Edição 283 - Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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4 DE ABRIL DE 2017 ANO XXVII Nº283 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA CAROLINA FARINHA EDITORES EXECUTIVOS CARLOS ALMEIDA E RITA FLORES

Erasmus: 30 anos de intercâmbios europeus Recente mobilidade de estágio incrementa o número de participantes. Teste ‘online’ de língua facilita processo de aprendizagem ao longo do programa PÁG. 3 ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

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ENSINO

CULTURA - PÁG. 5 -

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Após a celebração dos 50 anos do GEFAC, o grupo prepara uma atuação incidente na etnografia açoriana que pretende usar a memória como ferramenta

DESPORTO

CIÊNCIA

Modelos de ensino adap tados às nec específicas d essidades e cada alun o para promo ximação en ver aprotre professore s e estudante s

CNU’s são teste para os EUSA Games. Esta competição nacional serve de preparação para o europeu

Estudantes usam medicamentos para potenciar concentração nos estudos. Barreira entre estes e drogas ilícitas é ténue pelo estatuto que apresentam


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SASUC INCENTIVAM ALUNOS A COMUNICAR DIFICULDADES Três psicólogos prestam serviço à comunidade académica. DG/AAC vai inquirir estudantes com dificuldades físicas para perceber quais os edifícios com fraca acessibilidade - POR CAROLINA CARDOSO E SOFIA SANTOS -

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m estudante com Necessidades Educativas Especiais (NEE) apresenta “uma patologia ou caraterística pessoal, física ou psicológica, que condiciona total, ou de forma parcial, alguns aspetos da sua vida escolar”, define a chefe da Divisão de Acolhimento e Integração dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), Maria João Carvalho. Em 2016, os SASUC ajudaram 104. Dos estudantes apoiados, as dificuldades “de foro psiquiátrico predominam”, com 23 alunos. No entanto, a chefe da Divisão de Acolhimento e Integração dos SASUC acredita “que existem mais estudantes com NEE que não se pronunciam”. A assistente social dos SASUC, pela experiência que tem em lidar com estes casos, reúne-se com os alunos pelo menos uma vez por semestre. Os estudantes carecem de uma atenção escolar diferente dos restantes e “têm direito a um estatuto diferente, que lhes confere alguns benefícios, como recorrer à época especial de avaliação”, refere Maria João Carvalho. Em relação aos docentes, “por vezes, eles tomam a iniciativa de ir ter com o aluno, para o ajudar na aprendizagem, antes mesmo de terem acesso ao relatório”, afirma. “Há uma grande disponibilidade para utilizar formatos alternativos na sala de aula adaptados às necessidades específicas dos alunos”, refere a chefe da Divisão de Acolhimento e Integração. Os SASUC incentivam o próprio estudante a ser autónomo e a tomar iniciativa de comunicar aos docentes as suas dificuldades. Contudo, “eles têm

HUGO GUÍMARO

direito à sua privacidade e podem preferir estar na sala de aula em anonimato”, adianta Maria João Carvalho. “Não se trata de ensinar de forma diferente, mas de mudar as práticas de aprendizagem”, conclui. No caso dos estudantes com deficiência auditiva, “a leitura labial é importante”. Por isso, o docente deve “falar virado para o aluno e procurar não se deslocar na sala”, informa a chefe da Divisão de Acolhimento e Integração dos SASUC. Para os estudantes com deficiência visual, “o tamanho da letra dos ‘PowerPoints’ deve ser maior”. Os SASUC disponibilizam ainda três psicólogos que prestam apoio a toda a comunidade universitária. Em relação às barreiras espaciais encontradas nos edifícios da UC, estas têm sido eliminadas no decorrer dos últimos anos. Na Associação Académica de Coimbra (AAC), “um estudante com NEE deve dirigir-se ao Gabinete de Apoio ao Estudante (GAPE)”, declara a coordenadora-geral do pelouro da Intervenção Cívica (IC), Catarina Quadros. O GAPE “trabalha com a área pedagógica da integração dos alunos com NEE”, como afirma Inês Félix, coordenadora do GAPE. Já “a IC trata das infraestruturas e das barreiras encontradas na UC”, acrescenta. Neste momento, estes dois pelouros da AAC estão a construir um inquérito direcionado a estes estudantes, com o objetivo de perceber “como é ser um aluno com NEE na UC e perceber quais são os edifícios com fracas acessibilidades, para tentar que haja mudança”, esclarece Catarina Quadros.

MEMÓRIA E IDENTIDADE DA GUERRA FRIA EM DISCUSSÃO Questão de segurança e uso da energia atómica em agenda de debate. Personalidades de várias áreas contribuem para enriquecer a discussão - POR PEDRO CHAVES E PEDRO SILVA -

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ocal de “reflexão, debate e troca de perspetivas sobre a Guerra Fria” é o que a Sala São Pedro da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra pretende ser, de acordo com Maria Manuela Ribeiro, coordenadora científica do evento promovido pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX (CEIS20). No dia 5 de abril, o quinto encontro “Europa e o Mundo”, que vai ter como tema a “Europa e a Guerra Fria: Mutações e ruturas”, procura abordar o conflito que decorreu após a Segunda Guerra Mundial. A iniciativa parte da parceria do CEIS20, através do grupo de investigação Europeísmo, Atlanticidade e Mundialização, com o Instituto de História Contemporânea (IHC) da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e realiza-se em Coimbra e Lisboa. “As mutações e ruturas que ocorreram neste período de conflito entre a União Soviética e os Estados Unidos da América” vão estar presentes. Também se aborda “a evolução no campo da ciência e das políticas científicas”, num dia que se

dedica “a um conjunto de conferências de análise e reflexão de alguns intelectuais que dão as suas perspetivas sobre a Guerra Fria”, adianta Maria Manuela Ribeiro. A coordenadora científica do evento garante que vai haver um espaço de recuperação de memórias e da identidade europeia dessa época histórica concreta. A conferência plenária de abertura tem como protagonista Maria de Fátima Nunes, da Universidade de Évora, investigadora colaboradora do Instituto de História Contemporânea, que vai debruçar-se sobre a “Europa, ciência e Guerra Fria: a presença das invisibilidades científicas” no decorrer do conflito. “Memória da identidade europeia” vai ser um dos temas de debate. Maria Manuela Ribeiro explica que “as repercussões da Guerra Fria no contexto italiano e a visão dos diplomatas belgas sobre o conflito bélico” fazem parte do programa. A perspetiva da então União Soviética sobre o respetivo clima de tensão está também na ordem de trabalhos sob o título “Perceções e Interac-

ções”. As questões da segurança e do uso da energia atómica estão ainda agendados para integrar o debate, assim como os pontos de vista políticos e económicos vão integrar, da mesma forma, o calendário das conferências neste encontro “Europa e o Mundo”. O fecho das sessões está a cargo do diretor do IHC da FCSH-UNL, Pedro Aires de Oliveira, que vai apresentar a sua perspetiva sobre a temática da descolonização no contexto de Guerra Fria. Para a coordenadora científica do evento, a participação de personalidades ligadas a diversas áreas contribui para enriquecer a discussão. “A presença de historiadores, especialistas de estudos europeus, de ciência política e de direito permite uma interação que torna o debate mais fértil”. O conjunto das conferências “traz a análise e a reflexão de alguns intelectuais, o seu olhar e perspetiva vai ser importante”, entende Maria Manuela Ribeiro. O evento tem entrada livre e “é aberto a todos os interessados que queiram participar e debater estas questões”, conclui.


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A EVOLUÇÃO DA EXPERIÊNCIA ERASMUS Projeto de mobilidade mais conhecido da Europa comemora 30 anos. “Valores rígidos” das bolsas alteraram quadro de distribuição do financiamento - POR LAUREN BENTO, DANIELA PINTO E RICARDO SILVA -

Aventureiro, sem medo daquilo que vai enfrentar” e com a capacidade de “lidar com diferentes culturas” é o modo como Ana Isabel Ferreira, coordenadora para a mobilidade outgoing da Divisão de Relações Internacionais (DRI) da Universidade de Coimbra (UC) vê o currículo de um estudante que integrou um projeto de mobilidade internacional. Início e desenvolvimento do programa Em 1987, um plano para criar um esquema de mobilidade extensiva para o Ensino Superior foi aprovado pela Comissão Europeia (CE): o European Region Action Scheme for the Mobility of University Students. Mais conhecido como Erasmus surge para dar a oportunidade aos estudantes de integrar, no percurso académico, uma experiência de estudo fora do país de origem. Em 1988/1989, o programa Erasmus mobilizou 36 estudantes. No ano letivo de 2015/2016 o número subiu para um total de 736 na UC. Ana Isabel Ferreira, afirma que o projeto tem “um incremento significativo”. A recente mobilidade de estágio, assim como a nova possibilidade de “fazer intercâmbio em todos os ciclos de estudo, vieram abrir o programa”, esclarece. Apesar disso, a hipótese de estágio difere no sentido em que o “o próprio estudante ou recém-graduado tem de ser mais proativo”. Tal como explica a coordenadora, o mesmo aluno “tem de encontrar um local de estágio”. “Não é obrigatório que exista uma parceria estabelecida”, ao contrário do que ocorre numa candidatura, cuja mobilidade é realizada durante o período de estudos, esclarece Ana Isabel Ferreira. O programa Erasmus não só envia estudantes a outros países, como também os recebe. A “internacionalização em casa”, como a coordenadora diz, consiste em acolher estrangeiros. Ana Isabel Ferreira introduz que, para além dos estudantes, é possível “ter aulas com um docente de uma universidade parceira”. A experiência “abre a mente”, fomenta “a capacidade de viver numa instituição e de se integrar de modo cultural”, classifica a coordenadora. Libertar o programa do papel Apesar da burocracia associada, “o facto do sistema todo funcionar no Inforestudante facilitou bastante o processo”, explica Ana Isabel Ferreira. A coordenadora esclarece que “não há maneira de contornar” a documentação, pois é uma “exigência da própria CE”. O exemplo do projeto Erasmus without papers, em que “a candidatura vai ocorrer numa única plataforma ‘online’”, surge como uma iniciativa para “libertar [o aluno] do papel”. No que diz respeito aos apoios financeiros, estes estão sujeitos a constante alteração. Nos dias de hoje, o valor atribuído às bolsas muda conforme o âmbito da mobilidade, estudo ou estágio. Existem três níveis de financiamento que “variam consoante o custo de vida do país”, transmite a coordenadora. Não só os estudantes podem usufruir da bolsa, como também os docentes e funcionários. A

presidente da Erasmus Student Network (ESN) de Coimbra, Rita Antunes, acrescenta que a própria organização apresenta, a título internacional, um projeto de apoio financeiro aos estudantes. A fixação do valor pela Agência Nacional “não permite ter a ginástica que se teve no passado”, acrescenta. A coordenadora classifica a distribuição como “dramática”. Com a passagem das tabelas de valor mínimo e máximo a “valores rígidos”, estipulados pela CE, deixou de se “conseguir encontrar um valor médio” para atribuir as bolsas entre os estudantes candidatos. Além disto torna-se impossível “pagar após o regresso dos alunos” que frequentaram Erasmus com “bolsa zero”, acrescenta. Estudantes apoiam estudantes Na nova plataforma da CE, ‘Online Linguistic Support’, a DRI “regista todos os alunos que vão sair em mobilidade”, explica Ana Isabel Ferreira. Nela é atribuida uma licença ao aluno para fazer um “teste ‘online’ na língua de trabalho do país para onde vai” e continuar o processo de aprendizagem ao longo do programa. A coordenadora da mobilidade outgoing esclare que o facto de não se ter de “dispor de tempo para ir às aulas também

facilita” o processo. A ESN, que se “ergueu na Holanda no início do programa Erasmus”, surgiu “de uma necessidade de avaliação que acabou por dar origem a uma associação de apoio”, refere Rita Antunes. Presente em 38 países, a rede internacional é, em Coimbra, composta por voluntários, todos estudantes universitários, que integram uma equipa de 140 membros. O projeto, que é apoiado pela União Europeia desde a sua fundação celebra, em 2017, 30 anos. Nos atuais moldes, o programa Erasmus+, criado no ano letivo de 2014/2015, apresenta agora um questionário público de avaliação do programa. A coordenadora espera que “o programa evolua de modo positivo a fim de ter uma melhor capacidade de gestão do financiamento”. “O estudante também é bandeira de Coimbra quando sai, pois tem de dar uma boa imagem da instituição”, afirma Ana Isabel Ferreira. No caso dos alunos recebidos por Coimbra, a presidente da ESN comenta a entrega do ‘Survival Guide’, o conjunto das “informações mais importantes de cada cidade”, que procura preparar o estudante para a adaptação às dificuldades com que se pode deparar. ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO


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GEFAC VIAJA DA MEMÓRIA ETNOGRÁFICA PARA O FUTURO Atuação pretende refletir papel da etnografia e a forma como se projeta na sociedade. Manifestações artísticas açorianas e festividades religiosas e espirituais são mote da ‘performance’ - POR SIMÃO MOTA -

D. R. - EDUARDO PINTO

Um espetáculo sobre memória”. É esta a descrição que o coordenador-geral do Grupo de Etografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), Vasco Nogueira, faz do espetáculo “De Novo Mar”. Na sequência da comemoração do 50º aniversário do grupo, o Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB) vai ser o palco para a atuação, que envolve 30 participantes, entre os dias 7 e 9 de abril. O coordenador-geral refere que o espetáculo incide sobre “as manifestações culturais e espirituais dos Açores que, neste caso, são do Espírito Santo”. Justifica a escolha destas demonstrações artísticas pelo facto de o grupo nunca as ter “trabalhado de uma forma aprofundada e por serem festividades ricas”. No entanto, explica que não é um espetáculo regionalista. “A ideia é partir dos Açores para os aspetos mais universais da etnografia”, esclarece. Vasco Nogueira menciona que o objetivo da ‘performance’ é “refletir sobre o papel da memória, da etnografia e de grupos como o GEFAC na sua reinvenção e projeção para o futuro”. Propõe assim “trabalhá-la enquanto ferramenta e não apenas recordar e ver como era no passado”. “As recordações têm de servir de âncora a um barco que tem de sair e zarpar para algum lado”, defende. Na opinião da coordenadora de dança do GEFAC, Ana Martins, este é um espetáculo “com uma mistura interessante entre o tradicional e o contemporâneo”. Ambos os coordenadores consideram “que a tradição não é algo que deva estar cristalizado”. Acrescentam ainda que o processo

de “construção da ‘performance’ tem estado a ser uma experiência muito enriquecedora e interessante”. Tanto Vasco Nogueira como Ana Martins esperam que os três dias esgotem. Em resposta ao mote do espetáculo, o coordenador-geral expõe que a etnografia “continua a fazer sentido sempre que é trazida para o presente, atualizada e reinterpretada”. “A memória segue caminhos sinuosos, sofre adulterações e, sempre que é explorada e reconstituída, passa pela interpretação e reinvenção de quem o está a fazer”, conta. Elucida que “reside, nas pessoas que a trabalham, a capacidade de a transformar, de pegar em coisas do passado e de as projetar no futuro”. Vasco Nogueira adianta ainda que “não há nada como saber de onde se vem para entender para onde se vai”. As gerações que tratam a etnografia “são como as marés que vão e vêm, pois reinventam a memória e trazem-na para o presente”, regista Vasco Nogueira. O coordenador-geral justifica que o GEFAC, nos últimos meses da construção deste espetáculo, “viu as suas fileiras serem renovadas”. “Houve muitos jovens que chegaram há pouco tempo à universidade e que se identificaram com o grupo”, aclara. Para Vasco Nogueira é visível um “afastamento e alienação da comunidade estudantil na participação em grupos da academia”. Atribui a origem do problema à “globalização sem lei”, o que “leva a uma procura de identidade e coesão da comunidade”. Ana Martins conclui que “por mais que as influências sejam de outras paragens, o que é das raízes de cada um tem um lugar privilegiado”.

ODETTE E ODILE DANÇAM A MULHER O “Lago dos Cisnes” é o ponto de partida para o espetáculo que dá corpo ao que as intérpretes sentem. A dualidade na peça do negro e do branco elimina-se, já que juntas “são o mesmo cisne” - POR JOANA PEDRO E PEDRO DINIS SILVA -

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dette criou para Odile e Odile criou para Odette. Assim surgiu o projeto que, através da dança, trabalha a obra clássica e o feminino. Andreia Barreto e Àfrica Martinez vão protagonizar o espetáculo que criaram. Com data de estreia marcada para 7 de abril, o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) foi escolhido para acolher a produção que integra o programa da 19ª Semana Cultural da Universidade de Coimbra. Andreia Barreto aponta que é vista como uma pessoa “calma e delicada”, mas que Àfrica Martinez é “uma força da natureza”. A dualidade da peça clássica “O Lago dos Cisnes” foi a fonte de inspiração para as coreógrafas. Odette e Odile são “o negro e o branco, a pureza ou a falta dela”, e as intérpretes representam esse contraste na coreografia. Quanto ao processo criativo do espetáculo, Andreia Barreto faz notar a simplicidade do mesmo.

“Sem muitas palavras, a compreensão entre as duas aconteceu”, completa. Assim que se conheceram, “surgiu de imediato uma ligação”, refere Àfrica Martinez. A criação da coreografia foi partilhada entre as duas. Ao darem corpo às personagens, as coreógrafas e ‘performers’ representam o papel da mulher nos dias de hoje. “Tem de ser dona de casa, mas também mãe, profissional e ainda sensual”, completa Andreia Barreto. Do cisne retira-se o paradigma clássico e a perfeição associada à “ditadura feminina”, como explica Àfrica Martinez. Salienta-se que o objetivo do espetáculo não é recriar “O Lago dos Cisnes” de Piotr Ilitch Tchaikovsky. A obra clássica “é apenas a parte palpável da peça”, acrescenta Andreia Barreto. A coreógrafa declara que partiram dela para partilhar com o público o que sentem, bem como para transmitir o que pensam através do corpo e da dança.

Ao som de composições de Georg Friedrich Händel, Antonio Vivaldi e Stravinsky, as criadoras apresentam as coreografias em solos e duetos. Àfrica Martinez declara que, em palco, a elegância e a classe passam por momentos de improviso. “Depois a delicadeza começa a aparecer. Num crescendo, a força, a determinação e a intensidade”, menciona. Andreia Barreto considera que a peça, ao partir de uma obra clássica, pode contribuir para o enriquecimento cultural de uma cidade de estudantes como Coimbra. No entanto, declara ainda que “é para toda a gente”. Com a aproximação da data de estreia, Andreia Barreto espera que a atuação “seja um sucesso”, mas está mais preocupada “com o momento da exibição e com que tudo corra bem”. Já Àfrica Martinez tenciona “que seja uma revolução” e manifesta o desejo de expandir o espetáculo num futuro próximo.


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CNU’S: CONTAGEM DECRESCENTE PARA O EVENTO Presidente da FADU espera “‘ fair-play’, bons jogos e uma onda positiva”. Estádio Universitário de Coimbra concentra grande parte da ação desportiva - POR RAFAEL SOARES -

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ão mais de dois mil os atletas de todo o país que se vão instalar em Coimbra para participar nas fases finais concentradas dos Campeonatos Nacionais Universitários de 2017 (CNU’s). Este evento da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU) decorre entre os dias 24 de abril e 5 de maio. No corrente ano, a iniciativa está a ser organizada pela Associação Académica de Coimbra (AAC) e conta com o apoio da Universidade de Coimbra e da Câmara Municipal de Coimbra. A AAC é também responsável pela realização dos Jogos Europeus Universitários (EUSA Games), em 2018, bem como pelos Campeonatos Europeus de Judo, Karaté e Taekwondo, deste ano, 2017. Ambos os sexos vão estar presentes em todas as modalidades, à exceção do futebol de 11. A dedicação das atletas de elite, em simultâneo, ao futsal, explica a “ausência de participantes femininas”, segundo o presidente da FADU, Daniel Monteiro. Além destas duas variantes, o andebol, o basquetebol, o hóquei em patins e o rugby de 7 constituem a iniciativa. A estes desportos juntam-se o voleibol, a canoagem e a natação. Organização do evento e infraestruturas A poucas semanas do seu início, a preparação das fases finais dos CNU’s está a decorrer “de uma forma positiva”, de acordo com os membros pertencentes às entidades organizadoras. Apesar do atraso inicial no planeamento, a vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) para o desporto, Elisabete Santos, confirma que estão a ser limados os últimos pormenores. Esta informação é confirmada pelo presidente da FADU, que enfatiza a sintonia entre as organizações responsáveis. “Há um alinhamento dos astros entre as quatro entidades, com o mesmo objetivo, que estão a trilhar o caminho em conjunto”, refere. Daniel Monteiro defende que o “passado histórico” como associação e a “forte tradição desportiva” da AAC são fatores “muito importantes” para garantir o sucesso na organização do evento. Em relação às infraestruturas, o Pavilhão Multidesportos Dr. Mário Mexia, o Pavilhão do Centro Social de São João e o Pavilhão Municipal de Ventosa do Bairro são algumas das 15 instalações desportivas que acolhem as diferentes modalidades dos CNU’s. “Pela dimensão do evento”, tal como esclarece o presidente da FADU, algumas delas situam-se na periferia da cidade, como é o caso das águas de Montemor-o-Velho, que recebem a canoagem. Porém, é no Estádio Universitário de Coimbra (EUC) e nos seus diferentes espaços, como o campo de rugby e o pavilhão 1 e 3, que vai ser concentrada grande parte da ação desportiva. Esta foi uma intenção levada a cabo pela organização, para permitir o convívio entre os protagonistas do evento. “Quer-se fazer do estádio um ponto agregador de todos os atletas, de partilha de experiências, que concentre o maior número de pessoas e de jogos”, fundamenta Daniel Monteiro. O pavilhão 2 do EUC vai estar inutilizável, devido a um processo de reabilitação com vista aos EUSA Games, esclarece o presidente da Direção-

HUGO GUÍMARO

Geral da AAC (DG/AAC), Alexandre Amado. Teste para os EUSA Games “A cidade ainda não acordou totalmente para o que aí vem”. Este é o mote dado pelo presidente da DG/AAC para promover os CNU’s. Na sua perspetiva, Coimbra pode vir a beneficiar, durante o evento, com a passagem de mais de dois milhares de jovens pela cidade. “Com 150 mil habitantes [existentes em Coimbra], nota-se a presença de

muitos atletas na cidade”, argumenta. Nesse sentido, a organização vê os CNU’s como um “ensaio importante” para os EUSA Games. Tal como Alexandre Amado, que classifica a competição nacional como “um bom despertador” para a europeia, a vice-presidente da AAC defende que este é um teste a alguns fatores, como as instalações e os alojamentos para a competição que vai decorrer no próximo ano. O presidente da DG/AAC reitera a importância de “ter um campeonato positivo em todos os aspetos, que ofereça boas condições, uma maior visibilidade e um bom conceito”. Contudo, a maior preocupação passa pelas questões de logística, “porque é aí que se encontra o maior teste para a realização dos EUSA Games”. Já o presidente da FADU define os CNU’s como “um evento de projeção da marca dos EUSA Games”. Para Daniel Monteiro, as fases finais destas competições nacionais assumem “um papel fundamental em colocar o desporto universitário na agenda”, o que proporciona a valorização das provas europeias em 2018. Adesão dos jovens ao desporto Dada a divulgação global do evento, um dos objetivos das entidades organizadoras passa por criar uma maior proximidade entre os estudantes e a política desportiva. O voluntariado nos CNU’s é, na opinião de Elisabete Santos, uma das formas de fazer essa ligação. Neste âmbito, “proporcionar o mote para que as pessoas se liguem mais ao desporto” é uma meta traçada pela vice-presidente da DG/AAC. A Liga Académica e a abertura de treinos em diferentes secções desportivas da AAC foram iniciativas tomadas pelo órgão dirigente, com o intuito de levar os estudantes a praticar diferentes modalidades. Também a FADU demonstra estar alerta nesse sentido. A “falta de interesse em atividades extracurriculares” e o “elevado grau de sedentarismo nas idades mais jovens” são fatores que preocupam Daniel Monteiro. Como aspetos positivos, o dirigente destaca o dinamismo presente no desporto universitário, que “carateriza e alimenta a sua prática nacional”. Assim, o presidente da FADU revela que está a ser elaborada uma parceria com vários órgãos para que, “cada vez mais, os dirigentes que trabalhem no Ensino Superior, assim que passem essa fase, possam ficar ligados ao desporto nacional”. A interação e a partilha de experiências entre os jovens formam, para Daniel Monteiro, “a génese do desporto universitário”. O presidente da FADU espera que a mesma seja refletida durante os CNU’s. Acerca da competição, “‘fair-play’, bons jogos e uma onda positiva” são as expectativas de Daniel Monteiro. Já Elisabete Santos espera que o evento “alerte as pessoas para todas as questões que um acontecimento desta magnitude comporta”. Aproveita ainda para anunciar o caráter ecológico do evento. “Vai haver cantis para todos os atletas e vai-se tentar identificar outras medidas possíveis que acabem por ter um impacto positivo ao nível da sustentabilidade”, revela.


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A INFLUÊNCIA DOS PROGRESSOS TÉCNICOS NA SAÚDE Treinar e aprender com um paciente virtual ou ter uma imagem a três dimensões do corpo deixou de ser ficção científica. A evolução da tecnologia permite a melhoria da saúde da humanidade - POR ISABEL SIMÕES -

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om o desenvolvimento da Tomografia Axial Computorizada (TAC) e da Ressonância Magnética (RM), bem como da Ecografia, “foi possível ver órgãos para além da pele sem ser necessário a utilização de cirurgia”, conta Graciano Paulo, vice-presidente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC). “O primeiro equipamento de TAC foi instalado em Coimbra em 1978 e a primeira RM foi possível no país em meados da década de 1980”, lembra. Para Graciano Paulo, “o grande pilar da medicina moderna, mais do que os medicamentos, drogas e terapias medicamentosas, assenta na imagem”. Anabela Martins, investigadora na ESTeSC, acrescenta que as tecnologias, de forma indireta, “vieram dar um sentido muito grande àquilo que são as vidas das pessoas que procuravam os profissionais da área”. Hoje, uma pessoa ao usar uma “cadeira de rodas ativa”, mais leve e com mais recursos do que as de antes, tem a possibilidade de “não depender de ninguém na vida diária, já que pode conduzir, trabalhar e ir à escola”, adianta. Com uma cadeira de ro-

das convencional a vida em sociedade seria “bastante limitada”, informa. Ao introduzirem tecnologias de apoio nas intervenções, os profissionais deixam de ficar “muito centrados no corpo da pessoa” para pensarem nela como “ser social” e isso é “muito motivador”, acresce. Com a evolução tecnológica, a forma de aprender dos profissionais de saúde também está a mudar. O diretor executivo da empresa Take the Wind, Pedro Pinto, explica como se torna possível “treinar protocolos de tratamento que podem ser múltiplos com pacientes que são virtuais”. Através de uma mesa especial e com um ‘web browser’ num computador, “em qualquer sítio”. Os profissionais de saúde podem “atualizar competências” e os estudantes treinam situações “sem ter contacto com o paciente real”, de forma a evitar as consequências do “erro”, afirma. Os estudantes deixam de aprender em parcelas o que, segundo o diretor executivo da empresa sediada no Instituto Pedro Nunes, “é comum a outras áreas além da medicina”. Assim, passam a aprender de uma “forma integrada”, chegam ao paciente com “ní-

veis elevados de autoconfiança” e realizam “melhores diagnósticos”. Neste contexto, a figura do “mestre é muito importante”, considera. O papel do professor deixa de ser cada vez mais o de “transmissor de informação” para passar a “ajudar a transformá-la em conhecimento”, ao ser o “treinador que ajuda o estudante a saber pensar”, esclarece. A complexidade dos equipamentos e tecnologias de apoio, usados quer na imagem médica, radioterapia, fisioterapia e no ensino em saúde podem aumentar os custos. Por isso, as escolas e empresas estabelecem parcerias entre si e colaboram na montagem de laboratórios, no teste e validação de novos equipamentos. A partilha de recursos é consensual e necessária. Hoje, o doente obtém informação com muita facilidade e está “mais consciente dos seus direitos”, afirma Pedro Pinto. Projetos como o MEDIARAD, que vai estudar “os efeitos de baixas doses de radiação em medicina e tentar perceber as repercussões no organismo humano, na estrutura vascular e no coração” podem vir a alterar o conforto do doente, conclui Graciano Paulo.

AUTISMO, DO DIAGNÓSTICO À INTEGRAÇÃO NUM “MUNDO CAÓTICO” Apesar dos casos de sucesso entre universitários, a entrada no mercado de trabalho continua a ser uma preocupação. Desinformação dificulta sensibilização para o distúrbio - POR MARIANA BESSA -

Perturbação é um vocábulo que pressupõe uma conotação pejorativa”, mas viver “tanto com transtornos como com sobre-dotes significa ver o mundo de forma diferente, mas única e distinta”, como refere Rafael Trindade, estudante de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e portador da síndrome de Asperger, uma perturbação do espetro autista. No entanto, capacidades básicas como a interação social, a comunicação e o interesse estão comprometidas em pessoas com autismo, de acordo com a presidente da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Coimbra, Elsa Vieira. Este transtorno do neurodesenvolvimento de causa desconhecida manifesta-se através de “comportamentos restritos e inadequados para a vivência em sociedade de acordo com as regras”, acrescenta. São ainda frequentes os casos em que os sujeitos vivem sob diagnósticos errados, como fobias sociais, perturbação obsessivo-compulsiva ou esquizofrenia, e caminham “de médico para médico”, à procura de justificações para os seus comportamentos. O autismo “varia num espetro vasto”, como explica Elsa Vieira. Uma pessoa com esta característica “pode passar despercebida na sociedade ou exibir comportamentos muito específicos”, como gestos repetitivos ou inadequados em relação ao contexto, acrescenta. Assim, torna-se difícil a “inserção na sociedade, perceber as regras, adaptar-se a elas e entender como o mundo, que

para eles é caótico, funciona”. No caso da síndrome de Asperger, Rafael Trindade acredita que “cada pessoa que manifesta a condição é afetada de forma diferente”. A presidente da APPDA salienta que a dificuldade de integração não tem que ver com as suas incapacidades, mas com a forma como os sujeitos com autismo são entendidos. Defende a necessidade de disponibilizar mecanismos que facilitem o seu percurso, dado que “têm áreas geniais que devem ser salientadas”. Declara que “é difícil fazer sensibilização caso a caso”, processo que considera lento e que é também travado pela comunidade médica, “onde há muita desinformação”. Entre o mundo universitário existem estudantes com autismo que concluíram os cursos com

sucesso mas, como realça Elsa Vieira, “não se consegue integrá-los no mercado de trabalho, que não está estruturado para ajudar as pessoas a progredir”. Quanto à inserção académica, “especializar e diferenciar na universidade só faz uma pessoa autista sentir-se ainda mais desenquadrada e posta de parte, reforça sentimentos de isolamento e desapego da realidade concreta”, defende Rafael Trindade. Para o final deste ano, a APPDA está a desenvolver um projeto que vai contar com “aulas virtuais destinadas a pessoas com autismo”, como anuncia a presidente. O objetivo é “que possam treinar competências nas quais têm défice, como a leitura de expressões faciais, resolução de problemas e interpretação de emoções”, explica. HUGO GUÍMARO


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DROGAS E MEDICAMENTOS: ‘DOPPING’ ENTRE ESTUDANTES Pressão social e familiar aumenta o uso de fármacos por parte da comunidade estudantil. Mudança do ensino secundário para o superior também na base do consumo - POR HUGO GUÍMARO, ANA FRANCISCA NUNES E CRISTINA OLIVEIRA HUGO GUÍMARO

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oje em dia verifica-se um aumento do número de estudantes que recorre a drogas legais para obter uma maior concentração nos estudos. Os valores elevados começaram a suscitar debate entre a comunidade científica. Desde então, vários são os estudos que se têm realizado. Porém, onde é que se estabelece a linha que separa as drogas ilícitas dos medicamentos? Regulamentação de fármacos e drogas recreativas Esta é a questão principal a que João Joaquim, docente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), procura responder. “As diferenças [entre as drogas ilícitas e as drogas medicamentosas] têm que ver com o estatuto que apresentam”, assegura. Existe “uma regulamentação muito forte acerca dos medicamentos”, que permite controlar os perigos dos mesmos. Já as drogas ilícitas “não têm legislação e constituem um mercado paralelo que apresenta riscos elevados”. É importante referir que “os perigos existem em ambos os grupos de substâncias” e que qualquer medicamento significa também um risco, como explica o docente da ESTeSC. Quanto às razões que levam a população a consumir drogas, João Joaquim afirma que há diferentes motivos. O consumo excessivo de medicamentos “relaciona-se com a disponibilidade e acessibilidade que hoje existe”. No caso das drogas ilícitas, o contexto é outro. Como se trata de um mercado colateral “é difícil perceber as razões” que conduzem ao seu consumo mas, na opinião do docente, “estão envolvidos fatores sociais e económicos”. “O ponto central é a regulação e a capacidade do sistema poder atuar, quer no montante, quer no uso”, como reitera o docente da ESTeSC. O consumo continuado de substâncias pode levar a uma dependência física e psicológica já que “as drogas que atuam no sistema nervoso central têm um fator aditivo considerado”, explica. No entanto, reconhece que “alguns medicamentos também têm essa propriedade”, mesmo em doses controladas.

Em excesso, o consumo de drogas pode levar, para além da dependência, a consequências no estado de saúde da população. “Os efeitos imediatos produzem um bem-estar momentâneo”, declara João Joaquim, “mas com uma exposição contínua, surgem efeitos nocivos no organismo”. As consequências remetem, na sua maioria, para alterações da capacidade cognitiva. Apesar de haver separação entre drogas para fins medicinais e recreativos, já existem locais onde se começou a eliminar essa diferença. “Há países em que estas substâncias, que em Portugal se consideram ilegais e de abuso, são consumidas”, afirma João Joaquim. Exemplifica com o caso da Holanda, onde se “decidiu legalizar, mesmo com conhecimento dos riscos e informação dos mesmos”. Na opinião do docente da ESTeSC, “a repressão não é a melhor opção”. A dependência dos estudantes Muitos são os jovens que recorrem às drogas legais, algumas até classificadas como suplementos alimentares, para aumentarem a sua capacidade intelectual e ‘performance’ académica, ilustra o docente da ESTeSC. A pressão social e familiar, bem como as expectativas pós-ensino são os principais motivos que levam ao consumo. “Os alunos vêm do Ensino Secundário com um registo diferente daquilo que vão encontrar no Ensino Superior [ES] e muitos sentem dificuldades”, argumenta. Essa transição torna os estudantes mais vulneráveis e expostos a consequências graves, como depressões. João Joaquim informa que “há cada vez mais alunos a serem acompanhados por psicólogos”. Acrescenta que existem “situações em que os próprios órgãos institucionais tomam decisões pelos estudantes”, pois estes não conseguem acompanhar o seu percurso académico, “dada a pressão que sentem”. O consumo de substâncias para aumentar o desempenho intelectual está a ser encarado, um pouco por todo o mundo, como ‘dopping’ no ES. “Já houve conferências que incidiram sobre a utilização de

substâncias proibidas como as anfetaminas”, admite João Joaquim, “que teve o seu auge nas décadas de 1960 e 1970 do século passado”. Estas substâncias limitam a sensação de cansaço e fome, o que permite uma boa utilização do tempo sem descansar e comer. Dado os seus efeitos, o consumo, apesar de não ser proibido, pode vir a ser considerado como dopagem. Como é que os estudantes têm acesso a estes fármacos? O docente da ESTeSC aponta dois motivos. Por um lado, um sistema que continua a ter algumas falhas e possibilita a venda de medicamentos sujeitos a receita médica, sem essa mesma receita. Por outro lado, existe um elemento cultural marcado pelo hábito de as pessoas terem fármacos em casa, o que facilita a partilha de medicação. Naturopatia: uma alternativa não convencional A presidente da Associação Portuguesa de Naturopatia (APN), Noémia Rodrigues, define a naturopatia como o “estudo da doença em função daquilo que a natureza dá e que não é alterado em laboratório”. Esta terapêutica não convencional “vai direta à causa e não ao sintoma”, esclarece. Noémia Rodrigues, como naturopata, manifesta preocupação em procurar o porquê do mal-estar dos seus pacientes. “Por norma, faz-se uma desintoxicação” que é seguida de três curas: limpeza de humores, cura de revitalização e cura de equilíbrio. O uso de ervas naturais em substituição de fármacos é também uma prática frequente, como elucida a presidente da APN. “Existem várias plantas, como a urtiga que, pela concentração de estrogénios que apresentam, aumentam o rendimento mental”, confirma. Uma outra alternativa é o Gingko biloba, espécie de árvore considerada um fóssil vivo dada a sua sobrevivência ao longo de milhares de anos, cujos extratos “podem melhorar o sistema circulatório a nível cerebral”. Uma melhoria na alimentação e estilo de vida pode evitar o recurso a substâncias químicas, como argumenta Noémia Rodrigues. “As plantas não fazem milagres sozinhas”, conclui.


4 DE ABRIL DE 2017

SOLTAS -8-

EM CONT(R)OS PROPRIEDADE (QUE NOS FOI) PRIVADA - POR SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR PAULO ABRANTES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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á uma suástica no meio académico. A tinta fossiliza-se nas paredes. Paredes e escadas monumentais arquitectadas por quem arquitectou o Tarrafal. Alice passeia pelas ruas da cidade e reconhece um cheiro a mofo vindo das paredes. Algo que contrai a mão que passeia, num punho que luta. Algo que entranha e enraiza na sua mente. Há memórias de uma guerra passada que são reavivadas diariamente. Mas Alice sabe que não se varre debaixo do tapete o que parasita as paredes. Então Alice age, e alça o punho para buscar uma lata de tinta. Limpa os livros que lhe apodrecem a mala e guarda a tinta que lhe enche o fundo de cores. Passeia com o chocalho da lata a ritmar-lhe o passo. Todo o olhar vira policial e austero, o sorriso torce em paranóia nos olhos de Alice. Levanta a poeira do capuz, e deixa a gravidade trabalhar. Alice pergunta porque é que se esconde. Alice pergunta porque é que se chama de vândalos a uns mas não a outros. Alice continua.

Alice chega. Alice abre a mala. Alice ouve um barulho. Dirigido. Focado. Um ódio à busca de um nome e uma morada a que se endereçar. É o segurança. Alice tem o instinto de fugir. Mas fugir para onde? Para um sítio seguro. Fugir de quem? De um segurança que não sabe o contexto. Alice permanece, não tem nada a esconder. A coragem reivindica o corpo que o medo paralisou e mantem-se firme e pronta a dialogar com outro ser humano, também os seus ossos devem vibrar sob esta égide de ódio. Ela mantém-se parada e o segurança avança ecoando berros, também ele sem saber como berrar a um corpo que resiste. O segurança quer saber o seu nome. A Alice quer saber algo mais. Quer explicar-se, dizer o que faz e porquê. O segurança quer saber o seu nome. Alice pergunta porque é que responder a uma agressão é uma agressão em si. O segurança não quer saber, quer saber o seu nome. Alice não sabe como aos olhos do segurança é-lhe o mesmo ser contra uma suástica como ser contra uma resistência antifascis-

ta. O segurança responde que é propriedade privada. Alice pergunta o porquê de defender a propriedade privada para defender uma pintura nazi mas não para lutar contra a mensagem. Mas o segurança não quer saber, o segurança nunca quis saber, só quis saber o seu nome. O segurança não quis saber da suástica. Não quis saber da Tradição “und hass”. Na cidade da tradição surgem as infraestruturas de um ódio sempre perpetuado como “tradição”. Mas algo diferente também surge. Como um desenrolar de um trapo há muito escondido por quem se atrapalha a explicar o inexplicável. Nas paredes de hoje em dia nascem as muralhas de ontem, as tradições de ontem são marionetadas para só inglês ver, fechando o fado que nascia das praças em comércios de 5 euros entry please. Und hass? Na sociedade em que as paredes têm ouvidos, os ouvidos viram paredes. E depois das paredes de Alice serem vandalizadas com berros, Alice foge. Duas semanas depois, um quadrado branco destoa na rocha monumental da Universidade de Coimbra.


4 DE ABRIL DE 2017 SOLTAS -9-

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

Associação Académica de Coimbra

Comemorou-se no passado dia 24 de março o Dia Nacional do Estudante. O protesto, marcado em Assembleia Magna, juntou quase toda a Direção-Geral nas Escadas Monumentais. No dia anterior, outra dezena e meia de alunos, desagradados com a marcação do protesto para uma sexta, manifestou-se em favor dos direitos estudantis. Estamos plenamente confiantes de que, seguindo este rumo, vamos contar com quase 50 alunos preocupados com o estado do Ensino Superior nas comemorações do 17 de abril, numa honrosa percentagem de 0,25% de estudantes da Universidade de Coimbra.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

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E AS IDEIAS ESTÃO NO CARAÇAS

á não se ouvem os barulhos da revolução na cidade. Será pela chegada da Queima das Fitas? Ou talvez pela aproximação da ressurreição de Jesus? Qualquer que seja a razão, a paz reina em Coimbra. Ninguém se questiona sobre o que fazer quando, num órgão máximo de uma universidade, há quem não tenha posições definidas em relação aos assuntos mais importantes da instituição. Será o Regime Fundacional um mito? Deveremos ser neutros em relação à revisão do RJIES? Este mandato promete.

J

ALEGRE REFLEXÃO PRIMAVERIL

á se ouvem os passarinhos a anunciar a nova Assembleia Magna, com os jardins da AAC a dar as boas vindas ao bom tempo e à natureza em flor. No meio de informações e outros assuntos, o único tópico concreto é o Regime Fundacional. Por entre cafés, finos, cigarros e hinos da praxe, espera-se que a vida boémia não distraia os estudantes do facto do futuro da sua academia estar a ser debatido mesmo à sua frente. Mas para que importa o debate quando a vida académica é tão curta? A culpa é de Bolonha.


4 DE ABRIL DE 2017 ARTES FEITAS - 10 -

CINEMA

Viver em eterna negação - POR MARIANA BESSA -

Denial De

Mick Jackson

Com

Rachel Weisz, Timothy Spall, Tom Wilkinson

2016

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olocausto, a perseguição e assassinato de milhões de judeus e “raças” consideradas “inferiores” pela ideologia racista e anti-semita prevalente na Alemanha da 2ª Guerra Mundial é, ainda hoje, considerado um dos mais hediondos crimes contra a Humanidade. Negar este acontecimento parece doentio e atrevido, mesmo quando se trata de David Irving (Timothy Spall), um historiador britânico que, com sarcasmo e desdém, afirma que o holocausto não existiu, o que lhe valeu críticas de Deborah Lipstadt (Rachel Weisz), que culminaram no tribunal. A sensibilidade e sentimentalismo de Deborah, aliados à sua coragem e resiliência, contrastam com o racionalismo com que a equipa de advogados, maioritariamente constituída por homens, lida com

o caso. Seria fácil sentir empatia, não fosse a trivialidade das personagens, desde a conceptualização da mulher sensível mas também lutadora (a mesma mulher de todos os filmes que pretendem apenas contrariar um estereótipo), ao homem do intelecto e da frieza. O papel dos advogados foi explorado de forma pobre, com uma cena de segundos desajeitadamente inserida no enredo, que procura explorar a vida pessoal da estagiária Laura Tyler (Caren Pistorius). David Irving poderia, ainda assim, ter sido o vilão que vai deixando o espectador com um nó na garganta por conter a raiva de uma humilhação que não é a sua. Popular e estimado pelo povo, que ri das suas piadas racistas, confiante, provocador e sensacionalista, vê o seu declínio ao longo da ação quando já não responde, em tribunal, às acusações de que é

De

Ulrich Hilmer

Em

Podia ser pior

EM PALCO

Amor com amor se paga Até 14 de Maio de 2017

alvo. Um repentino conformismo, que não dá para refletir sobre o seu motivo, apenas adianta a conclusão de que, se calhar, alguém quis terminar o filme à pressa para ir jantar. Embora a história suscite dúvidas pertinentes, como a legitimidade de questionar o holocausto entre as quatro paredes de um tribunal ou os limites da liberdade de expressão quando usada para oprimir e desconstruir factos históricos alicerçados em evidências fortes para fins pessoais, a artificialidade da ação não cria o suspense suficiente para que se sinta o clímax.

Humor ácido - POR JOÃO RUIVO -

Museu Municipal de Coimbra | Galeria Almedina

A

primeira exposição individual de Ulrich Hilmer em Coimbra, está presente na Galeria Almedina, e esta mostra não chama, ela grita por nós! Uma apresentação de uma série de pinturas, que o artista denominou de um dito popular, que serve de analogia, e encaixa no espaço e tempo enquanto Arte Contemporânea. Trata-se de arte moderna, com laivos de surrealismo, e esta exposição deve ser visitada pela sua colorida irreverência, e apreciada, pela multiplicidade de conjecturas que cada obra oferece. Numa era da arte descartável, em que é comum sair de um teatro, cinema, ou concerto, e o que assistimos ser tema de conversa durante a próxima meia hora, esta exposição não deixa indiferente a quem a presencia e garante umas boas horas de debate e bate-boca. A complexidade de elementos e referências, permite diferentes leituras. São obras que provocam

o efeito de “onde está o Wally?”, leva-nos a querer procurar o maior número de elementos e a relação entre figuras e representações, ao sabor da dinâmica de cada tela. Entre os comportamentos da sociedade, os preconceitos, as crenças e dogmas, a avareza ou miséria, o espectador pode encontrar outras vicissitudes da sociedade, e nas obras de Hillmer, à semelhança da vida, por vezes, nada é o que parece. Destaque para a obra “Vengeance for the four seasons”, tal como o título da exposição, a vingança está presente nesta tela. O artista português, filho de pai alemão, através da sua rica paleta de cores mais os traços e linhas que formam figuras díspares, remete-nos para um cenário de degradação ambiental, motivada por comportamentos humanos, prejudicando-se a si mesmos e aí constatamos que “Amor com amor se paga”. Nesta tela sobre as quatro estações, há uma dife-

rença para com as restantes obras. A dinâmica e o equilíbrio da pintura são imediatos, na medida que o artista dividiu a tela em quatro partes iguais, e em cada uma, com a sua técnica característica, livre e fluída, é com lápis sobre acrílico que nos mostra diferentes cenários para cada estação do ano. Se a ironia é uma forma de expressão, onde existe uma distância entre aquilo que dizemos e o que realmente pensamos, as obras de Ulrich Hilmer são uma vasta representação gráfica dessa vontade de denunciar e de criticar com mensagens subliminares carregadas de muita cor e personagens. Uma exposição a disfrutar, com telas onde as obras do pintor cativam e agitam o observador com uma sátira, complexa mas factual, sobre um mundo consumido.

A Cabra d’Ouro


4 DE ABRIL DE 2017 ARTES FEITAS - 11 -

MÚSICA

GUERRA DAS CABRAS A evitar

Do Jazz ao Bandolim a três vozes

Fraco Podia ser pior

- POR FILIPE FURTADO -

Podia ser melhor A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

D

a mistura de várias raízes musicais está o jazz bem habituado, a génese da sua história tem sido essa, em especial nestes longos anos de síntese musical. Muitos críticos e especialistas diriam que já não se pode inventar nada, está tudo dito. É bem provável que seja verdade, ainda assim não é possível ficar indiferente aos resultados desta mescla de estéticas tão diferentes. Lançado em finais de janeiro, chega-nos a aventura entre “Chris Thile & Brad Mehldau”. O disco foi gravado ainda em 2015, depois de duas noites musicais no Bowery Ballroom, em Nova Iorque. De Melhdau já se ouviu muitos e bons discos em dueto, este não foge da categoria. “The Old Shade Three” abre esta partilha entre originais e reinterpretações. O piano entra a preencher o leve ‘strumming’ de Thile no bandolim. Aliás, esta é uma das virtudes deste disco - o bandolim, instrumento que muitos deixariam colado aos limites da sua própria tradição. A voz de Chris Thile adensa as nuances folk e bluegrass. Piano, bandolim e voz alternam no protagonismo, quando Chis canta não ouvimos só essa ligação entre melodia e harmonia, está a desenhar uma outra cor nesse movimento conjunto. No disco sentimos as variações entre linguagens, ora

Chris Thile & Brad Mehldau Editora

Nonesuch Records

2017

estamos mais próximos do folk, ora mais próximos do jazz, ora no meio termo certo. Para os eternos apaixonados e perdidos de amor escutamos “I Cover The Waterfront”, longa balada de John Green e Edward Heyman; para saudosistas da canção popular americana, a merecida homenagem a Bob Dylan com “Don´t Think Twice, It’s Alright”; destaque ainda para a faixa “The Watcher”, de Brad Mehldau. O álbum termina ainda uma canção tradicional irlandesa “Tabhair Dom do Lámh”. Na troca de improvisos faz-se este disco a dois. Das raízes faz-se ponto de partida para novas camadas. “Chris Thile & Brad Mehldau” é uma boa mostra de como regressar aos cancioneiros tradicionais.

A Cabra aconselha

LIVRO Submissão, ou a vã glória de escrever - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

7

de janeiro de 2015. O dia, em França e no mundo, fica para a história pelas piores razões, o ataque à redação do jornal satírico “Charlie Hebdo”. Todavia, é também a data do lançamento de “Submissão”, antepenúltimo livro do escritor francês Michel Houellebecq, que antes de o ser já era polémico. De polémico tem, contudo, pouco, muito pouco. O que parece ser uma obra crítica do islamismo é, isso sim, um duro discurso sobre uma apatia generalizada na Velha Europa. Houellebecq induz um sentido provocatório, a começar pelo título, que vai buscar à etimologia de islam, a palavra árabe que está na origem de Islão e cuja definição é submissão à vontade de Deus. Mas rapidamente abandona essa intenção, colocando o leitor numa França em 2022, à beira da eleição do primeiro Presidente da República muçulmano, fruto da descrença generalizada na classe política e numa substituição recorrente entre partidos de centro direita e centro esquerda. O protagonista, François, é o catalisador da passagem das páginas, professor universitário numa crise de identidade, espiritual, perdido entre os casos com alunas e as divagações mentais que vão mostrando a evolução de uma Paris que abandona, a meio do livro, para a

reencontrar islamizada. O sociólogo alemão Ulrich Beck escreveu bastante sobre o conceito de cosmopolitização. E é como se esta França de Houellebecq sofresse um processo de cosmopolitização, uma globalização a partir de si própria, num certo sentido dos seus indivíduos amorfos que não reagiram às transformações aceleradas nas suas identidades quotidianas. E, em “Submissão”, não está em causa a discussão. A grande pecha é o preenchimento da obra, é o dar corpo a esses indivíduos, a par de devaneios escritos sem qualquer sustentação, como a viagem de François a Inglaterra para conhecer editores. O núcleo do livro, uma reflexão interligada entre liberdade, política e religião, perde-se, fica aquém pela escolha de um protagonista desinteressante e pouco carismático, talvez a imagem de uma sociedade europeia em decadência num século XXI marcado por um desligamento da realidade e do mundo.

Submissão De

Michel Houellebecq

Editora

Alfaguara Portugal

2015 Podia ser pior


Mais informação disponível em

EDITORIAL - POR CAROLINA FARINHA -

Aproximação estudantil na Europa O programa de mobilidade do Ensino Superior, Erasmus, comemora 30 anos. Apesar da sua já longa existência, não deixa de ser atual. Muito pelo contrário, o sucesso do próprio é visível através do crescente número de alunos que usufrui da possibilidade de realizar uma experiência fora do país. As centenas de protocolos com universidades estrangeiras, bem como a facilidade de conhecer outra cidade atrai um grande número de estudantes, o que permite levar o nome da Universidade de Coimbra (UC) ao resto da Europa. No entanto, Erasmus não funciona de forma unilateral, mas visa um intercâmbio de estudantes, o que levou à criação de um órgão denominado Erasmus Student Network, que une alunos do programa de mobilidade, ao auxiliá-los na cidade que os acolhe. A UC ganha também com o intercâmbio da comunidade estudantil, ao abrir portas a alunos estrangeiros, o que permite a sua internacionalização. Apesar das vantagens existentes para os estudantes que integram Erasmus, o maior problema prende-se com a atribuição de bolsa para o efeito - ou falta dela, que é fator impeditivo para a realização do programa de mobilidade. Se os alunos são também fator determinante para impor o nome da UC entre a população académica internacional, não deveriam os estudantes da universidade ter mais facilidade no acesso às bolsas? O ensino não deveria privilegiar também mais agilidade no processo, ao mesmo tempo que diminui a documentação necessária?

A UC ganha também com o intercâmbio da comunidade estudantil, ao abrir portas a alunos estrangeiros, o que permite a sua internacionalização.”

Ficha Técnica

Diretora Carolina Farinha

Paginação Carolina Farinha

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Carlos Almeida e Rita Flores

Ilustração João Ruivo

Equipa Editorial Rita Flores (Ensino Superior), Carlos Almeida (Cultura), Rita Fonseca (Desporto), Mariana Bessa (Ciência & Tecnologia)

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt

Fotografia Hugo Guímaro Colaboraram nesta edição Lauren Bento, Carolina Cardoso, Pedro Chaves, Hugo Guímaro, Simão Mota, Ana Francisca Nunes, Joana Pedro, Daniela Pinto, Cristina Oliveira, Sofia Santos, Pedro Silva, Pedro Dinis Silva, Ricardo Silva, Isabel Simões, Rafael Soares JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaboradores Permanentes Inês Duarte, Filipe Furtado, João Ruivo, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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