Edição 305 Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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16 DE NOVEMBRO DE 2021 ANO XXXI Nº305 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR TOMÁS BARROS EDITORES EXECUTIVOS FRANCISCO ­BARATA E CARINA COSTA

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ELEIÇÕES AAC 2021


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Órgãos Centrais da AAC ASSEMBLEIA MAGNA

É o órgão máximo executivo da AAC e tem o poder de convocar Assembleias Magnas. Faz a gestão da casa a nível financeiro e de ordem de trabalhos e põe em prática as decisões tomadas na AM. Constituída por 15 a 25 elementos, é subdividida internamente por pelouros

CONSELHO FISCAL

Constituída por um presidente, um vice-presidente e dois secretários, é quem divulga, organiza e dirige a Assembleia Magna. Detém a responsabilidade pelas eleições dos órgãos centrais da casa, de modo que o seu presidente também preside a Comissão Eleitoral dos mesmos

COMISSÃO DISCIPLINAR

IRIS PALMA

Constituída por todos os estudantes da UC, é o órgão máximo deliberativo da casa. Pode ser convocada a pedido da Direção-Geral ou de cinco por cento dos associados efetivos da AAC e tem a obrigatoriedade de se reunir pelo menos quatro vezes ao ano. É da sua competência exclusiva a aprovação dos relatórios de contas uma semana após o parecer dado pelo Conselho Fiscal

DIREÇÃO-GERAL

Principal órgão fiscalizador da casa, é responsável por dar os pareceres dos relatórios de contas de todos os organismos da AAC e festas académicas. É constituída por onze membros e as suas eleições ocorrem em março. Tem a palavra final no julgamento de irregularidades estatutárias investigadas pela Comissão Disciplinar

MESA DA ASSEMBLEIA MAGNA

É o órgão de investigação da casa, criado nos últimos Estatutos da AAC. É eleita, em março, por sufrágio universal. Detém a tutela e iniciativa da ação disciplinar na sua fase de inquérito. Posteriormente, elabora uma nota de culpa acusatória que é entregue ao Conselho Fiscal


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Presidência para MAM/AAC disputada por três candidatos Descentralização, apoio social e falta de participação dos estudantes são dos assuntos mais debatidos em campanha. Candidatos unem-se no apelo à ida às urnas

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- POR LUÍSA MACEDO MENDONÇA E CRISTIANA REIS -

data à MAM/AAC. A aluna de medicina afirma integrar uma lista assente em “quatro pilares”: descentralizar a AM, “desafiar” os estudantes a marcar presença nas assembleias e desempenhar o mandato na sua totalidade, assim como esclarecer e simplificar os estatutos. A candidata propõe aproveitar a revisão estatutária ordinária, que ocorre de cinco em cinco anos, que vai ter lugar este ano, para alcançar esse objetivo. Acredita ainda que “nenhum dos projetos é semelhante” à lista que representa, que Académica de Valores Daniel Tadeu dá a cara pela lista V na conta com medidas que visam não só “criticar corrida à presidência da MAM/AAC. os mandatos”, mas também apresentar “soluções Quando questionado acerca dos motivos para combater os problemas que têm existido”. da sua candidatura, o mestrando da Faculdade de Letras da Universidade de Coim- Académica Presente Nestas eleições, a lista P, caracterizada pelos vabra (FLUC) considera que “os estudantes lores de compromisso, seriedade e audácia, aposta não estão a ser ouvidos”. As suas propostas baseiam-se na necessi- em Ricardo Lourenço. “Reformular” e “restrutudade de apoio ao estudante e na ação social, como “a questão do prato social que por causa da pandemia foi retirado”, explica. Outro tópico realçado é a falta de condições nas residências estudantis. “Não se compreende como é que a (UC), que se vende como uma universidade do futuro e tem serviços de ação social, tem estudantes sem condições para viver”, aponta. Daniel Tadeu assume também como uma prioridade dar voz aos estudantes em questões relacionadas com a saúde mental ou a dissolução dos mestrados integrados de vários cursos do polo II. O candidato confia no projeto da Lista V para “trazer ventos de mudança à AAC”. Afirma ainda não estar preocupado com os resultados, mas sim em “servir o estudante, em ver o que é preciso para mudar e melhorar as condições, não só da AAC, como também da UC.” s eleições para a Mesa da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (MAM/AAC) vão ter lugar no dia 18 de novembro, a partir das 10 horas. Na corrida à presidência estão Daniel Tadeu da lista V – Académica de Valores, Mariana Pereira da lista T – Tudo pela Académica e Ricardo Lourenço da lista P – Académica Presente.

Tudo pela Académica Mariana Pereira, atual secretária da DG/ AAC, apresenta-se pela Lista T como candi-

LUÍSA MACEDO MENDONÇA

rar” são duas palavras que caracterizam a candidatura do aluno da FLUC. O candidato apresenta como principais objetivos combater o afastamento dos estudantes da AAC e reforçar a organização da AM, com propostas como a reposição das guias de voto e a sua maior divulgação. “Criar debate, fundamentar e enriquecer a discussão” junto da comunidade estudantil é algo que o cabeça de lista faz questão de destacar. Ricardo Lourenço promete encarar os problemas “de outra forma” e procura estabelecer a transparência como um dos pilares fundamentais da comunicação com os estudantes para garantir a sua envolvência e criar uma dinâmica diferente na AM.

LUÍSA MACEDO MENDONÇA

Descentralização e o problema da adesão Dois dos problemas mais realçados pelos candidatos são a falta de participação dos estudantes nas AM e a sua descentralização. Quanto ao primeiro tema, todos concordam que é necessário antecipar a divulgação da convocatória e dos documentos essenciais, assim como esclarecer a comunidade estudantil acerca do propósito da

LUÍSA MACEDO MENDONÇA

Assembleia e do que vai ser tratado. Daniel Tadeu receia que “as AM se estejam a transformar num momento protocolar” e que sejam compostas sobretudo por dirigentes associativos. O candidato da lista V realça ainda a falta de representação do estudante comum, que não consegue “expor os seus reais problemas”. Já os restantes candidatos acreditam que o obstáculo reside na falta de transporte. Mariana Pereira propõe a utilização de um dos autocarros da AAC para aqueles que “não têm hipótese de ir às AM”, de forma a aumentar a afluência e dar a conhecer o órgão a “novas caras”. Por sua vez, Ricardo Lourenço pretende reforçar os transportes “não só do polo I e polo II, mas também dos bairros residenciais mais relevantes”. No que toca à questão da descentralização, os candidatos da lista V e P defendem a permanência da AM no polo I. O primeiro justifica que esta não deve acontecer, exceto “quando for para assuntos que sejam de maior referência para o polo II ou para o polo III”. É do entender do candidato que algum dos polos acabaria sempre por ser prejudicado devido às distâncias entre si. Já Ricardo Lourenço salienta que a solução é o reforço do transporte para o polo I. Mariana Pereira diz querer chegar mais perto dos vários estudantes através da distribuição das sessões por todos os polos. A candidata frisa o reforço do transporte como solução à crítica feita pelos seus adversários. Tanto Daniel Tadeu como Ricardo Lourenço argumentam que já houve uma tentativa de descentralização noutros mandatos, mas que não resultou numa maior afluência. Por fim, os candidatos apelam à procura de informação e consequente adesão às urnas por parte dos estudantes. As urnas de voto vão estar distribuídas pelas diversas faculdades e polos.


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Lista P - Académica Presente - POR ANA FILIPA PAZ E MATEUS ROSÁRIO -

Ghyovana Carvalho, estudante do primeiro ano de mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), investe na Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) pela Lista P sob o mote de “Académica Presente”. A candidata deseja um regresso dos estudantes à rua, lutar pelo fim das propinas e exigir uma ação social eficiente

SIMÃO MOURA


16 de novembro de 2021 A tua candidatura conta com algum apoio partidário? Não, a minha candidatura tem vários jovens, com e sem partido. Nós queremos uma ampla unidade. Acabou por surgir um projeto bastante orgânico. Percebemos que tínhamos muitas coisas em comum e criámos esta lista. Quais são as bandeiras do projeto “Académica Presente” ? Eu diria que os nossos pilares são a seriedade, o compromisso e a audácia. Seriedade, porque nós sabemos o peso que vem com a responsabilidade de ser uma DG/AAC, de ser uma Mesa da Assembleia Magna (MAM/AAC). Compromisso, porque nós não fazemos apenas promessas, comprometemo-nos a cumprir aquilo que planeamos. Audácia, porque não queremos ficar apenas por aquilo que já tem sido feito, mas ir mais longe. Queremos cumprir as exigências da comunidade estudantil da AAC. De que formas consideras que a tua candidatura se distingue das restantes? Para já, uma delas bastante clara e até recente, foi a manifestação à frente das cantinas, no dia 3 de novembro, aniversário da AAC. Nós temos este plano no nosso programa, que é exigir o retorno do prato social nas cantinas que o perderam e a abertura das cantinas que foram fechadas. Antes mesmo de serem eleitos, membros do nosso projeto foram à Assembleia Magna (AM) pedir que isto se realizasse e, de facto, realizou-se. Esta é a nossa maior distinção das outras listas. Há muitos anos que temos trabalhado neste sentido e não precisamos de ser eleitos para o cargo oficial para o poder fazer, vamos fazê-lo de qualquer forma. Qual é a tua posição no que diz respeito ao regresso do prato social às cantinas rosa e à promessa do prato social nas cantinas amarelas? Nós queremos mesmo o seu retorno, é um direito dos estudantes. A ação social escolar tem sido negligenciada. Com o passar dos tempos, temos visto que as cantinas têm perdido o prato social e muitas delas têm fechado ou nem sequer aberto, como as amarelas. É muito importante que os estudantes se juntem nesta causa, porque está a afetar de forma direta toda a gente. Com a pandemia, os rendimentos familiares baixaram e o prato social e a ação social escolar são muito importantes para os estudantes e para as suas famílias. De que forma tencionas estar mais presente nos assuntos dos estudantes em comparação com as DG/ AAC anteriores? O órgão deliberativo máximo da Associação Académica é a AM. A DG/AAC tem o papel muito importante de dar informações aos estudantes e captar as suas aspirações e as suas necessidades. Ao longo deste tempo, a AM tem perdido um pouco a sua proximidade com os estudantes, até pela forma como é convocada, muitas vezes sem respeitar os estatutos. A DG/AAC podia estar mais atenta para que estes sejam cumpridos. Nós queremos ser uma alternativa, uma casa que está próxima aos estudantes, seccionistas e associados em geral. Queremos estar no presente e perceber quais são as exigências, não esquecendo a história. Para além da aproximação aos estudantes, quais é que consideras terem sido as outras falhas e vitórias da atual DG/AAC? Para começar com as vitórias, não podemos ignorar que esta DG/AAC foi uma melhoria imensa desde o penúltimo mandato porque saímos à rua e tivemos ações que marcaram o panorama nacional. O 24 de março, Dia do Estudante, o 28 de abril e a luta contra a propina foram ações de reivindicação que mostraram que esta DG/AAC está ativa. É uma DG/AAC que se preocupa com aquilo que os estudantes querem e não tem medo de agir. Dito isto, acho que ainda há muito por fazer. Estas manifestações foram organizadas segundo moldes que foram questionados por mim e

membros do meu projeto e pedimos para os alterar em AM. Por exemplo, o 28 de abril era para ser fechado nos jardins da AAC com apenas alguns estudantes. Após uma proposta nossa, foi aprovado para ser uma manifestação na rua com diversos estudantes. Consegues dizer-nos dois ou três pontos em que a tua abordagem seria diferente? Em primeiro lugar, a divulgação de todas estas manifestações, concentrações e ações de luta são muito insuficientes. Acredito que isto se deve também ao contexto. Muitas vezes não é culpa direta de algum membro da DG/AAC ou da AM, é mesmo por falta de tempo, como aconteceu com as cantinas. Outra coisa que nós faríamos diferente seria a própria forma de chamar os estudantes. Não basta só divulgar, tem de haver uma ação direta. Eu já distribuí muitos panfletos diretamente aos estudantes. É preciso conversar, explicar o porquê de algo estar a acontecer. Vamos continuar a fazê-lo tal como fizemos no 24 de março e no 28 de abril. Por último, os moldes da própria ação: não ter medo de juntar o máximo de estudantes possível, sobretudo num tempo em que a pandemia está controlada, porque a união faz a força. Isto mostra como Coimbra e a AAC são influentes no panorama nacional das reivindicações estudantis. Em entrevista para a tvAAC e para a RUC mencionaste que a AAC tem perdido proximidade com os seus associados. Como pretendes fazer uma aproximação entre as secções culturais, desportivas e os núcleos? Em conversa com as secções culturais, nós percebemos que havia um problema muito grave: a comunicação entre si e até mesmo com os próprios núcleos. Muitas vezes os núcleos fazem atividades a substituir-se às próprias secções por não saberem o que é da sua competência. Percebemos que muito disso se deve à falta de comunicação e de articulação da mensagem por parte da DG/AAC, entre núcleos e secções culturais, como por exemplo em assembleias culturais e assembleias internúcleos. O que é que nós faríamos? Teríamos a atenção de articular as atividades. Temos uma ideia muito concreta que é propor aos núcleos no início do ano letivo a realização de uma audiência aberta, nos seus auditórios ou espaços da faculdade, a apresentar as secções culturais e desportivas. Propomos isto de forma a que os núcleos possam desenvolver a sua atividade, mas também que as secções culturais e desportivas possam ter um acesso mais fácil aos estudantes que acabam de chegar e assim realizarem atividades harmoniosas entre todos. Na criação de espaços que a AAC e UC poderiam utilizar, qual seria os primeiros passos a dar para tentar auxiliar os estudantes das residências estudantis e também das repúblicas? As realidades são bastante diferentes. Temos alguns membros do projeto que estão nas residências e sofrem isto diretamente na pele. Não existe um apoio constante e verdadeiro dos SASUC. No sentido em que muitas vezes os estes também não têm a possibilidade de dar este apoio. Posso dar o exemplo de muitos estudantes que têm de se juntar para comprar eletrodomésticos, que se estragam nas residências e, portanto, tiram do seu próprio bolso. Numa residência onde moram 34 pessoas no polo 2 há um fogão com duas bocas, por isso como é que essas pessoas cozinham e podem ter uma vida nessas residências? Temos também questões de infiltrações, questões de más condições do edifício e isto tudo são necessidades que os SASUC deveriam responder. Muitas vezes pede-se aos SASUC para o fazer só que a resposta é muito demorada ou não há um orçamento para o fazer. Nas repúblicas, a diferença é que muitas casas são históricas e também têm esses problemas de instalações. Eu diria que o maior problema que têm neste momento é não serem incluídas diretamente naquilo que é a Associação Académica. São quase tratadas

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como se fossem uma coisa à parte. Os repúblicos sentem-se negligenciados e discriminados. Temos muitos na lista que têm exatamente esta ideia: incluí-los mantendo a sua autonomia. De que modo o projeto de obras de reabilitação e conservação do edifício-sede da AAC é visto pela tua candidatura? A teu ver, existem intervenções que ficaram de fora da empreitada? Em conversa com as secções e com os organismos autónomos da casa, nós concluímos que este plano foi muito insuficiente e teve falhas graves. Percebemos que a DG, neste plano, estava a dispor de salas que pertencem aos organismos autónomos, o que não é da sua competência. Apesar de ter havido uma reorganização e, de certa forma, estar a funcionar para todos, é muito insuficiente. A solução para a falta de espaços seria, como já foi dito em AM, propor novos espaços na UC, como espaços abandonados ou que não estejam a ser utilizados que possam ser reabilitados para uso. É natural que a casa se expanda para que toda a gente tenha um espaço digno para trabalhar. Essa seria a nossa maior proposta. Na tua candidatura afirmas que “os estudantes poderão sempre contar com o Académica Presente para com eles lutar por mais e melhores direitos”. Quais consideras prioritários? A primeira questão a compreender é reconhecer que a educação não é um privilégio, é um direito. De um modo geral, a educação é vista como um negócio. Assim, surgem dificuldades em termos de propinas, residências e representação estudantil em órgãos da faculdade e da universidade. A nossa prioridade é transformar a educação num efetivo direito, isto é, acabar com a propina, fazer tomadas de posição audazes, repor o anterior Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior e dar respostas às necessidades dos estudantes. O regime, no que toca ao provedor do estudante, é bastante negativo para os estudantes por ter uma representação estudantil próxima de zero e a própria figura ser desprovida de atos vinculativos. Queremos também que seja o Estado a suportar os gastos das famílias e impedir a elitização do ensino. Qual o posicionamento do teu projeto em relação à propina dos estudantes internacionais? Em entrevista para a tvAAC, mencionei que sou brasileira e sem nacionalidade portuguesa. Dado estar em Portugal há quase 20 anos, sempre paguei propinas de estudante nacional. Durante este ano, devido ao meu ingresso no mestrado, senti pela primeira vez aquilo que é pagar propina internacional e isto marcou-me imenso. Existe uma discriminação em torno da nacionalidade. Para mim, e para todo o projeto, as propinas dos estudantes nacionais e internacionais devem acabar nos mesmos moldes, numa progressiva redução. O necessário, ideal e urgente é que acabe para todos ciclos de estudo. O aumento do valor das propinas é uma consequência do processo de Bolonha, que é completamente nefasto e tem efeitos prejudiciais para os estudantes. O ideal seria o processo não ser utilizado em Portugal. Algum apelo que gostarias de fazer aos estudantes? Eu acho que é importante nos lembrarmos que podem parecer só mais umas eleições, mas não são. As eleições são importantes todos os anos para definir aquilo que vai ser o nosso futuro enquanto associados da casa. Gostava de apelar, na esteira daquilo que tem sido o nosso mote: “se não queres igual, vota diferente”. Assim, em relação às candidaturas de continuação, entendemos que a nossa lista é uma alternativa que tem dado provas ao longo dos anos. Não somos apenas um projeto passageiro de candidatura, mas sim um projeto contínuo que se preocupa com os estudantes e que vai lutar pelos seus interesses. Apelo a que dia 15 e 18 de novembro votassem e, se assim entenderem e se informarem nesse sentido, votem P.


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Lista T - Tudo pela Académica - POR DÉBORA CRUZ E JORGE MIRANDA -

Pedro Marques Dias, atual vice-presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), candidata-se ao cargo de presidente pela Lista T - “Tudo pela Académica”. O mestrando em Ciências Jurídico-Políticas, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), assume a sua candidatura como um projeto de continuidade do atual mandato. Pedro Marques Dias propõe a criação de um novo pelouro, o Gabinete de Inclusão, e reivindica uma cultura e desporto fortes

DÉBORA CRUZ SIMÃO MOURA


16 de novembro de 2021 Contas com algum apoio partidário? Não, de todo. De onde provém o financiamento da tua campanha? De fundos próprios, da minha pessoa, dos meus pais, da minha equipa e vamos também fazer algumas iniciativas de angariação de fundos, essencialmente de cariz recreativo, como convívios de lista, que vão tentar custear a campanha no seu todo. O que diferencia a tua lista “Tudo pela Académica” das restantes, e quais os seus principais valores e metas? Assumimo-nos como uma lista de continuidade da atual DG/AAC e, portanto, os nossos princípios e valores vêm ao encontro daquilo que foi feito durante este ano. São os valores de uma lista e de uma Académica de estudantes para todos, sobretudo para os agentes desportivos e culturais que fazem parte da casa, apesar de estarem à margem da Universidade de Coimbra (UC). É também uma lista para todos os cidadãos de Coimbra, com quem temos o gosto de interagir no dia-a-dia. As principais linhas orientadoras da candidatura não vão poder deixar de ser uma cultura e desporto fortes, uma intervenção cívica na área da ação social e na política educativa. Trazemos ainda uma inovação no seio da DG/AAC, com a criação de um novo pelouro, o Gabinete de Inclusão, que pretende trazer atividade permanente a todo o tipo de minorias que se sintam sub-representadas pela DG/AAC. Todos os estudantes são, pelo simples facto de o serem, associados efetivos da casa. A realidade é que se já nos sentimos afastados de uma quantidade de estudantes que é demasiado grande para a estrutura que a AAC tem, então o que dizer, de um universo de 25 mil alunos, de todo o tipo de minorias, seja pela orientação sexual ou pela cor da pele, a respeito da sua representação no seio da comunidade estudantil. Que tipo de funções e atividades prevês incluir no seio desse novo pelouro? O objetivo é, no primeiro mês, auscultar o tipo de associações que já trabalham esse género de atividades, sejam associações de estudantes internacionais ou grupos de estudo como os que existem na Faculdade de Economia da UC, que abordam temas como o feminismo. Todos os tipos de associações ou grupos de interesse que estejam a trabalhar as àreas que nos interessa abordar. Depois, em conjunto, há que definir um plano de ação que pudesse durar o restante mandato, com o propósito de não estarmos apenas a assinalar os dias mundiais de algo e a fazer parecer que nos lembramos desses grupos minoritários de vez em quando, mas que estamos ao lado deles. Qual é a tua posição face à propina do estudante nacional e internacional? Nós falámos na reivindicação da propina zero enquanto uma bandeira clara da nossa lista. Propomos um teto máximo legal para o valor da propina de mestrado, algo que não existe neste momento. A diferença entre a propina nacional e internacional é completamente injustificada. O Estado português tem uma responsabilidade acrescida, sobretudo nos países da lusofonia, que são em grande parte o número de estudantes internacionais que acolhemos na UC. Por isso, acho que o momento de início de mandato da próxima DG/AAC vai ser um momento político muito oportuno para voltar a tocar nesse tema. Que tipo de atividades e propostas de trabalho tens para as secções culturais da AAC? O nosso objetivo para a cultura seria levar a

cabo aquilo a que chamaríamos um programa de captação cultural. O intuito é perceber qual é a sua visão das coisas, que tipo de necessidades sentem e como é que poderíamos angariar associados seccionistas, porque são essas pessoas que dão a cara e corpo às balas pela AAC. Uma bandeira forte para a cultura é a procura da representação estudantil no órgão de gestão do Teatro Académico de Gil Vicente. Acho perfeitamente inconcebível chegarmos ao ponto dos próprios grupos académicos e da Secção de Fado da AAC terem de pagar para atuar num sítio tão nobre e que diz tanto à cidade. E para as secções desportivas? Uma bandeira concreta da nossa lista é apresentar uma proposta de revisão do Regulamento Municipal de Apoio ao Desporto, o meio de financiamento camarário que a Académica tem para as suas secções desportivas. Nós temos recebido de forma anual cerca de 200 mil euros para distribuir por todas as secções, o que não é nem de perto nem de longe o suficiente. Quanto a todo o desporto não federado, acho que vai ser um ano exemplar para investir na Liga Académica e para investir naquilo que pode ser considerado desporto para todos. Defendeste também uma aproximação aos órgãos autónomos da AAC. De que forma planeias concretizar essa pauta? Quando falo de organismos autónomos refiro-me aos que partilham o edifício da AAC connosco. A minha ideia seria pensar em conjunto objetivos que acredito que sejam comuns. Quando olho para estruturas como o Coro Misto da UC ou a Tuna Académica da UC, e depois para as nossas secções culturais sinto que pode, e deve, haver pontos de convergência que não estão a ser encontrados. Já que estamos condenados a partilhar um edifício e é certo que vamos ter de saber coabitar e conviver, então que seja num tom de amizade e que consigamos, em conjunto, ter uma força que separados não teremos. Somos os primeiros a reconhecer o mérito e a força dos organismos autónomos e a sua capacidade de influenciar a comunidade com o que fazem e pela sua qualidade. Relativamente à dívida interna da AAC, como planeias combatê-la? As dívidas internas surgem essencialmente junto do Conselho Desportivo da AAC. As relações têm vindo a ser muito próximas com os seus membros, que estão muito solidários quanto à situação da DG/AAC. Ela tem vindo a ser abatida e, portanto, o propósito vai ser continuar a trabalhar na solidez financeira da casa. A edição deste ano da Queima das Fitas teve lucros superiores ao das edições anteriores. De que forma pretendes aplicá-los no desenvolvimento da AAC? Nós temos uma proposta muito concreta em relação à Ação Social que seria a inauguração de um fundo social a homenagear Lúzio Vaz, que foi administrador dos Serviços de Ação Social da UC e que fez muito pelos estudantes no seu tempo. O objetivo deste fundo social seria a atribuição direta de bolsas a estudantes da UC que não preencham os critérios da bolsa da Direção-Geral do Ensino Superior por pouco. Outra meta é que pudessem pagar pelo menos um ano de propinas, e gostava ainda de instaurar um contingente especial para estudantes internacionais. E prevês alguma forma de obter receitas próprias para além das receitas da UC, das festas académicas e da Câmara Municipal? Está pensado um ponto de venda de material

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da AAC, uma loja oficial da Académica, no piso 0 e que contaria com o apoio dos lojistas da Baixa que gostariam de vender uma linha de ‘merchandising’ da AAC. Uma das metas da atual DG/AAC era melhorar as acessibilidades e as condições do edifício sede e da UC. De que forma prevês continuar esse objetivo? Temos vindo a auscultar os estudantes que carecem desse tipo de serviço. Está pensada uma casa de banho acessível a pessoas portadoras de deficiência para o piso 0 da AAC. Conversas são, e vão continuar a ser, tidas junto da reitoria para melhorar as acessibilidades, sobretudo no polo I, que é o menos acessível de toda a UC. As residências universitárias também têm sido criticadas pelas más condições. Tens algum plano para resolver esses problemas? Gostávamos muito de poder criar um conselho de residências universitárias de Coimbra com o propósito de reunir de forma periódica com os representantes de cada piso para que, com maior regularidade e cuidado, fossem auscultadas o tipo de questões infra-estruturais, ou não, das residências universitárias. Uma conversa que tivemos com o atual presidente da Câmara, o Dr. José Manuel Silva, durante a sua candidatura, foi a necessidade de concretizar o Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior. Uma bandeira concreta da nossa lista é a procura de um edifício que possa ser cedido pela Câmara Municipal. Nós privilegiaríamos a hipótese da Baixa da cidade de Coimbra para aí tentar fixar o estudante e servir a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, que não tem uma residência universitária para os seus estudantes. Se fores eleito, qual a relação que vais procurar estabelecer com os antigos estudantes? Vamos tentar que a nossa relação com os alumni seja sempre a melhor. Queremos aproximá-los da AAC, da sua casa mãe, e tentar sentá-los à mesa para definir prioridades comuns. Teremos sempre o propósito de ajudarmos a fazer perceber que a maior parte dos antigos estudantes da UC não estão em Coimbra a trabalhar. Isso reclama uma mudança de orientação por parte da Câmara Municipal e da forma como as coisas estão a ser desenvolvidas na cidade. No ano passado a taxa de abstenção rondou os 85 por cento. A que se deveu uma percentagem tão elevada? Como é lógico, a culpa vai ser sempre mais nossa do que dos estudantes. É evidente o desinteresse generalizado que a comunidade estudantil tem por este tipo de momentos. O nosso compromisso é sempre para com os estudantes e a nossa missão é chegar até eles, para dar a conhecer as nossas ideias, para que se possam sentir representados. Queremos que, mesmo não indo votar, possam sentir que houve alguma coisa a acontecer na Academia, que houve uma mudança, que houve uma eleição e que houve uma alteração na sua composição. Queres deixar alguma mensagem aos estudantes? Insto a que todos apareçam nos debates, que se informem junto das listas candidatas, que conheçam os projetos e as caras que estão à frente deles e que tomem a decisão mais confortável e ponderada.


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Lista V - Académica de Valores - POR RAQUEL LUCAS E BRUNO OLIVEIRA-

Cesário Silva, candidato à DG/AAC pela lista V, procura que toda a casa esteja em sintonia. Como ex-presidente do núcleo de estudantes de informática, acredita que a relação entre a AAC e núcleos tem que ser reforçada. Assume, ainda, a intenção de união com outras associações estudantis

BRUNO OLIVEIRA


16 de novembro de 2021 A tua candidatura tem apoio partidário? Não. Como é feito o financiamento da Campanha? O financiamento da Campanha é feito de forma pessoal, com o contributo de toda a equipa. Quais são as principais bandeiras do teu projeto? As principais bandeiras do projeto passam pela aproximação da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) aos estudantes, para que se sintam confortáveis em ter uma voz ativa na AAC. Pretendemos criar uma melhor ligação entre todos os organismos, pois parece que não vivemos na mesma casa e, portanto, cabe à DG/AAC criar essa ponte e garantir que toda a estrutura funcione num só. Não chega garantir que os estudantes se sintam representados, há também que assegurar que todos os organismos estão a colaborar para uma melhor AAC. O site da tua lista refere: “‘’Acreditamos que a DG/ AAC deve ser um organismo focado em ouvir os reais problemas dos estudantes, com um foco em servir a comunidade estudantil e as estruturas da AAC e intervir para levar a cabo as políticas necessárias para os defender” – isto não tem acontecido com DG/ AAC anteriores? Não, senão o projeto não tinha propósito. Cada vez mais a DG/AAC tem funcionado de uma forma autoproposta e acaba por ter o voto dos próprios dirigentes associativos. Os estudantes não contribuem nem são ouvidos nas suas intervenções. O que pretendemos é criar essa proximidade para que se sintam à vontade para entrar no edifício da AAC e dar o seu contributo único. Por essa falta de abertura que tem havido da DG/AAC, propomo-nos a ouvir e servir os alunos para garantir que a intervenção seja proativa. Também é necessário que estes se sintam à vontade para fazer essa participação. Na visão da equipa e dos próprios associados tem havido uma falha grande em garantir essa representação e criar espaço para discussão de realidades. Se fores eleito, o combate à propina vai continuar? Claro. Acho que, acima de tudo, é algo que tem trazido frutos. Nos últimos cinco anos houve duas reduções consecutivas da propina e a AAC, como já o faz, vai sempre lutar para que haja uma maior acessibilidade ao ensino superior. Outro foco que a AAC tem de ter, e que ultimamente não tem tido, passa pela redução da propina internacional. Achamos que continua a haver um trabalho de certos órgãos na Universidade de Coimbra (UC) que a AAC não apoia, o que cria uma barreira e uma desvantagem para os estudantes internacionais. A luta contra a propina nacional e internacional acaba por ser algo em que a AAC tem de ser mais proativa, assim como a redução da mesma no segundo e terceiro ciclo. Nesse sentido, que ações pretende a tua DG/ AAC realizar? É preciso haver um debate e uma ponte muito maior com a UC, uma discussão real sobre os verdadeiros custos dos estudantes e quais os reais benefícios dessa redução. Para nós, AAC, os ganhos estão à vista: uma maior acessibilidade por parte dos estudantes internacionais e nacionais. No entanto, creio que a UC não tem essa consciência e, portanto, a AAC tem de abrir cada vez mais o portal de comunicação com a Universidade para garantir que essa redução acontece. Isto passa por uma argumentação e participação ativas com a instituição. Sabemos que pertences ao Conselho Geral da UC (CG/UC). Que impacto pode isto ter no teu mandato? Considero que o meu trabalho enquanto estudante do CG/UC passou muito por compreender de que forma poderíamos lutar pelo direito dos estudantes

dentro do próprio órgão. São órgãos completamente diferentes, que têm funcionamentos e recursos completamente distintos. A AAC acaba por ser uma instituição simbólica e capaz de ter muito mais abrangência do que um estudante do CG/UC. O trabalho que fiz e a visão que ganhei dentro da UC é uma mais-valia. Essa experiência ajudou-me a ter um olhar mais realista do que pode ser a luta para a melhoria de condições, não só a nível da propina, mas também das residências, do prato social nas cantinas, etc. Em entrevista à tvAAC disseste que os núcleos podiam ajudar a levar a AAC para além do edifício. De que forma é que achas que isto não tem acontecido nos últimos anos? Os núcleos de estudantes têm um papel fulcral naquilo que é cada departamento e cada faculdade. O que se tem verificado em muitos deles é a falta de apoio por parte da AAC que a própria não promove. Na prática, os estudantes de cada departamento e de cada faculdade têm uma ligação muito forte com o núcleo, mas a ligação à AAC acaba por ser utópica ou inexistente. O objetivo passa por criar maiores ações formativas e de promoção com núcleos naquilo que é o associativismo e a importância da AAC. Ou seja, levar a DG/AAC a esses sítios para que as pessoas também se sintam representadas. A questão do alojamento tem sido um tópico muito debatido nos últimos anos por várias razões. De que forma pretendes intervir nesse sentido? Quanto às residências, a preocupação da UC passa por saber qual o verdadeiro custo da sua requalificação. É algo pelo qual a AAC tem lutado em várias frentes, mas a comunicação com o reitor não nos é revelada em Assembleia Magna (AM), ou de todo. Não sabemos se, de facto, existem, e quais os planos para a requalificação dos edifícios pois, cada vez mais, vemos residências com os tetos a cair, o que demonstra a urgência deste assunto. Não é necessário construir tudo da noite para o dia, mas sim garantir um rumo de apoio a essas residências. O alojamento local a nível de entidades privadas é um problema nacional. A inflação imobiliária é algo que já se discute há muito tempo e, portanto, creio que a luta não deve ser apenas travada dentro da AAC, mas também com outras universidades e respetivas associações. Pretendemos garantir uma força motriz nesse combate e na procura de legislação para impedir abusos e uma barreira económica cada vez mais elevada, de forma a não se tornar um fator mais decisivo que a propina. Creio que o rumo passa por esse diálogo a nível nacional. Achas que o reconhecimento da AAC no resto do país tem vindo a decrescer? Existe aqui uma variação da ação política da AAC. O atual presidente, João Assunção, fez alguns esforços para combater a inércia dos dois anos anteriores. No entanto, acho que há um trabalho muito maior a fazer, seja porque não foi possível devido à pandemia, seja por outras razões desconhecidas. A AAC não tem o peso histórico que já teve e isso deve-se, muitas das vezes, à estagnação que demonstramos e à falta de aproximação e comunicação com outras associações. Se queremos que a AAC esteja mais presente no panorama nacional e recupere essa importância, há que criar e promover estas sinergias. Só assim demonstramos a nossa preocupação pelo ensino superior no geral e não apenas pelas causas internas. No manifesto da lista V podemos ler que querem criar um ambiente entre todas as estruturas da AAC que incentive a ligação entre núcleos, cultura e demais estruturas. Como pretendes atingir este objetivo? Há vários pontos no que toca à promoção desse ambiente. Um dos pelouros que propomos é um gabinete de apoio aos organismos, pois achamos que tem havi-

ensino superior 9

do um grande distanciamento entre as várias estruturas. Acima de tudo, é preciso garantir que não aconteçam violações estatutárias no que toca ao trabalho de cada uma e que as suas atividades não se sobreponham. Neste aspeto, a DG/AAC tem que criar pontes. Um dos eventos criados nesse âmbito é o Fórum AAC e considero necessário um maior apelo à sua participação, para garantir essa comunicação entre os vários organismos. Se não formos capazes de debater assuntos de forma transversal, a casa não se conhece e não se respeita. A proposta surge no âmbito de manter a conexão entre os núcleos e as secções para que compreendam a importância de cada um. Se conseguirmos cumprir este objetivo, a casa torna-se mais unida. Ou seja, acreditas que a base para esse objetivo já existe nos estatutos? Sim, os próprios estatutos já o preveem. No entanto, na minha experiência enquanto dirigente de núcleo sei que, muitas vezes, não existe esta comunicação. Como membro de um núcleo mais afastado do polo I, também tinha um maior desconhecimento daquilo que é a AAC. A Queima das Fitas (QF) acabou há pouco tempo, que críticas ou elogios tens em relação à festa? Não existe ainda um balanço financeiro apresentado em AM , por isso não posso fazer muitos comentários em relação ao produto final. Acredito que houve várias falhas na preparação logística, sobretudo em relação às pulseiras ‘cashless’, que tinham potencial, reconheço. No entanto, não houve uma preparação para a afluência ao recinto, apesar de nos restantes dias ter acabado por correr melhor. Um grave problema desta QF foi a fraca divulgação dos eventos de tradição, cultura e desporto que, muitas vezes, foram divulgados em cima da hora, chegando ao ponto de haver um evento cancelado por falta de adesão. Devemos assegurar que a QF continua a ser um evento simbólico e não apenas noites no parque. No site da tua candidatura aparece a intenção de criar uma oferta formativa para os núcleos onde é possível ler: “tornar a AAC numa escola de líderes”. Em que sentido? O que queremos dizer em relação à oferta formativa é que, devido aos mandatos serem muito rápidos, já não existe a aproximação dos dirigentes associativos. Nalguns casos não há interesse em representar os estudantes, nem em aproximar a vida estudantil com a vida associativa. É crucial haver uma formação para garantir a qualidade pedagógica e o rigor no que diz respeito às saídas profissionais, que acabam por ser as competências dos núcleos para que se mantenham de pé. Sabemos que certos núcleos têm um fraco conhecimento dos seus encargos. Por isto, a DG/AAC tem que ser capaz de dar essa resposta e manter a representação e defesa pedagógica dos estudantes com a qualidade que tinha no passado. Em relação à formação dos líderes, acredito ser algo inerente a todos os dirigentes associativos. O leque de ‘soft skills’ que ganhamos dentro deste universo da AAC prepara-nos para muito mais do que apenas o nosso curso na universidade. Acaba por ser uma frase cliché, mas que se reflete muito naquilo que conheço de outros colegas que agora praticam essas competências a nível profissional. Acredito que há um valor pessoal para além do valor comunitário de ser dirigente associativo. Queres acrescentar alguma coisa? O projeto que estamos a apresentar é algo que a AAC já precisa há muito. Esta proximidade aos estudantes e todos estes aspetos da comunidade estudantil acabam por ser fundamentais para que a AAC volte a ganhar o valor que já teve, não apenas com os estudantes, mas na própria cidade. Para além dos valores de inclusão e representação estudantil que pretendemos para a casa, existe toda uma estrutura que tem de ser tratada e não pode ser abandonada.


10 ensino superior 16 de novembro de 2021 Desde a luta pela propina zero às novidades relativas aos SASUC e o combate à abstenção, são várias as matérias discutidas durante o período eleitoral para a DG/AAC e MAM/AAC. A Cabra procura esclarecer alguns dos temas abordados pelos candidatos - POR GABRIELA MOORE E DANIEL OLIVEIRA -

ABSTENÇÃO

ESTATUTOS AAC CÁTIA BEATO

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taxa de abstenção nas eleições para os órgãos centrais da AAC tem evoluído de forma significativa nos últimos anos. De 2015 a 2017, a abstenção nas eleições para a DG/ AAC diminuiu de 77 para 61 por cento. Desde 2018 até 2020, o aumento da mesma foi considerável, já que esta rondou os 86 por cento. O afastamento dos estudantes face à associação que os representa, devido à falta de informação e esclarecimento, parece ser a principal causa para esta variação da taxa de abstenção. A esse respeito, o candidato à MAM/AAC pela lista P – Académica Presente, Ricardo Lourenço, afirmou no debate entre os candidatos ao órgão a importância das listas no combate à abstenção.

O estudante explica que as mesmas “têm o papel de esclarecer para que servem estas eleições, que cargo elegem e de que modo influenciam a vida estudantil, assim como apresentar com transparência cada projeto”. Ricardo Lourenço também destacou o papel da comissão eleitoral neste processo, através da divulgação de panfletos nas redes sociais ou em formato físico, e afirmou que a luta contra a abstenção “é um combate de todos”. O candidato à MAM/AAC acrescentou que “o voto e a voz de todos é importante, não só nas eleições, mas também nas Assembleias Magnas, nos eventos de rua e nas atividades”.

CÁTIA BEATO

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documento que rege a AAC vai passar por uma revisão em 2022. A medida, obrigatória a cada cinco anos, é da competência da Assembleia de Revisão dos Estatutos (ARE), composta por 33 membros, entre estudantes da AAC, membros da DG/AAC, do Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), das secções culturais e desportivas e dos núcleos de estudantes. O presidente da MAM/AAC, ou o seu substituto, é quem preside a ARE. Na última revisão ordinária, em 2017, os Estatutos da AAC cresceram de maneira significativa ao aumentarem de 40 para 112 páginas. Desde então, foi realizada uma revisão extraordinária com ajustes pontuais que foram levados à As-

SASUC

PROPINAS

CÁTIA BEATO

O

s Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) são um órgão cujo objetivo é fornecer aos alunos condições que lhes permitam ter um bom percurso académico. Isto implica a distribuição de bolsas e subsídios de estudo, empréstimos, alimentação, alojamento, serviços de saúde, atividades desportivas, livros e material escolar. Em abril deste ano as cantinas e bares geridos pelos SASUC reabriram com uma novidade: já não é aceite numerário, cartões de crédito ou débito para o pagamento das refeições, que agora deve ser feito com o uso do cartão de estudante da UC. Este deve ser carregado através da aplicação SASUC Go!. A implementação deste sistema foi recebida com alguma controvérsia. Por um lado, vários alunos reclamam das restrições relativas às opções de car-

sembleia Magna em 2018. O documento atual entrou em vigor em 2020 e constam no mesmo 242 artigos. A candidata para a MAM/AAC pela lista T – Tudo pela Académica, Mariana Pereira, ressaltou no debate entre candidatos para o órgão deliberativo da AAC, no passado dia 8 de novembro, a necessidade de “desmistificar os estatutos” de modo a torná-los num documento mais simples de compreender. Mariana Pereira também considerou que a sua revisão “é uma oportunidade única para ouvir todos os dirigentes e estruturas da casa”. Além disso, reforça a necessidade de “abrir um período de discussão pública, para que todos os estudantes possam participar”.

CÁTIA BEATO

regamento e à exigência de um valor mínimo (cinco euros na aplicação e dez euros nos quiosques das cantinas) para que este possa ser efetuado. Outros problemas apresentados são as dificuldades de pessoas externas à UC para aceder ao serviço e o facto de a aplicação só estar disponível no navegador. Por outro lado, o contributo para a redução de filas e a simplicidade do sistema foram aspetos positivos apontados pelos estudantes. Um dos destaques positivos dos SASUC é o prato social, o mais barato no país. No entanto, há uma preocupação com a ausência da refeição em quatro cantinas da UC. Esta questão foi levantada na concentração que ocorreu em frente às Cantinas Rosas, no dia 3 de novembro, que contou com a presença de mais de 200 pessoas.

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mplementada no ano letivo de 1991/1992, a propina é, até hoje, motivo de descontentamento por parte da comunidade estudantil. A Associação Académica de Coimbra (AAC) luta contra a propina desde que foi estabelecida, causa defendida pelos atuais candidatos à Direção-Geral da AAC (DG/AAC). O valor da propina sofreu várias alterações ao longo dos anos e, no início, aumentou de forma significativa. No primeiro ano, em 1992, a taxa tinha um valor de seis euros e meio, mas subiu para 220 euros no ano seguinte. A tarifa mais alta foi alcançada em 2014, com os estudantes a pagar 1068 euros para frequentar a universidade. Após muita luta, a primeira vitória veio com o congelamento da mensalidade em 2016.

Desde então, o montante foi reduzido e hoje os estudantes nacionais pagam no máximo 697 euros por ano. Estas conquistas, no entanto, nunca contemplaram os estudantes internacionais, que pagam sete mil euros de anualidade , valor estabelecido pela Universidade de Coimbra (UC), que é dez vezes maior que os estudantes nacionais ou equiparados. Apesar do êxito, a luta estudantil continua com a propina zero como objetivo final. No último dia 24 de outubro, dia daquele que seria o tradicional cortejo da Queima das Fitas, uma manifestação reuniu estudantes na Praça 8 de Maio a gritar pelo fim das propinas. Alguns dos candidatos à DG/AAC e à Mesa da Assembleia Magna da AAC (MAM/AAC) estiveram presentes, uma vez que têm em comum a vontade de continuar a lutar por esta causa.


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cultura 11

Os Caminhos até ao maior Festival de Cinema Português Criado e mantido por estudantes, Festival Caminhos do Cinema Português pretende aproximar comunidade do cinema nacional. Curso de verão da UC deu origem ao nome do evento - POR IRIS PALMA E SARA SOUSA -

IRIS PALMA

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esde 1988, o Festival Caminhos do Cinema Português enche Coimbra de história, de arte e de cultura e chega agora à 27.ª edição. O evento, que começou apenas como uma mostra, surgiu de uma cooperação entre o Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra (CEC/AAC) e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Um dos primeiros colaboradores, Abílio Hernandez, então professor da FLUC, recorda as origens de um festival que viu progredir ao longo dos anos. Segundo o docente, o seu início deveu-se a um curso de verão da Faculdade de Letras, lecionado e coordenado por si “com o intuito de atingir o público estrangeiro sobre o cinema português”. De nome “Caminhos do Cinema Português”, foi o próprio curso que acabou por nomear o Festival. Tiago Santos, organizador do Festival, relata que se envolveu neste projeto “através de um jantar entre amigos”. A partir daí, a sua colaboração manteve-se constante até aos dias de hoje, em diversos cargos. O colaborador explica que, em 1988, “o vídeo que existia era de qualidade baixa e o acesso às cópias era reduzido”, pelo que aponta para esse aspeto como “uma das suas motivações para o nascimento e evolução do Festival”. Acrescenta que, no final dos anos 80, “num período em que se começa a criar um divórcio do público português com o cinema nacional”, o objetivo do Caminhos foi “reparar essa relação”. Ao longo do tempo, o Festival acompanhou a própria evolução dos média. Tiago Santos afirma que “se começa a valorizar aquilo que são os suportes em vídeo, o que vai democratizar o acesso à produção”. Explica ainda que, a partir desse momento, também se começa a observar “um aumento no número de escolas de cinema e cursos de documentários do audiovisual no país, o que fez com que também comecem a existir cada vez mais produções no contexto académico”. Todas essas exibições estudantis acabaram por se trans-

formar, em 2010, numa secção competitiva. Hoje em dia, o Festival apresenta-se com três secções competitivas: Seleção Ensaios, Seleção Caminhos e Outros Olhares. Em termos de organização, a primeira fase pela qual o Caminhos passa até chegar à cerimónia de encerramento é a de inscrições, que dura cerca de um ano. Tiago Santos confessa que “esse período já foi cerca de um mês”, o que mostra o progresso do evento. Este conta também com secções paralelas, com exibições de filmes produzidos em todo o mundo. O organizador partilha que “a principal vantagem de ter as inscrições abertas do ponto de vista global é que os criadores portugueses que estão fora do país podem participar com maior facilidade”. A fase seguinte é a da produção e financiamento. O Festival Caminhos conta com o apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), que

representa “cerca de metade do orçamento”. Tiago Santos acrescenta que também têm “um investimento importante da Universidade de Coimbra, que acaba por ser um parceiro estratégico”, visto que “o evento é uma coorganização entre a associação dos Caminhos do Cinema Português e o CEC/AAC, que se associa à Universidade”. Outro dos principais suportes para o Festival é um programa de apoio por parte do Município de Coimbra. O colaborador revela que “agora o financiamento é trianual, mas antes todos os anos era preciso andar à procura de financiamento tanto do ICA como de outras instituições”. O Festival Caminhos do Cinema Português não só alimenta a cultura nacional como também aumenta as possibilidades dos estudantes seguirem uma carreira profissional nas artes. André Cardoso, um antigo responsável e colaborador do Caminhos, diz que foi graças ao Festival que obteve mais conhecimento na área de cinema, da qual fez carreira. Segundo o mesmo, essa experiência “possibilitou aprendizagens acerca de organização, gestão do tempo e comunicação”, lições que não só o desenvolveram a nível pessoal como a nível profissional, em produção cinematográfica. O próprio Festival dá continuidade a essa tradição através da inclusão de voluntários estudantes na organização. Inês Santos, discente de Estudos Artísticos na FLUC, é voluntária do Caminhos na bilheteira, no acolhimento e na assistência de sala. Refere que “decidiu juntar-se à experiência, uma vez que esta se mostra enriquecedora para o currículo”. Defende ainda a importância do evento, que “dá a conhecer alunos que, porventura, podem vir a ser grandes cineastas”. Criado por estudantes, a história continua até aos dias de hoje graças à sua colaboração contínua, não só com voluntários, mas também como realizadores e produtores.

IRIS PALMA


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JUC de regresso com força total Inscrição nas modalidades coletivas volta a ser possível. Número estimado de participantes pode ser o maior desde criação do evento - POR LARISSA BRITTO E NARCI RODRIGUES -

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pós uma interrupção devido à pandemia e uma terceira edição sem as modalidades coletivas, os Jogos da Universidade de Coimbra (JUC) estão de volta em pleno, com todas as modalidades disponíveis. A quarta edição tem início no mês de novembro com o objetivo de incentivar a prática desportiva, segundo o vice-presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Pedro Marques Dias. As inscrições estão abertas aos membros do corpo estudantil, antigos alunos, corpo docente e não docente e membros de empresas associadas à UC. O vice-reitor para a Qualidade, Desporto e Ser viços de Ação Social da UC (SASUC), António Figueiredo, espera que estes jogos sejam a edição com o maior número de participantes. De forma a promover o desporto para vários públicos-alvo, os participantes estão divididos em cinco ligas. A Liga Académica para estudantes; a Liga Inter-Residências para alunos que vivem nas residências universitárias; a Liga Miner va, destinada a docentes, não docentes, investigadores e doutorados; a Liga Alumni, para antigos alunos da UC e a Liga 2I’s, composta por empresas de inovação e investigação. Com início em 2018, os JUC são uma herança dos Jogos Europeus Universitários disputados em Coimbra, tanto que contam com 10 das 14 modalidades dos jogos que o antecederam: futebol, futsal, basquetebol 3x3, voleibol, andebol, badminton, ténis, ténis de mesa, canoagem e remo. Neste ano, a competição está na sua quarta edição, a primeira após o início da pandemia, com

provas em todos os desportos. A segunda edição teve de ser interrompida devido à COVID-19 e, durante a edição de 2020∕2021, só decorreram modalidades individuais. A Liga Alumni reforça a ligação entre a instituição e os antigos estudantes que, apesar de não estarem de forma direta ligados à universidade, “têm um legado que a UC muito preza”, explica António Figueiredo. A Liga 2I ‘s permite que o mundo empresarial se mantenha em contacto com a universidade e, em edições passadas, contou com a presença de empresas como Santander, Bluepharma, Noesis, Crioestaminal, Critical Software e B ookinloop. Para além disso, a organização também visa captar a atenção da comunidade estudantil. A Liga Académica está dividida em duas fases: a primeira dentro de cada núcleo de estudantes e a segunda entre os núcleos inscritos. Outro grande estímulo para a prática desportiva foi a participação de três atletas das secções desportivas da AAC nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020. A figura desses atletas “incentiva em muito a prática desportiva e abre portas a novos estudantes que tenham interesse em estar por dentro do tipo de desporto que mais gostam de praticar”, afirma Pedro Marques Dias. Ao longo das últimas edições, a diretora-adjunta do Estádio Universitário de Coimbra, Filipa Godinho, refere que há “uma evolução a nível de participantes e o número de pessoas que conseguimos atingir”.Refere ainda que “há a expetativa de superar os três mil participantes”. Nesta edição, a nova plataforma de in-

scrição, desenvolvida pelo Gabinete do Desporto da UC (GDUC), “ser ve para facilitar e profissionalizar as inscrições de equipas”, segundo Pedro Marques Dias. Já para António Figueiredo, “a criação da plataforma vai contribuir para uma maior democratização dos dados e das informações porque o acesso está à distância de um clique de toda a gente”, o que considera ser uma vantagem acentuada para os jogos. A organização dos JUC é feita em conjunto com a AAC, os SASUC e o UCbusiness, em prol da Liga Académica, Liga Inter-Residências e Liga 2I ‘s. O evento também usufrui da colaboração de associações regionais desportivas como de Associação de Futebol de Coimbra, a Associação de Voleibol de Coimbra e a Associação de Basquetebol de Coimbra, sobretudo para fornecer a arbitragem necessária para os jogos. As competições podem ser acompanhadas em três locais distintos, com epicentro no Estádio Universitário de Coimbra, mas com alguns jogos da Liga Académica a decorrer no Pavilhão Jorge Anjinho e no Campo Santo Cruz. Para além disso, as modalidades de remo e canoagem decorrem no rio Mondego, com o dia das competições destas modalidades ainda por apurar. As provas da Liga Académica começam a 15 de novembro, enquanto que as Ligas Minerva, Alumni e 2I ‘s iniciam-se a 22 de novembro. Já a Liga Inter-Residências decorre no segundo semestre deste ano letivo. A divulgação das datas de cada jogo vai ser anunciada nas redes sociais do GDUC e dos Núcleos de Estudantes, com o calendário disponibilizado de forma semanal.

NARCI RODRIGUES


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ciência & tecnologia 13

O maior problema do Mondego não está à vista Bacia do Mondego apresenta vários problemas que precisam de ser resolvidos para garantir a sustentabilidade das águas. Câmara Municipal de Coimbra demonstra-se determinada a dar dignidade ao rio conimbricense - POR SOFIA PEREIRA E SOFIA PUGLIELLI -

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o longo dos anos, tanto o Rio Mondego como toda a sua bacia hidrográfica têm sido alvo de múltiplas mudanças cujas consequências nem sempre são percetíveis aos olhos da população. Maria João Feio, investigadora da Universidade de Coimbra e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), aponta uma série de situações que vão para além da acumulação de lixo no rio e da poluição das águas. A investigadora enumera os problemas que o rio apresenta. Destaca que, ao contrário do que se pensa, a poluição físico-química da água não é a maior das preocupações, pois trata-se de situações pontuais. Explica que “o lixo não quer dizer que a água esteja poluída, isto é, que seja tóxica para as comunidades aquáticas ou até para as pessoas”. Além da poluição provocada pelos resíduos atirados ao rio, as descargas ilegais de algumas indústrias também prejudicam o ecossistema da bacia do Mondego. “De vez em quando acontece, mas, à partida, as águas que vão ter ao rio deviam ser tratadas” declara a especialista, que também refere estes acontecimentos como pontuais e pouco recorrentes. O presidente da Secção de Pesca Desportiva da Associação Académica de Coimbra, Humberto Marquês, comenta que, ao longo dos anos, tem reparado numa “diferença abismal” no que toca ao estado do rio de Coimbra. Sublinha ainda a abundância de peixes mortos que, muitas vezes, são vistos à margem do rio. No entanto, Maria João Feio frisa que “não é um caso particularmente grave”. Explica que a água não é poluída e que, em comparação com outros rios de Portugal, o Mondego está longe de um estado crítico. Contudo, salienta a necessidade de adotar medidas para não deixar agravar a situação. As barragens também demonstram ser um problema. Maria João Feio aponta a existência de muitas represas que acabam por “transformar os ecossistemas que eram de água corrente em ecossistemas lentos de águas paradas”. A investigadora esclarece que isto traz múltiplas consequências. Por um lado, a “acumulação de nutrientes provoca situações de eutrofização da água, em que esta fica menos oxigenada”. Por outro lado, em relação aos açudes mais pequenos, “estes impedem a migração dos peixes e interrompem o seu ciclo de vida, o que mais tarde se reflete de forma social, ao nível da pesca”, acrescenta. De todas as situações mencionadas, a investigadora destacou ainda a alteração da floresta. Expressa que tem observado “uma degradação da vegetação do rio e alterações no ecossistema muito claras desde há vinte anos”. O corte da vegetação ripícola, ou seja, as plantas que estão junto ao rio, demonstra-se como um problema de ampla magnitude, na medida em que “a estrutura das comunidades aquáticas transforma-se em função da mudança da vegetação ripícola e da floresta”. Segundo a especialista, este tipo de vegetação tem sido cortada ou substituída por plantas invasoras. Maria João Feio acrescenta que a tudo isto juntam-se “as extensas plantações de eucalipto que alteram os solos, incapacitando-os de su-

SOFIA PUGLIELLI

portar outras espécies vegetais”. Termina com uma chamada de atenção: “devem ser tomadas medidas relativas a estes problemas”. Sobretudo, em termos ecológicos, “é realmente preciso fazer uma recuperação de forma a não chegar a situações irrecuperáveis”, reitera a especialista. A resposta da Câmara Municipal de Coimbra Confrontado com os problemas do Rio Mondego, Carlos Lopes, vereador da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), alega que “o ambiente não começa nem acaba na higiene urbana, portanto, é preciso ter uma atuação mais alargada”. Este expõe que, com menos de um mês a ocupar o cargo, as prioridades ainda não estão definidas, mas que “é uma grande preocupação dar uma outra dignidade à parte do ambiente e à questão do Mondego”. Na sequência das obras feitas no Rebolim para construir um campo de golfe, o vereador exemplifica algumas medidas que a CMC

pretende tomar relativas ao Mondego. O político assegura que “é preciso encontrar uma solução, mas que obviamente vai passar por requalificar o espaço”. Uma das ideias que está na mesa para esta melhoria é a transformação de uma “área que dê acesso à ligação da praia do Rebolim à Portela, mas com estruturas viradas para a natureza de lazer e turismo natural”, explica. Carlos Lopes comenta como as tentativas de reflorestação prévias foram de pequena dimensão e nem sempre bem-sucedidas: “foi feita numa altura do ano que correu mal e em que 90% do que lá foi colocado acabou por morrer”. No que toca a futuros projetos, o executivo expressou que não se querem precipitar, mas “é preciso ter ali uma componente arbórea muito mais robusta”. Para concluir, o vereador assegura que “vão ser consultados especialistas, pois é preciso ter cuidado com o tipo de intervenção que vai ser feita, visto que é uma zona de água utilizada pela população”.


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Reabertura de bares devolve a vida à cidade Proprietários dos estabelecimentos acreditam que retoma traz grandes benefícios para a economia de Coimbra. Estudantes procuram regressar à normalidade possível

O

s espaços de diversão noturna tiveram autorização do governo para retomar a atividade a 1 de outubro, após cerca de ano e meio condicionados. Segundo as normas definidas, a entrada é feita mediante apresentação de certificado digital, numa altura em que a maioria da população portuguesa já se encontra vacinada. Em Coimbra, este levantamento de restrições já se faz sentir com uma maior movimentação noturna. No Moelas, a noite começa com a verificação dos certificados digitais e os carimbos, que garantem a entrada e saída do estabelecimento. Só depois se pedem bebidas e se ocupa a pista de dança. O gerente, Pedro Pessoa, assegura que estes 18 meses de fecho foram os mais complicados para a “tasca” histórica. Durante este período , havia despesas a suportar e “era impossível converter o espaço de acordo com as normas” estipuladas, também por ser um ambiente fechado e insonorizado. A Câmara Municipal de Coimbra ainda autorizou a colocação de uma esplanada na Avenida Sá da Bandeira, mas Pedro Pessoa considerou a ideia inviável para o bar. Aberta desde 1978, a tasca Pinto também nunca esteve fechada tanto tempo. O responsável, Álvaro Amado, confessa que este período foi vivido com “grande dificuldade”, sem qualquer tipo de receitas ou apoios. Neste momento, considera que a afluência “talvez tenha melhorado”, apesar de estar consciente da retração por parte dos estudantes na época de exames. Por sua vez, Pedro Pessoa adianta que o mês de outubro foi de grande afluência ao bar na Sé Velha, ainda que tema a quebra que se seg-

- POR ALEXANDRA GUIMARÃES -

FREDERICO BISCAIA

ue à Queima das Fitas. “A expectativa é que este ano as épocas baixas não sejam tão fracas como nos outros anos”, acrescenta. Já o proprietário do Bar AAC, Luís Pinheiro, sente que a data da retoma foi tardia. Se a afluência na reabertura foi grande, com um mês de lotação completa e de longas filas à porta, o proprietário refere também que “a ‘desafluência’ pós-Queima está a ser maior”, em relação a anos anteriores. Tanto em Coimbra como no bar, Luís Pinheiro não tem notado “grandes desacatos”. Na zona do Museu Machado de Castro, Álvaro Amado acredita que “a cidade de Coimbra é muito mais perigosa, a nível de assaltos, em períodos em que não há atividade noturna”. À porta da “tasca” Pinto, Mariana Tomás, estudante do terceiro ano de Psicologia, diz sair com regularidade e ter “vontade do regresso”. Para a estudante, a diversão noturna “faz parte da vida académica de Coimbra e caracteriza a experiência de ser estudante”. Quanto à segurança, afirma que, como mulher, evita sempre ir sozinha para casa.

FREDERICO BISCAIA

O dono do 24 Bar, Bruno Ferreira, explica que a falta de apoios e a dificuldade em subsistir obrigaram o estabelecimento a mudar de localização. No entanto, segundo o gerente, “há males que vêm por bem”. O novo espaço, com cerca de uma semana de abertura, tem tido “grande afluência”, com “pessoas não só de Coimbra”. Bruno Ferreira considera que, apesar de gastarem “mais ao menos o mesmo, as pessoas têm saído mais cedo de casa” e “até se têm divertido mais”. Sofia Veloso, aluna do quarto ano de Direito, diz sair “várias vezes”, por ser “ótimo poder voltar à normalidade, estar com outras pessoas” e divertir-se. A estudante considera que “as pessoas estão a aderir imenso” e que isso “é ótimo para a cidade e para o desenvolvimento económico”. “Há que confiar nas normas vigentes”, aconselha e realça a importância da vacinação para que se sinta segura. O Reitor é outro exemplo de resiliência: o espaço, que antes era bar e um dos locais de eleição para os estudantes de Erasmus, mudou de conceito para ‘lounge’. Os ‘shots’ e a pista de dança dão lugar ao ‘brunch’. O gerente, Élio Rebelo, justifica que o fez de forma a poder “abrir um pouco mais cedo” e porque considera que “não havia muita opção deste género” na zona da Praça da República. O objetivo é, agora, atrair público de todas as gerações, por exemplo, com noites de música ao vivo, além do ‘Comedy Club’. O gerente do Reitor salienta a importância de “haver opção de escolha” para quem vem à cidade e relembra que “está tudo interligado”, uma vez que o fecho de uns estabelecimentos afeta o funcionamento de outros. Todos os proprietários dos bares e discotecas entrevistados estão de acordo num ponto: esta retoma não vai dar para recuperar os meses perdidos. Consideram que os apoios dados a este setor, que foi um dos primeiros a fechar e o último a abrir, não foram suficientes e esperam que não seja necessário voltar a fechar - situação que consideram improvável. Realçam ainda a relevância desta reabertura para a comunidade e para Coimbra, sem esquecer o contributo dos estudantes para a vida da cidade. Com Frederico Biscaia


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estatuto editorial 15

Estatuto Editorial

DO JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA A CABRA E DO PORTAL INFORMATIVO ACABRA.PT

D

e acordo c om o Ar t igo 17º, a l íne a 3 , d a L e i de Imprens a, qu a l quer publi c a ç ã o d e ve divu l gar, anu a l mente, o s eu est a­ tuto e ditor i a l.

1

ACABRA e ACABRA.PT são dois órgãos de comunicação social académicos cujo objetivo é constituírem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato e estilo diferente que cada um possui – enquanto Jornal Universitário de Coimbra.

2

ACABRA e ACABRA.PT têm como público-alvo a Academia de Coimbra e é sob este princípio que se devem guiar as decisões editoriais.

3

ACABRA e ACABRA.PT orientam o seu conteúdo por critérios de rigor, criati­

vidade e independência política, económica, ideológica ou de qualquer outra espécie.

4

ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo que se quer universitário no sentido amplo do termo – desprovido de preconceitos, criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente.

5

ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo de qualidade, que foge ao sensacionalismo e reconhece como limite a fronteira da vida privada.

6

ACABRA e ACABRA.PT são na sua essência constituídos por um conteúdo informativo, mas possuem espaço e abertura para conteúdos não informativos, que se pautem por critérios de qualidade e criatividade.

7

ACABRA e ACABRA.PT integram-se na Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra, perante cuja Direção são responsáveis; contudo, as decisões editoriais d’ACABRA e d’ACABRA.PT não estão subordinadas aos interesses ou a qualquer posição da Secção de Jornalismo, nem aquele facto interfere com a relação sempre honesta e transparente que ACABRA e ACABRA.PT se obrigam a ter perante os seus leitores.

8 9

ACABRA é um jornal periódico, que acompanha os tempos de atividade letiva.

ACABRA.PT é um site informativo, de atualização diária, cuja atividade acompanha os períodos de atividade letiva.

Estatuto Editorial disponível em acabra.pt/estatuto-editorial

PRINCÍPIOS E NORMAS DE CONDUTA Isenção, integridade, responsabilidade e factualidade que devem marcar o trabalho no Jornal Universitário de Coimbra implicam por parte dos seus jornalistas o conhecimento e aceitação de regras de conduta. Assim, o jornalista deve:

1. Recusar cargos e funções incompatíveis com a sua atividade de jornalista. Neste grupo incluem-se ligações à Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, à Queima das Fitas, ao poder autárquico e político, bem como atividade em gabinetes de imprensa, na área da pu­ blicidade e das relações públicas. Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra e ao seu Conselho de Redação decidirem sobre casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades não previstas acima e agir em conformidade. 2. Abdicar do uso de informações obtidas sob a identificação de “jornalista do Jornal Universitário de Coimbra” (ou similares) em trabalhos que não sejam realizados no âmbito do Jornal Universitário de Coimbra. Além disso, o jornalista compromete-se ao sigilo das informações obtidas desta forma. Exceções a esta norma poderão ser auto­ rizadas pela Direção do Jornal Universitário de Coimbra e pelo seu Conselho de Redação. 3. Recorrer apenas a meios legais para a obtenção da informação, sendo norma a identificação como jornalista do Jornal Universitário de Coimbra. De forma alguma podem ser usadas, de forma direta, informações obtidas através de conversas informais ou outras situações em que

o jornalista não se identifica como tal e como estando em exercício de atividade.

4. Abdicar de se envolver em atividades ou tomadas de posição públicas que comprometam a imagem de isenção e independência do Jornal Universitário de Coimbra. Contudo, o Jornal Universitário de Coimbra reconhece o direito inalienável do jornalista universitário a assumir-se como cidadão. Assim, nunca um jornalista do Jornal Universitário de Coimbra será impedido de se manifestar em Reunião Geral de Alunos ou Assembleia Magna, desde que não esteja nessa altura no exercício da sua atividade jornalística, em cujo caso deverá prescindir do seu direito de expressão e voto. De igual forma, nunca será impedido de participar ativamente em qualquer ati­ vidade pública. Cabe à direção do Jornal Universitário de Coimbra e ao seu Conselho de Redacção decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade. 5. Ter consciência do valor da informação e das suas eventuais consequências, particularmente no meio académico de Coimbra, no qual o Jornal Universitário é produzido e para o qual produz. Neste contexto parti­ cularmente sensível, o jornalista deve ter especial atenção à proveniência da informação e à eventual parcialidade ou interesses da fonte (não descurando o imprescindível processo de cruzamento de fontes), bem como garantir uma igualdade de representação em caso de informações contraditórias ou interesses antagónicos, evitando que o

Jornal Universitário de Coimbra se torne meio de comunicação de qualquer instituição, grupo ou pessoa. Num meio em que o desenrolar de acontecimentos pode afetar, direta ou indiretamente, o Jornal Universitário de Coimbra, o jornalista tem também de saber manter o distanciamento necessário para a produção de uma informação rigorosa. 6. Garantir a originalidade do seu trabalho. O plágio é proibido. Nestes casos, a Direção do Jornal Universitário de Coimbra e o seu Conselho de Redação deverão agir disciplinarmente e o jornal deverá retratar-se publicamente. 7. Recusar qualquer tipo de gratificação externa pela realização de um trabalho jornalístico. Estão excluídos deste grupo livros, CD, bilhetes para cinema, espetáculos ou ou­ tros eventos, bem como qualquer outro material que venha a ser alvo de tratamento crítico ou jornalístico; constituem também exceção convites de entidades para eventos que tenham um inegável interesse jornalístico (por exemplo, convites da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra para a cobertura do fórum AAC). Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra e ao seu Conselho de Redação resolver qualquer questão ambígua. 8. Qualquer desrespeito em relação aos pontos acima vigentes implicará uma queixa por parte da Direção do Jornal Universitário de Coimbra e do seu Conselho de Redação às entidades competentes, nomeadamente o Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra, ou à formalização de procedimentos legais.


16 soltas 16 de novembro de 2021

CRÓNICAS DO TRODA U

- POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

m de nós.

És e vais ser sempre um de nós. Lamentamos profundamente o desaparecimento de um dos membros mais carismáticos da Orxestra Pitagórica. O Menstra (como era carinhosamente tratado) distinguia-se pelo seu estimado bigode e pela sua, às vezes incompreensível, alegria. De uma energia ímpar, tentava e conseguia conciliar o máximo de atividades possível. Era raro o momento em que este miúdo não se estava a rir. Tanta coisa que ficou por fazer…. as noitadas, as cigarradas, as actuações, as jantaradas nos ossos e no costa, as idas para o armário, as tuas conversas senti-

mentais a meio de uma saída à noite às 4h da manhã, o vidro do teu carro que nunca fechava, os metros de finos, os penalties mais fáceis, o arroz de pato com chouriço em cima, os bailes que nos davas, as vezes que saías dos ensaios a meio porque tinhas um torneio de futebol às 23h30… mas no fim voltavas…. a ida a alvalade que nunca se chegou a concretizar….enfim, é preciso dizer mais?! Não nos sais da cabeça e ainda hoje ouvimos a tua voz a chamar os nossos nomes um a um. Eras uma delícia de miúdo, cativaste-nos, ao pé de ti ninguém precisava de fingir, eras um verdadeiro. Como te disse um velhote último jantar, com o teu bigode serias o nosso Eça de Queiroz, ias começar uma tertúlia literária na Pitagórica e tinhas de ser tu o líder! Eras o nosso Pita Trapstar…. Um gajo com uma aura que ultrapassava as leis da metafísica! Rude golpe este que nos dilacerou puto… Em cada grito, em cada atuação, em cada jantar, tu vais estar como estiveste desde que chegaste, sempre presente. A vida é uma festa Menstra, nós somos os seus convidados e tu… tu apenas tiveste de ir embora mais cedo Um PUMBA a ti!!!! VAI A CIMA… EAMT2B P.S. Fica uma pequena anotação, lida algures, sobre uma forma menos estranha de

SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA AAC

vida, “A minha próxima vida quero vivêla ao contrário. Começar morto e resolver logo o assunto! Acordar num lar e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso por ser demasiado saudável. Começar a trabalhar e receber um relógio de ouro e uma grande festa, logo no primeiro dia. Trabalhar até se ser jovem o suficiente para gozar a reforma. Ir a festas, beber e ser relativamente promíscuo. Depois vem o ensino secundário, depois disso o primário. Tornar-me uma criança e divertir-me. Não ter responsabilidades e tornar-me um bebé até nascer. Passar 9 meses a flutuar num quarto tipo spa com aquecimento central e ser viço de quartos. O quarto vai crescendo todos os dias e voilá! Desaparecer como um orgasmo”

ÉXTÉGUES DA ISABEL - POR ISABEL SIMÕES -

Só temos atum em casa e devemos ter um chouriço”, afirma alguém um pouco descomposto pelas atividades da tarde. #hávidanestesmtuc

Tiveram festa toda a noite, gosto muito dos estudantes, estiveram fechados dois anos. Coitadinhos!”, comenta-se no autocarro. #hávidanestesmtuc

C

oimbra, cidade feminina em que são mulheres a levantarem-se cedo e a fazerem a vida acontecer! #hávidanestesmtuc

cabreando por aí...


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soltas 17

QUERIDO, AINDA NÃO MUDEI A CASA

- EMÍLIA OLIVEIRA - GRUPO ECOLÓGICO -

R

ecentemente ocorreu a COP26, que visou juntar representantes políticos, empresas e outros cidadãos para desenvolver medidas que acelerem o alcan­ce dos objetivos definidos no Acordo de Paris. Neste contexto, queixas frustradas de pouca ação face às promessas apresentadas são comuns. Não mudamos? Porquê? Já nos anos 60 a consciência da Pro­ blemática Ambiental existia. Como estamos, ainda hoje, com dificuldades em atingir os nossos objetivos para 2030, definidos em 2015? Podemos analisar sob vários ângulos a falta de concretização e mudança em prol da sustentabilidade ambiental, porém, focar-me-ei numa explicação da Psicologia. O comportamento humano implica uma análise contextualizada que pode mudar se considerada a nível individual, grupal ou social. Ora, leia-se este texto pela introdução superficial que é e que, não perdendo a sua relevância, não serve, por si só, como solução transversal às questões apresentadas. Também aqui se requer pensar global e agir local: temos informações estatísticas ao nível do comportamento humano que nos podem auxiliar a promover a mudança comportamental desejada a larga escala, mas estes processos devem ser ajustados a uma pessoa ou grupo concretos. A mudança é um processo complexo. Enfrenta várias barreiras individuais e sociais: hábitos, atalhos da tomada de decisão (que, apesar de nos ajudarem a conservar energia e tempo, podem levar-nos a enviesamentos), acesso a recursos que permitam tornar a nossa vida mais sustentável, o enquadramento perce­ tual que depende das nossas circunstâncias... Mesmo o processo de mudança comportamental implica dife­rentes necessidades em diferentes fases. Se

inicialmente a consciencialização é chave, depois, a capacidade de planear a mudança e antecipar barreiras e soluções tornam-se indispensáveis. E porque esta mudança se quer a longo-prazo, a sua manutenção implica novos desafios. Diferentes estratégias podem auxiliar a manutenção, sendo o apoio social uma delas. José Palma, Professor de Psicologia Ambiental e Perceção de Risco e ativista da Quercus, disse no podcast da Ordem dos Psicólogos Portugueses que “as pessoas

não fazem as coisas de má vontade, as pessoas fazem as coisas ou porque não acreditam ou porque têm razões de racionalidade limitada para não fazer nada”. Face à não mudança, própria ou de outros, é fundamental perceber as barreiras a este processo. Só assim é possível trabalhar para a facilitar a nossa mudança e inspirar a dos outros. Assim, se procuras informação, orientação ou um “empurrão social”, o Grupo Ecológico está aqui para te ajudar.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

1, 2, 3 VAIS DESCER OUTRA VEZ

Q

uando era à porta fechada niguém sofria ao vivo. Agora fazem jus ao nome da claque: uma mancha. Nem a pandemia os vai salvar da prescrição. Seis matrículas na mesma liga? Nem que fosse a jogar online. Vários anos a morrer na praia para acabar a sair pela porta do fundo. É compreensível. O grande Casa Pia não se compara ao Atlético de Madrid. Enfim, viremos as costas à Europa. Rumo à Liga 3! Sobre a Académica há dois pontos a referir: gosto de virar a tabela ao contrário e sonhar e, por último, a Académica.

AZUIS! I CHOOSE YOU

S

ão rosas, senhor. Aqui não há pão. Afinal o tacho não dá para todos. Por outro lado, acabaram as filas. Por outro outro lado, quem é daltónico está tramado com F grande. Já temos dois Power Rangers dos ricos, agora é Avengers Assemble e temos quase um Megazord. Chamem a Dora para encontrar o prato social. Os SASUC são geridos pela Team Rocket­­­­e o prato social é um Pokémon lendário. Reza a lenda que se disserem prato social três vezes à frente das Cantinas Amarelas, o cozi­ nheiro vem cá fora berrar “XÔ DROGADO”. Por mais Magnas que aprovem manifestações com tinto à borla. Prato social.


18 artes feitas 16 de novembro de 2021

CINEMA

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco

Assim não dá para ser forreta

Podia ser melhor Razoável

- POR PEDRO EMAUZ -

S

ão poucos os filmes que considero que ficam a ganhar se vistos numa sessão de IMAX.Pelo preço que cobram, nunca lá meto os pés, conformando-me com a ideia de que um bom filme não precisa de mais do que tela, projetor e luzes apagadas. O que DenisVilleneuve me deu com o seu “Dune” (2021) foi um agudo arrependimento de ser forreta.Passo já a explicar. O trabalho para o qual Villeneuve se lançou era o oposto de ligeiro. Pegar na criação deFrank Herbert, que publicou o livro “Dune” em 1965, um dos romances de ficção científica mais lidos de sempre, e adaptá-lo ao ecrã exige coragem. Atributo que talvez só pertença a David Lynch, que em 1984 lançou a sua própria adaptação da obra de Herbert, e a raras exceções. Trata-se de uma história complexa, estabelecida num império intergalático feudal, onde a Casa Imperial Corrino comanda as restantes casas nobres, entre as quais a Casa Harkonnen e a Casa Atreides. O palco principal do filme fica no planeta deserto Arrakis, valorizado no império por ser o único fornecedor de uma especiaria de enorme importância: Melange. Para a recolha da especiaria, as casas tomam controlo, à vez, de Arrakis, o que gera conflitos com a população nativa, os Fremen. Compreendo que ler todos estes nomes esquisitos vos faça hesitar e temer que este “Dune” seja igual ao seu antecessor: uma tentativa atrapalhada, confusa, onde se vê muitas cores e fatos engraçados e no fim não se percebe nada. Não se preocupem. Villeneuve não teve pressa nenhuma. Há, acima de tudo, tempo. Cada ambiente é

definido com cuidado e rigor. As personagens são de uma tal riqueza que cada uma das que foi apresentada merece um filme dedicado à sua história. O elenco consiste num grupo de nomes bem recheado, mas ninguém ofusca ninguém. O herói do filme, ou o herói em construção, é Paul Atreides, mas Timothee Chalamet tem uma performance bastante contida em comparação com os seus colegas de ecrã. Rebecca Ferguson agigantou-se na pele de Lady Jessica Atreides. Há ainda quem se tenha chateado com o pouco tempo de ecrã que Zendaya teve (7 minutos) no papel de Chani, uma jovem Fremen. Eu cá considero a sua presença poupada muito justa e forte. Durante o monólogo inicial de Chani, somos introduzidos também à parceria que elevou a obra de Villeneuve ao estrelato: a cinematografia magnética dirigida por Greig Faser e a banda sonora arrepiante composta por Hans Zimmer, umas das suas melhores. É apenas a entrada (e não menos grandiosa por isso, é aliás uma das poucas cenas épicas do filme) daquilo que se torna um autêntico banquete audiovisual de duas horas e meia. Não é que a narrativa seja engolida por estes dois elementos maiores, mas é antes suportada por eles. O Dune de Villeneuve é uma introdução lenta e polida a uma história que ainda não começou. E é tão refrescante sentir isto de uma ficção científica épica. O filme não me deixou satisfeito. Pelo contrário, deixou-me faminto por mais. Garanto-vos que não perco o “Dune - Parte Dois”. Numa sala IMAX, desta vez. Obrigadinho, Dennis.

A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Dune De Denis Villeneuve com Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson 2021

A Cabra aconselha


16 de novembro de 2021

MÚSICA

Manoel De Sensible Soccers Editora Sensible Soccers Género Eletrónica, Ambient 2021

artes feitas 19

Uma paisagem chamada Manoel - POR PEDRO DINIS SILVA -

O

passado mês de outubro trouxe “Manoel”, o mais recente trabalho de estúdio dos Sensible Soccers. O trio, composto pelos talentos de Hugo Gomes, Manuel Justo e André Simão e sediado na cidade do Porto, tinha já atingido notoriedade com os celebrados “8”, “Villa Soledade” e “Aurora”, este último lançado em 2019. “Manoel” surge dois anos depois e vem solidificar o estatuto da banda como grupo maior da cena eletrónica nacional. Este disco vem envolto num simples mas belíssimo conceito: o de servir como banda sonora para duas curtas-metragens do lendário realizador portuense Manoel de Oliveira. As obras escolhidas foram “Douro, Faina Fluvial”, de 1931, e “O Pintor e a Cidade”, de 1956. A premissa que liga ambas as curtas é a de retratar a cidade do Porto e o rio que a atravessa, acompanhando perspetivas de diferentes protagonistas. Oliveira traça um verdadeiro passeio pelos costumes fluviais da cidade invicta, mas também pelos seus becos e recantos urbanos. Em “Manoel”, por sua vez, os Sensible Soccers misturam com liberdade a realidade de outrora com sonoridades contemporâneas, a saudade com o imaginário. A fantástica “Cantiga da Ponte” abre a porta para este universo. A melancolia de “Barcos” e a frescura de “23:16” acompan-

ham a azáfama que se vive à beira-rio. Entretanto, os habituais sintetizadores e caixas de ritmos vão-se confundindo com guitarras e instrumentos de sopro. A banda evoca-se a si mesma, mas também reconhece influências. Vai crescendo, evoluindo. “Avenida Brasil” e “A Noite Inteira (Karamu)” pintam o rosto mais movimentado da cidade, enquanto “Nesse Jardim Onde Só Vai Quem Tu Quiseres”, a última faixa, encerra o álbum com um sorriso nostálgico e contemplativo, como que a olhar para trás e a reconhecer beleza em todos os passos do caminho. Findada a viagem, a verdade é que este disco não só complementa e homenageia as ternas imagens de Manoel de Oliveira, como também as transpõe, desenhando por ele mesmo os traços da cidade que o inspira. É um trabalho que transcende a sua finalidade, acabando por se tornar ele próprio um protagonista. Vem à memória uma frase da cineasta Agnès Varda: “Se abríssemos as pessoas, encontraríamos paisagens”. Se abríssemos este “Manoel”, encontraríamos o Porto e o Douro, cúmplices, carinhosamente capturados por três rapazes que trocaram a câmara fotográfica pela música.

A Cabra aconselha

O que farias se, ao beber um café, pudesses viajar no tempo? - POR LEONOR GARRIDO -

Antes que o Café Arrefeça” conta histórias passadas num espaço discreto, localizado num pequeno beco em Tóquio, que há mais de cem anos serve um café bastante especial. Este local, muito menos vulgar do possa parecer, é onde muitos clientes vão para poderem viajar no tempo. Para terem a oportunidade há várias regras a ser rigorosamente cumpridas, pois arriscar sem as ter bem presentes pode ter consequências irreversíveis. A narrativa, trazida até nós por Toshikazu Kawaguchi, é dividida em quatro partes, cada uma com uma personagem que vai à procura de muito mais do que um simples café. Tentar compreender o namorado que se foi embora, descobrir o conteúdo de uma carta que o marido com Alzheimer carrega, ver a irmã uma última vez e conhecer uma filha que não foi possível conhecer são as razões pelas quais as quatro mulheres que ficamos a conhecer nesta história querem “desafiar” as leis do tempo. Apesar de ter sido publicada em dezembro de 2015, esta obra tornou-se um fenómeno em Portugal ao longo deste ano, com a edição portuguesa publicada pela Editorial Presença em abril, e consegue perceber-se o porquê. A escrita de Toshikazu Kawaguchi torna a leitura em algo bastante fácil e a sua qualidade faz com que ler esta obra seja algo realmente prazeroso. Apesar da simplicidade da escrita, a divisão em quatro situações distintas pode tornar a perceção da história confusa, devido a conhecermos as personagens de uma forma um pouco brusca. Apesar deste

aspeto, é uma história comovente, que faz qualquer pessoa colocar-se na pele das personagens e tentar visionar o que faria naquelas situações. A narrativa apresenta um ritmo bastante parado, não havendo nenhum momento de rotura, talvez só aquele que o autor pretende que quem o ler possa ter. Ler esta obra é um convite, que não precisa de ser enviado, a que as perguntas “o que mudaria se pudesse voltar atrás no tempo”, “o que gostaria de saber sobre o futuro” e, dada a oportunidade, “quem gostaria de voltar a ver uma última vez” fiquem a mergulhar na nossa mente e nos façam repensar a intensidade com a qual vivemos o nosso dia-a-dia.

LIVRO

Antes que o Café Arrefeça De Toshikazu Kawaguchi Editora Editorial Presença 2021

A Cabra aconselha


Mais informação disponível em

EDITORIAL A luta centenária prossegue - POR TOMÁS BARROS -

M

ais umas eleições se avi­ zinham. Três candidatos disputam a posição da presidência da Direção-Geral de uma das Associações Académicas mais importantes do país. A ímpar academia centenária em breve confiará o seu futuro a mais um estudante sob o nevoeiro denso, de nome abstenção, que se tem imposto virilmente nestes últimos anos. Não só no panorama académico têm sido apontados dedos por parte de outros anciãos sobre a progenitura que parece não querer participar de todo politicamente. Discordo. Olho para esta geração “perdida” com outros olhos, talvez por fazer parte dessa mesma, ou apenas por simplesmente não me identificar com as acusações recorrentes entre gerações tão velhas quanto o próprio tempo. A verdade é que acredito que esta geração está mais interessada em causas sociais, em ajudar minorias, questões de género, entre tantos outros temas da ordem pública. O que se verifica, e isso sim é factual, é que a abstenção na academia suplanta há já uns belos anos os 60 por cento (em anos bons). Isto no que toca às eleições para a Direção-Geral, porque os restantes órgãos podem atingir uns dramáticos 95 por cento. Os estudantes, contudo, não deixaram de lutar por um Ensino Superior melhor para todos. Não deixaram de lutar contra a propina e não abrandaram com as críticas ao valor da propina internacional. Envolvidos ou não em listas candidatas, os estudantes não deixaram de usar a sua voz - só falta mesmo usarem do voto. O facto de os jovens não verem no voto uma forma eficaz de impactarem a sociedade é preocupante, não por não votarem, mas por se sentirem desconectados da classe política, e a res­ ponsabilidade não passa só por quem não vota.

Envolvidos ou não em listas candidatas, os estudantes não deixaram de usar a sua voz - só falta mesmo­­usarem do voto

Ficha Técnica

Diretor Tomás Barros

Pinto, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº 478319/20 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Francisco Barata e Carina Costa

Fotografia Cátia Beato, Frederico Biscaia, Débora Cruz, Luísa Macedo Mendonça, Simão Moura, Bruno Oliveira, Íris Palma, Sofia Puglielli, Narci Rodrigues

Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Equipa Editorial Joana Carvalho e Simão Moura (Ensino Superior), Marília Lemos e Inês Rua (Cultura), Francisco Barata e Júlia Floriano (Desporto), Carina Costa e Jéssica Terceiro (Ciência & Tecnologia), Ana Rita Baptista e Catarina Magalhães (Cidade), Júlia Floriano e Inês Rua (Fotografia) Colaborou nesta edição Frederico Biscaia, Larissa Britto, Débora Cruz, Alexandra Guimarães, Raquel Lucas, Luísa Macedo Mendonça, Jorge Miranda, Gabriela Moore, Bruno Oliveira, Daniel Oliveira, Iris Palma, Filipa Paz, Sara Sousa, Sofia Pereira, Sofia Puglielli, Narci Rodrigues, Mateus Rosário

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Conselho de Redação Luís Almeida, Cátia Beato, Inês Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Maria Monteiro, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel, Daniela

Ilustração Iris Palma Paginação Luís Almeida, Joana Carvalho

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Tiragem 4000


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