Edição 275 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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1 DE MARÇO DE 2016 ANO XXV Nº275 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA INÊS DUARTE EDITOR EXECUTIVO VASCO SAMPAIO

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Sala de estudo sem data para abrir Espaço espera novo plano para que as obras recomecem. Orçamento ainda não é definitivo, nem é certo qual o valor gasto até agora PÁG. 3

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

Reitor da UC, presidente do IPC e José Dias debatem pontos do Orçamento, que pode trazer mudanças na distinção entre instituições

O investigador e docente, Adélio Mendes, especialista na área de engenharia física, sagra-se vencedor do prémio UC 2016

Após longo período de busca, Ginástica da AAC consegue, com ajuda de parceiros, novo espaço temporário para treinos em 2016

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CIÊNCIA

Investigação dá a conhecer ilicitudes ambientais e violação de direitos humanos na indústria do desmantelamento naval


1 DE MARÇO DE 2016 ENSINO SUPERIOR -2-

ORÇAMENTO DO ESTADO PODE MUDAR RUMO DE POLITÉCNICOS E UNIVERSIDADES Investimento no Ensino Superior (ES) corresponde a 2.254,6 milhões de euros, um acréscimo de 77,6 milhões (3,6%) em relação ao mesmo documento para 2015 - POR CARLOS ALMEIDA E CAMILA VIDAL -

I&D É NOVIDADE NO POLITÉCNICO

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s programas de Investigação e Desenvolvimento (I&D) para o ES Politécnico, em colaboração com empresas privadas, correspondem a cinco milhões de euros. O presidente do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), Rui Antunes, encontra no investimento “a criação de uma massa crítica na área da investigação”. O presidente avisa, no entanto, que “a investigação não dá o passo seguinte se não estiver ligada a doutoramentos” e fala da vontade de o IPC ter estatuto de universidade. Já o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, acredita que as duas instituições devem manter o papel tradicional.

INVESTIGAÇÃO PODE TER NOVO FÔLEGO

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“investigação científica” é dedicado 20 por cento do investimento para o ES, num aumento em relação a anos anteriores. O número de bolseiros de doutoramento e pós-doutoramento deve aumentar, mas não o valor de cada bolsa, mantido desde 2002. Também o estatuto “investigador FCT” vai ser revisto. O reitor da UC espera que os números estabilizem, considera que “tem havido candidatos de grande qualidade que têm ficado de fora” e almeja um maior desenvolvimento no sentido inverso. Desde 2007 que o número de bolsas atribuídas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) tem diminuído todos os anos.

RJIES PODE SER REVISTO ESTE ANO

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Regime Jurídico de Instituições de Ensino Superior (RJIES) contempla diferenças que parecem diluir-se entre politécnico e universidade, e a revisão do documento deve ocorrer este ano. Para o presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, José Dias, é essencial decidir se o sistema de ES em Portugal vai ser binário ou unitário. A distinção deve ser clara e “não se pode aceitar que os politécnicos tenham terceiros ciclos ou investigação científica” num regime binário, diz o dirigente. Rui Antunes espera que a revisão do RJIES venha a quebrar aquilo a que chama uma “falsa distinção”.

MAIS 20 MILHÕES PARA AÇÃO SOCIAL

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fatia de 138 milhões de euros destinada ao Fundo de Ação Social representa um aumento de cerca de 20 milhões em relação ao ano anterior. O maior financiamento pode significar, segundo o reitor, um reforço para as bolsas que “ao longo dos anos” têm tido “escalões ainda muito baixos”. José Dias acrescenta que “a bolsa atribuída a cada estudante não é o valor justo”, mas que a dotação orçamental pode permitir que mais estudantes frequentem o ES. O dirigente quer ver o fim da “zona cinzenta” de estudantes não abrangida até agora. No último ano letivo, já houve mais 12 mil bolseiros do que em 2013/2014.

ESFORÇOS DE CONTENÇÃO NÃO ACABARAM

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osé Dias elogia o documento pelo “aumento, ainda que ligeiro” do financiamento. Também João Gabriel Silva e Rui Antunes convergem na opinião de que o OE é melhor do que em anos anteriores, mas tecem algumas críticas. Rui Antunes refere que as despesas de funcionamento do IPC continuam com a mesma “pressão de contenção”. João Gabriel Silva critica também um processo “moroso, que pode levar à paralisação de uma universidade” – as instituições que tenham obtido reforço financeiro para pagar salários vão ter de pedir autorização aos ministérios das Finanças e da Ciência, Tecnologia e ES para contratar.


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OBRAS DA SALA DE ESTUDO POR RETOMAR Projeto de reformulação do espaço vai ser refeito antes de se definir novo prazo para a obra. Dirigentes não chegam a acordo sobre valores do orçamento - POR ALEXANDRE GOUVEIA E RITA MOREIRA -

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ainda incerto o destino da reestruturação da sala de estudo. A última informação disponibilizada pela Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) aos estudantes foi afixada à porta da sala no dia 4 de fevereiro, num aviso que deixa um prazo indeterminado para a reabertura do espaço. Para os dirigentes associativos, não há dados concretos que expliquem a interrupção das obras. O plano inicial, que previa o fim da obra para 2 de janeiro, havia sido elaborado pela DG/AAC, em parceria com a Reitoria da UC e com a empresa encarregue da reestruturação do espaço. Entretanto, um embargo na obra que a DG/AAC explica com “problemas burocráticos” obriga à elaboração, pelas mesmas entidades, de novo projeto. O atual administrador do edifício da AAC, Pedro Pintor, “não diria que é normal” que o plano seja alterado pelas três partes que o elabora-

ram em primeiro lugar, mas “estas são adaptações necessárias para que tudo fosse feito dentro da legalidade”. Bruno Matias, presidente da DG/AAC aquando do início da reestruturação da sala, explica que uma das dificuldades com a reestruturação do espaço era o facto de o “edifício ser parte do Património da Humanidade [da UNESCO]”. O que estava em falta no fim do seu mandato, adianta, era “a retirada da pastilha, a limpeza e a pintura da sala e a colocação das cadeiras e das mesas novas”. Sobre a questão orçamental da obra para o projeto inicial, Bruno Matias menciona um valor total entre 13 e 14 mil euros. À saída do mandato, afirmou também que já teriam sido pagos 8 mil, número que o administrador do edifício da altura, Jonathan Torres, confirma. O administrador declara que, no fim do ciclo, “estavam reunidas todas as condições, a nível financeiro”, para que a rees-

truturação fosse bem-sucedida. Pedro Pintor contraria os antecessores e menciona que o pagamento adiantado pela anterior administração não ultrapassa os 5.900 euros. O administrador acrescenta também que, com o embargo e a necessidade de elaborar um novo projeto, poderá ser necessário “fazer um reajustamento ao orçamento inicial”. Qualquer dos valores mencionados pelos dirigentes ainda não foi divulgado pela DG/AAC em documento oficial. Pedro Pintor justifica que, por o valor ter sido adiantado no início de 2016, este “só vai ser apresentado no Relatório e Contas 2016, no fim deste mandato”. O relatório de 2015 chegava a adiantar nova data para o término da reestruturação da sala de estudo – a primeira quinzena de fevereiro –, mas o atual administrador nega ter “conhecimento de que esse prazo tinha sido divulgado”. ALEXANDRE GOUVEIA

QUANTO CUSTA UM ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR? Estado, propinas e receitas das universidades e dos politécnicos suportam custos dos alunos - POR MARIANA AZEVEDO E CAROLINA MARQUES -

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propina para um estudante da Universidade de Coimbra (UC), em 2016, fixa-se nos 1.063,47€. Porém, o custo de um estudante no Ensino Superior (ES), conforme pago pelas universidades e institutos politécnicos, fica bem acima deste valor. Os sucessivos cortes na Educação dificultam a tarefa de suportar estes valores e acarretam consequências como o envelhecimento do corpo docente. “O número de professores tem vindo a baixar e a média das suas idades tem vindo a aumentar”, explica o reitor da UC, João Gabriel Silva. Um aluno da UC custa, em média, 6 mil euros por ano. É o “custo dos salários dos docentes que representa maior despesa”, clarifica o reitor, “e todos os professores do ES ganham

o mesmo”. Contudo, há diferenças que se refletem na variação do número de docentes de uma faculdade para outra, já que, “em média, no curso de Medicina há um professor para cada cinco alunos e em História o número eleva-se de um para onze”, afirma Luísa Cerdeira, investigadora da Área de Ensino da Universidade de Lisboa. Dos seis mil euros que a UC despende com um estudante, três mil provêm do Estado e o restante montante advém das propinas e de receitas próprias das universidades. No caso de Coimbra, estes ganhos resultam de “projetos de investigação, prestação de serviços especializados e projetos internacionais”, explica João Gabriel Silva. O reitor acrescenta que o apoio

do Estado “não tem sido suficiente” para que a UC se mantenha competitiva ao nível internacional. Esta sustenta-se, então, graças a verbas próprias que permitem a modernização das infraestruturas e a manutenção de um ensino de qualidade. O último estudo relativo ao financiamento do ES português, da autoria de Luísa Cerdeira, remete ao ano letivo de 2010/2011. A investigadora lamenta que não seja “da responsabilidade dos observatórios ter estes dados”, uma vez que “são importantes para a definição de boas políticas públicas”. Contudo, tem perspetivas de que seja realizada uma nova análise relativa ao ano de 2015 para “voltar a tornar público um conjunto de estudos sobre essa matéria”.


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ADÉLIO MENDES: QUÍMICO PELA BELEZA DA QUÍMICA Professor da FEUP recebe hoje, dia 1 de março, o Prémio Universidade de Coimbra 2016. Apresenta ainda uma proposta relativa às energias renováveis em Portugal - POR MARIANA AFONSO, RITA ESPASSANDIM E RITA LIMA -

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ientista. Esta foi a resposta de Adélio Mendes quando, na escola primária, uma professora o questionou sobre o que ambicionava ser “quando fosse grande”. O interesse pela química surgiu quando os pais lhe ofereceram uma caixa de instrumentos de laboratório. Esse fascínio permaneceu até aos dias de hoje e valeu-lhe a nomeação e conquista do Prémio Universidade de Coimbra 2016. Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e professor convidado da Universidade de Aarhus na Dinamarca, Adélio Mendes é “100 por cento empenhado no trabalho e só não é mais porque o limite acaba aí”. É esta a confissão que a mãe faz sobre o filho, quando explica que este “vive muito para a profissão, privilegiando-a mais do que a vida pessoal”. No entanto, foi toda esta dedicação que impulsionou um grande número de artigos publicados. A vida dedicada ao ensino, uma paixão manifestada desde tenra idade e herança dos pais, distingue-o como professor “já que tem a particularidade de criar um elo entre o saber e a transmissão de conhecimento de forma clara e percetível”, admite Jorge Coelho, amigo e colega. Admirado pelos alunos e reconhecido pelos seus pares, Adélio Mendes é visto como uma pessoa respeitadora, que não tenciona alcançar o sucesso prejudicando os outros. Revela-se também uma pessoa persistente e foi essa força de vontade que fez com que começasse do zero e construísse um laboratório a partir do finan-

ciamento de projetos nos quais esteve envolvido. Quem lhe é próximo admite que não tinha o objetivo de enriquecer ou chegar ao poder, mas sim a ambição de ir mais longe. É por esse motivo que olha para os portugueses como “acionistas” da sua investigação, sentindo a necessidade de lhes retribuir com o seu conhecimento. “Eu investigo e os portugueses comem uma sopa mais grossa”, justifica. Números, fórmulas, tubos de ensaio e salas de aula compõem o cenário de trabalho de Adélio Mendes. Honestidade, dedicação e inteligência são os valores que preenchem a sua esfera pessoal e aqueles que pretende transmitir a um grande número de pessoas. Escolheu a área da química para dar voz a esses valores, apesar de não ter sido uma decisão sua. A grande paixão do investigador era a física, contudo, na altura em que teve de escolher o curso, Portugal estava imerso numa ditadura e as dificuldades de seguir esse curso eram muitas. Aconselhado pelo pai a enveredar pelas engenharias, Adélio optou por uma área que unisse um pouco os dois mundos: Engenharia Química. A FEUP foi a sua casa durante todo o percurso académico. Porém, confessa sentir um carinho especial pela Academia de Coimbra, aquela que carrega mais história e que, por isso, o leva a sentir orgulho e gratidão pela nomeação. A paixão pelo ensino e pela ciência são uma constante na vida de Adélio Mendes, que confessa ter hoje tudo aquilo que ambicionou. Não deixa de sentir um gosto especial pela física, mas admite que neste momento está a exercê-la juntamente com a química. “Estou na química pela beleza da química”, conclui.

ILUSTRAÇÃO POR AFONSO PAIVA

SEMANA CULTURAL DA UC ABRE O LIVRO Ciclo de iniciativas proporciona um vasto leque de experiências culturais em torno da temática do objeto literário - POR ANA MIGUEL REGEDOR E JOÃO RUIVO -

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Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC) decorre de hoje, 1, a 1 de maio, um pouco por toda a cidade. Com a duração de dois meses, conta com mais de 90 iniciativas, entre as quais ‘performances’, exposições, espectáculos e oficinas de expressões artísticas diferenciadas. O mote do ciclo é “O Livro”, um “tema galvanizador que suscitou uma adesão sem precedentes”, afirma Clara Almeida Santos, vice-reitora da UC pela Cultura, Comunicação, Património e Antigos Estudantes. Numa era hostil para o livro, este necessita de “ser acarinhado” e reco-

nhecido, como uma ferramenta que nos permite “construir e reformular o pensamento”, sublinha João Bernardes, diretor da Biblioteca Geral da UC. Este conjunto de atividades intitulado “No princípio, era o conhecimento”, em que o livro serve tanto de metáfora para o saber como de alicerce à Universidade, propõe ao leitor “um diálogo na primeira pessoa, a partir do qual podemos construir e reformular pensamentos críticos” sustenta João Bernardes. Acrescenta ainda que se trata de um ciclo eclético, integrante “no ADN da semana cultural, dirigido a vários públicos com eventos de grande e menor escala” em que o livro “suscita e inquieta as pessoas”.

A 18ª Semana Cultura da UC tem início com uma iniciativa da Faculdade de Letras da UC, denominada “Não te livres do Livro”, um percurso multimédia que visa promover os livros e autores da própria Universidade. Com manifestações artísticas de dança, teatro e cinema, destacam-se as oficinas, uma de Tipografia Clássica e outra de instrumentos e suportes de escrita. Está ainda previsto o lançamento de uma edição d’Os Lusíadas, que realça o ressurgimento tipográfico da fonte renascentista. Trata-se de um evento ímpar no panorama da cultura nacional, pois “não é um parêntesis que a UC faz no investimento na cultura, é uma mobilização” refere Clara Almeida Santos.


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GINÁSTICA DA AAC ENCONTRA NOVO LOCAL PARA TREINAR Pela segunda vez em menos de dois anos, SG/AAC teve de lidar com falta de local para treinar. Arranja agora espaço provisório em Eiras ARQUIVO

- POR FÁBIO LUCINDO, RITA PORTUGAL E GABRIELA SALGADO -

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oi no final de fevereiro de 2015 que a Secção de Ginástica da Associação Académica de Coimbra (SG/ AAC) teve de abandonar o Pavilhão Jorge Anjinho, espaço onde realizava os seus treinos há quase 30 anos. Depois de cerca de um ano num espaço provisório, a SG/AAC encontra agora um novo local. Foi lá que recomeçaram os treinos ontem, 29 de fevereiro. Após um mês de procura, depois de inúmeros contactos, visitas a diversos espaços e reuniões com possíveis parceiros, surgiu uma opção

que a direção da SG/AAC considera viável e agradável, com dimensões semelhantes ao espaço que era usado até ao ano anterior na Solum e com um valor de aluguer comportável. O novo espaço da SG/AAC situa-se agora junto às empresas Mamial e Electroclima, na zona industrial de Eiras. Atletas, pais de atletas e professores vão ter de suportar os custos de deslocamento até o local para realizarem seus treinos por conta própria. O vice presidente da SG/AAC, Vasco Dias, informa que este novo espaço foi encontrado graças ao auxilio do pai de um dos ginastas. No entanto, afirmam, em comunicado oficial, “que a situação encontrada,

abaixo dos valores de mercado, só foi possível por ser um favor e, como tal, é uma solução para se poder terminar a época até julho ou agosto”. Depois disso, a secção vai continuar procurar uma solução definitiva. A história repete-se A meio da época de 2015, após solicitação de desocupação do espaço que usavam há quase 30 anos para que fossem realizadas reformas, a SG/AAC ficou sem local para treinar. Depois de saírem do Pavilhão Jorge Anjinho, surgiu a oportunidade de retomar a atividade num pavilhão pertencente à farmacêutica Plural, em Antanhol, ainda em fevereiro do ano passado.

Esta situação remediava o problema, mas suscitava ainda alguns contratempos. As deslocações ficaram a cargo dos pais dos ginastas, dos próprios ginastas e dos treinadores, que não contaram com apoio para abater os custos. Para além disso, tratava-se de uma situação transitória, uma vez que a qualquer momento poderia ser necessário desocupar o espaço. Ao fim de quase um ano de ocupação das novas instalações, surgiu novamente essa necessidade. Foi avisado que, até ao final do mês de fevereiro de 2016, a secção teria que abandonar o espaço “simpaticamente cedido pela Plural”, conta a presidente da SG/AAC, Sofia Teixeira.


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TÉNIS E BADMINTON DA AAC DESTACAM-SE NOS CNU FADU

UNESCO RECONHECE DIA INTERNACIONAL DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO Apesar de ainda não existirem celebrações programadas para o dia, FADU considera que a data sublinha a importância do desporto - POR PHILIPPE ALEXANDRE BAPTISTA E CRISTINA PINILLA CARRASCO -

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Campeões de Ténis fazem um balanço positivo dos CNU. SB/AAC sagra-se vice-campeã nacional - POR RITA MOREIRA -

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Campeonato Nacional Universitário (CNU), organizado pela Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), teve as suas competições de Badminton e Ténis realizadas entre os dias 15 e 19 de fevereiro. As equipas obtiveram resultados que permitiram aos atletas das respetivas secções da Associação Académica de Coimbra (AAC) chegar ao pódio. A Secção de Ténis da AAC (ST/AAC) alcançou o melhor resultado do CNU desta modalidade e os atletas sagraram-se campeões nacionais. O campeonato teve lugar na Maia e contou com a participação dos atletas Tomás Marques, Rafael Marques, André Caiado, além das desportistas Cláudia Gaspar, Ana Luísa Carvalho e Bárbara Luz. André Caiado explica que o desenvolvimento das competições de ténis universitário é composto por “três provas diferentes”. A primeira, prova de equipas, foi aquela em que saíram vencedores. “Vamos ter ainda uma prova de pares e em maio, no culminar da época, a prova individual”, acrescenta. O atleta definiu as condições do complexo desportivo da Maia como “excelentes para a prática

da modalidade, nomeadamente campos cobertos, que permitiram este torneio mesmo com chuva”. Cláudia Gaspar, atleta premiada, refere que o nível dos adversários “foi evoluindo” e pensa estar “a melhorar”. O resultado deste campeonato universitário garantiu a classificação da ST/AAC para os Jogos Europeus Universitários de julho de 2016, que se realizam em Zagreb e Rijeka, na Croácia. Já o CNU de Badminton teve lugar em Aveiro e contou com a participação da Secção de Badminton da AAC (SB/AAC). No dia 15 de fevereiro, primeiro dia deste campeonato, realizaram-se as provas de par por género (par senhora, par homem) e as provas de par misto foram realizadas no dia 16. A SB/AAC conquistou o bronze em par homem, com a vitória de Miguel Pinto e Rui Mendes e ainda o terceiro lugar em par senhora para Ana Santos e Rita Dias. A equipa sagrou-se campeã em par misto com os atletas Miguel Pinto e Rita Dias. O presidente da SB/AAC, Diogo Silva, faz um balanço positivo deste campeonato mas ressalva que, como foram vice-campeões nacionais, foi-lhes transmitido que não vão poder participar nos Jogos Europeus Universitários. Sobre a organização do campeonato, o atleta Miguel Pinto sublinha que o método de atribuição dos pontos pela organização FADU “às vezes não funciona muito bem, mas são os regulamentos”. “Dentro da organização penso que o torneio não correu mal”, acrescenta. O atleta da SB/AAC afirma que agora tem por objetivo “conseguir trazer o máximo de títulos possível até ao fim da época e tentar um bom resultado para ir à Croácia”.

econhecido na conferência da UNESCO do dia 11 de agosto de 2015, o Dia Internacional do Desporto Universitário está marcado para 20 de setembro e vai ter a sua primeira celebração já este ano. Segundo o presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), Daniel Monteiro, não há ainda nada previsto em termos de atividades para este dia. Apesar disto, considera que “é um dia em que se pretende chamar à discussão à sociedade civil, envolvendo os agentes desportivos universitários deste país” Para Daniel Monteiro, o mais importante é o “reconhecimento da UNESCO do valor e da importância que o desporto universitário tem, em diversas sociedades e em diversos países” graças ao “seu papel de inclusão e social”. “É importante referir que vamos ter em Coimbra, em 2018, os Jogos Europeus Universitários, e vamos ter várias universidades europeias a participar nas mais variadas modalidades”, lembra o presidente. A relevância de Coimbra no desporto universitário foi também sublinhada. O presidente da FADU refere o facto de que “começa a surgir uma articulação forte entre o serviço desportivo da Universidade de Coimbra com a própria Associação Académica e com a Câmara Municipal da cidade” como, por exemplo, a criação de um departamento desportivo dentro da universidade para jogos universitários. Na Associação Académica de Coimbra (AAC), segundo o coordenador geral do Desporto da Direção-Geral da AAC, Bruno Cruz, o principal é “marcar este dia porque essa é a luta diária”. Nestes desafios, também o da profissionalização dos atletas se destaca. Assim, trata-se de “tentar profissionalizar ao máximo [os atletas] e também desenvolver o estatuto de estudantes atletas”. Em termos de atividades para celebrar o dia 20 de setembro, Bruno Cruz admite que ainda nada esté definido. Porém, o coordenador geral de Desporto refere que pensam planear um “Fórum onde vão estar as 26 secções desportivas da AAC e os atletas universitários vão dar o seu contributo ao nível de conhecimento”.


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NAVIOS EM FIM DE VIDA SÃO ALVO DE ILEGALIDADES PELO MUNDO Organização internacional foca a sua atenção no desmantelamento de navios, indústria onde se desrespeitam normas ambientais e direitos humanos NGO SHIPBREAKING PLATFORM - POR MARIANA BESSA E RITA FONSECA -

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pós 30 anos de navegação marítima, em média, um navio atinge o seu limite de vida. Terminado esse período, começa a acumular resíduos, o que exige que seja demolido. Este processo ocorre, em grande parte, no Sul da Ásia, numa violação constante do meio ambiente e dos direitos humanos. Ainda que haja empresas de reciclagem espalhadas pelo mundo, o desmantelamento transformou-se num negócio ilegal, devido aos constrangimentos burocráticos e ao lucro que proporciona aos envolvidos. Bangladesh, Índia, Paquistão e Turquia são os principais palcos do desmantelamento ilícito de navios. A toxicidade emanada para o ambiente excede os limites aceitáveis por lei. Segundo a diretora executiva da NGO Shipbreaking Platform, Patrizia Heidegger, “os navios contêm substâncias residuais como amianto, tintas tóxicas e metais pesados” que, quando despejados no mar, “geram um grande risco de poluição”. A gestão de resíduos é uma problemática da operação, uma vez que, “depois de removidos, têm de ser destruídos e não há nenhum sistema próprio para tratar deles”, como refere Patrizia Heidegger. No fim, os materiais acabam por ser despejados ou vendidos num mercado local, o que gera efeitos patológicos. Em relação às condições de vida e trabalho, a diretora executiva afirma que “há muitos riscos de acidentes fatais e doenças com efeitos a longo prazo associadas à demolição”. Junto aos locais de desmantelamento são construídas ou arrendadas casas para os trabalhado-

res, onde escasseiam mantimentos e água potável, as infraestruturas sanitárias são precárias e parcas. O trabalho infantil é também uma realidade no Bangladesh, e, como esclarece Patrizia Heidegger, “não há nenhum controlo rígido da parte do Estado para acabar com esta prática”. Para prevenir esta situação, os países “têm de ser responsáveis pela reciclagem dos seus navios”, alerta a diretora executiva. É necessário “criar instrumentos mais rigorosos a nível europeu, como licenças para esta prática”, ou seja,

“manter os armadores responsáveis pelo fim da vida das embarcações”. A Batistas Reciclagem de Sucatas é uma empresa portuguesa que, de acordo com o ‘site’ oficial, opera no “desmantelamento de instalações, equipamentos industriais e navios”. A administradora, Isabel Batista, explica que as embarcações que desmontam são cada vez menos, “duas ou três por ano”. Também aqui há que melhorar a legislação, restritiva “à entrada de navios no espaço comunitário e à transferência de resíduos”, conclui.

SEBASTIAN FRANK, O JOGO QUE PROPÕE MUDAR A HISTÓRIA Ex-estudantes da UC criam jogo inspirado em factos históricos que alia humor e mistério e conta com parte do financiamento através de ‘crowdfunding’ - POR JOÃO PIMENTEL E MARIANA SARAIVA -

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ebastian Frank”, a saga que recupera o estilo de jogo ‘point-and-click’, inspira-se na Alemanha do início do século XX. A sua produção foi levada a cabo por José Nunes e Cláudio Fernandes, antigos estudantes do curso de Tecnologias de Informação Visual da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. A ‘demo’ da série intitula-se “Sebastian Frank: The Vienne Prologue” e a ação decorre em 1908, quando o jogador conhece o personagem e o ajuda a entrar na Academia de Artes de Viena. O primeiro episódio, “Sebastian Frank: The Beer Hall Putsch”, constitui uma aventura que começa em 1923 durante o Golpe da Cervejaria, uma

tentativa falhada de Adolf Hitler de ascensão política. O objetivo da saga prende-se com a intenção de evitar que o chanceler alemão chegue ao poder. José Nunes admite que “o mercado tem descurado um pouco a questão de contar uma história num jogo”. O cofundador considera que esta criação se “diferencia pelo grande foco na narrativa e na exploração de uma história real”, com acontecimentos históricos verídicos. A demonstração foi apresentada numa plataforma de ‘crowdfunding’ com o objetivo de financiar o primeiro episódio. Segundo Cláudio Fernandes, “este tipo de financiamento não está de acordo com as nossas expectativas”. O cofundador afirma que “o objetivo era angariar 30 000 euros através de

‘crowdfunding’ e durante o processo só conseguimos 2 700 euros”. Porém, têm recebido um ‘feedback’ positivo que lhes tem aberto oportunidades. “Estamos a conseguir dar visibilidade ao projeto, a falar com algumas editoras, com investidores privados e num programa lançado pelo Instituto Pedro Nunes”, acrescenta Cláudio Fernandes. Para futuros lançamentos, José Nunes relata que pretendem “fazer jogos centrados na vertente narrativa, em temas que podem ser relacionados com História e com componentes de humor”. Cláudio Fernandes refere que um dos principais objetivos é “que o jogador tenha uma experiência de entretenimento, a oportunidade de aprender algo novo e, ao acabar o jogo, sinta que tenha algo para contar”.


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A ESCRITA VIVE-SE - POR VALDEMAR GOMES - SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR ANA RITA OLIVEIRA / SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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odas as histórias são escritas in media res. Nenhuma narrativa existe por si, senão alicerçada por uma rede de narrativas que a embalam e impulsionam a diferentes rumos, ora partilhados, ora chocantes entre si. Feito uma Eneida ou uma aventura Lusíada, todos nós nascemos in media res. Fomos largados feito gotas pingadas neste oceano em tormentas, sem saber ler nas estrelas o nosso destino ou remar sequer o barco que tripulamos. Neste oceano imenso de ondas contraditórias, profundidade desconhecida e tempestades alheias, traçamos os mapas que nos orientam. E a vida baseia-se muito nisto, para saber o nosso destino é necessário esboçar um mapa, é necessário descobrir o que cá estava antes de nós, bussolar os ventos e os seus desnortes. Todos somos impulsionados por ventos quaisquer para uma praia qualquer. Ninguém sabe a origem do vento que move a onda em que embarcamos ou a praia final a que cada uma se destina. Ao nascer, tudo o que nos rodeia já começou antes de nós e tudo o que permanece ain-

da tem um destino a delinear. Somos todos personagens secundárias de outrem, e protagonistas desta grande autobiografia em tinta movida na qual cada passo mancha a terra, cada fala molda a língua, e cada ação aciona outra. Os pais que cá nos largaram, tiveram vontades e impulsos e histórias complexas como a nossa. Traumas, amores, vontades e terrores. Estão capítulos à frente de nós mas decidiram nomear uns quantos em nossa honra. As palavras que falamos tiveram anos de formação, deformação, sons que as originaram e cujas suas origens ainda hoje ressoam ruas afora. A palavra “espada” é o eco da primeira espada rudimentar a ser desembainhada. A palavra “linda” enraíza-se na mesma árvore que “legítima”. Quem somos nós para dizer que não floresceremos estas árvores doutras cores e ramos no futuro? O futuro da língua é incerto mas é enraizado na mais bela das vontades: a de comunicação, de entrelaçamento de narrativas, de construção conjunta deste vasto e devasso

mundo que devastamos e aprofundamos. Após termos delineado os contornos do puzzle de que somos não somente integrantes mas também criadores, aí, com as peças disponíveis do passado, as ferramentas que a História nos deu, construiremos e construímos o futuro que será a nossa história. A nossa história é o desnorteio de que nos livramos com o desnorteio dos outros. Tal e qual cão a caçar a sua própria cauda. O futuro é o que acontece enquanto olhamos para trás. É feito gato a enrolar o novelo que desata. E neste ata e desata; faz-se a vida, faz-se história, fazemo-nós. Procuramos solução à lei da morte mas não há legislação que nos proteja, portanto, comportamento por comportamento vamos escrevinhando a nossa própria constituição, da qual em constante reforma e revisão solidificar-se-á a nossa identidade. Após o fim do nosso protagonismo, só podemos esperar ter criado ondas fortes o suficiente para embalar as próximas gotas nesta grande e excruciante viagem vitalícia.


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CRÓNICAS DO TRODA - POR ORXESTRA PITAGÓRICA INÊS DUARTE

C

omo atesta a placa torta à entrada da AAC, já há bem mais de 100 ânus que vagueamos por esta terra dos estudantes e nunca vimos uma época de exames assim! Como tudo muda nesta cidade... e fica tudo na mesma, num ciclo vicioso impregnado de um perpétuo sadismo digno dos ciclos eleitorais da nossa 3ª República! A seguinte história é só mais uma de muitas que definem esta altura tão crítica e marcante da vida académica, onde todas as noites, escondidos por entre as ruas e tascas aparentemente desertas, sempre se encontram aqueles que, por excentricidades tanto etílicas como carnais, festejam ou tentam esquecer mais um exame. É assim a vida de estudante: O Troda está fora de si! Aposta os últimos 10€ num Placard e volta a casa, confiante de que o exame está no papo e a aposta é garantida, para jantar com uma calma que já não tinha há um mês. Jantado, liga ao seu irmão de Praxe, o Paulão, para combinar a desforra. Não contém o espanto quando o amigo lhe conta o seu último chumbo e que, tendo que ir a Recurso, não o poderá acompanhar. Fica combinada uma saída à antiga para depois do seu exame. Troda abre o seu PC para ver os resultados. Ganha 25€ e empreendedor como é, reinveste logo 20€ pois em equipa que ganha não se mexe! Sobram assim 5€, com os quais o Troda compra tabaco, abdicando do café - a vida de estudante exige sacrifícios. Chega Domingo e os golos do CR7 não chegam desta vez para brindar o Troda com mais dinheiro. Liga de imediato ao Paulão para con-

tar a má notícia e este, como bom amigo que é, abdica de tentar fazer a única cadeira que lhe falta e seguem juntos para o Bigorna (afinal é para isso que serve a época de finalista). Ao pobre Troda, sobravam-lhe 0,50€ o que hoje em dia é um orçamento complicado para uma noite de copos, principalmente desde que acabaram os packs do NL. O Paulão vê no Multibanco e já só lá tem 10€, pois torrou o resto em montanhas de fotocópias para o seu último exame - a vida de estudante é cara. Naquele espírito de companheirismo típico dos irmãos de Praxe, Paulão conforta Troda: “Tenho 10€, posso emprestar 5!”. O Troda aceita mas, triste por não ter feito nenhuma cadei-

ra, ter perdido dinheiro no Placard e ter “obrigado” o Paulão a faltar ao exame, volta a casa às 2:00, ainda com 2 finos do pack do Bigorna no bolso. Na semana seguinte diz aos pais que as notas ainda não saíram e que tão cedo não vai poder voltar no fim de semana devido às frequências e trabalhos do 2º semestre que entretanto começou. Claro que o verdadeiro motivo é a falta de dinheiro devido ao seu vício nas apostas. Mas o Santana não quer saber disso e os velhos dos lares da Misericórdia não vão trocar as fraldas sozinhos. Só lhe resta deixar-se de tristezas e preparar-se para as aulas, senão qualquer dia o convidam para Dux.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

O PRESTÍGIO DO CARGO ASSOCIATIVO

S

er presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) já não é o que era. Pode também nunca ter sido. Mas, pelo menos, parecia haver uma espécie de código de conduta público em relação ao que se era. Hoje, é preciso criar um Código de Ética para educar os dirigentes e acalmar a sua consciência. Nas últimas presidenciais, tivemos um presidente da DG/AAC, já em final de ciclo mas ainda em exercício do cargo, mandatário de uma candidata. Ela saiu com 4%. Ele saiu com pouco mais.

SALA DE EX-TUDO

E

ra uma vez uma sala de estudo. Onde estudantes passavam horas a esfalfarem-se num espaço em que tanto podiam concentrar-se nos exames como curtir as noites de borga do bar da Associação Académica de Coimbra (AAC) sem apanhar chuva. Essa sala já não se encontra entre nós desde dezembro. Previa-se que ressuscitasse, qual resolução de ano novo, mas a Direção-Geral da AAC anterior deixou-a na cruz, entre pregos e tábuas de madeira. Se a vamos rever antes da próxima época de exames? Esperemos por um milagre pascoal.


1 DE MARÇO DE 2016 ARTES FEITAS - 10 -

CINEMA

O jornalismo como ele é - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

Spotlight De

Tom McCarthy

Com

Mark Ruffalo Rachel McAdms Michael keaton

2015

E

stes são os números do filme: 98 prémios nos mais diversos quadrantes, somados a seis nomeações para os Óscares e 120 noutros galardões. Estes são os números da história verídica: mais de 600 artigos entre 2002 e 2003 e o Pulitzer. A crítica, por este ângulo, é matematicamente fácil de fazer. Mas o jornalismo, pedra basilar da película, é tudo menos fácil. É no retrato que faz do mundo da imprensa escrita que o filme de Tom McCarthy se distingue. É o ângulo dado que o torna um filme sobre jornalismo, e tudo o que isso comporta, e não um filme sobre abusos sexuais, uma área opaca onde poderia ter caído de forma displicente. No centro da trama está a equipa de investigação

‘Spotlight’, coordenada por Walter Robinson, editor do ‘Boston Globe’. O papel cabe a Michael Keaton, que o executa de forma sóbria, secundado por um elenco de luxo: Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Liev Schreiber. A história remonta a um período de oito meses, em 2001 (que coincide com o 11 de setembro), onde aquela equipa de jornalistas investiga de forma minuciosa, o que se viria a tornar um dos maiores escândalos de pedofilia mundiais, e um estigma ainda hoje não extirpado na Igreja Católica. O final nada pode trazer de surpreendente; não há algo mais contundente na sétima arte do que uma verdade contada. ‘O Caso Spotlight’ está entre os nomeados

EM PALCO

dom quixote (de coimbra) 25 de fevereiro a 19 de março de 2016 sábados, 16h00 e 21h30 75 min > M/6

para o Óscar de melhor filme. Pode estranharse mas a justificação ocupa poucas linhas. Este é um filme que se tornará um clássico pela maneira como chega ao espectador sem precisar de efeitos especiais. Deveria tornar-se um requisito obrigatório a quem quer fazer de um gravador, um bloco de notas e uma caneta os seus instrumentos de trabalho. Nele, a noção de tempo é explanada na perfeição, na forma como cada segundo conta mas nenhum segundo se detém. Mas, acima de tudo, é um filme que se tornará um clássico por retratar o jornalismo como realmente é: duro e exigente com quem o faz, mental e fisicamente. O seu objetivo final é sempre a verdade. Como nestes 128 minutos.

Antes Cervantes - POR FÁBIO LUCINDO -

Em

Oficina Municipal do Teatro

I

nspirar-se em clássicos literários para levar ao palco histórias consagradas com um toque de contemporaneidade é relativamente comum no teatro. Nada contra, mas ao mesmo tempo em que a obra referida oferece um seguro caminho de apoio, sua aura pode criar uma sombra difícil de iluminar. Dom Quixote de Coimbra, em cartaz na Oficina Municipal de Teatro (OMT) até 19 de março fica neste limbo. Eleito em 2001 como “o melhor livro de todos os tempos” pela Nobel Foundation, trabalhar sobre tal cânone demanda coragem. A trupe d’O Teatrão foi competente em diversos aspec-

tos mas apenas quando é auto referente e auto crítica aponta para algo interessante. A costura dramaturgica com excertos de António José da Silva, Monteiro Lobato, Yevgeni Shavrts e Orson Welles cria uma trama que não aprofunda nem avança na obra original. Resta-nos acompanhar mais a saga da Governanta e da Sobrinha por seu desvairado tio que qualquer tipo de reflexão ou proposta de desenvolvimento. O cenário, em sua milimétrica desorganização, compõe uma unidade inteligente e funcional que permite aos atores explorarem todos os níveis cênicos. O figurino também se destaca, é nítido o trabalho que dialoga com o cenário e parece não oferecer desconforto aos atores. A luz , embora tenha seu protagonismo quan-

do interage com o cavaleiro da triste figura, poderia oferecer mais que deixar a cena avermelhada nos momentos “quixotecos” e criar pequenos recortes para isolar determinadas situações. O elenco é seguro, competente. Um trabalho de corpo muito bem dirigido e executado numa estética clownesca que invariavelmente faz rir com suas “gags”. As atrizes defendem bem seus múltiplos personagens mesmo quando tem que realizar a ingrata tarefa “rapper”. Destaque para João Castro Gomes que construiu um Sancho Pança digno de Cervantes, é o grande nome da peça. Se Isabel Craveiro quis criar uma epopéia dentro da epopéia, conseguiu. Se isso nos leva a algum lugar... você terá que tirar suas próprias conclusões numa visita à OMT.


1 DE MARÇO DE 2016 - 11-

MÚSICA

Ainda há canções no Jazz - POR FILIPE FURTADO -

Q

ue o panorama do Jazz em Portugal é impressionante já não é novidade nenhuma. Melhor mesmo é quando esse traço musical nos chega mesmo da rua ao lado. Falo-vos de Luís Figueiredo, pianista nascido e criado pelas paragens de Coimbra, e João Hasselberg, contrabaixista natural de Lisboa. Depois de “Manhã”, “Lado B” ou “Palavra de Mulher”, com assinatura de Figueiredo, ou “Whatever It Is You’re Seeking, Won’t Come In The Form You’re Expecting” e “Thruth Has To Be Given In Riddles”, da autoria de Hasselberg, chega-nos “Songbird Vol. I”. O disco lançado a sete de Dezembro enche-nos de espaço, dessa liberdade tranquilizante que o duo piano/contrabaixo permite. “Songbird Vol. I” é um revisitar de outros autores, numa escolha muito eclética. Na faixa de abertura encontramos “August Winds”, de Sting, logo de seguida “O Elixir da Eterna Juventude”, de Sérgio Godinho; ou “Carolina”, de Chico Buarque. Pelo meio e pelo fim encontramos também composições de Dorival

Songbird Vol. I De

João Hasselberg e Luís Figueiredo

Editora

symphonic

2015

Caymmi, Fausto, George Gershiwn, Coldplay ou António Carlos Jobim. Luís Figueiredo e João Hasselberg modificam e retocam os temas com subtileza, nessa homenagem que é o reinterpretar. Um disco despretensioso que nos embala a calma a cada faixa. Um contar de histórias (verdadeiras canções) onde o canto dos pássaros é o revezar entre contrabaixo e piano. Além da qualidade que Luís Figueiredo transporta nas re-harmonizações, são os espaços, os silêncios, as pausas, os encontros e desencontros entre essas duas vozes que criam o todo neste disco, tanto nos temas melodicamente mais densos como “Everything Means Nothing To Me/Violet Hill”, quer naqueles com menor preenchimento melódico como “É Doce Morrer no Mar”, de Dorival Caymmi. O Piano de Luís Figueiredo e o Contrabaixo de João Hasselberg dão-nos essa primavera de sons em “Songbird Vol. I” e a certeza de que no jazz há quem ainda adore canções. Ficaremos à espera de um segundo volume.

LIVRO Oxus - POR ALEXANDRE VALINHO GIGAS-

A

poesia é uma forma sublime de nos deixarmos transportar para outros mundos e novas realidades, algumas das quais nunca havíamos visitado. É também um modo de revisitar o passado, como quem funda os alicerces do futuro na História. Em Coimbra, a editora do lado esquerdo tem apresentado um conjunto de livros que são excelentes portas para essas viagens. Neste Oxus, André Tomé retrata e levanos pela viagem de Alexandre da Macedónia ou Alexandre, o Grande, como é mais conhecido. Os próprios títulos dos poemas deste livro nos dão coordenadas concretas do precurso do Homem ao Mito; “A Este do Oxus”, “Antes de Siwa”, “de Siwa ao Pamir” e “A Este do Zagros”. Mas, a geografia que se encontra nas palavras deste volume é uma outra, ou são várias as geografias possíveis. Por um lado, a geografia concreta de Alexandre da Macedónia, essa que se esfuma no Mito de Alexandre, o Grande. Por outro, a geografia do próprio autor que se revela em

alguns passos “o que está dentro/ tão dentro como a Este do Oxus/ um só rio calamitoso que lá fora corre/ a todo o momento”. O autor percorre a fronteira entre o Périplo de Alexandre e o seu próprio percurso para dotar, numa linguagem despida e simples, as imagens e as questões que coloca de uma tremenda força poética. Revela um jogo linguístico que denota um pensamento profundo e um trabalho exaustivo sobre o texto. André Tomé coloca-nos interrogações tão humanas, que a todos dizem respeito. “O que trará o Amanhã?/ Depois do fim?/ a vitória tardia?” Pois a Contra Revolução que se vive “é como acordar/ e ainda dormir” e a grande viagem só acontece quando se decide “desertar (…)/ seguir no rasto das últimas caravanas/ um só sentido em cada junção”. No seu Oxus, o autor cimenta o seu lugar na mais recente poesia escrita e publicada no nosso país. Lamenta-se apenas o facto da edição ser limitada a 100 exemplares.

Oxus De

André Tomé

Editora

Do Lado Esquerdo

2015


Mais informação disponível em

cabra.wordpress.com JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL - POR INÊS DUARTE E VASCO SAMPAIO -

Desmantelamento de navios

E

m termos ambientais, o ´shipbreaking’ é uma das maiores ameaças, a nível mundial, do século XXI. O facto de não ter ressonância global, de continuar a ser uma preocupação de poucos, é mais um motivo para que tenha de se tornar um destaque. Não só ambientalmente, mas também em questões éticas a situação se torna alarmante. O trabalho infantil faz parte do quotidiano de uma atividade que continua a não ser legislada, muito menos controlada pelas entidades competentes nos países onde tal acontece. As condições laborais são precárias, com os trabalhadores a exercerem a sua atividade na presença de materiais tóxicos, sem qualquer tipo de proteção. Em Portugal, como pela Europa, há vários locais onde o desmantelamento pode ser feito seguindo normas definidas pela União Europeia. É lamentável que pouco ou nada se fale sobre isso.

Nenhuma das partes sabe ao certo o que é que parou as obras e o que falta para as retomar. Enquanto isso, passou a época de exames do primeiro semestre e nenhum estudante pôde usufruir do espaço.”

Sala de estudo

T

al como os navios, também parte do edifício da Associação Académica de Coimbra (AAC) foi desmantelado. É maior a confusão à volta da sala de estudo da AAC do que as obras propriamente ditas necessárias para a recuperar. Existem valores que não batem certo entre ex-dirigentes e dirigentes atuais. Nenhuma das partes sabe ao certo o que é que parou as obras e o que falta para as retomar. Enquanto isso, passou a época de exames do primeiro semestre e nenhum estudante pôde usufruir do espaço. A obra e os seus desenvolvimentos tornaram-

se um verdadeiro mistério. Diz-se, somente, que existem problemas burocráticos que envolvem a Universidade de Coimbra e outras entidades com participação na reestruturação, sem que sejam procuradas respostas concretas para as dificuldades visíveis. Sendo uma prioridade para toda a Direção-Geral da AAC (DG/AAC), especialmente para o pelouro da Administração, é difícil compreender o porquê de um processo de tal forma moroso e pouco claro e tão pouco transparente. Pelo andar da carruagem, ninguém diria que os dirigentes atuais estiveram também na DG/AAC anterior.

Ficha Técnica

Diretora Inês Duarte

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editor Executivo Vasco Sampaio Equipa Editorial Vasco Sampaio (Ensino Superior), Carolina Farinha (Cultura), Fábio Lucindo (Desporto), Margarida Mota (Ciência e Tecnologia) Fotografia Inês Duarte, Alexandre Gouveia Ilustração Afonso Paiva

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaborou nesta edição Mariana Afonso, Carlos Almeida, Mariana Azevedo, Philippe Alexandre Baptista, Mariana Bessa, Cristina Pinilla Carrasco, Rita Espassandim, Rita Fonseca, Alexandre Gouveia, Rita Lima, Carolina Marques, Rita Moreira, João Pimentel, Rita Portugal, Ana Miguel Regedor, João Ruivo, Gabriela Salgado, Mariana Saraiva, Camila Vidal

Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Paulo Sérgio Santos Paginação Afonso Paiva

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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