Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 194

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GRAN TORINO

DESEMPREGO

O último trabalho do realizador veterano, Clint Eastwood, é uma reflexão sobre a solidão e a velhice P 18

CÉREBRO A vida dos estudantes pode ter uma má influência?

Portugueses na rua e preocupados com o futuro

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17 de Março de 2009 Ano XVIII N.º 194 Quinzenal gratuito

a cabra

Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo

Norberto Alves

“Vamos tentar jogar e ganhar jogos”

No fim-de-semana em que a Académica saiu derrotada na visita ao Benfica e acabou com um ciclo de seis vitórias consecutivas, o treinador da equipa sénior de basquetebol da Académica fala da participação do clube na liga portuguesa, do novo modelo da prova, na carreira e no futuro. Norberto Alves elogia a coesão de grupo, apesar das limitações financeiras e desportivas

Jornal Universitário de Coimbra

Estudantes da CPLP acusam direcção-geral de distanciamento Os dirigentes das associações que representam os estudantes não portugueses da CPLP denunciam a “ausência” das direcções-gerais da AAC nas actividades que desenvolvem. Um dos estudantes afirma que “a DG/AAC não tem sabido criar mecanismos que

permitam a integração dos estudantes da CPLP”. O presidente da direcçãogeral, Jorge Serrote, no entanto, diz que “é a direcção-geral que está empenhada em estreitar laços”. Já o presidente da Organização dos Estudantes Guineenses em Coimbra acusa directamente a

Associações de estudantes dizem ser contactadas apenas para as eleições

actual direcção de “manipulação”, ao ter apresentado, na última Assembleia Magna, uma moção em alternativa à proposta que previa a ida à manifestação a Lisboa pela defesa dos direitos dos imigrantes.

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João Mesquita Um homem de causas, de lutas e de jornalismo P7

Dois dias de luta

Estudantes mobilizam-se Um grupo de estudantes da Faculdade de Letras vai mobilizar-se, amanhã, em frente à faculdade para expressar o descontentamento com a implementação do regime jurídico do superior e do Processo de Bolonha. A direcção-geral promove no dia seguinte, 19, um protesto silencioso no Largo D. Dinis.

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Mais informação em

acabra.net

Pela madrugada agitada de Coimbra As profissões que conhecem a cor da noite

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DESTAQUE

SEMANA INTERNACIONAL DO CÉREBRO

Bem-vindo ao cérebro de um estudante Até ao próximo domingo, 22, comemora-se a Semana Internacional do Cérebro e A CABRA aproveitou para fazer um “retrato” ao cérebro do estudante universitário. Por Diana Craveiro e João Ribeiro Os hábitos diários de qualquer pessoa influenciam o seu cérebro. Disto já ninguém tem dúvidas, porque há vários estudos que o provam. A alimentação, as horas de trabalho, o tempo de descanso e até os 'hobbies' são factores decisivos para as respostas que o cérebro dá. O poeta António Gedeão, que era

A leitura é uma actividade que preenche grande parte da rotina de qualquer estudante universitário, basta reparar nas filas nos serviços de reprografia para o comprovar. Mesmo quem não morre de amores por livros sente que é impossível fugir-lhes. Toda esta exigência traduz-se numa tendência dominante: os estudantes universitários muitas vezes cingem-se àquilo que são obrigados a ler. De que forma pode estar isto relacionado com o cérebro? A leitura tem uma grande influência no desenvolvimento cerebral, na medida em que “altera até a própria estrutura física do cérebro e do sistema nervoso”, segundo a coordenadora do Plano Nacional de Leitura, Isabel Alçada. “Há mais conexões sinápticas nas pessoas que desde cedo lêem, do que naquelas que não lêem”, explica. A concentração e a memória são dois dos campos em que os efeitos da leitura mais se manifestam. De acordo com Isabel Alçada, “o hábito de ler exige que as pessoas estejam quietas, com os olhos fixados num determinado ponto”, o que traz benefícios para a concentração. Já em relação à memória, a escritora mostra-se mais incerta, visto “não haver certezas em como

também um homem das ciências, dizia que “o sonho comanda a vida”, mas o que de facto se passa é que o cérebro comanda o sonho. Embora continue a ser um segredo para muitos investigadores, é unânime qual o papel do cérebro em todas as actividades do corpo humano. Desde as funções vitais até

ela se desenvolve”. No entanto, sabe-se que “o exercício de memorizar textos é importante”, mas Isabel Alçada adverte: “a leitura tem de estar associada à vontade de fixar”. A autora compara a leitura a “uma escalada que exige esforço e dá prazer” e, continuando a metáfora, afirma que “o estudante universitário tem muito mais hipóteses de chegar ao Everest da leitura”, do que quem não percorre todo o sistema educativo. Actualmente, assiste-se a uma progressiva substituição da leitura tradicional pelos meios tecnológicos, para o qual os estudantes também contribuem. Isabel Alçada não considera esta situação ameaçadora para a leitura em papel: “a comunicação através da leitura de livros é uma invenção extraordinária, que marca a Humanidade de uma forma tão profunda que se pode dizer que é inabalável”. A autora admite que “as pessoas recorrem muito mais depressa à informação na Internet do que, por exemplo, às enciclopédias”. No entanto, adverte que é preciso “distinguir o trigo do joio” e que “as pessoas vão sendo cada vez mais alertadas para aquilo que é credível ou não”. J.R.

aos movimentos de pernas e braços, passando pelos sonhos e o raciocínio, o cérebro é que dirige as operações. Com tudo isto, prevê-se que os efeitos sobre o cérebro se reflictam em vários campos da vida prática. A vida do estudante universitário, como qualquer outra, tem roti-

nas muito próprias. Horas de aulas e de estudo, leitura, noitadas, excessos de álcool e drogas, pressão dos exames e o recurso a complementos cerebrais são alguns dos hábitos que caracterizam a vida universitária e que deixam marcas incontornáveis no cérebro humano. Muitas das doenças e desconfortos

que experimentam têm origem nestas rotinas. É de esperar que o cérebro reaja de maneiras diferentes consoante a maior ou menor exposição a elas. Coloca-se então a questão: o cérebro dos estudantes universitários anda cansado desta (má) vida? Os especialistas pronunciam-se.

O álcool acompanha a vida universitária, mas quando ingerido em excesso pode ter efeitos negativos. Ana Rita Álvaro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra e da Sociedade Portuguesa de Neurociências (SPN), explica que, "dependendo da quantidade de álcool ingerido, diferentes áreas cerebrais são afectadas". Inicialmente, é o equilíbrio que sofre alterações, mas o álcool pode também vir a alcançar "áreas responsáveis por funções vitais que levam à perda de consciência, ao coma e mesmo à morte", acrescenta. Quanto mais jovens forem os consumidores de álcool, mais prejudicial é a sua ingestão. Em idade precoce, o cérebro ainda está em desenvolvimento, pelo que o consumo de álcool o pode afectar. Ana Rita Álvaro diz que "o álcool também perturba os níveis de con-

centração, portanto um jovem estudante vai apresentar redução no desempenho escolar". Embora "o consumo crónico de qualquer substância nociva seja prejudicial à saúde", como defende Ana Rita Álvaro, "tudo depende da quantidade". Tomando como exemplo a ingestão de quatro cervejas diariamente, o membro da SPN não considera que este seja um número grave. Contudo, "esse acto repetido diariamente por longos períodos não é desejável, sobretudo em idades precoces". ”O consumo crónico de todas as drogas, tal como o álcool, causa a morte dos neurónios”, esclarece Ana Rita Álvaro. A sua regeneração, embora já se saiba que ocorre, não é feita à mesma velocidade a que morrem os neurónios. Em situações mais graves, "um consumidor crónico de drogas tem alterações de comportamento e de capaci-

dade física e intelectual", específica. Segundo um estudo orientado por um membro do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, o haxixe, junto das camadas mais jovens, é a substância ilícita mais consumida. Considerada por muitos como sendo uma droga leve, Ana Rita Álvaro lembra que “há estudos que mostram uma relação no consumo de haxixe e o desenvolvimento de esquizofrenia". Outro dos problemas do consumo de drogas é o desenvolvimento de comportamentos depressivos. "O consumo crónico de ecstasy pode provocar situações depressivas, porque esta droga afecta o sistema serotoninérgico, isto é, a libertação de serotonina, um neurotransmissor responsável pela boa disposição", esclarece Ana Rita Álvaro. D.C.


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DESTAQUE

A utilização de computadores e a navegação na Internet são autênticos rituais sagrados para a maioria dos estudantes. Msn, Google, Hi5, Facebook e Wikipedia, são termos familiares para o estudante comum, que quase já não passa sem aceder diariamente à web. Além das horas em frente ao computador, há um sem número de outros estímulos tecnológicos a que o cérebro humano não é indiferente, desde o telemóvel à televisão, passando mesmo pela simples máquina de calcular. Para o presidente do Instituto da Inteligência, Nélson Silva, fugir a todo este fluxo de informação “é como tentarmos fugir da nossa própria sombra”. “O cérebro está sempre de antenas

voltadas para onde haja informação. Uma simples mosca que passe ao seu alcance é automaticamente detectada, registada e transformada numa imagem mental”, explica. As consequências deste autêntico bombardeamento de sons e imagens estão relacionadas com a maior ou menor exposição a informação. No limite, o ser humano desenvolve uma “dependência de ecrãs” e passa por aquilo que o presidente do Instituto da Inteligência apelida de “transe hipnótico-tecnológico”. Este estado é provocado “por uma elevada concentração nos conteúdos de ecrãs, nomeadamente nos computadores” e culmina numa “’atenção fascinada’, próxima da que se obtém em transe hipnótico”, conta o investigador. A um nível mais prático tudo isto se traduz de várias formas: “andar sempre a bocejar; adormecer nas aulas; es-

quecer-se do que se anda a fazer na vida; perder a cabeça por dá cá aquela palha ou entrar em ebulição à mínima frustração ou à mínima contrariedade”, enumera Nélson Silva. Um estudo recente realizado por uma investigadora britânica revela que as redes sociais online (Hi5, Facebook e Twitter, são alguns exemplos) provocam, a longo prazo, nos seus utilizadores uma “infantilização” do cérebro. As principais consequências são egoísmo, défices de concentração e dificuldades em relacionamentos. Nélson Silva não acredita que “o cérebro faça uma viagem de regresso ao passado”. Contudo, o presidente do instituto admite que, “a nível mental e, por conseguinte, a nível psicológico, possa haver uma aquisição de atitudes e linguagens mais infantis”. J.R.

A maioria dos estudantes universitários recorre à automedicação para ter um bom rendimento face ao esforço intelectual. A conclusão parte de um estudo feito pela Escola Superior de Saúde de Viseu que foi divulgado em Novembro do ano passado. A pesquisa foi feita em 1004 estudantes universitários, com idade média de 19 anos, e englobou alunos da área das ciências da saúde, gestão, administração e línguas. Ana Rita Álvaro, do Centro de Neurociência e Biologia Celular, explica que "existem suplementos vitamínicos que não são prejudiciais para o cérebro, uma vez que normalmente servem para aumentar a concentração e combater a fadiga e quando utilizados de forma regrada são benéficos e produzem geralmente o efeito pretendido". No entanto, além de complementos para o cérebro, há estudantes que recorrem a anti-depressivos na época de exames, algo que Ana Rita Álvaro desaconselha, porque "para além de deverem ser tomados apenas com indicação médica, não devem ser tomados em situações pontuais, como em situações de stress agudo como se verifica em épocas de exame". Se o objectivo for controlar a ansiedade e o nervosismo destas alturas, "há outros fármacos mais indicados", defende. Os anti-depressivos, quando

tomados sem vigilância médica e de forma não controlada, podem ter efeitos negativos. Segundo Ana Rita Álvaro, estes medicamentos "provocam alterações na libertação de neurotransmissores no cérebro e, por isso, não podem ser deixados de tomar de qualquer maneira, caso contrário o cérebro ressente-se podendo ocorrer alterações de comportamento contrários ao efeito inicialmente desejado". Outra situação que os estudantes costumam repetir em fase de exames são as directas. A docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Maria Salomé Pinho, explica que "quando as pessoas estão numa situação de maior stress ou ansiedade, torna-se mais difícil recordar informação que aprenderam, mas o sono deve ser feito de forma distribuída". "Há dados que chamam a atenção para o facto de o sono ajudar à consolidação da informação na memória", afirma. A docente da FPCEUC adverte ainda que "as pessoas que fazem directas na altura em que a memória vai ser processada podem vir a prejudicar o seu desempenho". Maria Salomé Pinho defende que o estudo é a melhor forma para exercitar a memória e diz que as directas são "um esforço muito concentrado e intenso que provocam desgaste no organismo". D.C.

Semana assinalada no Museu da Ciência Patrícia Neves “Cérebro e arte” é o tema deste ano da Semana Internacional do Cérebro. Por isso, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra agendou um conjunto de actividades para esta semana. No espaço vão estar expostas montagens que visam dar a conhecer alguns aspectos da neurociência. A exposição é dirigida em particular ao público mais jovem. Hoje, 17, quinta-feira e sextafeira vão decorrer palestras onde se vai relacionar o cérebro com a arte. Foram convidados cientistas do cérebro e mesmo pessoas que se dedicam à poesia, como Luís Quintais, para expor a sua perspectiva quanto à investigação do cérebro e a importância que tem no trabalho. Neurocientistas, investigadores em neurociência, neurobiologia geral e biologia geral, tais como Paulo Pereira e Marta Menezes, também vão expôr as suas ideias. Estas palestras acontecem sempre às 16 horas.O Centro de Neurociências vai também visitar escolas. Em homenagem aos 60 anos do Nobel de Egas Moniz, amanhã de-

corre um colóquio para o qual foram convidados neurocientistas, neurocirurgiões e historiadores para debaterem qual a importância que hoje se dá às investigações que Egas Moniz realizou. “Achámos que esta era uma homenagem que fazia sentido, já que seria interessante fazer uma reflexão sobre a importância e as implicações daquele que a dada altura foi considerado um Nobel controverso devido às consequências da utilização da técnica da lobotomia”, explica o director do Museu da Ciência, Paulo Gama Mota. Catarina Resende de Oliveira, Alexandre Castro Caldas, Miguel Castelo Branco, Fernando Gomes e Manuel Correia são os especialistas convidados.


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ENSINO SUPERIOR Rumo político da AAC divide a Academia novamente SÓNIA FERNANDES

A ASSEMBLEIA MAGNA votou a favor de todas as moções apresentadas pela DG/AAC

Moções que previam uma manifestação nacional em Lisboa e um abaixo-assinado contra o RJIES foram aprovados em ambiente de discórdia Cláudia Teixeira Na Assembleia Magna (AM) da passada quarta-feira, 11, foi discutida a linha de acção política da Associação Académica de Coimbra (AAC), num plenário que gerou

discordância entre os estudantes que se encontravam reunidos. A estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) Sílvia Marques apresentou uma moção que, no primeiro ponto, previa o repúdio do modelo de gestão das faculdades, imposto pelo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) e no segundo um abaixoassinado. A moção foi votada ponto por ponto e o primeiro ponto foi reprovado, ao passo que o segundo foi aprovado. De acordo com a proponente, “a moção em nada compromete a posição da Direcção-Geral da AAC

(DG/AAC). Era uma medida consensual, que correspondia a uma deliberação de magna”. Sílvia Marques afirma que foi uma “incoerência política brutal” e que houve “desonestidade para com os estudantes que estavam na magna e para com todos os estudantes que a associação académica representa”. A estudante acrescenta que “foi uma tentativa de tomada de posição que revela alguma inexperiência por parte desta DG/AAC”. O presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, explica que “não se trata aqui de incoerência, é uma questão de não voltar a fazer algo que já foi feito depois de já estar traçado o

rumo e a forma de lutar contra o RJIES”. Para a estudante da FCTUC, o facto de a DG/AAC ter votado contra o primeiro ponto e ter-se abstido no segundo “parece ter sido por terem sido chamados à atenção aquando a reprovação da tomada pública de posição contra o RJIES”. Jorge Serrote, assegura que “não foi certamente por aquilo que a proponente disse que se alterou o voto”. “Pedimos para ser votado ponto por ponto precisamente porque as votações iam ter sentidos de voto diferentes”, justifica. Sílvia Marques refere que quando apresentou a moção, “pensava que a DG/AAC iria votar a favor do primeiro ponto e chumbar o segundo, porque o abaixo-assinado é uma proposta concreta de acção e não me parece que esta direcção-geral tenha vontade de apresentar propostas concretas de acção e de as concretizar”. Serrote afirma que “o abaixo-assinado é algo que verdadeiramente não estava vocacionado como algo que fosse, naquele momento, o melhor caminho, mas consideramos também que não seria algo mau fazer. Daí a abstenção”. Também a moção apresentada pela estudante da Faculdade de Letras da UC (FLUC) Ana Beatriz Rodrigues gerou discussão entre os estudantes presentes na Assembleia Magna, tendo os votos sido contados três vezes. A moção previa uma manifestação nacional em Lisboa a efectuar depois do Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA) que se vai realizar em Maio. A proposta vai ser apresen-

tada, pela DG/AAC, às associações de estudantes presentes no ENDA e a proponente da moção espera que “a direcção-geral faça tudo para que a proposta seja aprovada”. Jorge Serrote explica que “caso a moção não seja aprovada em ENDA, tem que se equacionar, porque se aquilo é para ser uma manifestação nacional torna-se complicado não termos o apoio das outras académicas”. O dirigente associativo afirma que “antes do ENDA vai-se discutir essa questão com a proponente e talvez, até, levar a discussão a magna”. No que diz respeito às questões discutidas em AM, Ana Beatriz Rodrigues assegura que “não temos uma academia unida e acho que há uma tentativa da DG/AAC em não agrupar tudo”. A estudante da FLUC ressalva que “a direcção-geral esteve bem em relação a certas propostas como é o caso da iniciativa ‘UC a pente fino’ e do caderno reivindicativo”. Além das moções referidas, na última AM foi aprovada a elaboração de um caderno reivindicativo e a apresentação de uma queixa ao Provedor de Justiça a requerer a fiscalização sucessiva do RJIES e da Lei de Financiamento do Ensino Superior, tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade dos diplomas. Um “Jogo das Cadeiras”, um minuto de silêncio pelos direitos dos imigrantes, uma concentração silenciosa e um levantamento dos actuais problemas das faculdades, obtiveram também o voto a favor dos estudantes reunidos em Assembleia Magna.

SASUC esperam concluir atribuição de bolsas até final de Março Alteração do regulamento de atribuição das bolsas a meio do ano levou serviços a rever processos que já estavam concluídos Pedro Crisóstomo Os Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC) esperam que a atribuição de bolsas de estudo “à maior parte” dos processos que estão pendentes neste momento esteja concluída no final de Março, adianta a coordenadora dos serviços de bolsas, Elisa Decq Motta. Até à sexta-feira passada, havia 6161 concorrentes a bolsas, mais 329 do que em 2007-2008. Mas, desses processos, ainda estavam pendentes 622 atribuições a estu-

dantes com documentos por entregar. A coordenadora dos serviços explica que “de uma maneira recorrente, os documentos não vêm completos” e que isso se vai “reflectindo nalgum atraso”. Ainda assim, justifica a coordenadora, este “não é o único motivo” para haver bolsas por atribuir. “A mudança de regras na atribuição de bolsas de estudo no decorrer deste ano lectivo afectou não só os primeiros anos como também os outros, quando já estávamos com processos [concluídos]”, explica. A partir de Junho passado, o novo regime deixou de considerar os rendimentos familiares dos 12 meses do ano para passar a incluir mais dois (o de Natal e o de férias). “A partir do momento em que foi alterado o procedimento, os serviços também tiveram de alterar. Isso implicou que revíssemos várias vezes muitos processos”, justifica Elisa Decq Motta. Para a coordena-

dora da Acção Social da DirecçãoGeral da Associação Académica de Coimbra, Carmo Páscoa, “o novo regulamento conseguiu tornar a atribuição de bolsas incomparavelmente mais injusta”. Na prática, faz com que “bolseiros baixem de escalão” e que, “no extremo”, sejam excluídos “mesmo bolseiros do último escalão”, critica. Tiago Silva, estudante do terceiro ano em Arqueologia e História, alega que, embora tenha recebido “quatro meses de bolsa em finais de Fevereiro”, ainda tem “dois meses em atraso”. Como entregou um documento apenas em Janeiro, diz, não chegou a pedir o adiantamento da bolsa. “No meu caso, recebo bolsa mínima, por isso o agravante é o facto de apenas receber a bolsa após já ter pago duas prestações de propinas”, conta. Ainda assim, “não penso que a administração dos SASUC seja o problema fulcral aqui”, ressalva o estudante, que en-

tende que o “problema da acção social é um problema estrutural de sub-financiamento, por parte do governo”. O exemplo do estudante não é único. “Já tivemos vários casos” de estudantes que se dirigiram ao pelouro da Acção Social por dificuldades financeiras, pelo facto de ainda estarem a aguardar a atribuição da bolsa. “E acredito que continuarão a surgir”, revela Carmo Páscoa. Nesse caso, “o primeiro passo é

ligar para os SASUC para obtermos de imediato a informação sumária”, concretiza. “Caso a bolsa não tenha sido ainda atribuída, por algum motivo, aconselhamos que os estudantes requeiram um adiantamento”, explica. Até ao momento, da parte dos SASUC, foram dados “mais de 850 adiantamentos de contas de bolsa”, o correspondente a cerca de 250 mil euros, adianta Elisa Decq Motta. LEANDRO ROLIM


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ENSINO SUPERIOR

Estudantes da CPLP denunciam distanciamento da direcção-geral Representantes dos estudantes da CPLP não portugueses em Coimbra fazem críticas às sucessivas direcções-gerais da AAC. Todavia, Jorge Serrote afirma “não perceber” as acusações LEANDRO ROLIM

Cláudia Teixeira Os estudantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) não portugueses acusam as sucessivas direcções-gerais da Associação Académica de Coimbra (AAC) de “distanciamento” em relação às associações de estudantes que representam. O presidente da Associação de Estudantes Cabo-Verdianos, Samir Silva, esclarece que “as críticas não têm a ver com a actual DirecçãoGeral da AAC (DG/AAC), mas sim com as sucessivas” e que se dirigiu à última Assembleia Magna (AM), dia 11, para “manifestar a ausência da AAC e para falar especificamente na Festa dos Sons, Saberes e Sabores em que a DG/AAC recebeu um convite e não compareceu”. Por seu lado, o presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, afirma que “é mentira”. “Tivemos convite para visitar e foi o que fizemos”, justifica. O dirigente associativo acrescenta: “desde que sou presidente da DG/AAC nunca tive um convite deles para nada”. Samir Silva explica ainda que “a crítica vai no sentido de que qualquer tipo de relação que possa existir tem de passar sempre pela boa vontade de quem estiver na direcção-geral”. “Não queremos depender da boa vontade da direcção-geral”, assegura. No entanto, o dirigente cabo-verdiano ressalva: “tenho consciência de que por parte dos estudantes que vêm dos países que representamos não há um grande esforço de integração. Faço aqui a ‘mea culpa’”. Jorge Serrote diz não perceber as acusações, “até porque se passa o contrário” e, continua, “somos nós que estamos empenhados em estreitar laços”. Samir Silva denuncia que “a DG/AAC não tem sabido criar mecanismos que permitam a integração dos estudantes da CPLP não portugueses”. Também o presidente da Organização dos Estudantes Guineenses em Coimbra, Yannick Baptista d’Alva, refere que “a atitude de indisponibilidade da DG/AAC tem sido constante”. Ambos os dirigentes afirmam ser contactados apenas em altura de eleições para os corpos gerentes da AAC: “queremos dizer um basta a esta forma de nos verem simplesmente como votantes na altura das eleições”, explica Samir Silva. O presidente da DG/AAC diz não saber “o que eles querem dizer com isso” e assegura representar todos os estudantes, “quer tenham votado em mim ou não e o tratamento é igual para todos”. E acrescenta,“obviamente que a magna é um local para discutir estas questões, mas nunca vieram falar comigo sobre isto”.

DIRIGENTES das associações de estudantes da CPLP pretendem “não depender da boa vontade da direcção-geral”

Já em 2005, no mandato de Fernando Gonçalves, as associações de estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) afirmaram a A CABRA sentir-se “negligenciadas” pela DG/AAC.

Dirigentes sentem-se “chocados” Yannick d’Alva explica que o principal motivo que o levou à AM foi “criar um ponto de partida para estabelecer uma relação de proximidade e de representatividade”. Contudo, o estudante de Medicina Dentária explica que, além da distância entre associações, o que o levou a falar foi o voto contra da DG/AAC à moção apresentada por Jennifer Jesus, relativa à divulgação e disponibilização, pela direcção-geral, de autocarros para a manifestação pelos direitos dos imigrantes que se realizou no passado domingo, 15. “Chocou-me que a direcção-geral tenha votado contra essa moção”, afirma. O dirigente guineense conta que após a AM conversou com elementos da DG/AAC e foi-lhe dito que “não tinham informação acerca da iniciativa e que, neste momento de crise, não seria adequado patrocinar uma manifestação a Lisboa”. Yannick d’Alva denuncia a situação justificando que “é irónico a DG/AAC não querer patrocinar uma manifestação quando

apresenta os lucros que tem apresentado”. Yannick d’Alva acredita que houve “manipulação” por parte da DG/AAC ao apresentar uma moção em alternativa à moção apresentada por Jennifer Jesus. A moção da DG/AAC foi aprovada e previa um minuto de silêncio, a realizar-se em Coimbra, no dia da manifestação. O representante dos estudantes guineenses em Coimbra considera que “houve uma tentativa de não assumir a responsabilidade de chumbar a moção”. Samir Silva diz que “tendo

Estudantes da CPLP não portugueses lamentam ser contactados apenas em altura de eleições em conta a vertente social da AAC, é completamente contraditório terem votado contra esta moção e a forma como tentaram contornar a questão é grave”. No que diz respeito a esta questão, Jorge Serrote afirma não entender quando falam em “manipulação” e justifica: “apesar de ter sido uma magna pouco participada, não são só

os elementos da direcção-geral que votam, portanto não percebo porque é que dizem que foi a DG/AAC que manipulou, quando houve estudantes que estavam presentes na magna e votaram neste sentido”. “Achámos que era mais oportuno fazer o minuto de silêncio e, portanto, apresentámos a moção”, acrescenta. Yannick d’Alva espera que “o presidente da DG/AAC diga alguma coisa aos estudantes” que representa, “porque a maior parte deles há-de sentir-se indignado com o que aconteceu. Quero que ele diga porque é que a direcção-geral tem essa posição explícita face à luta pela igualdade de direitos”. Jorge Serrote afirma que “a DG/AAC solidariza-se completamente com os imigrantes” mas que “foram os votos dos estudantes que estavam na magna que ditaram que assim fosse”. “Não percebo esse tipo de críticas”, remata Jorge Serrote. O estudante guineense denuncia, ainda, que “a magna é plural mas não democrática, visto que só passaram moções que a DG/AAC queria que passassem”. Mais uma vez, Jorge Serrote, afirma não perceber as críticas que são dirigidas à DG/AAC: “acho que mais democrático do que as pessoas estarem ali e votarem não pode ser, portanto não percebo porque é que não é democrático. Simplesmente não percebo”.

Estudantes organizam iniciativa de luta Filipa Faria Os estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) vão realizar amanhã, 18, uma concentração de alunos em frente ao edifício. O objectivo, segundo o estudante de História e organizador da iniciativa, Carlos Machado, é “enterrar simbolicamente o ensino superior devido às actuais políticas”. A acção de luta está ao encargo de “um grupo de estudantes da faculdade de letras que está descontente com o actual estado do ensino superior”. Os alunos pretendem “sensibilizar a comunidade estudantil para os problemas que existem e passar a mensagem de que é preciso fazer alguma coisa”. Carlos Machado defende que os estudantes sabem o que se passa no ensino superior: “todos nós pagamos propinas e todos nós temos problemas com a implementação de Bolonha”. No entanto, lamenta: “há vontade de fazer mas não há uma direcção para canalizar essa vontade”. O estudante de História refere que a iniciativa vem no seguimento dos “cortes orçamentais e do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES)”. Carlos Machado acha que “há alunos que não sabem o que é e isso é grave”. “Este é um papel que cabe à Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), mas se há pessoas que acham que esse papel não está a ser cumprido, vamos fazê-lo nós”, esclarece.

Também a DG/AAC vai levar a cabo uma actividade com o objectivo de denunciar o sub-financiamento do ensino superior. O protesto foi aprovado na última Assembleia Magna e vai-se realizar quinta-feira, 19, no Largo D. Dinis, às 12h30. A moção aprovada em magna refere que os estudantes vão estar unidos num protesto silencioso onde “envergarão máscaras que lhes cobrirão totalmente a cara, representando assim a vergonha de todos os estudantes que se vêem obrigados a abandonar o ensino superior por não disporem de recursos económicos”. A acção de luta tem também como intuito denunciar o orçamento dos serviços de acção social.


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ENSINO SUPERIOR

Dia do Estudante tem menos impacto na comunidade No próximo 24 de Março assinala-se mais um Dia do Estudante. O que foi na história e o que está planeado para assinalar a data em Coimbra. Por Vasco Batista e Pedro Pinto

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ara se compreender o significado do Dia do Estudante, 24 de Março, temos que recuar até aos primeiros movimentos de contestação estudantil do início do século XX. O professor de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Rui Bebiano, afirma que "até 1961 a comunidade estudantil comemorou outra data, o 25 de Novembro". Neste dia, em 1921, os estudantes ocuparam o Clube dos Lentes, "marcando o seu protesto pela afirmação dos direitos associativos", sublinha. Esse episódio ficou conhecido como a "Tomada da Bastilha". Em 1961, a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), "conotada como oposição ao regime e incentivadora de uma vida associativa dinâmica e independente", mobilizou as academias de Lisboa e do Porto para virem a Coimbra. Depois de várias reuniões, foi proposta a criação de uma União Nacional de Estudantes "livre, autónoma e isenta", bem como a abolição da praxe pelo Dux Veteranorum, Joaquim Garcia. Desta acção resultou a prisão de vários alunos pela PIDE, instaurandose um clima de tensão no meio

académico. Mais tarde, em 1962, "ignorando a proibição que o Governo tinha decretado", realizouse, em Coimbra, o primeiro Encontro Nacional de Estudantes, que valeu aos membros da AAC processos disciplinares e suspensões. "Os estudantes de Coimbra responderam então com o luto académico e a greve às aulas", explica Rui Bebiano. Entretanto, em Lisboa, as associações de estudantes, "mesmo sem a autorização do Ministério da Educação Nacional, comemoraram o Dia do Estudante a 24 de Março de 1962", destaca o docente. O regime respondeu com a sua "violência habitual, invadindo a Cidade Universitária e muitos estudantes foram espancados e presos". A reacção de repúdio não se fez esperar e os estudantes decretaram o luto académico seguindo a mesma linha revolucionária que ocorrera em Coimbra. Estávamos perante a crise académica de 1962. Toda esta atitude autoritária do governo fomentou a união dos estudantes na luta pela "preservação das suas associações como espaços democráticos" e pelo "repúdio da política educativa do Estado Novo". Todo este processo ficou na memória como a "primeira grande mobilização dos estudan-

tes universitários" que, só em 1987, viram a sua batalha recompensada, com a ratificação, em Assembleia da República, do Dia do Estudante para 24 de Março. Até ao final do Estado Novo, a data foi aproveitada "para sublinhar a importância da luta pelos direitos associativos estudantis e pela democratização das instituições universitárias e do ensino", relembra o professor da FLUC. Contudo, depois do 25 de Abril de 1974, apesar do devido reconhecimento da data, "as comemorações deixaram de ter o impacto público, ou mesmo na comunidade estudantil, que durante a década de 60 tinha permanecido". Confrontado com a forma como é, actualmente, comemorado o Dia do Estudante em Coimbra, Rui Bebiano confessa que "conhece pouco do que tem sido feito nos últimos anos", mas, ainda assim, admite que tenta "estar atento ao que se vai passando". O facto de não sentir que, nesta altura, "algo de especial esteja a acontecer" pode significar que as comemorações "não têm tido grande impacto". "A maioria dos alunos universitários não está motivada para comemorações de datas e seria uma boa altura para discutir os problemas estudantis", alerta.

AS INICIATIVAS DO DIA Para o próximo dia 24 de Março, estão agendadas duas iniciativas para assinalar o Dia do Estudante. O Projecto U, candidato às últimas eleições para a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), vai realizar uma concentração de estudantes em frente ao Governo Civil de Coimbra. Também a DG/AAC e o Conselho Inter-Núcleos (CIN) vão levar a cabo um “Jogo das Cadeiras”. A iniciativa vem no seguimento da aprovação de uma moção apresentada pela direcção-geral e pelo CIN. O presidente do Núcleo de Engenharia Electrotécnica da AAC, José Martins, explica que o objectivo da actividade é “alertar a comunidade estudantil para os estudantes que ficam de fora do ensino superior por condições económicas e dos órgãos de gestão por imposição do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior”. O jogo vai ter lugar na Praça da República, às 12h30 e é aberto a todos os estudantes. A concentração organizada pelo Projecto U inclui a distribuição de folhetos informativos acerca do passado histórico do 24 de Março e dos principais objectivos do movimento

actual. “Para credibilizar a contestação será ainda entregue um abaixo-assinado ao Governo Civil” afirma o elemento do projecto, Paulo Costa. O estudante de Direito destaca o “simbolismo e a história” que a data acarreta para o meio estudantil, aproveitando-a para expor os problemas mais gerais da Universidade de Coimbra (UC), como “a falta de condições humanas, materiais e pedagógicas, o valor elevado das propinas, a insuficiência de resposta dos serviços de acção social e os problemas pedagógicos resultantes do Processo de Bolonha”. Com a acção de luta, o projecto pretende “lutar contra o fim da gestão democrática e paritária”, manifestando-se contra o novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, que “pode levar à privatização das instituições de ensino”, afirma Paulo Costa. O abaixo-assinado já circula em todas em faculdades da UC e pretende chegar não só aos estudantes da Alta universitária, como também aos dos institutos politécnicos. Com Tiago Carvalho e Ana Rita Santos

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CULTURA

JOÃO MESQUITA

O homem certo na profissão certa Jornalista, lutador de causas, adepto fervoroso da Académica, João Mesquita é, incontestavelmente, um homem de carácter e de princípios. Por João Miranda ra um homem de causas. De princípios. De afectos. E de muitos amigos. De um pensamento crítico e incapaz de se vergar. Não admitia fretes. A única coisa que tinha de fanático era a devoção à Académica, de quem era adepto incondicional. Queria saber sempre mais e ligar os factos, acompanhar as tendências. Convivia com gente de todas as gerações e sensibilidades sociais, políticas e culturais. Um homem da cidade. Em Coimbra nasceu quase por acidente e em Coimbra teve o seu último trabalho como jornalista. João Mesquita, o “homem certo na profiss ã o

Os anos do sindicato “Gostei muito da pinta dele, pá!”, lembra José Pedro Castanheira do encontro que teve com João Mesquita aquando do convite para integrar a

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

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prego, que viria a conhecer mais tarde mais do que uma vez. Até que vários meses depois integrou a delegação de Lisboa do “Notícias da Tarde” como repórter parlamentar. De resto, foi o início do que definiu uma vez numa entrevista como uma “hiperespecialização”. Extinto o periódico, passou depois pelo “Jornal de Notícias”, pelo “Semanário”e cerca de um ano depois, encetou uma nova mudança quando integrou a editoria de um novo diário, o “Público”.

certa”, actualmente editor da revista Rua Larga, morreu aos 51 anos na madrugada da quinta-feira passada, 12. Os amigos recordam-no como um homem alegre, conversador, sempre disponível para se dar aos outros. Cedo despertou para a política e da política para o jornalismo foi um salto. Embora fosse uma paixão declarada desde criança, conhecia muito pouco do meio jornalístico e da profissão. Corria o rumor de que escrevia com “desembaraço” e isso, aliado à experiência que trazia do Movimento Associativo do Ensino Secundário de Lisboa, de que foi fundador, fê-lo entrar n’“A Voz do Povo” (órgão oficioso da União Democrática Popular) aos 22 anos. Aí, começou a compreender os mecanismos e as práticas inerentes à profissão, experiência que durou até 1981, quando o jornal acabou. Enfrentou então a realidade do desem-

lista concorrente ao Sindicato dos Jornalistas (SJ), como secretário. “Achei-o muito firme, muito determinado, muito combativo e percebi que poderia ser um bom elemento para a minha equipa”, acrescenta Castanheira. João Mesquita veio a recandidatarse à direcção do sindicato, desta vez como presidente, nos biénios de 1989/90 e de 1991/92. Durante os seus mandatos bateuse com algumas das mais profundas alterações no jornalismo. Foi nesta altura que começou o processo de reprivatização dos órgãos que haviam sido nacionalizados durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC) e que surgiram as primeiras rádios privadas, então com o estatuto de pirata. Foi também neste período que um grupo de jornalistas levantou a possibilidade da criação de uma Ordem profissional. “O João soube colocar a questão da forma mais de-

mocrática possível, através de um referendo em que os jornalistas foram chamados a pronunciar-se sobre a melhor forma de organização”, recorda Castanheira. Contudo, o amigo e camarada destaca como a grande luta de Mesquita o combate que levou a cabo contra politização da Alta Autoridade para a Comunicação Social.

A ligação a Coimbra Desiludido com todas as alterações no sector jornalístico, abandonou Lisboa para entrar para a redacção do “Jornal As Beiras”. Estreitou então os laços que o uniam a Coimbra. No plano da intervenção cívica, foi um dos grandes motores da criação do Conselho da Cidade, empenhou-se na aprovação da Carta Constitucional da cidade e colocou uma das pedras basilares da ‘Pró-Urbe’. Era “um cidadão dos movimentos dos cidadãos”, como recorda José Manuel Pureza. Contudo, nunca deixou que esta sua vertente cívica e interventiva chocasse de alguma forma com a sua vida profissional. “O João sempre evidenciou a sua orientação política e quando lhe foi pedido que desempenhasse trabalhos jornalísticos, por exemplo, de cobertura de campanhas eleitorais, soube sempre traçar de uma maneira muito rigorosa a sua militância e aquilo que é o trabalho de jornalista”, defende Pureza. D’ “As Beiras” nunca esqueceu o facto de ter visto um texto seu censurado, motivo que o levou a abandonar o jornal e a voltar ao desemprego durante quatro meses, até integrar a delegação de Coimbra do “Independente”, da qual foi despedido com o encerramento das delegações do jornal. Passou então dois anos sem emprego, realizando alguns trabalhos de freelance. “A cidade nunca soube reconhecer a dedicação do João Mesquita. A tal ponto que teve que ir para Lisboa porque em Coimbra lhe recusaram trabalho e o afastaram”, lembra José Manuel Pureza. Contudo, o elo a Coimbra não esmoreceu e João Mesquita acabou por voltar a trabalhar para a cidade, a convite da reitoria da Universidade de Coimbra, para editar a revista Rua Larga, mesmo continuando a viver em Lisboa. De pé, manteve-se sempre a paixão da qual nunca se desligou, a Acadé-

mica. Dono de uma devoção extrema ao futebol, é lembrado por todos os amigos por quase nunca ter perdido um jogo da Briosa. Paixão que lhe valeu uma homenagem singular, quando o cortejo fúnebre atravessou o Estádio Cidade de Coimbra a caminho da Lousã, onde foi sepultado. Aliás, em Janeiro de 2008 lançou em parceria com João Santana o livro “Académica – História do Futebol”, uma obra sobre o percurso da académica, que bateu o recorde de vendas no lançamento da editora Almedina, com mais de 400 exemplares vendidos. “Ele a escrever tinha um talento inigualável. Foi o grande responsável pela redacção, conseguia explanar as ideias muito bem e eu não podia ter arranjado um parceiro melhor”, recorda João Santana. Porém, “não cedia a tendências de encostar o futebol a realidades menos dignas de articulação com alguns poderes da nossa sociedade. E isso valeu-lhe como académico alguns dissabores na relação com algumas das figuras da direcção”, aponta José Manuel Pureza. Quando vivia em Coimbra, “porque o João era um conimbricense de gema”, lembra a amiga Natércia Coimbra, repetia os mesmos rituais. Pela manhã lia a imprensa sempre acompanhado de um café e de uma água das pedras. O almoço prolongava-se por largas horas, sempre acompanhado e geralmente no Cantinho dos Reis, como lembra a amiga Natércia Coimbra, que com ele partilhava longas horas de conversa. E depois trabalhava pela noite dentro, até de madrugada. Às vezes fazia uma pausa para ir ao bar do Botânico, porque o Noites Longas já não era o mesmo do seu tempo. João Mesquita foi até ao fim um defensor acérrimo de um ideal do jornalismo que não se vende ao sensacionalismo e às lógicas de mercado. E achava também que existia a necessidade de transmitir esses mesmos valores. E essa postura assume-se também um pouco no que é hoje A CABRA. Quando, no final de 2002, o jornal passou a quinzenal, foi João Mesquita que tomou as rédeas de todo o processo. Eduardo Brito, antigo presidente da Secção de Jornalismo, recorda a circunstância: “ele chegou-nos com aquela voz à Mesquita e disse-nos que o jornal tinha que fazer isto e isto. Duas semanas depois apareceu-nos com o jornal todo rasurado e partimos de um novo modelo”. “Um trabalho que ele prezava tanto, porque achava que era nessa fase que se deviam passar as mensagens do que era o jornalismo”, reconhece Natércia Coimbra. “O João marcou-nos mais do que ele pensaria ou desejaria”, defende Eduardo Brito.

Cartaz cultural da Queima celebra 110 anos de festa Patricia Gonçalves Filipa Magalhães Na próxima segunda-feira, 23, vai realizar-se o espectáculo “Fado, Sonho e Tradição” nos jardins da Associação Académica de Coimbra (AAC). O espectáculo integra o cartaz das actividades preparadas para a Queima das Fitas. Segundo o vice-presidente da Secção de Fado da AAC, Francisco Requicha, o concerto tem como objectivo aproximar a comunidade estudantil da cultura da cidade: “a Canção de Coimbra é indissociável da festa da Queima das Fitas. Assim, o espectáculo percorrerá as várias etapas do fado académico da sua génese até à actualidade em paralelo com o evoluir da Queima das Fitas”. A música que vai compreender temas de Artur Paredes, José Afonso, Luís Gomes e baladas mais recentes vai ser acompanhada pela projecção de fotografias das festas de queimas anteriores. O espectáculo manifesta o carácter comemorativo desta queima,

que celebra 110 anos e que tem como lema “110 anos de tradição”. Nesse sentido, a Comissão Central da Queima das Fitas apresenta um cartaz com 110 dias de actividades culturais, desportivas, solidárias e tradicionais. O comissário responsável pelas actividades culturais, André Malho, afirma que estão “calculadas duas a três actividades por semana, que se iniciaram no passado dia 10 de Março e que vão terminar a 27 de Junho”. A destacar também a exposição itinerante que começou no passado dia 10 e que vai estar dois dias em cada faculdade da Universidade de Coimbra encerrando-se no dia 17 de Abril no edifício da AAC. A exposição é composta por dez painéis ilustrativos de cartazes, programas e fotos de queimas das fitas. Há ainda outras novidades no cartaz deste ano como a mostra de “fado alternativo”, dia 2 de Junho, que apresenta bandas cujo cenário musical é a canção de Coimbra. Outra das novidades no cartaz deste ano é as olimpíadas universitárias, o “Jantar do Bigode” e ainda a iniciativa “110 anos, 110 árvores”.


8 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

CULTURA

BIBLIOTECA GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

cultura por

cá “Coimbra é a cidade dos livros”

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SARA GALAMBA

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ARRAIAL SOCIAL LARGO D. DINIS 19H • ENTRADA LIVRE

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SOULS OF FIRE TAGV • 21h30 NORMAL 6¤ • ESTUDANTE 4¤

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DUO BIM BOM O TEATRÃO 22H • 2¤

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ENA PÁ 2000 SALÃO BRAZIL 22H • 8¤

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A BGUC comporta oito pisos de depósito e possui a maior colecção de mapas desenhados à mão que existe em Portugal

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UM POR CEM – OLHAR AS COIMBRA

REPÚBLICAS DE

FOTOGRAFIA DE MARGARIDA MADEIRA DAS 10H00 ÀS 01H00 • TAGV ENTRADA LIVRE

23 MAR

ATELIÊ DE ACTIVIDADES PLÁSTICAS Café com Arte DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA ENTRADA LIVRE

24 MAR

ACTUAÇÃO DA QUANTUNNA A PARTIR DAS 13H00 CAMPO DE SANTA CRUZ ENTRADA GRATUITA

25 MAR

BURAKA SOM SISTEMA PAVILHÃO MULTIDESPORTOS ARENA 12,5¤ • BANCADA 16¤ 21H

26 MAR

THE RUBY SONGS INDIE SONGS DON´T LIE Salão Brazil 8¤

27 MAR

TERESA GABRIEL Acústico SALÃO BRAZIL • 3¤

Por Maria João Fernandes

Já foi colégio, teatro académico e faculdade de Letras. Hoje é a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), o maior espaço de leitura universitário do país. Actualmente depara-se com algumas dificuldades Por Maria João Fernandes, Sara Oliveira e Ana Rita Santos o coração da Universidade de Coimbra (UC), está a Biblioteca Geral. Com cerca de 50 anos, o edifício alberga oito pisos, milhões de publicações, tem linhas que remontam ao Estado Novo e hoje acolhe o passado de quem explorou o conhecimento, e concretiza o futuro de quem entra com perguntas e sai com respostas. Com um espólio vasto em termos históricos e culturais, na BGUC pode-se encontrar um pouco de tudo. Em Portugal, em média, de meia em meia hora, é editado um livro. Ora, isto perfaz um total de 48 livros por dia, num universo de 17 520 livros por ano. Coimbra tem o privilégio de possuir uma das duas bibliotecas portuguesas com depósito legal, onde soma todos os livros publicados em Portugal assim como todos os periódicos. Para além disso, livros estrangeiros e portugueses, velhos e novos coabitam num mesmo lugar. O depósito legal da BGUC está disposto, ao longo de oito pisos, em torno da sala principal onde se exercita o conhecimento: a sala de leitura. Quem a escolhe para estudar, dia após dia, não tem a real noção do que está para além das paredes que envolvem a sala. Apesar da amplitude do depósito da BGUC “os livros estão a gritar desesperados por ajuda”, personifica o director da Biblioteca Geral, Carlos Fiolhais. Por

N

falta de espaço, algumas publicações têm mesmo de ficar amontoadas no chão, principalmente jornais e revistas. Também as prateleiras se encontram sobrecarregadas, formando labirintos apertados. Mas o espaço não é o único problema. A sala de leitura tem infiltrações que, segundo Carlos Fiolhais, são de difícil resolução porque “quando se tapa num lado, aparece noutro”, nota, e o aquecimento também é uma carência. Segundo funcionário da BGUC, António Parreiral, “o ideal seria criar uma oficina para a restauração de alguns livros que se encontram muito degradados”. A Biblioteca Geral possui exemplares únicos no mundo. A primeira edição dos Lusíadas, de Luís de Camões; uma das primeiras edições da Bíblia; mapas com mais de 500 anos e manuscritos musicais com mais de um metro de altura e vários quilos, são raridades que não são deixadas ao acaso. A Casa Forte da BGUC é uma sala climatizada, uma espécie de cofre gigante, com alta segurança que garante a protecção destes exemplares. São raras as pessoas que a ela têm acesso. Do espólio da BGUC não foram esquecidas as bibliotecas pessoais de alguns ilustres ligados à cidade de Coimbra, como Oliveira Martins e Visconde da Trindade. Quem entra na sala Visconde da Trindade logo se apercebe do seu valor, pelas enca-

dernações de luxo protegidas por grades. Estas salas estão repletas de livros mas também servem de espaço de reuniões. O desinvestimento por parte da reitoria da UC é uma realidade. “A universidade não tem, neste momento, meios suficientes para acudir a necessidades que são urgentes”, refere o director da BGUC. Para além das insuficiências do edifício, a falta de recursos humanos é também uma condicionante. “Existem muitos livros por catalogar”, refere Fiolhais, e esta é em parte, uma consequência da falta de pessoal para as diferentes tarefas. Apesar da BGUC não admitir trabalhadores-estudantes, Carlos Fiolhais entende que essa é uma das prioridades para colmatar alguns problemas, e o processo já está em curso. “É uma maneira de os estudantes se envolverem mais numa coisa que é deles, sendo pagos por isso e ficando a conhecer os bastidores”, defende o director. Carlos Fiolhais ambiciona um novo espaço. E vê como possível a requalificação e reutilização do espaço da penitenciária de Coimbra. “Se houver ambição, a universidade e a câmara [municipal] têm de se juntar, para conseguir um espaço moderno que poderá ser privilegiado no país, equiparando-nos às grandes bibliotecas mundiais”,

avança Fiolhais.

Para além do papel Um milhão é o número aproximado de livros que estão nas prateleiras da biblioteca da universidade. Este número continua a crescer, e a tecnologia é uma prioridade. A BGUC é pioneira no projecto Google Books que actualmente disponibiliza cerca de 600 obras digitalizadas integralmente, mas que tem a particularidade de serem edições da própria UC. Segundo Carlos Fiolhais, “o digital é a salvação dos livros e da imprensa”. A Biblioteca Geral Digital, o Estudo Geral – Repositório de produção científica da UC e os diversos catálogos estão todos informatizados. Para Carlos Fiolhais a disponibilização destes conteúdos online permite aos leitores uma maior comodidade e poupança de tempo. Apesar da Biblioteca Geral estar a passar por algumas dificuldades, Carlos Fiolhais coloca os estudantes numa posição fulcral. O director entende que “Coimbra é a cidade dos livros, os estudantes devem contribuir para encontrar uma solução’’. Entretanto, a entrada e a saída de livros e pessoas vai continuar. O conhecimento vai persistir naquele espaço. O estudante de Direito, Vítor Figueiredo, garante mesmo que “a Biblioteca Geral é a melhor que os estudantes têm no país”.


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BASQUETEBOL

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Maia Basquet vs. Académica 16H30 • MUNICIPAL FORMIGUEIRO

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DESPORTO

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VOLEIBOL

HÓQUEI EM PATINS

Académica vs Sporting das Caldas 17H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO 3

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Académica vs APDG Penafiel 18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO 1

22 MAR

DESPORTOS NÁUTICOS Campeonato Nacional de Junvenis e Veteranos MONTEMOR-O-VELHO

NORBERTO ALVES • TREINADOR DA EQUIPA SÉNIOR DE BASQUETEBOL DA ACADÉMICA

“Podemos ser um grande clube português” Mesmo com a derrota frente ao Benfica, a Académica não penhorou a ida aos play-off da liga de basquetebol. O técnico faz o balanço da participação da equipa na prova SÓNIA FERNANDES

equipa a ser melhor. Catarina Domingos Sónia Fernandes Que balanço faz da participação da Académica na liga? Muito positivo. Ninguém esperava isto, porque teoricamente éramos um dos candidatos a descer de divisão. Jogo a jogo fomos trabalhando, mantendo-nos coesos. Nesta altura, estamos numa posição que nos permite ambicionar ir aos play-off. É, em primeiro lugar, um esforço colectivo. Nestes últimos anos, a secção de basquetebol mudou para muito melhor e penso que a equipa dentro de campo é o reflexo disso. Como analisa a evolução da equipa ao longo da temporada? Temos as nossas limitações: o plantel mais curto, o orçamento mais pequeno, somos a equipa mais baixa, mas, em termos de coesão de grupo e de trabalho diário, somos do melhor que existe nesta liga. Quando assim é, melhoramos e é isso que tem acontecido. Qual o segredo para ter uma equipa coesa e tranquila que depois consegue surpreender na liga? O segredo tem a ver com liderança. As pessoas responsáveis, técnicos e directivos, têm essa capacidade… De dominar aquilo que são os conhecimentos, o “estado de arte” do momento, o treino em basquetebol, os processos de comunicação com os jogadores e o controle emocional. Ganhámos dois jogos mesmo nos últimos segundos. Os jogos têm sido muito equilibrados e é preciso emocionalmente, nos momentos mais críticos do jogo, contra adversários teoricamente mais fortes, estarmos constantemente concentrados. A escolha dos estrangeiros também foi um ponto de sustentação ao longo deste ano? Sem dúvida. Evidentemente, sabemos as posições que queremos que eles venham colmatar, mas o primeiro critério é o carácter deles, é perceber se são jogadores que vêm ajudar os outros a ser melhores e que não sejam jogadores individualistas, com egos que não permitam ser treinados e modificados para melhor. Não são aqueles jogadores de estatísticas como melhores marcadores, mas ajudam a

E como avalia o trabalho dos seus jogadores nacionais? A AAC é o único clube que veio para esta liga sem uma referência nacional. Apostámos nos jogadores que conhecem os valores inerentes ao clube e à secção de basquetebol. Eles evoluíram muito, tiveram um impacto muito forte, porque nunca tinham jogado a este nível. Como é a relação de Coimbra com a equipa de basquetebol? Coimbra é uma cidade que sempre gostou de basquetebol, mas andou muitos anos arredada da primeira divisão. Quem vem ver os jogos tem de admitir que a equipa dá tudo o que tem. Neste momento, há uma grande identificação das pessoas que vêem, e todos os jogadores portugueses e estrangeiros têm contribuído. É importantíssimo perceber que é uma tarefa que nunca está completa e é fundamental continuarmos a captar pessoas e jovens para vir jogar. Este é um jogo do século XXI, emotivo, que se resolve no último segundo. “Tempo, talento e dinheiro” para ter sucesso é talvez a sua frase mais repetida. A Académica tem isso? A Académica não tem dinheiro. Temos de entender a nossa realidade: possuímos o pior orçamento da liga, mas é um orçamento cumpridor. Temos o talento que podemos ter, mas há uma coisa que temos que é muito importante e que os outros clubes não têm: tempo para as coisas se trabalharem.

“Apostamos nos jogadores que conhecem os valores inerentes à Académica” Que primeiras conclusões tira do novo modelo da liga? Fui uma pessoa crítica em relação a este modelo de competição, de jornadas cruzadas, de competição com muitos jogos. Foi o modelo que alguns dos responsáveis da federação e alguns clubes entenderam por bem adoptar. Agora, há uma coisa que eu sei – a maior

O TREINADOR orienta a equipa sénior de basquetebol da Académica há três épocas .

parte dos clubes que o quiseram adoptar estão arrependidos. Se antes do modelo ser aprovado emiti posições públicas, agora faço uma coisa simples: ponham-me o modelo que quiserem que vamos tentar jogar e ganhar jogos. Era melhor ter um campeonato com doze ou catorze equipas. Que análise faz da prestação dos outros clubes da liga? Há clubes que estão claramente aquém do que se estava à espera face aquilo que foi o seu investimento. O FC Porto e o Vitória de Guimarães são, se calhar, os casos mais visíveis. Já estive num grande clube e isto depende muito das circunstâncias. O treinador é ele e as suas circunstâncias. Eu não sei as circunstâncias dos outros, o dia-a-dia, a oportunidade que estes treinadores têm ou não de liderança. E em relação a jogadores? Houve um regresso de grandes jo-

gadores ao basquetebol português. O regresso do Élvis Évora, do Sérgio Ramos, do João Santos, que jogaram na liga espanhola, a melhor do mundo a seguir à NBA. É importante, porque são referências para os jovens. O que é que recorda como jogador de basquetebol? Se há alguma coisa que me vem à memória do tempo em que jogava é que me divertia imenso. Que balanço faz da carreira, tendo por base os clubes por onde passou? Estive um ano no Benfica. Cheguei a meio de uma época em que estavam em último. Fiz um ano com uma opção que se calhar não foi a melhor, que foi participar nas europeias no lugar do Real Madrid, que nos desgastou. Chegámos ao play-off e falhámos. No ano a seguir, comecei a época e vim-me embora. Foi o único ano que senti

que a época não foi positiva e eu sou treinador há 20 anos. Como é a sua relação com a Académica? É uma relação curiosa. Quando vim para a Académica, vim do Olivais, o grande rival. Neste momento não é o grande rival, é um grande projecto. Podemos ser de forma sustentada um grande clube português. O primeiro passo a dar é ter um pavilhão para o basquetebol treinar. As pessoas devem pedir o que merecem e nós temos feito tudo por merecer. Como técnico, tem recebido alguma proposta para ir para outro clube? Ser convidado faz parte da vida normal de treinador. E recusar também. Seria um péssimo exemplo da minha parte, para os meus jogadores, que dentro do campo transpiram para ganhar, estar a pensar noutras coisas.


10 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

DESPORTO TRIATLO

Projecto de secção avança em Setembro Filipa Faria Num futuro próximo, uma secção de triatlo pode juntar-se às 26 modalidades que já existem na Associação Académica de Coimbra (AAC). Rafael Gomes, exaluno da Universidade de Coimbra e impulsionador do projecto para uma futura secção de triatlo, defende que “Coimbra é uma cidade que tem todas as condições para fazer grandes eventos desportivos a nível do triatlo”. O antigo estudante, lembrando que antigamente existia um clube de triatlo na cidade, refere que o principal objectivo é “fazer renascer a modalidade na região”. Para isso, contactou a secção de natação, “porque é uma das secções mais importantes para poder abrir um projecto”, já que esta é a vertente mais treinada no triatlo. Quanto ao recrutamento de atletas, “já existe um grande grupo de nadadores que fazem parte da secção de natação e que estão interessados no triatlo”. Outros não fazem parte da Académica, mas “praticam em clubes a nível nacional ou na região de Coimbra e vão-se juntar ao projecto”. O local e horário de treinos ainda não estão estipulados. Só em Setembro, quando os atletas se filiarem no clube, é que vai haver “um horário bem definido”. Neste momento só estão a treinar os elementos da secção de natação e “até Setembro os treinos vão ser feitos na piscina do complexo olímpico”. Como o projecto nasceu há poucas semanas, os apoios ainda são poucos e provêem sobretudo da secção de natação. Rafael Gomes explica que “como a natação ainda está em desenvolvimento em Coimbra, os alunos demonstram grandes interesses em experimentar a modalidade do triatlo”. As expectativas são positivas: “como é uma modalidade que está na moda, temos boas perspectivas para a angariação de atletas”. Num futuro próximo, é esperada a “realização de provas nacionais e a nível do circuito jovem”. A data das provas ainda não está marcada, mas vai ser entre os meses de Setembro e Outubro para aproveitar a entrada dos estudantes na universidade. A prova vai ter a duração de um fim-desemana e vai estar aberta a atletas federados e não federados. A criação da nova secção vai ser apresentada no próximo plenário do Conselho Desportivo da AAC. O membro da direcção do organismo, Jaime Carvalho, apenas adianta que “o projecto só pode ser avaliado depois de apresentado”.

Divisão de Honra à vista SARA SÃO MIGUEL

Com o primeiro lugar na fase regular, a Académica sonha com a subida. Eliminados da taça, a equipa concentra-se no campeonato Sara São Miguel A Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra (AAC) terminou a primeira fase do Campeonato Distrital Série A da Associação de Futebol de Coimbra (AFC) em primeiro lugar e prepara-se para disputar a fase final que permite a subida à Divisão de Honra. A segunda fase começa no próximo domingo, dia 22, frente ao Góis. A disputa pela Divisão de Honra é feita entre os seis primeiros classificados da série e só o primeiro lugar sobe directamente de escalão. O presidente que é também um dos capitães de equipa, Rui Pita, considera que “os jogos vão ser difíceis”, uma vez que são retirados metade dos pontos aos participantes, o que vai diminuir a vantagem da formação. Na época transacta, os estudantes finalizaram o campeonato em oitavo lugar, devido a “falhas de organização e a uma menor qualidade do plantel”, esclarece Rui Pita. No entanto, após “três anos de grandes remodelações no grupo”, chegaram os bons resultados no campeonato e na Taça da

A ACADÉMICA SF terminou a primeira fase com 44 pontos.

AFC, como realça o presidente. Em relação ao campeonato, a equipa acumulou cinco empates e duas derrotas em 20 jogos. O treinador Bruno Fonseca admite que o grupo “nunca assumiu nada no início da época, pelas dificuldades a nível de apoio logístico e pelo facto dos jogadores nem sempre poderem estar presentes nos treinos”. A secção de futebol dispõe de apoios financeiros limitados, o que influencia a qualidade da equipa. “Não pagamos a ninguém, mas mostramos outras mais-valias como seja representar a nossa academia”, sublinha Rui Pita. Além das dificuldades financeiras, a falta de condições do está-

dio universitário e a utilização tardia do Campo de Santa Cruz para os treinos foram também factores que condicionaram o percurso do grupo. Bruno Fonseca critica a posição da Direcção-Geral da AAC pela sua falta de apoio. “Penso que podia ter sido dado mais apoio pela posição que a equipa ocupa no campeonato e por ser uma modalidade popular”. Quanto ao apoio dos adeptos, o treinador revela não haver afluência aos jogos pelo facto das “pessoas estarem desligadas”. A subida de divisão é uma ambição dos estudantes e dos técnicos, que anseiam por um campeonato mais competitivo e

interessante. “Esta equipa, com mais dois ou três jogadores, está preparada para dignificar a camisola”, afirma o técnico que está confiante na qualidade do plantel para esta competição. Contudo, consideram “ser cedo para se falar em Divisão de Honra”. Relativamente à taça, a equipa falhou no passado domingo o apuramento para as meias-finais, frente ao Febres, perdendo nos penáltis após o empate a um golo. Bruno Fonseca relata que o grupo “veio para essa competição sem qualquer tipo de objectivo” e encarou cada jogo “sem pressão”, mas que a presença nos quartos de final já os deixa orgulhosos.

Empate com sabor a vitória Num jogo que se previa complicado, os estudantes responderam da melhor maneira, com um empate a uma bola frente a SC Braga André Ferreira A Briosa deslocou-se este fim-desemana a Braga para defrontar a equipa local. Os arsenalistas que vinham para este jogo moralizados, depois de terem empatado a zero a primeira mão dos oitavos de final da Taça UEFA frente ao Paris SaintGermain. Jorge Jesus apresentou algumas surpresas na equipa titular. O treinador do Braga deixou no banco jogadores como Renteria e Luís Aguiar. Também Domingos Paciência apresentou surpresas. A Briosa entrou em campo a jogar em 4x3x3, com um trio atacante muito rápido,

ANA COELHO

com Lito, Sougou e Carlos Saleiro. Os estudantes levaram para Braga a lição bem estudada, defendendo bem, com o meio campo e a defesa muito compactos, lançando depois rápidos contra ataques. O Braga começou melhor, encostando a equipa da Académica à baliza. Logo aos dois minutos, Mossoró fugiu a Pedrinho e já dentro da área tentou desmarcar um companheiro, mas a defesa da Briosa conseguiu afastar a bola para longe da grande área. A equipa de Jorge Jesus continuava a pressionar a defesa dos estudantes. Paulo César teve a primeira grande oportunidade da partida aos onze minutos. O avançado arsenalista entra na área e frente a Peskovic, proporciona uma excelente defesa ao guarda-redes dos estudantes. A Académica respondia em contraataque e Tiero tem uma excelente oportunidade dois minutos depois. O médio da Briosa aparece completamente sozinho no lado direito do ataque, rematando para uma defesa apertada de Eduardo. O jogo animava com perigo para

ambas as balizas, até que aos 33 minutos Carlos Saleiro inaugura o marcador. Na sequência de uma jogada de envolvimento do ataque dos estudantes, Sougou descobre Carlos Saleiro no coração da área e o avançado de primeira faz o seu primeiro golo com a camisola da Académica. O Braga dominava o jogo, mas a Briosa não deixava a equipa da casa criar lances de perigo. Na segunda parte, os minhotos apareceram novamente mais fortes, criando logo inúmeras oportunidades de golo. Os estudantes tentavam segurar o ímpeto atacante do adversário, mas com a entrada de Luís Aguiar e de Renteria, tudo se tornou mais complicado. Dois minutos depois de entrar, Renteria, com um passe a rasgar a defesa dos estudantes, desmarca Paulo César que, isolado, não falhou, estabelecendo, assim, o resultado final. Com este empate, a Académica soma 25 pontos, mantendo o décimo lugar. Na próxima jornada, dia 5 de Abril, a Briosa recebe o Belenenses.


17 de Março de 2009| Terça-feira | a

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DESPORTO

Lenine Cunha e Vítor Pleno destacam-se em França

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O BASQUETEBOL

SARA SÃO MIGUEL

Paraatletas da AAC regressam a Portugal com dez medalhas e falam da sua prestação, dos objectivos futuros e do dia-a-dia Catarina Domingos Sara São Miguel Depois da participação no Campeonato da Europa em Pista Coberta INAS-FID, os atletas da Secção de Atletismo da Associação Académica de Coimbra (AAC), Lenine Cunha e Vítor Pleno, regressam de França com medalhas e novos recordes. A representar a selecção nacional de atletismo de deficiência intelectual, Lenine Cunha conquistou seis medalhas de ouro (no pentatlo, triplo salto, 60 metros, salto em comprimento, salto em altura e corrida de estafeta 4x400 metros) e duas de prata (60 metros e corrida de estafeta 4x200). A boa prestação em Reims valeu-lhe o prémio “Melhor Performance”. “Faço um balanço muito positivo, pois foi a minha melhor competição de sempre”, avalia o atleta. Para além das medalhas, o desportista de 26 anos conseguiu estabelecer um novo recorde mundial no pentatlo, com 3157 pontos. Na partida para França, Lenine Cunha lembra que “não estava muito confiante”. A nova marca mundial trouxe-lhe “ânimo para os dias seguintes”. “Houve provas em que me superei e fiquei surpreendido com marcas que nunca imaginava fazer”, destaca. O academista Vítor Pleno, mais contido nas respostas, também avalia a sua prestação como positiva. Depois de partir para terras gaulesas como vice-campeão da Europa de Corta-Mato INAS-FID, o atleta arrecadou uma medalha de ouro na corrida de estafeta 4x400 metros e uma medalha de bronze nos 3000 metros. “Estava à espera de fazer melhor, mas fiz o que foi possível”, afirma. Com estes resultados, que deram a Portugal o segundo lugar do quadro de medalhas (no total 28), Lenine Cunha sente que está a causar impacto. No entanto, lamenta que “na chegada ao aero-

A equipa de basquetebol da Acad é m i c a p e r d e u frente ao Benfica por 89-60 e pôs termo a um ciclo de seis vitórias consecutivas na Liga Portuguesa de Basquetebol. A turma de Norberto Alves está no quinto lugar, com 42 pontos. Na próxima jornada, a AAC joga com o Maia Basket, em mais uma jornada cruzada.

VOLEIBOL Na primeira jornada do play-off da Série dos Primeiros da Divisão A2, a Académica perdeu com o Sporting Clube das Caldas por 0-3. Nesta fase, as equipas defrontam-se no sistema à melhor de três jogos. O próximo encontro está marcado para sábado, dia 21, no Pavilhão 3 do Estádio Universitário.

HÓQUEI EM PATINS

DEPOIS DAS MEDALHAS, os atletas da Académica já só pensam nos Global Games.

porto não estivesse ninguém”. O atleta de Vila Nova de Gaia pratica atletismo há vinte anos e elege como o momento mais importante da carreira a participação nos Jogos Paraolímpicos de Sidney em 2000, que o fizeram “o atleta que é hoje” e o ajudaram a dar “um grande salto”. A sua vida é exclusivamente dedicada ao atletismo: à parte das duas horas e meia de treino por dia, ocupa-se com música, televisão e internet. Lenine Cunha representa a Académica desde o início desta temporada. “Não gostei da proposta que o meu anterior clube [FC Porto] me fez, e depois porque o meu amigo António Oliveira me convidou”, conta. Já Vítor Pleno conta com dez anos de carreira e veste a cami-

sola da Académica há duas épocas. O desportista da Figueira da Foz divide-se diariamente entre o trabalho numa padaria e os treinos ao final da tarde. O Campeonato do Mundo de Pista ao Ar Livre no Brasil em 2007 é o momento que escolhe como mais marcante do seu percurso desportivo.

Global Games no pensamento O técnico da secção de atletismo, António Oliveira, faz parte da Académica desde 1989 e ajuda a preparar os dois desportistas para as competições de clubes, apelidaos de “belíssimos atletas”. A participação nos Global Games na República Checa, entre 5 e 15 de Julho, é o próximo objectivo a al-

cançar. Lenine Cunha e Vítor Pleno não falam em medalhas, mas prometem “honrar o país e dar o melhor”. “Vai ser uma competição muito superior e de alto nível”, adverte o atleta de Gaia. Após os resultados da participação no europeu de pista coberta, Lenine Cunha acredita que tem as “portas abertas para o que vai acontecer em Londres 2012”. A presença nas Paraolímpiadas é quase obrigatória. “Quero lá estar porque já ganhei tudo o que havia para ganhar, mas ainda não ganhei uma medalha paraolímpica e vai ter de ser nessa competição porque a idade depois pesa”, ambiciona. À parte das representações nacionais, ambos querem “ajudar a Académica a subir de divisão”.

Com a manutenção já assegurada, a Académica começou da melhor maneira a luta para o título de campeão da 3ªDivisão. A equipa de Miguel Vieira venceu o Clube de Patinagem de Beja por 1-4, na primeira jornada de apuramento do campeão do terceiro escalão. Na próxima ronda, a AAC joga com o APDG Penafiel.

XADREZ A segunda equipa de xadrez da Académica perdeu por 1-3 frente ao S. João da Madeira, em jogo da terceira jornada da Série B do Campeonato Nacional de 2ª Divisão. Na próxima jornada, a AAC II encontra o Marinhense. No Campeonato Nacional de 3ª Divisão, a Académica III perdeu frente ao Vale de Cambra por 0-4. No próximo fim-de-semana, a AAC joga com o S. João da Madeira II. Catarina Domingos PUBLICIDADE


10 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

TEMA

CONFLITOS MUNDIAIS Quando se assinalam seis anos do início da invasão do Iraque, A CABRA elenca os confrontos militares da actualidade mais mediatizados. Textos por Vasco Batista e João Miranda e ilustração por Tatiana Simões D.R.

pós vários incidentes e trocas de ameaças entre os diferentes executivos norte-americanos e o governo iraquiano, no dia 20 de Março de 2003, uma força de coligação composta pelos Estados Unidos da América (EUA) e pelo Reino Unido, entre outros, inicia a operação “Iraqi Freedom” com a justificação de pôr fim a um alegado projecto iraquiano de produção e armazenamento de armas de destruição maciça. Cerca de um mês depois, as tropas de coligação tomam a capital iraquiana e no final de 2003 capturam o então presidente do país, Saddam Hussein. Entretanto, em várias zonas do país, diversos grupos, como guerrilhas xiitas e sunitas, iniciam uma ofensiva contra as forças ocupantes. As eleições legislativas, no início de 2005, ficam marcadas por vários episódios de violência e pelo boicote da

A

IRAQUE

população sunita. Contudo, o governo permanente só assume o poder em meados do ano seguinte, ano em que os confrontos entre as tribos xiitas e sunitas assumem proporções catastróficas. 2006 é também indissociável da execução de Saddam Hussein e da denúncia do tratamento dos prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib. A instabilidade política mantém-se e, no ano seguinte, o senado norte-americano aprova o envio de novos contingentes de soldados para o Iraque. Consequências de todo o conflito no Iraque são, como aponta o membro da direcção do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), Vítor Silva, os “4,5

milhões de deslocados, a taxa de desemprego superior a 50 por cento, para cima de um milhão de viúvas e os cinco milhões de órfãos”. “As redes sanitárias e fornecedoras de água e electricidade que cobriam cerca de 70 por cento do país há 12 anos atrás estão destruídas, com a concomitante explosão de doenças, a que a rede de hospitais e centros de saúde não dão resposta, porque foram destruídas pelos ocupantes”, acrescenta. Após a recente vitória eleitoral, o novo presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou a retirada norte-americana do país, a que o primeiro-ministro iraquiano

Nouri al-Maliki, respondeu

ocupação do Iraque, este país está

respondeu demonstrando confiança nas forças militares locais para assegurar a paz no país. Porém, a estabilidade no país não é algo que analistas apontem para um futuro próximo. Segundo Vítor Silva “este [cenário] só será possível quando os invasores se retirarem (de facto e totalmente) e quando houver condições do povo iraquiano escolher livremente o seu destino”. O membro do CPPC lembra também as intenções proclamadas pelas forças invasoras e o trajecto que o conflito levou para explicar as tensões que se vivem actualmente no Iraque: “ao contrário da propalada liberdade, segurança e democracia que queriam exportar, além de outros falsos pretextos, com que os EUA e a Inglaterra tentaram justificar o bombardeamento e

num caos e a sua população vive num inferno”. Também a docente do Departamento de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), Daniela Nascimento, faz um “balanço francamente negativo do ponto de vista daquilo que são os objectivos de longo prazo da coligação que liderou a intervenção. O cenário que nós temos no Iraque é um cenário ainda de pós-guerra bastante belicizado”. A solução poderá passar, segundo Daniela Nascimento, por “procurar um entendimento entre as partes relativamente àquilo que será o futuro político, económico e social do Iraque”. “Não creio, contudo, que isso seja uma tarefa fácil e alcançável no curto prazo”, acrescenta.


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TEMA

AFEGANISTÃO

Ainda antes da intervenção soviética em 1979, o Afeganistão já era dos países mais pobres do mundo. Hoje, o país da Ásia Central tenta encontrar o seu rumo, num cenário de reconstrução após o conflito com os EUA , iniciado em Outubro de 2001. Com a iminente retirada das tropas americanas em solo afegão, “o Afeganistão está longe de ser um caso resolvido”. “O país não alcançou a paz que se pretende num quadro amplo e não pela simples [ideia de] ausência de conflito armado”, entende Daniela Nascimento. Os atentados de 11 de Setembro de 2001 submeteram o país a um dos conflitos mais violentos e polémicos que a comunidade internacional já

SOMÁLIA

conhecera. O conflito afegão “tem a vantagem de ter tido o apoio internacional aquando da intervenção, que o Iraque não teve”, relembra a docente da FEUC. Justificando a necessidade de responsabilizar os terroristas, os EUA controlaram os pontos estratégicos do Afeganistão, mantendo aberta a possibilidade de avançar noutros sentidos. Pelas enormes reservas de gás e petróleo, o Afeganistão suscita interesses geoestratégicos, tornando-se num território bastante cobiçado. Na possibilidade de se assegurar a estabilidade no Afeganistão, será possível torná-lo na principal forma de entrada na Ásia Central, não sendo estranho que surjam meios financeiros com a finalidade de melhorar as comunicações e explorar os recursos existentes. Uma retirada do país sem garantir a estabilidade pretendida para transformar o país num acesso privilegiado à Ásia Central poderia rever a sua política nesta matéria.

O conflito remonta aos movimentos de colonização do século XX, quando o sul do país se tornou numa colónia italiana. No pósguerra, o deserto de Ogaden, que fazia parte da Somália, foi entregue à Etiópia, indignando os somalis. A independência do país ocorreu em 1960, tornando-se numa república. Em 1969, um golpe de estado colocou no poder o general Barre, que ataca a Etiópia com o intuito de anexar Ogaden, cujos habitantes falam somali, mas sem sucesso. Em 1991, Mohammad Ali Mahdi substitui Barre quando já se vivia uma guerra entre clãs que dividia o país. Em virtude do golpe de estado de Mahdi, a capital da Somália, Mogadishu, fica sob o comando de Mohammad Farah Aidid. Foi então criado um governo de transição no país, o qual é, para o

SUDÃO

O conflito no Darfur arrastase desde 2003 e constitui-se como uma das piores crises humanitárias da história que já vitimou mais de 300 mil pessoas, segundo dados das Nações Unidas. A situação interna do maior país africano é catastrófica e os confrontos entre grupos rebeldes, forças de segurança e as milícias jan-

SRI LANKA

jaweed parecem não ter fim. A violência e a instabilidade constantes forçam milhões de pessoas a refugiarem-se no interior do país, na tentativa de encontrar segurança e condições mínimas de sobrevivência. A 4 de Março, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de captura ao presidente sudanês, Omar al-Bashir, por crimes de guerra no Darfur. O governo sudanês expulsou 13 organizações internacionais do país por alegada colaboração com o TPI, “fazendo com que a sua população, que já está a sofrer na pele o conflito, ainda sofra mais”. “A tentativa de levar o presidente sudanês a tribunal pode e deve ser uma solução para o conflito” declara o directorexecutivo da Amnistia Internacional, Pedro Krupenski. Para Daniela Nasci essa tentativa, ainda que seja “um passo importante na responsabilização de crimes e um avanço da luta contra a impunidade não é, só por si, suficiente”.

O antigo Ceilão, independente da GrãBretanha desde 1948, enfrenta uma guerra civil que já perdura há 16 anos. O conflito no Sri Lanka, que opõe os Tigres de Libertação Eelam Tâmil (LTTE) às forças governamentais, iniciouse em 1983 e já provocou mais de 70 mil mortos. Os analistas caracterizam esta guerra como conflito de baixa intensidade, onde predominam atentados e acções de guerrilha, a que se sucedem picos de acção militar. A situação na “Pérola do Oriente” constitui um legado do imperialismo. Depois de confirmada a independência da ilha, o então primeiro-ministro Stephn Senanayake, criou uma legislação que negava a cidadania aos tamil, oriundos da Índia, com o intuito de preservar a hegemonia cingalesa. Vivia-se uma situação de

ISRAEL-PALESTINA Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido abandona as colónias que detém na região do Médio Oriente. Assim a ONU propõe, em 1947, uma divisão do território palestiniano entre árabes e judeus, numa proporção de 45 para 55 por cento, que não é aceite pelos estados árabes.Com a saída dos britânicos a população judaica proclama o Estado

de Israel, originando um conflito entre o novo estado e os países árabes vizinhos, como a Síria, o Egipto (que anexa a Faixa de Gaza) ou a Jordânia (que anexa a Cisjordânia). Contudo, os árabes palestinianos acabam sem um Estado próprio. A partir daí desenrolam-se uma série de confrontos entre Israel e os países vizinhos, em que o Estado he-

povo somali, um fantoche da Etiópia. A guerra pelo controlo das riquezas do país tem degradado a situação humanitária do país. E m 2006, a União de Tribunais Islâm i c o s (UTI) toma o controlo da capital e inicia uma campanha contra as facções espalhadas pelo país. As forças etíopes, com o apoio dos EUA, entram em território somali para proteger o governo de transição da UTI, acusada de querer impor um Estado islâmico na Somália. Os EUA, convencidos que a UTI dava guarida a terroristas, enviam para a Somália agentes da CIA e FBI, mas não se provou qualquer ligação. A capital foi conquistada em Dezembro de 2006 pelas forças do governo de transição. Contudo, a UTI parece não ter desistido da sua pretensão.

braico vai ocupando territórios desses mesmos países. No meio desta situação, os árabes palestinianos colocam-se do lado dos Estados da Liga Árabe, lutando pela sua independência.No ano de 1982, tem início a Primeira Intifada, em que a população palestiniana se rebela contra a ocupação israelita, arremessando pedras aos militares hebraicos.

Nove anos depois, o governo israelita inicia a construção de um muro com o intuito de separar os países. Muro que o Tribunal Internacional de Justiça declara como ilegal devido ao facto de atravessar territórios de administração palestiniana. Têm início novos confrontos, cujo mais recente conflito se dá quando o Hamas lança vários rockets sobre Is-

tensões étnicas. Em 1972, foi ratificada uma nova constituição, mas os tamil ainda eram alvos de discriminações pelo domínio cingalês. A etnia percebeu que a nãoviolência não seria a melhor opção e decidiram criar o Estado Tamil independente. Foi neste contexto que surgiu a LTTE. Se é ou não um dos principais conflitos mundiais da contemporaneidade, Daniela Nascimento acredita que “é perigoso e contra-producente catalogar alguns conflitos como mais importantes do que outros, porque isso ajuda e legitima a desresponsabilização internacional relativamente aos outros”.

rael e este responde com uma investida militar, que causou, segundo fontes médicas, mais de mil mortos entre a população palestiniana.


14 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

CIDADE

TRABALHADORES NOCTURNOS DE COIMBRA

Começar o dia quando outros acabam Pela madrugada de uma cidade agitada, são muitos os que garantem o bom funcionamento da noite e a normalidade do dia seguinte. Com tarefas diferentes, são indispensáveis à cidade ANDRÉ FERREIRA

Daniel Almeida Tiago Carvalho Sara Coimbra Marta Pedro São trabalhadores da noite. Começam o dia quando a maior parte o acaba e enquanto muitos dormem são eles que agitam a cidade. A segurança, a limpeza, o transporte e a alimentação da noite dependem deles. A noite está amena. Na Alta é dia de festa e a Praça da República tem uma fila de táxis pronta a levar os estudantes de volta a casa. Alternativa para os autocarros que já não circulam, os taxistas passam horas a fio à espera que a porta se abra. Taxista há 15 anos, Rui (nome fictício) vê o que faz como a única alternativa dada pela idade. “O negócio está limitado, é o mais fraco que pode haver, mas tenho que continuar porque já não sou novo”, afirma. Trabalhar de noite não é para ele uma opção. Fá-lo porque a entidade patronal assim o exige, e apesar de não ser “compensatório”, Rui prefere trabalhar de noite “porque é mais calmo”, explica. Na outra margem do rio, os carros vão parando em frente à rulote “O Estudante”. O movimento vai aumentando enquanto as horas passam. O frio faz-se sentir, mas o cheiro dos cachorros parece vencêlo. “Trabalho à noite por opção e é tudo muito mais calmo é isso dá-me gosto” diz a proprietária, Paula Rodrigues. Entre um cliente e outro, que “passa, compra e vai embora”, a maioria são clientes habituais. “Não há muita clientela, só é chato nas horas mortas”, acrescenta. O trabalho só acaba ao amanhecer e no único dia em que não trabalha acaba por não descansar para estar com a família. Numa das muitas ruas estreitas da Baixa conimbricense, à medida que a noite passa, vai-se retirando o pão do forno. A padaria “Mimosa” é conhecida pela maior parte dos estudantes, mas cada vez são menos os que a procuram depois do sol se pôr. Sem rádio, nem televisão, só os clientes que vão chegando e as conversas do dia-a-dia quebram a monotonia do trabalho dos quatro padeiros ali presentes. “Esta foi a profissão que escolhi, já experimentei outras mas gosto disto. Faço da noite o meu dia”, é assim que o proprietário, Adérito Jordão, retrata o seu gosto pela profissão. Trabalhar à noite já se tornou um hábito, tanto que já só sabe dormir de dia, “quando faço os turnos ao contrário é complicado”, remata. Quanto à rua em que se situa a “Mimosa”, o proprietário do estabelecimento não a considera a sua localização perigosa. “Conhecemos a malta quase toda”, esclarece. As si-

tuações de perigo nocturno foram poucas sendo apenas de salientar o episódio em que “um indivíduo embriagado entrou e mandou-me com uma garrafa de vidro, exigindo bolos gratuitos”. O perigo torna-se menor com a passagem frequente da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Os funcionários públicos da noite Vários são os sítios de Coimbra patrulhados todas as noites pelos agentes da PSP. Sair da esquadra, percorrer o Pátio da Inquisição, a zona da Conchada, Celas, Santo António dos Olivais, Hospitais da Universidade de Coimbra e Ingote é um dos percursos habituais de um dos carros de patrulha. A observação é a palavra-chave para os três agentes que fazem a ronda num ritmo lento, vão comentando os que passam e revelando pormenores invisíveis às pessoas comuns. “Coimbra não tem muita criminalidade violenta”, relatam os agentes, que preferiram não se identificar. Porém, o trabalho aumenta às terças e quintas-feiras em que o barulho dos bares da Praça da República incomoda os moradores. “A Padre António Vieira é uma das mais ruidosas da cidade, e os assaltos e a droga estão mais presentes no Bairro Norton de Matos”, esclarecem. Os turnos de trabalho são rotativos. Três dias de dia e outros três de noite. “Não compensa trabalhar de noite. A vida social degrada-se e as remunerações não são as melhores”, expõem. Apesar de vigiarem e tentarem tornar mais seguras as zonas mais problemáticas da cidade, “nos turnos nocturnos, agentes e meios escasseiam”, lamentam. Esta carência é também apontada pelos trabalhadores que recolhem o lixo da cidade. Divididos por grupos, percorrem rotas definidas de 70 a 80 quilómetros. “Gostamos daquilo que fazemos, e ser o homem do lixo não nos incomoda, apesar das pessoas não valorizarem o nosso trabalho”, refere António Pereira, um dos funcionários. Pendurados nos camiões de recolha, vão aperfeiçoando a técnica de inserir o contentor no camião. Assim andam até às cinco da manhã, e só “de Inverno é mais complicado por causa do frio”, diz Luís Fonseca um dos mais antigos funcionários. Os estudantes que vão passando entram nas suas brincadeiras, todavia são eles que lhes dão mais trabalho. “A rua Padre António Vieira é uma vergonha, as pessoas têm os caixotes do lixo e metem os sacos no chão”, conclui António. Menos experiente na noite, Ramiro Meco diz que após cinco dias já se habituou e, ao contrário dos outros, tem medo do que a noite lhe possa tirar.

TIAGO CARVALHO

VIRGINIE BASTOS

O SOSSEGO é uma das vantagens em trabalhar à noite, apontam os trabalhadores


17 de Março de 2009 | Terça-feira | a

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PAÍS & MUNDO O desemprego... outra vez ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

A manifestação da última sexta-feira é o espelho mais evidente do descontentamento dos portugueses. A situação do desemprego em Portugal assume contornos preocupantes. Por Filipa Magalhães, Rui Miguel Pereira e Joana Tadeu

O

s jovens licenciados não podem construir uma vida, não podem arrendar casa, não podem pensar em ter filhos, nem sair de casa! E o Governo não está a fazer nada”, lamenta, Flor Neves, licenciada em História e desempregada. A aversão ao poder não podia ser mais óbvia quando milhares de pessoas, num movimento colectivo sincronizado, saltaram ao ritmo dos gritos “E quem não salta, é do governo!” A auxiliar da acção educativa e delegada sindical em Coimbra, Conceição Carvalho, afirma marcar sempre presença nas manifestações, “estou aqui para denunciar este governo responsável por prejudicar os trabalhadores. Precisávamos de outro 25 de Abril”, afirma, ao som da Grândola de Zeca Afonso. António Marques, trabalhador nas minas do concelho de Nelas, reitera a posição: “a crise e o desemprego são só para os trabalhadores e os pobres, que os ricos ficam cada vez mais ricos e nós pagamos-lhes a factura”.

O desemprego não vai parar O ano de 2009 não se avizinha fácil para os portugueses. O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou recentemente uma taxa de desemprego, de 7,8 por cento, referente ao último trimestre de 2008. Apesar deste valor animador, dado

que em 2007 a taxa de desemprego se situava nos 8 pontos percentuais, a tendência tem sido para o seu aumento gradual. Esta tendência verificou-se a partir do segundo trimestre de 2008, altura em que a taxa ainda se fixava em 7,3 por cento. Segundo os últimos dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o número de inscritos em Centros de Emprego situou-se, em Janeiro de 2009, nos 447 966 desempregados. Mais 44,7 por cento de inscritos em relação ao mês de Dezembro. Estes números não são apenas preocupantes para Portugal, a taxa de desemprego na zona Euro, que engloba os países que aderiram à moeda única, subiu 0,1 por cento desde Dezembro do ano passado situando-se assim nos 8,2 por cento, o valor mais alto desde 2006. A própria Espanha que conheceu um forte período de prosperidade, com crescimento médio anual de 3,7 por cento, tem actualmente a maior taxa de desemprego da União Europeia (UE). Relativamente à taxa de desemprego juvenil, no contexto europeu, Portugal conta com a 12ª mais baixa, sendo que a média europeia é de 16,6 e a portuguesa 16,1 por cento.

Quem tem mais oportunidades Os jovens "são por norma os primei-

ros a sofrer consequências", afirma o membro da Comissão Executiva da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Arménio Carlos. São os jovens recém-licenciados, faixa etária entre os 15-24 anos, quem mais sofre com o desemprego, representando cerca de 32 por cento dos desempregados portugueses, segundo dados do INE. Contudo a formação superior, ainda, garante uma maior taxa de empregabilidade nas faixas etárias posteriores (baixando para 8,3 por cento entre os 25-34 anos). Uma das apostas levada a cabo pelo governo socialista foi o programa Novas Oportunidades. Este programa formou mais de 100 mil adultos desde Janeiro de 2007 até Dezembro de 2008. Apesar disso, mais do que números interessam, segundo a oposição social-democrata, "os resultados concretos dessas políticas e dessas acções inseridas no programa das Novas Oportunidades", isto é, se corresponde "à propaganda que o Governo tem feito desses programas". O dirigente da CGTP acusa este programa de ser ineficaz no "combate aos problemas estruturais que o país enfrenta". O secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores, João Proença, é mais brando e explica: o "programa Novas Oportunidades só começará a produzir agora impacto", afinal, ainda "está numa fase

embrionária e, portanto, o reflexo no emprego será, sobretudo, sentido no futuro".

As várias faces do desemprego As medidas encetadas pelo Governo para o combate à crise laboral, directamente relacionada com a crise económica mundial, centram-se no reforço do investimento público, incluindo a recuperação de escolas, e à actividade económica, incluindo as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). O deputado social-democrata, Arménio Santos, acusa o Governo de se ter preocupado tardiamente com as PMEs, acrescentando o facto de este ser um ano de eleições: "até aí ignorou, desprezou sistematicamente as micro, pequenas e médias empresas". Em vez disso, explica o deputado social democrata, "o Governo esteve mais preocupado com a apresentação de grandes projectos e de grandes operações mediáticas". O deputado do Partido Popular, Pedro Mota Soares, acredita que o problema é que o tipo de emprego que as grandes obras geram é um emprego pouco qualificado, que traz pouca mais-valia". O deputado sublinha ainda que este emprego nem sempre é atribuído a portugueses. O deputado do Partido Comunista Português, Jorge Machado, ciente da importância do apoio às PMEs

destaca, contudo, que "a medida fundamental nesta altura é a promoção do aumento dos salários e das pensões". Numa análise recente o economista Eugénio Rosa comparou a percentagem desempregados com e sem subsídio, mostrando que dos 437 mil desempregados apenas 59,9 por cento beneficiava de subsídio. Esta complicada realidade é a justificação da grande adesão à manifestação convocada pela CGTP, na última sexta-feira. Jorge Machado acredita que a resolução destes problemas passa pela "mobilização e na luta dos trabalhadores" e explica: "temos a profunda convicção que o país não esta condenado à miséria, ao desemprego, à precariedade e aos baixos salários". Da mesma forma, o deputado do Partido Social Democrata evidência que "as pessoas estão na rua porque estão insatisfeitas com os resultados das políticas do Governo". Uma possível solução parece reservada para depois das eleições, como acrescenta, Arménio Santos, "apesar da maioria absoluta" e da "postura aberta" das confederações sindicais o governo socialista não conseguiu, até agora, solucionar os problemas. Até ao fim do fecho da edição e após solicitarmos as suas declarações não obtivemos resposta dos deputados do Partido Socialista, Osvaldo de Castro e Odete João. Com Frederico Fernandes


16 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO

África é o continente com mais líderes políticos assassinados D.R.

O recente assassinato do presidente da Guiné-Bissau encheu os jornais e despoletou a questão - golpes de Estado ou assassinatos de líderes políticos são ou não pontos finais na história? Bruno Monterroso Abraham Lincoln, Ghandi, John F. Kennedy, Martin Luther King ou Benazir Bhutto são alguns dos exemplos mais conhecidos de personalidades assassinadas ao longo da época contemporânea. De todos os assassinatos de líderes políticos conhecidos, qual o mais importante? O professor de história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Vítor Neto, não tem dúvidas em eleger “o atentado de Sarajevo cometido contra Francisco Fernando, arquiduque da ÁustriaHungria” como “um dos mais significativos” e de “consequências tremendas na zona balcânica e em todo o mundo. Foi o ponto principal, que está na raiz e na origem da Primeira Guerra Mundial”. O também professor de história contemporânea da mesma faculdade, João Paulo Avelãs Nunes, explica que as “mudanças de curto prazo de natureza factual podem alterar ligeiramente o modo como as coisas vão decorrer, mas no essencial elas decorrerão da mesma maneira”, partilhando, ainda assim, da opinião dos que consideram o atentado de Sarajevo “um pretexto razoável para resolver uma série de tensões que estavam a ocorrer na

MILITARES GUINEENSES assassinaram o presidente Nino Vieira, em sua casa

Europa”, levando à Primeira Grande Guerra. Mas outros assassinatos são, no entender dos docentes, importantes, no desenvolvimento do curso da história. Avelãs Nunes refere o assassinato de Robert Kennedy, irmão do também assassinado ex-presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, que “provavelmente teria tido uma presidência ainda mais liberal” do que o seu irmão. Vítor Neto destaca o assassínio do “campeão da luta pela paz” Jean Jaurès, um líder socialista assassinado em 1914 cuja morte como que simbolizou o fim da oposição à guerra de 1914-18.

Nino Vieira e o continente africano Recentemente, Nino Vieira tornouse no 17.º chefe de estado africano (47 em todo o planeta) assassinado nos últimos 60 anos. Porque são os africanos as maiores vítimas de atentados políticos? Sobre Nino Vieira e a Guiné-Bissau, Vítor Neto afirma: “a Guiné-Bissau é um país pobre, com grandes dificuldades de desenvolvimento, com um atraso económico enorme”. A ausência de “desenvolvimento económico”, de “uma democracia consolidada”, da “corrupção bem patente” e o facto de “os guineenses não terem ainda conseguido constituir uma demo-

cracia política” levou à “governação da Guiné-Bissau em termos autoritários”. Esse autoritarismo de Nino Vieira “criou as condições para a revolta dos militares” contra o próprio que, na altura do atentado, “era já um homem só e isolado”. Contudo, estes não são problemas específicos do povo guineense, mas de todo um continente. Avelãs Nunes sublinha a decisiva influência que a colonização teve nos continente ao afirmar que esta “foi bastante limitadora para a evolução [africana]”, pois “durante muito tempo [os colonizadores] apostaram na escravatura, trabalho forçado ou na ausência de acesso à escolaridade

como forma de manterem controladas as populações”. Com isto, acredita o docente, “não contribuíram em nada para a sua evolução política e social, para que se criasse uma nação em vez de um somatório de tribos”. Também pelo facto de se tratarem de “países mais frágeis”, estes são “mais facilmente alvo da intervenção de outras potências”, no plano político-económico. Vítor Neto deixa uma advertência: “a questão dos atentados em África é uma questão de desenvolvimento: o Mundo tem de ser mais solidário com África”. Com Sara Coimbra e Rui Miguel Pereira

Uma história construída de assassinatos A história mundial está marcada por diversos assassinatos políticos. Figuras que continuamos a recordar pelo que ainda hoje representam Por Sara Coimbra e Rui Miguel Pereira O recurso aos atentados como forma de fazer política é uma tendência que acompanha a história mundial desde sempre. Em Portugal, o regicídio ocorrido em 1908, no qual o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro foram assassinados, daí resultando dois anos depois a implantação da

República, é um dos exemplo em que se pôde verificar um verdadeiro virar de página na história do país. Seis anos depois, em 1914, o mundo assistiu ao assassinato que despoletou a Primeira Guerra Mundial: a morte do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, por parte do extremista Gavrilo Princip. Em 1948, um ano sobre a independência da Índia, Mahatma Gandhi, célebre líder espiritual e pacifista indiano, foi baleado em Nova Deli, por um extremista hindu. Em sua defesa argumentou que Gandhi fora o responsável pelo enfraquecimento do governo indiano ao insistir no pagamento de certas dívidas ao Paquistão. John Kennedy, presidente dos Estados Unidos da América, fora assas-

sinado em Dallas, a 22 de Novembro de 1963. Retomando ao panorama português, somos confrontados com a morte do General “Sem Medo”, Humberto Delgado, em 1965, por parte da polícia política portuguesa, PIDE, na fronteira luso-espanhola. Quem não se lembra do ilustre pastor protestante e um dos mais importantes dirigentes do activismo pelos direitos humanos? Martin Luther King foi assassinado em Memphis, em 1968. O seu discurso “I have a dream”, proferido em 1963, que ainda hoje marca o pensamento pacifísta, foi o ponto de partida para se tornar a mais jovem personalidade a ganhar o Prémio Nobel da Paz, em 1964. Amílcar Cabral e Jonas Savimbi,

chefes dos movimentos revolucionários do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), respectivamente, inserem-se também neste contexto dos célebres assassinatos políticos. Amílcar Cabral foi assassinado em 1973, em Conacri por dois membros guineenses do seu próprio partido. Por sua vez, Jonas Savimbi foi morto a 22 de Fevereiro de 2002 pelas forças armadas angolanas (FAA). Muitos dos assassinatos ocorrem envoltos em mistério surgem teorias sobre “quem ajudou quem”, quais as motivações ou se teria sido possível o assassinato sem traição. Mais recentemente, em 27 de Dezembro de 2007, aconteceu o assas-

sínio da primeira mulher a ocupar um cargo de chefia de governo de um estado islâmico. Referimos-nos, pois, à ex-primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto. João Bernardo Vieira, mais conhecido por Nino Vieira foi derrubado do poder, dia 2 de Março deste ano, após um golpe de Estado. Baleado por militares, torna-se assim a segunda vítima depois de, no dia anterior, militares guineenses terem morto o seu chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Batista Tagme Na Wai. Mudando ou não o curso da história, a morte de líderes políticos que pelo carisma ou estatuto deixaram a sua marca na história, inspiram ainda hoje, muitos deles, movimentos em prol das suas causas e ideias.


17 de Março de 2009 | Terça-feira | a

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA Com os olhos nas estrelas D.R.

Com quase 20 anos de existência, a secção de astronomia pretende ganhar nova dinâmica com iniciativas que começam hoje Diana Craveiro A Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronáutica da Associação Académica de Coimbra (SAC/AAC) vai representar hoje, 17, a Universidade de Coimbra (UC) na I Feira de Ciência e Tecnologia de Alcobaça. Num ano em que a secção está com falta de colaboradores, a astronomia vai sair da cidade dos estudantes para dar mini-sessões de planetário. A actual presidente da SAC/AAC, Filipa Ventura, explica que neste momento a secção “está mais virada só para a parte de astronomia, porque há falta de elementos”. A secção costuma promover observações nocturnas, algumas observações do Sol e ainda pequenos ateliês com crianças. Nos últimos tempos, a actividade mais solicitada tem sido sessões de planetário, “onde se mostra às crianças como se deve ver o céu se não houvesse luz na cidade”, conta Filipa Ventura, acrescentando que “principalmente as crianças da cidade vêm poucas estrelas e ensina-se a começar a identificar o norte, através da estrela polar e da ursa maior e menor e algumas constelações que se vêm melhor”. “No final, fazemos uma pequena sessão a mostrar as constelações dos signos, que é o que normalmente todos preferem”, refere a presidente.

Em Alcobaça, a secção vai dar a conhecer “a importância da astronomia”, adianta Filipa Ventura, “explicar o que é que se faz com ela no dia-a-dia e para que é que serve”. “Não é só estar a olhar para as estrelas, porque há muita actividade por detrás da astronomia que nos dá a conhecer o nosso passado e, quem sabe, o nosso futuro”, defende. A iniciativa partiu da câmara local e da UC, e destina-se não só a alunos dos vários níveis de ensino, mas também a qualquer pessoa que tenha gosto por astronomia. A SAC/AAC foi fundada a 9 de Maio de 1989 com o objectivo de divulgar a astronomia. Duas décadas depois, o balanço que Filipa Ventura faz é positivo. “A secção já teve anos muito bons e já teve anos em que esteve para fechar. Agora está numa fase de recuperação outra vez”, conta a presidente. Filipa Ventura lembra os anos em que a SAC/AAC “foi a Paris ver um eclipse solar e outras viagens desse género”. Embora actualmente a secção esteja num momento menos bom, “o saldo acaba sempre por ser positivo porque as poucas pessoas que participam gostam sempre do que fazem e pedem sempre mais actividades a nível da astronomia”, explica Filipa Ventura. Outra pessoa que também passou pela SAC foi Joana Marques, que actualmente está a trabalhar no Museu da Ciência da UC. Presidente da SAC no ano lectivo de 2002/2003, Joana Marques fala do tempo em que esteve na secção e diz que “foram anos em que aprendi muito em relação à astronomia, foi óptimo para a minha formação em termos de contactos que estabeleci”, realçando a aprendizagem do trabalho em grupo.

Também Ana Rocha presidiu a secção, mas em 2006/2007. “Foi um veículo ao qual aderi para chegar ao público em geral, de modo a conseguir fazer com que este tomasse gosto pela astronomia, pela ciência e pelo conhecimento”, conta. Na sua altura “havia muita adesão, tanto da parte dos estudantes como das pessoas em geral, às várias actividades”. No entanto, Ana Rocha explica que esta situação se foi alterando, porque “as pessoas, a nível social, mudaram um pouco a sua mentalidade e perdemos muita da participação”. “Comparo esta situação quase que a uma crise cultural que se instalou em Portugal, a par desta crise económica que entretanto apareceu também”, adianta. A opinião é partilhada por Filipa Ventura que defende que além de “os estudantes normalmente não estarem interessados por secções culturais”, “a cultura sempre foi um pouco desprezada e o Processo de Bolonha veio dar mais uma ajudinha à desmotivação”. Já Joana Marques pensa que a astronomia é um tema que interessa às pessoas. “Da experiência que tive enquanto estive na SAC/AAC, e do trabalho que faço agora [no Museu da Ciência], que está também de alguma maneira relacionado com astronomia, sei que há um núcleo duro de pessoas que gostam”. “Depois há pessoas curiosas que aparecem de vez em quando. Em geral, acho que as pessoas têm curiosidade”, acrescenta. Na sua altura, Joana Marques diz que a adesão das pessoas era maior, porque “o grupo de trabalho era muito bom e nós éramos muito dinâmicos e fazíamos várias coisas”. “Acho que isso também foi importante, porque, de vez

“HÁ MUITA actividade por detrás da astronomia”, diz Filipa Ventura

em quando, as pessoas ouviam falar de nós e se as coisas forem muito espaçadas as pessoas dispersam um bocado”. Mesmo com falta de elementos, a secção de astronomia vai estar presente no recinto da Queima das Fitas 2009. Filipa Ventura revela que a secção vai levar telescópios

para o queimódromo, “até cerca da uma da manhã, porque até mais tarde é impossível, depois começa a chegar muita gente”. Os telescópios vão estar acessíveis a qualquer pessoa, mas quem não quiser olhar as estrelas pode sempre participar no sorteio que a SAC/AAC vai fazer e ganhar um brinde.

Exploratório reabre no Parque Verde para os mais pequenos O exploratório vai mudar para o Parque Verde, mas só as escolas o podem visitar Patricia Gonçalves O novo Exploratório do Centro de Ciência Viva reabre hoje, 17, para visitas escolares numa fase experimental. Espera-se que cerca de uma centena de alunos visite este espaço por dia. Apesar de não estar ainda completa, “a exposição já tem material suficiente e com bastante coerência para justificar as visitas das escolas”, refere o director do Exploratório, Vítor Gil. As novas instalações do Exploratório, situadas na margem esquerda do Parque Verde, vão estar abertas nesta primeira fase apenas para as escolas, uma vez que já havia marcações para este mês desde Outubro de 2008. A inauguração oficial e a abertura ao

público estão previstas para Abril, mas ainda não há uma data certa, porque, até que isso aconteça, faltam alguns detalhes finais. Entre as actividades presentes no exploratório destaca-se o novo planetário e a exposição dos cinco sentidos que esteve em digressão por várias cidades do centro do país e em Porto Moniz (Madeira), e que agora se fixa na margem esquerda do Mondego. Há três roteiros alternativos no novo espaço. Um que consiste na visita do planetário e dos módulos interactivos dentro do edifício, e outros dois que se centram na exploração do espaço exterior, um de exploração livre e outro orientado por um monitor. Há ainda novos conteúdos relacionados com o tema “Materiais, Nanopartículas e Saúde” que integram módulos novos e outros que já existiam no antigo exploratório. Está projectada uma segunda fase do projecto do Exploratório que vai consistir no alargamento do espaço

D.R.

O NOVO EXPLORATÓRIO tem um espaço de experimentário para ateliês

de exposição existente no Parque Verde. No entanto, é um projecto que vai ser candidato ao Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) este ano, e, dando-se a sua aprovação, será lançado a concurso público e iniciada a obra em 2010. As antigas instalações do Exploratório na Casa da Cultura puderam ser visitadas até Dezembro. Neste momento, o edifício do antigo Exploratório está a ser desactivado. A parte exterior vai continuar em funcionamento este ano com as actividades das hortas pedagógicas para as escolas do primeiro ciclo, uma vez que a área destinada a esta actividade nas novas instalações ainda não está apta. Vítor Gil esclarece ainda que o Exploratório tem “um acordo com a Câmara Municipal de Coimbra para continuar a dar alguma colaboração na manutenção do espaço exterior” do antigo exploratório e também para “continuar a exercer a experiência que adquirimos naquele espaço desde o início do projecto”.


18 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

CINEMA

ARTES FEITAS

Watchmen – Os guardiões ”

P

DE ZACK SNYDER COM MALIN AKERMAN BILLY CRUDUP JACKIE EARLE HALEY 2009

Who Watches the Watchmen?

ara se ter uma pequena noção do que estamos a falar, convém dizer que Watchmen, o livro da autoria de Alan Moore e Dave Gibbons, data de 1986, e foi considerado pela TIME como um dos 100 melhores romances de sempre em língua inglesa, sendo o único livro “aos quadradinhos” a figurar em tal lista. Posto isto, convém acrescentar ainda que a ideia de trazer este ‘graphic novel´ para o para o cinema é quase tão antiga quanto o próprio livro, mas foi sendo sucessivamente adiada. Depois de uma lei aprovada por Richard Nixon que proíbe a actividade de vigilante nos EUA, aqueles que outrora se encarregaram de combater o crime estão agora reformados, velhos, à procura do seu lugar numa sociedade moderna, numa vida solitária apenas acompanhada pelos seus problemas e fantasmas antigos. Por outro lado, estamos no pico da

guerra fria, que só não rebenta pelo facto dos EUA terem um último trunfo: Dr. Manhattan, uma bomba nuclear viva – ‘The superman exists and he’s american’. Dr. Manhattan tem poderes praticamente ilimitados, e foi o grande responsável pela vitória dos EUA no Vietname. Manhattan é o seguro de vida da América. Mas quando o Comediante (outro vigilante) é assassinado, os vigilantes reúnem-se para descobrir o que está a acontecer. Transpor uma obra desta dimensão para um filme exige alguma ginástica, e isso é logo evidente no genérico onde levamos com um “banho” de história de “guardiões” para nos dar algum background relativamente às personagens. De resto, tal como em 300, Zack Snyder procurou ser fiel o máximo possível ao livro. E, de facto, a única coisa que foi alterada substancialmente foi o final, que foi um pouco actualizado, mas que nem

por isso estraga o filme ou destroçará os fãs. Pelo contrário, cria algum suspense para quem já conhece a obra. Tal como o recente “The Dark Knight” (TDK), Watchmen está a ser vendido como um blockbuster, quando é algo mais. E quem espera acção aos pontapés, explosões e afins, vai sair um pouco desiludido. Depois de TDK os filmes de super-heróis são olhados com outros olhos, e isso talvez seja uma vantagem para Watchmen, pois trata-se de uma história complexa e com personagens profundas: heróis velhos e decadentes, com passados mais ou menos obscuros, com dilemas morais e discussões quase filosóficas, num filme que se estende durante 2h40, e que no fim ainda nos deixa a pensar. Talvez seja esse o maior defeito do filme, a informação é muita e com qualidade, mas passa a uma velocidade que nos exige alguma concentração para conseguir digerir o que está a acontecer.

CRÍTICA DE RAFAEL FERNANDES

Gran Torino”

N

inguém duvida que Clint Eastwood é uma figura incontornável no panorama cinematográfico norte-americano. O actor de “Dirty Harry” parece actuar como o único elo de ligação ao cinema de outros tempos. Uma homenagem activa ao que de melhor se fez no outro lado do oceano durante os anos dourados de Hollywood. O seu estilo é inconfundível: enquadramentos simples, contemplativos. Uma figura perfeccionista que não descura nenhum pormenor. Não obstante, há algo de invariavelmente datado nas suas últimas obras. “A Troca” já

tinha deixado antever que algo se estava a passar. Infelizmente a confirmação chega com “Gran Torino”. “Gran Torino” não é um mau filme. O problema é que também não passa disso. Apesar de ser uma obra perfeitamente aceitável não há ali nada de verdadeiramente transcendente. A realização mantém a classe a que Eastwood já nos habituou mas começa a não ser suficiente. Depois de “Million Dollar Baby”, “A Troca” ou “Mystic River”, a fórmula parece estar a ganhar umas irritantes teias de aranha. Em linhas gerais temos uma reflexão sobre a velhice – escolha a que a própria realidade

do realizador não é alheia – onde os valores da sociedade e da família são questionados de uma forma que tem tanto de engenhoso como de caricato. No entanto, as constantes mudanças de tom – entre o introspectivo e a auto-paródia – levam a uma certa inquietação. Como se não conseguíssemos perceber aquilo que devíamos estar a sentir. No final ficamos com a sensação de que o ciclo se fechou. A Eastwood dificilmente o voltaremos a ver à frente das câmaras. Resta-nos esperar que canalize todas as suas forças para a cadeira do realizador.

FRANÇOIS FERNANDES

DE

CLINT EASTWOOD COM

CLINT EASTWOOD BEE VANG AHNEY HER 2008

Entre o modelo clássico e o simplesmente velho


17 de Março de 2009 | Terça-feira | a

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ARTES FEITAS

OUVIR

LER

Microcastle” ão se pode dizer do segundo álbum oficial dos Deerhunter que tenha sido uma surpresa particularmente bem guardada. O nome do disco era conhecido já desde o final de 2007, e a primeira data de edição avançada foi o mês de Janeiro do ano transacto. Mas as coisas não aconteceram exactamente dessa forma... Depois da estreia oficial em Cryptograms, a banda viu-se sob os potentes focos do mediatismo. A esta ascensão juntaram-se logo acusações de sobrevalorização, como se tivessem sido eles mais uns felizes contemplados na eterna lotaria dos hypes da imprensa. Em abono da verdade, importa dizer que sim, sem dúvida que o foram. Mas mais DE importante do que isso é dizer que DEERHUNTER mereceram por inteiro o destaque. EDITORA A sobre-exposição tem muitas desKRANKY/4AD vantagens. Convém lembrar que os Deerhunter não tinham à altura 2008 muita rodagem ao vivo. A ascensão foi demasiado meteórica, e a banda passou da garagem para os palcos dos mais importantes festivais do mundo, com performances que muitas vezes ficavam aquém das expectativas, e com as naturais tensões internas que levaram à saída do guitarrista Colin Mee (com a progressiva radicalização do discurso homossexual de Bradford Cox a ajudar à festa). A notícia da pausa indefinida anunciada no final de 2007 fez temer o pior, mas felizmente não teve muito mais consequências negativas do que o atraso de 10 meses na edição do disco. E a experiência adquirida na estrada ajudou em tudo ao processo criativo. Os Deerhunter aparecem aqui quase transfigurados. Aprenderam a trabalhar a inocência natural da sua música, que evoluiu claramente em termos técnicos, o que permitiu abordar a construção dos temas de forma mais polida e natural. Por isso, temos aqui canções com estrutura mais convencional - algumas absolutamente geniais, como Nothing Ever Happened ou Agoraphobia, esta última na voz do guitarrista Lockett Pundt - sem que isso seja um limitação sonora. E com tal transfiguração operada, é interessante verificar como a identidade da banda não se perde, apenas se transforma. O segredo estava mal guardado, convém explicar, porque o disco “pingou” para a Internet no dia 1 de Junho de 2008. Talvez consequência da loucura vivida nessa noite no backstage do palco All Tomorrow’s Parties, no festival Primavera Sound em Barcelona. Ou talvez não, isto sou só eu a atirar para o ar...

O Segredo mais mal guardado do mundo

N

O Mundo é Tudo o que Acontece ”

Acto vivido em cena

DE

PEDRO PAIXÃO EDITORA QUETZAL 2008

VER

O Sétimo Selo” Hoje encontrei a morte. Estamos a jogar Xadrez

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior FILME

Vale a pena A Cabra aconselha DE

INGMAR BERGMAN

Artigos disponíveis na:

O

“nos sabemos estrangeiros, nem daqui, nem dali”. Neste ponto, podemos recordar a pergunta inicial do "Fedro" de Platão: “Para onde vais e donde vens?”. Todos com uma origem, a partir – na verdade, somos muito diferentes e muito parecidos. O denominador comum da natureza humana torna-nos mais próximos da leitura, enquanto os “temperos” que nos distinguem sujeitam-nos à reflexão, provando que – “as palavras unem-nos definitivamente para nos separar”. É através das palavras, construídas em fracções quase imagéticas, que o romance abre espaço, encerrando em si a magia da descoberta, que confere à prosa ficcional uma força poética. Isto porque cria outras possibilidades de sentido – o nosso. Cada história assenta numa melodia cortada ao cabo de frases curtas – uma escrita simples – perto do tom oralizante, a contar a história. Pedro Paixão, é como os seus heróis “na literatura não escreveram literatura, mas a vida vivida até ao limite – quando perguntaram a Flaubert [escritor francês] quem era Madame Bovary respondeu sou eu”. Assim, na narrativa, enredo de narrativas, encerram-se ciclos infinitos (“alma, abismo, segredo de tudo”) de personagem que somos nós, que são ele – acto vivido em cena.

FATIMA ALMEIDA

EMANUEL BOTELHO

A Cabra d’Ouro

Mundo é Tudo o que Acontece", de Pedro Paixão, à semelhança das obras anteriores, embora não pareça é um romance: como Herberto Helder lho confirma num sonho, à porta de uma livraria de verdade. O livro, composto por 95 narrativas ficcionais curtas, permite a emergência do real, como uma presença que toma de assalto a acção. Por isso, o romance, género atribuído à obra, é-o enquanto “técnica de simplificação, de engano”, e não palco de histórias simplesmente inventadas. As personagens são quase sempre o “eu” entre outros. São alvos, sem acaso, do encadeamento sucessivo da narrativa ficcional com a realidade, que se mistura – sob disfarce – na encenação. E nisto, “ao julgar ler a vida imaginada dos outros estamos a tentar escapar à nossa”. A arrebatar os textos curtos: a paixão (significante de sofrimento); o prazer (sem regras); as cidades (lugares de paixão) intemporais; a relação do homem com deus e o universo; a filosofia e os poetas - (referências culturais e eruditas). Há sentimentos escondidos do clã Humano, aqui apresentados a nu. Nas histórias, o passado irrecuperável, denso de memórias por salvar. As palavras são a forma, feita matéria, para recuperar o que se viveu – a ilusão – para se procurar um lugar no mundo onde

EDITORA CASTELO LOPES 2002

stamos no século XIV. Antonius Block (Max Von Sydow), um cavaleiro das cruzadas, e Jöns (Gunnar Björnstrand), o seu escudeiro, voltam à terra natal, na Suécia, depois de dez anos de luta contra os infiéis. A desolação da paisagem é óbvia e não se encontra ninguém à vista, apenas uma figura, um velho, vestido de preto dos pés à cabeça, que se apresenta como a Morte. Recusando o seu destino, Block propõe um acordo: um jogo de xadrez. Se ele ganhar pode continuar a viver, mas se a morte conseguir o xequemate, é com ela que deve seguir. É desta maneira que começa “O Sétimo Selo”, um dos filmes mais reconhecidos de Ingmar Bergman. É difícil contornar a estética minimalista, mas ao mesmo tempo tão memorável, que o filme nos apresenta, como se Bergman quisesse contrastar a simplicidade do mundo físico com a complexidade que é a alma, ou, se preferirem, a mente humana. O jogo com a morte não se faz durante uma única sessão, faz-se sim ao longo do percurso que o cavaleiro vai percorrendo por uma terra que é a dele, mas que agora lhe parece irreconhecível. As questões levantadas por Berg-

E

man prendem-se, nesta obra, com a fé religiosa. O porquê de Deus ser tão silencioso e apático enquanto que a morte é uma certeza e faz questão de ser brutalmente visível. Quanto à edição em DVD, a editora Castello Lopes traz-nos uma nova versão remasterizada, com o bom velho preto e branco a aparecer aqui em toda a sua glória. Não nos podemos esquecer que se trata de um flme de 1957 e, pelo que me parece, dificilmente se consegue uma transferência tão fiel do master original. Até mesmo a faixa áudio, que é em mono, não dá ares de ter perdido nada com o tempo. Em matéria de extras temos apenas a habitual biografia e filmografia do realizador, e o documentário “De Filmstaden a Faro – Três cenas com Ingmar Bergman”, que não é mais do que uma conversa de 30 minutos com o realizador acerca do seu percurso profissional. Seria interessante saber mais acerca do filme em si ou até mesmo da importância que teve na cultura popular. As referências à obra aparecem em sítios tão díspares como o filme “O Último Grande Herói”, com Arnold Schwarzenegger, ou o videoclip do tema “Re-Tratamento” da banda de hip-hop, Da Weasel.

JOSÉ SANTIAGO


20 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

SOLTAS

ALMOÇO SOCIAL

JOÃO LUÍS • TREINADOR DOS SUB-20 DA AAC/RUGBY Canja

Frango Assado

Maçã

RUGBY EM PORTUGAL

A SECÇÃO DE RUGBY

OS SUB-20

Foi um desenvolvimento planeado, conseguido com algum mérito mas foi única e exclusivamente em Lisboa, fora da região de Lisboa é um bocado mais complicado o desenvolvimento do rugby. Lisboa, ao contrário do resto do país, já conseguiu desenvolver uma academia de rugby a nível sénior e tem outra que vai ser iniciada para as camadas jovens. Os objectivos são grandes e as ambições são muitas, vamos ver se conseguimos fazer com que o desenvolvimento alargue ao resto do país, mas vai ser um bocado complicado. Este desenvolvimento decorreu dessa forma mais como uma obrigação. O rugby ainda é um desporto de elite em Portugal e a maior parte do elitismo que temos está em Lisboa, onde está a maior concentração populacional. As academias surgem devido à era da profissionalização do rugby, mas também mais como uma obrigação da IRB (Internacional Rugby Board). A diferença é tão grande entre o rugby profissional e amador que a IRB se assustou quando Portugal se conseguiu qualificar para o Mundial. Foram Enviados para Portugal três representantes para coordenarem um projecto de desenvolvimento de academias obrigando assim o rugby português a desenvolver-se. Facilmente Portugal pode ultrapassar a Geórgia e a Rússia, dentro de dois, três anos o objectivo será esse. Penso que Portugal neste momento tem hipóteses de chegar o 10º lugar a nível mundial, já o conseguimos em sevens.

Neste momento não temos jogadores que possam fazer parte da selecção. Estamos a formar um jogador para a selecção nacional, o João Mateus, e vamos ver se conseguimos na próxima época levar o Eduardo Salgado. Se nós estivéssemos em Lisboa eles facilmente iam à selecção. Não estando, implica muito sacrifício. Os horários de treino em Lisboa são completamente marados, já de propósito para não ir ninguém fora de Lisboa à selecção. Só quem é de Lisboa consegue encaixar no horário. Isto só pode ser contrariado quando a Académica voltar à Divisão de Honra e começar a ganhar o campeonato da Divisão de Honra, obrigando a que o leque de escolha de horário seja mais aberto. Neste momento a Académica tem condições para estar na Divisão de Honra, estamos a ficar com um número bom de jogadores no plantel, alguns com muita experiência e outros mais novos, como os sub-20 que subiram este ano e os que vão subir para o ano, que vão dar algum ritmo, velocidade e ambição à equipa. Temos um plantel que vai conseguir manter a Académica na Divisão de Honra. O maior problema que nós temos é a falta de ambição. Mas não há ninguém para os repreender, não há castigos, se ganharem está tudo bem se perderem está tudo bem na mesma. Os atletas de Lisboa tem mais ambição de ganhar, trabalham mais. Nós aqui se tentarmos prolongar os treinos para lá das nove da noite temos uma série de problemas, isto quando um atleta em Lisboa chega a casa à uma da noite.

Foi um ano em que as escolas ou não trabalharam bem ou houve menos captação de atletas e houve dificuldades em manter e fazer crescer o número de atletas para continuarmos a crescer como equipa. A realidade é que a formação não esteve bem , os treinadores falharam e não conseguiram transmitir uma ideia de continuidade aos jogadores. Chegou a um ponto onde já não estávamos a formar, antes pelo contrário estávamos a deformar os atletas, e a tentar habituálos a uma ideia com a qual não pactuo que era habituá-los a perder. Não posso pactuar com esse lema de vida nem com essa filosofia. De maneira que cheguei à direcção e disse: se vocês querem continuar tem de haver jogadores ou se continuamos com os doze que estão não vale a pena, vamos acabar isto porque assim não dá. Estamos num processo de formação: há uns anos atrás a Académica não ganhou nada e como tal não entravam atletas para o rugby, por sua vez, tivemos dificuldade em ter treinadores de qualidade nos escalões de formação. Enquanto não conseguirmos isso não conseguimos ter atletas. Vamos ver se agora com treinadores, já com alguma qualidade, vamos conseguir meter mais atletas. Pelos menos para já parece que há muita gente nos sub-14, nos sub16, no sub-18. Este não é um problema da Académica é um problema a nível nacional. Rui Miguel Pereira

RUI MIGUEL PEREIRA

MARÇO 2002 • EDIÇÃO N.º 76 • QUINZENAL GRATUITO

A MÃO QUE EMBALA O BERÇO” m Março de 2002, A CABRA deu destaque às eleições legislativas de 17 de Março, apresentando as políticas dos diferentes partidos, em matérias direccionadas aos jovens, nomeadamente educação, emprego, sexualidade e toxicodepêndencia. Segundo A CABRA, estes assuntos estavam a ser relegados e os "principais temas da confrontação política têm sido as questões relacionadas com a implementação das

E

farmácias sociais, a reforma fiscal e a realização (ou não) do Euro 2004". O Partido Socialista pretendia um incentivo às novas tecnologias que deveriam ser aplicadas na Educação. Este aspecto seria vital para a melhoria do sistema educativo como ficou provado aquando da implementação de internet nas escolas do país, o que se revelou ser "um avanço fundamental para a educação dos jovens" relembrou o candidato a deputado pelo círculo eleitoral conimbricense Pedro Coimbra. Por sua vez, o Partido Social Democrata pretendia uma reestruturação do Ministério da Educação. De acordo com Miguel Coleta, este ministério "tem a missão de gerir um negócio bastante complexo que engloba todo o ensino, desde a pré-primária até à pós-graduação". Relativamente à sexualidade, tema

considerado como uma "necessidade absoluta", defendia-se a criação de uma disciplina específica que seria um passo em frente para "quebrar tabus na sociedade portuguesa". Já a vontade de "fazer melhor" da CDU prendia-se, em matéria educativa, em abolir os aspectos redutores do acesso à educação, como sejam as propinas e o elevado preço dos manuais escolares. Na questão do emprego, o então candidato à Assembleia da República pelo PCP, João Oliveira, entendia que "o Estado permite que os alunos se formem, mas não lhes garante depois, como principal empregador, um trabalho". Os candidatos pelo CDS/PP apresentavam como proposta para o ensino superior um modelo de gestão das universidades. João Almeida, Presidente da Direcção Nacional da Juventude Popular afirmava: "as

18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...

propinas não são usadas para melhorar as condições, mas para pagar despesas correntes". Focando a questão do aborto, o então candidato afirmava que o partido era contra a despenalização. "Esta questão deve ser tratada segundo a persectiva de responsabilização dos homens" justificou. Para o Bloco de Esquerda, a "legalização das drogas e a distribuição de heroína, sob controlo médico", seriam formas de combater a toxicodependência. Na educação, Miguel Reis, dirigente do partido, apelava à "redução de alunos por

turma" e mostrava-se contra a revisão curricular do ensino secundário. Vasco Batista


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O MUNDO AO CONTRÁRIO

SOLTAS

ITÁLIA Durante a missa de domingo, um casal italiano foi apanhado a fazer sexo no confessionário de uma igreja. De acordo com o advogado de defesa, o casal exagerou na bebida e reconheceu que passou dos limites. Os apaixonados fizeram as pazes com o bispo da igreja, que rezou uma “missa de reparação” para “purificar” a igreja onde foi cometido o “pecado original”.

ÍNDIA Os moradores solteiros de uma aldeia no Oeste da Índia estão a trabalhar sem parar para construir uma estrada de seis quilómetros que acreditam que vai aumentar as probabilidades de se casarem. A aldeia de Barwaan é conhecida na região como a “aldeia das pessoas solteiras”. A razão da construção deve-se ao facto de o local ser muito remoto e de difícil acesso.

TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho

QUANDO O CALOR APERTA e certeza que os meus caríssimos leitores já se deram conta do calor que por aí anda (ou pelos menos andava na altura em que escrevi estas linhas). E o problema nem é tanto o calor. O que realmente me chateia é a forma como a natureza se aliou ao corpo humano para nos fazer a vida negra. É uma

D

conspiração ao mais alto nível. Quanto mais próximos estamos do Verão, mais quentes ficam os dias. E o que tem a Natureza a dizer sobre isso? Dias maiores que te lixas. Se pelo menos houvesse uma reacção satisfatória do corpo humano. Mas o que é que ele para resolver a situação? Suar. Ora muito obrigado sr.

“Então, como vai ser? Com cera?” “Não, com moto-serra”.

EUA Uma mulher de 27 anos telefonou três vezes para o número de emergência, o 911, a queixarse que a McDonald's não lhe entregou os McNuggets que pediu. A polícia chegou ao local e confirmou que os McNuggets estavam esgotados. Como resultado, a mulher teve de comparecer em tribunal para lhe ser aplicada uma coima, dado que o uso abusivo do 911 é considerado crime. Daniel Almeida

Corpo. Era mesmo isso que me faltava. Mas o pior nem é isso. O pior é que quando o calor e o sol chegam de forma tão repentina, as pessoas são obrigadas a atacar o guarda-roupa em busca de peças de roupa com menor quantidade de tecido possível. Apesar de ainda não estarmos preparados, somos obrigados a mostrar as partes do corpo que não vêem a luz do sol há meses. Como os pés, por exemplo. Estão tão brancos que quando calças umas sandálias pela primeira vez parece que te enxertaram as patas de um urso polar. Depois de seis meses, a melanina deve estar de ressaca. A sacana para se vingar de a teres acordado põe-te vermelho. No entanto admito que até sou um afortunado. Para as mulheres a coisa é bem mais complexa. Algumas não se depilam durante todo o inverno e quando sentem os dias mais quentes vão logo correr para a esteticista:

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

Brincadeiras à parte, o Aquecimento Global é uma coisa grave. Os estudiosos dizem que durante o século XXI o nível médio das águas do mar vai subir muito. Não tanto como a taxa de desemprego, mas quase. Se isto continuar assim, no século XXX Badajoz vai ter uma praia do caraças, e nós andaremos a disputar a Liga dos Campeões de futebol aquático com os Atlantes. (Bem… Desde que

não sejam alemães). Neste momento vocês devem estar a pensar: “Bah… 2100 está tão longe… eu nunca vou lá chegar”. Bem… talvez só o Sr. Pintos. Já o estou a imaginar a montar um negócio de traçadinho na Atlântida. Só com gasosa porque as uvas tinham secado todas. Ou seja, no fundo não mudaria muito. É por estas e por outras que ninguém quer saber da natureza nem do Aquecimento Global nem do que quer que seja. A culpa é dos cientistas. Eles não sabem falar ao coração da população. Para mim a solução passaria por revelar as verdadeiras ameaças. Aquelas que vão realmente influenciar a vida dos cidadãos. Por exemplo, “em 2100 vai fazer tanto calor que a relva vai desaparecer toda e não se vão poder fazer jogos de futebol”. Ou então, “o calor vai ser tanto que a cevada vai deixar de existir e a cerveja vai acabar”. Assim sim, já estou a imaginar a AAC a aderir em peso, com o presidente lavado em lágrimas. Resumindo e concluindo: daqui a uns anos as temperaturas vão ser tão altas que metade da população vai morrer sufocada, os pólos vão derreter e toda a humanidade sucumbirá debaixo de um oceano de morte e destruição. Que tenham uma boa semana. Todas as crónicas em

arseniocoelho. blogs.sapo.pt

COM PERSONALIDADE LEANDRO ROLIM

ZÉ PERDIGÃO • 28 ANOS • MÚSICO

O FADO NOUTRA PELE Ser músico da voz. Essa fusão seria necessária para uma tradição a que chamamos Fado. Eu não sei o que é isto que canto. É fado-canção. O delinear de vários temas que iriam compor esse álbum. Isso ficou decidido entre quatro pessoas: eu, José Cid, Francisco Ribeiro, dos Madredeus, e a Ana Sofia Cid. Fomos nós que elegemos os 11 temas que estão neste primeiro álbum chamado “ Os Fados do Rock”. Gostámos imenso de o fazer. Este álbum é gravado em analógico. Podem-se ouvir todos os barulhinhos. É gravado ainda em fita. Os mais importantes do mundo começam a procurar novamente esta forma de gravação. Há um laço de amizade que nos une. E por isso, um espectáculo ao vivo tem outra força que um álbum não passa. Eu não sou músico de estúdio. Entrego-me quando estou ao vivo. Em estúdio sou uma merda. Espero estar na vida com a música. Não cheguei aqui caído do céu. Comecei no campo lírico, passei pelo étnico, pelo pop, rock, e foi aqui, neste projecto, que me encontrei, entre o lírico e o étnico, numa roupagem acústica. Transmitimos todas essas emoções para o público de uma forma simples e agradável. Espero mais da música portuguesa. Temos grandes poetas, grandes homens e mulheres que escrevem muito bem, dos melhores que o mundo tem. Temos grandes músicos que conseguem fazer grandes arranjos para esses mesmos poemas. A música para mim é o ar que eu respiro. É tudo. José Cid foi um homem que eu encontrei, um grande produtor, um grande músico e intérprete. Não podemos descorar que José Cid não é o macaco que gosta de bananas. Estamos a falar de um homem que todo ele é musical. Esta capacidade de transpor para o panorama musical todos estes temas que estão imortalizados em todo o Portugal. São temas que vão cantar-se sempre. Este meu primeiro álbum, vou escutá-lo e não vou arrepender-me. A música é uma adrenalina que todos sentem. É a minha droga, o palco. Confesso que me sinto muito melhor na intimidade do que em grandes palcos, porque sinto o afecto muito mais próximo. É assim que eu gosto de estar, sem artefactos, sem nada que amplifique o som. Assim sinto-me bem. Se os portugueses assim o entenderem, sim. Eu tenho a música como a minha vida. Não quero ser politicamente nada. Estou na música pela música. Quero ser simplesmente o Zé Perdigão. Entrevista por Sara Oliveira


22 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO

A CRISE, O ENSINO SUPERIOR E OS ESTUDANTES João Pita * PEDRO CRISOSTOMO

O apoio social e as suas mudanças são importantes pilares na valorização do ensino superior e na equidade no seu acesso e frequência

Cartas ao director podem ser enviadas para

acabra@gmail.com

1. As mudanças sociais no ensino superior: os mecanismos de acção social são o mais importante garante da equidade na frequência no ensino superior. O apoio do Estado via bolsas, residências, cantinas ou serviços médicos tem alvos e objectivos diferentes mas sempre com a igualdade de oportunidades como primeira aposta. Os números e estatísticas sobre a condição socioeconómica dos estudantes do ensino superior são esmagadores: é três vezes mais provável um filho de licenciados estar no ensino superior do que alguém sem pais licenciados. Esta reprodução social é inaceitável e está mitigada com a presença do sistema de bolsas a estudantes (mais de 20 por cento dos estudantes recebem bolsa). A crise económica mundial com reflexos claros em Portugal vem potenciar o aumento das desigualdades. Para situações extremas exigem-se medidas à altura. Assim, tem vindo a ser proposta pelas associações académicas e de estudantes medidas que podem ajudar em momentos de crise: a extensão do Passe Escolar 4_18 ao ensino superior; a criação de um período suplementar de candidatura a bolsas de estudo, com efeitos retroactivos, para todos aqueles que tenham visto a sua condição económica alterada, nomeadamente pelo desemprego dentro do agregado familiar; a manutenção do preço das cantinas ou mesmo a sua redução para os valores de 2008; o aumento das contribuições com a educação na declaração anual de IRS. As associações tem sido activas nas propostas, exige-se do Estado acções claras e coerentes com a afirmação sempre repetida de mais e melhor formação e qualificação nacional como motor de desenvolvimento. 2. A crise como oportunidade de mudança: as épocas de crise servem como oportunidades para mudanças estruturais que sirvam para melhorar as condições de partida. No caso do apoio social há a necessidade de alterar o regime de atribuição de bolsas, abolindo os escalões e passando a ter uma fórmula de atribuição mais justa e eficaz. No mesmo sentido, é fundamental que seja implementada a contratualização de bolsas, ou seja, o aluno entregaria os docu-

mentos apenas uma vez sendo a bolsa renovada automaticamente caso nada tivesse sido alterado no agregado familiar. Conseguir-se-ia um aumento de eficácia dos serviços de acção social e um início do pagamento das bolsas mais rápido. 3. Qualificação como desafio de futuro: o apoio social e as suas mudanças são importantes pilares na valorização do ensino superior e na equidade no seu acesso e frequência. Contudo, é preciso mais para que o desenvolvimento nacional seja de facto assente no aumento da qualificação profissional. Diversificação das formações no ensino superior que vão ao encontro das ambições e necessidades dos estudantes em idade escolar e para os regressos ao ensino; mais flexibilidade curricular e a verdadeira reforma funcional do Processo de Bolonha; mais ensino nocturno e pós-laboral que vá ao encontro dos trabalhadores-estudantes em especial no segundo ciclo de estudos; aposta determinante no ensino com recurso às novas tecnologias. Mais e melhor qualificação é o futuro de Portugal e a aposta certa no debelar de longo prazo do nosso atraso estrutural. Isso só se consegue fornecendo aos estudantes e às instituições os meios financeiros e funcionais que lhes permitam ambicionar a excelência. À sociedade exige-se que avalie de forma séria, autónoma e independente o sistema de ensino superior como garante que a formação ministrada é de qualidade e que todos os que se inscrevem num curso estão a efectuar uma escolha acreditada a nível nacional. Em resumo a crise que atravessamos exige de todos medidas fortes e destemidas: dos governos acções concretas que avaliem o sofrimento das famílias; aos estudantes o interiorizar de que a sociedade precisa deles como motores do desenvolvimento económico e social de Portugal. Estes momentos de crise podem ainda potenciar reformas duradouras que permitam ir mais longe no que era feito até então. Também no Ensino Superior tal pode e deve acontecer, haja opções políticas condizentes com a eterna paixão pela educação. *Estudante da UC e membro do Conselho Nacional da Educação PUBLICIDADE


17 de Março de 2009 | Terça-feira | a

cabra | 23

OPINIÃO DIREITO AO PURGATÓRIO…

EDITORIAL A MINHA QUEIMA É MELHOR QUE A TUA

Rui Lopes *

Em 1969, os estudantes da Academia de Coimbra reivindicaram “exames para todos…ou exames para ninguém”… ao tempo, a igualdade era apenas um sonho só possível com a democracia…essa por quem tantos lutaram e por quem tantos sofreram… Estes, esperavam no mínimo, que 40 anos depois, esse conceito de democracia, melhor, de Estado de direito democrático, consagrasse uma sociedade tendencialmente igualitaria, “tratando como igual o que é igual e como diferente o que é diferente” corolário do princípio da igualdade que tanto e repetidas vezes estudamos ao longo do curso de Direito na Faculdade de Direito de U.C. O regime da avaliação contínua, que entre outros, o Processo de Bolonha trouxe para a Universidade de Coimbra e particularmente para a Faculdade de Direito, vinha carregado com a esperança de que a carga e densidade curricular que o curso de Direito exigia possibilitasse mais sucesso aos alunos da FDUC. Um regime onde se avaliasse a assiduidade, a participação, a capacidade de desenvolver trabalhos de investigação, mini-avaliações, repartição da densidade doutrinal etc., etc. Tudo meras expectativas. A realidade mostrou-nos que em nada o regime de avaliação contínua nos veio beneficiar…A sua essência está correcta, é certo… é com avaliação contínua que devemos ser postos à prova… mas cada estudante e não apenas alguns que por mera sorte foram sorteados ou que tiveram mais uma décima ou duas de média na candidatura ao ensino superior. O que se passa actualmente na FDUC é discriminatório, pois é inconcebível que não se trate de modo diferente o que é manifestamente igual…Como se concebe que na melhor Faculdade de Direito do país se pratique publicidade enganosa? Sabia algum dos últimos candidatos ao ingresso na nossa faculdade que para além de uma média de entrada esta ainda seria comparada com a dos restantes colocados para efeitos de ingresso no regime de avaliação contínua? E os que já cá estão? Faz sentido entrarem num concurso para obterem a possi-

bilidade de ingressar no referido regime? Se não há condições logísticas, físicas e intelectuais, para que na Faculdade de Direito se possa implementar um verdadeiro regime de avaliação contínua, que chegue a todos, que nos trate de igual forma a todos, então que não haja avaliação contínua para ninguém. O argumento de que “um pouco mais de bem é sempre melhor” é, neste específico caso, uma violação do princípio da igualdade, pois para iguais condições há um tratamento diferente e não há uma razão coerente para que seja assim…Porque é que o Sr. A, que para além de pagar o mesmo valor de propinas, que tem um aproveitamento académico semelhante ao do Sr. B, não consegue ter acesso ao regime de avaliação contínua? Porque é que o Sr. B, em virtude de um simples sorteio, pode optar entre o regime de avaliação contínua e o regime de avaliação final e o Sr. A só pode aceder a um dos regimes? Está na altura dos alunos da Faculdade de Direito também começarem a resolver estes casos práticos… E os critérios de Avaliação? Têm existência? São simulados? Dissimulados? Objectivos? Subjectivos? Porque é que dois alunos da mesma Faculdade, ao fazerem o mesmo exame, tem surpreendentemente resultados tão distintos? E porque é que em cada 25 alunos só três conseguem ter aproveitamento? E não falemos apenas dos factores subjectivos que a cada um diz respeito… isso não é uma responsabilidade da Faculdade de Direito… mas uma mesma resposta pode ser para um avaliador, totalmente correcta mas para outro parcialmente correcta ou até mesmo incorrecta… Será só culpa dos alunos? O que se passa na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra? Porque é que ninguém quer saber? Porque é que já ninguém canta “…há sempre alguém que resiste, …há sempre alguém que diz não”? São muitas as perguntas…mas há uma só resposta… É HORA DE MUDAR!

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com

* Estudante da Faculdade de Direito da UC

Referia o estudante Filipe Pedro numa carta ao director da edição passada do jornal A CABRA que a linha editorial do órgão deveria “reflectir sobre se a Queima das Fitas é ou não um evento que se digne a estar presente na sua versão impressa”. Acrescentava o estudante que não se lembrava “de ver ninguém da Comissão Organizadora da Queima das Fitas entrevistado como tal, excepto no suplemento sobre a Queima das Fitas, pago pela mesma”. E mencionava ainda que contava “pelos dedos das mãos as vezes que A CABRA publicou artigos relativos à Queima das Fitas”. E a questão que se coloca aqui não passa, como o estudante bem referiu, por aludir a uma obrigação editorial do jornal de publicar matérias alusivas à Queima das Fitas unicamente devido ao contributo financeiro que o lucro da queima representa para as secções. A questão passa pela desvirtuação

CABRA, aceitará trabalhos por encomenda. E mais: o Jornal Universitário de Coimbra, A CABRA, não tem de se justificar pelo conteúdo das suas edições. A única fidelidade é para com o leitor, e estamos certos de que o serviço público de informação a que nos propusemos é cumprido. Mais há a dizer sobre a referida importância atribuída pelo jornal à Queima das Fitas. Afinal de contas, acabra.net é o único órgão a possuir um site exclusivo dedicado às Noites do Parque, com uma cobertura diária de todo o evento e com pelo menos oito pessoas por noite a trabalhar para este mesmo projecto. O trabalho de cobertura da Queima das Fitas não se fica pelo trabalho realizado nas Noites do Parque e no site informativo acabra.net. Toda a iniciativa é acompanhada ao longo do ano com informações actualizadas. Não deverão, portanto, as críticas ser feitas de forma tão redutora

A questão passa pela desvirtuação de alguns factos, que uma rápida (e frequente) leitura do jornal poderia solucionar

de alguns factos, que uma rápida (e frequente) leitura do jornal poderia solucionar. Apesar de todas estas críticas nunca o Jornal Universitário de Coimbra, A CABRA, irá contra a linha editorial que pauta o seu trabalho e nunca se subjugará a atitudes prepotentes por parte de qualquer comissão organizadora de uma qualquer festa académica ou de qualquer outra estrutura da casa. Nunca o Jornal Universitário de Coimbra, A

quando é o trabalho de dezenas de sócios e colaboradores da Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra que é posto em causa. Poderíamos então questionar muitas das decisões tomadas pela Comissão Organizadora da Queima das Fitas, como o tratamento diferenciado dado a um qualquer diário regional e a um órgão de comunicação da casa. Não o faremos, porém. João Miranda e Cláudia Teixeira

A CABRA ERROU Na última edição d'A CABRA, no artigo “A remar pela defesa do título” podia ler-se nas palavras do técnico Júlio Amândio que o Futebol Clube do Porto era um dos candidatos para esta época, quando o treinador se referia ao Sport Clube do Porto. Na mesma edição, encontram-se algumas caixas em branco que, na impressão, e por motivos alheios à direcção do jornal, omitiram parte dos textos dos artigos em causa. A direcção

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Coelho, Leandro Rolim, Sara Galamba, Sara São Miguel, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho, Virginie Bastos Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Bruno Monterroso, Daniel Almeida, Frederico Fernandes, Filipa Magalhães, Joana Tadeu, Maria João Fernandes, Pedro Pinto, Rita Santos, Sara Coimbra, Sara São Miguel, Vasco Batista Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra


Mais informação disponível em Redacção: Secção de Jornalismo Associação Académica de Coimbra Rua Padre António Vieira 3000 Coimbra Telf: 239 82 15 54

Manifestação da CGTP

“Injustiças sociais/Arre porra que é demais!” foi a frase que mais se ouviu entre os mais de 200 mil trabalhadores em Lisboa, segundo a CGTP. O desemprego, a precariedade e as politicas económicas e sociais do governo assumiram-se como as bases do protesto que paralisou a capital. Em época de crise e no ano de todas as eleições é bom que os portugueses se façam ouvir, e em uníssono soa sempre melhor. M.P.

Fax: 239 82 15 54 e-mail: acabra@gmail.com

acabra.net

Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Hugo Chávez

O presidente venezuelano ordenou que as Forças Armadas usem a força contra os governadores locais que se opõem à lei de transferência do poder de administração dos portos e aeroportos para o governo central. Esta semana proibiu ainda a permanência da exposição “Bodies Revealed”, que revela o interior do corpo humano. Mais exemplos de intolerância perante os adversários políticos e ideias que não sejam do seu agrado. J.R.

Notas sobre arte...

Minuto de Silêncio

O minuto de silêncio em defesa dos direitos dos imigrantes teve uma participação bastante fraca, contandose pelos dedos os presentes. A DG/AAC falhou na sua missão de sensibilizar a sociedade civil para os problemas que afectam as comunidades imigrantes. Questiona-se se era mesmo necessária esta alternativa aprovada na Assembleia Magna ou se a participação na manifestação de Lisboa não seria mais eficaz. J.R. PUBLICIDADE

Neste quadro, Hans Georg Schüssler mostra-nos uma paisagem banal; árvores e casas como fundo, um, dois cavalos encostados à berma da estrada. Para este alemão, estudioso das artes gráficas e decorativas e actualmente a residir em Portugal, uma boa maneira de observar uma imagem pode ser estilhaçá-la e posteriormente recolocá-la noutro local. A ordem dos estilhaços passa aí a depender da vontade do autor, sendo claro que conceitos como correcto, suposto ou ordeiro podem não fazer parte do imaginário do mesmo. Afinal, o que é cada um destes três palavrões? Qanduo aguélm iamgnia, aglo é sputoso? Uma cirãçao dvee ter odrem? Um crrao itenrio é mias pcretpviel que um fgmarantedo, aissm cmoo uma farse dvee etasr gmatclraianetme crroteca praa se cmpedorenedr? Naquele monocromático dia de

sol, nessa rua a subir que é precedida de uma subida ainda maior, nesse amontoado apenas aparentemente ordeiro de pedras, cimento e monóxido de carbono onde se move o sujeito fotográfico, o autor apercebe-se de que, ao avistar o carro, ninguém daria conta que o mesmo seria composto por fragmentos. A nossa vista passaria por ele de relance, o nosso cérebro esteriotipá-lo-ia como mais uma das infinitas coisas normais que compõem a nossa normalidade, a nossa memória, passado uns instantes eliminá-lo-ia, muito provavelmente para sempre. E com isto, tinhamo-nos acabado de cruzar com um carro que, imagine-se, não obedece às leis da Física. As pinturas de Hans George Schüssler estão patentes na Galeria Minerva, em Coimbra, até 3 de Abril. Por Bruno Monterroso

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