depois, o Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes celebra o fim da guerra. “É necessário conhecer o passado para não cometer os mesmos erros”, lembra João Paulino. Sublinha que “só se pode ambicionar a paz se houver conhecimento das guerras que existiram”.

pacidade destacava-o dos seus companheiros, visto que a maior parte dos soldados que estava a cumprir o serviço militar obrigatório era analfabeta. Durante o serviço fazia-se acompanhar por uma câmara que usava para registar momentos intimistas e de confraternização. Algumas destas fotografias eram enviadas pelos militares a familiares como forma de celebração natalícia. João Paulino não acredita “que as fotografias circulassem, porque podiam dar problemas”. De facto,

“A Malta do 23” na I Guerra Mundial A intervenção portuguesa foi de pequena escala, pelo tamanho inferior do exército enviado, quando comparado às grandes potências. No entanto, o esforço visava completar objetivos para beneficiar o país. João Avelãs Nunes explica que apesar das vidas perdidas, Portugal atingiu o patamar planeado. A manutenção das colónias e da sua independência foram as prioridades. Terminada a batalha, os soldados celebravam sem discriminar os antigos inimigos. Pela mesma altura, apenas as classes mais altas da sociedade festejavam a vitória. A proeminência do analfabetismo no país dificultava o fluxo de informações. Assim, o conhecimento acerca do conflito era limitado para grande parte da população portuguesa. Imortalizadas no livro “A Malta do 23”, as fotografias de Abraão Coelho permitiram conhecer os membros do batalhão. “Aquilo que se descobre com as fotografias é relevante para a história”, assegura João Paulino. O caso de Jaime Cortesão, militante no Regimento de Infantaria nº 23, prova-o. Após a guerra foi um dos afrontantes ao regime de ditadura militar da época. O livro retrata os soldados em diversos momentos antes, durante e após o conflito. “Prejuízos para a humanidade a todos os níveis” é a descrição da guerra nas palavras do presidente do Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes. ANDRÉ CRUJO


20 DE NOVEMBRO DE 2018 ESTATUTO EDITORIAL - 23 -

ESTATUTO EDITORIAL

DO JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA A CABRA E DO PORTAL INFORMATIVO ACABRA.PT

D

e acordo c om o Ar t igo 17º, a l íne a 3 , d a L e i de Imprens a, qu a l quer publi c a ç ão de ve d ivu l gar, anu a l mente, o s eu est a­ tuto e ditor i a l.

1

ACABRA e ACABRA.PT são dois órgãos de comunicação social académicos cujo objetivo é constituírem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato e estilo diferente que cada um possui – enquanto Jornal Universitário de Coimbra.

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ACABRA e ACABRA.PT têm como público-alvo a Academia de Coimbra e é sob este princípio que se devem guiar as decisões editoriais.

3

ACABRA e ACABRA.PT orientam o seu conteúdo por critérios de rigor, criati­

vidade e independência política, económica, ideológica ou de qualquer outra espécie.

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ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo que se quer universitário no sentido amplo do termo – desprovido de preconceitos, criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente.

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ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo de qualidade, que foge ao sensacionalismo e reconhece como limite a fronteira da vida privada.

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ACABRA e ACABRA.PT são na sua essência constituídos por um conteúdo informativo, mas possuem espaço e abertura para conteúdos não informativos, que se pautem por critérios de qualidade e criatividade.

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ACABRA e ACABRA.PT integram-se na Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra, perante cuja Direção são responsáveis; contudo, as decisões editoriais d’ACABRA e d’ACABRA.PT não estão subordinadas aos interesses ou a qualquer posição da Secção de Jornalismo, nem aquele facto interfere com a relação sempre honesta e transparente que ACABRA e ACABRA.PT se obrigam a ter perante os seus leitores.

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ACABRA é um jornal periódico, que acompanha os tempos de atividade letiva.

ACABRA.PT é um site informativo, de atualização diária, cuja atividade acompanha os períodos de atividade letiva.

Estatuto Editorial disponível em acabra.pt/estatuto-editorial

PRINCÍPIOS E NORMAS DE CONDUTA A isenção, imparcialidade e integridade que devem marcar o trabalho no Jornal Universitário de Coimbra implicam por parte dos seus jornalistas o conhecimento e aceitação de regras de conduta. Assim, o jornalista deve: 1. Recusar cargos e funções incompatíveis com a sua atividade de jornalista. Neste grupo incluem-se ligações à Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, à Queima das Fitas, ao poder autárquico, bem como atividade em gabinetes de imprensa, na área da publicidade e das relações públicas. Este grupo, fica impedido, à partida, de escrever na editoria de Ensino Superior dado o conflito de interesses e parcialidade. Quanto ao resto das editorias a restrição anula-se. Deste grupo estão excluídos, por respeito para com o direito do estudante de Coimbra de participar na gestão da Universidade de Coimbra, os cargos em órgãos de gestão das faculdades e da universidade. Cabe à direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade. 2. Abdicar do uso de informações obtidas sob a identificação de “jornalista do Jornal Universitário de Coimbra” (ou similares) em trabalhos que não sejam realizados no âmbito do Jornal Universitário de Coimbra. Além disso, o jornalista compromete-se ao sigilo das informações obtidas desta forma. Exceções a esta norma poderão ser auto­ rizadas pela Direção do Jornal Universitário de Coimbra. 3. Recorrer apenas a meios legais para a obtenção da in-

formação, sendo norma a identificação como jornalista do Jornal Universitário de Coimbra. De forma alguma podem ser usadas informações obtidas através de conversas informais ou outras situações em que o jornalista não se identifica como tal e como estando em exercício de atividade. 4. Abdicar de se envolver em atividades ou tomadas de posição públicas que comprometam a imagem de isenção e independência do Jornal Universitário de Coimbra. Contudo, o Jornal Universitário de Coimbra reconhece o direito inalienável do jornalista universitário a assumir-se como cidadão. Assim, nunca um jornalista do Jornal Universitário de Coimbra será impedido de se manifestar em Reunião Geral de Alunos ou Assembleia Magna, desde que não esteja nessa altura no exercício da sua atividade jornalística, em cujo caso deverá prescindir do seu direito de expressão e voto. De igual forma, nunca será impedido de participar ativamente em qualquer atividade pública. Cabe à direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade. 5. Ter consciência do valor da informação e das suas eventuais consequências, particularmente no meio académico de Coimbra, no qual o Jornal Universitário é produzido e para o qual produz. Neste contexto parti­ cularmente sensível, o jornalista deve ter

especial atenção à proveniência da informação e à eventual parcialidade ou interesses da fonte (não descurando o imprescindível processo de cruzamento de fontes), bem como garantir uma igualdade de representação em caso de informações contraditórias ou interesses antagónicos, evitando que o Jornal Universitário de Coimbra se torne meio de comunicação de qualquer instituição, grupo ou pessoa. Num meio em que o desenrolar de acontecimentos pode afetar, direta ou indiretamente, o Jornal Universitário de Coimbra, o jornalista tem também de saber manter o distanciamento necessário para a produção de uma informação rigorosa. 6. Garantir a originalidade do seu trabalho. O plágio é proibido. Nestes casos, a Direção do Jornal Universitário de Coimbra deverá agir disciplinarmente e o jornal deverá retratar-se publicamente. 7. Recusar qualquer tipo de gratificação externa pela realização de um trabalho jornalístico. Estão excluídos deste grupo livros, CD, bilhetes para cinema, espetáculos ou outros eventos, bem como qualquer outro material que venha a ser alvo de tratamento crítico ou jornalístico; constituem também exceção convites de entidades para eventos que tenham um inegável interesse jornalístico (por exemplo, convites da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra para a cobertura do fórum AAC). Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra resolver qualquer questão ambígua.


20 DE NOVEMBRO DE 2018

SOLTAS - 24 -

SDDH/AAC lança projeto de Solidariedade contínua - POR SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

MICAELA SANTOS - SECÇÃO DE JORNALISMO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

A

Secção de Defesa dos Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra (SDDH/ AAC) está a mobilizar as pessoas para participarem em campanhas de doações de agasalhos, roupas, sapatos, cobertores, brinquedos, livros e produtos de higiene pessoal para a população carente e que podem ser feitas ao longo do ano. A iniciativa é desenvolvida pela SDDH/AAC e busca fazer com que a solidariedade ultrapasse os muros da Associação Académica de Coimbra. Um dos pilares da secção é a ação social e procura ficar cada vez mais próximo da população e aju-

dar quem precisa. Uma delas é a “Campanha do Agasalho”, com doações de agasalhos, cobertores, peças de roupas e sapatos. Quem tiver roupa usada em boas condições ou quem vier e puder comprar uma peça e doar em pontos de recolha, no momento pede um agasalho, que poderão ser entregues na receção da AAC! Outra campanha que está a ser lançada é a “Nossas Crianças” com a doações de prendas no período do Natal para crianças carentes. Alem disso, a SDDH/AAC e a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra vão rea-

lizar mais uma edição do projeto “The Street Store”, que vai decorrer em fevereiro. Este projeto disponibiliza de forma gratuita bens alimentares, vestuário, calçado, refeições, rastreios de saúde e cuidados de higiene pessoal à população carenciada da cidade de Coimbra, promovendo sempre o convívio com os estudantes da cidade através de diversos jogos e atividades. Sem data para terminar, os voluntários da SDDH/AAC recolhem as doações nos pontos de recolha na associação e os materiais são encaminhados para instituições parceiras.


20 DE NOVEMBRO DE 2018 SOLTAS - 25 -

CANTIGAS DE MÉ-MÉ

PLÁSTICOS DE UTILIZAÇÃO ÚNICA DE SAÍDA DA UNIÃO EUROPEIA

- POR CABRA TROVADORA -

- POR BEATRIZ MERGULHÃO - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA-

Indo eu, indo eu A caminho das cantinas Uma posta de bacalhau Custa mais que três propinas Foram precisos dois anos Para ver as Amarelas Pena não ser p’ra estudantes Mas para reis e donzelas Ama-re-las, AH! Ama-re-las, UH! Quem pode pagar? Toda a gente menos tu!

N

o passado dia 24 de outubro, o Parlamento Europeu aprovou por unanimidade uma proposta que prevê até 2021 a proibição da venda de produtos de plástico de uso único, como cotonetes, palhinhas, talheres e pratos descartáveis, produtos de plástico oxodegradável (plástico que se decompõe em pedaços mais pequenos) e recipientes para alimentos e bebidas de poliestireno expandido (esferovite). Relativamente a outros produtos de plástico de utilização única, a proposta estipula que “os Estados-membros devem tomar as medidas necessárias para obter uma redução ambiciosa e sustentada de, pelo menos, 25 por cento até 2025”. Igualmente, até 2025, deve ser assegurada a recolha e reciclagem de, no mínimo, 90 por cento das garrafas de plástico descartáveis, bem como a redução em 50 por cento do plástico nos filtros de tabaco, agentes fulcrais na poluição marinha. Pretende-se que este valor aumente para os 80 por cento até 2030. Aprovada com 571 votos a favor, 53 contra e 34 abstenções, a medida ainda terá de ser discutida com o Conselho da União Europeia, por forma a acordarse sobre a legislação final. Citando o Comissário Europeu para o Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, Karmenu Vella, “hoje estamos um passo mais próximos de eliminar os produtos de plástico de utilização única mais pro­ blemáticos na Europa. Isto é um sinal claro de que a Europa está pronta para tomar uma ação coordenada e decisiva no combate à poluição causada pelo plástico e para liderar esforços internacionais para deixar os nossos oceanos livres de plástico”.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

TUNAS VS LATADA: BREVEMENTE NUMA QUEIMA PERTO DE SI

J

á dizia a Pitagórica: “a Latada é que é”! Mas já dizia o João Gabriel: “eu nunca disse nada disso”! E as Mondeguinas dizem ainda: “não calamos, não ignoramos! Especialmente, não tocamos! Contudo, comemos e bebemos”. De geral em geral, o recinto encheu, exceto à hora dos grupos académicos. A essa hora não estava ninguém. Só mesmo os seguranças. Nesta Latada, o “T” de Tunas foi substituído pelo de Toy e o “P” de Plateia pelo de Poeira. Estamos bem encaminhados. Na Queima, será que vale a pena fazer o convite? Em casa pelo menos não têm finos à pala. Tenho saudades de um FRA!

TIRIRICA, PIOR DO QUE ESTÁ NÃO FICA

Em tempos, foste Amado. Mas acabou. Chegou uma nova era. Sabemos que não tens favoritas e agradecemos a papinha que deixaste. No entanto, vamos torcer o nariz e, quiçá, a academia. Não prometemos ma­ nifestações nem Magnas como aquela que estás sempre a referir, mas qualquer coisa há-de aparecer. Não fôssemos nós teus herdeiros, sangue do teu sangue! Para os vesgos, diriam que somos os mesmos, mas desengana-te. Somos todos muito originais. Novos problemas hão-de surgir”. Com carinho, os teus sempre Amados Vices


20 DE NOVEMBRO DE 2018 ARTES FEITAS - 26 -

CINEMA Quantos Galileos?

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco

- POR CARLOS ALMEIDA –

E

ncarnar uma figura tão ímpar como a de Freddie Mercury, já toda a gente sabe que não é tarefa fácil. Retratar em filme a longa história dos Queen menos fácil é, ou, pelo menos, foi o que esta produção deu a entender. Rami Malek assume de forma esplêndida o papel de Freddie Mercury. Consegue imitar os seus trejeitos, assumir o seu espírito extravangante, demonstrar a extrema sensibilidade inerente ao ícone. Aliás, quase todo o elenco monstra que sabe o que faz com boas interpretações boas não há muito que apontar a esse nível. No entanto, e sendo uma película biográfica, há alguns aspetos que deixam a desejar e que a tornam morna e quase conformista, a começar pela forma como a narrativa está construída. A linha condutora da história é visivelmente influenciada por uma fórmula esquemática à maneira de Hollywood: sem grandes atrevimentos. Temos o início de uma banda promissora, saltamos para o seu crescimento, ficamos a marinar nas águas do sucesso, quase que afogamos com a sua desintegração, mas afinal descobrimos que ela sabe nadar e no fim respira renascida, qual fénix, no concerto do Live Aid em ‘85. É visível um argumento de Anthony McCarten de fórmula normativa com terreno mais que batido. Durante a rapsódia encontram-se espalhados diversos clichês, que acabam por diminuir a qualidade de uma rodagem em potência, mas que não atinge o seu verdadeiro potencial. Sendo de género biográfico, há uma dificuldade acrescida em compilar em 2h13 a história de um grupo tão icónico e com tantas vicissitudes. As pontes que ligam os momentos nem sempre são os mais corretas, o que introduz no filme elementos de

Podia ser melhor

ficção meramente ilustrativos e de apelo à emoção, mas sem ligação real com as verdadeiras peripécias. A audiência acaba por não ser tão confrontada com a real cronologia dos factos, mas sim com um espaço temporal construído para produzir o seu clímax no Live Aid. De destacar a fotografia, a edição e a montagem que são fantásticas, tornam prazeroso observar o filme e contrastam, em certa medida, com a falta de coragem do argumento. Estas componentes acabam por enaltecer, essencialmente, a figura de Freddie Mercury por dar um ‘boost’ à interpretação de Rami Malek. Há, no entanto, uma nódoa aqui e é no uso pouco trabalhado de ‘CGI’ na plateia da cena do concerto final que não engana a sensação de estar a ver o protagonista juntamente com uma multidão que só não saiu do Senhor dos Anéis porque parece bastante humana. Ainda assim, esta é merecedora de um parecer positivo por invocar as emoções que se querem e entregá-las ao público sem grandes falhas. Quanto à produção musical estiveram envolvidos, nada mais, nada menos que Roger Taylor e Brian May, respetivos baterista e guitarrista dos Queen, o que dá um nível de credibilidade mais estável. Não há muito que dizer sobre a banda sonora, é quase impossível não se conhecer um grupo tão icónico. Há, ainda assim, um facto curioso aqui que é a colagem da voz de Rami Malek à de Freddie Mercury, ou seja, o ator faz e não faz ‘playback’. De resto, fica uma sensação agridoce sobre o filme: atinge algumas expectativas, principalmente para os fãs da banda que agora têm mais um motivo para a lembrar, mas será que alguém se lembrará do filme em si?

Razoável A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Bohemian Rhapsody De Bryan Singer Com Rami Malek, Ben Hardy, Gwilym Lee 2018

A Cabra aconselha


20 DE NOVEMBRO DE 2018 ARTES FEITAS - 27 -

MÚSICA .Paak is back - POR FILIPE FURTADO -

O

poder usurpador do capitalismo antecipa a época natalícia para lá do tolerável. Pelo meio disto, nem tudo é mau, nem tudo é triste, o aproximar do final do ano é sinónimo de novidades discográficas para todos os géneros. Aqui falaremos de hip-hop, jazz, funk, soul e de um brilhante bate­rista. Dos lados da quente Califórnia chega “Oxnard”, por Anderson .Paak. A referência geográfica à sua cidade natal marca o terceiro capítulo musical em nome próprio, com acrescida atenção mediática. Neste duplo papel de baterista e cantor surge uma musicalidade bem apurada, muito intuitiva, erguida no poderio do seu ‘groove’. Atravessamos o universo do hip-hop sem deixar nada para trás. “The Chase” abre o disco a lembrar tempos áureos de uma cena jazz-funk de ouro, na companhia dos coros de Kadhja Bonet. Já na companhia de Kendrick Lamar escutamos o primero single do disco – Tints. É, sem margem para dúvida, uma das melhores “malhas” do álbum. “6 Summers” apresenta uma sonoridade muito crua, um ‘back to basics’ do hip-hop, para logo dar um salto ao presente, repleto de batida melosa. A

Oxnard De Anderson .Paak Editora Aftermath Género rap, Hip-Hop, R&B 2018

faixa ganha vida neste contraste estético. Do mesmo modo, em “Smile/Petty” sentimos a coerência, a fluidez e a elegância das transições entre os diferentes momentos das faixas. O final de “Brothers Keeper” é uma bonita passagem pelos trilhosp do R&B ou o verdeiro sentido Soul da voz de Anderson .Paak. Na parceria com J. Cole escutamos banda sonora para lembrar amores passados. “Come meet me in the middle, right there you always be/Somewhere in between, you and I will always be”, inaugura o refrão deste “Trippy”, a batida mais onírica do disco. Pelo meio de colaborações com Norelle, Cocoa Sarai, Snoop Dog, Q-Tip ou BJ The Chicago Kid, “Oxnard” representa mais um coerente capítulo das possibilidades estéticas associadas às “malhas” de Anderson .Paak. A sensibilidade de um óptimo ba­ terista com a produção de Dr. Dre fazem deste disco uma boa prenda de natal antecipada.

A Cabra aconselha

LIVRO Um fogo que aquece mas não queima - POR PEDRO DINIS SILVA -

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ão há imagem que valha menos que mil palavras - é o que se ensina em contexto popular. É de supor que uma lente seja capaz de retratar aquilo que a caneta não consegue. Contudo, todo o retrato fotográfico, quando desprovido de contexto, perde o seu valor, seja em parte ou na sua totalidade. “Fogo”, de Gastão Cruz, é a prova disso mesmo. O autor retrata fragmentos de vida em toda a sua frieza, altos e baixos incluídos, num livro em que os poemas apresentados parecem mais fotografias do que pedaços de escrita. Mas, o que à partida parece ser uma colagem de textos soltos sem qualquer contexto, é, na verdade, traçado com atenção e detalhe. O livro começa com uma morte em que alguém é cremado. “A morte mata um pouco a memória dos vivos/é todavia claro e fotográfico o teu rosto/caído não na terra mas no fogo”, escreve o autor na estrofe que inicia “Fogo”, que admite ser mais um texto segmentado em 42 capítulos do que um livro com 42 poemas. De facto, à medida que as páginas se vão virando, nota-se um fio condutor que interliga os temas de uma maneira subtil e notável.

Entre a vida e a morte, o barulho e o silêncio, Gastão Cruz deixa o leitor entrar no barco que comandou há 20 anos, quando tinha uma relação mais próxima com o teatro e a encenação (note-se que o autor, para além de poeta e crítico literário, é também encenador). Peças como “Loot” e “Suddenly Last Summer”, dos dramaturgos Joe Orton e Tennessee Williams, são referenciados pelo poeta ao longo da obra, precisamente por terem feito parte da sua carreira. Contudo, e apesar dos traços que o escritor partilha com o que escreve, o livro não apresenta nenhum protagonista específico. Contextos à parte, “Fogo” continua a saber a algo comum e relacionável com o mais comum dos leitores. Seja pela forma como desenha a vida, pelos temas que apresenta, ou pela simplicidade que o caracteriza. A obra é um “Fogo” que não queima, mas que aquece.

A Cabra aconselha

Fogo De Gastão Cruz Editora Assírio & Alvim 2013


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EDITORIAL - POR LUÍS ALMEIDA E DANIELA PINTO -

A novos começos

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a corrida para a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC), o número de pessoas a querer liderar a casa parece querer aumentar todos os anos. Todas as listas apresentam ideias já antes vistas e discutidas. Tentam ir ao encontro dos interesses dos estudantes e da AAC, mas a questão continua a ser a mesma: se as promessas vão ser cumpridas e se a atual situação económica da casa se vai resolver. Assuntos como a Queima das Fitas (QF), a dívida da AAC, os problemas das secções e as políticas de Ensino Superior, cada vez mais discutidas a nível nacional, saem das sombras em tempo de campanha. Depois de dois mandatos de Alexandre Amado a liderar a Académica, o que guarda o futuro? Irão os estudantes optar por um dos rebentos da atual DG/AAC ou seguir um percurso diferente dos últimos anos? O último presidente viu uma Assembleia Magna por ele nunca esquecida nos Jardins da AAC, novos estatutos aprovados, o Regime Fundacional rejeitado, uma ameaça de boicote da parte da Secção de Fado à QF, os Jogos Europeus Universitários, a autonomia na gestão de espaços, uma nova gerência do bar da AAC e um passo na direção da eterna causa estudantil: a eliminação da propina. Irá o próximo dirigente enfrentar acontecimentos de igual importância no seio da academia? É certo que os estudantes esperam dos sucessores da atual DG/AAC a procura pelas soluções aos problemas da academia. Contudo, nem todos os que dão a cara dão o corpo à causa que alegam defender. Mas em período de campanha vale tudo.

Nem todos os que dão a cara dão o corpo à causa que alegam d ­ efender”

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