Edição 300 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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13 DE NOVEMBRO DE 2020 ANO XXX Nยบ300 GRATUITO PERIร DICO DIRETORA LEONOR GARRIDO EDITORES EXECUTIVOS MARIA MONTEIRO E DANIELA PINTO

MARTA EMAUZ SILVA


2 Entrevista 13 de novembro de 2020

“O primeiro número foi feito com a mesada de três pessoas” Em janeiro de 1991, descontente com a falta de reconhecimento da Academia perante os feitos da equipa de futebol, um estudante de Direito decide fundar A Cabra. José Albuquerque assume a missão de oferecer aos estudantes jornalismo independente com informação de qualidade. No dia em que o projeto alcança as 300 edições, o primeiro diretor do jornal relembra os seus tempos de caprino

ARQUIVO

- POR FRANCISCO MARTINS E MARIA SALVADOR -

Como foi o processo de criar o jornal nos moldes em que A Cabra apareceu? Já existia a Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC). De início, entrei para A Gazeta Académica, porque fazia parte da Secção de Futebol da AAC e achava muito estranho a Académica ter uma equipa só de estudantes e os estudantes não saberem. Bati à porta da SJ/AAC, o que não foi fácil, pois estava sempre fechada. A Gazeta Académica era um projeto que lançava um ou dois jornais por ano. Juntavam-se quase todos os duodécimos de um ano e, quando havia dinheiro, fazia-se um número. A SJ/AAC era usada como sala de convívio das senhoras da limpeza. Essa foi a maior resistência que tivemos. Tomámos de assalto a secção e criámos A Cabra. O objetivo era ser um jornal que saísse todos os meses e que falasse da AAC, o que não foi nada fácil. Não conseguíamos chegar a uma tipografia e dizer “deixem-nos fazer a impressão que quando nós vendermos o jornal pagamos”. O primeiro número foi feito com a mesada de três pessoas.

de fazermos isso era sermos independentes. Por isso, era ponto de honra o jornal ter publicidade e ser vendido. Quando fizemos o primeiro número nem sequer tínhamos um computador. Havia uma malta que batia texto, nós pagávamos e depois o jornal era montado em corte e costura. O primeiro número saiu sem título, porque no meio daquela confusão não o encontrámos. Passámos a ter o apoio da reitoria, da Câmara Municipal e do Governo Civil. O jornal estar sempre a sair tornou-nos credíveis. Conseguiram sempre manter a periodicidade do jornal? Sim, e sempre em crescendo. Havia sempre um certo frenesim quando o jornal ia sair. Nesse primeiro ano, tínhamos muita força. Desde a primeira hora, soubemos que não queríamos ficar no jornal. A secção é para quem lá está e para quem vive essa experiência fantástica que é estudar em Coimbra e quer fazer mais do que o curso. O que faziam para atrair mais colaboradores? Éramos os três e, no primeiro número, vieram mais uns amigos da Faculdade de Direito com quem ainda hoje privamos. Havia muita tendência para levar o jornal para outros caminhos. Para mim, tinha que ser o espelho da AAC. Com a porta aberta, as pessoas aproximavam-se, mas os primeiros três, quatro números foram mais difíceis.

Quem eram essas pessoas? Eu, a Teresa “Tery” Gomes e o João Figueira de Saraiva. Eu e a Tery éramos namorados e mais tarde viemos a casar. O João também era de Direito. Aquilo foi congeminado entre os três. Para nós, era essencial que o jornal se pagasse a si próprio. Se queríamos ser um órgão de intervenção, muitas vezes não íamos ser simpáticos para a reitoria nem para a Di- Como surgiu o nome A Cabra? reção-Geral da AAC (DG/AAC). A única maneira Era facilmente reconhecível, mesmo fora de CoARQUIVO

“Vínhamos embe­ bidos no espírito do contra e dizíamos que queríamos ser os fiscalizadores da DG/AAC”


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imbra. Depois, era um símbolo da Universidade. Ainda havia o sentido figurativo. Uma cabra é alguém que berra e quer ser interventivo. Os jornais que estavam na berra na altura eram o Público e O Independente e nós formámos o jornal inspirados neles. Uma vez, fomos fazer uma entrevista e dissemos aos seguranças que éramos d’ A Cabra. Um deles vira-se para o outro e diz: “sabes por que é que o jornal se chama A Cabra? Porque os estudantes andam sempre bêbados”.

Entrevista 3

FOTOGRAFIA CEDIDA POR JOSÉ ALBUQUERQUE

Sentia uma boa adesão ao jornal mesmo sendo pago? Aquilo dava muito trabalho fazer. Tínhamos algumas estratégias engraçadas. Íamos nós vender o jornal para as filas das cantinas, chegávamos lá e ninguém comprava. Um de nós infiltrava-se na fila e dizia “A Cabra? Eu quero!”. Depois, era um efeito multiplicador. A primeira edição esgotou. Como foi dirigir o jornal nessa altura? Não éramos modestos. Queríamos chegar às faculdades todas. Entre a malta que fazia o jornal, era difícil cumprir prazos e ainda entregavam folhas manuscritas. Não tivemos professores, éramos todos autodidatas. Entre a licenciatura e o jornal havia tempo para mais alguma coisa? Só me meti nisto, porque antes tive uma conversa com os meus pais. “Quero fazer um jornal em Coimbra. Provavelmente, não vou passar de ano”. Eles lá disseram “podes fazer o jornal”. Como não tinha pressão para passar nos exames, comecei a ter as melhores notas que alguma vez tive e aquilo foi complicado, porque cheguei a setembro a poder acabar o curso. Às vezes, perguntava por que é que pagava um quarto, eram mais as noites em que eu dormia na secção. Nunca pensou em seguir o jornalismo como carreira? Se eu tinha que trabalhar por amor à camisola, já o tinha feito em Coimbra. A advocacia foi a minha opção. Do jornalismo fica só a saudade e o bichinho. Como era o dia a dia no jornal? A partir do momento em que o jornal começou a sair não houve um dia em que a porta estivesse fechada. A sala passou a ser pequena, era lá que reuníamos e distribuíamos as tarefas. Mais tarde, começámos a fazer lá algumas entrevistas. Conseguimos que um colega da Madeira, um relações públicas nato, viesse trabalhar connosco. Metade da receita gastava em telefonemas, mas a verdade é que conseguimos publicidade da TAP e da TSF. Era raro o dia em que não houvesse muito movimento na secção.

Aliás, tínhamos várias falhas que fomos corrigindo. Era fácil chegar à malta de Direito e Letras, mas chegar mais longe era difícil e nós conseguimos. A partir do segundo número, tínhamos redatores de vários cursos que escreviam notícias de todas as faculdades. Só na segunda fase do jornal é que começámos a fazer cursos de jornalismo.

Em que é que A Cabra se distanciava dos outros órgãos da academia e da cidade? A RUC já existia e fizemos muitas parcerias com eles. Para a cidade, criámos uma rúbrica, a “UniverCidade”, porque sentimos que valia a pena ter alguns Nas noites de maior azáfama, quando o jornal es- assuntos que fugissem da AAC. Conseguimos que A tava prestes a sair, qual era o ambiente na secção? Cabra não fosse um jornal de Letras ou Direito, mas Havia alturas em que tínhamos de proibir a cer- sim um jornal da Academia. Sentíamos que éramos veja porque tínhamos mais garrafas na secção do reconhecidos, se não pelos 18 mil estudantes, pelo que o bar. O João Figueira de Saraiva só conseguia menos por quem frequentava a AAC. trabalhar sobre pressão. Mas a pressão dele dava-me cabo dos neurónios. Ele dizia “eu tenho de ir para Qual é a sua opinião em relação aos moldes em a discoteca”, então ia para a Via Latina, bebia uns que A Cabra atua atualmente? Vocês estão com uma grande dinâmica. Não copos e às três, quatro horas da manhã escrevia os melhores artigos do jornal. Nos dias de ir para a im- têm de ser o melhor jornal do país ou do mundo. pressora fazíamos diretas, o que dava origem a mui- A Cabra tem de ser uma experiência para formação dos estudantes. Acho bem que possam olhar para o tos erros, porque estávamos cansados. jornal quase como um pré-estágio. O jornal deve ser A Cabra nem sempre foi A Cabra. Como se ten- sempre entendido como uma escola, onde, tentando fazer sempre o melhor, têm liberdade para errar. taram demarcar d’A Gazeta Académica? A Gazeta não fazia nenhum tipo de intervenção. Hoje continuam a fazer isso e cá fora achamos que Um jornal que sai uma vez por ano não tem impac- valeu a pena o trabalho, porque o jornal está cheio to. Para além disso, estava muito ligada ao Partido de força. Comunista. N’A Cabra não éramos nada politizados. Vínhamos embebidos no espírito do contra e dizía- Foi essa capacidade de “meter a mão na massa” mos que queríamos ser os fiscalizadores da DG/AAC. que levou para a sua vida profissional? Sim. Eu vivia na AAC, desde que acordava até que Quando tentavam atrair colaboradores para o jor- me deitava. Nem posso dizer isto, mas costumo diznal, o objetivo era a qualidade de informação ou a er que eu fiz um pacto com a faculdade de Direito, eu não os chateava e eles não me chateavam a mim. formação de jornalistas? Formação não tínhamos, ponto final parágrafo. Quando saí do jornal levei o saber estar. Sem prepa-

ração nenhuma, tinha audiências com o reitor e com o presidente da Câmara. Quando me tornei advogado já levava uma estaleca fantástica. O Direito é mais ou menos igual em todo o lado, estas experiências são o que faz um currículo invejável e o que se leva para a vida. Para além da fundação do jornal, qual é o momento do seu mandato que mais o orgulha? Revolucionámos completamente a SJ/AAC. Para perceberem quando entrámos havia uma máquina de escrever, que não era grande coisa, e uma mesa de luz construída por nós. Quando acaba o meu mandato éramos um jornal que vendia três mil exemplares e que fazia a cobertura da Queima das Fitas como nunca antes. Para além disso, acompanhamos a mudança política de Angola e escrevemos sobre Timor Leste. Conseguimos ainda passar de três elementos para 20 ou 30. Dotámos a SJ/AAC de algum arcaboiço. Quando saímos tínhamos dois ‘Macintoches’, uma impressora laser e máquinas fotográficas. Fizemos um protocolo com a reitoria e normalizámos as relações com a DG/AAC que, entretanto, percebeu que o nosso interesse era informar os estudantes. Nunca esperou que o jornal chegasse à edição 300? Isso nem nos melhores sonhos. Que conselhos tem a dar aos atuais membros da secção e aos que ainda estão por vir? Nenhuns. Só dizer que se divirtam imenso. É uma época da vossa vida que nunca se repete mais. Há uma frase à entrada da AAC, do Mário Soares, que diz assim “todos nós somos responsáveis pela saudade com que nos recordarão no futuro”. Essa frase foi sempre muito marcante. Nunca se esqueçam que a saudade com quem os outros vos vão recordar depende da intensidade com que fazem as coisas. Portanto, façam.


4 Mitos 13 de novembro de 2020

“A CABRA TEM COVID” Ao contrário das aproximadamente 80 000 pessoas que têm Covid em Portugal, a Cabra não o tem. Nestes tempos mais complicados, a nossa redação migrou para uma sala de Zoom. Escrever e colaborar para o jornal é extremamente seguro para todos, apesar da javardice do presencial se esvair um pouco.

“SÓ ACEITAM ESTUDANTES E MALTA DE JORNALISMO DA UC”

JOÃO RUIVO

Até dá para sentir a ironia. É claro que, se só se inscrever malta de Jornalismo da UC o mito é verdadeiro. Mas a cabra não discrimina quem se queira candidatar! Aliás, cada vez é maior o leque de caprinos de outras etnias. Este é um jornal para todos feito por todos os que quiserem participar.

O Diário de um Caprino “CAPRINO É ESCRAVO” - POR CÁTIA BEATO E MARIA MONTEIRO -

T

odos os dias na sala entre a DG e a RUC, do lado direito da máquina do café, acontecem as melhores histórias que irás levar da tua estadia conimbricense. Supostamente a sexão só está aberta das 14h às 18h, mas caprino que é caprino mete aqui os pés à uma da tarde e ainda é capaz de dormir cá se lhe apetecer! Pois porque ninguém manda em nós. Somos livres de cabrear até o sol raiar! Mas agora de máscara e desinfetante. Por causa do vírus mau que apareceu, a cabrada ficou triste porque não pode estar junta. Ainda somos alguns e os pastores só nos deixam entrar em grupos de cinco! Perdemos tudo e não entendemos porquê pois a cabra não tem “cóvide”! Mas basta uma pequena mentira a dizer que vamos visitar os nossos vizinhos e assim conseguimos estar bem juntinhos na sexão. A amizade que nos une é grande. Além de equipa somos família! E a prova disso é que temos todos os anos cabritinhos novos que se querem juntar a nós. Agora não podemos estar com eles e só os vemos através do ecrã do computador, mas esperamos que consigam conhecer um dia a nossa bonita sala. Até lá, escrevem os artigos no quentinho das suas casas. Esperamos ansiosamente pelo dia de voltarmos a ter a nossa redação cheia, de nos sentar em cima das mesas, dos interrogatórios no quarto escuro, de aquecer o nosso jantar no “microondas malcheiroso”, de rezar ao santo padroeiro, de aquecer as mãos no pequeno aquecedor preto e de brincar com o chapéu selecionador. Até lá, não percam a esperança porque A Cabra irá voltar! E nunca mais parar!

Caprino não é escravo. Caprino apenas “não faz mais do que a sua obrigação”. Entre pausas para um fino e encher as paredes com novos memes, é claro que todos os dias é preciso escrever um artigo… em 10 horas. Temos tempo para tudo e mais alguma coisa! Mas no impresso somos um pouco escravos, verdade.

“É SÓ QUEM FAZ O CURSO DA SECÇÃO QUE PODE COLABORAR?” A crença de que apenas os formandos do curso anual de jornalismo podem escrever é um empecilho à contribuição de outras pessoas. Aceitamos colaborações de quem escolheu não o fazer. Basta entrarem em contacto e avisarem em que dia querem vir escrever um online, ou aparecerem nos nossos plenários para o impresso.


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Memes 5

A CABRA STARTER PACK A história da Secção de Jornalismo é es­ crita pelas pessoas, mas pontuada por um conjunto caricato de elementos que fazem parte do nosso dia a dia. É impossível ser ca­ prino e não reconhecer a importância des­ tas espécies raras para o nosso habitat natural

“O PRESIDENTE”

“MENINO DA LÁGRIMA” Está sempre ali em cima a zelar por nós, como um santo padro­ eiro, apesar de já terem vandalizado esta obra prima. Também é um belo suporte de óculos de sol sem uma lente.

Reza a lenda que caça ursos e estuda cócó de pinguins.

“CHAPÉU SELECIONADOR”

Em Hogwarts, o papel do chapéu era atribuir uma casa aos novos estudantes. Este é especialista em distribuir trabalho. Seja sortear nomes para um artigo disputado ou para quem vai ficar com o menos desejado, muitos já passaram por este querido acessório. “MURO DAS INSPIRAÇÕES”

Quando nos falta inspiração, olhar para tantas citações emblemáticas acalenta a criatividade. Quando a inspiração (ou a bebedeira) é muita, pode ser que uma das nossas frases vá la parar.

“FRIGORÍFICO MAL CHEIROSO” Foi a casa de um iogurte durante dois anos. Durante a quarentena, albergou também um tupperware de um prato único, que até hoje não conseguimos identificar o que era. Graças à Fada Cabrinha, já não é assim tão mal cheiroso.


6 Entrevista 13 de novembro de 2020

“Éramos uns miúdos e estávamos uns furos acima do que era a nossa liga, mas era bom”

PLENÁRIO EM 2003

FOTOGRAFIA CEDIDA POR EMANUEL GRAÇA

Numa época em que a academia estava em ebulição, o Jornal A Cabra encontrava-se nos seus tempos áureos. Emanuel Graça foi o diretor que coordenou a equipa que viria a reeditar a revista Via Latina, a lançar o jornal online e a publicar a simbólica edição 100. A mais de dez mil quilómetros do local onde foi feliz, Emanuel relembra os melhores momentos do seu mandato nesta edição especial - POR FRANCISCO BARATA, MARIA LUÍSA CALADO E MARIA SALVADOR-

Como entraste para o jornal? Pouco tempo depois de chegar a Coimbra conheci umas pessoas do terceiro ano de jornalismo que me convidaram a ir e eu comecei a colaborar. Tinha esse interesse de aprender e saber mais. Também comecei pouco depois na Rádio Universidade de Coimbra (RUC), e foi aí que fiquei até sair de Coimbra.

do terminei queria mesmo vir para jornalismo. Foi algo que logo que cheguei procurei estimular. Ainda me lembro, A Cabra fazia cursos de formação com um senhor da velha guarda, o João Mesquita. Ele contava histórias muito cativantes. Havia a possibilidade de aprender. A licenciatura de jornalismo era muito teórica. No meu tempo só começavas a ter jornalismo escrito, televisivo e radiofónico no início Estavas a estudar Jornalismo? do terceiro e quarto anos. Querias começar a experSim. Quando comecei n’A Cabra, não havia muita imentar e aí havia essa oportunidade de obter forgente de Jornalismo, na altura acho que até fui o pri- mação com jornalistas de relevo. meiro diretor da área. Havia uma grande tradição de o jornal estar ligado a pessoas de Direito. Qual foi o teu percurso no jornal? Comecei como redator, depois no segundo ano Como era conciliar a licenciatura com o Jornal? fui chefe de redação. No terceiro e no quarto ano Não te vou mentir, na altura não era tão essencial fui diretor. irmos às aulas, as pessoas entreajudavam-se. O curso de jornalismo não era o mais difícil de todos, por- Como era o dia a dia do jornal? tanto não era muito difícil conciliar. Parte dos proAs coisas mudaram muito, mas na altura o jornal fessores entendia o que nos levava a participar n’A saía quinzenalmente. Chegámos a ter mais pessoas Cabra. A maioria das pessoas do jornal se foi a três nos plenários do que artigos para fazer. As pessoas ou quatro aulas de Sociologia Geral, às 8 da manhã, começavam a trabalhar e o jornal saía à terça-feira. foi muito. Fazíamos aquele fim de semana maluco a fechar, acabávamos sempre muito tarde ou muito cedo, deComo é que nasceu o jornalista em ti? pende do ponto de vista. O senhor Paiva da gráfica Eu fiz o secundário na área de ciência, mas quan- vinha buscar o CD com o modelo final. Se as cois-

as corressem bem, metíamos o CD numa bomba de gasolina no largo de Santa Clara, mas raramente acontecia porque atrasávamo-nos sempre. Às vezes o senhor Paiva tinha de ficar à espera que fechássemos às seis ou sete da manhã. As pessoas tinham à volta de semana e meia para escrever os artigos com acompanhamento dos editores. Quinta-feira da segunda semana era o ‘deadline’, e depois nesse fim de semana fazíamos o fecho, maquetávamos o jornal e ia para a gráfica. Havia sempre imprevistos, mas isso é o normal. Tendo em conta que era quinzenal, era difícil produzir um jornal tão regularmente? Era raro o dia em que não ia à secção. Consumia muito tempo. Na altura era o diretor, mas nós tínhamos uma equipa alargada, de pessoas muito empenhadas. Tinha a sorte de ter uma equipa com muita qualidade dedicada ao projeto, o que facilitava porque havia muita entreajuda. Tivemos alturas em que não havia designer então eu e mais uns quantos aprendemos a maquetar o jornal. O jornal começou a ser quinzenal quando eu ainda era chefe de redação. O Sérgio Alves fez um grande esforço para se conseguir chegar a esse objetivo. Nós fazíamos as primeiras sondagens das eleições para a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), e um dia tivemos a feliz, ou infeliz, ideia de numa capa colocar em cima do apontado vencedor um carimbo de aprovado. Isso gerou logo confusão numa Magna, disseram que A Cabra estava a fazer campanha. Havia muita discussão, mas era bom esse ambiente. O que significa para ti ter feito todas as edições? Foi excelente, não pelo papel em si, mas pelo espírito de camaradagem, pelas experiências, pelas alturas menos boas e também pelas melhores. A Secção de


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Jornalismo da AAC (SJ/AAC) era uma ferramenta e as pessoas que aí estavam decidiam dar-lhe o melhor uso. Aprendemos muito com os erros. Vivemos coisas espetaculares. Havia essa ambição de não nos deixarmos limitar e querermos tentar ultrapassar as barreiras. É nesse sentido que a SJ/AAC é útil, como uma embalagem onde depois cabe às pessoas que aí estão encontrarem o conteúdo. A secção foi o palco que nos deu possibilidade de fazermos os projetos que queríamos.

O jornal preocupava-se mais com a formação de redatores ou com ter informação de caráter mais profissional? A formação sempre existiu. Fizemos uma parceria com o CENJOR, uma instituição de formação de jornalistas. A partir daí as coisas começaram a desenvolver-se de uma forma mais estruturada. Quem fazia o curso tinha direito a diplomas reconhecidos por todos os meios de comunicação em Portugal. Havia sempre uma preocupação em formação na secção, pelo menos desde que tenho conhecimento. Também era do interesse do jornal que as pessoas tivessem essa formação e essa oportunidade atraía colaboradores. Na altura havia formação de fotografia, mas no fundo era quem tinha conhecimentos a dar formação aos outros, a mesma coisa com o design. Isso mudou com esta parceria.

Foi nesta altura que relançaram a revista Via Latina. Como foi? Na altura a Via Latina era um título ‘premium’. Havia já antes de eu chegar à secção o sonho de relançar a revista, mas como era um projeto ‘premium’ era preciso lançar e imprimir com uma qualidade de papel e arranjar colaboradores de gabarito. No meu último ano, houve a vontade de se fazer o Quais foram os momentos mais marcantes que viprimeiro número. Houve mais alguns, depois penso veste n’A Cabra? que parou outra vez. Houve muitos. Nós vivíamos muito intensamente o projeto do jornal. Lembro-me que quando estávaEm relação ao portal online, como surgiu a ideia e mos a lutar por uma sala com mais espaço fizemos quão importante foi para o jornal? uma invasão à DG/AAC e barricámo-nos dentro Tínhamos a vantagem de o JP e o Rui Justiniano da sala com o presidente. Também me recordo de terem um grande interesse nas áreas das tecnologias. quando fizemos o primeiro concerto para angariar Havia na altura uma rivalidade com a RUC, que era dinheiro para a secção e acabámos por perder dindiário e tinha os seus noticiários. Nós não tínham- heiro à fartazana (risos). Também tínhamos a músios a capacidade de informar a Academia de forma ca de fecho. Punha-se a música com o videoclip nos não quinzenal, e os jornais online começam por essa fechos do jornal e toda a gente começava a dançar. altura a ganhar forma, com edições atualizadas, so- Havia muitos rituais porque nos juntávamos nos fins bretudo o Público e o Diário Digital. Dividíamos as de semana até às tantas da manhã a fazer o jornal. pessoas para fazer atualizações e quando havia cois- Houve mil e uma peripécias enquanto aí estava. Era as da AAC tentávamos acompanhar, para dar logo boa onda. as notícias. Ganhámos aquela lógica do jornalismo diário. Costumavam arranjar muitos problemas com os artigos que publicavam? Como é que descreves o jornal para quem o conhece? Tínhamos o ditado “os DGs piu piu, puta que os Tentávamos fazer um jornal para os estudantes e pariu”. Havia sempre problemas com eles. Fazia parpara a Academia. Tínhamos uma secção muito forte te do ambiente efervescente que se vivia na AAC. Às de Ensino Superior, mas tentámos fazer um jornal vezes tínhamos de publicar um direito de resposta e também para a cidade. Havia a secção de Cidade, de estas coisas eram levadas muito a peito. Mas no fim Nacional, de Internacional, de Ciência & Tecnologia e toda a gente se dava bem. de Desporto. Tentámos fazer um jornal que fosse mais eclético. Queríamos não só ser para os estudantes, Que conselhos tem para dar aos atuais membros mas tentávamos também ser a fonte de informação do jornal e aos que hão de vir? sobre o que se passava na Academia. Além disso, éraA Cabra faz sentido como uma plataforma para mos um laboratório de ensino e aprendizagem. extravasar projetos e ambições. O meu conselho é

Entrevista 7

que sejam ambiciosos agora porque isso vai marcar o início da vossa vida profissional. O que aprendi dos meus tempos n’A Cabra ainda hoje é útil. E algumas das amizades que se fazem ficam para a vida. O jornal conseguiu-te preparar bem para a vida profissional? Sim, eu saí de Coimbra e fui estagiar e trabalhar no Diário de Notícias (DN). Nessa altura, senti que já tinha algum à vontade a escrever. Sabia o esquema de uma notícia e tinha uma lista de contactos relativamente boa. Quando estás a estagiar num jornal a sério as coisas podem ser muito cruéis e teres traquejo e à vontade ajuda. Depois de saíres d’A Cabra qual foi o teu percurso? Saí d’A Cabra e fui para Lisboa estagiar no DN onde fiquei a trabalhar perto de dois anos. Também fiz alguns trabalhos de freelancer para revistas em Portugal. O presidente da secção da altura em que eu era o diretor veio para Macau trabalhar e disseme “abriu uma vaga num jornal, vem experimentar”. Eu disse que não, mas isso coincidiu com uma viagem de trabalho para a Alemanha. No avião pusme a pensar “tenho 23 anos, tenho de aproveitar agora para ir para uma experiência destas”. Então acabei por ir, primeiro só por dois, mas fui ficando. Vim trabalhar num jornal de língua portuguesa A Tribuna, fui editor chefe de uma revista em português e depois abri uma empresa com dois sócios na área do jornalismo e comunicação. Vim em 2006 e ainda cá estou. Alguma coisa a acrescentar? Eu era o diretor, mas os resultados que atingimos foram de uma equipa grande e excecional. Longe de mim pensarem que estou a colher os louros de um trabalho que era coletivo. Havia um diretor, tinha de haver, mas era um projeto que era vivido com a mesma intensidade por muitas pessoas. O fim de semana de fecho não era só o diretor ou o chefe de redação, as pessoas iam rever os artigos, o projeto agregava muita gente. Éramos uns miúdos e hoje penso que estávamos uns furos acima do que era a nossa liga, mas era bom.

FOTOGRAFIA CEDIDA POR EMANUEL GRAÇA


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30 ANOS, 10 902 dias separam a publicação da mais antiga e da mais recente edição do Jornal A Cabra. Percorrendo três centenas de jornais e quase três décadas de História, a e­ quipa atual do jornal selecionou a primeira página do ano desde 1991 a 2020 para dar a conhecer o que pautou o universo noticioso da academia nesse intervalo de tempo. Estes ­d estaques levaram a primeiras páginas bonitas, obscenas e, por vezes, reivindicativas. Tudo isto sem nunca esquecer o bichinho de questionar e ser do contra, que tanto distingue este jornal

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Mais problemático do que meter lá a cabra foi manter a Cabra (lá) Onze anos depois, João Miranda recorda os tempos em que praticamente vivia na Secção de Jornalismo. De estudante de Sociologia a professor de Jornalismo, de entrevistador a entrevistado, e com memórias já turvas de pegadas no teto, explica que levou consigo muitas vivências e grandes amigos, deixando um controverso mini frigorífico às gerações futuras - POR LEONOR GARRIDO JOÃO MIRANDA, SEGUNDO A CONTAR DA DIREITA

FOTOGRAFIA CEDIDA POR ÂNGELA MONTEIRO

O que o levou a ir para A Cabra? Eu participava já em algumas dimensões da atividade da Associação Académica de Coimbra (AAC), tanto do ponto de vista da organização como depois em diferentes secções e organismos da AAC. Eu diria que foi um pouco a partir daí que eu acabei por querer participar n’A Cabra. Na verdade, ao contrário da maioria das pessoas que participavam na Cabra, eu não era do curso de Jornalismo. Na altura, frequentava a licenciatura em Sociologia e acho que foi um pouco nesse âmbito que acabei por entrar. E qual é que foi o seu percurso a partir daí, dentro do Jornal? Estava a tentar lembrar-me qual foi o primeiro artigo que escrevi, que penso que terá sido para um online, tenho ideia que terá sido um artigo de Desporto. E acabei por ir participando mais ativamente na vida da Secção de Jornalismo (SJ/AAC) e na vida do jornal. Fui convidado então para entrar para a direção do jornal como editor de Ciência & Tecnologia, e no ano seguinte acabei por assumir as funções de diretor. Paralelamente a ter sido editor de Ciência, fui também membro da direção da revista Via Latina e depois de deixarmos a direção do jornal, eu e outros elementos acabámos por assumir a direção da revista.

era editor de Ciência e sobretudo na fase em que era diretor, e nós acabávamos por viver um pouco ali. Íamos às aulas, os que iam, saíamos das aulas e íamos para a secção, e vivíamos entre nós. Olhando para trás, acho que havia ali uma dimensão um pouco hermética, no sentido em que nos podíamos fechar um pouco. Depois havia os períodos de fecho, ou seja, o jornal saía à terça-feira, o que significava que de quinze em quinze dias nós nos fechávamos literalmente na secção. Começava na quinta ou sexta-feira, no sábado estávamos a desesperar, a corrigir artigos, a paginar e, no domingo, regra geral, ficávamos até à manhã de segunda-feira. Às vezes com muitos problemas, porque tínhamos de entregar o jornal na segunda-feira, para ser impresso e sair na terça, e chegava às 13 horas e ainda estávamos em torno dele. Nós tínhamos por hábito dizer que perdíamos ali anos de vida. Sim, aquilo era bastante intenso. Depois também se criavam ali algumas dinâmicas engraçadas, e acredito que ainda haja para aí alguns registos do que nós chamávamos os ‘ready-mades’ e coisas mais estranhas.

Quantas pessoas participavam, na altura? Acho que havia diferentes níveis de participação. Havia um núcleo que participava mais ativamente, que eram aqueles que saíam das aulas e iam para a secção. Havia também pessoas que participavam muito ativamente, sendo da direção ou não, E como é que era o dia-a-dia na altura? e depois existia um conjunto mais amplo de colabNós vivíamos na secção. O jornal impresso as- oradores que ia fazer um artigo, um dia por semasumiu uma periodicidade quinzenal na fase em que na, variava muito. Isto também de acordo com os

próprios momentos do ano. Se estivéssemos mais próximos da Queima das Fitas era uma realidade, se estivéssemos na altura de exames era uma realidade completamente distinta. No início do ano talvez fosse mais fácil, até porque tínhamos iniciativas para chamar pessoas. Nós procurávamos abrir não só à Universidade, porque me recordo que havia pessoas de fora que participavam, nomeadamente da ESEC. Também pessoas de outros cursos: tivemos pessoas de Economia, de Relações Internacionais… Chegámos a ter, embora de forma mais pontual, a participação de pessoas fora do Ensino Superior, não fechávamos essa participação. A nossa maior dificuldade às vezes até era conseguir trazer pessoal e conseguir abrir este núcleo. E quais eram as maiores preocupações na altura e as perspetivas para o futuro do jornal? Desde logo, havia uma preocupação de manter o jornal, de que saísse a horas, mas era uma preocupação constante. Recordo-me de uma grande preocupação com a qualidade do jornal, na redação, na escrita do jornal, também do ponto de vista gráfico, do ponto de vista da informação que trazíamos e de aprofundar a informação. Também havia uma grande preocupação em promover inovação dentro do jornal, essa foi sendo uma das marcas do jornal. Chegámos a ter conflitos complicados, por exemplo, com os órgãos dirigentes da AAC, até relativamente à própria sustentabilidade do jornal, sobretudo num sentido de garantir sempre a autonomia da atividade do jornal. Essa con-


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vivência foi sempre relativamente saudável, acho que essas quezilas são naturais. Também com outras secções e às vezes, aí mais na brincadeira, com outras secções de comunicação da casa. Havia também uma outra preocupação, que se calhar não era tão evidente, de divulgar o jornal. Isto passava não só, por um lado, por assumir não só como um jornal da Academia ou da Universidade, mas também um jornal da cidade. Isso, por exemplo, estava muito presente no facto de que, na altura, distribuíamos os jornais nos SMTUC. Ter de ir para lá... era terrível essa tarefa porque era mesmo muito cedo. E como é que foi realizar tantas edições, incluindo a edição especial 200 e também, por exemplo, a dos 40 anos da Crise Académica? Em boa verdade, recordo-me da edição 200, sei que tínhamos algumas histórias do jornal. Recordo-me da primeira página, que tinha um desenho da redação. Na da Crise Académica, acho que sobretudo pelo facto de ser uma edição mais monotemática tivemos de adotar rotinas distintas daquelas a que estávamos habituados, ou seja, hábitos de produção distintos. Sobretudo exigiu maior trabalho de investigação, de contactar com as pessoas, mas recordo-me que ficámos na altura bastante orgulhosos no final do trabalho. Mas não foi o único caso. Eu lembro-me que houve outros casos de edições dedicadas ou focadas num tema específico. Penso que houve uma no ano anterior sobre a questão do Darfur, houve uma também já antiga sobre Timor, e penso que também houve uma para comemorar um aniversário relacionado com o Dia do Estudante. Referiu a Via Latina, revista da qual também fez parte da direção. São coisas muito diferentes, o que é que gostou mais em cada? Embora nós tenhamos procurado criar dinâmicas relativamente à revista, são coisas completamente diferentes. Desde logo porque estamos a falar de uma revista anual que, embora também tenha reportagens, vive sobretudo da contribuição de textos diversos. Por essa perspetiva, falamos de coisas distintas. Embora tenhamos procurado criar um site, penso que, entretanto, a ideia acabou por não se concretizar. Mas na altura, nós criámos um site que procurava sobretudo abordar assuntos relacionados com a vida cultural e com Ciência em Coimbra, a partir de narrativas não tão estrutura-

Entrevista 11

E que conselhos é que tem a dar aos atuais membros do jornal, e também aos que hão de vir? A abordagem do jornal sempre se pautou por uma grande criatividade, inovação e a capacidade de trazer algo de novo para a discussão, e até para O que é que significou para si ter sido diretor do a própria produção de jornalismo. Desse ponto de Jornal A Cabra? vista, um conselho essencial que daria aos memEmbora fosse o diretor, de facto havia ali respons- bros do jornal é procurarem não ter receio de arabilidades que eram muito partilhadas, e acho que riscar e de procurar inovar, evidentemente tendo é importante reconhecer isso. Mas eu diria que as- noção da responsabilidade que têm. Algo que acho sumir o cargo de diretor no jornal trouxe-me uma que também é importante é a necessidade de o jordimensão de responsabilidade muito grande, por nal saber manter a sua autonomia e independência. manter a periodicidade do jornal, a qualidade do jornal, e procurar inovar o jornal. Deu também, e E dos anos todos que esteve na secção e no jornal, é um aspeto muito importante, um contacto práti- qual é que é a memória mais marcante que ficou? co com a produção de jornalismo, e esse contacto São muitas mesmo. Para perceber como estas assumindo estas responsabilidades. É interessante questões são, hoje a grande parte dos meus grandes até percebermos que muitas das pessoas que as- amigos ainda são pessoal da secção. Recordo-me sumiram cargos de direção acabaram por depois que nos fins de semana de fecho nos fechávamos assumir papéis relevantes no âmbito do jornalismo. na secção e isto levava a que, sobretudo com horas Sem dúvida que nos deu esse nível de maturidade, de direta, as pessoas começassem a ficar irritadas. se é que podemos entender dessa forma. Olhando Uma das memórias marcantes que eu tenho foi um para trás, relativamente ao trabalho, faria coisas de dia em que nós decidimos, além de tudo, jantar na forma completamente distinta. Mas sim, olhamos secção e percebemos que foi um erro terrível, nunca também com orgulho no trabalho que fizemos e mais voltámos a fazê-lo. Recordo-me também semtivemos na altura. pre da alegria que era enviar o jornal paginado para a gráfica, significava que aquilo já estava fechado e O que é que aprendeu n’A Cabra que levou consi- tínhamos conseguido, embora sempre com não sei go para a vida pessoal e/ou profissional? quantas horas de direta em cima. Recordo-me de Bom, eu entrei n’A Cabra como estudante de uma “luta” que nós tivemos muito grande relativaSociologia e hoje sou professor na Licenciatura de mente à compra de um mini frigorífico e da festa Jornalismo e Comunicação, ou seja, alterou pro- que foi no dia em que o comprámos e que chegou fundamente a minha vida e mesmo a forma como à secção. Também da satisfação que era quando vejo o mundo. Trouxe também alguma maturi- conseguíamos contactar fontes mais complicadas. dade, um nível diferente de responsabilidades, mas Havia muitos momentos... também algumas ferramentas subjacentes a esta necessidade de ter de ser criativo, de ter de olhar E, por último, como é que foi meter uma cabra para as coisas por outras perspetivas. Portanto, sem na secção? dúvida que o trabalho no jornal influenciou deterNão me lembro bem. Aquilo foi para filmar, penminantemente todo o meu futuro. so eu, o ‘lip dub’ da Associação Académica, mas tenho ideia de que cheguei e a cabra já lá estava. RePorque é que decidiu não seguir a profissão de cordo-me que mais problemático do que meter lá a jornalista? A Cabra teve alguma influência nisso? cabra foi manter a cabra lá, aquilo levantou ali alNão, penso que não. São questões que não estão guns problemas e alguma discussão. Mas sim, tivepropriamente relacionadas com A Cabra, diria que mos uma cabra dentro da secção. Havia ali algumas estão relacionadas com outras vivências pessoais, coisas estranhas que não conseguíamos justificar também com as pessoas com quem fui convivendo, muito bem. Há pouco falávamos de memórias, e se calhar mais ligadas à Academia e optei por isso. uma das que tenho é de uma pegada, que não sei Agora, isso não significa que não gostasse de seguir como lá foi parar, que havia no teto da secção. a carreira de jornalista. das como uma notícia do jornal, uma abordagem um pouco mais liberal das coisas, e por essa via sim, tivemos esse trabalho de criar o site, mas ainda assim são dinâmicas completamente distintas.


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Leonor Garrido: É preciso continuar “a fazer­ as perguntas que precisam de ser ­ feitas ­ e a trazer os assuntos que têm de ser falados” Numa edição especial em que tanto se fala do passado e se comemoram os quase 30 anos do Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra, é também importante abordar o presente e o futuro. Foi nessa linha que dois antigos diretores e membros do Conselho de Redação entrevistaram Leonor Garrido, atual diretora d’A Cabra, para perceber quais as perspetivas sobre a atualidade, as dificuldades do jornalismo universitário durante uma pandemia, mas também as ambições para o futuro - POR INÊS DUARTE E PAULO SÉRGIO SANTOS -

O que é que significa para ti seres diretora do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra e poderes construir a edição 300? Estar no jornal, por si só, já é um orgulho. Depois de ter conhecido toda a sua história e tudo o que já foi feito aqui, poder dirigi-lo e ter a responsabilidade de gerir tudo isto é indescritível. É, como disse, um orgulho e uma responsabilidade, não só por ser a edição 300 - que será também a minha primeira enquanto diretora -, mas por tudo o que envolve: assumir decisões, fazer escolhas, ter a última palavra. Quando as coisas correrem bem, e espero que corram, será uma honra saber que fui eu, em conjunto com os meus colegas, que estive nesse momento e pude ajudar para que acontecesse. Quais consideras serem as principais dificuldades do jornal, neste momento? Há dois tipos de dificuldades. Primeiro, as preocupações normais, como o financiamento ou a dificuldade em atrair pessoas para escrever, principalmente de licenciaturas que não as das áreas de jornalismo e comunicação. Depois, temos uma dificuldade especial, que é estarmos no meio de uma pandemia, que acabará por agravar todas as outras. Ou seja, a pandemia fez com que não tivéssemos verbas este ano e também notamos que as pessoas estão muito menos dispostas a abraçar novos projetos. Estamos numa fase complicada, em que o vir para a faculdade já é um enorme desafio, quanto mais outras atividades, como as que fazemos aqui na Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC). O facto de termos, por razões de segurança, de funcionar num registo de ‘online’, acaba por

também tirar alguma da experiência que seria estar nesta secção, que é uma redação em ponto pequeno. Para além de tudo, as colocações e as aulas começaram mais tarde, e todo o trabalho tem sido feito com as poucas pessoas que estão na direção. Falaste nas dificuldades da captação de recursos humanos devido à pandemia, mas esse já é um problema que é antigo. Na tua opinião, qual é a razão para a sua existência, que acaba por ser transversal às restantes secções da academia? Antigamente havia muitos colaboradores, mas, quando a maioria das licenciaturas passaram a ter uma duração de apenas três anos [ndr: devido ao Processo de Bolonha], a vida de um estudante em Coimbra passou a limitar-se mais ao estudo e menos a uma formação fora da universidade. Penso que as pessoas também preferem outro tipo de convívios e atividades, não percebendo as vantagens de estarem ligadas a uma secção e que isso pode ser uma atividade extracurricular importante. O argumento do Processo de Bolonha é recorrente quando se fala neste tema. Não poderá também haver uma falta de interesse das novas gerações no ativismo, em fazer algo mais e diferente? Penso que as pessoas se cingem muito a fazer o curso, não se relacionando com os assuntos envolventes, com o que se passa à sua volta. Vêm passar a semana, têm as aulas, e depois vão-se embora. Não fazem questão de se interessar pelo ativismo, perceber todas as questões existentes na academia e na universidade.

Como é que o jornal, que sempre viveu de uma presença física na secção, como há pouco referias, e na academia, enquanto jornal em papel, se vai adaptar a este novo contexto pandémico? Tem sido diferente, e um pouco mais complicado. No início, quando a pandemia chegou, não sabíamos bem o que fazer e a atividade acabou por ser mais esporádica. Agora, com o novo ano letivo, não queríamos parar e tiveram de surgir soluções. Passámos a maior parte do funcionamento para ‘online’, até porque há um limite em relação ao número de pessoas que podem estar dentro da secção, e acaba por ser desafiante. O que fazemos aqui na secção é muito à base de explicar, ver e aprender, o que se torna mais complicado à distância, com cada um no seu computador. Por exemplo, quando estamos a supervisionar as entrevistas, não há aquela possibilidade de dar uma dica baixinho, para ajudar. Infelizmente, os impressos também não vão sair como é normal, dado que as aulas estão a retomar um formato de ensino à distância e uma edição em papel não seria lida pelos estudantes, que passam um tempo muito reduzido nas instalações da universidade. Isto acaba por tirar também a essência de toda a experiência - fazer a paginação, as provas, o fecho, isto é, a parte mais engraçada, ainda que trabalhosa, da produção de uma edição impressa. Falámos, há momentos, de dificuldades. Quais são as melhores partes de estar no jornal A Cabra? Os meus primeiros tempos na secção foram de perceção daquilo que é o jornal e foi quando começou a crescer em mim o sentimento de pertença, de estar num lugar importante. Saber o que


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Entrevista 13

NINO CIRENZA

já foi feito e que nós estamos a continuar, que vamos também fazer parte desta história, é uma das melhores partes. E o poder construir aqui uma comunidade, com outras pessoas que partilham este sentimento, contribuir para um projeto tão importante como a faculdade, não tem qualquer comparação. No fim, é também vermos os resultados, o que não correu tão bem, mas que vamos melhorar, e saber que está lá o esforço, a dedicação, e que estamos a dar continuidade à Secção de Jornalismo e ao jornal.

por ser todo muito similar, ainda que as pessoas tenham diferentes personalidades. Quem vem de fora tem outro olhar, traz perspetivas diversas que também são interessantes, e que um aluno de jornalismo pode não ter. Qual é que foi, até agora, o teu artigo favorito de escrever e porquê? Um dos trabalhos que mais prazer me deu fazer foi uma entrevista que fiz ao Janeiro, para um impresso. Foi especial porque me deu a entender que poderia gostar do jornalismo cultural, da experiência de poder ser uma jornalista de cultura. Fui ver o concerto dele para captar o ambiente, fizemos a entrevista antes do concerto e foi toda uma vivência à profissional. E foi o meu primeiro contacto com uma pessoa conhecida, proporcionado pelo jornal. São estas experiências que quem cá está pode ter. Outro dos trabalhos de que gostei imenso foi uma entrevista à Sónia Tavares, dos The Gift. Vemos uma pessoa famosa na televisão, desde pequenos, e pude entrevistá-la. Conhecê-la um pouco, ouvi-la falar da sua vida... Foram dois momentos em que percebi o que eu gostaria de fazer e o que eu ganhei em ter vindo para A Cabra.

Falaste do sentimento de pertença que começaste a sentir pouco depois de entrares na secção. O que te levou a vires para cá? A resposta mais simples é porque sou de Jornalismo e Comunicação. Como fui para a licenciatura porque gostava de escrever, pensei que, vindo para Coimbra, e havendo esta oferta imensa de secções culturais, não haveria outra onde pudesse estar. Assim que vi a publicidade ao Curso de Jornalismo da secção, senti que fazia sentido inscrever-me, uma vez que não queria estar apenas na faculdade e era uma boa oportunidade para conhecer outras pessoas e decidir se queria fazer mesmo do jornalismo a minha vida. O que prevês para o futuro do jornal? Gostava que o jornal continuasse para sempre. A Cabra é, tradicionalmente, um jornal cuja re- Contudo, e tendo em vista uma perspetiva mais dação é composta por pessoas com formação em realista, esta pandemia veio de facto agravar muidiferentes áreas, como o Jornalismo, a Econo- tos dos problemas que já existiam; pode vir a haver mia ou as Ciências. É, para ti, importante que tal o risco de não existirem pessoas suficientes para aconteça? continuar este projeto. Se as pessoas não se interÉ consideravelmente importante. Se as coisas fi- essarem por esta secção, por este jornal... Confesso carem fechadas a uma só área, o pensamento acaba que não gosto muito de pensar nisso porque é algo

que me entristece. Mas quero acreditar que haverá sempre alguém que vá olhar para cá com curiosidade e pensar que gostaria de descobrir mais, ver o que é e participar. Que mensagem queres deixar às próximas gerações d’A Cabra? Para prosseguirem com o projeto que é suposto ser este jornal, um órgão de comunicação social universitário muito bom, que complementa a formação que as pessoas adquirem na faculdade e dá um sentido de responsabilidade, diferente de passar por Coimbra e apenas estudar. Continuem a inovar e a trazer coisas novas, a investigar o que precisa de ser investigado, a fazer as perguntas que precisam de ser feitas e a trazer os assuntos que têm de ser falados.

“Penso que as pessoas também preferem ou­ tro tipo de convívios e ati­vidades, não perce­ bendo as vantagens de estarem ligadas a uma secção e que isso pode ser uma atividade extra­ curricular importante”


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Do impasse ao impresso

LUÍS ALMEIDA

Trezentos e trinta e oito são os dias que separam a edição 266 da edição 267 do Jornal A Cabra. Entre dezembro de 2013 e novembro de 2014, esta publicação emblemática conheceu uma inédita pausa nos seus quase trinta anos de história. Paulo Sérgio Santos, Maria Eduarda Eloy e Rafaela Carvalho, antigos diretores do Jornal Universitário de Coimbra, relembram o passado: o que fez o jornal fechar portas e a união que foi necessária para o reabrir, onze meses depois - POR JULIA FLORIANO E XAVIER SOARES -

O interregno Desinteresse e inexperiência foram, na opinião dos antigos diretores, dois dos motivos que estiveram na origem do fechar de portas do jornal durante o ano de 2014. “Havia plenários que tinham duas/três pessoas para escrever, e estamos a falar de um jornal que na altura saía em formato de 24 páginas, portanto o jornal era praticamente só assegurado pela direção”, reconhece Paulo Sérgio Santos. “Eu, por exemplo, cheguei a estar num plenário onde eu era o único interessado em escrever”, confessa. Para Maria Eduarda Eloy, a então diretora do jornal, a ausência de redatores era expressiva do “grande desinteresse” das pessoas que estavam na universidade naquela altura. “As pessoas que vinham escrever de forma regular nem sempre estavam mesmo interessadas, queriam apenas escrever um artigo para ter a experiência e depois abandonavam o projeto”, lamenta. A falta de bases, motivada pela ausência de um curso de jornalismo, foi um dos fatores apontados por Paulo Sérgio Santos para o crescente desinteresse dos novos redatores. “Na minha altura, não havia obrigação de escrever de forma semanal, como há agora, e isso fazia com que cada vez menos houvesse pessoas motivadas para participar”, revela. O Processo de Bolonha veio a revelar-se outro entrave para a redação do jornal universitário. Com a redução dos cursos de cinco para três anos, a passagem dos estudantes por Coimbra passou a fazer-se de forma mais acelerada e menos convidativa

à entrada na Secção de Jornalismo. Para além disso, também a realidade económica da altura foi um dos fatores que, segundo Paulo Sérgio Santos, justificou que “os alunos chegassem à universidade com o fardo de terem que fazer o curso o mais depressa possível para entrarem no mundo do trabalho”. Algo que prejudicou a secção uma vez que, na opinião do antigo diretor d´A Cabra, a passagem pelo jornal passou a ser encarada como uma “distração” em vez de uma “mais valia”. A ausência de um curso de jornalismo e a implementação do processo de Bolonha culminaram, em finais de 2014, numa grande instabilidade com repercussões na própria direção d´A Cabra. Algo que levou, a então diretora, Maria Eduarda Eloy a tomar medidas. “Juntamo-nos com vários elementos das redações anteriores para tentarmos perceber como é que íamos fazer para tentar salvar o jornal por mais um ano”, admite. A situação foi-se tornando cada vez mais insustentável o que levou a que, no dia 17 de dezembro de 2013, saísse para público a última edição (nº 266) do Jornal A Cabra antes do seu interregno. “Chegámos a um ponto em que não havia pessoas suficientes para continuar o jornal no mesmo formato que tínhamos tido quando nós começámos”, reconhece Maria Eduarda Eloy. Uma nov´A Cabra Onze meses depois, a ligação criada com A Cabra fez com que a vontade de reabrir o jornal levasse

a melhor sobre os motivos que incentivaram o seu fecho. Da conversa entre antigos editores nasceu a vontade de organizar o plenário para ser discutida a reabertura. Organizado por Paulo Sérgio Santos, a reunião teve como ponto prévio a organização de um regime online onde o objetivo passava por escrever três vezes por semana (segunda, quarta e sexta). Muito concorrido, o plenário contou com a adesão de mais de quarenta pessoas. Adesão essa também sentida nos primeiros dias da reabertura do jornal. “Posso-te dizer que no meu primeiro online estavam 21 pessoas a escrever”, afirma o antigo diretor. Para Rafaela Carvalho, antiga diretora d´A Cabra, a maior dificuldade do regresso do jornal foi a falta de equilíbrio entre a experiência de formandos e editores. “Com a pausa, nós editores, que já éramos poucos, ficamos ainda menos. E quanto menos pessoas antigas há, mais complicado se torna para as novas gerações que entram fazerem artigos com o ‘background’ que esses assuntos necessitam”, explica. Ainda assim, o regresso do jornal é aplaudido pelos três editores que destacam que o jornal se trata de uma autêntica “escola para a vida”. “Estar numa secção como a de Jornalismo é fazer parte de um grupo de pessoas que nos coloca a pensar de forma diferente sobre a vida e sobre a nossa passagem pela universidade e por Coimbra”, afirma Paulo Sérgio Santos. Quanto à importância d´A Cabra para a comunidade estudantil, Rafaela Carvalho não duvida que o grande contributo do jornal está na divulgação do processo de gestão interna da universidade e na aproximação dos estudantes à AAC. “É, ao mesmo tempo também, a forma como o exterior vê a comunidade universitária”, acrescenta. Para Paulo Sérgio Santos, o papel d´A Cabra transcende em muito o papel de um simples jornal universitário uma vez que se trata de “um instrumento essencial para a vida democrática de uma associação académica, de uma Universidade e também de uma cidade”.


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Soltas 15

CRÓNICAS DO TRODA - POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

Q

ue tempos curiosos os que nos rodeiam, aparentemente o jornal a Capra aegagrus hircus, para os menos intelectuais, este regabofe de palavras em latim significa cabra, chegou à 300ª edição. Factos curiosos sobre este número: é um número triangular, a soma de dois números primos gémeos e também de 10 números primos consecutivos, não envergamos o nome Pitagórica à toa. Propriedades matemáticas à parte, 300 também é o número de hambúrgueres que se podem fazer com meio quilo de carne de vaca, tal é a otimização do processo culinário das cantinas. Ainda bem que nos contactaram, já estávamos todos tão habituados ao Corona e à suspensão das atividades estudantis, que nem nos lembrávamos que a crónica existia. Opá parabéns, se não nos censuraram ainda, não o façam nesta edição tão especial. As felicitações não são apenas relativas ao número de vezes que a impressora trabalhou para nos presentear com este jornal que tem tinta que se agarra às mãos e é chata de tirar, mas também à paciência que o pessoal tem de ter para ir cobrir certos e determinados eventos, como festivais de tunas e afins. Mesmo que o número de leitores da edição impressa seja reduzido, de tal maneira que das 10 pessoas que liam de facto o impresso, apenas 6 conseguiram ir à AAC antes das 11 da

FOTOGRAFIA CEDIDA PELA ORXESTRA ORXESTRAPITAGÓRICA PITAGÓRICA

noite buscar um exemplar, muito provavelmente a razão que nos permite dizer o que queremos nesta crónica e que por consequência nos faz sentir menos pressão no processo de desenvolvimento do texto que estão neste momento a ler, os exemplares físicos dão sempre jeito aos vendedores de castanhas que aparecem por esta altura do ano. É sempre bom comer um cartucho desses frutos capsulares, possivelmente com amostras de tinta à base de chumbo (sim aquela que se agarra às mãos) com um copito de jeropiga. Com a Covid no ar até é bom para desinfetar a garganta.

Com isto das restrições sociais, quem deve estar também a sofrer é o senhor do bar das matemáticas, gentilmente apelidado de Capitão Hadock, que já não pode cumprimentar como deve de ser o pessoal, e se encontra aprisionado atrás duma placa de acrílico. Foi portanto descoberto o principal foco de contágio da cidade dos estudantes. Não são os lares nem as festas de erasmus mas sim a mão direita do capitão, a mão esquerda é o terceiro e o segundo a malta que vai para o Mandarim. Por falar em comida, já temos saudades do senhor Orlando das cantinas. Por falar em cantinas, lamentamos que para além da queda do negócio provocada pelo covid, o principal acionista das cantinas do pólo II e pólo I, por esta ordem, tenha ido para Lisboa atormentar outros serviços de ação social. Os canudos estão de facto mais fáceis de obter. Ele notou logo a diferença do custo de vida que invalida o consumo de comida social em Lisboa. Os 2,75 do serviço social do técnico com um prato de carne ou rissóis não se comparam aos 2,40 com 3 pratos diferentes e ainda arroz doce. Também podemos encontrar exemplares deste jornal nas nossas cantinas, muito provavelmente a nivelar uma mesa com uma perna menor que as outras, ou a absorver o óleo dos fritos. Agora que já sabem onde encontrar uma edição, ide lá ler

UM LUGAR DE GENTE RESILIENTE ONDE A ESCRITA TEM DE FAZER SENTIDO O Jornal A Cabra começou por ser o vizinho do lado. Em noites de fecho eles e elas em­ brulhavam-se em mantas polares e fumavam à janela. Que gente era aquela que ficava na AAC enquanto eu regressava a casa? - POR ISABEL SIMÕES -

U

m dia fui assistir a uma cerimónia no Auditório da Reitoria e um deles tinha sido escolhido para falar em nome dos estudantes de Coimbra. E que discurso! Palavras pensadas, ditas com a alegria de quem vive a Academia com dedicação que vai muito além da frequência das aulas. Sabia que na Latada ou na Queima das Fitas, os vizinhos do contentor do lado eram sempre os últimos a sair do Parque da Canção. Viam o sol nascer a publicar os últimos artigos sobre as festas. Assistiam a todos os espetáculos, desde os grupos académicos até ao Palco RUC e tiravam as fotografias que eu roubava. Um dia faltaram por falta de condições e a festa já não foi a mesma. A dado momento pediram-me opinião para a escolha de uma fotografia para a Via Latina e fiquei com vontade de aprender a

escrever com eles. Quando entrei sofri as estopinhas com as transcrições intermináveis e o pavor do ecrã em branco. Com eles fiz entrevistas telefónicas a gente em pleno aeroporto e saí da minha zona de conforto ao fazer cobertura dos Campeonatos Europeus Universitários de Judo, Karaté e Taekwondo. No desporto, assistir à apresentação ao minuto 74 da noite, de uma segunda-feira, de 2017, no “Jardim da Sereia”, onde o ponta de lança Hugo Almeida foi apresentado, ainda hoje é motivo de brincadeira. O jornal continua ‘online’ sem desistir da edição em papel, o que eu gosto. Para saber o que é um jornal, a meu ver, é absolutamente necessário sentir o cheiro da tinta. Pertencer à Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra é uma responsabilidade para com os leitores e para com os valores do jornalismo que procura a verdade, faz contraditório e respeita os valores da democracia. Percebi-o no dia em que alguém me contou o papel que a secção teve na divulgação do que estava a acontecer em Timor por altura dos massacres no cemitério de Santa Cruz. Parabéns malta, pela edição 300 e obrigada por me terem acolhido!


Mais informação disponível em

EDITORIAL 300: This Is Cabra! - POR LEONOR GARRIDO -

J

á dizia José de Albuquerque, um dos fundadores deste jornal, que o nº 0 d’A Cabra não seria apenas um número, seria o primeiro de uma série. Olhando para essa edição, construída com recortes colados e montados, iluminada por uma mesa de luz em 1991, penso no quão gratificante é saber que chegámos tão longe. Agora, com apenas um computador à frente, paginamos a 300 que, talvez mais do que as restantes, é tão especial para nós. Nesta edição, recordamos as histórias de quem outrora por aqui passou e percebemos que a vontade de revolucionar e inovar que os nossos antecessores incutiram nesta pequena secção perdura. Apesar de não sermos os mesmos estudantes que há praticamente 30 anos acreditaram que A Cabra seria uma realidade, continuamos a acreditar que este jornal terá sempre de sair. Por isso, mesmo vivendo tempos incertos e enfrentando um futuro que se torna cada vez mais desconhecido, é sem medo que continuamos a trabalhar para que a essência d’A Cabra não passe despercebida. Hoje, assinalamos mais um marco na nossa existência e provamos que este jornal, feito apenas por estudantes universitários, pode e vai resistir.

ARQUIVO (CIRCA 1991)

Apesar de não sermos os mesmos estudantes que há praticamente 30 anos acre­ ditaram que A Cabra seria uma realidade, continua­ mos a acreditar que este jornal terá sempre de sair” ARQUIVO (CIRCA 2020)

Ficha Técnica

Diretora Leonor Garrido

Fotografia Luís Almeida, Cátia Beato, Nino Cirenza

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Daniela Pinto e Maria Monteiro

Ilustração João Ruivo, Marta Emauz Silva

Equipa Editorial Tomás Barros e Bruno Oliveira (Ensino Superior), Nino Cirenza e Xavier Soares (Cultura), Francisco Barata e Diogo Machado (Desporto), Luísa Tibana (Ciência & Tecnologia), Cátia Beato e Maria Salvador (Cidade), Cátia Beato e Nino Cirenza (Fotografia)

Paginação Luís Almeida, Hugo Guímaro

Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Colaborou nesta edição Francisco Barata, Cátia Beato, Maria Luísa Calado, Julia Floriano, Leonor Garrido, Francisco Martins, Maria Monteiro, Maria Salvador, Xavier Soares Conselho de Redação Carlos Almeida, Luís Almeida, Inês Duarte, Filipe Furtado, Hugo Guímaro, Margarida Mota, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Dinis Silva, Pedro Emauz Silva JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 500 exemplares


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