Edição 276 - Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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12 DE ABRIL DE 2016 ANO XXV Nº276 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA INÊS DUARTE EDITOR EXECUTIVO VASCO SAMPAIO

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Atraso compromete revisão dos Estatutos da AAC

Plenários por marcar podem dever-se a falta de interesse de membros da ARE. Reuniões informais tentam contrariar esta situação PÁG. 3

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ENSINO

CULTURA

Presidente da República janta na Residência da Alegria. Visita a Coimbra inclui encontro com representantes das secções culturais e desportivas da AAC

Convento de S. Francisco abre portas antes da conclusão das obras. Espetáculos marcados servem de teste para o equipamento e para o espaço cultural

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DESPORTO

Comissão Organizadora dos Jogos Europeus Universitários de 2018 já está constituída. O seu papel consiste em tratar de questões de logística e financiamento

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CIÊNCIA

Em Portugal, meia centena de jovens, por ano, põe fim à própria vida. Silêncio e comportamentos auto lesivos podem ser indícios de pensamentos suicidas


12 DE ABRIL DE 2016 ENSINO SUPERIOR -2-

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA JANTA COM ESTUDANTES Visita a Coimbra inclui também roteiro pela República dos Fantasmas, Sala 17 Abril e passagem pelo edifício da AAC, onde a cultura e o desporto da casa têm destaque - POR RITA MOREIRA -

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ara assinalar a necessidade de mais financiamento para a ação social escolar, vai ser organizado pela Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) um jantar na Residência Universitária da Alegria que conta com a participação do Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, dirigentes associativos e os estudantes residentes. O jantar realiza-se a 17 de abril, dia lembrado pelo começo da crise académica de 1969. O presidente da DG/AAC, José Dias, justifica a escolha desta residência com o facto de lá se encontrarem duas realidades distintas: por um lado, “uma positiva, já que o primeiro andar do espaço foi remodelado há pouco tempo”; por outro, o “segundo piso do edifício não foi renovado”. Assim se pretende demonstrar “o contraste que uma reabilitação pode fazer a uma habitação deste género”. Antes do jantar, o roteiro inclui a passagem pela República dos Fantasmas, que conta com o espólio de

1969 emprestado pelo Museu Académico. Segundo o presidente da DG/AAC, o acervo “contém objetos da altura e contribui para um melhor entendimento dos eventos do dia celebrado”. A visita à república é também um pretexto para falar ao PR sobre a lei do arrendamento, “muito limitativa naquilo que é o património histórico de Coimbra”, acrescenta. A Sala 17 de abril do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC) vai estar no plano de visitas, conta José Dias. Marcelo Rebelo de Sousa vai ouvir “um testemunho do lado estudantil”, por Alberto Martins, sobre os acontecimentos desse mesmo dia em 1969. Também Rui de Alarcão, ex-reitor da UC, vai mostrar uma dupla visão do sucedido e explicar “o lado da comunidade estudantil e a perspetiva governamental”. Um terceiro testemunho, de um fotógrafo da altura, também pode ser ouvido. Uma ideia que partiu da Secção de Fotografia da AAC e que a DG/AAC

aceitou, por trazer “um ponto de vista completamente diferente” do ocorrido.

Apresentar a cultura e o desporto da AAC

O roteiro começa com uma visita ao edifício da AAC. O primeiro andar do espaço vai ser dinamizado com apresentação de projetos pelos dirigentes das secções culturais e ainda pela Comissão Organizadora da Queima das Fitas de 2016. Um andar acima, vai existir ainda uma “breve explicação de trabalhos pela DG/AAC e pelos respetivos núcleos de cada curso”, conta José Dias. O convite para esta atividade foi estendido à Câmara Municipal de Coimbra e à Reitoria da UC. “Do lado de fora, nos jardins, a visita vai terminar com os dirigentes das secções desportivas, que vão demonstrar as suas próprias atividades” e o trabalho que fazem enquanto parte da AAC, explica. A mensagem a passar é a da importância de manter “a história da casa, a sua cultura e desporto”, afirma o presidente da DG/AAC. VASCO SAMPAIO

CIÊNCIAS EMPRESARIAIS É ÁREA COM MAIS DESEMPREGADOS Solução para o problema prevê-se difícil. Instituições de Ensino Superior ponderam articular-se com entidades empregadoras - POR VASCO SAMPAIO -

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diretora da Licenciatura de Gestão de Empresas no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC), Maria da Conceição Marques, mostra-se “preocupada” com os números divulgados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência na semana passada. Segundo a mesma entidade, mais de 16 por cento dos inscritos nos centros de emprego são da área das ciências empresariais, onde se inclui o curso que dirige. “Os cursos de Gestão estão, ultimamente, a ter uma procura elevadíssima. É natural que haja alguma saturação”, explica. “O tecido empresarial não está a ter capacidade para absorver tudo o que sai das faculdades”, justifica a docente coordenadora da licenciatura em Gestão da Faculdade de Economia da Universidade

de Coimbra (FEUC), Susana Jorge. “As ciências empresariais englobam muitas áreas de estudo”, lembra, para além de haver alunos oriundos de outros cursos que querem exercer neste ramo. Resolver o problema vai ser um processo demorado. “O mercado demora sempre algum tempo a adaptar-se”, explica Susana Jorge, e a eficácia das medidas tomadas para combater esta tendência está dependente do número de estudantes formados todos os anos. A solução pode passar por ações das instituições de Ensino Superior como a redução do número de vagas. “Se começarmos a ter informação de que estamos a formar pessoas para o desemprego, então a escola terá de repensar e mudar de estratégia”, conclui Maria da Conceição Marques. Uma nova tática pode ser pensada também em articulação com as entidades empregadoras. “Já há empresas que recebem regularmente alunos da FEUC para estágios”, adianta a docente da mesma

instituição. Uma possibilidade é a assinatura de protocolos com as mesmas, para garantir um primeiro emprego a recém-licenciados – um “pontapé de saída para o mercado de trabalho”, segundo Susana Jorge. Para a diretora da licenciatura do ISCAC, outra opção é a de “mexer nas estruturas curriculares, no sentido de as adequar àquilo de que as empresas precisam”. Para já, nas duas instituições de Coimbra, o problema não aparenta ser grave. A coordenadora não nota, nos alunos da FEUC, desmotivação na procura por estas áreas. As candidaturas continuam a ser mais do que as vagas abertas, e “não há grande redução só porque há desemprego”. “No ISCAC, o sentimento é o de que os cursos têm uma grande percentagem de colocação”, confessa Maria da Conceição Marques. No entanto, “a vida vai mudando e as necessidades do mercado também”, acrescenta. “Não se pode deixar de ouvir os empregadores, para perceber o que está errado”.

MANDATO EM CONTAGEM DECRESCENTE E REVISÃO SEM PROPOSTAS Desinteresse dos membros da ARE pode ter dificultado o trabalho das comissões. Futuro da revisão na incerteza - POR ALEXANDRE GOUVEIA, JOÃO PIMENTEL E ANDRÉ SOBRAL -

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om o mandato da Assembleia de Revisão dos Estatutos da Associação Académica de Coimbra (ARE/AAC) a terminar a 6 de maio, falta menos de um mês para que a revisão dos Estatutos da AAC tenha de estar concluída. Contudo, o atual processo de revisão estatutária encontra-se estagnado. Não há reuniões de plenário desde 28 de setembro e ainda não foram apresentadas quaisquer propostas finais de alteração do documento. “Houve um grande problema”, aponta Rita Andrade, nomeada para a presidência da Mesa do Plenário da ARE no ano passado enquanto presidente da Mesa da Assembleia Magna (MAM) da AAC. A responsável pela marcação de plenários da ARE explica que estes não vão existir enquanto “os trabalhos das comissões não estiverem fechados”. Até agora, a ex-presidente da MAM está “à espera das conclusões” pelas quais as “comissões ficaram responsáveis”. No entanto, relatores de algumas comissões identificam a inexistência de plenários como a principal causa da não conclusão do seu trabalho. Responsável pela comissão de Núcleos, Bernardo Nogueira refere que apenas lhe “falta uma reunião final de balanço, que vai ser feita o mais próximo possível do plenário” ainda por marcar. Em janeiro, com a tomada de posse dos novos órgãos sociais da AAC e sem plenários, pôs-se a possibilidade da transferência do cargo da presidência da Mesa do Plenário da ARE para o atual presidente da MAM, João Carocha. Rita Andrade alega que “essa foi uma questão que suscitou dúvidas” e expressa o desejo de que “o [Conselho] Fiscal da AAC se pronuncie sobre o assunto, para que haja um presidente da Mesa do Plenário legítimo”. O atual presidente da MAM, por sua vez, afirma “não ter sido nomeado para a ARE” e descarta qualquer envolvimento na revisão até ao momento. João Carocha lembra que “os Estatutos da AAC não contemplam nenhum ponto” acerca da

passagem de pastas nestas situações, mas garante estar “coordenado” com Rita Andrade. Uma mudança “repentina” na presidência ainda “ia atrasar mais” o processo, argumenta. O relator da comissão de Eleições, Flávio Tribuna, denuncia como outro problema um “desinteresse de mais de metade dos membros” da ARE. “As pessoas não cumpriam horários e, por duas ocasiões, a reunião de plenário teve de ser reagendada por falta de quórum. Algumas não apareceram a uma única reunião”, acrescenta.

“Reunir (…) era complicado”

No início do mandato anterior, a ARE abriu um espaço para o envio de propostas, por e-mail, pelos sócios da AAC, de alterações aos Estatutos, através do qual Rita Andrade diz não ter “chegado nenhuma sugestão”. Ainda assim, o relator da comissão de Secções e Queima das Fitas, João André Oliveira, refere que algumas das comissões já conseguiram uma discussão sobre as suas áreas de competência, numa informação que o relator da comissão de Órgãos e Estruturas, António Arnaut, confirma. “O trabalho das comissões está feito”, reitera, sendo que “falta só enviar [a quem preside a Mesa do Plenário da ARE] o relatório final”. Na comissão de Eleições, Flávio Tribuna confessa ter sido feita apenas “uma reunião” que não considerou “propriamente conclusiva”. Em todo o caso, “havia o problema de se querer reunir, mas não de forma a sobrecarregar os membros da ARE”. Vários membros participavam em diferentes comissões e “reunir mais do que uma vez por semana era complicado”, justifica.

Soluções para a revisão

Com o aproximar do fim do mandato, apresentam-se três cenários. “Se chegar ao fim, terá de haver eleições”, conclui Rita Andrade. Pelo contrário, uma outra hipótese poderá ser a extensão do mandato da atual ARE, se tal for aprovado em Assembleia Magna. Até 6 de maio, há membros da ARE que estão a elaborar, em “reuniões informais”, uma proposta de revisão. “Queremos apresentar uma sugestão dentro do prazo”, diz o relator da comissão de Eleições. Seria “demasiado mau” que o mandato acabasse sem revisão. Com Vasco Sampaio

ESTATUTOS DA AAC: PERGUNTAS E RESPOSTAS O que são os Estatutos?

Um conjunto de normas e princípios, criado com a fundação da Associação Académica de Coimbra (AAC) em 1887, cujo principal objetivo é sistematizar o funcionamento de todas as estruturas da AAC, dos seus órgãos sociais, núcleos, secções desportivas e culturais e organismos autónomos.

Quem os elabora?

A Assembleia de Revisão dos Estatutos (ARE), que tem um ano de mandato para discutir e transformar os artigos que entende desatualizados. As alterações concretizam-se se aprovadas em plenário por pelo menos dois terços dos membros. Estas seguem depois para Diário da República.

Como é constituída a ARE?

São 31 membros. 21 deles organizam-se em listas votadas pelos estudantes. Outros dois são da Direção-Geral e um do Conselho Fiscal da AAC. Seguem-se dois elementos em representação das secções culturais, dois das secções desportivas e dois dos núcleos, que são eleitos nos respetivos plenários. Por fim, cabe ao presidente ou, em sua substituição, ao vice-presidente da Mesa da Assembleia Magna da AAC, presidir à Mesa do Plenário da ARE.

Como é que se organiza a ARE?

Divide-se em cinco comissões – Generalidades, Sócios, ARE e Disposições transitórias; Núcleos; Eleições; Secções e Queima das Fitas; Órgãos e Estruturas – de cinco membros cada, entre os quais um relator, que preside às reuniões. As comissões têm como objetivo identificar problemas nos Estatutos e informar os membros da ARE acerca dos assuntos a serem votados em plenário.

Quando é feita a revisão?

Com exceção de situações extraordinárias por deliberação da Assembleia Magna, a revisão é elaborada de cinco em cinco anos, tomando como base os estatutos da versão anterior. A última revisão foi aprovada a 3 de fevereiro de 2011.

INÊS DUARTE


12 DE ABRIL DE 2016 CULTURA - 4-

COIMBRA DE OLHOS POSTOS NA TELA ITALIANA “Gerar curiosidade sobre uma sétima arte diferente” é um dos objetivos do festival. Evento realiza-se também em Angola, Moçambique e Brasil

12 DE ABRIL DE 2016 CULTURA -5-

SABER CRITICAR A MÚSICA Atividade jornalística pretende instigar o leitor a ouvir e aprofundar os seus conhecimentos musicais. Curso premeia formandos com dois concertos

O INÍCIO DO FIM DAS OBRAS DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO Novo polo de cultura abre com quatro anos de atraso e 20 milhões de euros acrescidos. Programação serve de teste aos espaços e equipamento BRUNA COELHO

- POR CRISTINA PINILLA CARRASCO E JOÃO RUIVO -

PHILIPPE ALEXANDRE BAPTISTA

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- PHILIPPE ALEXANDRE BAPTISTA E CAROLINA MARQUES -

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lcançou quase os 20 mil espectadores na edição passada e tem como objetivo para este ano ultrapassar esse número. O “8 1/2 Festival do Cinema Italiano” volta a Coimbra de 18 a 20 de abril e traz consigo “não só cinema, mas também sessões de curtas-metragens, leituras e até um conto sobre Pasolini”, esclarece Stefano Savio, diretor do evento. Exibidos no Teatro Académico de Gil Vicente, os filmes são, na sua maioria, contemporâneos e já estreados a nível internacional. Segundo Stefano Stavio, a difusão do cinema italiano não se faz “no sentido educativo, mas sim no de entretenimento, para gerar curiosidade sobre uma sétima arte diferente”. A proposta de uma oferta artística semelhante, na sua forma, ao cinema português, mas distinta nos assuntos que trata, pode ser facilitada pela “proximidade cultural com o povo italiano”, acrescenta. Espera-se “continuar com uma oferta alternativa, que dá espaço ao cinema europeu”, tal como afirma o diretor. Assim, é um trabalho de “colocação de conteúdos dentro de programações, não só na capital, mas também em muitas outras cidades portuguesas”, explica. O “8 1/2 Festival do Cinema Italiano” tem continuidade noutros países lusófonos como Brasil, Angola e Moçambique. Na programação para Coimbra, o diretor do festival destaca em particular o primeiro filme a ser exibido, “Lea”, de Marco Tullio Giordana, realizador que é seguido pelo público português depois de ter adquirido visibilidade com “A Grande Juventude”. O filme trata a história de uma mulher, “Lea Garofalo, que com muita coragem e sacrifício foi contra as leis machistas da máfia italiana”, explica. O diretor do festival estima que “em Portugal há espectadores que estão à procura deste tipo de cinema, para além de cenas aborrecidas como ‘blockbusters’”. Propor o cinema italiano ao público português é, então, uma forma de fazer concorrência à hegemonia do cinema de Hollywood, ou, pelo menos, de começar a fazê-lo. Stefano Savio admite que, a nível mundial, os filmes americanos são mais consumidos, mas “isto não quer dizer que não se possa ter um papel participativo”. A influência do universo cinematográfico de Itália é preponderante na construção deste evento. O próprio título do festival é uma referência a um pilar do cinema neorrealista italiano, “8 ½” de Federico Fellini. O organizador da festa esclarece que houve a necessidade de procurar “um nome que não necessitasse de uma tradução em português e este encaixava neste critério”. Formar o espectador não é, para a organização do festival, algo que se faz com uma única iniciativa, mas sim com uma multiplicidade de espetáculos que dão ao povo português meios de abertura cultural. “Somos nós, como milhares de pequenos eventos, que juntos permitimos uma possibilidade de escolha no percurso cultural das pessoas”, elucida Stefano Savio.

música não é uma ilha, tem uma relação com tudo o que está à volta”, afirma Rui Eduardo Paes, jornalista cultural especializado na área musical, que vai ministrar o Curso de Formação em Jornalismo e Crítica Musical. Destinado a quem procura desenvolver o gosto pela escrita e adquirir “uma intervenção reflexiva de pensamento sobre a música”, o curso acontece nos próximos dias 16 de abril e 21 de maio. Este projeto tem como objetivo principal “criar uma nova geração de jornalistas e críticos musicais”, sublinha o formador. Ao mesmo tempo, tem o propósito de “abordar os estilos em que se processa o jornalismo musical, desenvolver a capacidade de comunicação e análise e contextualizar a música na realidade social, cultural e política”. Partindo dos seus conhecimentos da área, os formandos podem esperar sessões “muito intensas”, onde os 32 anos de experiência profissional do jornalista vão estar patentes, conta Rui Eduardo Paes. “A ideia é que se desenvolva um trabalho bastante intensivo”, com uma vertente muito prática, onde se vão realizar “exercícios, audições e visionamentos de vídeos”. Em algumas ocasiões, “vão existir músicos convidados para tocarem ao vivo”. Deste modo, os formandos, “de uma maneira imediata, vão ter de escrever sobre aquilo que estão a ouvir”, acrescenta o jornalista. A ausência da crítica musical especializada no jornalismo português é acentuada, dado que “são poucos os que a fazem e, regra geral, é realizada por não-jornalistas”, esclarece Rui Eduardo Paes. “Os críticos de música fazem ou fizeram parte da esfera musical, são pessoas que estão nos seus meios académicos e precisam de ferramentas jornalísticas para desenvolverem esse trabalho”. Assim, o foco desta formação passa também pela “aprendizagem e interiorização das regras básicas de escrever um texto jornalístico”, conclui. A ser distribuído em dois módulos, fracionados em duas sessões, no curso vão existir trabalhos para entregar. O segundo módulo vai ter lugar no mês de outubro, ainda sem data definida. A razão do seu espaçamento é motivada, segundo o formador, não só pela “celebração da Queima das Fitas”, mas também pelos “exames e férias”. O Curso de Formação em Jornalismo e Crítica Musical tem o custo de 30 euros e inclui a entrada em dois concertos no Salão Brazil. Este projeto, organizado pelo Serviço Educativo do Jazz ao Centro Clube, conta com o apoio da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior Miguel Torga. ARQUIVO

- POR MARIANA CALADO, BRUNA COELHO E RITA LIMA -

Já foi uma fábrica de lanifícios, com uma monumental chaminé. Já foi uma casa de frades, e já uniu a cidade de Coimbra para o financiamento das obras de um convento franciscano. No dia 8, o edifício abriu portas como um centro cultural, de congressos e de negócios. Com o mote da celebração, o programa cultural do Convento de São Francisco (CSF) é marcado por espetáculos gratuitos que têm como objetivo levar os visitantes a experienciar o local. Mão Morta, Mário Laginha e Benjamim são três dos vários nomes confirmados para atuar neste novo espaço, marcado por linhas retas e salas amplas, com a assinatura do arquiteto Carrilho da Graça. O presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Manuel Machado, espera que o CSF seja um marco na cidade e que consiga atrair artistas nacionais e internacionais. Acrescenta que “o Centro Cultural de Belém e a Casa de Serralves passam a contar com mais um parceiro e, em certos casos, com um concorrente”. Com o Grande Auditório capaz de receber 1125 espectadores e diversas salas secundárias que totalizam os 12 mil metros quadrados, o CSF abre ao público sem estar concluído, de forma a experimentar o espaço. A vereadora da cultura da CMC, Carina Gomes, afirma que “o primeiro espetáculo a ser

apresentado, a partir de contos de Miguel Torga, vai ser um teste ao funcionamento deste equipamento”. As salas terminadas vão servir de palco aos eventos agendados, com o propósito de “começar a dar utilização aos vários espaços à medida que vão ficando prontos”, explica Carina Gomes. A abertura, com data inicial prevista para 2012, dois anos após o inicio das obras de reabilitação do CSF, não vai ser marcada por uma festa de inauguração porque, como acrescenta a vereadora da cultura, o objetivo não é “esperar pelo momento em que todos os locais estejam a funcionar”, mas sim começar de imediato “o ciclo de realizações”. Manuel Machado, em resposta às condicionantes impostas pelos acabamentos, como a inexistência do parque de estacionamento e da bilheteira, sublinha que a abertura “teve início em 1602 quando as obras do edifício começaram e o que está a acontecer agora é uma celebração de um novo destino deste equipamento”. O orçamento inicial previsto para a totalidade das obras tinha o custo de 23 milhões de euros. No entanto, terminou no valor de 40 milhões de euros e com mais quatro anos de obras do que o planeado. A programação, de carácter gratuito, tem como objetivo “oferecer aos cidadãos de Coimbra uma recompensa por terem sido durante tanto tempo incomodados pelos materiais de construção na rua onde se situa o convento”, afirma o presidente da CMC.

Estimada em 278 mil euros, o plano cultural possibilita aos interessados assistir a vários espetáculos inseridos na temática “Convento: de portas abertas” que tem início na próxima quinta-feira, 14, e que termina no domingo, 17. A conferência “Cultura e Neoliberalismo”, da companhia de teatro O Teatrão, o solo de Fernando Mota e o concerto de Josephine Foster são alguns dos eventos que marcam o calendário do próximo fim-de-semana. Contudo, há mais propostas. É o caso da estreia do documentário “FIO – Memórias como Matéria Prima”, no próximo sábado, que conta a história da antiga fábrica e dos seus trabalhadores. Com esta exposição, é promovido o “trabalho conjunto entre os agentes culturais do município com aqueles que vêm de fora”, sublinha Carina Gomes. Desta forma, como explica o assessor cultural da CMC para a programação do CSF, João Aidos, a “ideia é convidar a cidade e o público, a vivenciar o convento, a habitá-lo e a torná-lo seu”. O CSF vai ser palco, no final do ano, da celebração dos 40 anos do poder local democrático com a presença dos autarcas e regentes municipais e autárquicos de todo o país. Ainda num projeto a longo prazo, Manuel Machado desvenda as negociações que estão a ser feitas para a “realização de um congresso sobre a saúde com a participação da Organização das Nações Unidas, da Organização Mundial de Saúde e do Banco Mundial”. No entanto, só vai ter lugar no próximo ano.


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ENTRE POSTES: A CURTA VIDA DE UM PENÁLTI Numa equipa de 11, o guardião treina para ser um igual a todos os outros. Entre razão e intuição, decide o rumo do jogo - POR RITA FLORES, SOFIA LIMA E ANDREIA MARTINS -

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pressão e a vantagem está toda do lado de quem remata. Se o guarda-redes defender, é o herói; se não, é normal”. Ricardo Bem-Haja, guarda-redes da Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra (Académica-SF), caracteriza assim o segundo em que decide para que lado defender. De acordo com as estatísticas apresentadas no livro “Think like a Freak” de Steven D. Levitt e Stephen J. Bubner, apenas dois por cento dos guarda-redes permanecem no centro da baliza aquando do remate. “As pernas tremem, por muita experiência que se tenha”. O coordenador do projeto Escola de Guarda-Redes Briosa, Hélder Pinheiro, acrescenta que “quando o jogo está para penálti, costuma dizer-se que

é uma lotaria”. Na perspetiva de quem defende, “a baliza é muito grande, mas para quem está a marcar esta torna-se muito pequena”, ressalva o coordenador da Escola de Guarda-Redes Briosa. Ricardo Bem-Haja salienta que, na sua posição, “tem sempre de esperar até ao último momento para decidir”. Imagine-se. Um minuto e 58 segundos para soar o apito final, é o que marca o relógio do árbitro. Numa final de uma taça, há um empate entre as duas equipas. O ponta-de-lança é derrubado pelo defesa, dentro da grande área. Em campo, os olhos da equipa recaem no melhor marcador de penalidades. Este dirige-se à zona de penálti e hesita no modo como aborda a bola e para onde rematar. Em simultâneo, o guarda-redes “tem de se mostrar tranquilo, tentar não demonstrar o lado para que se vai atirar”, explica Hélder Pinheiro. Ricardo Bem-Haja acresce ser importante “perceber para que lado é que a pessoa vai rematar, se o corpo indica alguma coisa e em última instância, observar a posição do pé de apoio”, uma vez que é um movimento de decisão muito rápido. Dany Marques, avançado da Académica-SF, diz que “o futebol está mais evoluído e que as estatísticas começam a ter mais importância” nos treinos. Diversos são os fatores que entram em conta na preparação do jogo, desde o “estudo da equipa adversária, ao lado dos penáltis em que o jogador costuma bater”. O coor-

denador da Escola de Guarda-Redes Briosa corrobora que “hoje em dia já se treinam os guarda-redes para serem mais um elemento em campo”. Na baliza quem calça as luvas interroga-se sobre a direção do remate. Ricardo Bem-Haja explica que, na maioria das vezes, quem “chuta com o pé direito tem tendência a fazer remate para o lado esquerdo do guarda-redes e o avançado esquerdino tem tendência a rematar para o lado direito”. Tal como as estatísticas indicam, cerca de 57 por cento dos guarda-redes atiram-se para o seu lado direito (lado esquerdo do ponto de vista do marcador) e 41 por cento para o lado esquerdo. O que questionam os autores do livro é o porquê de quem remata não chutar para o centro mais vezes, visto que, por norma, o guarda-redes se projeta de modo sistemático para um dos lados. O presidente da Académica-SF, Rui Pita, acredita que “há avançados que até rematam para o centro da baliza, mas que é um risco por ser a posição de partida do guarda-redes”. Por sua vez, Dany Marques reforça ser “um contrassenso estar a rematar para o centro, mesmo sabendo que ele vai sair daquele lugar. É um remate arriscado”. O instante da colisão entre a bola e o pé do jogador provoca uma onda contagiante de expectativa entre a bancada e o campo, na esperança de que, como conclui o coordenador da Escola de Guarda-Redes Briosa, “um bom guarda-redes possa dar pontos à equipa, que se podem traduzir em vitórias ou em títulos”.

APRENDIZAGEM E TECNOLOGIA: UMA DISCUSSÃO CONTROVERSA Num mundo cada vez mais virtual, a aquisição de conhecimentos e a interação social encontram não só novas oportunidades de evolução, como também obstáculos ao seu desenvolvimento INÊS DUARTE

ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

- POR CARLOS ALMEIDA E GABRIELA SALGADO -

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o passado mês de março, a Universidade da Austrália Meridional promoveu a realização de um simpósio, com a duração de 10 dias, cujo objetivo era explorar o papel da tecnologia na educação da atualidade. Pode estar a crescente utilização da tecnologia a afetar os estudantes e a sua capacidade de aprender e relacionar? Antes do ‘boom’ da Internet, o acesso à informação era possível através de meios como a televisão e a rádio. Para fazer uma pesquisa aprofundada “tinha de se caminhar

para a biblioteca”, relembra Valentim R. Alferes, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), “podendo hoje obter-se um ficheiro sem sair do sítio”. Ao ter tantos dados disponíveis, os estudantes do Ensino Superior deparam-se com o desafio de filtrar o que é útil. A informação disponível “dá ao aluno mais autonomia, mas também mais responsabilidade”, aponta Lisete Mónico, também docente na FPCEUC. O peso que o mundo tecnológico exerce na vida quotidiana tem, para a docente, con-

sequências a vários níveis. “O impacto social e relacional” é apresentado como o mais relevante, com um peso maior do que “a nível cognitivo”. Ao alcançar a informação através da Internet, “um veículo mais atrativo por estar mais disponível” e permitir flexibilizar horários, os estudantes deixam de fazer uso de certas competências “que só se adquirem com treino”. Lisete Mónico afirma que o conhecimento não é suficiente se não se treinarem as competências sociais e afetivas necessárias à sua aplicação. “Mesmo num laboratório fechado precisamos delas”, acrescenta. Pode estar o papel do professor a ser reduzido? Com o uso crescente da tecnologia no ensino, “as aulas deixaram de ser um espaço pedagógico com objetivos próprios”, refere Valentim R. Alferes. O docente considera que “as tecnologias nas aulas devem ter um papel acessório e o melhor meio audiovisual ainda é o professor”. Ao mesmo tempo, a docente da FPCEUC acredita que “o professor deixou de ser um tutor e passou a ser visto como um assessor”. O número de pessoas presentes em salas de aula e em congressos “tem tido uma redução abrupta”, refere Lisete Mónico. A docente afirma que os participantes dos congressos são “os investigadores que vão apresentar os seus estudos para colegas e pessoas afetas à área”, ao contrário dos primeiros a que assistiu, onde era maior a afluência, o interesse e a capacidade de concentração. “Antes bebia-se o conhecimento como uma coisa absolutamente indispensável”, conclui. Quanto a soluções para superar um mau uso da tecnologia, Valentim R. Alferes considera que tem de haver “uma decisão na aquisição de conhecimento estritamente individual, que passa por ganhar maturidade”. Por seu lado, Lisete Mónico defende que as respostas devem partir dos “professores e dos orgãos de gestão, sendo necessária uma boa programação dos cursos”.

50 JOVENS POR ANO COMETEM SUICÍDIO SILENCIOSO CONSTITUÍDA COMISSÃO ORGANIZADORA DOS EUSA 2018 Objetivo do comité passa por dinamizar o desporto universitário. Entre obras e questões de logística vão ser gastos cerca de quatro milhões de euros - POR FLÁVIA ALVES -

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o dia em que se celebram dois anos sobre o anúncio da candidatura vencedora, 5 de abril, é constituída a Comissão Organizadora para os Jogos Europeus Universitários (JEU, EUSA Games em inglês) de 2018. Esta “vai executar o plano e orçamen-

to do evento e ainda tomar as medidas necessárias para que o evento se realize”, afirma Mário Santos, secretário-geral da Comissão Organizadora. Em relação aos papéis específicos desempenhados por estas instituições, João Carocha, vogal da comissão e ex-vice-presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC) pelo Desporto, esclarece que o papel da AAC “é tudo, porque se não existisse não havia candidatura”. Já de acordo com Mário Santos, a Universidade de Coimbra (UC) “vai ser a unidade de gestão principal, ou seja, aquela que será responsável em primeira linha por assegurar os meios financeiros”. O montante global envolvido neste evento ronda os quatro milhões de euros, mas o valor já gasto “só em obras, neste momento, já realizadas no Estádio Universitário, é superior a um milhão e 200 mil euros”, relata o secretário-geral. Estas estruturas vão ser es-

senciais para a concretização dos JEU, visto que vão ser dos palcos principais para as práticas desportivas. Para ser possível a execução destes jogos, houve uma candidatura conjunta da UC, da Câmara Municipal de Coimbra, da AAC e da Federação Académica de Desporto Universitário. A cooperação entre as quatro entidades vai-se manter em questões de organização e financiamento da iniciativa, com o “objetivo claro de dinamizar o desporto universitário”, esclarece Mário Santos. Ambos os membros realçam os aspetos positivos que este acontecimento vai trazer quer à cidade quer à Academia. João Carocha sublinha que a iniciativa “traz cinco mil atletas, atenção, media, patrocinadores, foco para Coimbra, turismo e investimento”. Já o secretário-geral salienta “o investimento em infraestruturas que vão ser utilizadas por todos”, mesmo após os JEU terminarem.

Numa sociedade onde “o luto não tem lugar”, jovens vulneráveis sofrem repercussões. Em mais de 75 por cento dos casos, existiam sinais de alarme precoces - POR MARIANA BESSA E RITA FONSECA -

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oença mental, famílias disfuncionais, desnorteamento em relação à vida, desemprego, dificuldades económicas ou marginalização. Várias podem ser as razões que levam alguém a ter pensamentos suicidas e, muitas vezes, a pôr término à vida. Segundo Carlos Braz Saraiva, médico psiquiatra e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), “em Portugal, cerca de 50 jovens, entre os 15 e os 24 anos, cometem suicídio, anualmente”. Para o docente da FMUC, na raiz de comportamentos de risco podem também estar “o abuso de substâncias e quadros psicóticos”, situações em que se verifica uma desconexão com o mundo real. Os comportamentos auto lesivos, aos quais “erradamente se chamam tentativas de suicídio, mas que o podem preceder”, jus-

tificam-se pelo facto de “o corpo ser uma forma de manifestar revolta ou desespero”, como explica o docente da FMUC. O psiquiatra refere uma explicação bioquímica subjacente, por exemplo, aos cortes corporais. “Têm um efeito semelhante ao de algumas drogas, no sentido de esbater a angústia e a sensação de desconforto intolerada pelo jovem”, explica. A SOS Estudante é, segundo informação da página oficial, uma “linha telefónica de apoio emocional e prevenção do suicídio”, sediada na Associação Académica de Coimbra. De acordo com o presidente da SOS Estudante, Paulo Rosa, “no ano letivo 2014/2015, cerca de 10% das chamadas atendidas por voluntários da linha abordam o suicídio”. Paulo Rosa considera ainda que são “problemas ao nível dos relacionamentos interpessoais, assim como a solidão”, que levam

os jovens a marcar o número. Personalidades mais frágeis e vulneráveis são, para Carlos Braz Saraiva, as que têm mais dificuldade em “aceitar pequenos acontecimentos menos bons do dia-a-dia como naturais, numa sociedade onde não há espaço para lutos ou frustrações do quotidiano”. A prevenção passa por melhorar a autoestima dos jovens e promover estratégias alternativas de lidar com a frustração. O docente elucida ainda que é também imperativo “rastrear precocemente os casos de psicose e aumentar a capacitação dos médicos de família na perceção dos sinais”. A deteção de comportamentos de risco pode ser crucial, uma vez que, como conclui o psiquiatra, “segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 75 por cento dos suicidas consumados deram sinais de alarme, mesmo que de uma forma excessivamente simbólica ou metafórica”.


12 DE ABRIL DE 2016

12 DE ABRIL DE 2016 SOLTAS -9-

SOLTAS -8-

CÓDIGO DE BARRAS - POR Nº 2015171846 FDUC, Nº 2008004184 FDUC, Nº 2015173535 FDUC, Nº 2015241886 FDUC - SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

CRÓNICAS DO TRODA - POR ORXESTRA PITAGÓRICA ARQUIVO

P

aulatinamente a nossa irreverente Academia desperta da modorra da Páscoa; uma bem merecida pausa para repousar das inúmeras farras que os estudantes desfrutaram após uma esforçada época de exames (seguramente, mais para alguns do que para outros). Assim, começa um frenesim de actividade perceptível em toda a Cidade, que aguarda ansiosamente a chegada da nossa querida Queima – um evento talvez mais importante para muitos estudantes do que o Natal (afinal, há sempre mais milagres nesta festa que em qualquer quadra natalícia). A Queima anda nas bocas de toda a gente: seja nas lojas da Baixa, onde as Novas Fitadas estão num dilema entre escolher o vestido azul -bebé ou azul turquesa; nos cafés, onde os Novos Fitados discutem sobre qual será a miúda mais fácil da Gala; n’A Toga, onde os caloiros acompanhados dos excitadíssimos pais compram a Capa e Batina; no Continente, onde os estudantes vão atestar as suas despensas com o álcool indispensável à festa; na sala da COQF, onde os Comissários determinam quantos leitões vão encomendar para a zona VIP do ‘backstage e até’ no mundo das redes sociais, onde ser vão combinando os inúmeros jantares que se darão na semana da Queima. Se a Queima anda na boca de toda a gente, é porque toda o mundo quer ir para o recinto, principalmente se for à pala! É neste momento que os caciques passam pela DG para buscar o geral, o Xico Ladrão começa a licitação dos bilhetes entre os caloiros e o Paulão e o Troda vão falar com o amigo da namorada do fulano que é

seccionista para os meter na lista dos convites. Não é por uma questão de carência económica, mas sim de ostentação de influência, porque os 50 euros poupados serão derretidos numa só noite no recinto, alimentada a Hendrick’s e Chesterfield’s vermelhos. Seguindo a vetusta Tradição praxística, os Novos Fitados ainda não venderam nenhum brinde (preparem-se para serem bombardeados na Faculdade com ofertas de isqueiros e canetas), não arranjaram nenhum patrocínio (mais bem dito, ainda não pediram aos pais o último “apoio extra” para o carro) e pior do que tudo isso, ainda não fizeram nenhuma flor para o carro!

Só lhes resta agora tirar antecipadamente a Capa e Batina do fundo do armário para irem à praxe mobilizar caloiros para virem a sua casa fazer. Pode parecer-vos injusto, mas os caloiros não se queixam, pois sabem que no Domingo do Cortejo nadarão no vasto oceano de cerveja que os generosos Doutores distribuirão a torto e direito, com a efusividade típica dum bêbado. No dia do Cortejo, todos são bem-vindos à festa e não se nega uma cerveja a ninguém, festejando os estudantes lado a lado com futricas, familiares que os vêm visitar e todos os “manos” da Cova da Moura que vêm atestar o seu stock de cerveja para o ano inteiro. Esta é a verdadeira grandeza de Coimbra!

FOTOGRAFIA POR PAULO ABRANTES - SECÇÃO FOTOGRAFIA DA AAC

“All that had constituted his life, even to his name, was effaced; he was no longer even Jean Valjean; he was number 24,601. What became of his sister? What became of the seven children? Who troubled himself about that? What becomes of the handful of leaves from the young tree which is sawed off at the root?” Victor Hugo (Les Miserables)

N

a Faculdades de Direito ensina-se que é função da pena a ressocialização daquele que precisa ser “corrigido”. Por questões históricas, a prisão de Coimbra está localizado no centro da cidade, num prédio imponente de abóboda cintilante. Todos dias a rotina se repete: “Guardas” prisionais que declamam em altifalantes os códigos de barras dos enjaulados como trabalhador de supermercado que trabalha em stock retirando-os das grades dos cestos para a arrumação nas estantes. Contemos as ilegalidades disto:

• Artigo 6º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, “Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica”. • Artigo 5º (ibid.) “Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. • Artigo 25ª da Constituição da República Portuguesa (CRP), o direito à integridade pessoal, “moral e física das pessoas é inviolável” (artigo 25ª). • O artigo 26º-a) (ibid.) “A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, da capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à proteção legal contra quaisquer formas de discriminação.” • Artigo 72º/1 do Código Civil português: “Toda a pessoa tem direito a usar o seu nome, completo ou abreviado, e a opor-se a que outrem o use ilicitamente para sua identificação ou outros fins”.

Uma vez que esse se trata de “um direito organicamente ligado à defesa da pessoa enquanto tal”, é protegido em absoluto pelo: • Código Penal art.º 143 e seguintes. Joaquim Canotilho e Vital Moreira concordam que a proliferação de comportamentos degradantes suscita questões pertinentes; não obstante, o desenvolvimento jurídico deste termo remete para “tratamentos susceptíveis de causar nas vítimas sentimentos de medo, angústia e inferioridade de forma a humilhá-las e revoltá-las”. Estas regulamentações, de ordem restritiva, encontram-se assentes em razões de interesse público, inerentes à proteção de um indivíduo, titular de direitos fundamentais, e à salvaguarda das “dimensões constitucionais da identidade linguística”. Em Coimbra, a linha que separa a Universidade da prisão, geograficamente são apenas alguns metros, sociologicamente constitui um abismo. Do outro lado da janela há uma equação de seres humanos que nada mais têm que apenas números… 471, 19, 25 (citação em tempo real).

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

PRESIDENTE DA MESA DO PLENÁRIO DA ARE

D

ado como desaparecido desde outubro, é ainda incerto o paradeiro daquele a quem cabe comandar a revisão estatutária. Todos os membros da Assembleia de Revisão dos Estatutos se aperceberam da sua súbita ausência, mas ninguém lidera as buscas para o encontrar. “Não terá ido longe”, dizem uns. “Esconde-se entre nós, bem disfarçado”, opinam outros. Mas a melhor parte é que, enquanto ele não voltar, ninguém tem de aturar as suas manias de marcar plenários. A revisão atrasase, é certo. Mas quem é que quer saber disso?

A INDEPENDÊNCIA DA AAC

E

ra uma vez uma moça linda e esbelta chamada Associação Académica de Coimbra, AAC para os amigos. Chegado o início de junho, ansiosa pelo calor libertador, a AAC resolveu soltar o grito do Ipiranga. Queixou-se que os pais não a ouviam e gritou aos sete ventos que ia espalhar as suas ideias num livro. A coisa não correu bem e depressa regressou ao conforto dos pais. Todavia, orgulhosa, não participa da lista de compras semanais; discute mas não participa. E se não vierem os seus cereais favoritos?


12 DE ABRIL DE 2016 ARTES FEITAS - 10 -

CINEMA

12 DE ABRIL DE 2016 - 11-

E a decisão é...

MÚSICA

O Cosmos de Mocky

- POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

- POR FILIPE FURTADO -

Eye in the Sky De

P

or obra e arte de Dominic Salole chega-nos Key Chance. O nome de nascimento não será tão sonante como o nome artístico. Mocky nasceu nas terras de Saskatchewan, Canadá, todavia, foi pelos lados europeus que foi criando a sua identidade artística, pelas paragens de Londres, Amesterdão ou Berlim. Key Change é o quinto álbum do multi-instrumentista Mocky, numa linha de continuidade com Saskamodie, editado em 2009 com o selo da Crammed Discs. É um disco de faixas curtas que desejamos que se prolonguem ad aeternun. Nesse caso, podemos ouvi-lo de início ao fim vezes sem conta. Logo após a faixa de abertura a que Mocky apelida de “Upbeat Thing”, imergimos em “When Paulie Gets Mad” uma balada que traça bem essa pequena travessia por onde o disco nos levará. Alternamos entre composições temperadas a funk, ou não fosse Mocky um seguro baixista que bebeu ensinamentos a Oscar Peterson, orquestrações dignas de uma qualquer banda sonora, melodias simples e uma voz que, quando surge, adensa essas diferentes texturas. “Living in the Snow” é um exemplo disso. Notável é também a presença de Mi-

Gavin Hood

Com

Helen Mirren, Aaron Paul, Alan Rickman

2015

O

ser humano não prima pela capacidade de tomar decisões inequívocas. E “Eye in the Sky”, o novo filme de Gavin Hood (realizador, entre outros, de “Ender’s Game” e “X-Men Origins: Wolverine”) é exemplar na perceção e acentuar dessa falha. Com um elenco recheado de atores interessantes, como Aaron Paul (“Breaking Bad”) ou Iain Glen (“Game of Thrones”), a película é também um dos últimos trabalhos de Alan Rickman, falecido em janeiro deste ano. Contudo, a estrela maior é mesmo Helen Mirren. São da oscarizada em “The Queen” as cenas de abertura deste ‘thriller’. Acorda em casa, com um telefonema de Alan Rickman. O cenário caseiro contrasta com a seriedade do centro de inteligência, em Londres, onde se vai processar parte da

ação. Daí para os subúrbios de Nairobi, Quénia, e para um centro de operações de ‘drones’, no deserto do Nevada, os saltos cénicos são múltiplos e simultâneos. O objetivo é a captura de alvos que constam da lista dos mais procurados pelos Estados Unidos da América em África. A forma passa pelo uso de minicâmaras instaladas em robôs e pelos já citados ‘drones’, que vieram revolucionar a maneira como se combate em todo o planeta. Contudo, uma missão que era de captura torna-se de eliminação. A evolução da tecnologia tornou quase dispensável o fator humano. As armas foram substituídas, na maioria dos casos, por teclados, ‘joysticks’ e ecrãs de computador. As pessoas que os manejam são escolhidas mas não escolhem, obedecem. Steve

Em

Universidade de Coimbra - Colégio de Jesus, Museu da Ciência

N

ão subestime a exposição “Partículas – do bosão de Higgs à matéria escura” aberta ao público dia 5 de abril e disponível para visitação gratuita até 23 deste mesmo mês. Quem entra seduzido pelos cartazes que estão espalhados pela cidade e movido por curiosidade pela imensidão do espaço sideral, espera algo grandioso, quase megalomaníaco e pode, num primeiro momento, se frustrar. Foi o meu caso. Porém, os pequenos módulos temáticos que abordam as mais recentes descobertas do LIP (Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas) em pareceria com o CERN (acrónimo francês que designa Conselho Europeu para Pesquisas Nucleares) provam que não é preciso ser fisicamente grande para ser grandioso em conteúdo (seria uma provocação sobre as questões que envolvem a matéria e a anti matéria? Se sim, funcionou).

Watts, o piloto interpretado por Aaron Paul, é o expoente desse paradoxo. “Eye in the Sky” é um filme onde a ação perde a guerra para o suspense e o drama. O custo de uma decisão tantas vezes tomada em frações de segundo e que choca com anos de trabalho, crenças pessoais, o mais profundo e recôndito de cada um. Não vive de efeitos especiais, antes de uma relação simples que estabelece com o espectador: a ausência de diálogos é, aqui, a mais poderosa forma de imersão na história.

De

Mocky

Editora

Heavy Sheet

2015

LIVRO EM PALCO

Partículas – do bosão de Higgs à matéria escura 5 a 23 de Abril de 2016 sábados, 16h00 e 21h30

Key Change

Luz na matéria escura - POR FÁBIO LUCINDO -

Embora relativamente pequena em estrutura, o conteúdo de cada um destes módulos é extremamente denso e desafiador, tanto que, mesmo que explique diversos conceitos com linguagem simples, a presença dos monitores se faz mais que necessária para ajudar o visitante. São conceitos um tanto abstratos para nossas mentes cartesianas. A exposição é dividida em duas partes: logo na entrada do Colégio de Jesus, Museu da Ciência, fica a parte que aborda o próprio LIP e seus 30 anos de história, a serem completados em 9 de maio deste ano, e outro setor que aprofunda as questões da teoria do Modelo Padrão da Física com todo o seu repertório sobre forças fundamentais forte, fraca e eletromagnética. Destaque para a Câmara de Faíscas que reproduz o “chuveiro cósmico” que o planeta Terra recebe constantemente. Já no segundo andar do museu, o CERN é o protagonista, com suas pesquisas na área da anti matéria, neutrinos e matéria escura. A grande maioria dos módulos oferece a possibilidade de interação com o

guel Atwood-Ferguson no violino a preencher os espaços bem delineados nos arranjos de Mocky. Na capa do disco vemos Dominic em estúdio rodeado pelos instrumentos e limitado apenas por uma amostra de galáxia, bem ilustrativo dessa paisagem sonora pelo qual Key Change navega, numa ambiência tranquilizante e introspectiva, quase outonal. Depois de passar por “Time Inflation (Message to R2)” a roçar a sonoridade disco, de forma subtil e desacelerada; “Head In The Clouds” deixa-nos cantar o seu refrão em loop. O disco fecha com “Hymne (For Murka)”, um coral que transporta rasgos de folk. Um verdadeiro final feliz neste pequeno conto de “Key Change” por Dominique Mocky Salole.

público. O protagonista desta parte da exposição é o Tunel Interactivo do LHC, (Large Hadron Collider, maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo, localizado na Suíça) onde os visitantes são convidados a dar pontapés para acelerar prótons e gerar uma colisão entre eles no divertido “Proton footbal”. Os resultados dessas colisões, que simulam o funcionamento do LHC original, com certeza farão você procurar novamente um dos monitores para conversar a respeito. Quer uma dica? Procure ir em horários alternativos logo no começo do dia ou bem no meio da tarde, dessa forma é possível ter praticamente uma aula particular. Difícil é definir se a exposição oferece mais respostas ou suscita novas perguntas. A mais famosa delas: “De que é feito o Universo?” ainda não encontrou uma resposta completamente satisfatória. Aceita o desafio?

Relato de um acontecimento negro - POR PAULO SÉRGIO SANTOS-

C

hernobyl pode ser lido como acontecimento negro, “cherny” (negro) e “byl’” (acontecimento/passado). “Vozes de Chernobyl” é o segundo livro publicado em Portugal da Nobel da Literatura de 2015, Svetlana Aleksievitch. A obra, originalmente publicada em 1997, é um relato cru e desapaixonado. Desapaixonado por parte de Aleksievitch, que é uma mera, se se pode ser mera assim, figura a quem cada uma das pessoas que compõem as vozes deste livro confessam a sua história. A sua vida. “Vá, tome nota... Sim... Sim! Tudo se vai apagar da memória, desaparecer. Tenho pena de não ter tomado nota de nada...”. Na página 180, Gennadi, deputado bielorrusso, lamenta o esquecimento que vai cobrindo algo que não deveria desaparecer da recordação coletiva. Svetlana Aleksievitch constrói um livro com entrevistas pessoais onde as perguntas não figuram. Pressentem-se mas não ganham espaço. O palco, esse, é de cada personagem, de cada entrevistado. Formado por palavras que chocam, num discurso pontuado por reticências que marcam pausas emotivas. E talvez esse seja o pecado maior da escritora bielorrussa, o uso indiscriminado desse

sinal de pontuação, que quebra o ritmo à leitura. A 26 de abril, assinalam-se três décadas passadas sobre o maior desastre nuclear da História humana. Das pessoas sobram anedotas. “O robô americano foi enviado para o trabalho, trabalhou cinco minutos e parou. O robô japonês trabalhou nove minutos e parou. O robô russo já trabalha há duas horas. Ouve-se uma ordem pela rádio: “Praça Ivanov, pode descer para fumar um cigarro””. A dor da perda. De um futuro castrado. Da incredulidade perante um sistema político que enviou milhões de soviéticos para uma morte certa, lenta e excruciante. Um sistema que quis que o seu povo acreditasse lutar contra um inimigo externo. A páginas tantas, é Vladímir quem se lastima: “não existem ordens nem resoluções governamentais capazes de alterar essa física. O mundo tem por base a física e não as ideias de Marx”.

Vozes de Chernobyl De

Svetlana Aleksievitch

Editora Elsinore

2016


Mais informação disponível em

cabra.wordpress.com JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL - POR INÊS DUARTE E VASCO SAMPAIO -

A tempo e horas Faz quase um ano que a Assembleia de Revisão dos Estatutos da Associação Académica de Coimbra (ARE/AAC) tomou posse. Começaram as reuniões. Criaram-se comissões. Dividiram-se os estudantes por grupos e temas dos Estatutos. Informar todos os participantes era o objetivo principal. Pela primeira vez, haveria grupos formados com o único propósito de debater os assuntos antes que pudessem ser apresentadas, em plenário, propostas concretas para a revisão do mais importante documento da AAC. E depois? “Meteu-se o Verão” e caiu no esquecimento. Toda a gente sabe que a AAC só funciona durante os dois semestres de aulas. Não houve reuniões desde o início do ano letivo. Mesmo até às férias, houve membros da ARE que não participaram numa única discussão. E os que participaram, quando participaram, não foram suficientes, muitas vezes, para formar quórum e validar a reunião. Para tal, só eram necessários 16 dos 31 membros da ARE. 21 desse todo candidataram-se e foram eleitos pelos estudantes, com o simples objetivo de participar nestas reuniões. E nem sequer existem 16 pessoas que o façam. Ora, se não há reuniões desde meados de setembro, como é possível que os membros da ARE saibam quem é quem e que papel tem na revisão dos Estatutos? Ninguém sabe sequer quem é o/a presidente da Mesa do Plenário. Entretanto, houve eleições para a Direção-Geral, para o Conselho Fiscal e para a Mesa da Assembleia Magna. Muitos dos membros e dirigentes dos órgãos sociais da AAC mudaram. Muitos outros, que dirigiam a casa no

E depois? “Meteu-se o Verão” e caiu no esquecimento. Toda a gente sabe que a AAC só funciona durante os dois semestres de aulas. Não houve reuniões desde o início do ano letivo. Mesmo até às férias, houve membros da ARE que não participaram numa única discussão”

ano passado e que haviam sido eleitos para a ARE, precisam agora de se dedicar aos estudos e de começar a pensar na entrada no mercado de trabalho. Não exijamos que continuem a preocupar-se com a ARE. Haverá, com certeza, quem tenha paciência para tratar disso este ano. Mesmo que não tenha sido eleito e que a pasta lhe tenha sido passada por quem foi, realmente, nomeado para o propósito. O que se exige é que exista, pelo menos, uma revisão feita. A tempo e a horas.

Ficha Técnica

Diretora Inês Duarte

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editor Executivo Vasco Sampaio

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Equipa Editorial Vasco Sampaio (Ensino Superior), Carolina Farinha (Cultura), Inês Duarte (Desporto), Margarida Mota (Ciência e Tecnologia)

Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Paulo Sérgio Santos Paginação Afonso Paiva

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt

Fotografia Philippe Alexandre Baptista, Bruna Coelho, Inês Duarte, Vasco Sampaio

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Ilustração João Ruivo

Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra

Colaborou nesta edição Carlos Almeida, Philippe Alexandre Baptista, Mariana Bessa, Mariana Calado, Cristina Pinilla Carrasco, Bruna Coelho, Rita Flores, Rita Fonseca, Alexandre Gouveia, Rita Lima, Sofia Lima, Andreia Martins, Carolina Marques, Rita Moreira, João Pimentel, João Ruivo, Gabriela Salgado, André Sobral

Tiragem 2000 exemplares


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