Edição 282 - Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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14 DE MARÇO DE 2017 ANO XXVII Nº282 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA CAROLINA FARINHA

HUGO GUÍMARO

Falta de consenso no balanço do RJIES Regime Fundacional levanta necessidade de revisão do documento de regulação das instituições de Ensino Superior PÁG. 3

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ENSINO

FCDEFUC propícia a não pagar mais renda ao Estádio Universitário de Coimbra. Investimentos no pavilhão 2 preveem melhoria das instalações - PÁG. 5 -

CULTURA

O músico e cantor de intervenção, José Afonso, é homenageado com concerto de tributo preparado por grupos da academia, 30 anos após a sua morte - PÁG. 6 -

DESPORTO Incentivo à atividade desportiva entre cidadãos conimbricenses é objetivo do evento promovido pela Câmara Municipal de Coimbra - PÁG. 7 -

CIÊNCIA

Compreender a consciência humana é dos maiores desafios da ciência. Reproduzi-la e criar máquinas inteligentes é uma realidade distante, mas possível


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MILENÁRIO DOS GALIFÕES RECORDA MARCOS DO PASSADO Do desporto à culinária, diversas são as propostas de atividades apresentadas aos estudantes e à cidade. Ao fim de 70 anos recorda-se o papel da república nas crises académicas - POR LUÍS ALMEIDA E INÊS FERREIRA HUGO GUÍMARO

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onhecidos como os “reis da grande capoeira que é a alta”, a República dos Galifões comemora sete décadas de existência. Atividades de cariz lúdico, social, político e cultural são a proposta feita pelos membros, para um mês dedicado aos momentos marcantes da sua história. Com início celebrado a 7 de março e término agendado para dia 8 de abril, as comemorações destacam a luta por parte da comunidade estudantil. “Resistimos, continuamos!” é o mote deste mês cujo principal objetivo é enfatizar a “envolvência e preponderância” dos estudantes durante estes anos, como explica o galifão-mor, Tiago Mendes. Um conjunto de atividades onde “se podem focar diferentes áreas, desde a cultura ao desporto”, acrescenta. Mantiveram-se algumas iniciativas dos centenários e organizaram-se novas, em específico, para este sétimo milenário. De entre essas destacam-se, como uma homenagem aos intervenientes na crise académica de 1962, uma ‘performance’ de comédia e um encontro de tunas universitárias de Coimbra. Tiago Mendes conta que, em 1947, “um grupo de amigos foi viver para uma casa que, ao longo do tempo, ganhou vida própria devido às experiências que lá se passavam”. Sempre “desenharam” um espaço de vivência comunitária, debate e intervenção política e cultural, acrescenta o galifão-mor. A República dos Galifões teve um papel ativo dentro da academia, em especial nas crises académicas de 1962 e 1969, devido “às suas causas

associativas, ligações à esquerda e oposição ao regime”. Deixou de ser república em 1972 e passou a ser a comuna dos galifões. 13 anos mais tarde, por “questões político-praxistas, a casa foi incendiada”, refere Tiago Mendes, que realçou ser um dos marcos da história. “Grão a grão vai ser feita a reconstrução”, era o lema de um conjunto de antigos membros que, ao longo de 10 anos, trabalharam para reerguer de novo a república. “A casa pode ter ardido, mas as memórias permanecem intactas”, afirma o galifão-mor. “Todas as repúblicas são diferentes umas das outras”, esclarece Jorge Silva, candidato a residente, ao referir que o que pode distinguir os galifões das outras casas é a capacidade de se manter atual na academia. Dentro da república, no que toca a moradores, existem os galifões e os candidatos a residente. Tiago Mendes explica que um estudante fora da casa pode ser veterano mas, quando entra, é sempre considerado “caloiro”. Existem também os comensais e os candidatos a comensais. Os primeiros são os galifões que não têm quarto na casa, apenas participam nos momentos de refeições e outras atividades. Tiago Mendes clarifica que “um repúblico uma vez disse que viver um ano numa república equivale a viver 100 anos numa casa do quotidiano”. É esta a razão que justifica a comemoração de um milenário a cada 10 anos. No presente aniversário, a República dos Galifões espera adesão à panóplia de atividades que organizaram com vista à convivência entre todos os estudantes.

RENDA DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO NÃO É CONSENSUAL Preços praticados pelo uso do estádio são “incomportáveis” para as secções da AAC. FCDEFUC prevê novo auditório e mais espaços laboratoriais - POR ANTÓNIO LADEIRA E ISABEL SIMÕES -

Nas comemorações do 25º aniversário da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC), o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, manifestou a intenção de a isentar do pagamento da renda de espaços do Estádio Universitário de Coimbra (EUC). Quanto às secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC), o pagamento mantém-se. Por sua vez, o vice-reitor para o Deporto da UC, Amílcar Falcão, declara que “vão ser feitas mais obras no EUC”, o que representa o “investimento que a reitoria está a fazer para proporcionar melhores condições aos estudantes da UC”. O EUC nasceu em 1963 e, de então para cá, tem albergado as secções desportivas da AAC. Nos mais de 50 anos de vida, o conjunto de infraestruturas acolheu milhares de estudantes e de conimbricenses. No dia 1 de setembro de 2016 entraram em vigor as novas taxas de utilização das instalações do EUC e o pagamento é diferenciado entre estu-

dantes da UC, seccionistas, docentes, funcionários e público em geral. Os preços praticados às secções desportivas da AAC foram alvo de algumas queixas por parte das mesmas. “Os valores cobrados pela renda do estádio são incomportáveis”, afirma o presidente da direção da Secção de Rugby da AAC (SR/AAC), Paulo Jorge Picão. Na tabela consta o valor de 8250 euros por ano, pela utilização de 6 horas por semana do campo de rugby. O presidente da SR/AAC revela ainda que o assunto foi entregue ao Conselho Desportivo (CD) da AAC. A revisão dos valores estipulados em tabela tem merecido a atenção dos dirigentes da academia. “Tem-se lutado por uma revisão da tabela”, afirma o secretário-geral do CD da AAC, Miguel Franco. O descontentamento das secções é também confirmado por Elisabete Santos, vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), com o pelouro do Desporto Universitário. Elisabete Santos informa que a DG/AAC está a “tentar apelar por boas con-

dições de treino” e dá como exemplos “a limpeza e o material que existe,” que estão por conta da UC. As secções desportivas que praticam as suas modalidades no EUC partilham espaços de treino e competição com a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra e é consensual a boa relação entre as duas entidades. Contudo, Miguel Franco realça que “o estádio é da UC e, por isso, a faculdade tem prioridade” no uso das instalações. Associado ao novo paradigma de desporto universitário na Universidade de Coimbra, o diretor da FCDEFUC, António Figueiredo, afirma estarem previstas “algumas melhorias, incrementos espaciais e infraestruturais para a faculdade”. O pavilhão 2 vai sofrer uma intervenção no próximo ano letivo. António Figueiredo revela que está previsto um auditório com 200 lugares e espaços laboratoriais. Em relação à questão das instalações, o diretor da FCDEFUC reitera que “é um requisito de dignidade de trabalho”, para todos.


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UMA DÉCADA DE RJIES POLARIZA OPINIÕES Garantir representação de todos os corpos universitários é preocupação da academia. Com cinco anos de atraso na sua revisão, a DG/AAC pretende apresentar proposta alternativa - POR SIMÃO MOTA E DANIELA PINTO -

As pessoas e as universidades portuguesas ainda não se adaptaram de modo pleno àquilo que é o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior [RJIES]”. Esta é a opinião defendida pelo reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, após 10 anos da sua implementação. Sob o ponto de vista da autonomia das instituições, o reitor declara que “o RJIES não foi tão longe como devia”. Explica que “cria complexidades desnecessárias, como o caso do Regime Fundacional [RF], que condiciona parte da autonomia das universidades e causa constrangimentos dispensáveis”. Ernesto Costa, representante dos docentes no Conselho Geral (CG), adjetiva como “polémico” o próprio debate em torno desta temática. Justificase pela razão de “não existir grande possibilidade” da comunidade universitária, que “não concorda com esse caminho, participar na discussão ou decisão”. O representante do CG considera que o percurso que tem sido seguido “não é o melhor”, pois “veio reforçar o poder de alguns órgãos”. O presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Alexandre Amado, que, no passado dia 1 de março, fez um discurso sobre a necessidade de revisão do RJIES, considera que “este modelo de governação não é correto”. Acima de tudo, “não é justo”, clarifica. O dirigente associativo máximo refere que a DG/ AAC pretende apresentar uma proposta de alteração do RJIES que, “debatida em Assembleia Magna, reúna um consenso alargado na comunidade estudantil”. Medidas alternativas para o RJIES Na opinião de Alexandre Amado, a solução passa por fazer uma “reforma democrática da universidade, que inclui colocar mais estudantes nos seus órgãos de governação e garantir que todos

os corpos universitários estejam representados em maior número que as entidades externas”. Por sua vez, Ernesto Costa defende que “deve haver uma assembleia da universidade com o poder de eleger o reitor”. Este seria “um órgão semelhante ao Senado, com o poder que hoje tem o CG, mas em que assente apenas a comunidade universitária, numa proporção que equilibre os três corpos que a integram”. “Muito positivo” é o valor que o reitor da UC atribui ao RJIES após uma década desde a sua implementação. Refere que este “permite uma abertura e cumpre um papel decisivo para que se continue a satisfazer as necessidades da sociedade”. Justifica, assim, que “quantas mais pessoas, com diferentes perspetivas, participarem nas decisões estratégicas da universidade, mais a UC está integrada na sociedade”. O representante do CG menciona ainda a possibilidade, apresentada pelo RJIES, das universidades passarem a Fundação, através da alteração da natureza jurídica das instituições de ES. Argumenta que, neste caso, se acresce aos órgãos de gestão um Conselho de Curadores constituído por cinco elementos externos à universidade. Por sua vez, este novo órgão “passa a ter o poder de decisão sobre tudo aquilo que antes era determinado pelo CG”, explica Ernesto Costa. Regime Fundacional é principal foco João Gabriel Silva nunca concordou com “a ideia de que, para ter mais autonomia, as universidades tenham de entrar no Regime Fundacional”. Na mesma corrente, acrescenta ainda que o que “está errado” no RJIES é a UC “ter de passar a Fundação para poder contratar, como pelo Regime do Código de Trabalho”. Fruto do surgimento do Conselho de Curadores, “os elementos externos [que o constituem]

vêm aumentar a diversidade das contribuições que confluem nas decisões da universidade”, defende o reitor da UC. “Escolhidos pelos internos e votados no CG”, João Gabriel Silva fundamenta que “a ideia de que o Regime Fundacional é uma privatização do ES é uma mitificação plena”. Em relação aos efeitos do RJIES nos cursos e nas suas reestruturações, o reitor refere que a “avaliação da influência da lei aprovada em 2007 se complica”. O Processo de Bolonha, transformação que ocorreu na sequência da sua implementação, “alterou os parâmetros de funcionamento das universidades” e, por isso, “é também difícil dizer-se qual a influência do RJIES nos cursos”. No que diz respeito às campanhas de mobilização dos estudantes previstas pela DG/AAC, Alexandre Amado esclarece que “foi uma necessidade que se sentiu de informar a comunidade académica”. Considera que “está na altura de se iniciar um novo ciclo do movimento estudantil”. O papel dos estudantes deve ser o de “agentes transformadores da realidade em que se inserem”, acrescenta o presidente da DG/AAC. A discussão em torno do RJIES surge passados 10 anos da sua publicação e aprovação por parte da Assembleia da República. Com cinco anos de atraso na sua revisão, polariza os diversos quadrantes da academia, embora não estejam previstas alterações no mesmo. Regula as constituições, atribuições, organização e funcionamento dos órgãos de ES, como também a tutela e fiscalização pública do Estado sobre as mesmas. O disposto na presente lei aplica-se a todos os estabelecimentos de ES que têm como intuito a qualificação de alto nível dos seus alunos e das formações cultural, artística, tecnológica e científica dos seus estudantes. HUGO GUÍMARO


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WORLD SPEECH DAY CELEBRA O PODER DA PALAVRA “Procurar quem tenha uma ideia para partilhar e que a mesma possa mudar o mundo” é o lema do evento acolhido, pela primeira vez, em Portugal - POR INÊS NEVES E RAFAEL SOARES -

World Speech Day é um evento criado para valorizar a importância dos discursos, das palavras e da oratória”, introduz Vera Cunha, membro do Coimbra Toastmasters Club, grupo que se dedica ao aperfeiçoamento da comunicação em público. Criada em 2016 por Simon Gibson, escritor britânico, a iniciativa tem, pela primeira vez, lugar em território nacional. A Oficina Municipal do Teatro é o lugar que acolhe o World Speech Day, amanhã, dia 15. Segundo o membro do grupo, o gosto pela comunicação, partilhado por ambas as organizações, provocou a mediação do contacto entre Vera Cunha e Simon Gibson, através das redes sociais. Vera Cunha explica que o nome do grupo advém da palavra anglófona ‘toast’, que significa brinde, e que um ‘toastmaster’, que se traduz por mestre do brinde é, de forma geral, alguém “que tem o dom da palavra e consegue falar em público de uma forma bem estruturada e organizada”. Nesse sentido, por “pretender desenvolver competências de comunicação e liderança”, o clube decidiu trazer a iniciativa para Portugal. “É um evento que trata a comunicação para uma audiência e a importância que a mesma tem em tudo o que fazemos na vida”, elucida Vera Cunha. Isabel Gomes, também membro do Coimbra Toastmasters Club, acrescenta que “a missão do grupo e a do World Speech Day coincidem em muitas áreas”. Desta forma, “faz todo o sentido apoiar este evento”, visto que “dar voz a todos os interessados” é uma pretensão de ambas as organizações. De acordo com Vera Cunha, o objetivo central do World Speech Day “não passa pela estimulação

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da interação”, mas sim “pela exposição de ideias que, durante cinco minutos, inspirem o público a mudar de alguma forma”. Deste modo, “de entre um leque de tudo aquilo que os eventos possam ser”, a abertura à comunidade é a opção tomada pelo Coimbra Toastmasters Club, explica. Isabel Gomes avança que é esperada uma adesão “bastante positiva”. Vera Cunha acrescenta que “são esperadas pelo menos cem pessoas, entre oradores e audiência”. O membro considera que a importância de chegar “a um público numeroso” é explicada pelo conceito original do evento, estabelecido por Simon Gibson, que tem como base encontrar “vozes inesperadas”. Apesar de já terem sido convidadas “algumas pessoas que valorizam o evento”, o interesse em encontrar oradores reconhecidos é ofuscado pela necessidade de “procurar quem tenha uma ideia para partilhar e que a mesma possa, de alguma forma, mudar o mundo”, concretiza Vera Cunha. A força da palavra e do discurso é uma ideia presente em qualquer Toastmasters Club. Para Isabel Gomes, “o poder é tal que ainda não foi possível perceber muito bem o seu alcance”. Através “das palavras ditas, do contexto que as envolve e da forma como são expressas” é possível “causar uma motivação no interlocutor”, que pode levá-lo a “melhorar enquanto cidadão, profissional ou familiar”, ilustra o membro. Vera Cunha exemplifica que “uma pessoa pode ficar mais satisfeita durante o dia se lhe for feita uma crítica construtiva, com uma boa comunicação, isso faz com que seja melhor profissional”. Assim, através da palavra, “é possível mudar o mundo”, conclui.

LUGAR DA FÉ NO QUOTIDIANO ESTUDANTIL “Agitar o pensamento das pessoas, questionar algumas coisas em que sempre acreditaram e promover a fé cristã” são os principais objetivos dos eventos promovidos pelo Grupo Bíblico Universitário - POR ALEXANDRA FERNANDES E PEDRO DINIS SILVA -

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o contexto da celebração dos 500 anos da reforma protestante que acontece em 2017, surge o projeto “Deus? Só visto!”, dinamizado pelo Grupo Bíblico Universitário (GBU) de Coimbra. Segundo a presidente do GBU de Coimbra, Beatriz Felgueiras, o evento vai desenvolver-se em torno de um ciclo de atividades que visam “criar uma troca de ideias entre cristãos e não cristãos”. A iniciativa toma lugar em diferentes espaços culturais da cidade, entre os dias 14 e 16 de março. “Nota-se que as pessoas não acham relevante discutir este tipo de temas nos dias de hoje”, explica Beatriz Felgueiras. “Conversas sobre a (ir)relevância da fé cristã hoje” é o subtítulo da iniciativa promovida pelo GBU, cujo objetivo é “promover o diálogo sobre esta crença na universidade e refletir sobre isso todos os dias”, completa o assessor do GBU de Coimbra, Joe Clarke. A primeira noite do projeto acontece hoje na Sala do Carvão da Casa das Caldeiras e conta com a

presença de Jónatas Pires e João Monteiro da banda portuguesa Os Pontos Negros. Os artistas “vão tocar alguns temas com o propósito de mostrar, através da música, como é que se aplica a Bíblia ao longo da vida, numa espécie de café-concerto”, esclarece Beatriz Felgueiras. A presidente do GBU justifica a escolha do convidado ao sublinhar que Jónatas Pires é “conhecido fora do meio cristão”, de modo a que o evento “apele não só aos crentes, mas a qualquer pessoa que não professe a mesma fé”. “Ter ou não ter fé, uma conversa entre um cristão e um ateu” é o tema da atividade que tem lugar na noite de dia 15. Consiste num debate entre Manuel Rainho, autor e professor na Universidade Católica Portuguesa, e o fundador e atual presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), Carlos Esperança. “Cada um vai defender a sua causa e expor o seu ponto de vista”, clarifica Beatriz Felgueiras.

A terceira e última noite, 16 de março, conta, uma vez mais, com a presença de Manuel Rainho, que pretende “apresentar um pouco do Jesus da história e da fé, bem como tentar mostrar que foi uma pessoa verdadeira, que existiu, e o que os cristãos pensam sobre ele”. “Trazer temas interessantes e cativantes que provoquem a reação dos estudantes, de modo a que eles reflitam e venham dar as suas opiniões” é também uma das principais razões da realização da iniciativa, sublinha Beatriz Felgueiras. Realça ainda o desinteresse, por parte dos jovens, neste tipo de atividades, ao referir que “a indiferença não possibilita a mudança. Quando há oposição e interesse, há possibilidade de conversa”. No que toca à participação dos estudantes o vice -presidente do GBU de Coimbra, Paulo Carvalho, considera que “a mensagem transmitida contrasta com a realidade universitária”. Contudo, mostrase otimista em relação à adesão estudantil.


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O “HOMEM QUE NUNCA ESQUECEU COIMBRA” O “companheiro” que cantava o protesto à ditadura junta grupos da academia. “Somos José Afonso” é a ideia principal dos presidentes da TAUC e do OAC - POR JOANA CAMPINHO, ANA FRANCISCA NUNES E JOANA PEDRO -

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Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) foi o local escolhido para homenagear Zeca Afonso, 30 anos após a sua morte. O evento, que integra o programa da 19ª edição da Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC), vai decorrer no dia 17 de março, com início previsto para as 21h30. A iniciativa une a Tuna Académica da UC (TAUC) e o Orfeon Académico de Coimbra (OAC) que preparam um concerto para celebrar a data. “A saudade não pode ser traduzida”, afirma o presidente da TAUC, Ricardo Peres, ao explicar o nome atribuído ao evento, “Zeca Afonso – 30 anos de Saudade”. Este é, de acordo com o mesmo, o sentimento que se tem por quem partiu, mas que deixou em Coimbra e na academia a sua marca e a sua música. José Afonso participou de forma ativa na TAUC e no OAC, por isso se justifica, segundo Ricardo Peres, a ligação dos dois grupos. A ideia de organizar o evento “surgiu da responsabilidade para com a pessoa, o símbolo e o trabalho que realizou em Coimbra”, acrescenta. O objetivo dos dois grupos passa por conjugar as peças mais marcantes do fadista “num espetáculo diferente do que se está habituado”, admite o presidente do OAC, André Leite. “É comum associar-se Zeca Afonso a espectáculos a solo, acompanhado por guitarra”, completa o presidente da TAUC. “O que se fez foi uma adaptação aos grupos”, afirma Ricardo Peres, ao referir-se à lista de músicas que vai integrar o concerto de tributo. O que pretendem trazer ao público vai muito para além do que é a música popular, “são canções muito complexas a nível harmónico”, assegura o presidente da Tuna Académica da Universidade de Coimbra. ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

Quando José Afonso era só Zeca “Quem somos?” é o mote da Semana Cultural da UC e a pergunta a que André Leite responde: “Somos José Afonso”, o fadista que é conhecido como “trovador da liberdade”. Estudou na Escola Secundária José Falcão, em Coimbra, e prosseguiu os seus estudos na Faculdade de Letras da UC. Frequentava ainda o liceu quando foi chamado a integrar a digressão da TAUC pelo continente africano, facto que assustou os membros integrantes da tuna. “Era ainda muito jovem”, acrescenta André Leite. A propósito da digressão por África, o presidente do OAC dá ainda o exemplo de como o fadista enquanto jovem já demonstrava talento. “A Balada de Outono, que é umas das grandes peças dele, foi escrita num navio com o Orfeon”, conta. “Segundo pessoas que viram, Zeca Afonso estava no barco a olhar para o mar e a dizer que não voltaria a cantar. Daí veio a letra”. José Afonso, enquanto estudante e após a sua formação, foi um dos integrantes do café A Brasileira, espaço frequentado por intelectuais de esquerda, pintores e jornalistas. Um dos jornalistas era pai de Rui Pato, que, com apenas 16 anos, começou a acompanhar o fadista na guitarra, quando este tinha já 32 anos. Rui Pato declara que o momento em que o músico o conhece e o escolhe para ser seu acompanhante foi o mais marcante da sua vivência com o “homem que nunca esqueceu Coimbra”. Este viu, em Zeca Afonso, um modelo a seguir. Trabalhar com um “indivíduo superior a nível intelectual, um artista com qualidades fora de série, com um gosto e uma cultura enorme” é tida como uma “experiência excecional” pelo músico. “Ele era um companheiro”, relembra ao falar das experiências por que passaram ao cantar canções

de protesto. Rui Pato destaca um concerto que os dois deram na vila da Baixa da Banheira, no distrito de Setúbal, num período de ditadura, para uma plateia composta apenas por membros do Partido Comunista Português. Durante a atuação estavam também presentes elementos da Polícia Internacional e de Defesa do Estado e da Guarda Nacional Republicana. “Muitas vezes temos tendência a mitificá-lo”, considera Rui Pato, que admite que José Afonso “é quase visto a representar o papel do Che Guevara português”. Acrescenta que o fadista era “um indivíduo comum, divertidíssimo e com bom sentido de humor”. O presidente do Orfeon não deixa de apontar que as peças interpretadas no concerto transparecem a alegria e o espírito ativo que é várias vezes associado a Zeca Afonso. A atualidade da música de intervenção “Primeiro estranhou-se, depois entranhou-se”, assim define Rui Pato a música do fadista. Embora as suas canções tenham mais de três décadas, “deixou uma grande marca a nível político, mas mais do que isso, cultural”, declara André Leite. As letras que escreveu transmitem também o lado pessoal do músico, “consoante o estado de espírito e momentos por que passou”, declara o presidente da TAUC. Acrescenta que as músicas “não são apenas uma questão de tradição, uma vez que é um conceito que vai contra todas as ideias que Zeca Afonso defendeu”. Explica ainda que foi nesse sentido que a academia de Coimbra conseguiu evoluir para manter José Afonso vivo. “É impressionante como um homem pode deixar uma marca tão grande só com a música”, declara Ricardo Peres. Um dos objetivos que o presidente da TAUC pretende concretizar com o concerto é “reforçar que as letras que Zeca Afonso escreveu há 50 anos continuam atuais”. Trabalham com o intuito “de assinalar a música dele e de reforçar que continua atual”, acrescenta. O guitarrista de José Afonso fala sobre a “estranheza” que a música do fadista causou em Coimbra. “Existiram anticorpos contra as suas letras de protesto ”, por parte “da direita, da repressão e da academia”, que as consideravam o “quebrar da tradição”. “A intervenção acaba sempre por ser atual porque existem motivos: quando há ditaduras, quando não há democracias perfeitas e quando há prepotência”, declara Rui Pato. O guitarrista acrescenta ainda que, como José Afonso tem uma vasta obra no que diz respeito a canções de contestação, o que acontece “é que as suas músicas e os seus poemas ainda hoje são usados sempre q ue é necessário mostrar um grito de revolta”. Mais tarde, as mensagens que transmitiu nas suas músicas percorreram em uníssono o país. “A esquerda passou a perceber as suas canções”, afirma. Rui Pato não duvida que “há uma canção portuguesa até Zeca Afonso e outra depois dele”. Ambos os presidentes esperam muita adesão na noite em que pretendem celebrar o fado, por aquele que “cantou Coimbra”. Rui Pato espera que o concerto seja um momento de reflexão e “que sirva para que os jovens se inteirem da obra de Zeca”.


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JOGOS DE COIMBRA REGRESSAM AO FIM DE 16 ANOS Competição procura incentivar o maior número de pessoas a apostar na prática desportiva. Com fim previsto para julho, vão ser atribuídos prémios de participação a todos os jogadores - POR CAROLINA CARDOSO, PEDRO CHAVES E SOFIA SANTOS HUGO GUÍMARO

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mês de março dá o “pontapé de saída” para a 14.ª edição dos Jogos de Coimbra, organizados pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Esta iniciativa centra-se na “ideia do desporto para todos”, como afirma o vereador do desporto da CMC, Carlos Cidade. Trata-se de uma competição que é, na fase inicial, entre equipas da mesma freguesia e, mais tarde, numa fase final, entre as apuradas de cada freguesia. O futebol, o futsal, o basquetebol, o voleibol, a natação, o atletismo e os jogos tradicionais são as modalidades que fazem parte do evento. Contudo, para além destas, também se vai realizar uma competição de “mini-triatlo”, como experiência para futuras edições. O desporto adaptado faz ainda parte da oferta do evento, com basquetebol, natação, boccia e atletismo. Atividade incita à prática desportiva informal “Por iniciativa da CMC do executivo de Manuel Machado”, em 1989, foram criados os Jogos de Coimbra, como indica o vereador do desporto da CMC. O evento cresceu nos anos seguintes e tinha como objetivo “envolver os cidadãos e as comunidades locais na prática desportiva”, explica. Porém, terminaram em 2001. Entretanto, o atual presidente da CMC, Manuel Machado, entendeu, “no início do mandato, recriar este programa”. A política definida para este ano centra-se em “incentivar a participação de pessoas que, por norma, não praticam desporto e criar hábitos de prática desportiva”, elucida Carlos Cidade. A ideia passa por serem as pessoas a organizarem-se, por oposição à participação de clubes. Outro dos objetivos é “as associações aproveitarem este evento para encontrar novos atletas”, explica.

Carlos Cidade considera que a adesão “corresponde às expectativas, com cerca de 300 a 500 participantes inscritos”. Acrescenta ainda que “a oferta desportiva é muito maior” do que na altura em que se realizaram as outras edições, o que “permite que algumas modalidades tenham mais atletas”. No sentido de estabelecer continuidade, “é necessário manter os Jogos de Coimbra de forma regular, bem como aperfeiçoar a sua organização”, afirma o vereador do Desporto da CMC. No entanto, refere que a publicidade para as inscrições “de certeza que não chegou a todas as pessoas, podia ter sido feito mais”. O presidente da Junta de Freguesia de Eiras, Fernando Abel, considera que “tem havido uma boa receção aos Jogos de Coimbra”. Diferentes espaços do distrito acolhem o evento Vão ser utilizadas as piscinas municipais, bem como as instalações e estádios desportivos da cidade, à exceção do Estádio Universitário de Coimbra. Isto deve-se ao facto de a organização não tencionar retirar tempo e espaço aos atletas das secções desportivas da Associação Académica de Coimbra. Por exemplo, a ginástica não está incluída nas modalidades disponíveis devido ao facto de “esta necessitar de muitas condições técnicas”, explica Carlos Cidade. A fase final desta competição está prevista para julho, de modo a coincidir com as festas da cidade de Coimbra. O vereador do desporto da CMC adianta que se pretende fazer, na altura do encerramento desta edição, uma associação entre os Jogos de Coimbra e os Jogos sem Fronteiras. Fernando Abel espera que esta iniciativa “mobilize muitas pessoas e que seja um momento de con-

vívio, alegria e animação na cidade”. O presidente da Junta de Freguesia de Eiras acrescenta que esta competição permite “o crescimento individual dos jovens, ao possibilitar que evoluam as suas capacidades de organização e responsabilidade”. Iniciativa tem caráter gratuito de modo a atrair mais pessoas O destaque do evento é centrado no incentivo de cidadãos não federados a participar em práticas desportivas. Assim, as idades mínimas e máximas para participação nos Jogos de Coimbra variam consoante o desporto. No caso do futebol, o evento procura equipas de crianças entre os 5 e os 8 anos de idade, já que a prática futebolística federada apenas começa aos 9 anos. Desta forma, as equipas têm a possibilidade de competir pela primeira vez. Quanto ao futsal, devido ao facto de, no concelho, existir uma prática federada intensa, decidiu dar-se a possibilidade a não-federados de competir. Para isso, vão participar equipas de veteranos, a partir dos 45 anos de idade. Já no basquetebol, as crianças até aos 12 anos também se podem inscrever. O atletismo e a natação acolhem atletas de todas as faixas etárias. Todas estas atividades, tanto para os participantes como para o público, não necessitam de pagamento, de modo a incentivar o maior número de pessoas a inscrever-se. “A única coisa que se paga é o seguro desportivo, mas esta despesa é suportada pela Câmara Municipal de Coimbra”, refere Carlos Cidade. O objetivo é privilegiar “a participação ao invés da competição”, conclui o vereador. Assim, como forma de recompensa, os prémios atribuídos vão ser apenas de participação.


14 DE MARÇO DE 2017 CIÊNCIA E TECNOLOGIA -7-

A REALIDADE DA CONSCIÊNCIA ARTIFICIAL “Entender o que está mal e como pode ser melhorado”. Numa sociedade tecnológica, a Inteligência Artificial surge como forma de entender o comportamento humano - POR HUGO GUÍMARO E CRISTINA OLIVEIRA -

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hora de ponta e, nas ruas, há uma legião de carros. Pelo caminho, encontra-se uma série de semáforos que controla o movimento da cidade. De repente, todos deixam de funcionar. O que vai acontecer? O cenário parece improvável, assim como as máquinas controlarem a sociedade. No entanto, a tecnologia está cada vez mais presente no quotidiano e a tendência é para aumentar a autonomia e a inteligência da mesma. A essa busca pela perfeição nas máquinas dá-se o nome de Inteligência Artificial (IA). Os desenvolvimentos na IA avançam lado a lado com a evolução da tecnologia e, na atualidade, em muitas situações, a decisão já é tomada por computadores. Desde os semáforos, às transações bancárias ou aviões não tripulados, houve uma revolução na forma como as pessoas trabalham, consomem e interagem entre si. Porém, para entender a IA, é preciso compreender como funcionam o cérebro e a consciência humana. A construção de máquinas inteligentes Considerada como “a marca distintiva dos seres humanos”, a consciência é “a capacidade de ter a noção de que as pessoas que nos rodeiam existem”, mas também “de que nós próprios existimos”, explica Ernesto Costa, docente na Facul-

dade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). A definição de consciência permanece vaga por ser algo “que não se entende” e da qual ainda “não se consegue criar um modelo”. Para já, apesar da sua complexidade, sabe-se que é algo possível de alterar. Seja através de anestesia, coma induzido ou medicamentos. Para entender a IA é também necessário saber o que é a inteligência. Esta, tal como a consciência, ainda não possui uma definição sustentada. Contudo, o ser humano tem a capacidade de olhar para algo e reconhecer a inteligência de um comportamento. Foi ao olhar para as atividades que requerem raciocínio, como resolver um problema matemático, que foi possível extrair um conjunto de princípios abstratos. Esses, ao serem inseridos num computador, levaram a que as máquinas conseguissem procurar soluções para problemas que lhes eram apresentados, como expõe o docente. No entanto, se não se conhece na perfeição o que é a inteligência ou a consciência, porquê tentar reproduzi-las? Para Ernesto Costa, mesmo sem se conhecer por completo os processos, “pode-se construir um modelo que se aproxima desses” e aproveitá-lo para “entender o que está mal e como pode ser melhorado”. Além disso, garante que se quer “máquinas cada vez mais perfeitas para que a capacidade de viver seja aumentada”.

Já Bernadete Ribeiro, docente na FCTUC, aponta que “o homem sempre demonstrou uma capacidade de reconhecimento de padrões” e isso foi algo que “suscitou o interesse em construir máquinas inteligentes que emulassem o comportamento humano”. Emoções em Agentes Artificiais Em torno da IA surgem alguns problemas morais e éticos. Um deles remete para a questão do que vai acontecer se a sociedade for “dominada” por agentes artificiais e não humanos. “O ser humano já é governado pelas máquinas”, alega Ernesto Costa, e, em determinadas “situações que podem significar vida ou morte, a decisão é tomada por computadores”. Apesar dos avanços que se têm verificado, “ainda se está longe de conseguir dotar as máquinas de inteligência”, confessa Bernadete Ribeiro. O objetivo é criar uma à semelhança do ser humano e já existe uma área dedicada à reprodução de emoções nos robôs, ainda que recente. Para finalizar, Ernesto Costa defende que se “deve continuar a fazer investigação em Inteligência Artificial”. Contudo, avisa que “é preciso estar-se consciente dos perigos que podem acontecer” e que as pessoas “não devem ter medo de se enganar”.

ANOXIA PROMOVE DESPARASITAÇÃO DE LIVROS Método assente na neutralização do oxigénio dos organismos previne consequências ao nível da saúde. Diretor da Biblioteca Joanina aplaude esforços para preservar património nacional - POR JOANA BEJA E PEDRO SILVA -

A

reitoria da Universidade de Coimbra (UC) procura melhorar as condições de conservação de documentos da Biblioteca Joanina (BJ) através do investimento num “método científico mais eficaz e saudável”, como defende o diretor da BJ e da Biblioteca Geral da UC (BGUC), José Augusto Bernardes. A implementação de uma câmara de anoxia veio dar resposta à necessidade de desinfestação e purificação de objetos que já não era feita desde 1998. O novo mecanismo é descrito por José Augusto Bernardes como “um processo de anoxia”, que se traduz na disposição de livros, mapas, moedas e outros objetos numa câmara selada durante 48 horas. Aqui, o oxigénio é neutralizado, o que impossibilita a sobrevivência dos parasitas. Para o diretor da BJ e da BGUC, esta medida é essencial para a preservação dos documentos mais antigos. Esclarece que “os livros são objetos celulósicos cujo papel é afetado por organismos que se propagam de uns para outros e os desintegram”. Este processo tem ainda uma segunda fase, que envolve “uma injeção de azoto, que rejuvenesce os objetos purificados”, adianta José Augusto Bernardes. Esta mudança de processo de expurgo apresen-

ta, segundo o diretor da BJ e da BGUC, diversas vantagens. O método anterior consistia numa “desinfestação química em diferentes salas, o que deixava partículas químicas prejudiciais à saúde no ar e nos móveis”, explica. Para além disso, o funcionamento da BJ acabava por ficar condicionado, devido ao fecho obrigatório dos espaços afetados, acrescenta. Para José Augusto Bernardes, a aquisição desta câmara traduziu-se num investimento considerável, mas necessário. “Se não se fizesse nada agora, mais tarde tinham de ser tomadas medidas radicais”, assegura. Assim, o diretor considera a atitude do reitor “corajosa e digna de aplauso”, já que, “em tempos difíceis, gastar dinheiro a preservar património não é comum”. Acrescenta que “este investimento protege uma herança que não é apenas da UC porque, à sua guarda, encontram-se objetos que representam o património nacional”. Esta não é a primeira câmara de anoxia que a reitoria da UC disponibiliza. Também a BGUC recebeu um destes dispositivos e, de acordo com o diretor, os “resultados têm sido positivos”. “A câmara instalada na BGUC alberga cerca de mil volumes, o que permite um expurgo metódico, sistemático e regular”, conclui.

HUGO GUÍMARO


14 DE MARÇO DE 2017

SOLTAS -8-

EM CONT(R)OS FOLHETOS - POR SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR VANESSA MENDES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

A

cordei com gritos anunciando que as coisas iriam mudar. Eram sete horas da manhã, então voltei a fechar os olhos. “As coisas...” Eu só queria dormir. “As coisas irão mudar!” Tapei minha cara com o travesseiro, mas os berros eram mais altos. Botei minhas sapatilhas e resolvi meter os pés na rua. Os donos dos gritos estavam na praça garantindo a todos que as coisas (certamente!) iriam mudar. Irritado por ter levantado da cama tão cedo, caminhei rápido ao chegar perto deles. Passei a aula inteira pensando no almoço e o almoço todo pensando que não queria voltar para a aula. Na saída da cantina, alguém distribuía folhetos sobre a mudança das coisas. Usei o meu para cuspir a pastilha plástica que tinha na boca. À noite passei pelo cartaz do evento “Das coisas: o que irá ser alterado?”, mas vi que seria no mesmo dia do jantar do meu curso. Abri o computador e comecei a escrever meu trabalho final. “Meu ponto de vista sobre as coisas que irão mudar” – dizia um imenso texto no Facebook.

“Pronunciamento sobre a alteração das coisas” – estava na minha caixa de e-mail. “RE: Pronunciamento sobre a alteração das coisas” – A caixa estava começando a lotar. Decidido a terminar de escrever meu texto, fechei todas as páginas para não perder meu tempo com distrações. Faltando dois minutos para o prazo de entrega final, apertei o botão de envio. Fui dormir pensando seriamente em não ir para a aula da manhã seguinte. “As coisas...” “elas...” “IRÃO MUDAR!” (Lá vinham eles a berrar novamente nos meus ouvidos.) “Precisamos dar atenção...” – uma voz de mulher afirmava. (Às sete horas da manhã.) “A mudança...” (Será que eles não tinham nada melhor a fazer?) “Das coisas!” Fiquei na cama de olhos abertos e não quis me levantar. Ao meio dia, atravessei a praça usando fones

de ouvido. Não peguei o folheto que me ofereceram na entrada na cantina. Comi pouco e rápido, estando mais preocupado em correr até a casa de banho... que estava fechada. Um tanto aflito, percebi que seria preciso subir as monumentais com os intestinos clamando piedade. No caminho, fui interceptado por mais entregadores de folhetos que especificavam as mudanças das coisas e que coisas eram aquelas. Sem conseguir contorná-los, meti o folheto no bolso sem passar os olhos. Já na casa de banho, descobri tarde demais que não havia papel higiênico ao meu lado. Apalpei o bolso da calça pensando que finalmente havia encontrado uma utilidade para a mudança das coisas. Problema resolvido, assisti à aula da tarde. No final do dia, deletei os e-mails que discutiam a mudança, ignorei as publicações que discutiam as coisas e fui dormir me sentindo limpo e esperto. Fiz o mesmo no dia seguinte. E no dia seguinte ao dia seguinte. Até o dia em que as coisas mudaram. Eu não fazia ideia de que elas iriam mudar para mim também.


14 DE MARÇO DE 2017 SOLTAS -9-

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

Conselho Geral da Universidade de Coimbra

Estimados estudantes, docentes e funcionários da Universidade de Coimbra, Temos estado atentos às diversas manifestações de vontade dos representados no Conselho Geral da UC. Como representantes máximos dessas mesmas vontades no âmbito legislativo da instituição, é nossa intenção fazer cumprir os desígnios para os quais fomos eleitos. Compreendemos os receios de ver a UC seguir um caminho de proximidade com os interesses privados, pelo que anunciamos orgulhosamente que vamos negar o regime fundacional nos moldes propostos. Estamos, por outro lado, cientes da necessidade de fazer alterações ao presente modelo de gestão da UC. Por este motivo vamos permitir o avanço do regime fundacional com uma pequena mas revolucionária alteração: a mudança de nome. Os protestos fizeram-nos ver que Fundação é esteticamente desadequado. Vamos, assim, propor o regime proporcional. Os mesmos moldes mas uma falsa ideia de igualdade. O melhor de dois mundos, no fundo.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

DA ARTE ANTIGA À ARTE CONTEMPORÂNEA

E

ra uma vez um património intocável. Um dia deu-se uma revolução protagonizada pela oposição ao regime. Das ideias apresentadas, só ficaram claros os insultos proferidos. Pelo menos ainda restam os ‘graffiti’ deixados pelas paredes da cidade, que evocam o espírito da luta. No rebuliço da revolta, uns estranhos vultos infiltraram-se entre a multidão. Serão Anonymous? Serão Illuminati? Manifestantes não são, esses apenas pediram desculpas. Riscar quadros é rude. Foi sem querer.

E

QUEDA PARA O DEBATE

m Dias houve a intenção de debater o Regime Fundacional, mas entretanto veio o natal e era chato. O frio não ajudou à luta e só quando o tempo amenizou foi tomada uma posição contra a Fundação. Cartas foram enviadas e distribuídas em mão pelos membros preocupados da comunidade estudantil. Foram meses de silêncio até a linha de montagem ter tomado a iniciativa. Talvez por isso se tenha tentado, em cinco horas, recuperar a discussão perdida. Foi de cair para o lado.


14 DE MARÇO DE 2017 ARTES FEITAS - 10 -

CINEMA

The Man Comes Around - POR CARLOS ALMEIDA -

Logan De

James Mangold

Com

Hugh Jackman, Patrick Stewart, Richard E. Grant

2017

P

assados 17 anos, Hugh Jackman despede-se da personagem que está para ele como Han Solo ou Indiana Jones estão para Harrison Ford. Logan, o filme que traz Jackman como Wolverine pela última vez, surpreendeu pela diferença emocional em relação a capítulos anteriores. Baseado na banda-desenhada Velho Logan, a película, em termos de enredo, acaba por ter um total afastamento em relação aos alicerces originais. O realizador, James Mangold, apresenta desta vez um trabalho que se distingue de outros filmes de super-heróis pela sua humanidade e pelo uso de dicotomias que vão muito além do bem e do mal. Aqui temos a velhice a contrastar com a juventude e, essencialmente, temos o confronto, inerente a Logan, entre ter de amar e querer morrer.

Mas não é apenas a interpretação de Hugh Jackman que merece destaque. Patrick Stewart, o ator que dá alma a Charles Xavier, apresenta-se como elemento indispensável. É ele que incita Logan (e sem revelar muito da trama) a cuidar de Laura, uma criança mutante que aparece, feliz ou infelizmente, de forma muito tardia na vida de Wolverine. Interpretar Charles Xavier como uma figura paternal já não é algo novo. A muito trabalhada e cuidada simplicidade com que esta personagem age e o seu forte apelo emocional é que constituem o seu auge. Existem também alguns pontos que dão um quê de previsibilidade mas que, apesar de tudo, não deitam a estória por terra. Algumas repetições narrativas e saídas um pouco clichês retiram, não só intensidade, mas também mexem um pouco com a solidez

Em

Casa Municipal da Cultura

N

a era da música digital, o vintage LP subsiste. Em 2016 o investimento na aquisição de discos em vinil foi superior ao efetuado na música em formato digital. Este objecto de culto, de som quente e sensual, diferente do azedo e postiço som digital, transcende a sua dimensão enquanto música, quando, através da sua capa, se torna uma referência gráfica. Na “Mostra de Capas de Discos de Vinil de Música Brasileira”, podemos atentar, entre cerca de quarenta dezenas de discos, diferentes identidades visuais. Este olhar pode ser dificultado, pelo ar quase putrefato de alguns dos discos expostos. Para um colecionador de vinil existem termos como: (SS) Still Sealed - selado de origem; (M) Mint - Capa apresenta-se em muito bom estado; ou (P) Poor - Capa em fracas condições, deteriorada ou danificada. A maioria dos discos expostos são ‘Poor’, apresentam um ar crispado e envelhecido. Muitas destas capas foram mal conservadas e para o efeito de pre-

A Cabra d’Ouro

EM PALCO

Mostra de discos de vinil dedicados à Música Brasileira até 31 de março 2017 segunda a sábado, 10h às 19h

do enredo. É preciso não esquecer que Logan é um filme também de ação e que, nesse sentido, há pontos positivos que devem ser considerados. A qualidade técnica das cenas mais violentas satisfaz pela sua precisão, os diálogos mais complexos marcam pela sua profundidade e a banda sonora, muito bem escolhida, atinge eficazmente o seu objetivo, pois vai ao encontro de tudo o resto. Nota especial para Johnny Cash que apesar de não ter muitas canções presentes, conforta depois da lágrima brotada enquanto surgem os créditos finais.

Amostra franzina - POR JOÃO RUIVO –

tendido estão acabadas. Entre as diversas obras, despertou-me a atenção o álbum de Milton Nascimento, Sentinela, gravado em 1980. Uma época marcada por uma profunda crise económica, e se a música de Milton é libertária e vibrante, a capa segue o mesmo desígnio. Uma fotografia onde as cores explodem de saturadas, num monte de terra árida, que contrasta com uma colagem de uma fotografia do virtuoso intérprete a preto e branco. O galardão para a capa mais garrida, entreguei a Gilberto Gil com a capa do “Extra”. Adjetivar a capa de ridícula é errado, e quiçá se a ideia do artwork, não surgiu assim: “Gilberto, esta capa vai ser um show! Beba cachaça, fume maconha e vamos fazer um retrato ‘close -up’, assim desvairado. Vai ter um fundo glitter, e em seu redor, um ovni, um bambi, e uma bola de cristal” Quem contemplar a capa, vai constatar que Gilberto Gil correspondeu a um pedido semelhante. A mostra encontra-se na escadaria de acesso ao

Serviço de Audiovisuais da Biblioteca Municipal de Coimbra, e é quando termina que nos deparamos com uma surpresa para remediar esta singela mostra. Um prestige 120B-NSM 45rpm Made in Germany, que nos transporta no tempo, para um Jazz Bar, com vista para um canal de Berlin, onde estamos diante desta jukebox, de moeda na mão, prontos a escolher um tema do Stone Flower de Jobim. Fica a sensação que a coleção que a Câmara Municipal de Coimbra veio apresentar, são sobras de discotecas outrora extintas. É preciso mais e melhor porque o público é exigente e a música merece essa “delicadeza”.

Podia ser pior


14 DE MARÇO DE 2017 ARTES FEITAS - 11 -

MÚSICA

GUERRA DAS CABRAS A evitar

Nos ‘loops’ da Tailândia

Fraco Podia ser pior

- POR FILIPE FURTADO -

Podia ser melhor A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

The Universe Smiles Upon You” é uma contemplação mística, onde as sonoridades se deixam arrastar até paragens pouco prováveis. Com base em Houston, no estado do Texas, encontramos Laura Lee (baixo), Mark Speer (guitarra) e Donald Johnson (bateria) que dão corpo a Khruangbin. Quase integralmente instrumental, “The Universe Smiles Upon You” é o primeiro LP do trio. Sabe a Havai, sabe a Japão, sabe a Tailândia. O nome da banda é inspirado nessas jornadas musicais: de Khruangbin pode traduzir-se “engenho voador” ou “avião” em tailandês. O disco veste thai funk e bebe influências nas velhas cassetes dos anos sessentas e setentas que a banda encontrou na caixa pandora do blogue “monrakplengthai”, ao longo de dez temas. Há ainda um bónus. O disco pode ouvir-se num mix contínuo, sem paragens na última faixa. Em boa verdade, este mimo não acrescenta nada, mas também não retira qualquer brilho à estética de Khruangbin. Poderá ser difícil escolher os melhores temas, sentindo este sorriso que vem de cima como um todo indivisível e coeso. O trio cria estes enredos de motivos melódicos contagiantes e hipnóticos, quase um loop que se renova a cada tema, sempre com a sensação de

The Universe Smiles Upon you De

Khruangbin

Editora

Night Time Stories Ltd.

2015

atmosfera leve e brilhante. Ainda assim, podemos dar destaque ao imagético “Two Fish and an Elephant”, com os suaves coros que intercalam com a melodia principal; “Dern Kala” apresenta-se como um dos temas com maior carisma oriental; de “Mr. White” sentimos o baterista Donald Johnson que nos carrega nesse groove interminável, aliás, uma óptima escolha para abertura do disco; em “People Everywhere (Still Alive)” a temperatura sobe e não há desculpas para não deixar todo o corpo dançar – pena mesmo a faixa durar apenas 02:39. Ouvimos por fim “Zionsville”, essa despedida melancólica que não é um adeus. Chegamos à conclusão de que talvez seja um feliz acaso a repetição de todo o disco numa única faixa extra, para que ninguém tenha de sair tão depressa do universo Khruangbin. “The Universe Smiles Upon You” é um maravilhoso loop.

A Cabra aconselha

LIVRO O preço da liberdade de escrever - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

P

onto prévio: Portugal é um Estado democrático e muito pouco justifica a violência que rodeou o lançamento deste livro de Henrique Raposo. Desde pessoas a queimar exemplares, qual ‘Fahrenheit 451’, a ameaças de morte, o autor foi elevado a Salman Rushdie português, alvo de uma intifada alentejana. E porquê? Por uma razão simples. Há, em cada indivíduo, uma relação de amor-ódio em relação ao sítio em que nasceu e cresceu. Em Henrique Raposo, essa ligação natural (e natureza é uma palavra muito presente ao longo das pouco mais de cem páginas) é extremada pelo retrato que faz do seu Alentejo, povoado pelas violações, pelo suicídio, pela pobreza. No fundo, pela aridez descrita de um Alentejo que, para si, sempre foi a face secundária de um Portugal dicotómico. Para o autor, que traz Kant à conversa, a natureza alentejana é um imperativo categórico tão indissociável de toda aquela extensão quanto o suicídio. E, quanto mais números se leem pelo livro, mais fica a sensação que há uma espécie de cínica seleção darwiniana, onde sobrevive apenas o mais forte, aquele que aguenta o que o Alentejo lhe atira. “As palavras que constroem as lentes objetivas” ou “subjetivas” (págs. 83/84) não são mais do que a expressão de um olhar único, porque seu, com que

olha uma realidade que conhece, um olhar que traz sempre consigo uma possibilidade de equívoco, porque nunca há apenas uma realidade. Se Henrique Raposo é duro com a terra, que descreve como infernal, que o viu nascer, é também apaixonado pelas suas próprias “memórias reais e alentejaníssimas” (pág. 101). Há pormenores evitáveis, desde gralhas (“conselho de Sines” [pág. 64]) ao “odor a haxixe dos eucaliptos” (pág. 33). Mas de todo o livro fica a noção de uma escrita clara. Não fácil, porque não é um romance, mas limpa, sem palavras desnecessárias. É, talvez, jornalismo literário. Escrito com liberdade, aquela que “é sempre um contrato entre estranhos, seja em Nova Iorque, Lisboa ou Ermidas-Sado” (pág. 28). Entre estranhos mas nem por isso passível de ser desrespeitado. Como J. Rentes de Carvalho escreveu, “arrisco-me a dizer que ‘Alentejo Prometido’ só irá cair nas graças dos que sabem ler e se dão tempo para pensar.”

Alentejo Prometido De

Henrique Raposo

Editora

Fundação Francisco Manuel dos Santos

2016 A Cabra aconselha


Mais informação disponível em

EDITORIAL - POR CAROLINA FARINHA -

RJIES em discussão na academia Uma década volvida desde a implementação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) urge a necessidade de revisão do documento, cujo suposto ano de análise deveria ter sido 2012. Agora, a discussão é levantada graças à possibilidade da Universidade de Coimbra (UC) adotar o Regime Fundacional, tal como previsto no capítulo VI do RJIES. Dado que existem movimentos contra a mudança da UC para fundação pública de regime de direito privado, a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), representada pelo seu presidente, anunciou a intenção de redigir uma proposta alternativa de RJIES. Quando? Não se sabe. Até agora não passa apenas de uma ideia sem data para a sua concretização. Até lá ficamos com as mobilizações estudantis e discussões promovidas pelo órgão dirigente, bem como por organizações externas à AAC contra o Regime Fundacional e todas as suas implicações para a comunidade académica. As novas taxas de pagamento para a utilização do Estádio Universitário de Coimbra têm também sido alvo de críticas desde a sua implementação em setembro de 2016. Os seccionistas da AAC consideram injustos os valores que lhes foram impostos, cuja revisão da tabela está a cargo do Conselho Desportivo da AAC. Este órgão considera que se tem travado uma luta no sentido de se rever os valores na tabela. No entanto, estes permanecem inalterados.

A Direção-Geral da AAC (DG/AAC), representada pelo seu presidente, anunciou a intenção de redigir uma proposta alternativa de RJIES. Quando? Não se sabe.”

Ficha Técnica

Diretora Carolina Farinha

Paginação Carolina Farinha

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Equipa Editorial Rita Flores (Ensino Superior), Carlos Almeida (Cultura), Carolina Farinha (Desporto), Mariana Bessa e Rita Fonseca (Ciência & Tecnologia)

Ilustração João Ruivo

Fotografia Hugo Guímaro Colaborou nesta edição Luís Almeida, Joana Beja, Joana Campinho, Carolina Cardoso, Pedro Chaves, Alexandra Fernandes, Inês Ferreira, Hugo Guímaro, António Ladeira, Simão Mota, Inês Neves, Ana Francisca Nunes, Cristina Oliveira, Joana Pedro, Daniela Pinto, Sofia Santos, Pedro Silva, Pedro Dinis Silva, Isabel Simões, Rafael Soares

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaboradores Permanentes Inês Duarte, Filipe Furtado, João Ruivo, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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