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Gestão/Hamilton Terni Costa

Hamilton Terni Costa

Os diferentes aspectos da embalagem e a questão da sustentabilidade

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Com tanto que se tem falado sobre sustentabilidade ultimamente e o quanto isso impacta e impactará o desenvolvimento das embalagens, escrever sobre esse tema parece redundância. Mesmo assim, acho que ainda há espaço para alguns aspectos relevantes, advindos já da movimentação de empresas nos caminhos da economia circular, que ressalta o recupere, recicle, repare e reuse, além da criação adequada. Ao contrário do pegue, faça e desperdice, da economia linear.

No pensamento da economia circular, tudo, quando termina, deve voltar ao começo e, portanto, um produto já deve ser concebido com

Manufatura

Reciclagem U so d o p r o d u to

pikisuperstar / br.freepik.com essa prerrogativa. O que inclui a máxima extração de valor de cada material enquanto puder ser usado, sendo, depois, reutilizado, recuperado ou regenerado.

O conceito da economia circular vem ganhando força mundialmente, especialmente na União Europeia, pela velocidade de sua regulação e como parte importante de seu plano de recuperação pós-pandemia (ainda que agora a guerra na Ucrânia pareça estar dominando todo o ambiente). O maior motivo é a pressão exercida pelo aumento da percepção dos consumidores sobre a questão do desperdício e degradação do meio ambiente, estando as embalagens na linha de frente dessa percepção negativa. É o chamado paradoxo da embalagem. Uma solução absolutamente necessária para a democratização no transporte e distribuição dos produtos e, por outro lado, uma das chamadas vilãs da natureza pela sua disseminação, descarte e poluição ambiental. Que está muito mais ligada a políticas públicas ambientais e de recolhimento e destinação de resíduos, mas que aparece em primeiro plano em qualquer foto ou reportagem a respeito, principalmente as de material plástico, que têm uma dificuldade muito maior de degradabilidade.

Com isso, as atenções sobre a embalagem aumentam. Seja pela sua maior importância na preservação de produtos em transportes, seja como ponto de contato, de diálogo da marca e do produto com o consumidor, seja como, no seu paradoxo, não se transformar em agente poluidor.

Dentro desse contexto, diferentes aspectos vêm sendo considerados no desenvolvimento de novas embalagens1. E o bom entendimento desses aspectos é fundamental para todas as empresas convertedoras, ou fabricantes de embalagem. Especialmente para todas as gráficas que, cada vez mais, buscam dedicar-se a

esse segmento que já representa o maior faturamento mundial da indústria gráfica, acima de 50% do total de material impresso.

O primeiro aspecto é o do design para a reciclagem. Como se diz no jargão da economia circular, o lixo é o resultado de um mau projeto. A embalagem hoje tem que ser pensada em seu uso e posterior reciclagem deixando a menor, ou nenhuma, pegada de carbono.

Dentro também do design, a possibilidade do reúso. Nos parágrafos seguintes relatamos alguns exemplos disso. Mas, ao se olhar o reúso, também há que se pensar no todo, o que envolve a reciclagem, acima citada. Às vezes, a utilização de materiais com maior durabilidade pode comprometer sua reciclagem.

Algumas marcas estão muito ativas nesse processo. Como é o caso da Coca-Cola, que, em fevereiro deste ano, lançou uma campanha mundial para a reutilização de embalagens com a meta ambiciosa de coletar até 2030 uma garrafa ou lata para cada uma que venderem. O objetivo da empresa é ter também pelo menos 25% de todas as bebidas que vende mundialmente através de todas as suas marcas em garrafas, em vidro ou plástico, retornáveis ou reutilizáveis.

Essas metas vêm dentro de uma iniciativa chamada de World Without Waste (Mundo Sem Desperdício), que se foca em três pilares. Desenho: usar 50% de material reciclado em suas embalagens até 2030. Coletar: coletar e reciclar suas embalagens; e Parceria: trazer as pessoas juntas para dar suporte a um meio ambiente saudável, sem resíduos.

É interessante ver como o Brasil tem importância nessas ações da empresa, tendo começado aqui, em 2018, o que chamam de Universal Bottle (garrafa universal), depois lançada em outros países latino-americanos. Uma garrafa de 2 litros com cor e formato único, que pode ser reutilizada após limpeza e reenchimento com qualquer dos produtos da marca. Um investimento de R$100 milhões da empresa. O uso médio de uma garrafa é de 25 idas e vindas, sendo reciclada após esse uso. As embalagens retornáveis representaram 27% das vendas da Coca-Cola América Latina em 20202. Ou seja, já acima de meta mundial da empresa para 2030.

E pensar que antigamente todas as garrafas eram retornáveis, não é? Os mais vividos seguramente se lembram disso.

Nesse mesmo sentido, a Danone, com sua água Bonafont, anunciou, em 2020, um compromisso de sustentabilidade, que era: recolher e reciclar 100% do volume de plástico que coloca no mercado; reduzir o uso de plástico virgem nos seus produtos e incentivar o uso do seu portfólio retornável de galões. E passou a recolher 100% do volume equivalente de plástico que coloca no mercado. Por isso, já há algum tempo, vemos as garrafas de 1,5 litro da Bonafont com o rótulo “Sou uma garrafa a menos”.

Não são só essas empresas, evidentemente, que estão tendo essa atitude em relação às suas embalagens. A Pepsi e várias outras estão nessa mesma toada, buscando posicionar-se como empre- É o chamado sas engajadas na questão da paradoxo da preocupação ambiental. Seja embalagem. como for, a questão de reu- Uma solução tilização, portanto, vem ga- absolutamente nhando força e já é um dos impulsionadores de todo o design de embalagens nos próximos anos. Outro aspecto relativo a embalagens é o da reposinecessária para a democratização no transporte e distribuição dos produtos e, por ção ou eliminação de mate- outro lado, uma riais ou componentes plásti- das chamadas vilãs cos para serem repostos por da natureza pela bioplásticos ou somente por sua disseminação, papel. Esse é um dos temas descarte e poluição mais debatidos e controver- ambiental. sos na questão das embalagens e meio ambiente. Prega-se muito a eliminação ou diminuição do uso do plástico e, efetivamente, muitas empresas estão procurando diminuir camadas plásticas de suas embalagens flexíveis ou buscando eliminar plásticos de uso único. Na Europa, a regulamentação sobre plásticos de uso único começa a inviabilizar ou até mesmo a proibir sua utilização. Empresas como a Cia. Suzano, por exemplo, estão investindo fortemente em soluções que usam fibras de celulose e outros materiais de base renovável para buscar substituir 10 milhões de toneladas plásticas do mercado em nove anos ou menos.

Mesmo assim, e ainda em muitos casos, o plástico é a melhor solução para a preservação, apresentação e transporte de produtos. Pelo seu custo e pela sua efetividade comercial. A pressão sobre sua utilização é grande e vai crescer mais, mas sua total eliminação não se vê como

algo viável tão rapidamente. E talvez nem deva ser mesmo. Aliás, a própria pandemia acabou por regenerar em muitos casos o uso do plástico por seus aspectos sanitários.

A redução e a eliminação de embalagens na cadeia de produção é outro aspecto que se deve ter em conta, pois várias marcas estão buscando essa “economia”, através do uso das embalagens secundárias usadas no transporte e que se transformam em base para a embalagem primária, a de venda no ponto comercial. Outras, estão procurando eliminar excessos no empacotamento de produtos nos pontos de venda. Há até campanhas, em determinados países, de consumidores que exigem a retirada da caixa de cartão que contém tubos de pastas de dentes, por exemplo. Mas aqui, como em outras circunstâncias, nem sempre o desejado é o mais eficiente, mesmo na questão ambiental. Eliminar proteções de produtos — função primordial de qualquer embalagem — pode levar à degradação mais rápida do conteúdo, especialmente no caso dos biológicos. E eliminar a informação contida nas embalagens, outra de suas funções fundamentais, pode levar a usos inadequados ou à chamada dissonância cognitiva, em marketing. Não sabia, usei e não gostei desse produto . . .

O uso de material reciclado é outro aspecto que vem ganhando força na criação de embalagens. É de se ressaltar a questão da reciclabilidade, em que os materiais não fósseis como o papel e o cartão são expoentes e estão sendo — ainda bem — revalorizados nesse sentido. Parece diminuir gradualmente o greennwashing, que o Two Sides3 tanto combate, que é falar e repetir, sem provas, que o papel destrói as árvores etc. Mas, enfim, o material reciclado vem sendo usado como tentativa de mostrar o reaproveitamento e economia de materiais, o que é bom, desde que feito baseado na economia circular e que seu uso acabe por não afetar a própria qualidade estrutural da embalagem. Fora isso, é só marketing, nada mais.

A busca de novas formas, novos formatos, novas variações no uso de embalagens também vêm sendo estimuladas para designers, marcas e convertedores. Duas iniciativas mais recentes no Brasil tocaram nesse ponto. No ano passado, a Cia. Suzano, junto com a IFood, trabalharam o que chamaram de Desafio de Embalagem para o Futuro, desenvolvendo um concurso para criação de embalagens voltadas ao delivery com soluções inovadoras e com base na sustentabilidade. Dando ênfase em embalagens de papel, livres de plásticos. Diversos participantes trouxeram soluções interessantes, como a vencedora, a “marmita feita com papel cartão”, um projeto feito pelo doutorando e especialista em embalagens sustentáveis Ricardo Sastre, e sua sócia Cristiane Zeni na empresa Mudrá. Iniciativas como essa ou como a do Carrefour, que também lançou no ano passado um desafio de inovaO uso de material ção em busca de embalagens reciclado é outro sustentáveis objetivando aspecto que vem “premiar as melhores ideias ganhando força ecologicamente corretas que na criação de ajudem a aprimorar a gestão embalagens. É de se ressaltar a questão da reciclabilidade, em que os materiais não fósseis como de resíduos e a estratégia de embalagens da companhia”, como destaca no seu material de divulgação. Aberta tanto a empresas como a pessoas físicas, a ideia é o papel e o cartão gerar iniciativas inovadosão expoentes e ras que possam ser aproestão sendo — ainda veitadas comercialmente. bem — revalorizados Enfim, as embalagens nesse sentido. são hoje uma necessidade, um desafio e uma solução para muitas coisas, muitos produtos, muitas cadeias de distribuição, de venda, de acesso aos necessitados e ao consumidor em geral. Ao mesmo tempo em que são questionadas quanto ao seu reaproveitamento e descarte. Por isso mesmo, os conceitos da economia circular em um mundo em transição aplicados às embalagens são essenciais para o seu bom desenvolvimento e futuro. Que tal então levar em conta todos esses aspectos citados nas próximas conversas com seus clientes?

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