Edição 278 - Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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3 DE NOVEMBRO DE 2016 ANO XXV Nº278 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA INÊS DUARTE EDITORA EXECUTIVA CAROLINA FARINHA

Universidade de Coimbra reflete sobre Regime Fundacional Conselho Geral e Senado levam proposta a discussão. Membros da comunidade estudantil, docentes e não docentes mostram preocupação com a possível passagem para fundação PÁG. 3 INÊS NEPOMUCENO

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

José Dias faz balanço do mandato na presidência da DG/AAC. Congelamento de propinas, gabinete de desporto da AAC e Académica Start UC em destaque

O modo como os estudantes consomem e participam na arte do teatro é visto por entidades e companhias como negativo apesar da oferta cultural de Coimbra

Revisão do Estatuto Estudante-Atleta, da UC, ambiciona compatibilizar o desporto e os estudos. Alterações passam por “três pilares fundamentais”

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CIÊNCIA

Ingestão de álcool dificulta aprendizagem, recordações e memorização de acontecimentos. “Caminho para as memórias” fica comprometido após intoxicação


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NA RETA FINAL, JOSÉ DIAS CONSIDERA O SEU MANDATO “POSITIVO” Congelamento das propinas, criação do Senado Académico e dos Fóruns de Cultura e Desporto são alguns dos objetivos atingidos e ainda por almejar durante os próximos três meses - POR INÊS DUARTE INÊS DUARTE

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já em janeiro de 2017 que o mandato da DireçãoGeral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC) em vigor termina. Durante os últimos nove meses houve reivindicações realizadas, problemas, desafios alcançados e outros por atingir. O presidente da DG/ AAC, José Dias, faz o balanço do seu período enquanto dirigente associativo do órgão de gestão da Academia. Balanço de um futuro para a AAC “Julgo que [o balanço] é positivo, mas não posso ser presunçoso ao ponto de dizer que correu tudo bem”, afirma José Dias. O presidente, a meses de se despedir do cargo, não se vai recandidatar. Refere como pontos fundamentais do seu mandato o congelamento das propinas, o gabinete de desporto da AAC e o programa de empreendedorismo Académica Start UC. Para 2017, o trabalho da próxima DG/AAC tem de ter em conta a análise que, segundo José Dias, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Económico vai realizar acerca do Ensino Superior (ES), durante o ano de 2017. Uma avaliação que vai incidir em todos os campos, “rede de ES, financiamento, ação social, RJIES [Regime Jurídico de Instituições de ES]”, explica o presidente. Como tal, a AAC deve ter preparado um conjunto de propostas acerca desses assuntos, à semelhança do livro redigido por José Dias em 2015, “Educação: Uma Visão de Futuro”, esclarece. “Tem de haver já posições públicas marcadas para o próprio ministério saber da nossa parte com o que vai contar”, avança o presidente. Existem quatro pontos por realizar até ao final do mandato. O Orçamento do Estado é uma das questões a focar, pois, para José Dias, “não basta apresentarem boas linhas” no que toca a ensino superior, é necessário que essas sejam aprovadas pelos partidos com assento parlamentar na Assembleia da República. Uma revisão do Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes de Ensino Superior é também premente, com foco para o limiar da elegibilidade. Neste momento, este está estagnado nos 60 por cento de aproveitamento escolar. Para o presidente da DG/AAC, “não se pode considerar uma bolsa de estudo como uma bolsa de mérito” e este limiar deve ser alterado para a taxa dos 50 por cento. O terceiro ponto tem que ver com o Regime Fundacional, agora em discussão na Universidade de Coimbra, do qual a DG/AAC tem “uma posição contra”. Assim, o presidente afirma estar disponível para realizar debates acerca do tema e criar uma proposta por parte da AAC. Um novo modelo de acesso ao ES é o quarto ponto em questão. José Dias quer abrir a discussão na AAC “para perceber que tipo de modelo deve ser”, ao mesmo tempo que afirma que o Governo já tem algumas medidas previstas “que não vão ser aprovadas já porque tem de haver sintonia entre estudantes, governo e dirigentes, para que vá para a frente”. Ainda quanto a propostas para os três meses seguintes, José Dias ambiciona criar um Senado Académico, “com os expresidentes da DG/AAC, que possam servir como conse-

lheiros para a produção de conhecimentos ou de políticas ao longo do ano”. Também no espectro das criações, pretende-se realizar Fóruns de Desporto e Fóruns de Cultura, à semelhança dos Fóruns da AAC. A nível do desporto, o objetivo é “uniformizar as políticas das secções desportivas”. Quanto à cultura, passa por “ter um plano de atividades definidas e mais estável ao longo dos tempos”, explica. ARE com mandato estendido Foi durante o ano de 2015 que se procedeu à eleição da Assembleia de Revisão de Estatutos (ARE), da AAC. No entanto, muitos foram os contratempos e, até hoje, não existe uma proposta definida. Em maio de 2016 foi decidido, em Assembleia Magna, uma extensão do mandato da ARE. O presidente da DG/AAC, e membro da ARE, vê esta situação “de uma forma muito crítica”. “Espero que até ao final de dezembro consigamos ter uma proposta já realizada”, mas, para isso, é necessário “ter reuniões mais significativas, ao nível temporal, e mais intensas ao nível de trabalho realizado”, explica. Dívida interna e externa “geríveis” Durante a sua candidatura, José Dias afirmava que uma das prioridades era terminar tanto com a dívida interna como a externa. Durante o mandato, a dívida externa desceu de, segundo o Relatório e Contas de 2015, 111 223,71 euros, até cem mil euros, afirma. “Está perfeitamente gerível”, refere. No entanto, o presidente quer ainda chegar ao zero em termos de dívida, mas depende do fecho de contas da Festa das Latas e Imposição das Insígnias de 2016 e dos meses seguintes. A prioridade passa agora pelo abatimento da dívida interna, que se encontra nos 350 mil euros. Em 2015, a dívida ao Conselho Desportivo era de 304 572,52 euros. A este nível, “foi injetado um financiamento pela primeira vez em cinco anos”, e as verbas da Queima das Fitas 2016 vão ser desbloqueadas para as secções culturais.

QUANTO CUSTA ESTUDAR EM COIMBRA? SASUC prestam apoio aos alunos da UC. Comunidade estudantil explica como é a qualidade de vida na cidade

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no início do ano letivo que os gastos relacionados com o estudo são calculados. As despesas levadas a cabo por um estudante prendem-se com a propina anual, com a alimentação, alojamento e deslocações, em Coimbra, bem como para a localidade de origem dos alunos. Vários são os fatores que pesam no aumento ou decréscimo dos gastos mensais dos estudantes da cidade. Inês Quintal, estudante da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), afirma que, “por mês, os gastos rondam os 400 ou 500 euros”. Cristina Furtado, estudante da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), garante que as despesas mensais “não excedem os 350 euros”. No entanto, devem ser incluídos, ainda, os custos associados à deslocação até casa. “Apenas nas férias”, como ambas asseguram, uma vez que residem fora do território continental e “as passagens não são baratas”. No que toca a transportes públicos, Tiago Nor-

- POR SÍLVIA ANDRADE E CAROLINA FARINHA -

te, aluno da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC), não costuma utilizá-los para se deslocar na cidade, pois estes aumentariam a despesa mensal em 22 euros. “Assim fica por volta de dez euros”. Ao contrário das estudantes da ESEnfC e da ESEC, Tiago Norte vai a casa, por norma, “todos os fins-de-semana”. Inês Quintal divide uma casa com colegas, tal como Cristina Furtado. A estudante da ESEC explica que “viver com outras pessoas acaba por influenciar as despesas”, de forma a permitir uma diminuição nos custos mensais de luz e água. A administradora dos Serviços de Ação Social da UC (SASUC), Regina Dias Bento, esclarece que existem “14 residências universitárias disponíveis nos diversos polos da UC”. Para estas, é dada “prioridade aos estudantes bolseiros, que representam cerca de 30 por cento dos alojados”. Por ano, os SASUC recebem cerca de 3000 candidaturas, mas existem apenas 1300 vagas. Regina Dias Bento afirma que “as residências conse-

guem potenciar grandes condições de estudo”. Isto porque possuem uma boa localização, “todas as despesas estão incluídas, há ‘Internet’ e salas de estudo em quase todos os alojamentos”. Usufruem de “mudança de roupa de cama e atoalhados todas as semanas”. A administradora dos SASUC declara que “o máximo que um não bolseiro nacional paga numa residência são 117 euros por mês.” As refeições de Cristina Furtado são, na sua maioria, feitas em casa. “Não faz diferença em termos de custos, porque inclui-se a alimentação nas despesas de alojamento”. Inês Quintal afirma que vai à cantina “uma ou duas vezes por semana”. Regina Dias Bento explica que “um aluno, se for a uma cantina ao almoço, jantar e pequeno-almoço, gasta em média 150 euros por mês”. Os SASUC conferem “cerca de 400 apoios ao nível do Fundo de Apoio Social, que se destinam a ajudar estudantes no pagamento de propinas”. O Programa de Apoio Social a Estudantes em atividades de tempo parcial é extensível a todos os alunos da UC.


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UC DISCUTE POSSIBILIDADE DE PASSAR A FUNDAÇÃO Comunidade estudantil cética em relação à mudança de regime. Privatização do ES e intervenção de entidades externas nos assuntos da UC são receios destacados - POR CAROLINA FARINHA CRISTINA PINILLA CARRASCO

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Conselho Geral (CG) e o Senado da Universidade de Coimbra (UC) abriram a discussão sobre a passagem da UC a regime fundacional. Com o intuito de elucidar a comunidade académica quanto ao tema, foi promovida uma sessão de esclarecimento na passada segunda-feira, 31. O reitor da UC, João Gabriel Silva, expôs as características do sistema em debate e assinalou as vantagens e desvantagens. A reunião contou com a participação do reitor da Universidade do Porto (UP), Sebastião Feyo, cuja instituição de ensino é fundação pública desde 2009. Um “tema muito relevante” é como Sebastião Feyo inicia a sua intervenção para explicar que, no caso da UP, “houve um salto qualitativo com os atuais modelos das universidades”. Como pontos positivos, são destacados o ganho reputacional, a contratação de pessoal técnico e docente em regime privado, a compra e venda de imóveis sem intervenção do Governo, a desobrigação no uso da central de compras do Estado, menos cativações e a possibilidade de angariação de doações e patrocínios. Para o reitor da UP as fundações permitem dar, acima de tudo, “uma maior autonomia” às Instituições de Ensino Superior (ES). Papel determinante do Conselho de Curadores As opiniões sobre a mudança para regime fundacional dividem-se no seio do meio académico. O presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), José Dias, realça que a maior desvantagem “é a constituição de um Conselho de Curadores acima do Conselho Geral, que define a governação da instituição”. O Conselho de Curadores é constituído por cinco pessoas exteriores à UC, escolhidas pelo CG e nomeadas pelo Governo. Tem como funções a homologação de or-

çamento e contas, bem como a eleição e destituição do reitor. Autorizam a aquisição, venda de imóveis e empréstimos, nomeiam e destituem o Conselho de Gestão. Gonçalo Bento, membro do CG, aponta também o Conselho de Curadores como o maior receio do órgão de governo, já que “são membros externos a discutir o futuro da UC”. Explica que “os estudantes já consideram que o CG tem um número elevado de entidades externas em comparação com o número de discentes”. Para João Gabriel Silva, “as funções que cabiam ao Governo”, com a fundação, “passam para o Conselho de Curadores” e acrescenta que, “quem escolhe os seus membros são os elementos internos”. Uma “transferência de poderes que não garante os atuais interesses da UC ou da comunidade académica” é o que destaca Pedro Pinheiro, membro do movimento “Não vai ter Fundação na UC”. O aumento da autonomia por parte da UC pode levar a erros de contratos e prestações de serviços desadequadas que podem resultar em contratações obrigatórias. Para além disto, pode existir uma definição descuidada de carreiras próprias e imprudente negociação salarial, Estatutos mais complexos pela presença do Conselho de Curadores e empréstimos para investidores sem ir ao Ministério das Finanças são os pontos negativos indicados pelo reitor da UC. José Dias aclara que “a AAC defende que se deve manter um certo nível de autonomia”. Contudo, acrescenta que “há um ponto negativo na autonomia patrimonial, que é a venda ao desbarato daquilo que é propriedade da instituição”. Algumas dúvidas em relação ao regime fundacional foram expostas durante a sessão, no sentido de desmitificar questões que se prendem com a privatização, os contratos de trabalho, a diminuição do financiamento do Estado e o aumento do regime de propinas. João Gabriel Silva cla-

rifica que “o regime de financiamento é igual, quer para uma fundação, como para as instituições públicas”. Maior dicotomia entre instituições de Ensino Superior O presidente da DG/AAC explana que o regime fundacional “pode colocar em risco um sistema igualitário e público para toda a região nacional”, o que amplia a necessidade de se falar sobre o assunto, já que se está “perante uma litoralização do ES”. O membro do CG partilha a mesma posição do dirigente associativo, pois considera que a mudança para fundação pode “criar uma grande heterogeneidade a nível de instituições de ES”. Impõe-se então a necessidade de continuar a debater sobre o tema colocado em cima da mesa. Gonçalo Bento refere que, para o atual CG, “já não vai ser grande discussão”, uma vez que se vão reunir apenas mais uma vez até às eleições marcadas para dia 6 de dezembro. “É a grande bandeira dos próximos membros, porque eles é que vão discutir se a UC deve passar para regime fundacional ou não”. José Dias, por sua vez, acredita que o debate “deve ser a nível nacional”, pois defende que “a AAC tem uma visão mais abrangente e não protege apenas aquilo que deve acontecer com a UC, mas sim aquilo que deve acontecer como o sistema no seu todo”. “Se o sistema estiver em causa por um regime”, acresce, “então é um regime negativo”. Previsto o direito de arrependimento, o reitor da UC reitera que “não é uma decisão irreversível”, mas sim “um regime experimental de cinco anos”, para o qual “não há calendário de decisão”. Sebastião Feyo conclui a sua intervenção ao salientar “a importância de um modelo que se adeque à dinâmica da atualidade”.


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JOÃO RUIVO

CURSO ABRE PORTAS AOS AMANTES DA SÉTIMA ARTE Com o objetivo de dar uma formação mais especializada, “Cinemalogia” aposta num maior enriquecimento dos seus módulos - POR ANA FRANCISCA NUNES -

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m parceria com a Universidade Aberta (UA), o Festival Caminhos do Cinema Português realiza, pelo sexto ano consecutivo, o curso “Cinemalogia”, que visa dar formação na área do cinema. O curso acolhe qualquer pessoa que queira participar. O projeto “é complementado de forma a atingir um fim, que é conceber uma curta-metragem”, explica Joana Mata, coordenadora do curso. É esperado que os formandos adquiram competências na área da realização de um projeto cinematográfico alargado. “Cinemologia” tem início a 19 de novembro. Para além dos módulos principais, que cobrem os mais importantes aspetos da produção, existem ainda módulos transversais e complementares. Estes últimos “são ‘online’ realizados através de uma plataforma”, ilustra a coordenadora. Nenhum dos módulos é obrigatório, no entanto, Joana Mata explicita que, nesta edição, estes “melhoraram”. Vão ser desenvolvidos três aspetos cruciais, o documentário, o ‘story board’ e a crítica que, devido à UA, “oferece uma formação mais especializada e um currículo que pode formar, por exemplo, professores”. O curso tem uma duração média de 22 semanas. Joana Mata explica que “todos os formadores que foram pensados para ensinar são pessoas de renome e com alguma importância”. Estes dão um maior enriquecimento aos módulos, pois “são todos bons nas suas áreas”, como refere a coordenadora. Deste modo, são considerados uma “aposta” por parte dos organizadores do curso. “Cinemalogia” não tem um público alvo específico, mas pretende despertar o interesse da comunidade estudantil. A possível falta de entusiasmo e de adesão em relação ao cinema, por parte dos estudantes, é uma das preocupações de Francisca Carvalho, também coordenadora do curso. Francisca Carvalho ilustra que “para os estudantes de Estudos Artísticos, o cinema tem muito impacto”. Quanto aos restantes, não vê “alunos interessados neste tipo de curso”. “A não ser que sejam [de licenciaturas] de cinema, como da Universidade da Beira Interior, porque em Coimbra”, a coordenadora afirma que vê “poucas pessoas interessadas”. Embora haja pouco entusiasmo por parte da comunidade universitária, o curso, de acordo com Francisca Carvalho, tem uma adesão considerável. “Nunca ninguém viu um filme pelo qual não foi influenciado. Muitas pessoas descobrem aquilo que esperam ser através do cinema”, conclui Joana Mata, que considera a sétima arte importante para a formação de um indivíduo.

JOÃO RUIVO

GEFAC: 50 ANOS DE PATRIMÓNIO IMATERIAL Circuito de atividades compreendido entre espetáculos, colóquios, exposições e manifestações de rua. “Novas propostas para divulgação da cultura popular” são os principais objetivos - POR JOÃO RUIVO -

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Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) realiza pela 16ª vez as Jornadas de Cultura Popular. Este acontecimento é especial este ano devido à comemoração dos 50 anos do grupo. Os eventos vão decorrer entre os dias 5 de novembro e 3 de dezembro, com o desígnio de proporcionar a cada cidadão uma convergência nas artes, outrora transmitidas apenas por gerações de distintas regiões do país. A apresentação do “Livro de Comemoração dos 50 anos do GEFAC” é o ponto de partida das jornadas. Nos dias 8, 15 e 22 de novembro acontece um ciclo de conversas, em que o tema inicial vai ser uma reflexão sobre o passado, presente e futuro da canção de Coimbra . O ciclo tem como título “De sonho e tradição”. A música sobe a palco nos dias 10, 12, 19 e 24 com um conjunto de concertos onde “vai também haver uma reunião”, como explica Amanda Guapo, membro da Comissão das Jornadas. O grupo Brigada Victor Jara, com a participação dos alunos do curso de Jazz do Conservatório de Música de Coimbra, finaliza este ciclo de concertos. Decorria o ano de 1966, quando o GEFAC foi fundado com o pressuposto de recolher, explorar e refletir sobre as manifestações culturais das populações rurais. Amanda Guapo explica que as primeiras recolhas etnográficas, consistiram em “sair da academia e ir às aldeias do país, falar com os habitantes locais e recolher elementos para utilizar em espetáculos”. Entre estes componentes estão a música instrumental, os cantares, a dança e o teatro. Foi após a revolução dos cravos que os projetos de recolha de canção de raiz popular despoletaram e deram origem a grandes nomes da música portuguesa. Fausto, Vitorino, Trovante e Brigada Victor Jara são alguns exemplos. De acordo com Amanda Guapo é importante difundir a cultura popular, “sobre o risco de esta se perder”. No passado, “antes de a Câmara [Municipal de Coimbra] ter esse papel, a primeira feira de artesanato foi promovida pelo GEFAC, com uma programação semelhante à feita hoje em dia”, defende Amanda Guapo. A solução, segundo a comissária das Jornadas, passa por uma ”maior capacidade de criação, com novas propostas e abordagens da divulgação da cultura popular”. Acrescenta ainda que “o objetivo não é imitar usos e costumes tradicionais, mas revelar a mensagem que as pessoas queriam passar quando cantavam uma canção num grupo de trabalho”.


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COIMBRA NO CONTEXTO CULTURAL: O TEATRO DENTRO E FORA DA CENA ACADÉMICA “Para os estudantes quererem participar tem que haver algo que os puxe para o fazer”. No contexto de uma cidade estudantil a mobilização dos jovens nem sempre vai ao encontro do expectável - POR JOANA PEDRO E PEDRO DINIS SILVA -

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aproximação do ano letivo coincide com a época de início de temporada dos vários teatros existentes por todo o país. Em Coimbra, não faltam organismos que fomentem esta arte, mas a adesão aos mesmos, segundo várias entidades, nem sempre é tida como positiva. A Associação Académica de Coimbra tem uma vasta oferta de núcleos teatrais, como o Círculo da Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) e o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). A própria cidade não escassa de instituições: o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), o Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), a sua companhia residente (Escola da Noite), e a Cooperativa Bonifrates são alguns exemplos. Mesmo com perspetivas distintas, a opinião generaliza-se no que toca ao consumo de teatro pela comunidade estudantil: a oferta é grande e diversa, mas a procura dos alunos pelo teatro nem sempre se manifesta. “O peso dos estudantes universitários no conjunto do público de teatro tem diminuído”, reflete Pedro Rodrigues, produtor da Escola da Noite, companhia que também é gestora do TCSB. Esta é uma realidade que também o diretor do TAGV, Fernando Matos Oliveira, expressa. “Gostávamos que houvesse muito mais adesão”. Apesar da pouca participação demonstrada pelos gestores do TCSB e TAGV, esta mostra-se satisfatória para os membros de grupos académicos. O tesoureiro do CITAC, Miguel Pombas, declara que os jovens “têm vindo procurar cada vez mais aquilo que é o CITAC e o grupo tem vindo a crescer com a procura”. O tesoureiro acrescenta ainda que não pensa “que não haja público, muito pelo contrário”, acredita “que cada vez mais os estudantes estão interessados”. Também no TEUC se sente o apoio estudantil. “Fizemos o nosso exercício final em abril e tínhamos o teatro cheio quase todos os dias”, explica. Em contrapartida, as opiniões de Cristina Janicas, membro da direção da Cooperativa Boni-

frates, e de Pedro Rodrigues são marcadas por uma visível tristeza perante o panorama cultural na cidade. O produtor da Escola da Noite considera que, “por um lado, é necessário diversificar ao máximo os meios de divulgação de cultura”. Por outro lado, afirma que “é preciso apostar no contacto direto com os próprios cursos de vertente artística e respetivos responsáveis”. Segundo Guilherme Pompeu, responsável técnico do CITAC, “continuar a ter uma programação contínua e ativa” está entre os principais objetivos do grupo. Cristina Janicas explica que existem preços especiais nos bilhetes para jovens que apresentem o cartão de estudante, mas “a maior parte dos estudantes que usa esses bilhetes pertencem ainda ao ensino secundário”. A membro da direção da Cooperativa Bonifrates acrescenta ainda que há uma crescente falta de interesse por parte dos estudantes universitários. Não obstante, as instituições de teatro em Coimbra não são, de todo, desconhecidas. Os gestores do TCSB e TAGV notam uma maior afluência de estudantes de outros países. O produtor da Escola da Noite salienta que “os estudantes universitários estrangeiros vêm numa percentagem significativa”. Fernando Matos Oliveira nota também que existem “várias dezenas de alunos na área de Estudos Artísticos que vieram para Coimbra também por causa do TAGV, inclusive alunos estrangeiros”. A informação cultural circula de forma positiva, tal como afirma Inês de Miranda, sócia do TEUC. “Quando vim para Coimbra perguntei às pessoas com quem já tinha trabalhado qual era o sítio a procurar para fazer teatro e as pessoas apontaram para o TEUC e para o CITAC”. Que razões podem, então, justificar a realidade do panorama da arte dramática por parte dos jovens de Coimbra? As opiniões variam. Emanuel Santos, também sócio do TEUC, considera que “em Portugal o teatro não é a prio-

ridade na vida da maior parte da população”. Pedro Rodrigues considera que “aumentou o peso e a oferta de experiências mais comerciais, como os concertos, os festivais de música”. Segundo o produtor da Escola da Noite, o crescimento dos festejos académicos passou a ocupar os tempos de lazer dos estudantes. “Não acredito que um estudante universitário não vá ao teatro ou ao cinema porque ficou em casa a estudar”, afirma Cristina Janicas. É o desinteresse que, na sua opinião, está na base da falta de adesão. “De segunda a quinta-feira as ruas estão cheias de gente, não é por falta de dinheiro, é mesmo por falta de interesse”, esclarece. Há uma opinião unânime: o teatro é essencial no contexto de uma formação académica completa. A utilidade do teatro é tida em conta por Miguel Pombas, que afirma que, segundo a sua própria experiência, o teatro “faz crescer as pessoas enquanto homens e mulheres”. Segundo o tesoureiro do CITAC, é possível interligar aspetos do teatro com os do dia-a-dia, e a experiência no teatro faculta ferramentas que permitem despertar interesses e curiosidades. Também Fernando Matos Oliveira considera o teatro essencial na formação de um jovem, “no sentido em que ele expande as experiências que os estudantes podem ter”. O diretor do TAGV acrescenta ainda que “não se pode ter uma academia pautada pela cultura do mesmo”. “É uma grande tristeza um estudante universitário fechar-se em determinados meios e nem sequer se dar à hipótese de vir ao teatro”, afirma Cristina Janicas. Em jeito de conclusão, a opinião geral é de que os jovens vão menos ao teatro. Guilherme Pompeu afirma que “para os estudantes quererem participar tem que haver algo que os puxe para o fazer”.

com Carlos Almeida

CARLOS ALMEIDA


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O FUTEBOL DESPEDE-SE DE MÁRIO WILSON O jogador fica para a história como o “Velho Capitão”. Viveu momentos de glória na Académica e introduziu modernidade no futebol português - POR RITA GRÁCIO -

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ário Wilson foi jogador, treinador e selecionador nacional. Passou por vários clubes, mas os seus “dois amores” eram o Sport Lisboa e Benfica, onde foi treinador, e a Académica, onde passou mais temporadas. O “Velho Capitão” nasceu na colonial Lourenço Marques, atual Maputo, a 17 de outubro de 1929. Aos 19 anos deixou o clube da sua cidade para vir para Portugal, jogar pelo Sporting, pelo qual foi campeão nacional em 1951. Em 1952 vem jogar para a Académica, onde faz 207 jogos como capitão de equipa. É em Coimbra que se licencia em Ciências Biológicas, constitui família, e submerge no ambiente contestatário anti-fascista. Privou com Almeida Santos e Agostinho Neto, entre outros democratas e independentistas. Em 1964 estreia-se como treinador da equipa dos estudantes e assim permanece até 1968. Depois de uma passagem pelas “Águias”, regressa à Briosa de 1980 a 1983. Faleceu a 3 de outubro, aos 86 anos. O presidente da Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra, Rui Pita, considera que se trata da “perda insubstituível” de “um homem muito respeitado”. As temporadas em Coimbra Na época de 1951-1952 Wilson estreia-se como defesa central na equipa dos estudantes. Em 1963, depois de 281 jogos e 17 golos, termina a sua carreira como jogador e passa a treinador dos estudantes no ano seguinte. Logo na época de 1964-1965 eleva a equipa dos estudantes ao quarto lugar, mas vive momentos de glória na época de 1966-1967, quando o clube se sagra vicecampeão nacional e chega à final da Taça de Portugal. O seu sucesso como treinador deve-se à sua formação.

ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

Mário Wilson fez o curso de treinadores e um estágio na Holanda, onde se jogava o “futebol total”, no qual se inspirou, conta Mário Campos, antigo jogador dos “capas negras”. Acrescenta que Mário Wilson foi “um

homem de visão”, ao ser dos primeiros a fazer ‘scouting’, “estudar a equipa adversária” e a levar a sua equipa em “estágios intensivos”, para a Curia. Destaca, ainda, a criação da figura dos médios-alas e a introdução da inovadora tática 4-4-2. O ex-treinador adjunto de Mário Wilson na época de 1981-1982, Vítor Manuel, confirma que era esse o seu cunho pessoal: “futebol de posse, de circulação, com rapidez e qualidade”. Foi em Coimbra que surgiu a alcunha com que ficaria conhecido no mundo do futebol: o “Velho Capitão”. O futebol como palco político Um “líder”, um “bom comunicador” e sempre “capaz de motivar a equipa”. Assim o descrevem Mário Campos e Vítor Manuel. Demonstrou-o quando o futebol da Académica atravessou a crise estudantil de 1962. Os jogadores não treinavam e boicotavam jogos. No documentário “Futebol de Causas”, do autor Ricardo Martins, Mário Wilson conta como foi pressionado pela Junta Militar para a Académica voltar aos relvados e como convenceu a sua equipa a jogar e, assim, evitar a prisão. Todos jogaram, inclusive Chipenda, França e José Júlio que, meses depois, com o consentimento do capitão, regressariam aos seus países de origem, em África, para lutar pela libertação do jugo colonial. Vítor Manuel refere a forte personalidade de Mário Wilson ao considerá-lo “um general”. Ao lamentar “uma grande perda para o futebol nacional”, o extreinador-adjunto dos estudantes lembra que “ainda não foi feita a homenagem merecida a Mário Wilson”. Com João Pimentel

NOVO ESTATUTO ESTUDANTE-ATLETA EM PROL DO DESPORTO Alterações preveem quadro de mérito desportivo, reestruturação do ODUC e mais benesses. Estudantes elogiam medidas mas consideram que “podia ser feito ainda mais” - POR JOÃO PIMENTEL -

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regulamento que define as competências, os direitos e deveres dos estudantes-atletas da Universidade de Coimbra (UC) sofreu novas mudanças. Mário Santos, coordenador do Gabinete de Desporto da UC, refere que o Estatuto EstudanteAtleta (EEA) é um “instrumento criado pela UC para permitir a compatibilização da atividade desportiva dos atletas universitários, que representam a universidade nos campeonatos universitários, com a sua vida académica”. As alterações feitas pretendem “uma maior agilização na atribuição do estatuto”, declara Mário Santos. “O novo EEA contrasta com o antigo em três pilares fundamentais”, assegura o coordenador do Gabinete de Desporto da Associação Académica de Coimbra (AAC), Rui Magalhães. O primeiro passa por uma “reconstituição” do Observatório do Desporto da Universidade de Coimbra [ODUC]”, que já tinha sido criado para regulamentar a atribuição do EEA, que “tinha uma composição pouco funcional”. Com esta reformulação, “vai integrar o ODUC um membro da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), que faz a articulação entre a

estrutura da UC e os atletas”. Em segundo lugar, “é um regulamento que permite a atribuição de benesses aos atletas antes destes terem resultados desportivos, o que antes não acontecia”. Por último, este novo Estatuto introduz um quadro de mérito desportivo. O objetivo passa por “distinguir os estudantes-atletas que conseguem medalhas a nível internacional”. Esses atletas recebem um prémio monetário e têm direito a “usufruir das residências universitárias pelos mesmos mecanismos dos estudantes bolseiros”. Estes métodos, de acordo com Rui Magalhães, pretendem “facilitar a prática desportiva e atrair novos estudantes-atletas para a Universidade”. Francisco Xavier Gonçalves, estudante de Economia da Faculdade de Economia da UC (FEUC) e atleta de natação do Clube Náutico Académico de Coimbra, candidato à atribuição do Estatuto Estudante-Atleta, crê que “as alterações são boas, mas podia ser feito ainda mais.” Nesse sentido, pensa que “devia haver uma maior flexibilização de horários para conjugar as aulas e os treinos e que ainda há muito a aprender com

outras universidades”. Quanto ao ODUC, confessa que “não conhecia a sua existência”, ainda assim, a reestruturação “parece uma boa medida”, pois “tem de haver alguma regulamentação”. “Muitas vezes, o processo de atribuição demora muito tempo”, aponta Cláudia Gaspar, estudante de Economia da FEUC e atleta da Secção de Ténis da AAC. A desportista está no seu terceiro ano e confessa que “só no ano passado é que atribuíram o estatuto”. Ao saber da reforma feita no ODUC, pensa ser “uma boa medida”, visto que, o ano passado, se “reuniam uma vez por mês e, no final, não havia direito ao Estatuto”. Para finalizar, Cláudia Gaspar vê o EEA como “algo que os estudantes-atletas merecem e não como uma prenda”. Para Mário Santos, “o mais importante é que estas modificações sejam eficientes”. Garante, ainda, que se está a dar “mais um passo sobre o que é agora o papel fundamental do desporto para a UC” e o novo Estatuto Estudante-Atleta, que teve início a dia 6 de outubro, surge como “primeiro legado da organização dos Jogos Europeus Universitários 2018”, que se vão realizar em Coimbra.


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ADORMECER EM MOMENTOS DE TÉDIO É APENAS “ECONOMIZAÇÃO DE ENERGIA” Nas primeiras aulas da manhã “não é o aborrecimento que provoca sono, mas sim a ausência de estímulos exteriores”. Sonhar acordado é o que, por vezes, mantém o cérebro ativo - POR BERNARDO GUERRA MACHADO E PEDRO SILVA -

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e existe cansaço em excesso e é difícil manter a atenção no mundo em volta, o mais certo é que se embale numa embaraçosa soneca em público. Isto porque quando “não se sente nenhum estímulo que se apresente como um benefício ou uma ameaça, o cérebro tende a optar por economizar energia”, como explica David Mota, colaborador na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Além disto, de acordo com Cláudia Cavadas, investigadora no Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra (CNC), “a motivação e o interesse despertam as pessoas”. “Estar motivado” está relacionado com “a capacidade de cada indivíduo se manter acordado”, porque “as áreas cerebrais envolvidas na motivação estão diretamente relacionadas com as áreas do sono”, explica Cláudia Cavadas. Logo, “em momentos aborrecidos, as pessoas ficam sonolentas” e vice-versa. No entanto, “é importante manter constantes os horários”, o que “está relacionado com o ritmo circadiano”, isto é, “a necessidade das células respeitarem um ritmo biológico”, acrescenta. Durante o período de vigília “a atividade em certas áreas cerebrais sofre uma redução significativa”, que se traduz em efeitos como “a diminuição do batimento cardíaco, da temperatura corporal e uma adaptação a nível da respiração”, esclarece a investigadora. “É possível mudar e conseguir ficar acordado, mas isso não é bom”, garante. É

JOÃO RUIVO

neste período que “há um processo de reciclagem das células, a autofagia, em que estas conseguem retirar lixo ou proteínas degradadas “, elucida. Este procedimento “aumenta quando se dorme, pelo que a sua desregulação tem consequências nefastas, como alterações gastrointestinais e de memória”,

explica. Na prática, quando “não se consegue descansar de forma conveniente, tem-se dificuldade na concentração, na atenção e na aprendizagem”, acrescenta o colaborador da FMUC. Segundo David Mota, o principal mecanismo de regulação do estado de vigília é “o sistema reticular ascendente, no tronco cerebral “. É lá que atua “um dos principais neurotransmissores responsáveis pelo aproveitamento académico, o autómato”. Em casos de sonolência “esse sistema é desativado e a fase de descanso é iniciada”, acrescenta. Desta forma, “não é o aborrecimento em si que provoca sono, mas sim a ausência de estímulos exteriores capazes de manter o cérebro ativo”, clarifica o colaborador. É de notar que há “outros fatores que podem contribuir para uma menor tolerância ao aborrecimento”, de acordo com David Mota. O investigador destaca, “além da medicação e drogas, as doenças psíquicas”. Um indivíduo “quando está deprimido adormece mais facilmente, o que leva a que a depressão se torne numa causa e numa consequência”, exemplifica. Esta regulação é também feita enquanto se está acordado, quando “se dirige a atenção para interesses mais aprazíveis”, como no ‘daydreaming’, fenómeno conhecido como “hsonhar acordado”.

COPOS CHEIOS, MEMÓRIAS VAZIAS ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

Acontecimentos, recordações e pensamentos ficam comprometidos aquando da ingestão severa de álcool - POR LUÍS ALMEIDA, RITA FONSECA E ANTÓNIO LADEIRA -

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om o sino da torre da Universidade de Coimbra (UC) a dar as 12 badaladas, começa mais uma noite académica. Um indivíduo ingere grandes quantidades de álcool e, no dia a seguir, quando acorda, não se recorda da noite anterior. Ao deparar-se com esta falta de recordações, questiona-se acerca do que se passou e tenta arranjar uma justificação. A explicação, nas palavras de João Malva, investigador no domínio das Neurociências da Faculdade de Medicina da UC (FMUC), é que “o álcool é um agente tóxico”, o que faz com que “a típica bebedeira tenha ações muito marca-

das no cérebro”. Ao ingerir-se bebidas alcoólicas, de forma desmedida, o cérebro fica com sequelas que podem perdurar. Quando entra em contacto com as células, o álcool “destabiliza a estrutura das membranas celulares”, que envolvem os neurónios, esclarece o investigador da FMUC. É através dos neurónios que se realiza a “comunicação entre células do cérebro”, as sinapses. O álcool, ao alterar as sinapses, vai “perturbar o normal funcionamento das organizações dos circuitos da memória”, o que tanto pode “causar dificuldades em aprender e memorizar novos acontecimentos”, como “inibir a recordação de memórias armazenadas”, aclara. Também os estados de euforia e frustração, que ocorrerem durante um estado de embriaguez, foram alvo de inquietude por parte do indivíduo. João Malva também tem explicação para estes factos. Ao afetar as sinapses, o álcool vai “modificar a quantidade de neurotransmissores, mensageiros do cérebro” enviados de um neurónio para outro. Destaca ainda o glutamato como “principal neurotransmissor excitatório”, responsável pela “eu-

foria e hiperatividade” sentidas pelo indivíduo. No entanto, estes “efeitos são transitórios” e, em concentrações elevadas de álcool, “o glutamato pode ter um efeito inibitório”, que se traduz numa fase “mais frustrada”. De modo a tornar o assunto mais claro, o investigador da FMUC esclarece que o neurotransmissor glutamato é também “muito importante nos circuitos da memória no hipocampo”. A perturbação desta rede, que ajuda a “processar, armazenar e recordar memórias”, vai dificultar a “aprendizagem e memorização” de novos acontecimentos. Isto significa que “a memória a curto prazo é afetada de forma direta”. A influência na memória a longo prazo está implicada na presença de “níveis tóxicos de glutamato”, ou seja, “quando a intoxicação é severa”. Nestas circunstâncias “os neurónios acabam por morrer e as memórias consolidadas podem desaparecer”, acrescenta. João Malva conclui que, “não são as recordações antigas que somem”, após uma intoxicação de glutamato, mas sim o “caminho para as mesmas”.


3 DE NOVEMBRO DE 2016

SOLTAS -8-

O NÃO-LUGAR - SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR PATRÍCIA MENDES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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a primeira vez que o destino me confrontou com um jogo de moedas, miseravelmente nem cara nem coroa se revelaram: a moeda ficou em pé. Mais tarde percebi ser isso uma sina, e quando tive meu primeiro tesão por arte, optei por pintar muros, não-lugares, para o desgosto dos meus avós. Digo essas coisas porque agora, ou num tempo qualquer, entrei na Universidade e ainda não consigo perceber por qual porta entrei. Lembro-me do primeiro convite recebido, ainda coberto pelo líquido amniótico do novo despertar. Era um doutor, cuja tese ainda me indago, oferecendo-me convívio. Aceitei sem maiores questionamentos. Do bolso da capa, o tal doutor sacoume uma cartilha amarelecida, de linguagem dark soft, pautada por regras, obviamente. Vi até graça naquele aparato cartesiano, e num gesto singelo, um dia precipitadamente me ri. Ri-me e fodi-me, por sinal. Ajoelhei-me num resto de rua, em desagradável comunhão com a sombra.

Superei essa desavença no tumulto de uns copos, bebendo feito pirata ocioso. Em poucos dias, cansei-me de tudo aquilo. Cansado, procurei alternativas integrativas. Ou apenas pensei em procurá-las, sem muito direcionamento. Havia um labirinto esfíngico ao pé duma praça, camuflado por secções a todo gosto. Não tenho basicamente gosto algum e ali constatei esse inócuo hábito. Para a secção de Escrita e Leitura, os três livros de auto-ajuda da minha biblioteca tornavam-me insosso, assim como o meu divertido repertório de músicas do Portugal em Festa para a Rádio. Na de Xadrez, depois de duas tentativas percebi não perceber nada de “xeques com cavalo”, e ainda tentei os Desportos, mas não tinha os vinte e cinco réis da mensalidade do arco-e-flecha. Nunca pude acertar o alvo. Foi um desastre, contudo não desisti. Ao acaso, passei a frequentar umas festas, conhecendo de relance uma malta, e em outro relance já não conhecendo

mais ninguém. No entanto, ficou-me indicado um lugar para novos convívios e, não por escolha convicta, arrumei um quarto numa República. Em três dias já tinha lido mais livros do que o Raskólnikov do Dostoiévski, mas nunca soube dizer se eram bons. Adquiri hábitos noturnos e diurnos, numa incoerência que confundia o funcionamento da casa. Passados cem anos, a minha indecisão honradamente despediu-se de lá. Por fim, morei num quarto de torre, arrendado. Não tinha a rigor nada que pudesse dizer ser meu, apenas uma moeda e umas cicatrizes crescentes no rosto, irmanadas de folhas de papel, sem lógica alguma. Nunca mais atirei a moeda ao alto, com receio de confirmar a minha indecisão sobre as coisas. Contudo, nessa torre julguei achar meu espaço e quem sabe um dia não a divido com alguém, caso, é claro, não me seja obrigatória a opção de ser o outro em referência a mim mesmo, mesmo sendo esse o meu anátema preferido.


3 DE NOVEMBRO DE 2016 SOLTAS -9-

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

Joseph Days

Foi de olhos no Futuro que encarei esta aventura. Depois de vários anos a trabalhar em prol da Académica, assumi a responsabilidade máxima de me candidatar à Direção-Geral da AAC neste último mandato. Os estudantes responderam positivamente e entregaram-me as chaves do nº1 da Padre António Vieira. Quase um ano depois olho para as várias lutas travadas com orgulho. A AAC deve ser um farol de esperança, uma casa que lute pela constante melhoria das condições no ensino superior e pelo desenvolvimento de todas as atividades culturais e desportivas que de si emanam. Agora é tempo de me despedir da mais antiga e prestigiada Associação do país. Não mais me vão encontrar nas reclusas salas da DG. Rumo agora para uma luta honrada. É tempo de fazer frente a um dos maiores problemas desta casa. É tempo de acabar com o Tacho!

Joseph Days Que dor de cabeça... Tão cedo não meto os pés na Latada. Alguém sabe onde deixei o Facebook ligado? Gosto Responder 3/11 às 17:30

Acabou o Tacho Da próxima tem mais cuidado! Este já caiu, quem se segue? Gosto Responder 3/11 às 17:42

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

CONSELHO FISCAL: RIP OR NOT?

U

m falecimento ainda por decidir. Os paramédicos não conseguem determinar a Causa, nem sequer o horário de declaração de óbito. Na verdade, não se sabe muito bem sequer se se ligou para o 112, na altura da paragem cardíaca. Acredita-se, diz-se por aí em corredores da Associação Académica de Coimbra, que na verdade nunca houve chamada, porque primeiro era necessário que chegasse uma carta à morada da Padre António Vieira. Ou à secretaria. Tanto faz.

TO BE OR NOT TO BE

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utonomia. Palavra-chave do Regime Fundacional. Imagine-se um passarinho bebé a sair do ninho. Passinho a passinho, um piu aqui, um piu ali. Mas sabes mesmo se queres ser autónomo? Não preferes que te deem as minhocas no bico? Cuidado ao voar, passarinho. Há que pensar bem no esticar de asas, se preferes terraplanagem ou um voo a pique. Talvez devas discutir com os teus irmãos passarinhos, antes destes saírem dos ovos. Mas voa. Daqui a cinco anos há direito de arrependimento.


3 DE NOVEMBRO DE 2016 ARTES FEITAS - 10-

CINEMA

Estranho feitiço em tempo de repetições - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

Doctor Strange De

Scott Derrickson

Com

Benedict Cumberbatch, Tilda Swinton, Rachel McAdams, Mads Mikkelsen

2016

B

enedict Cumberbatch é Stephen Vicent Strange, em mais um filme saído do universo cinemático da Marvel, no meio de nomes como Luke Cage, Ant-Man, Jessica Jones, Captain America ou Daredevil, apenas para citar os mais recentes invasores do grande ecrã ou das televisões, através do serviço Netflix. Uso Strange e não Estranho para designar a personagem principal porque esse é a primeira estranheza que o espectador apanha, o de alguém se chamar Stephen Estranho. A personagem de um neurocirurgião egocêntrico e narcisista, apesar de brilhante, assenta que nem um manto a Cumberbatch, na linha, aliás, do papel que lhe deu fama – Sherlock Holmes. Strange sofre um acidente automóvel que lhe provoca danos irreparáveis nas mãos, afasta a única pessoa que se importa

com ele (McAdams) e acaba por aterrar na capital do Nepal em busca de algo que, para a sua mente física, é intangível. Aí, em Kamar-Taj, é recebido por Tilda Swinton, a feiticeira mais poderosa da Terra. A história avança pelo crescimento espiritual de Strange, numa espécie de ideia de que qualquer personalidade é recuperável com o tempo. O enredo não foge à linearidade de uma batalha de grandes dimensões, como manda um filme de super-heróis, com Kaecilius, um feiticeiro que passou para a dimensão negra, e Dormammu, o demónio desse lugar onde tudo é eterno. Doctor Strange, enquanto película, é exímio no uso de imagens geradas por computador, em sequências a fazer lembrar um não muito distante “Inception”. A cena inicial, em Londres, bem como a de

Segunda feira atenção à direita

4 de novembro de 2016 21h30

Em

teatro académico de gil vicente

C

abuuuuummmm lilililil, dll rrrrr beeee bo fumms Fumms bo wo taa zaa Uu Ut, ré mi fa sol la si este fosse o início de um poema ginástico ou de um concerto de vogais TALVEZ DEVESSE ESTAR ESCRITO EM CAIXA ALTA PARA PARECER QUE ESTOU A GRITAR pois era assim que se fazia no cabaré Voltaire, em Zurique, Suiça, há exatos cem anos. Mas como não se trata de nada disso, escrevo agora dentro da norma culta das línguas lusofofíssimas vigente desde a assinatura do maravilhoso acordo ortográfico de 2012 #sóquenão. Um ato performativo pode nos surpreender em qualquer lugar (dentro de um jornal?). Aliás, talvez este seja seu principal objetivo: surpreender. E é a partir deste estado de surpresa que os presentes diante de tal ato, tipo você, seu lindo, repensam tudo aquilo que haviam pensado até então sobre arte, convenções artísticas, sobre os artistas e suas manifestações.

Afinal, que raio é performance?

Nova Iorque, fornecem um toque cubista e abstrato aos cenários, distorcendo a realidade a um nível próximo do subconsciente. A fórmula, essa, enquanto mais um filme saído da linha de montagem da Marvel, é que se torna batida. É já uma sucessão de filmes, demasiado próximos entre si no tempo, para que o espectador não note uma certa monotonia nas piadas e no fluir dos minutos. E quando os super-heróis já não conseguem reservar surpresas além dos seus poderes, as obras, que podem ser muito boas, perdem por repetição.

A Cabra aconselha

EM PALCO

- POR FÁBIO LUCINDO -

Complicado? Pois é... E nem sempre dá certo. Afinal, trata-se de experimentação. A performance mora naquilo que não tem nome, que não tem ordem, que não tem regra mas tem um fim. Ela defende um conceito através de uma ação interventiva. É dinâmica, instável, contingente, indômita. A performance é o grande catalisador da história da arte no séc. XX e ainda agora, no início do séc. XXI, causa controversa, espanto, escândalo. Às vezes até soa absurdo saber que há exatos cem anos, alguns poucos abastados já estavam fazendo aquilo que ainda hoje causaria transtornos por aqui. Aliás, hoje, cem anos depois, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), você pode acompanhar o projeto Performance, AGORA! e tentar entender melhor do que eu estou falando, se é que há algo para entender visto que a performance está para além do cognitivo; ela se dá num grito libertário de singularidade absoluta. Cinco experiências performativas já foram apresentadas dentro do projeto Performance, AGORA! todas tão únicas quanto questionáveis. Se você perdeu ou nem estava sabendo, ainda dá tempo de conferir.

No próximo dia 4 de novembro, no TAGV, às 21h30, Claudia Dias vai apresentar seu teatro/dança performático chamado “Segunda-feira. Atenção à Direita!” onde, ao que me parece, seremos levados à nocaute discutindo o mundo contemporâneo e nossas violências diárias. Neste caso, levar um soco, mesmo que metafórico, pode nos fazer finalmente sentir algo verdadeiro. Nem que seja para torcer o nariz, vale a pena acompanhar tais manifestações. Vá desconfiado, mas vá. O espetador da performance deve ser um fanático da suspeita. A performance permite ao público uma interação que o teatro poucas vezes oferece. Não é teatro, mas é. Não é dança, mas é. Não tem dramaturgia, mas tem. É nesse pêndulo reflexionante que a performance opera e transforma espaços e pessoas. “A arte existe para que a vida não nos destrua”, dizem que Nietzsche disse isso.

A Cabra aconselha


3 DE NOVEMBRO DE 2016 ARTES FEITAS - 11 -

MÚSICA

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior

Futuro em Glasper

Podia ser melhor A Cabra aconselha

- POR FILIPE FURTADO -

A Cabra d’Ouro

F

azer da arte ciência ou da ciência arte seriam, talvez, as primeiras considerações sobre o título deste disco. Qual é a mais predominante, onde embatem, onde se misturam? Não saberemos, nem interessa saber. Depois de “Black Radio” e “Black Radio 2” chega-nos o novo trabalho discográfico de Robert Glasper Experiment – ArtScience. Glasper e companhia continuam nessa senda longa de mesclar jazz, hip-hop, R&B e de tudo mais um pouco. ArtScience eleva a fasquia dessa experimentação. “Se a minha gente criou tantos estilos diferentes, por que me deveria confinar a apenas um”. É nesta primeira voz que o pianista lança a premissa do disco logo em “This is Not Fear”. A faixa ilustra essa demanda e atravessa a linguagem pós-bop até aterrar no groove do hip-hop. Por oposição aos dois números de Black Radio, ArtScience dispensa vocalistas convidados. Glasper toma as rédeas do microfone em “Thinkin About You” para discorrer sobre as suas histórias amorosas e o resto conta com os dotes de Casey Benjamin, vocalista e saxofonista do grupo. Gravado em Nova Orleães, nos Estados-Unidos da América, o disco é o resultado, pela primeira vez, de composição e produção conjun-

ArtScience De

Robert Glasper Experiment

Editora Blue Note

2016v

ta, no meio de agendas musicais muito ocupadas. Em “Day to Day” recuperam a sonoridade disco em trajes de século XXI, para dançar em loop, mesmo antes de afundarmos em nove minutos de “No One Like You” com um arrepiante solo do saxofone soprano de Casey Benjamin. Além dos temas de composição original, há espaço para a re-interpretação de “Tell me A Bedtime Story” de Herbie Hancock (Fat Albert Rotunda; 1969); ou “Human” de Terry Lewis, que fecha o disco. Quando ouvimos “Find You” atravessamos rasgos de rock progressivo bastante acentuado pela presença de Michael Severson na guitarra com prego a fundo. Se na bateria Chris Dave dá lugar a Mark Colenburg, no baixo continua Derrick Hodge, peças essenciais da sonoridade destes experimentares de Glasper. Seja Robert Glasper Experiment arte ou ciência, certo é que a sua música sobe a fasquia e soa ao futuro.

A Cabra d’Ouro

LIVRO Um inconvencional Harry Potter de sempre - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

H

arry Potter and the Cursed Child (em português, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada) é o oitavo livro da saga do feiticeiro mais famoso do mundo. E é, também, o “livro” mais polémico do conjunto. As aspas são fáceis de explicar, dada a celeuma que envolveu a conversão para papel da peça homónima que estreou no Palace Theatre, em Londres, a 31 de julho deste ano. Torna-se óbvio, ao folhear as primeiras páginas, que não é um livro no sentido convencional e tradicional do termo. Foi essa a razão do descontentamento e desinteresse de muitos leitores fiéis do universo mágico de Harry Potter. Sem que, contudo, lhes pudesse ser imputada qualquer razão, dado que, desde o início, era ponto assente que seria diferente. E o diferente, aqui, é o guião da peça de teatro. É comum as peças de teatro terem uma representação física. As páginas dividem-se em atos ao invés de capítulos, os diálogos prevalecem maioritariamente e as descrições reduzem-se a um mínimo indispensável, uma ponte para os cenários que vão a palco, uma janela que se abre às emoções das personagens e à forma como se relacionam com os restantes protagonistas. E neste livro específico, de capa dura, nada disso

se configura como problemático ou mesmo redutor. Literalmente nada. É que para trás, e para os mais desatentos ou simplistas, há milhares de páginas que causaram uma habituação positiva, uma dependência saudável nos seus verdadeiros fãs. Portanto, o virar das folhas induz de forma natural uma representação mental muito mais próxima ao cenário de qualquer um dos oito filmes do que a um palco de teatro. A história, essa, não deixando de ser nova em inúmeros aspectos, tem em si uma repetição perdoável. Uma familiaridade que se poderia dispensar mas que não deixa de ser recebida de braços abertos. Afinal, é Harry Potter e o imperdoável seria dizer-se que dali não sai mais nada. Como Ginny Potter diz, na página 296, “People think they know all there is to know about you, but the best bits of you are –have always been– heroic in really quiet ways”.

Harry Potter and the Cursed Child

De

J.K. Rowling, Jack Thorne e John Tiffany

Editora

Little, Brown UK

2016 A Cabra d’Ouro


Mais informação em

.pt

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL - POR INÊS DUARTE -

Há ou não fundação na UC?

N

o dia 31 de outubro o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, em conjunto com o reitor da Universidade do Porto, conduziram uma sessão de esclarecimento acerca do Regime Fundacional. Regime esse que tem levantado, ao longo dos últimos anos, imensa controvérsia. O maior problema, tanto para a maioria dos estudantes presentes na sessão, como para a Associação Académica de Coimbra, centra-se no facto de passar a existir um Conselho de Curadores. Este órgão de gestão é constituído por membros externos, que são escolhidos pelo Conselho Geral, e nomeados pelo Estado. Se o Conselho Geral e o Senado já pouca representação estudantil têm, admite-se ainda mais um órgão, que, apesar de não ser deliberativo, homologa decisões a todo o nível da gestão da UC, que nenhuma representação estudantil acrescenta. Denote-se ainda outro aspeto que é trazido como uma vantagem: fornecer mais prestígio e ganho reputacional à instituição. Não existirão, porém, outras maneiras de valorizar a Universidade de Coimbra sem ser através deste regime? É uma exclusividade? Ainda a questão da liberdade de adquirir crédito e arranjar patrocínios torna-se preocupante. Um deslize basta para se contrair dívida e criar dependência das empresas financiadoras. A questão que se impõe é: o ensino deve ou não ser público? E se um regime de direito privado é melhor, deve ou não o Estado lutar para que seja o público melhor e mais autónomo? A resposta parece ser sim, mas ficamos à espera das próximas sessões de debate, que esperamos que incluam toda a comunidade académica.

Se o Senado e o Conselho Geral já pouca representação estudantil têm, admite-se ainda mais um órgão, que, apesar de não ser deliberativo, homologa decisões a todo o nível da gestão da UC, que nenhuma representação estudantil acrescenta”

De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial. 1.ACABRA e ACABRA.PT são dois órgãos de comunicação social académicos cujo objetivo é constituírem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato e estilo diferente que cada um possui – enquanto Jornal Universitário de Coimbra. 2. ACABRA e ACABRA.PT têm como

público-alvo a Academia de Coimbra e é sob este princípio que se devem guiar as decisões editoriais. 3. ACABRA e ACABRA.PT orientam o seu conteúdo por critérios de rigor, criatividade e independência política, económica, ideológica ou de qualquer outra espécie. 4. ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo que se quer universitário no sentido amplo do termo – desprovido de preconceitos, criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente. 5. ACABRA e ACABRA.PT praticam um jornalismo de qualidade, que foge ao sensacionalismo e reconhece como limite a fronteira da vida privada. 6. ACABRA e ACABRA.PT são na sua essência constituídos por um conteúdo informativo, mas possuem espaço e abertura para conteúdos não informativos, que se pautem por critérios de qualidade e criatividade. 7. ACABRA e ACABRA.PT integram-se na Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra, perante cuja Direção são responsáveis; contudo, as decisões editoriais d’ACABRA e d’ACABRA.PT não estão subordinadas aos interesses ou a qualquer posição da Secção de Jornalismo, nem aquele facto interfere com a relação sempre honesta e transparente que ACABRA e ACABRA.PT se obrigam a ter perante os seus leitores. 8. ACABRA é um jornal quinzenal, cuja periodicidade acompanha os períodos de atividade letiva. 9. ACABRA.PT é um site informativo, de atualização diária, cuja atividade acompanha os períodos de atividade letiva.

Ficha Técnica

Diretora Inês Duarte

Paginação João Ruivo

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editora Executiva Carolina Farinha

Ilustração João Ruivo

Equipa Editorial Carolina Farinha (Ensino Superior), Carlos Almeida (Cultura), João Pimentel (Desporto), Mariana Bessa e Rita Fonseca (Ciência & Tecnologia), João Ruivo (Fotografia)

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt

ESTATUTO EDITORIAL

Fotografia Carlos Almeida, Cristina Pinilla Carrasco, Inês Duarte, Inês Nepumoceno, João Ruivo Colaborou nesta edição Luís Almeida, Sílvia Andrade, Rita Grácio, António Ladeira, Bernardo Guerra Machado, Ana Francisca Nunes, Joana Pedro, Pedro Dinis Silva, Pedro Silva

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Paulo Sérgio Santos, Vasco Sampaio

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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