Boletim do Kaos - Nº6

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLAR SÃO PAULO - CAPITAL Região Central DGT Filmes Rua 13 de Maio, 70 Ação Educativa Rua General Jardim, 660 Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42 Liberdade - (11) 3105-8217 Restaurante Santa Madalena Rua Sta Madalena, 27 - Bela Vista Conduta Galeria 24 de Maio Porte Ilegal - Galeria 24 de Maio Espaço Matilha Rua Rêgo Freitas, 542 Zona Leste Loja Suburbano Convicto Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta (11) 2569-9151 Locadora New Holiday Rua Nogueira Vioti (11) 2572-2000 Casa de Cultura do Itaim Paulista Pça Lions Clube, s/nº - Itaim Pta. Sebo Mutante Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Paulista Zona Sul Itaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca) Av. Paulista, 149 - 2º Mezanino Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana Loja 1 da Sul Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo Loja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384 Loja 31 - Galeria Borba Gato Estudio 1 da Sul Rua Grissom, 80-a - Metrô Capão Sarau da Cooperifa (Toda quarta as 20h30) Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana Sarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr., 60 Campo Limpo (11) 5844-6521 Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65 Cidade Ademar (11) 5622-4410 Zona Oeste Bar do Santista/Sarau Elo da Corrente Rua Jurubim, 788-a Pirituba Zona Norte CCJ - Vila Nova Cachoeirinha Av Dep. Emílio Carlos, 3641 Banca de Jornal Alt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr. Sarau da Brasa - Bar da Carlita Rua Prof.Viveiros Raposo, 234 Suzano Centro Cultural de Suzano Rua Benjamin Constant, 682 - Centro Santos DULIXO no Marapé tubarao013@hotmail.com www.boletimdokaos.blogspot.com Peça pelo email: boletimdokaos@hotmail.com

Já se passaram seis meses desde que começamos a circular com um jornal de literatura. A princípio demorou um pouco para as pessoas entenderem que o veículo era de literatura, com espaço para música e cinema. Muitos pensavam que se tratava de um jornal de hip hop, talvez porque nós, os editores, trabalhamos diretamente com a cultura. Alexandre De Maio é editor de revista de hip hop e eu organizo eventos como o Favela Toma Conta. Aos poucos foi caindo a ficha e a literatura mostrou que é interessante para um veículo pensado para a periferia. Isso mesmo, periferia e literatura tem muito a ver. Os manos e as minas estão cada vez mais próximos da leitura, apesar da TV ainda fazer muitas vítimas. O livro é importantíssimo na vida de qualquer pessoa. Quem lê enxerga melhor, como diria Sérgio Vaz, capa dessa edição. Eu mesmo achei na literatura uma saída para uma fase difícil da minha vida. Foi nos livros que retomei o controle e me preparei para seguir em frente. Primeiro voltei a ler e, depois, passei a escrever. De 2000 em diante, quando passei a publicar minhas obras, tive uma mudança de vida para a melhor em todos os sentidos. Passei a ser um marido melhor, um pai melhor, um cidadão mais consciente dos meus deveres e direitos. A literatura me dá chão para pisar, me dá luz e inspiração de criar. Leio muito. Em um de meus blogs sobre literatura (www.literaturaperiferica.blogger.com.br), publico comentários sobre cada livro que leio. Só em 2008, foram 36 títulos. Uma média de 3 livros por mês. E de cada livro tiro uma lição, como o “Meu Nome Não É Jhonny” (338 páginas), de Guilherme Fiúza. Confira a lista das obras, aposto que alguma delas vai te interessar:

(01) - Cadernos Negros - Vol. 30 - Vários autores (264 páginas) (02) - A Menina Que Roubava Livros, de Markus Zusak (480 páginas) (03) - Saudades do Meu Sertão, de João do Nascimento Santos (cordel - 8 páginas) (04) - Meu Querido VLADO - A História de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração, de Paulo Markun (200 páginas) (05) - O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini (368 páginas) (06) - POSTESIA - Poesia nos postes, do Binho (86 páginas) (07) - O Cão da Meia Noite, de Marcos Rey (176 páginas) (08) - A Cidade de Sol, de Khaled Hosseini (368 páginas) (09) - Trajetória de Um Guerreiro, do DJ Raffa ( 506 páginas) (10) - Narcotráfico, de José Arbex Jr. (88 páginas) (11) - MANDELA - A Luta é a Minha Vida (344 páginas) (12) - Falcão - Mulheres e o Tráfico, do MV Bill e Celso Athayde (272 páginas) (13) - O Imaginário Cotidiano, de Moacir Scliar (184 páginas) (14) - Estou Viva - Não Uso mais Drogas, de Bell Marcondes (368 paginas) (15) - O Invasor, de Marçal Aquino (240 páginas) (16) - PCC - A Facção, de Fátima Souza (Record - 308 páginas) (17) - Lamarca (Coleção História Não Oficial - 98 páginas) (18) - Sarau Elo da Corrente - Prosa e Poesia Periférica (Coletânea) - Elo da Corrente Edições (140 páginas) (19) - Te Pego Lá Fora, de Rodrigo Ciriaco (Edições Toró - 108 páginas) (20) - A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras - 352 páginas) (21) - RASIF - Mar que Arrebenta, de Marcelino Freire (Record - 136 páginas) (22) - CONDE - (Edições Toró - 72 páginas de textos e gravuras) (23) - MORADA - Textos: Allan da Rosa, fotos Guma. (Edições Toró - 72 páginas de textos e fotos) (24) - Cooperifa - Antropofagia Periférica, do Sérgio Vaz (Aeroplano Editora - 284 páginas) (25) - Crianças Feridas - Uma mina, uma vida amputada, de Reine-Marguerite Bayle. (Ed. SM - 80 páginas) (26) – Predadores, de Pepetela (Ed. Lingua Geral - 562 páginas) (27) - A incrível história de Naldinho, de Fernando Bonassi (Geração Editorial - 24 páginas) (28) - Lambões de Caçarola (Trabalhadores do Brasil!), de João Antonio (L&PM - 42 páginas) (29) - Dois Contos, de Machado de Assis (Editora Unesp - 56 páginas) (30) - Favela Toma Conta, de Alessandro Buzo (Aeroplano Editora - 284 páginas) (31) - Pelas Periferias do Brasil - VOL II (Coletânea - 120 páginas) (32) - Clara dos Anjos, de Lima Barreto (Ed.Brasiliense - 128 páginas) (33) - Meninos do Brasil, de Márcio Batista (Independente - 88 páginas) (34) - Cultura é a Nossa Arma - Afroreggae nas favelas do Rio, de Damian Platt e Patrick Neate (Civ.Bras. - 240 páginas) (35) - Aqui Dentro - Páginas de uma memória: CARANDIRU - Org. Maureen Bisilliat, documentação: Sophia Bisilliat, André Caramante e João Wainer.(Imprensa Oficial - 260 páginas) (36) - Um Segredo no Céu da Boca - pra nossa mulecada - Coletânea (120 páginas)


Não estou tentando entrar em nenhum livro de recordes, só leio por prazer. Tem gente que gasta seu tempo vendo BBB, A Fazenda, novelas e tantas outras coisas. Eu gasto boa parte do meu, lendo. Foi assim que esse ano já li 18 livros. Cada um deles traz o seu próprio universo. Espero que tirem dessa lista algumas dicas de leitura: (01) - Um Fio de Prosa, coletânea de contos com: Mario Quintana, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Ignácio de Loyola Brandão, Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Carlos Drummond de Andrade, Marina Colasanti, Rachel de Queiroz, Luís da Câmara Cascudo e Daniel Munduruku - (Global Editora - 96 páginas) (02) - Cela Forte Mulher, de Antonio Carlos Prado (Labortexto - 216 páginas) (03) - Jornalismo é ... (ABI - 112 páginas), Coord. Nemércio Nogueira, textos de: Boris Casoy, Célia Pardi, Claudia de Souza, Diléa Frate, Jânio de Freitas, José Nêumanne Pinto, Juca Kfouri, Lillian Witte Fibe, Luiz Nassif, Mario Sérgio Conti, Ricardo Noblat, Ricardo Setti, Salomão Esper, Sandro Vaia, Sonia Racy e Zuenir Ventura. (04) - O Olho da Rua, de Eliane Brum. (Editora Globo – 420 páginas) (05) - Livro “Cadernos Negros – VOL 31” (Quilombhoje – 160 páginas) 19 autores, são eles: Sacolinha, Claudia Walleska, CUTI, Dirce Pereira de Prado, Edson Robson, Elio Ferreira, Esmeralda Ribeiro, Fausto Antônio, Jamu Minka, Luís Carlos de Oliveira, Márcio Barbosa, Mel Adún, Miriam Alves, Mooslim, Rubens Augusto, Ruimar Batista, Sergio Ballouk, Sidney de Paula Oliveira e Tico de Souza.. (06) - Memórias de minha putas tristes, de Gabriel García Márquez (Prêmio Nobel de Literatura) com tradução de Eric Nepomuceno (Record – 130 páginas). (07) - Amanhecer Esmeralda, do Ferréz (Editora Objetiva - 48 páginas) (08) - Sociedade do Código de Barras - O Mundo dos Mesmos, de Preto Ghóez (Editora Estação Hip Hop - 300 páginas).

(09) - Psicopata - Os Olhos que Espiam a Próxima Vítima, de José Luiz Tavares (Geração Editorial - 144 páginas) (10) - Ainda no Invisível, de Ana Paula dos Santos Risos - (Independente - 10 páginas) (11) - Para Gostar de Ler - VOL 9 Contos (Autores: Clarice Lispector, João Antônio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Moacyr Scliar, Murilo Rubião e Wander Piroli). (Editora Ática - 96 páginas) (12) - Prosas de Buteco, de Claudio Santista e Paulinho Bispo. (Elo da Corrente Edições - 48 páginas) (13) - EX-157 - A história que a midia desconhece, de Cristian de Souza Augusto, o rapper Afro X. (192 páginas) (14) – Pivetim, de Délcio Teobaldo. (Editora SM - 176 páginas) (15) – Abutre, de Gil Scott-Heron (Conrad Editora - 232 páginas) (16) - De Passagem (roteiro do filme),

de Cláudio Yosida e Ricardo Elias (Imprensa Oficial - 168 páginas) (17) - Eu sou o Livreiro de Cabul, de Shah Muhammad Rais (Editora Bertrand Brasil - 98 páginas) (18) - CRACK, de Cláudio Portella (Independente - 48 páginas) Olha só de quantos livros acabo de falar, quantos autores. Claro que dos 55 livros que li, gostei mais de uns do que de outros, mas vou deixar essa descoberta para você. Indico aqui cada um deles, são 55 dicas de livros só no editorial. Agora vire as páginas que tem muito mais. Afinal, o melhor amigo do homem é o livro. Por Alessandro Buzo


NÃO TENHO DÓ DE QUEM SOFRE, MAS RAIVA DE QUEM FAZ SOFRER. quebradas e bairros recitando poesia. Foi da hora. Uma experiência incrível, vinha gente de outras cidades só para nos ver, foi muito bom e enriquecedor. Como está sendo dar aula de poesia na Fundação Casa? SV: No começo foi muito difícil, porque eu perguntava se alguém gostava de poesia e ninguém dizia que sim. Mas, através das oficinas, fui desmistificando a literatura e agora eles descobriram que gostavam de poesia, só que não sabiam. Esses dias fizemos o Sarau da Cooperifa lá na Fundação Casa – Abaeté e vários internos participaram recitando poesias. Isso é da hora, né? Na Cooperifa também foi assim, muitos não gostavam de ler e, hoje, são leitores vorazes.

NÃO CONFUNDA BRIGA COM LUTA. BRIGA TEM HORA PARA ACABAR, E LUTA É PARA UMA VIDA INTEIRA

ESCREVA POEMAS, MAS SE TE INSULTAREM, RECITE PALAVRÕES

QUEM LÊ ENXERGA MELHOR

Conheço Sérgio Vaz há quase dez anos, vi sua personalidade forte unir muita gente e um movimento literário inteiro se solidificar em volta da Cooperifa. Sérgião, como é chamado pelos amigos, provou que além da sua família, cuida muito bem da sua quebrada e faz a literatura brilhar nos guetos mais conflitantes do Brasil. Nessa entrevista, ele fala de literatura, poesia na Febem e da recente turnê poética da Cooperifa pelo sul do país. O que te inspira a escrever? Qual foi a sua primeira poesia? SV: As ruas, as pessoas simples. Gosto muito desta coisa do cotidiano do meu bairro e de outras quebradas. As histórias das pessoas são ótimas fontes de inspiração. Minha primeira poesia eu não lembro muito bem, mas foi escrita em papel de pão, literalmente. Pois trabalhava no bar e empório do meu pai, nos anos 70. O que te levou a querer organizar um sarau? SV: Sempre gostei de ver gente reunida em torno de alguma coisa, um ideal. Antes do sarau eu ia fazer recital nas escolas da periferia, e aí comecei a levar uns poetas comigo para se apresentarem, trocar ideias com os alunos e coisa e tal. Aos poucos, instintivamente, isso foi se transformando em mim, o coletivo. A falta de espaço para as práticas culturais também contribuiu muito, todo o mundo sabe que na periferia não tem biblioteca, teatro, cinema, museus, etc; só bar. A gente se reunia num bar, antes do sarau, para beber e falar poesia era "A quinta maldita", e lá eu conheci o Pezão, que falou de um bar, O Garajão, em Taboão da Serra. Nós fomos lá ver e

começamos o Sarau da Cooperifa, em outubro de 2001. A Cooperifa veio antes do sarau, em fevereiro de 2001. Quando a gente se encontrava nos camarins dos shows de rap, via você esperando sua vez para declamar uma poesia. O que se passava pela sua cabeça nessa época? SV: Eu pensava que tinha encontrado a minha turma. Porque quando eu comecei a fazer poesia, eu fazia poesia de protesto (até hoje faço), mas com o fim da ditadura, o Brasil entrou na gozolândia. Minha poesia ficou fora de moda, ninguém queria saber mais de racismo e pobreza e foi nos anos 80, ouvindo rap, que pensei: demorou para chegar. Então fui conhecer o rap a fundo. No começo, eu pedia para falar uma poesia, depois em alguns lugares já diziam: “o tiozinho da poesia está aí, chama ele para fazer uma”. Distribuía cartões postais nas filas dos shows e valeu a pena. O hip hop salvou a minha literatura. Devo muito a ele. Fale sobre essa sua última viagem ao Sul com a Cooperifa. Por onde vocês andaram, como foi a experiência? SV: Em maio fizemos uma apresentação no Sesc Florianópolis (SC) e causamos um grande impacto nas pessoas. Então, fomos convidados para fazer uma turnê poética por 15 cidades de Santa Catarina, num projeto chamado Viapoesia. Tivemos a oportunidade de conhecer o estado e suas pessoas. Passamos por teatros, quilombos,

Como você lida com a pouca intimidade que a maioria tem com a leitura? SV: Neste país, independente da classe social, ninguém lê. Mesmo o rico e a classe média que têm dinheiro não leem. Por isso o Sarau da Cooperifa não é um movimento para criar novos escritores, e sim novos leitores. É um movimento de incentivo à literatura e à criação poética. Você faz saraus nas escolas. Se você fosse o ministro da Educação, o que faria? SV: Educação acima de tudo, iria ser um projeto de estado, não de governo. O filho do rico ia ter que estudar na mesma escola que o filho do pobre, ou seja, haveria escola pública de qualidade. Tanto para o professor quanto para os alunos. Aliás, o professor e o aluno iriam ser tratados como patrimônio da humanidade. E ai de quem fosse contra. O pior poeta é... SV: Aquele que se acha mais especial que as outras pessoas só porque escreve. O poeta que violenta o papel com falsas ideologias. O melhor poeta é... SV: Aquele que é poesia. Você imaginou que a Cooperifa se tornaria esse fenômeno cultural? SV: Não. Mas sabia que a Cooperifa acordaria movimentos adormecidos na periferia.


Lula – poderia ser melhor, mas é o melhor presidente que já tivemos. Cooperifa – O sangue do meu corpo. Favela – Um lugar ruim para viver. Gosto só das pessoas que moram lá. Gog – Espadachim das palavras. Qual o melhor momento da Cooperifa nesses últimos anos? SV: Tudo que a gente fez e faz é importante. O Cinema na laje, a Chuva de livros, o Prêmio Cooperifa, a Mostra Cultural, Poesia no Ar, o Sarau toda quarta-feira durante oito anos sem parar, o Sarau nas escolas, lançamentos de livros, CDs de poesia... mas o mais importante sempre é a próxima atitude. Você atingiu as suas expectativas com o Sarau? SV: Ainda não. Queria que mais pessoas da comunidade se interessassem por arte, cultura e literatura. O que você gostaria de alcançar? SV: Independência, pois a maioria das coisas que fazemos é com dinheiro do nosso bolso. O que poderia melhorar na sua opinião? SV: Todo dia a gente aprende um pouco. Como você divide seu tempo? Qual é a sua rotina? SV: Eu tenho insônia, gosto de escrever de madrugada ou pela manhã. Tiro uns dias para ler, outros para escrever e gosto muito de cinema e futebol. Entre saraus, blogs, projetos, novos textos e família? SV: Cooperifa e família são tudo para mim, não me vejo sem eles.

Brasil –Ainda vai ser descoberto. Litera-Rua – Porta voz da literatura periférica. Poesia - Olhos da alma. Sérgio Vaz - Um vira-lata da literatura que vive fuçando o lixo das ruas. Como anda sua incursão pelo mundo dos contos, qual foi sua última poesia? SV: Estou escrevendo um livro de crônicas. Quer dizer, estou aprendendo. Mas escrevi uma poesia "Novos dias" de que gosto muito.

Como você pensa a Cooperifa daqui a dez anos? SV: Estamos pensando em alugar um galpão para as nossas oficinas, bibliotecas, cursos, um lugar para fazer a gente pensar.

Para quem quer começar a organizar um sarau, qual é a sua dica? SV: Tem que gostar de poesia, da comunidade e acreditar na literatura. Tem vários saraus acontecendo em São Paulo, mas são poucos que valem a pena. Sarau não pode virar sinônimo de festa. Muita gente não gosta da gente porque nós somos ortodoxos, mas tem dado certo. São quase 8 anos, quase 400 saraus, toda quarta-feira, não é fácil. Quem está chegando é bem-vindo. Quanto mais, melhor. Mas é preciso saber respeitar.

A Cooperifa pode existir sem o Sérgio Vaz? SV: Não sei, eu é que não posso viver sem a Cooperifa. Quais os principais projetos para a segunda metade desse ano? SV: A nossa segunda Mostra Cultural, que acontece de 19 a 26 de outubro.

Trecho do Manifesto da Antropofagia periférica: A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

Como foi sua infância, o que te tornou um poeta? SV: Como garoto da minha época, eu queria ser jogador de futebol e, apesar de [ter tido] uma infância simples, foi muito bacana. Não precisava de muito para ser feliz, as ruas eram o nosso brinquedo. Acho que me tornei poeta porque não sabia ser bom em nada. Acho que a gente vira poeta porque não sabe fazer mais nada.

Foi difícil fazer as pessoas acreditarem na Cooperifa? SV: Acho que o mais difícil foi a gente acreditar. Hoje tem muita gente que não gosta, mas a Coopeifa já é uma realidade.

A ARTE QUE LIBERTA NÃO VEM DA MÃO QUE ESCRAVIZA

Você acredita em uma transformação radical da periferia? SV: A gente precisa transformar primeiro as pessoas e é muito importante tirarmos a letra R da palavra revolução.

Livros: Colecionador de pedras - 20 anos de poesia (global editora),Cooperifa, antropofagia periférica (editora Aeroplano). www.colecionadordepedras.blogspot.com Twitter: www.twitter.com/poetasergiovaz

Não sei, eu é que não posso viver sem a Cooperifa.

Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros. A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula. Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha. A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar. Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão. Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras. Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.Da Música que não embala os adormecidos.

Quando perguntado sobre se a Cooperifa pode existir sem ele.

Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.


DE TODO MODO, HÁ OS BISCOITOS FINOS DE MANO BROWN, FERRÉZ, PAVILHÃO 9... A ENTRADA DA PERIFERIA NA CULTURA É UM DOS GRANDES ACONTECIMENTOS SOCIAIS DE NOSSA EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA RECENTE, SEM DÚVIDA.

NUNCA TIVEMOS UM CONGRESSO TÃO CANALHA. GOSTARIA MUITO DE VER O EXEMPLO DESSA GENTE PRESA, MAS ACHO DIFÍCIL

Entrevista exclusiva com um dos maiores roteiristas do Brasil. Fomos até a casa do autor para esse bate-papo. Ali Bonassi mora, fica com as filhas e trabalha num escritório com estantes de livros e outras relíquias. Lá, escreve seus textos, roteiros e livros. Parceiro de escritores como Marçal Aquino, foi roteirista de vários filmes, entre eles Carandiru e hoje, na TV, escreve o roteiro para Força Tarefa, da rede Globo. Um cara super humilde e simples, que recebeu o Boletim do Kaos com muita atenção e respeito ao nosso trabalho. Você é autor de diversos livros. Quando foi o primeiro e quantos já lançou? Bonassi: Publiquei meu primeiro livro em 1987, o Fibra Ótica, pela Massao Ohno Editor. Foi um livro de poesia pago por mim e dois amigos meus, o Nereu Velecico e o Marcelo Arbex, que também têm partes nele. O nome é uma homenagem ao Murilo Mendes, que escreveu um livro chamado Transistor, que nós amávamos. De lá para cá, foram mais vinte e poucos títulos, entre contos e romances. Poesia não cometi mais. Eram muito ruins meus poemas. Comente dois deles. Subúrbio e 100 Histórias colhidas na Rua. Bonassi: Subúrbio, lançado em 1994 pela Ed Scritta e relançado pela Objetiva no ano 2000, conta uma história de amor entre um homem de setenta anos e uma menina de sete, na periferia leste da cidade de São Paulo. O livro, de certa maneira, registra uma São Paulo que não existe mais, com bairros que surgem sobre os escombros de outros e seus operários sendo progressivamente substituídos pelas máquinas. O 100 Histórias colhidas na Rua traz contos curtos, instantâneos da cidade, que eu saía para buscar por aí com minha caderneta em punho. Como você define a importância da literatura? Bonassi: Literatura é civilização, refinamento, alegria, pacificação, prazer... Eu me lembro do dia em que me tornei escritor: apaixonado por uma garota aos 12 anos, e com vergonha de falar com ela, resolvi escrever-lhe um bilhete. Acontece que, enquanto eu escrevia, ia percebendo que a minha angústia se aliviava. O próprio ato de pôr em palavras os meus sentimentos já tinha me tornado mais são. Não mandei o bilhete, esqueci da garota e decidi que queria fazer aquilo para sempre. Se eu não fizesse o que faço, aliás, seria uma pessoa péssima, de má índole, violenta e injusta. Eu me conheço, a literatura me doma. Indique um ou alguns livros. Bonassi: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Trópico de Câncer, do Henry Miller e O Estrangeiro, de Albert Camus Um autor. Bonassi: Juan Rulfo. Como você vê a literatura produzida hoje nas periferias? Bonassi: A literatura produzida nas periferias das grandes cidades brasileiras cresce a cada dia em termos de títulos, diversidade e de qualidade. É natural que assim seja, já que essa região, injustamente excluída até então, nunca fez parte da paisagem cultural brasileira e agora encontra seu lugar de direito. Claro que há também bobagem sendo escrita no meio disso. Também é natural. Cara que confunde atitude com violência e violência com liberdade. Trabalhei no Carandiru, sei que nada de bom frutifica na porrada. De todo modo, há os biscoitos finos de Mano Brown, Ferréz, Pavilhão 9... A entrada da periferia na Cultura é um dos grandes acontecimentos sociais de nossa experiência democrática recente, sem dúvida.

FORÇA TAREFA, SE FOR BOM, TERÁ VALORIZADO O PROFISSIONAL DE POLÍCIA PREOCUPADO COM A INVESTIGAÇÃO, A LEI E A DEMOCRACIA.

Você é corroteirista de filmes como Os Matadores (Beto Brant), Através da Janela (Tata Amaral), Castelo Rá-Tim-Bum (Cao Hamburger), Carandiru (Hector Babenco), entre outros. O que mais te dá prazer, a literatura ou o cinema? Bonassi: São dois prazeres diferentes. Roteiro de cinema você está o tempo todo debatendo com o diretor, o produtor e os outros membros da equipe. É um texto coletivo, que não existe sem a presença de uma série de artistas no processo de realização. Às vezes enche o saco porque você tem que mudar o que criou em função da locação, da grana que falta, do ator que não pode fazer isto ou aquilo e coisas que tais. É um grande aprendizado, agiliza a sua mente e inibe aquela frescura de “eu sou autor”. Em cinema, não existe um autor, mas vários. A literatura é sempre solitária, mas é maravilhosa por isso mesmo. Nos meus textos literários ponho quantos figurantes e imagino as paisagens que quiser, pois não vai ter nenhum produtor para me encher o


saco. Mas insisto, não gostaria de ser só escritor. Sou do debate. Tenho tesão numa boa discussão. Mais de uma vez quase saí no braço com meus parceiros ou contratantes. Normal. Quando a coisa é boa, a energia é essa mesmo. Aprendi e aprendo muito com as pessoas com que trabalho. Como é trabalhar com tantos diretores consagrados? Bonassi: As pessoas, em geral, fazem uma ideia equivocada desses artistas consagrados. É tudo gente como a gente, angustiada para fazer um bom trabalho, querendo ser amada como qualquer um de nós. De todo modo, caras como Beto Brant, Jean Claude Bernardet, Hector Babenco, Yu Likwai e a Sandra Werneck me impuseram desafios profissionais que me tornaram não apenas melhor roteirista, mas pessoa menos ruim. Um filme nacional. Bonassi: Os Fuzis, de Ruy Guerra.

Em 2006, estreou na direção com a peça Centro Nervoso. Pretende se tornar diretor também no cinema? Bonassi: Cinema é um troço que demora muito para reunir os recursos e criar. Não tenho saco de esperar. Não pretendo dirigir cinema, não. Todos os diretores que eu conheço têm ou tiveram câncer, perdem as mulheres, ficam carecas e rancorosos. É um trabalho terrível e com pouco tempo de gozo. Stanley Kubrick comparava essa atividade com a organização de uma batalha! Cite quais obras suas foram adaptadas para o cinema. Bonassi: Um Céu de Estrelas, filme de Tata Amaral com roteiro de Jean Claude Bernardet e Roberto Moreira; e Latitude Zero, de Toni Venturi, com roteiro de Di Moretti. Dei sorte, são dois filmes que eu admiro muito.

Quais outros prêmios ganhou Um filme estrangeiro. como roteirista? Bonassi: Hiroshima Meu Amor, de Alain Bonassi: Ganhei alguma coisa em Resnais. Recife, Gramado, Cuiabá, além dos prêmios TAM. Nenhum desses Cazuza ganhou o Prêmio TAM de Cin- prêmios colocou comida no meu ema Brasileiro em 2004 pelo roteiro prato. Levanto todo dia às oito e adaptado, prêmio que você havia trabalho até às sete da noite. ganhado um ano antes com Carandiru. Comente essas premiações. Por que deixou a Folha de S.Paulo Bonassi: Premiações representam apenas em 2007, onde esteve por dez o gosto daquele júri que está lá naquele anos? E nos diga: pretende esmomento. É bom ganhar, é gostoso, você crever em outro veículo? se sente reconhecido, coisa e tal; mas eu Bonassi: Deixei a Folha porque fui te diria que há mais quem merece e não deixado, porque não queriam mais ganha do que vencedores. meus textos lá. Acho isso normal em qualquer relação de trabalho: uma Atualmente fez o roteiro de LULA – hora querem, outra não. Escrevo para Filho do Brasil, de Fábio Barreto. Você quem me encomenda, mantendo a votou no Lula? Como vê o governo minha dignidade. Logo, nunca deixo dele? de escrever para outros veículos, Bonassi: Votei no Lula sim. É um governo agora como free lancer. que, em tese, tem os mesmos compromissos que eu. Agora, os aliados para obter Agora você é roteirista do seriaisso são desoladores. Eu preferia que o do Força Tarefa. Antes de falarpresidente viesse a público e repetisse mos dele, o que achou do filme aquela história de picaretas no Congres- Tropa de Elite? so, que repetisse e assumisse, que Bonassi: Força Tarefa foi encocriticasse, que se colocasse fora da mendado a mim e ao Marçal Aquino, sujeira dos ladrões de galinha no Legis- pois a Globo, há muito tempo, queria lativo. Nunca tivemos um Congresso tão fazer um seriado policial. Fomos canalha. Gostaria muito de ver o exemplo chamados pelo José Alvarenga Jr. e dessa gente presa, mas acho difícil. O tivemos toda a liberdade para criar governo ficou comprometido pelas e contar as nossas histórias. É uma alianças. Esse papo de que precisamos vitrine muito boa, o salário também dessa putaria para administrar o país é uma e ninguém nos enche o saco, muito mentira deslavada. pelo contrário, os autores são muito bem tratados lá. Nunca tive tanta E o Teatro, comente as principais deferência em torno de mim. montagens. Enquanto for assim, continuaremos Bonassi: Teatro é o lugar da liberdade trabalhando com a dedicação destes coletiva, um grupo de gente maluca que últimos meses. Quanto ao Tropa de se tranca numa sala para criar cenas, Elite, o filme tem a importância de comover e incomodar. Trabalhei com jogar uma luz nova sobre a questão gente comprometida, estudamos muito o da violência, observando o lado da que queríamos dizer e brincávamos para polícia. Poucos filmes nacionais têm encontrar a melhor forma no palco. Eu o mérito de colocar em evidência anotava o que os atores faziam e um assunto tão crucial para a gente, roteirizava. Teatro é vivo, se inventa todo além da realização impecável que o dia. Destaco o aprendizado que tive com filme tem. O filme, entretanto, me o Teatro da Vertigem, no espetáculo incomodou um pouco, pois saí do Apocalipse 1,11 e Arena Conta Danton, cinema com vontade de matar com a Cia Livre, de Cinele Forjaz. malandro. Não gosto de trabalhar

este assunto neste registro melodramático num país tão pobre e tão burro como o nosso. Pode inspirar os maus instintos. Você viu o *filme feito para vangloriar a R.O.T.A. (Rondas Ostensivas Thobias Aguiar)? O que acha disso? Bonassi: Não vi este filme. E se foi feito com essa intenção, não preciso ver. Tomei umas três gerais da ROTA nos anos setenta e não gostei do tratamento que me foi dado, nem do que fui obrigado a ouvir na ocasião. Agora sim, comente Força Tarefa? Bonassi: Força Tarefa, se for bom, terá valorizado o profissional de polícia preo-cupado com a investigação, a lei e a democracia. Suas considerações finais? Bonassi: Agradeço a honra que vocês me dão de estar aqui, expondo as minhas ideias e divulgando o meu trabalho, mas não gosto de fazer isso não. O melhor de mim está nos livros, nas peças e nos filmes. Quem fala demais acaba não escrevendo. Uma coisa vaza a outra... Aliás, é melhor parar. *O filme Rota Comando, de Elias Junior, que bancou a obra, não conseguiu captar patrocínio e investiu do bolso cerca de R$ 500 mil. Uma das respostas que recebeu (segundo matéria da Folha de S. Paulo, publicada em 19/7), do grupo Pão de Açúcar, foi: “Nosso slogan é 'lugar de gente feliz', e não 'de gente morta'.”


Sua obra Crime e Castigo, publicada em 1866, é considerada por muitos como uma das mais famosas da literatura mundial. E seu último romance, Os Irmãos Karamazov, foi considerado, por Sigmund Freud, como o melhor romance já escrito. Sua literatura russa é marcada pelo anticapitalismo, tema que se identifica com periferias brasileiras, apesar das grandes diferenças culturais. Sobre ele se falava muita coisa. Foi considerado gênio do mal, segundo Máximo Górki e perigoso, segundo Stálin. É por isso que, até 1953, o currículo soviético para estudos universitários sobre o escritor o classificava como "expressão da ideologia reacionária burguesa individualista". Ele foi considerado um inovador e tido como o fundador do existencialismo. Seus livros e contos descreviam autodestruição, relatavam a humilhação e o assassinato. Uma das suas características literárias era a análise de estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio. Suas publicações foram chamadas de romances de ideias e muitas escolas de teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias. A vida que formou esse incrível escritor foi conturbada. Dostoiévski, aos 17 anos, teve uma grande crise de epilepsia após saber que seu pai havia sido assassinado pelos próprios colonos que o julgavam autoritário.

Descreveu a terrível experiência nos livros Recordações da Casa dos Mortos e em Memórias do Subsolo.

Contra tudo que um dia Me julgou incapaz Contra o que um dia alegou Que minha capacidade Estava na cozinha Que falou que minha sina Era ser submissa Sou mulher negra e resisto! Contra a mídia Que tenta me prostituir Contra o embranquecimento Sobre a minha negritude, tenha respeito!

Seu principais livros são: Crime e Castigo; O Idiota; O Jogador; Os Demônios; O Eterno Marido e Os Irmãos Karamazov. Publicou também contos e novelas. Criou duas revistas literárias e ainda colaborou nos principais órgãos da imprensa russa. Seu reconhecimento só veio por volta de 1860, com a publicação dos grandes romances: O Idiota e Crime e Castigo. Seu biógrafo, Nicholas Berdiaiev, certa vez descreveu sua importância: “A literatura de

Dostoiévski é de tal modo grandiosa, que o simples fato dele ter nascido justifica a existência do povo russo no mundo. Ele testemunhará a favor dos seus conterrâneos no juízo final das nações."

Morreu às oito horas e trinta minutos da noite de 28 de janeiro de 1881 e seu funeral foi grandioso para um simples escritor. Um decreto conferiu a pensão de 5.000 rublos à sua viúva Deixou o exército cinco anos e ordenou que os seus quatro filhos depois para dedicar-se integral- fossem educados à custa do tesouro mente à atividade literária. Sua mãe nacional. morreu quando ele era muito jovem e foi em São Petersburgo que estu- Algumas de suas frases famosas dou engenharia numa escola militar Conhecemos um homem pelo e se entregou à leitura dos grandes seu riso; se na primeira vez escritores de sua época. Sua primeira produção literária, aos 23 anos, foi que o encontramos ele ri de uma tradução da novela Eugénie maneira agradável, o íntimo Grandet, de Balzac. Seu primeiro ro- é excelente. mance foi Pobre Gente. Mas, em 1849, foi preso por participar de reuniões subversivas na casa de um Nem homem nem nação revolucionário e condenado à podem existir sem uma ideia morte. sublime. No entanto, diante do pelotão de fuzilamento, teve sua pena convertida em trabalhos sociais por Nicolau 1º e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Omsk e mais cinco como soldado raso.

SOU MULHER NEGRA E RESISTO!

Suas crises de epilepsia ele atribuía a "uma experiência com Deus", e tiveram papel fundamental em suas crenças. Foi inspirado pelo cristianismo evangélico e passou a pregar a solidariedade como principal valor da cultura eslava. Em 1857, casouse com Maria Dmitrievna Issaiev, mas Polina Suslova, que conheceu dois anos antes, seria seu romance mais profundo. Em 1864, viúvo de Maria, terminou seu caso com Polina e em 1867 casou-se com Anna Snitkina.

A vida é um paraíso, mas os homens não o sabem e não se preocupam em sabê-lo.

Sou negra e resisto! E graças à minha ancestralidade De mulheres guerreiras Tenho em quem me apegar... Pois Carolina Maria de Jesus Resistiu, mesmo passando fome Não se rendeu ao dinheiro fácil E com sofrimento Em meio ao papel que catava Encontrou um caderno e uma caneta E fez disso uma arma Para denunciar toda miséria Sofrida na favela...

DICA DE SITE A iniciativa Literático

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site

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Se você for escritor(a) ou não, ele também é seu, pois foi feito para o Literático, que é a pessoa interessada em fazer, promover ou até mesmo somente conhecer a literatura e os assuntos que a entornam e a compõem. É com esse texto de abertura que o site traz contéudo e matérias sobre poesia e literatura. A ideia é reunir informações e dicas importantes para auxiliar um escritor ou escritora, desde seu processo de criação até o ponto final: mostrar sua obra a uma editora. Também tem algumas curiosidades sobre os assuntos básicos que envolvem os livros: os Direitos Autorais, o Processo de fabricação do livro-objeto, as novas formas de publicação, as várias discussões e correntes literárias atuais.

Resistente como Luiza Mahin Que era princesa africana Lutou bravamente na revolta dos Malês Vendendo seus quitutes Ajudava os irmãos com Os recados que passava Resisto como a preta Anastácia Que usou mordaça de ferro Por ter rejeitado um “senhor branco” Era bela, chamada de princesa Nunca negou sua nobreza Resistente como mãe Menininha dos Gantoá Pois sofreu repressão por praticar o candomblé Foi presa, perseguida... Mas não deixou de executar a religião Era certa que o candomblé Era o último meio de resistência E dignidade negra E como muitas outras mulheres negras Resisto e resistirei! Somos fortes, somos mais que guerreiras, Somos deusas... Somos verdade, beleza, sutileza, fortaleza, Somos história, e não lenda

No espaço ainda tem agenda com eventos, concursos e prêmios ligados à literatura.

Por toda mulher negra Que lutou e resistiu Hoje eu bato no peito e grito Com verdade e pensamento convicto EU SOU MULHER NEGRA E RESISTO!

Acesse: oliteratico.webnode.com

Por: Raquel Almeida www.elo-da-corrente.blogspot.com


NOME/Jairo Periafricania TIME/Corinthians FAMÍLIA/Só os verdadeiros(as) LITERATURA/Fundamental, me faz conhecer e viajar pelo desconhecido UM LIVRO/Negras Raízes (A saga de uma família) de Alex Haley UM ESCRITOR/Paulo Lins UM POETA/Mario Quintana UM FILME/Cidade de Deus UM ATOR/Al Pacino UMA ATRIZ/Fernanda Monte Negro O QUE TE DÁ PRAZER/ Viver o que vivo e estar com as pessoas que realmente amo O QUE VOCÊ NÃO SUPORTA/O descaso dos governantes, a prepotência de uns e outros e aqueles que se julgam imortais

IDEIAS CRUZADAS

Agradecimentos a Crônica e Nina Fidelis

1-Sacolinha 2-Toni C 3-Racionais 4-Guerreira 5-DRR 6-Dexter 7-Hutúz 8-Zumbi 9-Maca 10-Sabotage

1 – Autor de 85 letras e um disparo 2 – Organizador do hip hop a lápis 3 – Clássico Um Homem na Estrada 4 – Um dos livros de Alessandro Buzo 5 – Posse da zona leste

6 – 8° Anjo 7 – Festival anual de hip hop 8 – Líder de Palmares 9 – Fundador da Blackitude – Nelson? 10 – Rap é compromisso

TRÊS LUGARES QUE FREQUENTA/Periferias onde posso ir e a Cooperifa UM SONHO/ Lançar um CD e fazer com que as pessoas ouçam UMA PERSONALIDADE/ Mano Brown UM ARTISTA/ Renato Russo

www.periafricaniarap.blogspot.com


Fomos até o Sarau da Brasa para lançar a edição nº4 do Boletim do Kaos. Devíamos uma visita aos parceiros que já conhecíamos nos roles da Cooperifa. Presenciamos uma noite de sábado na zona noroeste de São Paulo, um sarau com muita música, atitude, poesia e descontração.

No sarau funciona uma biblioteca e o bar se transforma em centro cultural, quem quiser pode, sem nenhuma burocracia, levar um livro e trazer no próximo encontro. Com um pouco mais de um ano de sarau, a rapaziada tem muita disposição e leva a poesia por onde passa. Para se ter uma ideia, só em um fim de semana a turma alto astral visitou mais de 7 lugares diferentes. Recentemente, o coletivo teve um projeto aprovado pelo VAI e lançou a sua antologia e outros livros. www.marildafoto.blogger.com.br

A região em que está situado o sarau foi um lugar de refúgio dos negros no século passado e toda essa energia, força e ancestralidade você sente na pele. Às 20h30 - Bar do Carlita Rua Professor Viveiros Raposo, 234 (em frente à escola E.E. João Solimeo). Brasilândia, zona norte. Entrada franca. Telefone: (11) 3922- 8593. Quer acompanhar o dia-a-dia e as atividades desse coletivo? Acesse.

Ferréz sempre foi ativo e participou de vários projetos e iniciativas sociais. Mas foi no seu bairro, o Jardim Comercial, no Capão Redondo, que fundou o projeto Interferência. A casa leva o mesmo nome do seu quadro na televisão, mas agora sua interferência é na vida das crianças da região, levando cultura e literatura. “Foi a vontade de fazer a coisa do meu jeito. Vi em várias entidades muita coisa legal, mas sempre achei a literatura mal trabalhada. Tendo esse amor pela palavra, acho que posso passar isso mais diretamente num projeto mais meu; fora que a quebrada merecia ter um espaço assim, e eu perdi muito tempo acreditando em artista, tentando ajudar carreira dos outros. Na verdade, todo o mundo só quer palco, muito discurso. Agora, pelo menos, meu tempo é mais bem utilizado”, falou o escritor ao BK. No espaço, as aulas são baseadas no método arco-íris. A parte pedagógica fica com a Tia Dag (Casa do Zezinho), a arte-educadora Evanice dá aulas de pinturas, desenhos e jogos educativos. Ferréz é reponsável pela leitura e Léo ensina ioga. A casa ainda conta com uma sala para assistir a sessões de cinema. Quando questionado se sua interferência no bairro é uma ação que alimenta também sua literatura de alguma forma, Ferréz respondeu “Não, pois o novo romance que estou fazendo há tantos anos, não tem nada sobre periferia; o que me dá é um prazer enorme como morador daqui, poder ver as crianças em contato com a arte. Isso é maior que tudo. Eu sempre me dei bem com crianças, não é à toa que coleciono bonecos e tudo mais. Elas são sinceras, mais fácil de lidar do que qualquer adulto.”

brasasarau.blogspot.com

Dia 6

Dia 11

Workshop com o rapper espanhol Jota Mayuscula, um dos maiores nomes da produção europeia. Cadastre-se na loja 1 Dasul, é gratuito e as vagas limitadas. Rua Grissom, 80 A Parque Vera Cruz. a 50 metros do metrô Capão, São Paulo.

Sarau da Ademar na Escola Estadual Martins Pena.

Dia 9 Aniversário Sarau da Ademar, às 20h - Espetáculo Teatral Anfiteatro da Escola Estadual Martins Pena (Rua Prof. Paulo MangabeiraAlberanaz, 150 – Americanópolis, São Paulo) Telefone: (11) 5565-3371). www.saraudademar.blogspot.com

Dia 10 às 20h30 - Cine Buteco - Nakasa Bar - Rua Públio Pimentel, 65 (alt. do nº 3.800 da Av. Cupecê) Cidade Ademar. Eentrada Franca. Telefone: (11) 5622-4410.

Dia 12 Grande show com diversos grupos de rap do Distrito Federal. Gog, Cirurgia Moral, Dj Jamaika, Voz Sem Medo, Guind’Art 121 e Provérbio X entre outros. Green Express, centro de São Paulo. Música no Pé de Manga (Rua Prof. Felício Cintra Do Prado (alt. do nº 153) – Cidade Ademar.

Dia 13 às 14h - Maracatu, voz e violão com a Banda T e, às 18h, Sarau da Ademar - Nakasa Bar.

Dia 15 Exposição Gabriel 470: Street Art. Mostra coletiva organizada pela QAZ. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 470 - São Paulo.

ESPAÇO MATILHA CULTURAL PROMOVE SETEMBRO VERDE NO CENTRO DE SÃO PAULO Evento conta com a estreia do filme francês Home, Ecosystem, documentários, palestras e debates sobre meio ambiente A pré-estreia do filme Home, dia 1 de setembro, será na sala de cinema da Matilha Cultural, que terá um agenda de exibição pelo mês inteiro. O filme foi dirigido pelo francês Yann Arthus-Bertrand e produzido por Luc Besson. Na primeira semana, os temas das palestras serão Amazônia, Mudanças Climáticas, Oceanos e Mobilização em Rede. Serão realizados workshops com músicos participantes do festival de música Eletrônica Ecosystem. “Poder exibir o filme Home, apoiar festivais musicais e promover estes debates e palestras para democratizar o conhecimento sobre a questão ambiental, além de servir como ponto de encontro para entidades e pessoas de todos os tipos e partes da cidade, são os nossos objetivos com o Setembro Verde”, disse Ricardo Costa, idealizador da Matilha Cultural.

Para a programação completa acesse www.matilhacultural.com.br

Maiores informações e muito mais opções acesse nossos parceiros e informe-se no site da Ação Educativa que tem uma agenda sobre os vários eventos no mês www.acaoeducativa.org.br/ agendadaperiferia No site Catraca Livre você tem uma agenda que tem eventos, cursos, cinema, teatro, exposições, palestras e encontros www.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seu evento na próxima edição entre em contato pelo email boletimdokaos@hotmail.com


Filhas de pai iemenita e mãe inglesa, Zana e Nadia, com 15 e 14 anos, vivem na Inglaterra com mais três irmãos. Os outros dois irmãos que vivem no Iêmen com os avós são segredo entre a família, pois seu pai os deixou lá contra a vontade da mãe. Elas são adolescentes que têm o privilégio de viver essa fase com intensidade, gostam de ouvir música, dançar, estudar, usar saias curtas, fumar cigarro escondido, fugir para se encontrar com os paqueras. Nem se dão conta de que milhares de mulheres em outros países nunca tiveram esses pequenos prazeres. Zana tem um namorado negro, ai se o pai sabe! Ele vive as ameaçando, dizendo que ainda vão aprender a viver como mulheres decentes. E acaba cumprindo essa promessa, vendendo as duas filhas. Zana pensa que está viajando de férias para conhecer o país de seu pai acompanhada por um amigo da família, que mais tarde descobre ser o seu sogro. Ele a comprou para se casar com seu filho de 13 anos e assim ter direito a um documento europeu. Quando ela se dá conta de que foi vendida, que é uma escrava, violada todas as noites por seu marido sob a ameaça do sogro (caso não durma com seu marido será castigada) quer evitar o inevitável: que sua irmã mais nova, Nadia, que também foi vendida, venha para o Iêmen.“A aldeia onde Zana

agora se encontra, nas montanhas do Iêmen, não está localizada em nenhum mapa. Para ela que cresceu com a liberdade da Inglaterra dos anos 80, conhecer a realidade de um país onde as mulheres não podem ter vontades, direitos, escolhas - ou seja, não podem ter vida - é um choque, um absurdo, uma morte lenta. Apesar de seu sogro conhecer a modernidade, já que viveu em Inglaterra, submete a família ao que ninguém se atreve a discutir: as tradições, nas quias o homem é o senhor que decide por tudo e por todos. E para quem se atreve a afrontálo a resposta é óbvia: a violência, mental e física. Sua irmã também chega, acompanhada pelo sogro e conhece o seu marido, como também a escravidão, violência e a resignação.“Zana não aceita, seu espírito não se conforma com o que está vivendo. Trabalha todo o dia como uma escrava num local onde a falta de informação, ausência de qualquer tipo de desejo, de ser ela, de ser mulher, de ser feliz é algo normal e as mulheres aceitam como a única opção.“ Ela luta por sua liberdade, seja ouvindo suas cassetes de músicas ou relendo os livros ingleses que levou para não esquecer seus gostos, para se lembrar que é livre para amar; revendo as fotografias para saber que tem uma mãe e não acredita que ela tenha consen-

tido com tal crueldade contra as próprias filhas.

o possível e o impossível para libertá-la e os filhos. Mas sua luta estava apenas começando.

Por muitas vezes sente que está vivendo num século passado e isso devido as péssimas condições de vida e a mentalidade das pessoas que convivem.

Para conhecer o desfecho da história, acompanhe a segunda parte no livro, da mesma autora, Um presente para Nádia.

Ela descobre que o seu pai tramou tudo escondido, quando, quatro anos depois, grávida de seu primeiro filho e quando sua irmã Nadia já espera o segundo, conseguem finalmente contatar a mãe, que entra em choque quando vê as filhas, de véu, escravas, casadas, mães e infelizes. Autênticas mulheres árabes, como queria o pai. São obrigadas a engolir uma cultura que a alma delas não aceita. E Zana luta para que ela, a irmã e os filhos voltem a ter uma vida, sejam livres e não sejam tratados como animais, domados pelos homens. Depois de muita luta e dor, precisaram os meios de comunicação fazerem barulho e lidarem com a negligência dos governos britânico e iemenita. É difícil negociar o direito de uma mulher num país onde o homem é quem decide o seu destino. Sete anos depois Zana se viu livre de sua prisão, conseguiu o divórcio e pôde sair do país. Mas ela deixou o filho, a irmã e os sobrinhos. Nadia se recusou a deixar os filhos. Zana fez uma promessa para a irmã: fazer

Comunique-se Olá, camarada, tudo certo? As edições do Kaos chegaram por aqui e achei bem massa o formato do jornal, a divulgação da literatura tradicional e, principalmente, dessa feita nos subterrâneos, bem à parte das grandes editoras, que, assim como as rádios, funcionam à base do jabá. Sem querer me alongar muito, faço prévestibular comunitário numa comunidade aqui do Rio (chamada Nova Holanda) e a minha ideia é deixar o Boletim na biblioteca deste espaço. Queria saber se tem algum ponto de distribuição por aqui? Valeu mesmo pela consideração de ter me respondido e enviado o jornal. Manoela Salve, salve Buzo e toda a equipe! E aí rapaziada, os jornais chegaram. Vieram na mão como o prometido e nós só temos de agradecer a vocês! É muito louco, porque tem um conteúdo não só do hip hop, mas também das paradas culturais, dos livros dos manos e dos autores que escrevem o que a gente vive. Acho que é por aí, tá ligado? A cultura se completa através do conhecimento.

Aí Buzo, no que você, o Alexandre e todos vocês precisarem, estamos aqui para fortalecer! Grande abraço e gostaríamos de continuar recebendo o Boletim, se for possível! Agradecido de coração! Hip Hop Atitude

estou enviando o meu endereço daqui, de Salvador, para ver se rola de eu conseguir receber o Boletim. No mais, desejo que o Boletim do Kaos cresça ainda mais. Fiquem na paz. Bruno Araújo Oliveira

Salve, Salve. Primeiramente, gostaria de parabenizálos pelo excelente trabalho do Boletim do Kaos. Tenho conseguindo ler algumas edições pela Internet e, cada vez mais, me apaixono por tudo que vem sendo escrito no jornal. Parabéns mesmo, do coração. Agora, depois de rasgar seda, eu queria saber se é possível receber o Boletim do Kaos aqui em Salvador-Bahia. Como moro fora de São Paulo, fica super complicado para eu conseguir ter acesso ao BK. Mas, se vocês puderem mandar para a minha casa, isso seria uma coisa maravilhosa, pois eu adoro muito literatura e, como, infelizmente, eu não posso estar aí perto de vocês, receber o BK seria uma maneira de aliviar essa distância. De qualquer maneira, independente da resposta,

Resposta Boletim do Kaos: Agradecemos a todos que, junto com a gente, fazem desse sonho uma realidade. Para receber o jornal na sua cidade, basta mandar um e-mail. boletimdokaos@hotmail.com

Para trocar ideias, mandar e-mail e falar com a redação mande pra boletimdokaos@hotmail.com


Periferia de São Paulo, extremo da zona leste. Mário é um malandro. Não diria um marginal, mas um cara que leva a vida em cima da linha que separa o certo do errado. Tempos atrás, ele trabalhou na Bolsa de Valores de São Paulo, era contínuo, boy interno, pau para toda obra. Andava numas roupas sociais, parecia bacana. Nesta época conheceu Rita e, cheio de 171, conquistou a moça. Moça direita, diga-se de passagem. Mário, que de bobo não tem nada, casou-se com ela e a chama de minha flor. Ela trabalha de enfermeira num hospital e Mário, digamos assim, é um desempregado convicto desde que, há 10 anos atrás, saiu da Bolsa. Os panos sociais se foram com o tempo. Mesmo tempo que emprego, emprego mesmo, ele deixou de procurar. Adotou a frase: “Não tem emprego para quem tem pouco estudo, blá, blá, blá...” Rita briga, ameaça ir embora, mas... fica. Basta ele pegá-la por trás quando está distraída lavando a louça e sussurrar em seu ouvido: minha flor. Toda a raiva passa e a cama pega fogo. Mário leva Rita no bico. Não que ele não faça nada e seja sustentado pela mulher. Mário faz todo e qualquer bico que aparece, servente de pedreiro (não teme serviço pesado, só evita); às quartas-feiras ele ajuda na feira da rua de sua casa, só não faz as outras feiras da semana com o Tião das bananas porque precisa acordar muito cedo e ele já tentou, mas não conseguiu. Trampa às quartas porque os próprios feirantes acordam ele. O barulho começa cedo, ele passa um café, bola um baseado e sai para ajudar o Seu Tião a montar a banca, oferece café a todos, faz festa. “Vai fumar esse baguio fedido para lá, Mário. Depois você volta”, reclama Tião. Ele sai rindo e dizendo: “Fede, mas é bão”. Quando a situação aperta, ele faz um bico mais perigoso. Compra 50, 100 gramas de maconha e, por alguns dias (até levantar uma grana), vende trouxinhas de R$ 5 e R$ 10. Não, Mário não chega a ser um traficante. Vende dois, três dias por mês, geralmente quando a Rita está braba com água, luz e telefone atrasados, as três contas que é combinado de ele pagar. Bandido mesmo ele não é. Ajuda um monte de vizinho, até carpiu o terreno da Dona Betinha, uma velhinha que mora sozinha. O mato toma conta do quintal dela. Mário não cobrou nada por isso, fez por amizade.

Joga bola no time da quebrada, o Sem Miséria. A sede é no Bar do Seu Antenor, que não vende fiado, nem atura bêbado que encosta no balcão e passa a tarde com uma pinga. Mário leva a vida. Diz sempre que um dia volta para a Bolsa, um dia vai reassumir o seu posto. Enquanto isso, como diria o Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu...” Mas o que esta sexta-feira iria ter de especial, de diferente? Tudo começou tão igual, Rita o chamou às 5h30, como todo dia. Levantou, levou ela até o ponto, a esperou embarcar no “Buzão” Term. PQ Dom Pedro e voltou, bolou um baseado e fumou deitado, vendo TV. Voltou a dormir. Antes, passou o café, às vezes Rita fazia, mas nesse dia ela não fez. Enquanto a água fervia, ele bolou um, vendo o sol que tentava dar o ar da graça. Depois do baseado e do café, dormiu. Por volta das 9h da manhã foi acordado inesperadamente, o barulho de um helicóptero muito próximo à sua casa, rasante próximo ao solo. “Helicóptero de merda. Só pode ser da polícia ou da imprensa marrom”, comentou. Abriu a porta e praticamente olhou no olho do PM dependurado na porta da aeronave, eles vasculhavam o córrego no fundo da favela onde Mário mora. Ele voltou para dentro de casa, xingando a polícia por tê-lo acordado tão cedo. Aproveitando que acordou, foi ver um bico. Escovou os dentes, meteu a camisa do Palmeiras que no dia anterior ganhou e saiu. O helicóptero lá, sobrevoando sua casa, como dormir assim?! Subia a viela, tudo igual, viu uma viatura passando a milhão na avenida ao longe. Um dia comum, tirando a polícia e o helicóptero, o bar abrindo as portas: “ Fala Mário, tá moiado a quebrada”, disse Neco, dono do bar. “Não devo nada para esses coxinhas”, respondeu ele. Seguiu. Lá na frente, cruzaria a avenida, mas antes viu a Dona Rosa varrendo a calçada. “Bom dia, D. Rosa.” “Fala Mário, caiu da cama?” “Poxa, Dona Rosa, tem um helicóptero da PM ali, fazendo o maior barulho.” “Ouvi dizer que estão atrás de uns ladrão que roubaram uma firma ali na frente, logo que ela abriu, levaram o dinheiro do pagamento dos funcionários.” D. Rosa já tinha toda a ficha da ocorrência. “E eu que pago D. Rosa, sou obrigado a acordar.” Assim ele seguiu, ligeiro. Com os covarde deu um tapa numa ponta de um baseado. Viu uns moleques na praça que cabularam a aula.

Assim que virou na esquina da avenida, do nada apareceu de novo o helicóptero, rente aos fios, barulho, gritos, três caras apareceram correndo de arma na mão. Virou uma Rota cantando pneu, mais umas três viaturas, tiros, tiros e mais tiros. Não era um dia comum, as coisas que pareciam igual a qualquer dia, agora fugiu do cotidiano. Ele viu os caras jogarem bala para cima da PM e a mesma revidar. Ele, no lugar errado, na hora errada, como um vídeo clipe, ou um filme. Mário ainda viu dois ladrões jogarem as armas e erguerem as mãos para o alto, viu isso num flash de segundos enquanto ele e um dos ladrões tombavam. Agora, ali, um cara morto do seu lado e ele aguardando resgate. Um tiro no peito. “Parece que esse não tinha nada a ver”, disse um PM. “Deu azar”, disse o outro. D. Rosa chegou correndo e disse a todos: “Ele acabou de bater papo comigo ali”. Um PM olhou para outro e disse: “Inocente”. Mário lutava pela vida, Mário lembrava dele de social na Bolsa de Valores, lembrava de Rita, como ele amava essa mulher, lembrava do jogo de ontem, seria o último que viu seu verdão? Mário viu o resgate chegar, primeiros socorros ali mesmo no chão. Gente curiosa rodeou o cordão de isolamento. Mário lutava, por mais que a vida não fosse um mar de rosas, ele gostava de viver. O médico do resgate disse: “Força rapaz. Tá me ouvindo?” “Se eu morrer - sussurrou Mário diz para minha flor que eu a amo...” Mário foi colocado no helicóptero e levado às pressas ao hospital. Não imaginava que seu dia seria tão agitado, nem muito menos que andaria num helicóptero. Afinal, na favela não tem heliporto.

MATILHA CULTURAL, UM ESPAÇO PARA ARTES NO CENTRO DE SÃO PAULO Um novo lugar para a arte surge em um edifício transformado em centro cultural próximo ao Largo do Arouche. Fruto do ideal de um coletivo formado por profissionais de diferentes áreas, a casa da Matilha está sendo preparada para apoiar e divulgar produções culturais e iniciativas socioambientais do Brasil e do mundo. Contando com uma sala de cinema (digital e 35 mm) com 68 lugares, arena para eventos, galeria de exposições e café; o espaço será palco de festivais e mostras de filmes e documentários, lançamentos de livros, exposições de arte, grafitti e fotografia e eventos como seminários e workshops, entre outros. A filosofia do coletivo é provocar debates políticos com foco em questões ambientais e de direitos humanos, além de apoiar movimen-tos artísticos independentes. “Nosso espaço é um centro cultural e também um centro de convergência de ideias. Queremos mostrar que é possível existir e trabalhar sincronizados com o planeta e de forma não-comercial”, disse Ricardo Costa, idealizador da Matilha Cultural. “Levando informação e cultura, pretendemos contribuir para que atitudes políticas façam parte do dia-a-dia das pessoas, construindo uma sociedade mais livre e mais consciente”, continuou Ricardo. Atualmente, está no espaço a exposição REBOARD, de Alexandre “Sesper” Cruz e Fábio Ahmad, personagens históricos do skate, que expõe obras pintadas em shapes. Em setembro, uma programação especial chamada Setembro Verde traz uma série de encontros, debates, filmes e vídeos para pensar sobre a relação homem/meio ambiente. ESPAÇO MATILHA CULTURAL R. Rego Freitas 542 - São Paulo Telefone: (11) 3256-2636 contato@matilhacultural.com.br http://matilhacultural.com.br/


ELETROCOOPERATIVA Uma saída socioeconômica no mundo digital O Portal Eletrocooperativa é a concretização de um sonho coletivo de transformação social, cultural, econômica e tecnológica. Uma rede social de criação de renda e educação para o desenvolvimento sustentável e produção cultural. O coletivo, que começou em Salvador, hoje tem presença forte no mundo digital com iniciativas inovadores como a criação de renda a partir da produção cultural, que eles chamam de “Economia Criativa”. Completando seis anos, o Instituto Eletrocooperativa tem criado oportunidades para o acesso aos meios de

JOGANDO COM ELEGÂNCIA PARA DRIBLAR O TIME DA IGNORÂNCIA Wesley Noóg, conhecido pelas aberturas do Sarau da Cooperifa, pegou seu violão e, com a equipe da produtora Muda Cultural, foi para a França no mês passado levando suas letras sofisticadas e seu samba-soul. O convite nasceu quando Raíssa, filha do jogador Raí, levou o CD Mameluco Afro-Brasileiro para a casa noturna Favela Chic, em Paris. Os responsáveis gostaram do que ouviram e convidaram Wesley para fazer a abertura do mês da música brasileira. Depois de se apresentarem na badalada casa, foram para Saraaba, um gueto africano de Paris. Em seguida, partiram para outras quebradas da Cidade Luz, além de tocar nas ruas. “Informalmente, cantei no metrô, à beira do Rio Sena, pois achei importante está interferência natural na realidade social de Paris. Ao encerrar esta etapa, parti para o sul da França, próximo ao Mar Mediterrâneo, onde cantei em três cidades: Ain Ex Provance, na festa de 14 de julho que comemora a Revolução Francesa; em Sam Remy, no festival de teatro que acontece anualmente, e Avinon, onde acontece a feira anual de artes”, diz Noóg.

produção, computadores e softwares que facilitam a gravação, produção e difusão de conteúdo. A partir dessa experiência de formação, os jovens aprenderam a produzir não apenas de forma técnica, mas buscando o algo mais da realização artística, humana e econômica, processo esse que já resultou em diversos CDs, shows e vídeos. Com a proposta principal de valorizar economicamente tal processo, essa rede social ajuda a mostrar o trabalho de artistas potencializando a cultura brasileira. Na prática, o projeto “Chamadas Criativas” coloca no ar temas e vários adeptos dessa rede social participam e as criações coletivas premiam o maior número possível de artistas, premiando iniciativas com até R$ 500. Dentro da lógica da abundância, 80% da contribuição oferecida pelo apoiador é distribuída entre os usuários e 20% se destina à manutenção da plataforma. Os critérios utilizados na seleção das produções não priorizam as questões técnicas e valorizam aqueles que fizeram o melhor com o que tinham ao seu alcance, privilegiando as regiões menos centrais do Brasil. Como participar? Basta fazer um perfil no portal, escolher uma chamada e postar suas criações.

www.eletrocooperativa.org.br

Sabemos que a música brasileira é muito bem recebida na Europa, ainda mais um artista com toda essa bagagem. “Fiquei impressionado com a recepção, tamanha é a catarse que nossa música provoca. Chega ao nível das pessoas subirem nas mesas e gritarem alucinadamente ou, até mesmo, uma espécie de paralisação que prendia a atenção, deixando as pessoas imóveis por um certo tempo”, relembra o trovador e menestrel. Wesley, acostumado com as periferias paulistas, viu várias realidades na França: “No Favela Chic, especificamente, foi algo mais peculiar, por ser um espaço frequentado por gente do mundo inteiro. Franceses, africanos, brasileiros, italianos, entre outros, dando um tom muito cosmopolita, o que me deu a percepção clara de nosso cosmopolitismo musical”, continua o artista. Num país com nível literário tão forte, logo suas letras e poesias chamaram a atenção de uma professora francesa que o convidou para lançar um livro de poemas na França. Realmente, a viagem lhe proporcionou momentos únicos. “Após o show do Favela Chic uma pequena multidão nos seguiu e nos conduziu às margens do Rio Sena. Lá, já estava uma outra pequena multidão. Eles nos impulsionaram a continuar com a música. Obviamente continuei cantando. Quando comecei a cantar 'Jogar com elegância para vencer o time da ignorância', a multidão entrou em catarse com gritos, dança, etc. Até que fomos interrompidos pela polícia e convidados ao distrito policial, pois havíamos quebrado a lei do silêncio. Daí não resultou em dano algum pelo fato de sermos brasileiros e convidados para tocar no mês de música brasileira na França. Mas o susto foi grande...”, comenta o cantor. Uma viagem que o cantor confessou ter inspirado novas produções. “Estou trabalhando nelas, logo elas serão cantadas...”, conclui Wesley Noóg.

Cartaz do Show na França


O filme Profissão MC reúne grandes talentos do cinema, música e literatura O filme Profissão MC, que estreia neste mês, traz a história de um mano da periferia que, vivendo as dificuldades da falta de emprego e da gravidez não planejada, opta pelo caminho do crime e acaba preso. Mas, nesse momento, o filme volta à metade, quando o personagem é convidado a entrar para a vida bandida. Na nova versão da história ele é levado por um amigo a um estúdio de música e sua carreira deslancha. Ele acaba tornando-se um rapper de referência nacional. A produção, que se destaca por não ter nenhum apoio financeiro, reuniu artistas de varias áreas. O diretor, Toni Nogueira, dono da produtora DGT, já filmou muita coisa interessante pelo mundo e até escola de samba em Nova Iorque ele já teve. Sua paixão por fotografia nasceu aos 15 anos, viajando para a Patagônia, quando ganhou uma câmera do pai. Nos anos 70 foi, como autoexilado, para Europa, onde conheceu Guará Rodrigues, grande figura do cinema Udigrudi com quem fez vários filmes como fotógrafo de cena. Neste período, fazia dois longas por semana nos quais Neville D'Almeida filmava uma história pela manhã e o Julio Bressane outra pela tarde. “Esta escola foi a minha grande colaboração para o Profissão MC”, relembra Toni. Mas não pense que Toni teve dificuldades para filmar no Itaim Paulista. “Como diz o Sérgio Vaz, eu tenho Imunidade Periférica Vitalícia e no Itaim Paulista, especialmente, que frequento há mais de cinco anos, me senti totalmente à vontade”, conta o diretor. O filme foi feito de forma indepen-dente e literalmente sem dinheiro, mostrando que é possível fazer filme e produzir cultura sem altas verbas. “O propósito não foi esse, se bem que o resu-ltado mostra esta possibili-

dade e aponta para um futuro possível na produção cultural. Eu sou totalmente a favor de fazer arte com pouca verba, sem desperdício, usando a criatividade como forma de expressão. Aprendi no convívio com os artistas e poetas periféricos que a arte vem da necessidade, e não de verbas astronômicas”, diz o diretor. Toni, com grande experiência, fala das peculiaridades do filme. “Uma jornalista virou agitadora social, um fotógrafo de jornal virou policial e um drogado no farol virou um drogado do filme. Essa magia, para mim, foi a grande revelação do filme”, orgulha-se Toni. Ele confessa que sua área é mais a documental. “Arrancar estórias do fundo da terra é o que me move. Ontem, vi um curta genial dentro do projeto Crônicas Paulistanas da Secretaria Municipal de Cultura, o SAMPAR+COUR, que é um curta de cinco minutos de um cara voando pela cidade. Magnífico. Som, fotografia, edição e trilha impecáveis. Cada vez gosto mais de filmes curtos”, revela o diretor sobre o que viu de novo na produção cultural. Outro ingrediente do filme foi o roteiro e codireção do escritor Alessandro Buzo. “O áudio visual é o futuro. Imagem com som é tudo. Trabalho na TV e é o que vou fazer no futuro: livros, TV e filmes”, comenta. Para protagonizar a obra, foi escolhido o rapper Criolo Doido, conhecido pelo seu carisma e pela sua festa Rinha dos MCs. “Meu personagem é um jovem de talento, morador de um extremo da cidade. O personagem descreve o sonho, a luta, a correria e as armadilhas que muitos de nossos jovens travam todos os dias. Heróis anônimos que são engolidos pela metrópole”, fala Criolo, que já viveu muitas das situações represen-tadas no

filme. “Já usei roupa de doação, comida do fundo social da solidariedade. Já me chamaram para ser o lobo entre os cordeiros, essa é a minha história, é um grito de todos nós”, continua o rapper. Criolo pretende lançar seu próximo disco ainda esse ano e está com DVD no forno. Recentemente, participou do filme Bandido da luz vermelha e do documentário Versificando. Sobre essa nova cena literária, re-

“Vejo hoje nos sarais de poesias, nas quebradas, o mesmo empenho do hip hop que conheci há 20 anos atrás. Parabéns a todos os poetas”, lata:

finaliza Criolo, frequentador da Cooperifa. Texto: Alexandre De Maio Fotos: Marilda Borges


(*1908 +1974)

Por Alexandre De Maio

Tempos diferentes, estilos diferentes, o mesmo vicío: a literatura.

O primeiro a escrever para negros e, por isso, Teatro Popular Brasileiro – TPB e viaja para a Europa. Em 1958, edita Seis tempos de poesia e, em 1961, pagou um alto preço Cantares ao meu povo. Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de Carlos Drumond de Andrade disse o seguinte sobre 1908, no bairro de São José, em Recife, capital alguns de seus poemas: "Há nesses versos uma força de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, natural e uma voz individual rica e ardente que se mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença confunde com a voz coletiva". Um de seus trabalhos (Emerenciana). Estudou até completar um ano mais famosos, intitulado Tem gente com fome, foi de desenho no Liceu de Artes e Ofício. A partir musicado e gravado por Nei Matogrosso. Raquel Trindade, que hoje continua o trabalho do pai no de então, passa a escrever. Embu, o descreve: "Existem artistas que aparenComeça a compor em 1930 e, quatro anos tam ser uma coisa e, no fundo, são outra. Papai depois, participa do I e II Congresso Afro- mostrava-se como era. E era um pai fantástico". Brasileiro, em Recife e Salvador. Em 1936, fundou a Frente Negra Pernambucana e o Morreu no Rio, em 1974. Mas, já em 1976, voltou aos Centro de Cultura Afro-brasileiro, que tinham braços do povo, na avenida. Foi tema da escola de o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas samba Vai-Vai. negros. Passados quatro anos, transfere-se para Belo Horizonte. Depois chega ao Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em Pelotas, onde funda com o poeta Balduíno de Oliveira um grupo de arte popular que não se concretizou devido à enchente. Então, voltou para Recife, indo depois para o Café Vermelhinho, no Rio de Janeiro, onde reúne-se com jovens poetas e intelectuais. Já em 1944, edita o livro Poemas de uma vida simples, no qual se encontra o seu famoso texto: Trem sujo da Leopoldina. No ano seguinte, funda o Comitê Democrático Afro-brasileiro. Após nove anos cria, na cidade de Embu, um polo de cultura e tradições afroamericanas. Em São Paulo também funda o

TEM GENTE COM FOME tem gente com fome tem gente com fome Trem sujo da Leopoldina tem gente com fome correndo correndo parece dizer Vigário Geral tem gente com fome Lucas tem gente com fome Cordovil tem gente com fome Brás de Pina Penha Circular Piiiiii Estação da Penha Olaria Ramos Estação de Caxias de novo a dizer Bom Sucesso de novo a correr Carlos Chagas

O potencial da família Trindade não poderia ter sido extinto nas gerações futuras. Registrado como Ayrton Félix Olinto de Souza, usa o pseudônimo de Zinho e no movimento hip hop é conhecido como MC Trindade. Para aqueles que desconhecem a história dessa musicalidade, Trindade herdou a tradição familiar na pesquisa e divulgação da cultura popular afrobrasileira. Bisneto de Solano Trindade, poeta popular, neto de Raquel Trindade que se mantém à frente do Teatro que leva o nome de seu pai em Embu das Artes – SP e filho de Vitor Trindade, percussionista, Zinho Trindade vivencia cotidianamente as raízes culturais brasileiras. Com essas grandes influências populares, seu estilo como MC Free Style se diferencia na improvisação. No momento, está em fase de produção do seu disco solo, Resgatando as Raízes e do documentário Hip Hop Embu.

O espetáculo buscou a ancestralidade das manifestações populares de matrizes afrobrasileiras e, por meio do elemento MC, dialoga com a cultura hip hop. As intérpretes criadoras contribuem ainda com suas vivências narrativas traduzindo-as de forma poética.

No mês de agosto Zinho se apresentou com a Capulas Cia de Arte Negra com o espetáculo “Solano Trindade e sua negras poesias”. A peça percorreu vários palcos levando essa família incrível. Uma peça que retrata a força da mulher negra através das poesias de Solano Trindade, Elizandra Souza e Capulanas. zinhotrindade.blogspot.com

Triagem, Mauá trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dzier tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Tantas caras tristes querendo chegar em algum destino em algum lugar Trem sujo da

Leopoldina correndo correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome

se tem gente com fome dá de comer Mas o freio de ar todo autoritário manda o trem calar Psiuuuuuuuuuuu

Só nas estações quando vai parando lentamente começa a dizer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer


O programa de televisão Jovem Guarda, apresentado entre 1965 e 1969 por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa na TV Record, de São Paulo, é o ponto de partida e de aglutinação do movimento musical que representa a consolidação do rock no cenário artístico brasileiro. Entre 1965 e 1970, são realizados diversos filmes que ampliam o público da Jovem Guarda e um destaque da época é o filme de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), de Roberto Farias – presente na mostra Em Ritmo de Aventura – o Cinema da Jovem Guarda, esse e outros filmes realizados nesses seis anos expressam o comportamento daquela geração. Na Onda do Iê-Iê-Iê (1965), de Aurélio Teixeira, por exemplo, trata de um cantor que procura o estrelato via televisão. A maioria dos filmes privilegia as canções em detrimento da trama. Esse modo de vida associado à jovem guarda também é abordado na mostra. A comédia O Puritano da Rua Augusta (1966), de Amacio Mazzaropi, do choque entre gerações. Já o documentário A Opinião Pública (1966), de Arnaldo Jabor, vê o movimento como sintoma da falta de envolvimento político das chamadas classes médias com as questões de seu presente. A ideia da mostra é, acima de tudo, o resgate de nosso passado audiovisual. Eduardo Morettin curador

Quinta 10 – 20h Eduardo Morettin é professor de história do audiovisual na Universidade de São Paulo (USP) e coorganizador do livro História e Cinema – Dimensões Históricas do Audiovisual (Alameda Editorial, 2007). Conselheiro da Cinemateca Brasileira, do Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP) e da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), é vice-diretor do Cinusp Paulo Emílio e um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa CNPq História e Audiovisual – Circularidades e Formas de Comunicação.

Programação Quarta 9 - 20h Debate com Eduardo Morettin, Marcos Napolitano e Zuleika Bueno e coquetel de abertura. Marcos Napolitano é professor de história do Brasil independente na USP. Lançou, entre outros, os livros A Síncope das Ideias – a Questão da Tradição na Música Popular Brasileira (Fundação Perseu Abramo, 2007), História e Música – História Cultural da Música Popular (Autêntica, 2002) e Seguindo a Canção – Engajamento Político e Indústria Cultural na MPB (1959-1969) (Annablume/Fapesp, 2001). Zuleika Bueno é professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM). Em 2005, defendeu tese de doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o título Leia o Livro, Veja o Filme, Compre o Disco – a Produção Cinematográfica Juvenil Brasileira na Década de 1980. Atualmente, estuda práticas de entretenimento e participa dos grupos de pesquisa Comunicação e Multimeios (UEM) e Formas e Imagens na Comunicação Contemporânea (Universidade Anhembi Morumbi – UAM).

Roberto Carlos em Ritmo de Aventura [Roberto Farias, 1968, 98 min], com apresentação do curador.

Sexta 11 - 20h Esta Rua Tão Augusta [Carlos Reichenbach, 1966-1968, 11 min] e A Opinião Pública [Arnaldo Jabor, 1966, 78 min], com apresentação do curador.

Sábado 12 16h Na Onda do Iê-Iê-Iê [Aurélio Teixeira, 1965, 111 min] 18h Juventude e Ternura [Aurélio Teixeira, 1968, 85 min] 20h Jerry – a Grande Parada [Carlos Alberto Barros, 1967, 80 min]

Domingo 13 16h O Puritano da Rua Augusta [Amácio Mazzaropi, 1966, 94 min] 18h Esta Rua Tão Augusta [Carlos Reichenbach, 1966-1968, 11 min] e A Opinião Pública [Arnaldo Jabor, 1966, 78 min] 20h Roberto Carlos e o Diamante Corde-Rosa [Roberto Farias, 1970, 97 min]

Itaú Cultural Avenida Paulista, 149 [ao lado da estação Brigadeiro] (11) 2168-1883 centrodoc@itaucultural.org.br Funcionamento: de terça à sexta, das 12 às 20h; sábado das 10 às 19h

Sala itaú cultural 247 lugares Acesse www.itaucultural.org.br


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