Antologia AMLEF-Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza-Miolo

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Organizador José Anízio de Araújo

Fortaleza, 2008


Copyright © 2008 by AMLECE Todos os direitos reservados à AMLECE. Proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem autorização expressa da Academia.

Coordenação Editorial Gladson Wesley M. Pereira Capa Mário Caula Bandeira Comissão Organizadora José Olímpio de Sousa Araújo José Muniz Brandão Lucineudo Machado Irineu Seridião Correia Montenegro José Anízio de Araújo Wagner Vitoriano Bezerra Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará

As matérias são de inteira responsabilidade dos respectivos acadêmicos.


A NOSSA ACADEMIA Nascida em 25 de junho de 2005, como uma Associação literária e Cultural, a Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará AMLECE alcança sua maioridade com trinta e seis acadêmicos numerados e patronados, albergada à sombra da Casa de Juvenal Galeno que a alimenta e nutre com o Fogo do Saber, Gema de Luz que recebe todos que buscam seu agasalho cultural. Em continuidade ao profícuo trabalho de José Lemos de Carvalho, nosso primeiro presidente e ideal fundador, temos nesta segunda administração, a alegria de receber mais uma turma de seis novos acadêmicos e, unidos apresentamos à Sociedade Literária Cearense o livro intitulado Antologia da AMLECE. Escrita por vinte e seis de seus membros a edição deste livro faz-se por três partes distintas: biografia do acadêmico, informações gerais do Patrono e trabalhos literários em prosa e verso do acadêmico. A diversidade contida em cada trabalho nos mostra a grandeza de um histórico que consubstancia o real significado desta família harmônica que, crente em Deus promove seu próprio trabalho. Agradecida pela participação voluntária a AMLECE abraça a comunidade literária cearense. José Anízio de Araújo Presidente



HINO DA AMLECE Autores: Francimar de Castro e Dezinho Lemos Arranjo: Francimar de Castro Canta: Francisco de Castro

I Acadêmicos, quero lhes informar... AMLECE adormecida estava, não mais está. Dezinho Lemos é o seu fundador... Junto aos escritores aprendeu amar... II Eterno presidente de honra, Equipe de homogênea missão Fazendo com grande sucesso, Essa sua grande paixão. III Os trabalhos literários, Fazendo todos compreender, Seu objetivo maior... A cultura, educação, o saber.



PREFテ,IO



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DEZINHO LEMOS – cadeira nº. 1 O escritor JOSÉ LEMOS DE CARVALHO (DEZINHO LEMOS) é bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. Nasceu na Fazenda Baixa Verde, em 03 de junho de 1929, a 12 km da sede do município de Mombaça. Filho de Miguel Paulino de Carvalho e Maria Gertrudes de Carvalho. Foi agricultor até os 25 anos de idade. Foi funcionário público com 35 anos de serviço, tendo exercido a chefia da Residência Agrícola de Mombaça de 1956 até 1973. Morando em Mombaça dizia que tinha muita vontade de estudar, mas o que ganhava era pouco para se manter em um hotel e ajudar os seus pais que moravam na fazenda. Só com 37 anos de idade fez o Exame de Admissão ao Ginásio, o que equivale ao 6º ano atual. Após terminar o Cientifico, ainda passou oito anos sem poder estudar por falta de recursos financeiros, concluindo a faculdade somente aos 60 anos incompletos. Apaixonado pela literatura de cordel, diz que aprendeu a ler, lendo os versos (“Donzela Teodora”. “Cancão de Fogo”, “Pavão Misterioso”, dentre outros). Isto o levou a descobrir que era poeta e começou a escrever. São de sua autoria os seguintes cordéis: “QUATRO HORAS DE AGONIA”; “VAQUEJADA SERTANEJA”; “CRIAÇÃO DO MUNDO”; do Livro Gênesis, “CEM ANOS DE REPÚBLICA”; “DO PARAÍSO ATÉ A NOSSA GERAÇÃO”; “PORQUE SOU ESCRITOR”; “A MORTE DE MÁRIO EUGÊNIO” e “A JUVENTUDE HUMILHADA”. Também é autor dos seguintes livros: “MOMBAÇA – CEARÁ E SEU ENCONTRO FAMILIAR” (premiado pela Casa Juvenal Galeno como livro do século); “SAGA DE UMBELINO - UM SOLDADO BRASILEIRO NA 2ª GUERRA MUNDIAL”; 1º PRÊMIO DE LITERATURA POPULAR: POESIA CORDEL; COOPERANDO, REVISTA LITERÁRIA DE CULTURA DO CEARÁ; “SALVAÇÃO DO BRASIL”, uma coletânea de cartas publicadas pelo jornal O POVO. 9


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Compôs o hino do Município de Mombaça, e o da AMLECE (este em parceria com o também acadêmico Francismar de Castro).

Plácido Castelo (patrono) Plácido Aderaldo Castelo nasceu a 11/01/1906, em Mombaça. Filho de João Fernandes Castelo e Antônia Aderaldo Castelo. Faleceu em Fortaleza a 17/06/1979. Advogado. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Ceará em 1930, tendo sido orador da turma e presidente do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua da referida casa de ensino superior. Exerceu a carreira jornalística nos jornais “Correio do Ceará”, “Gazeta de Noticias” e “O Nordeste”. Fundador do panfleto “A farpa”, do Instituto Educacional da Escola Normal de Juazeiro do Norte, do Clube Recreativo e da Cooperativa de Juazeiro do Norte. Foi professor do Colégio Cearense, da Escola de Comércio Fênix Caixeiral, do Instituto São Luis, do Colégio Joaquim Nogueira, da Escola de Aprendizes e Artífices, livre docente da cadeira de Instituições do Direito Público da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará e catedrático de História Administrativa do Ceará e do Brasil, na Escola de Administração Pública. Na área jurídica, exerceu a Promotoria de Justiça das Comarcas de Quixadá e Fortaleza, e Juiz Municipal. Conselheiro Vitalício do Tribunal de Contas do Estado e foi Procurador Judicial do Estado do Ceará. Político de trajetória brilhante. Deputado Constituinte em 1935, Deputado Estadual para os mandatos de 1951 (suplência), 1955, 1959 (suplência) e 1963. Exerceu os cargos de 1º secretário e 2º vice-presidente do Poder Legislativo Estadual. Secretário de Agricultura e Obras Públicas e Secretário da Fazenda do Estado. Fundou e exerceu a presidência do Instituto de Previdência do Estado do Ceará – IPEC. Foi Prefeito da cidade de Fortaleza. Governador do Estado do Ceará no período de 1966 a 1971. 10


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Realizou, como Governador do Estado, um expressivo conjunto de obras, dentre as quais podemos destacar: construção do Instituto Penal Paulo Sarasate, da “Estrada do Algodão”, da “Estrada Litorânea” e da estrada que liga o Cariri à BR-116; criação do Instituto de Prevenção do Câncer, do Hospital São José, do Museu de Aquiraz, da Escola Agrícola de Mombaça, da Estação Rodoviária de Fortaleza; ampliação do sistema de energia elétrica do Estado, levando esse benefício a mais de cem cidades do Ceará, da rede de agências do Banco do Estado do Ceará; do sistema de telecomunicações que passou a atender a um maior número de cidades interioranas, e da rede escolar estadual, através da criação de dezenas de escolas do primeiro, segundo e terceiro graus. Representou o Estado do Ceará na 1ª Assembléia Geral do Conselho Brasileiro de Geografia e Estatística, no Rio de Janeiro. Orador das delegações participantes da instalação do Itamaraty, no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Membro da Academia Cearense de Letras, da Academia de Letras Jurídicas do Ceará; do Instituto Histórico do Ceará, do Instituto do Nordeste; da Sociedade Brasileira para a Conservação do Solo; da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Ceará, da qual foi presidente; benemérito da Fênix Caixeiral; honorário da Associação dos ex-Combatentes e de vários outros clubes de serviços, entre os quais, o Lions Clube de Mombaça e o de Boa Viagem. Agraciado com o título de cidadão de vários municípios do Ceará, recebeu também o Troféu Sereia de Ouro, detentor dos títulos de Cidadão Honorário de New Orleans e “Honory Sanzero” no Salt River Project, ambos nos Estados Unidos da América do Norte. Considerado uma legenda de simplicidade, honradez, competência e probidade na história política cearense, foi casado com a Sra. Joana Freire Castelo, deixando uma prole de doze 11


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descendentes, que hoje atuam com destaque em várias áreas da nossa comunidade. Em 11 de janeiro de 2002, através de eleição realizada pelo Conselho Comunitário de Defesa Social de Mombaça (C.C.D.S.), Plácido Aderaldo Castelo foi eleito o “Mombacense do Século XX”. O Governador Plácido Aderaldo Castelo escreveu três livros: Barão de São Leonardo / Problemas Agropecuários; e A História do Ensino do Ceará.

Alberto Galeno: um incentivador da cultura cearense ALBERTO GALENO, advogado, escritor, contista, jornalista, historiador e trovador, nasceu aos 27/03/1917 na cidade do Vale Jaguaribano, S. Bernardo das Russas, filho do Juiz de Direito Dr. Antônio Galeno da Costa e Silva e de Cândida Santiago Galeno, sendo neto, pelo lado paterno, de Juvenal Galeno. Durante 16 anos foi diretor da Casa de Juvenal Galeno (19892005). Premiado pelo núcleo de documentação cultural, da Universidade Federal do Ceará e pelo Banco do Nordeste com a monografia intitulada “Território dos Coronéis” (1984); premiado no concurso de contos lançado pelo BNB Clube de Fortaleza(1982), com o conto intitulado “A cadeia e o mar”. Figura na coletânea “O talento Cearense em Contos”, organizada por Joice Cavalcante e publicada através da editora Maltese, S.P.,1996. Obras publicadas: O SIGNO DO MACACO (contos), Editora Henriqueta Galeno, Fortaleza, 1986; TERRITÓRIO DOS CORONÉIS, (zona sul do Ceará, primeira década do século XX) Editora Henriqueta Galeno, Fortaleza, 1986; A PRAÇA E O POVO ( homens e acontecimentos que fizeram história na Praça do Ferreira), Editora Stylus comunicação. Fortaleza, 1991; PADRES E SOLDADOS NO FOLCLORE CEARENSE, Multigraf Editora, Fortaleza, 1994; 12


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A MEMÓRIA DOS CABEÇAS–CHATAS (HISTÓRIAS CEARENSES)Multigraf Editora, Fortaleza, 1994; SECA E INVERNO NAS EXPERIÊNCIAS DOS MATUTOS CEARENSES (folclore) Gráfica do Sindicato dos bancários. – Fortaleza,1998; A COZINHA DOS CABEÇAS-CHATAS (folclore), Editora RBS, Fortaleza 1999.

Amazônia – assassinada e abandonada pelos poderes públicos A imensidão da região amazônica já dizimou muitas vidas, como por exemplo: o desastre do avião que no começo de outubro de 2006 matou 154 pessoas, e tantos outros aviões que já caíram; e milhares de pessoas que já foram devorados pelos animais silvestres e insetos venenosos. Com grandes aberturas e vigilância, pouco disto aconteceria. O que precisamos fazer é uma reforma agrária do tipo colonial que nunca foi feita neste País. Abrir as nossas matas virgens de 50 em 50 quilômetros quadrados, ou mais, dependendo do planejador. A abertura deve ser feita na base de 1 km de largura, entre uma quadra e outra; isto vai servir para que seja feita agricultura de subsistência e ficará a critério de quem vai executar o plano. É empossar todos os que queiram trabalhar, com 1 km de frente e 2 km de fundo, restando no meio 46 km que são da Nação e por isso, intocáveis. Primeiro, oferecer aos índios que queiram ser agricultores, só com sua família; só depois que os índios estiverem assentados, prossiga-se a divisão com os outros cidadãos, porque enquanto tiver índio sem terra, a nação não tem terra. Esta reforma deve ser feita pelo Exército. Aproveitando a madeira de lei para ser vendida juntamente com a pele dos animais silvestres, principalmente os predadores, para custear as despesas. As madeiras pequenas servem para que sejam feitas cercas a fim de criarem os animais domésticos e silvestres, por exemplo: jacaré, tartarugas, etc. O resto será enterrado para não se ver mais fogo nas matas brasileiras. Para isto é preciso 13


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criar uma lei que anule a outra lei, maldita, que proíbe a venda da pele de animal silvestre (os predadores, como a raposa, o gato-domato, o tejo, etc.), que tanto prejuízo tem dado aos nossos rurícolas e também tem sido a grande causa do êxodo rural. Não pode tirar o adolescente da área rural a fim de estudar nas cidades, porque comete diversos crimes. Primeiro, está-se gastando acima das possibilidades do município e ainda praticando o êxodo rural. Muito mais útil é levar os professores para onde estão os estudantes, pois se acaba, assim, com os paus-de-arara, que estão arriscando a vida dos próprios alunos. Criar o educandário agrícola em toda a área rural e em todas as fazendas. Criar o ensino científico nos distritos, e faculdades em todas as cidades, etc. Com isso tudo bem planejado e sem politicagem, o Brasil ainda tem salvação. Transposição de água para o Nordeste – venha de onde vier, dos rios Tocantins ou São Francisco –, para, quando houver uma seca no Nordeste, fazermos vazantes e grandes quantidades de horticultura para os menores abandonados plantarem e colherem o fruto de seu trabalho, para sua alimentação; planta-se pomar de fruteira, capim e cana-de-açúcar para escaparem os rebanhos de gado, caprino e ovino; e da água vem peixe para a população se alimentar. Dezinho Lemos

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Terço em comunidade à Santa Trindade e em louvor a Maria Santíssima O terço é um bom tesouro Que Deus deixou na terra Livra-nos de todo o perigo De fome, peste e guerra. Quando chega a trovoada Ave Maria é rezada O temporal se desterra. “Ave Maria cheia de graça!...” E com esta saudação São Gabriel anunciou Maria sentiu a emoção “Bendita sois vós” que amou O divino veio e colocou Jesus filho de benção. Onde “o Senhor é convosco...” Sendo a primeira oração Que o mundo pôde rezar. Teve grande sensação O mundo reconheceu Como Jesus Cristo venceu Houve muita aclamação. Disse bendito é o fruto Aquele que veio ao mundo Salvar a humanidade De um pecado profundo Que é o pecado original. Com isto Deus foi legal 15


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Abolindo o mal imundo. “Do vosso ventre Jesus” Disse assim São Gabriel Terminou sua saudação Foi para um povo fiel. São José participou E de tudo concordou Por ter vindo lá do céu. “És bendita entre as mulheres...” Assim o anjo se expressou. Maria concebeu Jesus Em santa se transformou. Jesus veio apagar o pecado Por isso foi crucificado No terceiro dia Ressuscitou. “Santa Maria mãe de Deus...” Complementa Ave Maria. Com estas duas Orações O terço tem mais valia; Qualquer uma é mais importante Você reza num instante Deus ouve com simpatia. “Rogai por nós pecadores ...” O nosso pedido é feito Deus e mãe estão escutando E não pode ter rejeito Jesus Cristo concordando Mãe e filho abençoando E tudo isto foi benfeito.

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Também “agora e na hora ...” Reza presente e futuro É o que deveria rezar Toda boa criatura Pode qualquer bom cristão Aliviar seu coração; Reza é de grande cultura. “E de nossa morte amém!” Quem reza bem as orações Quem reza se santifica Fazendo com perfeições De manhã logo cedinho Não se levanta sozinho Deus acompanha suas ações. Pai Filho e Espírito Santo... Na cama vou sentando Pensando no dia de luta Logo cedo vou rezando Pelo Sinal da Santa Cruz Falo o nome de Jesus Vosso nome vou chamando. “Pai nosso que estais no céu ...” Jesus nos ensinou a rezar A Bíblia nos traduziu Por ela temos que falar Foi a voz do meu salvador Se referindo ao criador Nós vamos continuar.

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“Santificado seja O vosso nome de Jesus .” Porque este é Glorioso Venceu as trevas com a luz E Ressuscitou dos mortos Seguiu em caminhos tortos Sendo pregado na cruz. “Venha a nós o Vosso reino...” Assim Deus se expressou; Quando nos ensinou a rezar De viva voz nos ordenou Com sua própria presença Ensinou com paciência Ainda todos abençoou. “Seja feita a Vossa vontade ...” Foi assim que ele ensinou. O Filho falando ao Pai Todo seu valor aumentou Orientando-nos a rezar; Temos que continuar Tudo que o Pai lhe mandou. “Assim na terra como no céu .” Significa a nós dizer Que existe uma ligação Onde os cristãos podem ter Respeito a nossa Trindade; Temos mais felicidade, Porém o amor pode vencer.

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“Pão nosso de cada dia” É nossa alimentação. Deus deixou consagrada Quando consagrou o pão Deixou como alimento, O vinho como sustento Da alma na comunhão. “Ainda hoje nos perdoe...” Pedimos todo dia Quando rezamos o Pai Nosso Onde nos dá mais alegria É uma grande sensação Assistir bem a celebração A sensação de garantia. “As nossas ofensas também” Recomendou o Deus de amor. Temos que perdoar o próximo Demonstrando o seu valor; Deus quer de nós a humildade E a nossa sinceridade Venha o Reino do Senhor. “Perdoa a quem nos ofendeu...” Assim Deus ensinou a rezar. E foi uma reza bonita Que Deus nos ensinou a amar; Ensinou pessoalmente E nós ficamos contentes Ver tudo se realizar.

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“Não nos deixeis cair em tentação...” Assim podemos rezar. Deus fica perto de nós E pode nos confortar. Jesus Cristo nos amou Até a morte ele pensou Para poder nos deixar. “Mas livrai-me do mal, amém !” Assim o Pai nosso terminou. A oração de Jesus Cristo Ele mesmo nos ensinou; Foi grande a felicidade Temos essa realidade O Pai Nosso Deus rezou. “Creio em Deus Pai todo Poderoso ...” O Deus deixou claramente Quando rezou o Creio-em-Deus-Pai Mostrando que o Pai é potente Olhando a humanidade Deu-Lhe boa felicidade Como futuro e presente. “Criador do céu e da terra...” Pai Filho e Espírito Santo Formou a Trindade no Céu Para ouvir dos anjos o canto; É grande a felicidade Num mundo que há lealdade No mundo que só tem Santo.

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“Creio em Jesus Cristo o Senhor...!” Foi o homem que veio ao mundo Trazer muita Paz e Amor; Deu um sentimento profundo Suas palavras de bondade A favor da humanidade E continua ajudando. “O qual foi concebido pelo Poder do Espírito Santo...” Que iluminou os apóstolos A muitos serviu de espanto Os Apóstolos falando Todo mundo admirando Que parecia grande encanto. “Nasceu da Virgem Maria...” Foi o grande acontecimento: Nasceu em uma manjedoura, Foi grande o divertimento; Os pastores iam chegando, Também os galos cantando Comemorando o momento. “Foi crucificado e morto...” No mesmo dia sepultado. Foi uma historia penosa Também foi na cruz pregado; Ainda perdoou um ladrão, Entregou sua mãe a São João, O que muito lhe alegrou.

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“Padeceu sob Pôncio Pilatos ,” Pôncio Pilatos que o entregou. Foi levado até o rei César, Este de volta mandou E Pilatos lavou as mãos Foi quem lhe mandou à prisão Ao povo Jesus entregou. “Desceu à mansão dos mortos Cumprindo-se as Escrituras.” Os profetas já falavam A toda as criaturas; Os grupos se admiravam E muitos deles choravam Alguns faziam censuras. “Ressuscitou ao terceiro dia...” Chegou a grande conclusão Quando ele surgiu dos mortos Para a nossa salvação; Não teríamos acreditado Neste grande resultado Sem mais confirmação. O homem sem fé em Deus é sempre um homem mau e infeliz, revoltado com o bem. Estou às ordens de qualquer autoridade que precisar de mais informações. Dezinho Lemos

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CAIO LÓSSIO BOTELHO – cadeira nº 3 Após formar-se em Geografia e História pela Universidade Federal do Ceará, respectivamente em 1956 e 1957, Caio Lossio Botelho não mais parou de pesquisar e escrever. Daí o riquíssimo currículo que ostenta. Docentelivre (Pós-Doutor) em Geografia Econômica, pela Universidade Federal do Ceará. Doutor em Planejamento Regional e Geografia Integral, pela Organização dos Estados Americanos; Técnico em Fotointerpretação e Planejamento, pelo Centro Pan-Americano para Pesquisa de Recursos Naturais; Técnico em Métodos Quantitativos em Geografia – Análise Factorial, pela Fundação IBGE. Tem ocupado diversos cargos de destaque em universidades e outras instituições da Administração Pública, quer em âmbito estadual, quer federal. Em Brasília: Geógrafo-Assessor do Ministério Extraordinário para Coordenação dos Organismos Regionais (1968); Orientador de Mestrado em Geografia Econômica, na Universidade de Brasília (1968); Chefe do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Brasília (1968-69); Professor Associado de Geografia da Universidade de Brasília / Instituto Central de Ciências Humanas (1968); Professor Titular de Geografia Econômica da Universidade de Brasília (1967-69); Professor Titular de Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Centro Universitário de Brasília – CEUB (1967). Em Fortaleza, assumiu os seguintes cargos: superintendente substituto da SUDEC – Superintendência do Desenvolvimento Econômico e Cultural do Estado do Ceará; Diretor do Departamento de Recursos Naturais da SUDEC (1970-71); Membro do Conselho Deliberativo da Autarquia da Região Metropolitana de Fortaleza (197423


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76); Chefe do Departamento de Geociências e Geografia da Faculdade de Filosofia do Ceará (1964-71); Diretor do Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará (1977-79); Professor Titular de Geografia do Departamento de Geociências do Cento de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará (1977-87); Coordenador de Planejamento do Instituto de Terras do Ceará – ITERCE (1979-83); Professor Catedrático de Geografia e Geopolítica da Academia de Polícia Militar General Edgard Facó (1959-88); Professor de Geografia do Brasil da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal do Ceará (1969); Professor de Geografia da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura (1960). Foi o Professor Caio Lossio que conseguiu idealizar e implantar os Cursos de Planejamento Regional e Ecologia em nível de graduação na UECE. Ao decorrer de sua laboriosa existência tem sido membro, e muitas vezes ocupando o cargo de presidente, de várias e importantes entidades: Associação Cearense de Imprensa (1958); The National Geografic Society – EUA (1963); União Brasileira de Ciências Antropológicas e Etnográficas (1965); Academia de Letras Municipais do Brasil (1965); Academia Cearense de Ciências, cadeira de Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1986); Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará; Sociedade Cearense de Geografia e História, Cadeira do Senador Castro Carreira (1958); Associação dos Geógrafos do Brasil (1966); e Associação Pan-Americana dos Diplomados em Recursos Naturais – OEA (1966). Foi o professor Caio Lóssio quem convenceu o Governo Federal a retirar o Horário de Verão nos estados nordestinos, através da obra A Impropriedade da Hora de Verão no Nordeste. Merece especial destaque o conjunto de trabalhos publicados: l) Brasil : A Europa dos trópicos - Evolução da infra-estrutura civilizatória brasileira à luz de sua filosofia geográfica. Editora O Nordeste. Fortaleza, 1ª edição, 1963. 24


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2) _______________________. Gráfica Record Editora. Rio de Janeiro. 2ª edição, 1967. (Versão em francês pelo Professor André Allix da Université du Lyon, França, 1968.) 3) Brasil, A Europa dos Trópicos: 500 anos rumo à civilização trópico - equatorial. Universidade Federal do Ceará. Programa Editorial - Casa de José de Alencar. Fortaleza, 3ª edição, 1999. 4) __________________. Editora Razão Cultural - 4ª ed, Rio de Janeiro, 2000. 5) A Filosofia e o processo evolutivo da Geografia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 1ª edição, 1987. 6) ____ ___________. Editora Justiça e Paz. Porto, Portugal. 2ª edição, 1988. 7) __________________________. Editora da Biblioteca do Exército (BIBLIEX). Rio de Janeiro, 3ª edição, 1993. 8) Reflexões Monísticas sobre Geografia e Outros Temas. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 1996. 9) Estudos Regionais e Outros Temas. Editora do Banco do Nordeste do Brasil, Fortaleza, 1994. 10) A Impropriedade da Hora de Verão no Nordeste. Gráfica da Imprensa Oficial do Estado do Ceará, Fortaleza, 1989. 11) Terremoto Não, Acomodação da Crosta Sim. Gráfica da Imprensa Oficial do Estado do Ceará, Fortaleza, 1989. 12) O Desafio da Posição e do Espaço Cearense. Editora da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1987. 13) Ecologia. Gráfica da Imprensa Oficial do Estado do Ceará, Fortaleza, 1983. 14) Uma Visão Integrada da Seca. Editora da U F Ceará, Fortaleza, 1981. 15) A Geografia Econômica na Organização do Espaço Regional. Editora Selecta, Fortaleza, 1974. 16) Geografia Dinâmica do Ceará - Evolução da infra-estrutura civilizatória cearense à luz de sua filosofia geográfica. Editora Voz de São Francisco, Fortaleza, 1965. 17) A Geopolítica - o Brasil em face desta ciência. Ed Progresso, Fortaleza, 1961. 25


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18. A Geoclimorfologia no tempo e no espaço. Editora Batista Fontenele, Fortaleza, Ceará. 1959. 19. Seca: Visão Dinâmica, Integrada e Correlações. Editora ABC, Fortaleza, 2000. 20. Repensando o Cosmo: O Homem e a Geografia Astronômica. Editora ABC,. Fortaleza, 2001. 21. A Gruta de Ubajara: Uma Página do Livro da Natureza. Ed. Banco do Nordeste do Brasil, Fortaleza. 2002. 22. Capítulos Universais da Geografia Monística. Ed. ABC, Fortaleza, 2004. 23. O Estudo Comparado das Religiões (no prelo).

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Senador Pompeu (patrono) Tomás Pompeu de Sousa Brasil nasceu em 06 de junho de 1818, em Santa Quitéria – Ceará, e faleceu em 02 de setembro de 1877, portanto, aos 59 anos de idade. Seus antepassados eram originários da Vila Rifana do Sousa, Arriba do Sousa, atualmente Penafiel, Bispado da cidade do Porto–Portugal. Seus pais: Tomás de Aquino de Sousa (Capitão de Milícias no Rio Grande do Norte) e Jeracina Isabel de Sousa, natural de Santa Quitéria. Casou-se com Felismina Carolina Filgueira, tendo quatro filhos: Maria Teresa, casada com o Bacharel Antônio Pinto Nogueira Acióli (substituiu o sogro na direção do Partido Liberal); Antônio - médico pela Faculdade do Rio de Janeiro; Tomás – médico, apreciador da mecânica e uma “réplica do pai”; e Hildebrando – engenheiro e matemático, formado pela antiga Escola Central do Rio de Janeiro. Entre os anos de 1841 e 1843, foi ordenado presbítero no Seminário de Olinda – Pernambuco e bacharelou-se em Direito aos 25 anos. Sua vida acadêmica e profissional está muito ligada ao Liceu do Ceará. Como Diretor da Instrução Pública da Província, em 1844, na administração do Presidente Marechal Dr. José Maria da Silva Bittencourt “criando nesta capital um Liceu” . Na gestão do Coronel Inácio Correia de Vasconcelos em 1845, o Liceu do Ceará foi instalado, tendo sido Tomás Pompeu de Sousa Brasil o primeiro Diretor dessa importante instituição da cultura cearense, voltando a dirigilo em 1853. Foi, nesse estabelecimento de ensino, professor de Geografia e História, ciências de que se fez mestre conspícuo, publicando obras valiosas, entre as quais, o Compêndio de Geografia Geral e Especial do Brasil, obra obrigatória no currículo escolar do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e nos Seminários das Províncias. A constante preocupação com problemas da terra, geofísica, fauna, flora, população, administração pública, clima e de suas secas, conservação das matas etc., deram origem a várias obras como: Memória sobre a estatística da população da província do Ce27


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ará (1856); Eleição do quarto distrito da Província do Ceará (1857); Memória sobre a conservação das matas e arbocultura como meios de melhorar o clima da Província do Ceará (1859); População da Província do Ceará (1859); Discurso proferido na sessão de 06 de junho de 1866 por ocasião de discussão do Voto de Graças no Rio de Janeiro (1866); Sistema ou configuração ortográfico do Ceará (1877); Memória sobre o clima e secas do Ceará (1877). Juízo Histórico do Senador Pompeu sobre os fatos do Ceará (1895, póstumo). Devido a sua pertinaz inteligência, mocidade e entusiasmo pela cultura, veio o Liceu do Ceará “ser a grande sementeira de estudiosos, atraídos até de outras Províncias, formando o espírito e bem assim a alma, porque ali, realmente, se ensinava e educava”, segundo Raimundo Girão. Aposenta-se das lides acadêmicas em 1865, aos 47 anos. Foi jornalista, escrevendo como redator do Jornal O Cearense, e nesta função permaneceu até falecer. Iniciou a carreira política aos 28 anos quando se elegeu Deputado à Assembléia Provincial na legislatura de 1846/1847. Em 1862 foi escolhido pela Corte Imperial, através de uma lista tríplice, ao cargo de Senador em substituição ao Senador Miguel Fernandes Vieira. As atividades políticas, tanto na Câmara como no Senado, fizeram-no admirado e, ao mesmo tempo, amigo das mais eminentes personalidades do mundo político, administrativo e social da Corte, o que bem revelam as inúmeras cartas de Duque de Caxias, Conselheiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa, entre outros. Foram-lhe conferidas as seguintes honrarias: a antiga Rua Amélia (homenagem a 2ª Imperatriz do Brasil), mudou para Rua Senador Pompeu – onde residiu e faleceu –, decisão da Câmara Municipal de Fortaleza, em 15 de outubro de 1878; é nome também de uma das ruas principais do centro da cidade do Rio de Janeiro; e no interior cearense a antiga povoação de Humaitá recebe o nome de Senador Pompeu, em 1889. 28


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Para concluir este ensaio, valemo-nos das palavras do historiador Raimundo Girão: “(...) aos espíritos bem formados é dever inerente o reto julgamento dos homens no que eles souberam e puderam efetuar na vida”. Cada homem, cada vida e, portanto, cada julgamento. A isenção de ânimo é a qualidade maior e indispensável de quem julga; julgar sem este estado d’alma é claudicar na decisão, dar porventura a quem não merece aquilo que é objeto do exame e deliberação. A justiça é o fiel da balança e daí ser delicada a sua função. Um olho vesgo não enxerga bem, desvirtua a imagem” Caio Lóssio Botelho

Centenário do vôo de Santos Dumont (1906 – 2006)

Nasceu ALBERTO SANTOS DUMONT no dia 20 de julho de 1873, no antigo município de Palmira (hoje cidade Santos Dumont), localizado no Distrito de João Aires, no chamado Sítio de Cabangu, no Estado de Minas Gerais. O final de sua vida foi marcado por profundas depressões, principalmente pela utilização do seu invento em guerras, levando-o a cometer suicídio aos 59 anos, no dia 23 de julho de 1932, no Estado de São Paulo. Existem alguns pontos de contatos entre o genial Einstein e o cientista Santos Dumont. Ambos utilizavam a intuição nos descobrimentos das leis da natureza, isto é, o individuo que tem a visão exata das coisas, e compreende com precisão os fatos, num apanhar de um só golpe que expressa a sua realidade. A intuição quase se confunde com a verdade absoluta; aí, as várias informações pelos sentidos (visão, audição etc.) se unificam na mente numa síntese perfeita. Toda intuição é uma produção 29


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de dentro para fora, sendo uma qualidade interna de perceber as situações. Intuir é antecipar o futuro, a fim de que possa ver com toda sua alma e sentir a realidade total na sua plenitude. É tocar a realidade que o rodeia. É transpor a natureza para dentro de si, é sentir dentro de uma só visão a síntese dialética: homem / natureza. Nesse momento, o homem sai do ambiente inerte para a realidade dinâmica. Através da intuição o ser humano reúne com mais eficiência as múltiplas mudanças da natureza. Dizia Einstein que não existe nenhum caminho lógico para o descobrimento das leis elementares; o único caminho é o da intuição. Eu penso 99 vezes e não descubro a Verdade, paro de pensar, mergulho em profundo silêncio, e eis que a Verdade se me revela. Tanto na visão de Einstein como a de Santos Dumont – a tônica predominante era a prevalência da INTUIÇÃO. Os dois cientistas deixaram claro em seus escritos idéias que são traduzidas pelo fato de que o homem ao nascer não traz consigo o mapa dos seus destinos. Deixando patente ao ser humano que o julgamento ainda repousa no reino do imponderável, e nenhum homem poderá ser infalível, se navega em redor de nebulosos promontórios do comportamento humano. Nos momentos culminantes da vida, seu espírito tem de alçar-se além de sua base. Ressalte-se que, embora a nacionalidade de Santos Dumont seja brasileira, a sua cultura e seu espírito eram inegavelmente franceses. Convém lembrar uma passagem curiosa na vida de Einstein, quando o mesmo era Professor em Zurich (Suíça): em dado momento, sentindo-se o mesmo cansado, retirou-se do seu gabinete de estudos e, adentrando-se numa relva para um repouso rápido, quando de pronto, intui a teoria da relatividade. Levou quinze anos para a consecução desse feito, mas só vinte anos após, concluiu seu modelo físico. 30


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Vale ressaltar que não é dos irmãos Wright (EUA) a verdadeira paternidade da aviação, e sim, de Santos Dumont, que em 23/10/1906, perante a Comissão Científica do Aeroculub (FrançaParis) fez o célebre vôo de 250 metros, confirmando a possibilidade de o homem voar. Há três fortes razões para esta conclusão: a) Por ter dado dirigibilidade aos vinte balões (35 HP), dominando a incerteza dos ventos e suas direções; b) Dominando a Lei da Gravitação Universal, fazendo com que um aparelho mais pesado que o ar se elevasse sobre o domínio do próprio homem; c) Utilizou fortemente a intuição para a descoberta e consecução desses fatos. Destaque-se, ainda, que os Irmãos Wright não dominaram a natureza como Santos Dumont; o que fizeram os americanos foi utilizar um planador que impulsionado pelo sistema de catapulta (originário desde a antiguidade) foi lançado ao espaço com auxílio de muitas pessoas; portanto, o engenho americano não possuía forças próprias para planar e alçar-se à atmosfera. Nesse período o cientista brasileiro foi altamente caluniado por alguns jornalistas americanos. O talento criativo de Santos Dumont levou-o à invenção de outros aparelhos como: relógio de pulso em substituição ao relógio de algibeira (usado pelos homens) para facilitar melhor o vôo; chuveiros para banhos quentes e frios e outras invenções de utilidade humana. Essas glórias do cientista Santos Dumont, jamais poderão ser usurpadas por qualquer indivíduo ou por qualquer nação. Indubitavelmente, ele foi e continua sendo o maior cientista do Brasil. Caio Lóssio Botelho

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O Que foi a revolução cultural na China? É um dos países mais complexos do nosso Planeta. Com uma superfície de mais de 9.500.000 km2, com a população superior a 1.180.000.000 de habitantes. Essa nação se comporta como um verdadeiro “formigueiro” humano.

CARACTERÍSTICAS: yy Possui 21% apenas de sua população concentrada nos grandes centros urbanos; yy O crescimento demográfico é de 1,34% ao ano; yy Com taxa de fertilidade de 2,4% número de filhos por mulher (1 filho por ano); yy Constitui-se o maior adensamento demográfico da Terra; yy É o centro do mundo amarelo; yy Embora adote a filosofia marxista, a China professa o Confucionismo, no trabalho ou na rua, o Taoísmo em casa ou na vida privada e o Budismo por ocasião da morte. Estas religiões pregam culto à família; yy Hong-Kong funcionou como modelo de psicologia coletiva para a sua revolução cultural. Um Estado pode ser formado por Povos e Nações diversas, como acontece com a China. Vejamos no quadro abaixo a distinção entre Povo e Nação.

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POVO

NAÇÃO

Entidade ética psicológica e cultuEntidade política, fundada em prinral, fundada em princípios políticípios jurídicos. cos, dentro da realidade histórica. Baseia-se numa solidariedade hisBaseia-se numa solidariedade jurí- tórica das lutas, dos triunfos, das dico-local da cidadania. derrotas, onde se cria uma hegemonia espiritual. Uma comunidade política apoiaUma sociedade política apoiada da em princípios histórico-socialem princípios jurídicos. morais. A unidade política é apoiada numa A unidade política é apoiada numa cultura. civilização. A unidade é feita por integração A unidade é feita por leis (coação), espontânea de fundo psicológico conjunto heterogêneo. (conjunto homogêneo). Baseia-se numa consciência coletiva (comum): de origens, crenBaseia-se na cidadania, isto é, os ças, costumes, tradições, vontadireitos e os deveres para com o des, necessidades, aspirações e ideais comuns, de origem cultuEstado (Leis). ral, mas que procura se assentar numa civilização. É uma sociedade política, onde se estuda a forma, a ordem; e a solidariedade é mecânica com base na razão e organização (aí a gente está).

É uma comunidade política, onde se estuda a matéria, a substância; e a solidariedade é orgânica, com base no instinto e organismo (aí a gente é).

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Até o início da década de 1950, a China era um país de pouca expressividade no contexto internacional das nações. Só após a Revolução Cultural, imposta por MAO-TSÉ-TUNG, em 1957, é que realmente o Estado chinês vem assumindo gradualmente o papel de certo relevo na realidade mundial. MAO-TSÉ-TUNG, depois de conviver com um vasto período revolucionário (aproximadamente 30 anos) e de consolidar a sua posição político-militar na China continental, deu uma guinada de 180º, no que tange à essência do materialismo dialético. Na sua nova doutrina, MAO-TSÉ-TUNG aliou a filosofia do marxismo, à do Confucionismo, à do Taoísmo e à do Budismo, incorporando um conjunto de princípios e regras morais para o soerguimento da comunidade chinesa. Tornou-se, destarte, uma espécie de LUTERO SOCIAL DO ORIENTE, devido a sua interferência no dogma destas diversas religiões ou filosofias de vida, através de uma profunda modificação política, espiritual e também demográfica. A sua ação se fez inicialmente no plano religioso ou filosofia de vida. 1. O chinês era de um modo geral, no trabalho, nos negócios, nas ruas e nas cidades de um pragmatismo doutrinário dentro do Confucionismo, que é muito mais que uma religião; é, portanto, uma filosofia de vida, baseada num profundo conhecimento (teórico e técnico), que leva a uma economia de energia e recursos, através de uma universalização na administração do mundo globalizado; 2. Na sua vida privada (em casa), com a família e os amigos, demonstra claramente um equilíbrio, uma elegância, um requinte em sua existência por intermédio do taoísmo (Yin e do Yang); 3. Na hora da despedida deste mundo (morte), o chinês procura renunciar a tudo, (budismo), deixando-se tomar pelo sentimento de compaixão universal, e parte sem culpa, nem remorso para o Nirvana. 34


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Os quase cem anos de colonização britânica em Hong-Kong foi um dos pilares para a revolução cultural na China, tendo em vista a criação de uma mentalidade capitalista naquela região. Os chineses de Hong-Kong estabeleceram uma estratégia de ajustamento cultural, psicológico e moral dentro de uma visão ocidental para a abertura do comércio e indústria no mundo amarelo. O governo chinês adotou ainda a centralização política apoiada numa descentralização econômica. Com esta modificação, conseguiu aquele líder político alterar toda a estrutura milenar chinesa que se encontrava cristalizada, psicológica e socialmente. Graças a essa Revolução, pôde efetuar reformas profundas no substrato da cultura chinesa. A revolução cultural de Mão-Tsé-Tung, além de tentar estabelecer a unidade filosófica dentro da ontologia do ser, interferiu também na questão da rigidez demográfica de sua população, através da adoção da Densidade de População Fisiológica e Densidade de População Funcional, medidas estas que não foram adotadas por nenhum outro Chefe de Estado do nosso Planeta. Senão vejamos: yy Densidade de População Fisiológica – consiste em redistribuir o número de habitantes de uma determinada região, tendo em vista a capacidade produtiva do seu solo e o “optimum” ecológico de sua região; yy Densidade de População Funcional – consiste em redistribuir o número de habitantes de uma determinada microrregião homogênea, em relação à tendência psicológica de cada grupo (povo ou nação) e em relação também à sua própria produção. Temos por exemplo, os Kamulkos – habitantes do centro daquele país. Submetidos a um teste de psicologia coletiva, demonstraram tendência para a atividade industrial, foram os mesmos automaticamente transferidos para os grandes centros industriais do país (Densidade de População Funcional).

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Destacamos por outro lado, que, se um outro grupo, os Miao-Tsé – habitantes de uma microrregião homogênea A, que tenha capacidade de suportar apenas 90 milhões de indivíduos, mas está com uma população superior a 120 milhões. Esses 30 milhões excedentes foram automaticamente transferidos para a microrregião B. O “optimum” ecológico dessa região permitiria uma concentração de 90 milhões de indivíduos, mas só possuía 60 milhões (Densidade e População Fisiológica). Com a implantação dessas duas medidas verificou-se a maior migração forçada na História da Humanidade, a qual originou o rompimento de toda a estrutura psicológica e sociológica daqueles agrupamentos, dando ensejo à impregnação de uma ideologia imposta a curto e a médio tempo. Só uma medida dessa natureza poderia fazer mudanças tão radicais, como as ocorridas naquele País. Se não fora a execução dessas mudanças elaboradas simples e puramente por um só processo, a velocidade de transformação da mentalidade dos diversos povos do Estado chinês teria sido lenta e paulatina. Após essas transformações ocorridas na China, toda questão geopolítica do Extremo Oriente passou necessariamente por esse País oriental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: yy A China convive com a questão do ingurgitamento demográfico, que, se não fosse dado um tratamento à altura, levaria, inexoravelmente, esse Estado a problemas gravíssimos de patologia social, face à sua elevada pressão e explosão demográfica; yy A China apoiada numa filosofia de natureza psicológica, ontológica e, sobretudo, científica (Densidade de População Funcional a Fisiológica), conseguiu transformar-se numa potência mundial; yy A adoção destas medidas poderia alterar a visão malthusiana? y y Como o leitor encararia estes fatos em face da Teoria de Darwin? 36


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yy O desenvolvimento destas duas técnicas demográficas, aliadas á unidade espiritual, teria concorrido para um reajustamento da desigualdade social? yy Será que o fato de a Ásia ter sido o berço das religiões daria a este País o privilégio para a compreensão das questões de psicologia social? yy Por que na América Latina a explosão demográfica concorreu para aumentar o desassossego social, e, na China, levou à formação dessa potência? yy O disciplinamento do espaço e da população chinesa foi realizado através do Estado, por uma filosofia e uma política demográfica, que procuraram amenizar a rigidez social, com estratégias mais direcionadas para o campo da psicologia coletiva (ontologia do ser), da democracia, da História e da Geografia, onde os seus aspectos espaciais não foram desprezados dentro da Psicologia de cada povo e da cada nação. Caio Lóssio Botelho

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JOSÉ ANÍZIO DE ARAÚJO – cadeira nº. 4 O engenheiro, poeta, filatelista, membro-fundador e atual presidente da AMLECE, entre tantas outras ocupações, José Anízio de Araújo nasceu em Quixadá-CE, no dia 22 de novembro de 1944, filho de José Evangelista de Araújo e Ana Anízia de Araújo. Casado em Comunhão de bens com Marta Maria Rocha de Araújo. Fez o Ginasial e Científico (atuais ensino fundamental e médio) no Colégio Estadual Liceu do Ceará, no período 1959/65. Formou-se em Engenheiro Agrônomo pela Escola de Agronomia da U F C – 1968/72. Fez vários cursos de aperfeiçoamento e especialização nas áreas de Agropecuária, Administração, Nutrição e Alimentação, Avicultura e Cooperativismo, nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Concursado pelo antigo DASP, foi designado para a Delegacia Federal de Alagoas -1978 - Gerente do Projeto no Serviço de Defesa Sanitária Vegetal - 1978/80; e removido para a Delegacia Federal de Agricultura do Ceará em 1980, ocupando vários cargos no Serviço Público Federal, do qual se aposentou em 1996, como Fiscal Federal Agropecuário. Iniciado, Elevado e Exaltado Mestre Maçom pela Augusta e Respeitável Loja Simbólica Deus e Maranguape nº. 15 da Mui Respeitável Grande Loja Maçônica do Ceará –1980/82. Sua atividade na Maçonaria é das mais intensas: Venerável Mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Evolução e Trabalho nº. 80 -1988-90; Fundador e Venerável Mestre de Honra “ad Vitam” das Augustas e Respeitáveis Lojas Simbólicas (Evolução e Trabalho nº. 80 – 1988 / Irmão João Lima dos Santos nº. 114 - 1996 / Irmão João Lima dos Santos nº. 3385 – 2002); Grande Inspetor Geral da Ordem para o Rito Escocês Antigo e Aceito, Grau 33 – 1992; Presidente da Inefável Loja de Per38


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feição Cônego Januário Barbosa nº. 8 – 2001; Fundador do Jornal Maçônico AMPULHETA – 1997; Fundador Presidente do Instituto de Cultura Maçônica do Ceará – 1997; Deputado Federal da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Irmão João Lima dos Santos Nº 3385 para a Soberana Assembléia Federal do Grande Oriente do Brasil 2001/03; Presidente da Poderosa Assembléia Estadual Legislativa do Grande Oriente Estadual do Ceará - 2004/07; entre outros. Várias condecorações: Comenda João Lima dos Santos da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Seguidores da Arte Real nº 107 da Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará – 1999; Benemérito da Ordem Maçônica pelo Grande Oriente do Brasil – 2006; Portador da Medalha Antonio Chagas Filho da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Irmão João Lima dos Santos Nº 3385 – 2002; Portador da Medalha MONTEZUMA – (Francisco Gê Acaiaca de Montezuma foi Fundador do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito e esta Medalha é a mais alta distinção do Supremo Conselho do Brasil). Agraciado na cidade de Maceió–Alagoas por ocasião do IV Encontro dos Delegados Litúrgicos do Nordeste em 2007. Um humanista sempre integrado à vida social, sempre disposto a participar, a construir, a realizar. Assim, participou da fundação do Rotary Clube de Maracanaú, do Conselho Consultivo Capítulo Patativa do Assaré nº 607 da Ordem Demolay. (do qual foi vice-presidente); Fundador e Conselheiro Fiscal do Grande Capítulo Estado do Ceará da Ordem Demolay; Deputado Nacional do Supremo Conselho da Ordem Demolay para o Brasil; Presidente da Sociedade Numismática e Filatélica Cearense -2000/03; Filatelista com coleções premiadas com Medalhas de Prata e Vermeil nas Exposições Internacionais de Portugal, Brasil e Espanha; Juiz Filatélico (Categoria Selos Fiscais) da Federação Brasileira de Filatelia – FEBRAF em 2003; Membro do Conselho Consultivo da Federação Brasileira de Filatelia – FEBRAF em 2006; membro fundador e atual Presidente da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE), 2007/2008 (cadeira nº 4). 39


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Apresenta já considerável produção: Glosas e Versos de Cordel (em parceria com seu irmão Jaime Evangelista de Araújo, hoje falecido e seu patrono acadêmico) -1992; Entre Colunas -1997; Caminhando para o Sul -1999; Câmara de Meio – 2000; Câmara do Meio – 2ª Edição Revista e Ampliada – 2006. O Caminho da Poesia- Estruturas e Formas – 2008.

Jaime Evangelista de Araújo (patrono) Jaime Evangelista de Araújo nasceu em Quixeramobim, aos dois dias de agosto de 1925, e faleceu em 16 de outubro de 2000, em Fortaleza. Fazendeiro de uma gleba de terras no distrito dos Algodões (Quixeramobim), herdada de uma tia e madrinha, irmã de seu pai, onde criava gado mestiço das raças indianas e plantava algodão mocó até a praga do bicudo. Também possuía umas cem cabeças de ovinos, que todas as tardes alegravam o pátio da fazenda. Mas ele em sua maneira simples de ser, dizia-se apenas agricultor e pequeno criador. Por toda a vida foi telegrafista do extinto Departamento dos Correios e Telégrafos e serviu nas cidades de Jucás, Quixadá e Fortaleza, onde chegou a ser Chefe de Turma e aposentou-se posteriormente. Ainda solteiro, mas com idéias avançadas e destemidas, foi o precursor e principal responsável por trazer a família de seu pai de Quixadá para Fortaleza nos idos de 1957. Casou-se no ano seguinte com MARIA EUNICE OLIVEIRA DE ARAÚJO, funcionária federal do IPASE de quem ficou viúvo muito cedo, mas que lhe deixou três filhos pequenos. Não quis casar-se novamente e, com o auxílio da sogra, Joana Nazaré de Oliveira – Dona Joaninha – como era tratada, criou e educou as crianças hoje todos formados (em Engenharia Civil, Engenharia de Pesca e Medicina Veterinária, respectivamente). Teve outro grande abalo em sua vida quando perdeu sua única filha, recém-formada, em acidente automobilístico.

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Iniciou-se na Maçonaria pela Loja Deus e Maranguape nº. 15 da Grande Loja Maçônica do Ceará. Muito querido por todos que tiveram o prazer de seu convívio era admirado por sua verve de poeta e gozador. Irreverente, brincava com todos e por onde passava espargia felicidade. As estórias da “Poupança do Boré”, “O Passarinho” e “O Processo”, todas cantadas em improviso são pequenas marcas de sua passagem neste mundo de escarcéus. Poeta de quatro costados registrou no soneto “A INVEJA” a sua personalidade de homem honrado e digno. Na obra GLOSAS E VERSOS DE CORDEL, construída a quatro mãos com seu irmão caçula José Anízio de Araújo de quem era compadre e grande amigo, deixou com ele imortalizada a “História de Lampião”, um romance inédito cantado em “Martelo” e que traduz a vida e morte do Rei do Cangaço. José Anízio de Araújo

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A POUPANÇA DO BORÉ Nós tínhamos um morador Que se chamava Boré E um dia sua mulher Tristonha me avisou Que seu marido arrumou Uma nova namorada Estava preocupada Mas precisava perícia Porque àquela notícia Não estava confirmada. E depois daquele choro O Boré me informou Que desde que se casou Foi o primeiro namoro Esta agora é “um estouro” Bonita e bem atraente Confesso que estou contente Mas o caso é reservado Por favor, fique calado... Que minha mulher é valente. Outra mulher arranjei Porque me senti forçado Sempre vivi bem casado Não sei por que me danei E se nada revelei Falo agora com franqueza E lhe afirmo de certeza Que não agi de má fé Pra poupar minha mulher Foi que fiz esta proeza. 42

Jaime Evangelista


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O PASSARINHO Eu levei um passarinho Para o Gondim entregar Porém eu fui namorar E desviei o caminho. Recebi muito carinho E tive um bom tratamento E naquele movimento Não sei o que ela sentiu Que o passarinho me pediu E levou em pagamento.

Jaime Evangelista

A INVEJA Se tendes uma vida malfadada Cheia de inclemência e de queixumes E levas muitas vezes desfraldada A bandeira da maldade e dos ciúmes.

Jaime Evangelista

Abandone todos estes maus costumes Que a vida não é tão prolongada E muitas vezes não se chega aos cumes Da idéia por nós tão bem traçada. A inveja é a maldade comprovada Que jamais deve ser utilizada E o invejoso vive em escarcéu... Não invejes jamais seu semelhante A inveja muitas vezes é o bastante Para impedir-nos de entrar no céu. 43


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PROCESSO O processo estava parado Por falta de um documento Que só com advogado Podia ter andamento Mas ao ter conhecimento O Gondim entrou em ação E ganhou logo a questão Ficando assim combinado Que todo o atrasado Iria pra sua mão.

Jaime Evangelista

Eu chamei o meu irmão Para o dinheiro entregar Mas ao chegarmos lá Veja a situação: Gondim – doente do coração A mulher com perna quebrada A geladeira queimada O carro estava no prego Um farol estava cego E a bateria arriada. Mas tudo logo mudava Quando o dinheiro recebeu A mulher que não andava Em pouco tempo correu O Gondim se esqueceu Que do coração sofria Foi grande a sua alegria E com a emoção que estava Que ele quase nos dava O que há pouco recebia. (Matéria extraída da Obra GLOSAS E VERSOS DE CORDEL) 44


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A Bíblia José Anízio de Araújo A Bíblia é para os povos do ocidente um Código de Moral, de Justiça, de Ética e de Fé e se apresenta como o LIVRO DO CONHECIMENTO SAGRADO. Tão poderosa é a força esotérica da Bíblia Sagrada que concentra a força de duas grandes religiões totalmente distintas: Judaísmo e Cristianismo. É o livro mais conhecido no mundo e já foi traduzido para 1685 idiomas dos 3200 falados. Mesmo com toda esta láurea poucas pessoas a lêem, preferindo tê-la como adorno, enfeite ou modismo. A Bíblia não é apenas um livro, mas um conjunto de livros de tradição hebraica e escrita por várias pessoas em diversas épocas da história da humanidade. Começou com Moisés, continuou nos reinados de David e Salomão - período glorioso do povo hebreu e findou com a morte de São Pedro, por volta do ano 100 da Era Cristã. Divide-se basicamente em duas partes: Antigo e Novo Testamento. O Antigo compõe-se dos livros do Pentateuco, de dezesseis livros históricos, sete livros sapienciais e dezoito livros proféticos. Os livros do Pentateuco são: GÊNESIS, que relata a origem da terra, da humanidade e de Israel; ÊXODO, que fala de Moisés - seu nascimento e sua vida, as pragas do Egito e a caminhada do povo hebreu em busca da “terra da promissão”. Diz do Decálogo, da Arca da Aliança e da construção do Tabernáculo; LEVÍTICO mostra os holocaustos e as festas oferecidas ao Senhor, com destaque para a festa da Expiação; NÚMEROS dizem do censo das tribos de Israel e DEUTERONÔMIO, onde Moisés apresenta o decálogo ao povo hebreu e finda com sua morte. O Pentateuco ou Thora é em seu todo um conjunto de leis que consubstanciam o Judaísmo e traduz a revelação oral da Cabala Numérica, que é o Esoterismo Judaico. 45


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Os dezesseis livros históricos contam tudo de Israel, desde a conquista da terra de Canaã até a queda de Jerusalém. São eles: Josué, Juizes, Ruth, Samuel I e II, Reis I e II, Crônicas ou Paralipômenos I e II, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester e Macabeus I e II. Os sete livros sapienciais são: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. Os dezoito livros proféticos são: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Alguns estudiosos não separam Jeremias de Lamentações, visto terem sido escritos pelo mesmo autor, o que nos daria um total de quarenta e cinco livros para o Antigo Testamento, número este aceito pela Igreja Católica após o Concílio de Trento. Já outros entendem que os livros I e II de Samuel devem ser chamados Reis I e II, passando estes a serem chamados Reis III e IV. O Novo Testamento compõe-se de vinte e sete livros, assim distribuídos: quatro Evangelhos (de Mateus, Marcos, Lucas e João), os Atos dos Apóstolos, catorze Epístolas de São Paulo, sete Epístolas Católicas e o Apocalipse. É importante observar-se que a ordem dos livros para a montagem da Bíblia não é a mesma em que foram escritos, pelo enorme tempo que passou até sua formação. Sua divisão em capítulos e versículos foi levada a termo a partir de 1528 a fim de facilitar sua leitura e tornar uniforme seu estudo. Esta divisão foi aprovada pelo Concílio Vaticano I em 1870 e passou a ser aceita por todas as religiões cristãs. O termo Testamento significa Aliança ou o pacto que Deus fez com o povo através de Moisés, no monte Sinai, conforme nos mostra o livro de Êxodo (6:7): “Eu serei o seu Deus e vocês serão o meu povo”.

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Para os cristãos o Novo Testamento representa a Nova Aliança de Deus com os homens através de Jesus Cristo conforme nos conta Lucas (22, 20) - “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que será derramado por vós”. A Bíblia é, pois, um livro religioso e de contexto histórico e cultural. Quando o apóstolo João escreveu o Apocalipse para anunciar a vitória de Deus sobre a inevitável oposição do mal e do bem que envolveu a terra e com isto apresentar uma série de revelações simbólicas de sentido oculto sobre o futuro da Igreja, estava, sem saber, trazendo o esoterismo para a religião cristã, conhecido e estudado nos dias de hoje como o esoterismo cristão. O livro de Mateus é também esotérico quando nos fala de símbolos: (13:10/3) - “E chegando-se a Ele os discípulos lhes disseram: - Por que nos fala tu por parábolas? Ele respondendo, lhes disse: Porque a vós é dado saber os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que vos falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem”. As ciências esotéricas não podem ser escritas, nem faladas e muito menos traduzidas, porque elas não são um SABER, mas sim um PODER que só pode ser adquirido mediante o esforço de cada um numa batalha contra seus próprios obstáculos. Por estas afirmativas não podemos ensinar tudo a todos porque somente alguns estão intelectual e moralmente preparados para receber o conhecimento. Assim falou o divino Mestre Jesus: “muitos serão chamados, poucos os escolhidos”. Mas, porque o Esoterismo, com todos estes conceitos não se define como religião? Porque mesmo com todos estes conceitos ele não se basta a si mesmo. Ele não se completa porque não possui dogma, não 47


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promove milagres e não se aprofunda nas cousas sob o ponto de vista sacro. Por isso o esoterismo não se constitui numa religião. O esoterismo é uma força interior que fortalece as religiões, pois está ligado aos estados superiores do ser. Ele é aceito e entendido pela intuição intelectual, ou seja, pelo órgão do espírito. Nesta época conturbada em que se vive onde a moral e os bons costumes foram corrompidos pela mídia; onde a falta de pudor abate chefes de Estados e dirigentes religiosos; onde a estrutura da família abala-se pelo estímulo da separação; onde a face da obscuridade leva pessoas à prática de ações desonestas; onde o ter predomina sobre o ser; onde o sofisma e a mentira conduzem homens a perseguirem e maltratarem outros homens; onde a força do poder avilta a Lei e a Ordem e onde a incompetência da subserviência faz o medo substituir o amor; só no esoterismo da introspecção e do reconhecimento aos nossos semelhantes haveremos de buscar o equilíbrio da espiritualidade que nos conduza à Verdade Única e Eterna. (Bibliografia: ENTRE COLUNAS e CAMINHANDO PARA O SUL – Obras do autor)

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Israel José Anízio de Araújo A Bíblia, livro de formação moral e filosófica das grandes religiões ocidentais contém na primeira parte – Antigo Testamento –, a história do povo hebreu por ele escrito com detalhes os mais significativos. Assim, conhecemos o herói Moisés que libertou o “povo de Deus” da escravidão dos faraós e o conduziu por quarenta anos no deserto do Saara. Também falou com Deus pela sarsa ardente e recebeu as Tábuas com os Dez Mandamentos. Quando encontrou a Terra Prometida da Palestina não pôde entrar, pois faleceu às portas da cidade. Coube a Josué o comando do povo e a direção das guerras contra seus irmãos árabes, ali já residentes. Muitas guerras dos hebreus são contadas amiúde e lembradas em nossos rituais como a dos filisteus onde aparece a figura do Sansão matando dez mil com a queixada de um jumento e o frágil David derrotando o gigante dos filisteus - Golias. Após morrer Saul por suicídio, David é levado a ocupar o trono. Entre os salmos e as guerras fez enviar o amigo Urias a uma frente de batalha para morrer e tomar-lhe a mulher, Bethsabée. (Reis II; 11, 15). Também lutou contra o filho Absalão em batalha onde morreram vinte mil homens. (Reis II; 18, 7). Às portas da morte mandou ungir Salomão, seu predileto, para garantir-lhe o trono que por direito pertencia a Adonias pela qualidade de primogênito. O primeiro ato de Salomão foi mandar “ferir” o meio-irmão Adonias que ousou pediu a favorita do pai, Bethsabée e o julgamento mais sábio do jovem rei foi mandar separar ao meio uma criança cuja maternidade era reclamada por duas mulheres; o desfecho não se consumou por renúncia da verdadeira mãe que teve seu filho de volta. Salomão conseguiu amealhar com guerras e conquistas imensos tesouros, razão de haver construído o fabuloso Templo de Jerusalém, uma promessa de David ao Senhor. 49


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Com a morte de Salomão e os desequilíbrios contínuos dos que o sucederam, levaram Jerusalém à destruição por Nabuzardan, general de Nabucodonozor, que levou o povo cativo para a Babilônia mantendo-o escravo por setenta anos (dez semanas de anos). Cumprida a profecia de Jeremias eis que Ciro liberta os hebreus e os entrega a Zorobabel orientando-o a reconstruir Jerusalém e o Templo do Senhor, agora já sem a opulência do ouro, da prata e do mar de bronze. Novos anos, outros reis e mais guerras levam Israel a ver o Templo destruído, agora por Herodes – o Grande –, que arrependido por sua ação injusta contra o Deus de seu povo desprendeu grandes riquezas para mandar reconstruí-lo. E os judeus crucificam o irmão Jesus, o Cristo, porque este lhes deu uma proposta de amor e de paz. As guerras não param e desta vez foram os romanos que no ano 70 da era cristã, abateram o Terceiro Templo restando apenas parte de uma parede de pedras chamada Muro das Lamentações, lugar sagrado onde os filhos de Israel fazem suas preces. Parece que estas ainda não foram ouvidas, visto que Hitler resolve exterminar a raça semita e mata seis milhões de judeus. É a Segunda Guerra Mundial, e os americanos, em nome da Paz, lançam duas bombas atômicas no Japão destruindo Hiroshima e Nagazaki. Considerada uma bomba pequena a explosão em Hiroshima matou quase que instantaneamente 70 mil pessoas. Com a rendição dos países do Eixo, os Estados Livres constituem as Nações Unidas. O Brasil participa com seu filho Osvaldo Aranha, escolhido o primeiro Secretário Geral da ONU. Este assina, em nome da paz, a concessão de uma pátria para os judeus. E a ONU conseguiu oficializar a criação do Estado de Israel na terra dos palestinos. Será que esta era a Terra Prometida por Deus que foi registrada pelos homens? 50


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Fortalecido pelo constante apoio técnico-financeiro dos judeus do mundo inteiro, principalmente dos Estados Unidos, Israel torna-se uma nação militarmente muito forte; e já aos 22 anos, em 1967, inicia com os vizinhos árabes mais uma guerra. Munido de armamento bélico de última geração Israel impõe uma derrota fragorosa ao Mundo Árabe em apenas uma semana – a guerra dos sete dias. Neste tempo Ariel Sharon, comandante das tropas, destruiu o Líbano, que foi ocupado militarmente pela Síria, ampliou o território até as Colinas de Golias e dominou ostensivamente o território da Palestina. Desde então os ataques suicidas promovidos por árabes em todo o Israel se multiplicaram chegando a atingir a nação mais poderosa em 11 de setembro, com a destruição das torres gêmeas por aviões com passageiros. E os americanos conseguiram trazer a guerra para dentro de casa. Mesmo assim, responderam rapidamente com a força bélica apoiada na mídia: o Afeganistão pagou parte da conta deixando a outra parcela para o Iraque, que também sofre os horrores da ocupação estrangeira. O “povo de Deus” dirigido pelo mesmo Ariel Sharon é levado a dividir a Terra Prometida por um muro de cimento e aço, semelhante ao erigido em Berlim pelos Russos nos anos da guerra fria. Por coincidência do destino, os filhos de Israel também fizeram imprimir nos braços de seus irmãos palestinos uma numeração de controle assemelhado a que lhe foi aplicado pelos nazistas. A história se repete... Em nome da Paz e, quiçá, arrependido da bestialidade de tantas mortes que provocou, Sharon agora humilha seu próprio povo com promessa de pagamento para desocuparem as casas que viviam nos territórios ocupados e os devolve em parte aos palestinos, como mostra de “boa vontade” ou até mesmo um pedido antecipado de perdão ao Pai, pouco antes de cair gravemente enfermo. Hoje se encontra em coma e respira com auxílio de aparelhos. 51


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E o mundo cansado de tantas guerras, pede paz duradoura a Israel – que continua a lançar bombas na Faixa de Gaza –, a retirada das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão e uma pátria para a Palestina.

A Palavra José Anízio de Araújo “Criou Deus, pois, os grandes peixes e todos os animais que têm vida e movimento e todas as aves e animais selvagens e domésticos e todos os répteis da terra, cada um segundo seu gênero e espécie”. (Ge. 1; 21-25). Para todos eles o Criador ofereceu-lhes uma linguagem própria. Assim, as aves gorjeiam, o gado muge, o cão ladra, o gato mia... Ao homem – o primor de Deus, criado à Sua Imagem e Semelhança (Ge. 1; 26,27) – foi-lhe dado o domínio sobre os peixes do mar, as aves do céu e os animais da terra. Para tanto ele teria o Saber da Palavra. Ele podia falar. Com a Palavra o homem experimentou a sedução da mulher e descobriu que estava nu. Expulso do Paraíso tratou de expandir seus domínios terrenos: plantou seu sustento, subjugou os animais, construiu casas e cidades, formou impérios, aperfeiçoou exércitos para destruir outros homens, embrenhou-se nos rudimentos das ciências e escravizou seus irmãos. Alguns homens pelas iniciações da vida fizeram-se sábios com o uso da Palavra e tornaram-se elevados no conhecimento. Estes Mestres esclarecidos foram alvos da cobiça e da inveja de seus companheiros que desejavam a Palavra para conseguirem posições na sociedade da época que não os reconheciam.

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Então eles mataram os sábios e a Palavra perdeu-se nas brumas do tempo. A ignorância do homem durou várias gerações, época em que surgiram diferentes idiomas para povos distintos. O homem não sabia como se comunicar com os outros homens. O nascer de uma criança divina fez transmutar a Rosa Mística do Amor e a Palavra foi encontrada no Sacrifício da Cruz, conforme nos conta o Livro do Evangelista João (1; 4,5): “No Verbo estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens; a Luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não a compreenderam”. Antes um simples meio de comunicação, a Palavra – o Verbo Divino –, tornou-se a fonte inesgotável do conhecimento. Os diversos idiomas foram traduzidos entre si e o saber falar transformou-se no PODER DA PALAVRA. Tamanha a força propulsora da Palavra que ela pode transferir ao homem que a pronuncia um conceito social de honorabilidade e respeito. Estar com a Palavra em uma assembléia é manter-se momentaneamente no Poder pela oração. Já Empenhar a Palavra é comprometer-se com o que ficou acertado. Esta posição pela Palavra deu à sociedade moderna um conceito de alto valor pela moral que ela encerra. Se um chefe de Governo afirma suas convicções no uso da palavra vã, esta certamente se voltará contra ele e o destruirá. A promessa verbal é uma Palavra que merece a maior confiança, principalmente se for dada com espontaneidade por uma pessoa merecedora da nossa confiança. Se, por acaso, a Palavra dada for negada posteriormente, poderá levar esta pessoa que negou ao descrédito e à vergonha. A Palavra é, pois, a honra de um protesto verbal que afirma a realização de uma promessa. Por tratar-se de uma dádiva divina a Palavra deve ser usada com moderação, sabedoria e prudência. 53


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O BEIJO Os animais que se vê por todo dia Sejam mamíferos, aves, roedores, Mansos, valentes, bravios, matadores, Todos eles em qualquer hierarquia.

José Anízio de Araújo

Somente quando o estro do cio inicia Os machos abandonam os temores Fazendo das parceiras, seus amores, Pra deixar a descendência em garantia. O prodígio que encerra a natureza Mostrado sempre dos sábios animais Os homens mudaram em sutileza... Até se vulgarizou entre casais Com o carinho do beijo, na certeza, D’um amor que já não existe mais.

AO ESTADO DO CEARÁ (Galope à beira mar) José Anízio de Araújo

E Anízio Araújo encontra a pureza Que tem o Galope e neste seu canto Mostra as cores do céu, do mar o encanto, O frio da lua, da terra a beleza, O calor do sol, da chuva a grandeza, Da garota o sorriso, a vida de um lar. A mulher mais bonita para o homem amar O forte abraço do irmão mais fraterno Os ventos que sopram: verão e inverno E os grandes mistérios do fundo do mar.

Bibliografia: O CAMINHO DA POESIA. 2008. 54


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JAILDON CORREIA BARBOSA – cadeira no. 5 Jaildon Correia Barbosa nasceu em Fortaleza, no bairro da Praia de Iracema, em l949. Cursou o ensino fundamental e médio no Colégio Estadual Liceu do Ceará (l962-l968). Formou-se Engenheiro Agrônomo na Universidade Federal do Ceará (UFC) em l975. Lecionou Matemática no ensino fundamental do Colégio Estadual Joaquim Nogueira em l97l e no Colégio Estadual João Hipólito de Azevedo e Sá (Colégio da Piedade), de l972 a l976, ambos em Fortaleza. Também ministrou as disciplinas Cálculo Vetorial e Geometria Analítica, no curso de Engenharia Operacional da Universidade Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, em l978. Trabalhou como agrônomo pesquisador da UFC, de l976 a l977. Gerenciou o Núcleo do Projeto Sertanejo de Sobral - CE (l982l985). Atualmente, Jaildon é técnico do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O autor é cordelista, e cronista, tendo publicado vários cordéis, quarenta e cinco crônicas na imprensa de Fortaleza e os livros A Trajetória de Bruno Correia Barbosa (1999) e Rei Davi em Versos (2005). Foi um dos vencedores do Concurso Nacional Cultural de Poesia – Prêmio DIRECTV, com um trabalho versando sobre o tema LIBERDADE, no ano 2000.

Leonardo Mota (patrono) LEONARDO Ferreira da MOTA nasceu no município de Pedra Branca (CE), a 10 de maio de 1891, sendo filho de Leonardo Ferreira da Mota e Maria Cristina da Silva Mota. Faleceu em Fortaleza, no dia 2 de Janeiro de 1948. Fez os primeiros anos escolares em Qui55


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xadá e no Colégio São José, na Serra do Estevão (1903), no Seminário de Fortaleza (1904 a 1908) e terminou os preparatórios no Liceu do Ceará (1909). Ele se tornou bacharel pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro em abril de 1916. Em Fortaleza, Leonardo Mota foi redator do jornal Correio do Ceará e diretor do jornal Gazeta Oficial. Foi tabelião público, tendo vendido o cartório para, com o dinheiro, custear as suas excursões folclóricas. Pertenceu ao Instituto do Ceará e à Academia Cearense de Letras. Ele é considerado o Príncipe dos folcloristas nacionais, pois não recorria a cartas e nem a informações de terceiros, para escrever sobre gentes e coisas do sertão. Tudo que dizia foi por ele visto e ouvido in loco, ao pé das violas, integralizado na vida matuta. O escritor tinha uma grande paixão pela observação e estudo dos costumes, da linguagem e da poesia do povo sertanejo desde o tempo de menino. Foi seduzido pela vaidade de ser um mensageiro no Brasil, da inteligência do habitante do Nordeste nas principais cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e em doze capitais. Leonardo se devotou a uma campanha de exemplar nacionalismo, desmentindo a velha injustiça de as populações citadinas acharem que o matuto do Nordeste é apenas o cangaceiro feroz ou o caboclo preguiçoso e lerdo. Protestou contra a mania de auto-desmoralização que lamentavelmente reduz o tão sofrido nordestino. Deplorou a separação que se faz do sertanejo e da população litorânea, reivindicando o bom nome dos habitantes do interior, condenando o fato de somente agradar as multidões, o julgamento desagradável do nordestino, em virtude das generalizações aloucadas e dos erros de sociologia leviana. Provou que nos sertões nordestinos não permanece inutilmente uma pleble de fracos. Repetiu que quem vive no Nordeste não é Jeca Tatu, é lerdo e na posição de cócoras, é Mané Chique-Chique; porque acocorado ninguém dá vivas à Liberdade, e nem liberta escravos, como em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea; nem abate ditadores, nem funda a Confederação do Equador, em 1817, cinco anos 56


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antes da Independência; e nem desbrava a floresta Amazônica como fez o vigoroso caboclo cearense navegando penosamente os rios, vencendo os índios, espantando feras, resistindo às doenças endêmicas, povoando seringais, inaugurando vilas, levantando cidades e trazendo para a integridade da Pátria Brasileira a grandeza do Estado do Acre, enfrentando através de batalhas, a cobiça boliviana, conquistado dia a dia aos inimigos da Nação, numa memorável campanha de heroísmo e de fé, de coragem pessoal e de amor ao Brasil, inteiramente desajudado do Governo, sozinho e vencedor. O escritor criticou as construções federais de combate ao flagelo periódico das secas, que gastam grandes somas de dinheiro, pois as verbas se esgotam com os grandes ordenados dos protegidos do favoritismo oficial, enquanto o homem do povo, esse trabalhador honesto e desapadrinhado, ganha uma quantia pequena, que nem chega para alimentação de sua numerosa família. Foi intransigente na defesa do sertão esquecido, do sertão ridicularizado, do sertão caluniado e só lembrado quando dele se quer o imposto nos tempos de paz ou o soldado nos tempos de guerra. No seu livro “Cantadores” e nas conferências proferidas, de Norte a Sul, ele se empenhou ao máximo em fazer ressaltar a acuidade, a destreza de espírito, a vivacidade da desaproveitada inteligência sertaneja, de que os menestréis plebeus são expressões elegantes esquecidas, apesar de dignas de estudos. Quando ele regressou de uma peregrinação, num inolvidável serão de letras no lar patriarcal do legendário Juvenal Galeno, teve a agradecer cativante preito da intelectualidade de nossa terra, assegurou o seu propósito de prosseguir na sua bem intencionada divulgação das virtudes da gente sertaneja, em que Álvaro Fernandes descobriu o barro plástico, o sólido cimento, e Euclides da Cunha descobriu a rocha viva de nossa nacionalidade. Certa vez, para escrever um segundo livro, ele esteve durante messes percorrendo os sertões da Paraíba. Já estava acostumado a viajar pelo sertão 57


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cearense, indo surpreender no seu habitat os nossos cantadores, entregando-se ao continuado trabalho de ceifa, nas próprias searas da abundante messe poética da alma da nossa gente. A primeira vez que ouvi falar do nome do poeta e escritor, Leonardo Mota, foi no ano de 1962, através do meu primo Cícero Ferreira Barbosa, repentista cujo nome artístico é Bem-te-vi Barbosa. O primo, que morava no município de Aratuba-CE, estava hospedado em nossa casa do bairro da Praia Iracema, em Fortaleza-CE. Ele me fez um convite para ir ao centro da cidade e ajudá-lo a escolher uma viola, na loja “A Espingarda”, localizada na rua Guilherme Rocha, esquina com Barão do Rio Branco. A escolha recaiu sobre uma viola que não era envernizada, como a maioria, mas pintada na cor alaranjada. Não resta dúvida que o instrumento era tão bonito que chegava a chamar a atenção de quem aprecia uma boa viola.Em seguida fomos até a livraria Feira do Livro, localizada na rua Floriano Peixoto, n° 726, esquina com Liberato Barroso, para comprar um livro do poeta Leonardo Mota. Disse-me que “todo repentista que se preza, possui um exemplar no livro Violeiros do Norte (do referido poeta), pois a leitura do mesmo proporciona maturidade ao tocador de viola, ao mesmo tempo em que desenvolve sua capacidade de criar e aumenta sua coragem para enfrentar os desafios em público”. Em nossa casa, Bem-te-vi me pediu uns livros de Geografia e de História do Brasil. Os livros seriam para aumentar os seus conhecimentos gerais em tais assuntos, pois para vencer um desafio é necessário entender do tema escolhido. Quanto mais informações o repentista tiver, melhor será o seu desempenho. De posse da viola e dos livros, ele retornou para sua querida Aratuba. Em outra oportunidade, Bem-te-vi venceu o desafio na Rádio Dragão do Mar (início da década de 60) segundo ele. Sua técnica havia sido aprimorada e aperfeiçoada através das leituras efetuadas no livro Violeiros do Norte. 58


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Leonardo Mota deixou as seguintes obras: Cantadores (1921); Violeiros do Norte (1925) - Prêmio da Academia Brasileira de Letras (1928); Sertão Alegre (1928); No Tempo de Lampião (1930); Prosa Vadia (1932); A Padaria Espiritual (1938);. (Bibliografia consultada – Antologia Terra da Luz: Prosadores/Organizada e atualizada por Carlos d`Alge. – Fortaleza: Diário do Nordeste, 1998.)

A entrega do trabalho A boa pedagogia utiliza o trabalho escolar para melhor fixar os conhecimentos ministrados na sala de aula. Ele está sempre presente ao longo da vida do estudante, mesmo com nomes diversos. No início, surge como dever de casa, depois recebe a denominação de tarefa de casa e por último, é chamado de trabalho individual. Embora com várias conotações e mesmo realizado até na sala de aula, o trabalho escolar geralmente cumpre a sua finalidade. Às vezes, ele é aguardado com grande expectativa e aceitação, principalmente quando o estudante gosta da matéria e/ou do assunto ensinado. Confesso que vibrei bastante quando o mestre nos mandou desenhar o mapa político da Europa, valendo nota, como trabalho escolar. No meu caso, já gostava das aulas de Geografia do professor Osmiro Barreto e passei a apreciar mais ainda, quando estava estudando a Europa. O estudo dessa parte do continente Eurasiano, no começo do ano de l963, despertou o interesse dos alunos da classe, por ser o berço das novas civilizações, abrigar os costumes sociais mais evoluídos da terra e ter sido palco de duas guerras mundiais. Estudar a Europa seria a grande oportunidade de mentalizar as posições geográficas e as fronteiras dos países que sempre estiveram em evidência na História Mundial. Entre eles, poderíamos destacar a Alemanha, que foi praticamente destruída na segunda Grande Guerra, e seu polêmico muro de Berlim, construído pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 59


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l96l. E verificar se era válida a política externa dos Estados Unidos da América (EUA) que ajudou na recuperação da Alemanha, no pós-guerra, em l945, mas que insistia em permanecer na guerra contra o Vietnã do Norte, no Sudeste asiático, pois em l962, o presidente John Kennedy criou o Comando Militar Americano para o Vietnã do Sul, com sede na capital Saigon, para evitar que surgisse mais um país socialista. Na parte da tarde, fui até à loja Paranaense, na Rua Nogueira Aciolli, n° 355, de propriedade do Sidrack, a preferida pelos estudantes para adquirir materiais para trabalhos escolares. Na loja, comprei uma folha de cartolina para confeccionar o trabalho. Em casa, sentado em uma cadeira de palhinha na sala de jantar, com a caixa de lápis de cor, lápis da marca Pau Brasil, borracha, esferográfica, cartolina e o livro aberto na página correspondente ao trabalho. Tudo em cima da mesa. Com um pouco de paciência e bastante atenção, logo o contorno do mapa e suas divisões territoriais dos países estavam transferidas do livro para a cartolina de modo ampliado. O passo seguinte foi pintar com cores diferentes as áreas dos diversos países europeus de modo que o mapa ficasse o mais semelhante possível com o original do livro. O acabamento constou da aplicação de uma camada de parafina seguida de polimento com algodão. Restava aguardar o próximo dia para entregar o trabalho. No outro dia, acordei cedo, tomei banho, escovei os dentes, vesti a farda do Liceu, consumi um reforçado café, peguei o meu colecionador de matérias e o trabalho de Geografia, enrolado em forma de canudo, e me encaminhei para o ônibus da Empresa Iracema que tomaria na avenida Historiador Raimundo Girão, esquina com a rua João Cordeiro, para me levar até a rua Floriano Peixoto, no centro da cidade. Ao chegar ao destino, desci do coletivo e andei quarteirão e meio, na citada rua e alcancei o Abrigo Central. Atravessei aquela obra que marcou a administração do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, penetrei na rua Guilherme Rocha, esquina com a Major Facundo, e andei mais três quarteirões até chegar na praça José de Alencar. 60


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Caminhando apressado e segurando firme o colecionador e o trabalho, subi no ônibus Jacarecanga, da Empresa Pedreira, para chegar até ao Liceu. O coletivo contornou a praça, passou em frente da Igreja do Patrocínio, entrou na Rua Guilherme Rocha e seguiu até chegar à Praça Gustavo Barroso, dobrou à esquerda e chegou ao Liceu. Descemos percebendo que havia uma revolta geral no meio estudantil, em virtude de ter havido aumento no preço das passagens de ônibus. Sabíamos, pela experiência, que aquilo seria motivo suficiente para um novo quebra-quebra e, dependendo do desdobramento, as aulas poderiam ser suspensas, com a entrega do trabalho adiada. Realmente, naquela manhã não houve aulas e, no retorno para casa, perdi o trabalho quando corria fugindo das borrachadas dos homens da Polícia Militar. No período da tarde, fui à loja Paranaense comprar outra folha de cartolina para a confecção de um novo mapa. Eu ainda estava aborrecido com os incidentes que ocorreram pela manhã, pois o esforço na preparação da tarefa originou uma grande expectativa de uma provável boa nota. Como o estudante é um eterno poço de fé e esperança, eu estava bastante otimista e com a certeza de que da próxima vez aconteceria a entrega do trabalho. Com essa empolgação, o mapa político da Europa foi concluído. Faltava apenas esperar a manhã seguinte para entregá-lo. Finalmente chegou o dia tão esperado para a entrega do trabalho de Geografia. O professor chamou o aluno de n° 23. Eu me levantei da carteira dupla, me aproximei do mestre e entreguei a folha de cartolina com o mapa da Europa. Ele o examinou detalhadamente, retirou a parte que envolvia a pena da caneta Parker-5l e fez a primeira tentativa para escrever a nota dez. Riscou subindo e descendo, várias vezes, para a cartolina absorver a tinta, mas a camada de parafina, que emprestou brilho e acabamento ao trabalho, insistia em não deixar a superfície aceitar a cor azul para dar forma à nota. De tanto repetir os movimentos, o professor conseguiu moldar os números um e zero, mas em baixo relevo. Desse modo, a tinta permaneceu parada dentro do sulco, secou e a nota dez se tornou visível. 61


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Por outro lado, o próprio tempo se encarregou de preparar as soluções para os principais problemas mundiais dos anos 60 que tanto inquietavam os estudantes. Com relação ao Vietnã, em l973, foi assinado o Acord o de Paris que garantiu a paz entre EUA e Vietnã do Norte, culminando com a saída dos americanos do Vietnã. Em l993, o presidente Bill Clinton suspendeu o veto à concessão de empréstimos ao Vietnã. Esse país asiático autorizou empresas americanas a participarem de projetos de desenvolvimento financiados por organismos internacionais. As manifestações ocorridas na cidade de Leipzig, na Alemanha Oriental, em l989, influenciaram o Novo Fórum, levaram à substituição do presidente do Conselho de Estado, Erich Honecker por Egon Krenz e a renúncia do primeiro ministro Willi Stoph. O resultado concorreu para a derrubada do muro de Berlim. Em l990 aconteceu a unificação das duas Alemanhas, a democrática e a socialista. De l985 a l99l, a URSS foi governada pelo advogado Mikhail Gorbatchov. Em l986, Gorbatchov deu início às reformas políticoeconômicas da Perestroika (reconstrução) regidas por uma atitude de Glasnost (transparência), que levou à abertura em todos os níveis. Em l99l, Boris Ieltsin foi eleito presidente da Federação Russa. Ele liderou a resistência ao golpe contra Mikhail Gorbatchov, proclamou a independência da Rússia, criou a Comunidade dos Estados Independentes e baniu o Partido Comunista da Rússia. Em l992. Ieltsin assinou um acordo de redução de armas nucleares com os Estados Unidos da América. É importante notar como a História modifica a própria Geografia. O meu mapa confeccionado em l963 tornou-se obsoleto, pois as fronteiras dos países europeus sofreram alterações nas últimas décadas. Jaildon Correia Barbosa 62


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Dádiva divina Embora alguns nasçam sem falar, Nos tem dado a fala, o Criador. Mas tem gente vendo a vida passar Sem dizer-Lhe palavra de louvor. Apesar de alguns até serem surdos, O Pai propicia a boa audição. Porém tem gente cometendo absurdos, Como nunca ouvir uma oração. Ainda que muitos não possam ver, O Altíssimo nos dota de leituras. Contudo tem gente que nunca lê O que há nas Sagradas Escrituras. O Poderoso dá a sapiência Ao homem pro bem da comunidade; Por ambição e falta de prudência, Ele explora o povo sem piedade. Deus faz o político da cidade Pra tratar dos projetos sociais; E no entanto isso é raridade, Pois só legisla em causas pessoais. Jaildon Correia Barbosa

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MARIA MATILDE MARIANO – cadeira n.° 6 Nasci no dia vinte e três de abril, de mil novecentos e trinta e nove, no Ceará, mais precisamente na fazenda Poço Branco na cidade de Morrinhos. Sou a primeira filha de Felisberto Beachann Adriano e Maria Aldenora Rocha. Casei-me aos dezoito anos com Geraldo Magela Mariano; desta união tenho oito filhos. Para que eles pudessem ter um futuro melhor, mudei-me para Fortaleza em 1967. Nesta época a vida já não era fácil. Apesar de nunca ter freqüentado a escola, sempre fiz questão que meus filhos estudassem, pois sabia que esta era a única herança que poderia deixar para eles. Com muito sacrifício e resignação consegui realizar esse desejo. Hoje estão todos formados. Sou autodidata e no ano de 2003, aos sessenta e três anos de idade, descobri-me cordelista. Desde então lancei vários títulos como: De coração pra coração: Menina do interior: Os apelidos da cachaça, entre outros. Na VII Bienal Internacional do Livro do Ceará em 2006, lancei meu primeiro livro de literatura infantil: O Decreto da Raposa, da coleção, “Do tempo do meu avô, historias que meu pai contava.” Sou membro da Academia Municipalista de Letras do Ceará – AMLECE, cadeira 06 cuja patrona é a escritora Rachel de Queiroz.

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RACHEL DE QUEIROZ (patronesse) “[...] tento, com a maior insistência, embora com tão precário resultado (como se tornou evidente), incorporar a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à língua com que ganho a vida nas folhas impressas. Não que o faça por novidade, apenas por necessidade. Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia brigando por isso e fez escola.”

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna – “dona Miliquinha” – era prima de José de Alencar, e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e onde seu pai era Juiz de Direito nessa época). Em 1913, voltam à Fortaleza, face à nomeação de seu pai para o cargo de promotor. Após um ano no cargo, ele pede demissão e vai lecionar Geografia no Liceu. Dedica-se pessoalmente à educação de Rachel, ensinando-lhe a ler, cavalgar e a nadar. Aos cinco anos a escritora leu “Ubirajara”, de José de Alencar, “obviamente sem entender nada”, como gosta de frisar. Fugindo dos horrores da seca de 1915, em julho de 1917, transfere-se com sua família para o Rio de Janeiro, fato esse que seria mais tarde aproveitado pela escritora como tema de seu livro de estréia, “O Quinze”. Logo depois da chegada, em novembro, mudam-se para Belém do Pará, onde residem por dois anos. Retornam ao Ceará, inicialmente para Guaramiranga e depois Quixadá, onde Rachel é matriculada no curso normal, como interna do Colégio Imaculada 65


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Conceição, formando-se professora em 1925, aos 15 anos de idade. Sua formação escolar pára aí. Rachel retorna à fazenda dos pais, em Quixadá. Dedica-se inteiramente à leitura, orientada por sua mãe, sempre atualizada com lançamentos nacionais e estrangeiros, em especial, os franceses. O constante ler estimula os primeiros escritos. Envergonhada, não mostrava seus textos a ninguém. Com o pseudônimo de “Rita de Queluz” ela envia ao jornal “O Ceará”, em 1927, uma carta ironizando o concurso “Rainha dos Estudantes”, promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta a convida para colaborar com o veículo. Três anos depois, ironicamente, quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita a “Rainha dos Estudantes”. Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local, com uma única explicação: “Sou repórter”. Seu pai adquire o Sítio do Pici, em Fortaleza, para onde a família se transfere. Sua colaboração em “O Ceará” torna-se regular. Publica o folhetim “História de um nome” – sobre as várias encarnações de uma tal Rachel – e organiza a página de literatura do jornal. Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, face a uma congestão pulmonar e suspeita de tuberculose, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever um livro sobre a seca. “O Quinze” – romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca – é mostrado aos pais, que decidem “emprestar” o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, sendo elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel numa personalidade literária. Com 66


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o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora “paga” o empréstimo dos pais. Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, mantida pelo escritor, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura). Conhece integrantes do Partido Comunista; de volta a Fortaleza ajuda a fundar o PC cearense. Publica o livro pela editora Schmidt, do Rio, e muda-se para São Paulo, onde se aproxima do grupo trotskista. Morre sua primeira filha morre aos 18 meses, vítima de septicemia. No mesmo ano (1937), lança o romance “Caminho de Pedras”, pela José Olympio – Rio, que seria sua editora até 1992. Com a decretação do Estado Novo, seus livros são queimados em Salvador - BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. Permanece detida, por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza. A notícia de que uma picareta de quebrar gelo, por ordem de Stalin, havia esmigalhado o crânio de Trótski fez com que ela se afastasse da esquerda. Deixa de colaborar, em 1944, com os jornais “Correio da Manhã”, “O Jornal” e “Diário da Tarde”, passando a ser cronista exclusiva da revista “O Cruzeiro”, onde permanece até 1975. Seu pai vem a falecer em 1948, ano em que publica “A Donzela e a Moura Torta”. No ano de 1950, escreve em quarenta edições da revista “O Cruzeiro” o folhetim “O Galo de Ouro”. Sua primeira peça para o teatro, “Lampião”, é montada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, no ano de 1953. É agraciada, pela montagem paulista, com o Prêmio Saci, conferido pelo jornal “O Estado de São Paulo”. Recebe da Academia Brasileira de Letras, em 1957, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. 67


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Em 1958, publica a peça “A Beata Maria do Egito”, montada no Teatro Serrador, no Rio, tendo no papel-título a atriz Glauce Rocha. O presidente da República, Jânio Quadros, a convida para ocupar o cargo de ministra da Educação, que é recusado. Na época, justificando sua decisão, teria dito: “Sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista.” O livro “As Três Marias”, com ilustrações de Aldemir Martins, em tradução inglesa, é lançado pela University of Texas Press, em 1964. O presidente general Humberto de Alencar Castelo Branco, seu conterrâneo e aparentado, no ano de 1966 a nomeia para ser delegada do Brasil na 21ª. Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, junto à Comissão dos Direitos do Homem. Passa a integrar o Conselho Federal de Cultura, em 1967, e lá ficaria até 1985. Depois de visitar a escritora na Fazenda “Não me Deixes”, em Quixadá, o presidente Castelo Branco morre em desastre aéreo. Estréia na literatura infanto-juvenil, em 1969, com “O Menino Mágico”. No ano de 1975, publica o romance “Dôra, Doralina”. Em 1977, por 23 votos a 15, e um em branco, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. A eleição acontece no dia 04 de agosto e a posse, em 04 de novembro. Ocupa a cadeira número 5, fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada sucessivamente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista, crítico e jornalista Cândido Mota Filho. Seu livro, “O Quinze”, é publicado no Japão pela editora Shinsekaisha e na Alemanha pela Suhrkamp, em 1978. Em 1980, a editora francesa Stock lança “Dôra, Doralina”. No 68


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mesmo ano, estréia da Rede Globo de Televisão a novela “As Três Marias”, baseada no romance homônimo da escritora. Com direção de Perry Salles, estréia no cinema a adaptação de “Dôra, Doralina”, em 1981. Em 1985, é inaugurada em Ramat-Gau, Tel Aviv (Israel), a creche “Casa de Rachel de Queiroz”. “O Galo de Ouro” é publicado em livro. Retorna à literatura infantil, em 1986, com “Cafute & Perna-de-Pau”. A José Olympio Editora lança, em 1989, sua “Obra Reunida”, em cinco volumes, com todos os livros que Rachel publicara até então destinados ao público adulto. Em 1993, recebe dos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões e da União Brasileira de Escritores, o Juca Pato. A Siciliano inicia o relançamento de sua obra completa. 1994 marca a estréia, na Rede Globo de Televisão, da minissérie “Memorial de Maria Moura”, adaptada da obra da escritora, e.tendo no papel principal a atriz Glória Pires. Inicia seu livro de memórias, em 1995, escrito em colaboração com a irmã Maria Luiza, que é publicado posteriormente com o título “Tantos anos”. Pelo conjunto de sua obra, em 1996, recebe o Prêmio Moinho Santista. Em 2000, é publicado “Não me Deixes — Suas histórias e sua cozinha”, em colaboração com sua irmã, Maria Luiza. Em novembro deste ano, quando a escritora completou 90 anos de idade, foi inaugurada, na Academia Brasileira de Letras, a exposição “Viva Rachel”. São 17 painéis e um ensaio fotográfico de Eduardo Simões resumindo o que os organizadores da mostra chamam de “geografia interior de Rachel, suas lembranças e a paisagem que inspirou a sua obra”. 69


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Rachel de Queiroz chega aos 90 anos afirmando que não gosta de escrever e o faz para se sustentar. Ela lembra que começou a escrever para jornais aos 19 anos e nunca mais parou, embora considere pequeno o número de livros que publicou. “Para mim, foram só cinco, (além de O Quinze, As Três Marias, Dôra, Doralina, O Galo de Ouro e Memorial de Maria Moura), pois os outros eram compilações de crônicas que fiz para a imprensa, sem muito prazer de escrever, mas porque precisava sustentar-me”, recorda ela. “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”. Recebe, em 06-12-2000, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em 2003, é inaugurado em Quixadá (CE), o Centro Cultural Rachel de Queiroz. Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro. Deixou, aguardando publicação, o livro “Visões: Maurício Albano e Rachel de Queiroz”, uma fusão de imagens do Ceará fotografadas por Maurício com textos de Rachel de Queiroz. Um passeio de índio No último fim de semana do mês de setembro, estando eu na casa de um amigo, no Conjunto Esperança, fui convidada para ir a feira da Parangaba. Este meu amigo cria uma cadela por nome Nicole, ela teve quatro filhotes. Os bichinhos eram lindos. E já estando eles com três meses, seu dono resolveu vendê-los. Eis aí o convite... Era domingo, eu não pude dispensar, pois gosto muito de novidades. E lá fomos nós... Colocamos os bichinhos na kombi e pé na estrada. Chegamos lá mais ou menos meio dia. Foi uma dificuldade para estacionar, pois a feira estava lotada. Tivemos que estacionar no fim da rua que ficava bem em frente ao portão de saída do terminal de ônibus da Lagoa. Descemos e, 70


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mais que depressa, meu amigo pegou dois filhotes no braço, e sua mulher os outros. Para chegarmos ao local da venda de animais, tivemos que atravessar toda a extensão da feira. Confesso que foi cansativo, mas afinal chegamos ao lugar certo. Pense!... Eram cães de todas as espécies, que causavam admiração. Caixas e mais caixas de filhotes, tão pequeninos que dava até dó de se ver. Tinha também filhotes maiores e mais velhos, ao gosto do cliente. A mulher do meu amigo e eu ficamos paradas, enquanto ele ia pra lá e pra cá, e nada de vender os bichinhos. Arranjei logo um lugar para sentar-me, afinal das contas, estava ali só a olhar o movimento. Já era quase uma hora da tarde, o espaço da feira é muito grande, mas se tornava pequeno para tanta gente. Todos estavam ali com a mesma intenção... Vender ou comprar alguma coisa. Nesta feira tem de tudo que você pode imaginar. Eu por acaso nunca havia ido lá. Fiquei exausta e sufocada em me achar no meio daquela grande confusão, ao ver a estressante correria. Uns gritavam: – Olha o cachorro! Outro dizia: – Olha o coelho! – Olha o bode! E assim... Todos estavam querendo voltar para casa com dinheiro no bolso. Estando eu cansada da demora e também preocupada com o carro, que estava muito longe, resolvi chamar a mulher do meu amigo para irmos pra lá. Enquanto ele continuava tentando vender os dois filhotes. Chegando, abrimos a porta por causa do calor. E vejam só que sufoco! Cada vez que saia um ônibus do terminal 71


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era um susto que a gente levava! Dava a impressão que o ônibus ia levar a kombi. Ficamos nessa agonia até as duas e meia da tarde. Nessas alturas já havíamos saído da kombi por conta do calor e do medo de sermos atingidas pelos ônibus. Ficamos na sombra de uma castanholeira, mas o vento forte e o ar seco traziam uma poeira enorme que banhava a gente. Fiquei observando todo aquele movimento. Era muita gente, na maioria homens, de todos os tipos, raças, cores e tamanhos, com roupas diversificadas. Não demorou mais e lá veio o meu amigo, sorrindo e quase chorando, pois havia vendido um dos filhotes, justo o que ele gostava mais. A feira está estabelecida às margens da Lagoa da Parangaba, e já é referência no local há mais de trinta anos. Todos os domingos, quer chova ou faça sol, lá estão os vendedores e os compradores de tudo que há. A prefeitura resolveu trocar o local da feira, mas nenhum dos feirantes aceitou a mudança. acham que ali é um ponto tradicional e pensam que em outro lugar ninguém vai se acostumar; por conta disso gerou-se um grande impasse. Por um lado acho que o povo tem razão. Devido ao costume e à referência, que é como se diz: Quer vender ou comprar alguma coisa, de qualquer espécie, vá à Feira da Parangaba. Mas a prefeitura tem lá suas razões: quer despoluir a lagoa e embelezar suas margens para fazer ali um ponto turístico. Por enquanto só nos resta esperar para ver qual será o resultado.

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FRANCISCO CASTRO DE SOUSA – Cadeira Nº. 7 Nascido na cidade de Fortaleza em 17 de julho de 1946, filho de Luiza Nonato de Castro e Raimundo Rodrigues de Sousa, ambos já falecidos; casado com Expedita Azevedo de Castro, com quem teve quatro filhos: Patrícia, Castro Segundo, Giorgia Paola e João Luis. Graduado em Administração e Direito pela UFC, pós-graduado em Contabilidade e Estratégia Empresarial, em Direito do Trabalho e Processo Trabalhista; Consultor Organizacional; Advogado militante nas áreas Cível e Trabalhista; Professor de Planejamento Estratégico na Organização Pública; Planejamento Financeiro; Programação Orçamentária Privada (Orçamento), Adm. Financeira; e Direito Constitucional Administrativo. Venerável de Honra Ad Vitam da Loja Maçônica Irmão João Lima dos Santos; Sócio Fundador do ICMAC – Instituto de Cultura Maçônica; Presidente do Rotary Club de Fortaleza – Planalto, ano rotário 93/94; Presidente do Rotary Club de Fortaleza – Estoril, ano rotário 2008-09; Detentor das medalhas: Antônio Chagas Filho e Dr. João Thomé de Saboya e Silva; Sócio Benemérito do ICMAC e Sócio Honorário do Rotary Club de Maracanaú; Expositor Espírita; e Palestrante na Área de Desenvolvimento do Potencial Humano. Autor dos livros: A Magia do Sucesso – Como Fazer Um Plano de Vôo Para Sua Vida; Dicas para Aprender a Economizar; Danielle – Um Tiro Covarde Apagou Para Sempre Este Sorriso; Veja A Vida Com Outros Olhos; Pequenas Histórias da Vida de Francisco; Viagem Para o Futuro – O sucesso nos estudos e na vida profissional. Co-autor do Livro: “Bezerra de Menezes – Fatos e Documentos”, organizado pelo Prof. Luciano Klein Filho. Monografias: Arrendamento Mercantil (leasing) - apresentada para obtenção do grau de Bacharel 73


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em Administração de Empresas; e Qualidade nas Empresas de Serviços de Contabilidade – apresentada para obtenção do título de Especialista em Contabilidade.

Mozart Soriano Aderaldo (patrono) Mozart Soriano Aderaldo nascido na cidade de Brejo dos Anapurus, no Maranhão, no ano de 1917, é um cearense de coração. Bacharel em Direito pela UFC, Professor Emérito da UFC, Historiador, Pesquisador, Sociólogo, Cronista e Poeta; ganhador do prêmio Farias Brito. Membro de destaque do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, da Sociedade de Geografia e História, Um dos Fundadores do Grupo Clã. Pseudônimos adotados: Cristiano Potiguara e Guilherme de Melo. Crítico e historiador literário, poeta, cronista, deixou-nos as seguintes obras: A Posição do Escritor na Reconstrução do Mundo (1947); Esboço de História da Literatura Brasileira (1949); Livros e Idéias (1954); Três Estudos (1965); História Abreviada de Fortaleza e Crônicas Sobre a Cidade Amada (1974); Orações Acadêmicas (1983). (Fonte: http://www.sidie.inf.ufsc.br/bdnupill) Vejamos outros aspectos biográficos do ilustre escritor, no Extrato do discurso de Juarez Leitão ao tomar posse na Academia Cearense de letras, Cadeira Nº 19 – que tem como Patrono José Albano: “Uno em mim, por ordem do destino, estas duas manifestações do espírito humano; e a cadeira para a qual fui eleito é patroneada por um poeta e teve a honra esplêndida de ter sido ocupada por um historiador, o professor Mozart Soriano Aderaldo. Naquele 29 de agosto de 1958 o escritor João Clímaco Bezerra recebia, em nome da Academia, a Mozart Soriano Aderaldo, ambos fundadores do Grupo Clã, como o novo ocupante da Cadeira 19, em virtude da transferência de Martinz de Aguiar para o quadro de sócios correspondentes. 74


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Mozart nasceu em Brejo dos Anapurus, no Maranhão, filho do cearense Francisco Antônio Aderaldo e da maranhense Elisa Soriano. Pelo pai, é dos Aderaldos de Mombaça, em linha direta de Maria Pereira, fundadora do município e membro ativo das famílias pastoris e guerreiras dos Inhamuns. Pelo lado da mãe, descende dos Caldas e Coelhos, em cuja árvore se destaca um ministro da Guerra do Império, depois tetrarca do Grão-Pará, Jerônimo Francisco Coelho, pai daquele Roberto Francisco Coelho, oficial de Caxias que, vindo de Santa Catarina combater a Balaiada, terminou se casando no Maranhão, onde começa a história do autor de “No Mar de Tiberíades”. Casado com Ana Cartaxo, Dona Nanza, construiu a seu lado, por mais de 45 anos, uma das mais belas histórias de amor desta terra de tantas paixões. Namoro lento, costurado com os fios de ouro da paciência, teve início penoso, dificultado pela distância (a pretendida morava em Cajazeiras, na Paraíba) e pelas cismas patriarcais do farmacêutico e poeta Cristiano Cartaxo Rolim, o futuro sogro. A primeira carta recebida por Nanza, fora a terceira enviada por Mozart, dada as dificuldades de aproximação e os cuidados recomendados pelo missivista aos fiéis portadores de suas manifestações líricas. Mas, entre espantos e percalços ao longo de cinco anos (esta praça General Tibúrcio, aqui ao lado da Academia, era o ponto predileto dos encontros), Ceará e Paraíba finalmente se cruzaram como os rios Negro e Solimões do poema de Quintino Cunha, para formar o rio único e definitivo da felicidade. Neste amor Mozart se dizia completamente realizado:”Fiz o melhor casamento de que se tem notícia na face da terra. Minha mulher é uma admirável criatura, sob todos os aspectos: intelectual, moral e socialmente. É uma mulher que completou minha vida.” E da paixão permanente de Nanza e Mozart vieram os filhos Melânia, Marcos, Henrique, Carlos e Lúcio. 75


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Otacílio Colares, na segunda orelha do livro História Abreviada de Fortaleza e Crônicas Sobre a Cidade Amada: “Mozart, não sendo um filho desta cidade, é, no entanto um dos seus amantes mais devotados e impenitentes.” Artur Eduardo Benevides na apresentação da mesma obra: “Escritor e pesquisador dos mais sérios, consciente da importância histórica dos que servem, com dignidade, à literatura, ele constrói uma obra marcada por excelente lastro filosófico e uma cosmovisão que se apóia na contemplação do eterno. É um ensaísta da melhor cepa. Um historiador. Um crítico. Um poeta de belas imagens. Um homem de alta dimensão intelectual, a exercer, com gravidade de um múnus, o ofício literário.” Foi na “Cidade Amada”, Fortaleza, que Mozart Soriano Aderaldo faleceu no ano de 1995, aos 78 anos idade.

Em defesa da vida Como cidadãos e como espíritas, defendemos a VIDA em todas as suas manifestações, de forma especial a VIDA humana. Como cidadãos, invocamos, na defesa do direito à VIDA. A Carta Magna de 1988 em seu Art. 1º, colocou como fundamentos da República Federativa do Brasil, dentre outros, a cidadania e a dignidade da pessoa humana; e, como princípio, no Art. 4º, a prevalência dos direitos humanos, ou seja, os direitos da criatura humana. Sendo que, em uma das cláusulas da Constituição, no caput do Art. 5º, que trata dos direitos e garantias individuais, há a garantia da inviolabilidade do direito à VIDA, à liberdade, à segurança, e à propriedade. O Código Civil de 2002, logo no seu Art. 2º, diz que a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Como a lei pode colocar a salvo os direitos do nascituro se não pode lhe garantir o direito de nascer? Os que defendem o direito à interrupção da gravidez, invocam o direito à liberdade individual; mas defender o 76


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direito de interromper uma gravidez é defender o direito de matar. Matar é crime, segundo o Art. 121 do Código Penal Brasileiro. Como se pode defender a liberdade de alguém, se não garantirmos o direito à vida de quem não pode se defender – o nascituro? Não se pode conceber liberdade sem responsabilidade. A liberdade individual há de ter como limite o direito à VIDA, desde a sua concepção. Como se pode falar em dignidade da pessoa humana, se não se pode assegurar o direito que o nascituro tem, de nascer? Não se pode garantir a liberdade individual sem garantias ao direito de nascer, direito à VIDA. Não se pode subordinar o direito à VIDA, ao direito à liberdade individual, sem violar uma cláusula pétrea da Constituição de 1988 que garante a inviolabilidade do direito à VIDA, sem atacar, em seus fundamentos e princípios, a República Federativa do Brasil. De que vale a liberdade sem a manifestação da VIDA? Ao se defender a liberdade, tem-se que, primeiro, garantir o direito à VIDA, desde a sua concepção. Como se pode falar em cidadania, em dignidade, se não respeitamos uma Lei que foi promulgada sob a proteção de Deus, se somos incapazes de garantir o bem maior que Ele nos legou, que é o direito de existir, o direito à VIDA? Portanto, não podemos entender que se defenda o direito à interrupção de uma gravidez, se a VIDA daquela que lhe pode dar a luz não se encontrar em perigo; isso em respeito aos próprios fundamentos da Nação Brasileira, aos princípios que a norteiam, ou seja, à Lei humana e à Lei de Deus. Como cidadãos, não podemos entender que se possa incluir entre os direitos da pessoa humana, o direito de decidir sobre uma VIDA que está para nascer, se não for para defender a VIDA daquela que pode viabilizá-la, a da mãe! Como espíritas, defendemos a VIDA porque entendemos que a criatura humana é composta de corpo e espírito, conforme se acha consignado na obra basilar da Doutrina Espírita, “O Livro dos Espíritos” (L.E. - Q.135) e que há alma, segundo os ensinamentos dos espíritos superiores nessa mesma obra (L.E. - Q.344), começa a 77


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se unir ao corpo na concepção, se completando essa união com o nascimento; portanto, desde a concepção, há uma criatura humana, uma VIDA em desenvolvimento. Os espíritos superiores, que comprovaram que a VIDA não se acaba com a morte do corpo físico, também nos esclarecem, na obra citada acima, (L.E. - Q.358), que cometemos crime sempre que transgredimos a Lei de Deus. Interromper, pois, uma gravidez, sem risco para a VIDA da mãe, qualquer que seja o motivo, se constitui uma violência contra a Lei de Deus. Como espíritas, defendemos a VIDA porque o Espiritismo surgiu para abrir uma nova era para a regeneração da humanidade, para unir os homens num mesmo sentimento de amor e caridade, o que só se tornará possível banindo-se o orgulho e o egoísmo, que são a maior causa dos males da humanidade, a maior barreira entre o homem e Deus. É a manifestação do orgulho e do egoísmo que leva o indivíduo a entender que pode colocar os interesses individuais acima da Lei de Deus. Diante de todo o acima exposto, porque sabemos que a Nação Brasileira se encontra sob a proteção de Deus, é que conclamamos aos senhores representantes do Povo Brasileiro no Congresso Nacional, para que se postem, conosco, EM FAVOR DA VIDA, desde a sua concepção, em nome da Constituição e em nome de Deus, nosso Pai e Criador. Francisco Castro de Sousa

Medicina e espiritualidade: a superação do modelo biomédico na educação médica A Gazeta Espírita, Nº 34 (mar/abr/2005) traz uma matéria que nos chamou bastante a atenção. Trata-se da inclusão da disciplina Medicina e Espiritualidade na grade curricular do Curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará - UFC. A matéria dá destaque ao pioneirismo da UFC no universo do ensino superior em nosso País, ao introduzir, na formação dos médicos cearenses, o estudo da questão espiritual. 78


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Já não era sem tempo. Em pleno século XXI, não é mais possível que ainda prevaleça a visão cartesiana que considera a separação entre a res cogitans e a res extensa, na qual o ser humano é visto como máquina. Embora Descartes considerasse a interação entre as duas coisas um aspecto essencial da natureza humana, a ciência médica não tem conseguido ver dessa maneira. Por isso penso que houve, historicamente, uma interpretação equivocada do pensamento cartesiano, ao se imaginar que, pelo fato de terem naturezas distintas, posto que o corpo é tangível e perecível, e o espírito é incorpóreo e imortal, não haveria a influência de um sobre o outro. Acredito que um fato que talvez tenha contribuído, sobremaneira, para esse tipo de visão mecanicista da vida, é a ligação que se faz do conceito espírito à idéia de religião, ou seja, um preconceito. O espírito ainda não é visto de forma objetiva, como um elemento da natureza, conforme concluiu de seus estudos Allan Kardec e outros pesquisadores no século XIX. Diz Allan Kardec, comentando a questão 135 dO Livro dos Espíritos: “O homem é, portanto, formado de três partes essenciais: 1º - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado do mesmo princípio vital; 2º - a alma, espírito encarnado, que tem no corpo a sua habitação; 3º - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmem, o perisperma e a casca.” Assim, o espírito é parte essencial do homem, independentemente de qualquer idéia que se tenha de religião. Não é o fato de não se conseguir alcançá-lo com as lentes do mais poderoso microscópio, que se possa negar a sua existência. Sendo a Medicina a arte de curar as moléstias e afecções do homem, seu estudo sempre estará incompleto, enquanto não conseguir estudar o homem na sua integralidade: matéria/espírito, e, de forma especial, o perispírito.

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A matéria veiculada por Gazeta Espírita despertou o nosso interesse, quando a Coordenadora da disciplina, Profª Eliane Oliveira afirma: “Pretendemos estudar a dimensão espiritual dentro do Paradigma da Integralidade no curso médico, como uma contribuição para a superação do modelo biomédico na educação médica”. Ora não será uma luta fácil, digna professora, uma vez que o modelo biomédico baseia-se, exatamente, no modelo cartesiano e na física newtoniana, ou seja, numa visão mecanicista da vida, na qual se imagina que, consertando a parte ou substituindo-a, algumas vezes, conserta-se o todo. Apressamo-nos em repercutir a matéria até para evitar que os mais apressados, de repente, possam imaginar que, através dessa disciplina, a religião adentra os salões acadêmicos. A visão do homem como ser espiritual no sentido religioso é muito importante na medida em que poderá se tornar um poderoso instrumento capaz de reformar o homem e orientar o comportamento das massas, acabando, como disse Kardec: “com os males da humanidade”; mas em nada irá ajudar, por enquanto, na formação dos médicos. Francisco Castro de Sousa

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Pe. ELOY ALVES – cadeira n.° 8 O Pe. Francisco ELOY Bruno ALVES nasceu em Fortaleza-CE, no dia 01/12/1941, filho de Paulo Alves Marinho e Francisca Ferreira Bruno. É casado com Maria Idelzuite Marinho Alves e tem quatro filhos e seis netos. É padre Ortotoxo Siriano e exerce seu ministério na Grande Parangaba, onde reside (Rua Peru,1977-Vila Betânia). Cursou o 1º grau (ensino fundamental) no Instituto Saletino Fortaleza, concluído em 1957), e o 2º Grau (ensino médio) na Escola Técnica de Comércio de Parangaba, no período de 1960 a 1964; e ainda Enfermagem (IASOCIAL, Fortaleza-CE, 1965-1974). É bacharel em Ciências e Letras pela Universidade Vale do Acaraú (UVA, Sobral-CE) e bacharel em Filosofia e Teologia pela Universidade de Brasília-DF. Entre as atividades profissionais exercidas, consta: funcionário público do Estado do Ceará (Secretaria de Saúde); professor de ensino médio (Ginásio Anchieta, 1980-82); palestras na Faculdade Evolutivo, na Universidade Ortodoxa de Taguatinga-DF, e na Universidade Vale do Acaraú (UVA-Sobral): assessor parlamentar da Câmara Municipal de Fortaleza-CE; Conselheiro do Conselho Social de Saúde do Hospital Frotinha de Parangaba; Diretor Presidente da Sociedade Beneficente Educacional de Parangaba (SOBEP); representante de sua Igreja em vários eventos no Brasil e no exterior. Publicou o livro “As Flores no deserto do Oriente”, além da participação nas revistas “A Caridade em Ação movimento vicentino” e “A Comunidade em Ação”, e no jornal: “A Saúde nos Bairros de Fortaleza”.

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Cidadão e religioso de muito prestígio junto ao povo e às autoridades constituídas, dado o intenso trabalho comunitário que desenvolve à frente da SOBEPE. É membro fundador e Relações-Públicas da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE).

Senador Olavo Oliveira (patrono) O Senador Olavo Oliveira nasceu em Granja-CE, em 13/06/1893 e faleceu em 28/12/1966. Filho de Luiz Felipe de Oliveira e de Cândida Ramos de Oliveira. Fez o curso secundário (ensino médio) no Liceu do Ceará e o curso de Direito na Universidade Federal do Ceará e na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (então capital do País). Foi professor, jornalista, advogado, promotor de justiça e membro do Conselho Administrativo do Estado do Ceará. Deputado Estadual (1925 a 1928), Deputado Federal (1935 a 1937; 1946), Senador (1946 a 1955). Orador dos mais brilhantes no Senado Federal. Casou-se com a professora Maria José Barroso, de cujo matrimônio vieram quatro filhos. Em sua residência, considerada a mais bonita do então município da Porangaba (atual distrito Parangaba, de Fortaleza) hospedou os presidentes da República Getúlio Vargas, Café Filho e Juscelino Kubitschek de Oliveira. E foi justamente na sala de visitas do Senador Olavo Oliveira e por sua influência que Juscelino, na seca de 1958, determinou que o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DENOCS) perfurassem os poços profundos na grande Parangaba. O ato foi aplaudido em delírio pela população que fora saudar JK, e em noventa dias os poços estariam prontos. Foi o Dr. Olavo Oliveira, como assessor jurídico de Juscelino que fundamentou os parâmetros jurídicos para a criação do Distrito Federal, desmembrando-o do Estado de Goiás. 82


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Sua obra jurídica é reconhecida em universidades européias e utilizada nas Faculdades de Direito em todos os estados brasileiros. Publicou os seguintes trabalhos: Alegações de Justiça, Concursos de delitos e ação penal, suas modalidades (tese); O Delito de matar (1959); Pela união nacional (1960); Um caso inédito de responsabilidade criminal (1961).

Identidade, Caridade e Fraternidade A fraternidade, a caridade pode ser vivenciada de diversas formas: visitas a hospitais, presídios, asilos de idosos, favelas; serviços nessas e noutras instituições filantrópicas, atenção e assistência a pessoas marginalizadas; entre outras. Especialmente as crianças abandonadas merecem nossa atenção. Precisamos viver a vida fraterna com forte ardor e misericórdia. Fazendo-nos assim presentes aos chamados e aos necessitados pomo-nos em santa comunhão, abrigamos o Santíssimo na nossa própria casa. Uma profunda reverência com freqüência, uma profunda adoração ao Altíssimo, perpetuando um amor oblativo, mergulhado na missão da consciência da verdadeira prática de vivermos em conjunto nesse espírito missionário. A ação, vinda da formação sustentada no Santo Evangelho, da oração, da confiança em Deus, do amor à Eucaristia, é o principal alimento espiritual, a forma mais direta de chegarmos a Deus. É nosso Pai seráfico que nos guia, e neste modo de viver entraremos na vida eterna. A devoção a São José, nosso protetor, modelo de seguidor do Evangelho. E à nossa Santíssima Virgem, dediquemos horários de veneração diária, a consagração tão merecida e indispensável. Na prática devocional aos Santos e Santas, participação nas festas litúrgicas e orações comunitárias, manifestemos a todos um espírito alegre, saudável e fraterno. Na Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, a obediência à santa fé é irrestrita. A regra é seguir o Evangelho, no amor ao próximo, 83


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respondendo ao chamado de São Tiago, viver o Pentecoste, revivendo o Espírito, na entrega total ao mistério do sagrado. Assumindo também os ensinamentos da Madre Crisostomos Salama, com o seu testemunho fiel e oblativo, e votos de pobreza, castidade, obediência e trabalhos de misericórdia corporais e espirituais, virtude da oração, exercícios de jejum, as reparações e Vida Missão no Brasil. O amor é forte, como a morte, alivia qualquer dificuldade e capacita a tudo. O serviço aos pobres deve ter preferência sobre qualquer outro serviço religioso comum. O ponto mais importante dessa identidade é viver no amor adorador, levando a missão profética na consturção de um mundo mais fraterno, em comunhão com Deus. A missão é adoração perpétua, mas o espírito é a total reparação das causas da igreja, levando aos necessitados as condições de viverem e lutarem por uma vida digna. Nos trabalhos pastorais, os diversos campos são: catequese, oração, promoção humana e vocações; e ainda o ensino, levando Jesus Cristo aos mais abandonados pela sociedade. A participação de um membro da Igreja Ortodoxa na Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE) faz parte de nossa preocupação, também através das letras e da cultura, com a vida melhor de cada conterrâneo, cearenses e brasileiros. Pe. Eloy Alves

Combate à miséria e à violência A violência urbana se manifesta de muitas formas, mas a causa maior da mesma é, indiscutivelmente, a miséria. Os seqüestros (relâmpagos ou não), os assaltos, as invasões, os roubos de carros, entre outros atos de violência, trazem intranqüilidade à nossa sociedade e não mais sabemos a quem pedir socorro. 84


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As autoridades responsáveis precisam agir urgentemente em defesa da sociedade. Medidas de médio e longo prazos para combater a pobreza; resolver a falta de emprego e a carência de escolas para o filho do trabalhador, são instrumentos de justiça social necessários para a grande maioria, e urgentes, se quisermos iniciar o processo de reversão da verdadeira fábrica de marginais. A impunidade é outra causa de violência. O bandido “deita e rola”, deixando indefesos o cidadão e sua família, seja no trabalho, no lazer ou no próprio lar. A ausência, na quantidade e qualidade suficiente, do aparelho policial repressivo, bem como a morosidade do Judiciário, acabam por deixar muitos criminosos na rua, quando deveriam estar presos. Quem pode pagar, acaba gastando muito dinheiro com segurança privada, fazendo grades de ferro, colocando monitoramento eletrônico, vigilância armada e até carros particulares blindados, que já tomam conta de Fortaleza. Alguns desses gastos fazem aumentar o valor do condomínio a preços que a maioria das famílias, especialmente da classe média, não pode pagar; mesmo assim, acabam tirando dinheiro do lazer, da saúde, da educação e de outros bens que poderiam melhorar a qualidade de vida, sacrificando-se ainda mais para aplicar na segurança. È hora de agir! Não fiquemos de braços cruzados. Exijamos dos governos medidas duras e urgentes para brecar com força o aumento vertiginoso da criminalidade. Pe. Eloy Alves

O ateísmo e suas várias manifestações O ateísmo é um dos fenômenos mais graves do nosso tempo, devendo ser objeto de um exame muito sério. O aspecto mais sublime da dignidade humana encontra-se na sua vocação à união com Deus. Começa com a própria existên85


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cia e o convite que Deus dirige ao homem para dialogar com Ele; se o homem existe é porque Deus o criou por amor, e por amor não cessa de conservar-lhe a vida. Assim, o homem não vive plenamente, segundo a Verdade, se não conhecer livremente esse amor e não se entregar inteiramente ao Criador; infelizmente nossos contemporâneos nada entendem desta união íntima e vital do homem com Deus, ou rejeitam-na mais explicitamente. A palavra ateísmo designa fenômenos diferentes entre si. Com efeito, enquanto uns negam a Deus expressamente, outros pensam que nada se pode dizer acerca dEle; há ainda os que O vêem como tema de pouca ou nenhuma importância. Muitos ultrapassam indevidamente as barreiras científicas, ou pretendem que tudo se explique só pela razão científica; há os que desconhecem qualquer verdade absoluta. Alguns chegam a exaltar de tal forma o homem que a fé em Deus fica enfraquecida – mais preocupados, ao que parece, com afirmar o homem do que com negar a Deus. Outros formam uma imagem de Deus completamente diferente da do Evangelho. E que dizer dos que ficam simplesmente alheios, indiferentes, sem entenderem até por que há quem se preocupe em ocupar-se de religião? Pe. Eloy Alves

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EDSON JOSÉ PINHEIRO – cadeira nº. 9 Edson José Pinheiro nasceu em 19 de junho de 1966, às 22h30min de um domingo, em Fortaleza-Ceará. Concluiu o ensino fundamental no Colégio Paroquial Profissional Dr. Gustavo Braga (bairro Rodolfo Teófilo, Fortaleza); e 2º Grau (hoje ensino médio) no Centro Educacional Júlia Jorge (CNEC – Campana Nacional de Escolas da Comunidade), situado no bairro São Gerardo, Fortaleza. Formou-se em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará-(UECE), ingressando em 1986/2 e concluindo o curso em 1989/2. Posteriormente (1991/2), entrou no Curso de Direito pela Unifor (Universidade de Fortaleza), terminando-o em 1994/2. Foi assessor dos (02) dois Coordenadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Estado do Ceará, ganhando Menção Honrosa de “Amigo do Juizado”. Fez Monografia sobre “O Pensamento de Sócrates”, atualmente em exposição aberta ao público para consulta no Centro de Humanidades (CH) da Universidade Estadual do Ceará-(UECE), localizado à Av. Luciano Carneiro. No 23º Batalhão de Caçadores ingressou no quadro do NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva), no período de 1985 a 1986. Atualmente é imortal da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE) localizada à Rua Gen. Sampaio, 1128 - Centro de Fortaleza-Ce, ocupando a cadeira nº. 09.

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José de Alencar (patrono) Meu primeiro contacto com José de Alencar foi na 7ª. Série do antigo primeiro grau, hoje ensino fundamental, onde tive um excelente professor de Português, o Prof.o Renato, no Centro Educacional Julia Jorge Foi com Prof.º Renato que aprendi a gostar de ler. Lí vários dos mais importantes nomes da literatura nacional e internacional, os grandes clássicos, dentre os quais José de Alencar, que, além de brilhante escritor, foi homem oposicionista da época, temperamento austero, que fazia frente ao Imperador (Pedro II), fazendo comícios grandiosos, inflamados contra a Corte. E, neste momento, ao preparar este trabalho, não posso deixar de falar de Zélia Gatai, que acaba de nos deixar há poucos instantes, esposa de Jorge Amado, outro grande escritor. Como disse agora a filha da mesma, “os dois estão juntinhos do outro lado de mãos dadas, pois ainda precisamos deles”, necessitamos de pessoas intelectuais a nos dar inspirações na Literatura, na arte, na cultura, na coragem de denunciar as mazelas sociais; atributos que tão bem se encaixam tanto na obra de Alencar, quanto na de Jorge Amado. José Martiniano de Alencar nasceu em 1.º de maio de 1829, em Messejana, Ceará, filho do padre José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará). Foi o fruto de uma união ilícita e particular do padre com a prima Ana Josefina de Alencar. Filho de político, o jovem Alencar assistia a tudo isso de perto. Assistia e, certamente, tomava gosto pela política, daí chegando a ocupar o posto de ministro da Justiça. Isso ocorreria bem mais tarde, mas por certo essa ascendência e sua infância muito influenciaram na carreira política e literária. Outro fato marcante foi o período em que esteve de volta à terra natal, por volta de 1847. Aos 18 anos, já tinha esboçado o primeiro romance: “Os contrabandistas”. Estreou como jornalista com a seção Ao Correr da Pena, em 1854. O folhetim, muito em moda na época, era um misto de jor88


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nalismo e literatura: crônicas leves, tratando de acontecimentos sociais, de teatro, de política, enfim, do cotidiano da cidade. Alencar tinha 25 anos e obteve sucesso imediato no jornal onde trabalharam posteriormente Machado de Assis (dez anos mais jovem que ele) e Joaquim Manuel de Macedo. Sucesso imediato e de curta duração. Tendo o jornal censurado um de seus artigos, o escritor desligou-se de sua função. Depois, passou a trabalhar no “Diário do Rio de Janeiro, onde aconteceu sua estréia como romancista: em 1856 saiu em folhetins o romance Cinco minutos. Com “Cinco minutos” e, logo em seguida, “A viuvinha”, Alencar inaugurou uma série de obras em que buscava retratar (e questionar) o modo de vida na Corte. O que aparece nesses romances é um painel da vida burguesa: costumes, moda, regras de etiqueta... tudo entremeado por enredos onde amor e casamento são a tônica. Aprofundando essa tendência, surgiram os romances urbanos: “Lucíola”, “Diva”, “A pata da gazela”, “Sonhos d’ouro” e “Senhora”; este último considerado sua melhor realização na ficção urbana. Alencar estreou como autor de teatro em 1857, com a peça “Verso e reverso”, em que focalizava o Rio de Janeiro de sua época. No mesmo ano, o enredo da peça “O crédito” antecipava um problema que o país logo iria enfrentar: a desenfreada especulação financeira, responsável por grave crise político-económica. Desse ano data ainda a comédia “O demônio familiar”. Em 1858, estreou a peça “As asas de um anjo, de um Alencar já bastante conhecido. Três dias após a estréia, a peça foi proibida pela censura, que a considerou imoral. Tendo como personagem central uma prostituta regenerada pelo amor, o enredo ofendeu a sociedade ainda provinciana de então. (O curioso é que o tema era popular e aplaudido no teatro da época, em muitas peças estrangeiras). Alencar reagiu, acusando a censura de proibir sua obra pelo simples fato de ser produção de um autor brasileiro. . .’’ Mas a reação 89


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mais concreta viria quatro anos mais tarde, por intermédio do romance em que o autor retoma o tema: “Lucíola”. Profundamente decepcionado com a situação, Alencar declarou que iria abandonar a literatura para dedicar-se exclusivamente à advocacia. É claro que isso não aconteceu, escreveu ainda o drama “Mãe”, levado ao palco em 1860, ano em que morreu seu pai. Produziu ainda a opereta “A noite de São João” e a peça “O jesuíta”. Gonçalves de Magalhães (que seria posteriormente considerado como o iniciador do Romantismo brasileiro) tinha escrito um longo poema intitulado “A confederação dos Tamoios”, em que faz um exaltado elogio à raça indígena. D. Pedro II, homem voltado às letras e artes, viu no poema de Magalhães o verdadeiro caminho para uma genuína literatura brasileira. Imediatamente, o imperador ordenou que se custeasse a edição oficial do poema. Alencar, sob o pseudônimo “Ig “, utilizando seu jornal como veículo, escreveu cartas a um suposto amigo, questionando a qualidade da obra de Magalhães e o patrocínio da publicação por parte do imperador: “As virgens índias do seu livro podem sair dele e figurar em um romance árabe, chinês ou europeu (...) o senhor Magalhães não só não conseguiu pintar a nossa terra, como não soube aproveitar todas as belezas que lhe ofereciam os costumes e tradições indígenas...”. A extrema dureza com que Alencar tratou o poeta Magalhães e o imperador parece refletir a reação de um homem que se considerava sempre injustiçado e perseguido. Alguns críticos acham que Alencar teria ficado furioso ao ser ‘’passado para trás’’ num plano que considerava seu, pois já tinha pensado em utilizar a cultura indígena como tema de seus escritos. Eleito deputado e depois nomeado ministro da Justiça, Alencar conseguiu irritar tanto o imperador que este, um dia, teria explodido: ‘’É um teimoso esse filho de padre’’. Só quem conhecia a polidez de D. Pedro seria capaz de avaliar como o imperador estava furioso para referir-se assim ao ministro José de Alencar. 90


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Enquanto era ministro da Justiça, contrariando ainda a opinião de D. Pedro II, resolveu candidatar-se ao senado. E foi o mais votado dos candidatos de uma lista tríplice. Ocorre que, de acordo com a constituição da época, a indicação definitiva estava nas mãos do imperador. E o nome de Alencar foi vetado. Esse fato marcaria o escritor para o resto da vida. Daí para diante, sua ação política traz os sinais de quem se sentia irremediavelmente injustiçado. Os amigos foram aos poucos se afastando e sua vida política parecia ter terminado. Mas era teimoso o suficiente para não abandoná-la. Retirou-se para o sítio da Tijuca, onde voltou a escrever. Desse período resultam “O gaúcho” e “A pata da gazela” (1870). Tinha 40 anos, sentia-se abatido e guardava um imenso rancor de D. Pedro II. Eleito novamente deputado, voltou à Câmara, onde ficaria até 1875. Nunca mais, como político, jornalista ou romancista, iria poupar o imperador. Em 1865 e 1866 foram publicadas as Cartas políticas de Erasmo. Partindo da suposta condição de que D. Pedro ignorava a corrupção e a decadência em que se achava o governo, Alencar dirige-se ao imperador tentando mostrar a situação em que se encontrava o país, com seus inúmeros problemas, entre eles o da libertação dos escravos e o da Guerra do Paraguai (1865-1870). Foi então que no Jornal do Comércio publicaram-se as Cartas de Semprônio (o pseudônimo escondia a figura do romancista Franklin Távora) a Cincinato (o escritor português José F. de Castilho, que Alencar um dia chamara de “gralha imunda”). Pretextando analisar a obra de Alencar, o que se fazia era uma injuriosa campanha contra o homem e o político. Távora e Castilho não escreveram, de fato, crítica literária válida quando julgaram as obras de Alencar como mentirosas e frutos de exageros da imaginação. A crítica atual não tem nenhuma dúvida a respeito da importância fundamental dos romances de Alencar – principalmente os indianistas – para compreendermos o nacionalismo em nossa literatura. 91


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Além do romance urbano e do indianista, o escritor ainda incorporaria outros aspectos do Brasil em sua obra. Romances como “Til”, “O tronco do ipê”, “O sertanejo” e “O gaúcho” mostram as peculiaridades culturais da nossa sociedade rural, com acontecimentos, paisagens, hábitos, maneiras de falar, vestir e se comportar diferentes da vida na Corte. Mas Alencar não se limitou aos aspectos documentais. O que vale de fato nessas obras é, sobretudo, o poder de imaginação e a capacidade de construir narrativas bem estruturadas. Os personagens são heróis regionais puros, sensíveis, honrados, corteses, muito parecidos com os heróis dos romances indianistas. Mudavam as feições, mudava a roupagem, mudava o cenário. Mas, na criação de todos esses personagens, Alencar perseguia o mesmo objetivo: chegar a um perfil do homem essencialmente brasileiro. Não parou aí a investigação do escritor: servindo-se de fatos e lendas de nossa história, Alencar criaria ainda o chamado romance histórico. “... o mito do tesouro escondido, a lenda das riquezas inesgotáveis na nova terra descoberta, que atraiu para ela ondas de imigrantes e aventureiros, as lutas pela posse definitiva da terra e alargamento das fronteiras...”, segundo o crítico Celso Luft, aparecem em tramas narrativas de intensa movimentação. Nessa categoria estão: “Guerra dos mascates”, “As minas de prata” e “Os alfarrábios”. No semanário “O Patriota”, Alencar iniciou a publicação do romance “Ex-homem” - em que se mostraria contrário ao celibato clerical, assunto muito discutido na época. Escondido sob o pseudônimo Synerius, o escritor faz questão de explicar o título do romance “Ex-homem Literalmente exprime o que já foi homem”. Mas não conseguiu concluí-lo, o que lhe teria garantido o lugar de primeiro escritor do Realismo brasileiro. Com a glória de escritor já um tanto abalada, morreu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877. (Fonte: WWW. Google.com.br) 92


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Platão: discípulo fiel Um dos maiores colaboradores para a filosofia antiga foi Pitágoras. As concepções cosmológicas e matemáticas do pitagorismo primitivo eram dependentes da noção do número entendido como sucessão de unidades descontínuas, discretas. Mas permanecia uma questão que comprometia a coerência da concepção da visão pitagórica e que Zenão de Eléia assinalou: a do “intervalo” que separaria as unidades. Esse intervalo somente poderia ter, no mínimo, o tamanho de uma unidade (mínimo de extensão e de corpo). Essa aforia que Zenão formula ao pitagorismo parece sugerir que a coerência que se buscava para as cosmogonias, desde Tales dependia não apenas da descoberta de um processo racional de geração das coisas, como também da modificação de certas noções fundamentais, particularmente a de “intervalo” que separaria as unidades que a comporiam. Isto é, estava a exigir a reformulação da noção de espaço. Essa reformulação foi, por certo, a principal contribuição da escola atomista ao desenvolvimento do pensamento científico e filosófico. Segundo a tradição, a escola teve início com Leucipo (de Mileto ou de Eléia), mas conheceu a plena aplicação de seus postulados com Demócrito de Abdera. Mais tarde, as teses atomistas irão ressurgir com Epicuro e Lucrécio, no período helenístico da cultura grega. Quase nada se sabe sobre a vida de Leucipo: alguns autores chegaram a pôr em dúvida a sua existência. Todavia uma tradição que remonta a Aristóteles atribui a esse contemporâneo de Empédocles e Anaxágoras (meados do século V a. C). A filosofia como despertadora do espírito crítico, esmiúça o mais que pode. Vai desde a existência física, até mesmo a vida não corpórea. Ela é mãe de todas as ciências. O Grego estuda tudo, leiase, o ateniense. Era conhecer de várias ciências ou conhecimentos. Depois é que houve a repartição daquelas. A polis grega, Atenas dominava todo o conhecimento da época, no mundo ocidental. 93


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Paulo de Tarso, ao ir pregar em Atenas, não foi bem recebido. As pessoas estavam entorpecidas com o politeísmo e com os filósofos que tinham vivido ali. Foi o único local em que o mesmo não deixou uma igreja a ser construída, para a prática da caridade e o ensinamento da boa nova. A Filosofia não é ilusão, muitos são os que vivem nesta categoria. Vivem iludidos com as sensações, que existem e têm que ser sentidas, mas a vida não é somente sensações, a filosofia nos prova isso. Mesmo a filosofia hedonista, que prega o prazer, não o prega de uma maneira que cause dano a si, nem ao próximo. Ela reabilita o Homem como ser principal de um mundo fenomênico, devido ao fruto desta filosofia pensar apenas no mundo fenótipo, ou seja, das aparências. Os pensadores do fenômeno, da parte fenomênica, do que aparece, devem muito a Platão. No “Mito da Caverna”, Platão nos fala das aparências, quando aqueles homens acorrentados, de costas para uma parede e um muro entre a mesma e ele;, nos fala que aqueles somente viam sombras, e julgavam que as mesmas eram a realidade. Mas o que é a realidade, senão estágios de compreensão da realidade onde o ser está inserido? A compreensão é uma categoria que evolui, onde um mesmo referencial é criticado (proposta da filosofia e de todo ser que queira ser um filósofo embasado), de diversas formas, como pode haver a ilusão, a interpretação precária e não tão notável como a realidade vista agora. Semelhanças podem-se ver em Heráclito, que questionou pela primeira vez no mundo ocidental, a Dialética, quer dizer, a Transformação do Ser que evolui, quando nos ensina ou lembra, como dizia Sócrates e Platão, que ao tomar banho em um rio, aquele Homem não é mais o mesmo, pois comparando ao ontem, ele aprendeu, as águas dos rios são outras, pois estão sempre passando. 94


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O que a Filosofia se preocupa é que muitas vezes essas águas passam e estagnamos ou aprendemos ou evoluímos muito pouco, diante da transformação que nos foi apresentada. Immanuel Kant, idealista alemão, nos ensina que o fenômeno, ou o que nos aparece, serve-nos para que analisemos nossa capacidade de compreensão e entendimento, de crescimento intelectual, mental, do espírito, que deverá apresentar a criticidade mais próxima da essência e do esmiuçamento da realidade que lhe é apresentada. Não é uma confiança plena no que é aparentado, como muitos que não sabem ler Kant. Nós ocidentais não estamos acostumados a introjetarmonos, num pensamento aprofundado e lograr êxito. Sempre nos cansamos mentalmente ou fazemos um emaranhado de dados, muitas vezes coletados de forma equivocada. Os idealistas alemães, Fichte, Shelling, Hegel e Marx, todos que nos dão a filosofia contemporânea, depois da economia clássica, do liberalismo, tudo tendo como base a revolução industrial na Inglaterra, com a criação da máquina a vapor e a revolução burguesa ou francesa, beberam na fonte de Platão e de seu Professor Sócrates. Aqueles homens do Mito da Caverna (expressão até mesmo vulgarizada atualmente) interpretavam uma realidade que eram as sombras de estatuetas e homens carregando as mesmas, mas quando um homem liberou-se das correntes e chegou à superfície e, ele viu outra realidade completamente mais profunda e libertadora, uma relação econômica e de ética totalmente diferente do que ocorria naquele buraco ou caverna em que eles conheciam parcialmente . Georg Willhuem Friedrik Hegel, mais conhecido por seu último sobrenome, nos brinda com seu pensamento do Ser Absoluto, que é o Homem, em sua Fenomenologia do Espírito, onde nos propõe o Homem como sendo o Espírito Absoluto, onde nos ensina 95


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que Ele é o Ser, ele participa da realidade, por que ele é a própria, nos atribuindo uma responsabilidade nunca pensada antes. Hegel sistematiza a Dialética, questionada pela primeira vez por Heráclito e posteriormente embasada por Platão. O filósofo de Stuttgart nos ensina que a afirmação é uma tese a ser formulada, a sua negação, como antítese, é confrontada com o que existe de fato e novamente a negação da negação, quando, portanto estamos firmando, ou seja, a síntese, retornando ao primeiro estágio de afirmação, quer dizer, esta última já está limpa de erros, pois já passou pela segunda fase de negação. Que coisa mais maravilhosa podermos usar este conhecimento hegeliano, em nosso dia-a-dia, para diminuirmos a quantidade de equívocos que nos assola, porque não sabemos utilizar a reflexão que é a que nos tornam filósofos. Nas artes temos a contribuição da categoria do belo, proposto por Hegel, deverá ser (o Dever Ser, Absoluto ou não) é para a transformação daquele que se deleita, ou que olha a arte, esta última terá a função de lembrar-lhe que ele é Ele, é um Ser Absoluto, somente Ele, é seu próprio dono, será portanto conseqüência para que o mesmo transforme ao redor de si, como Ser Absoluto que é, no que for o máximo de melhor que este Ser Possa Fazer para sua vida ser melhor. Não será para Hegel, aquela arte apenas para admiração ou como reclamação do status quo. Ela deverá propor a superação do próprio Ser Absoluto, no máximo que poder ser possível, abrindo sempre novas perspectivas para tantos quantos forem chamados a participar dela, pois aquela que olha, participa de vez que não saiu o mesmo, causou aquela sistematização proposta no início. Quanto a Karl Marx, discípulo de Hegel, o primeiro rompe com o Mestre, quando aplica à Dialética Hegeliana a categoria trabalho, gerando as revoluções vistas na nossa História, que portanto criou certos ódios contra Marx, pois o mesmo não foi 96


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entendido, não foi estudado com os” olhos de ver” , como dizia o Líder do Cristianismo, pois nunca cumpriram Marx na prática, pensaram que sim , infelizmente até hoje, ainda pensam que o cumpriram. Não estudaram sua contribuição a economia clássica e a sociedade capitalista e liberal, contribuição esta por meio de sua crítica as duas categorias mencionadas, críticas hoje ainda em vigor, como a análise das religiões feitas pelos Homens, crítica também até hoje em vigor. Muitos ao ouvirem ou verem a palavra “Crítica” a tomam num sentido pejorativo, justamente porque não conhecem a Verdadeira Crítica, pois não conhecem a filosofia. Não sabem reflexionar, no sentido de chegar ao máximo do que se pode chamar de Verdadeiro ou Verdade, onde a mesma deverá ser verdadeira, quando nos liberta de algo opressor, que por ser opressor, nos diminue a capacidade de desenvolver o espírito de critico. A filosofia nos encaminha, pelo menos, às propostas dos filósofos, que às vezes são filhos do tempo, mas muitas vezes estão bem além dele, anos-luz de sua realidade objetiva atual, sendo, portanto, muito mal compreendidos e até combatidos. Os filósofos com suas filosofias, são um eterno superar de si, para que haja uma continuidade do pensamento que não pára nunca. (Texto retirado da monografia de Edson Pinheiro, no Curso de Filosofia –UECE, 2002)

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AURENY BRAGA – cadeira nº. 10 Aureny Braga Barroso Forte Ramos é radialista, professora, poeta, cronista e teóloga. Nasceu em Trairi em 04 de novembro. Ocupa a cadeira de nº. 10 da AMLECE. Filha de Francisco Barros Cordeiro e de Francisca de Oliveira Braga. Perdeu seus pais muito cedo indo morar com a avó onde passou sua infância. Veio depois para Fortaleza com sua tia Ofélia, irmã de seu pai. Estudou no Colégio Nossa Senhora das Graças, Escola Normal Justiniano de Serpa e Colégio Farias Brito, Fafor, UVA, UECE e fez outros cursos na UNIFOR e Universidade de Brasília. Casou-se em janeiro de 1975 com Luiz Odoval Forte Ramos e teve três filhos: Daniel Barroso Forte Ramos – formado, mora no exterior; Elias Barroso Forte Ramos, advogado e Marcos Barroso Forte Ramos, formado em administração pela UNIFOR. Morou com a cunhada Cleonice Ferreira Pinto, ajudou a criar suas sobrinhas Valdenice Ferreira Pinto e Sandra Barroso Cavalcante, que as considera como filhas. Passou uma parte da adolescência com sua prima Iolanda Barroso (falecida) e Dr João Batista Cavalcante, que os considerou seus pais. Morou com sua grande amiga Berenice Ferreira Melo. Trabalhou com Kalil , Jorge e Zezinho Otoch, que foram seus patrões e amigos. Foi suplente de vereadora, presidente do Lions e rotariana; hoje é conselheira do Conselho Consultivo de apoio ao Ministério Público e Juizado Especial de Parangaba; conselheira do Conselho da Regional IV, presidente do conselho local de saúde do Frotinha de Parangaba; mediadora e conselheira do Conselheiro das Casas de Mediação do Estado do Ceará; coordenadora do projeto Brasil Alfabetizado e do ALFASOL Também foi diretora de escola, criando em 1996 uma pastoral do estudante. Escreveu alguns artigos para o jornal Tribuna do Ceará, literatura de cordel, poesias, e ministra 98


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palestras em colégios e faculdades. Foi professora no antigo quartel CPOR, tem especialização em Educação, é apaixonada por Psicologia e Direito, participou de cursos e seminários no exterior.

Domingos Olímpio (patrono) Domingos Olímpio Braga Cavalcante nasceu em Sobral, a 18 de setembro de 1850. Filho de Antônio Raimundo Cavalcanti e Rita Braga Cavalcanti. Bacharelou-se em 1873, pela Faculdade de Direito de Recife. Voltando ao Ceará, aqui residiu até 1879 (quando se transferiu para Belém, onde advogou) foi Deputado à Assembléia Provincial e batalhou no jornalismo, na defesa das idéias abolicionistas e republicanas. Em 1891, mudou-se para o Rio de Janeiro e foi nomeado Secretário da Missão Diplomática que, em Washington, daria solução ao litígio, sobre fronteiras, aberto entre o Brasil e a Argentina. Escreveu, então, a História da Missão Especial de Washington, ainda inédita. Seu primeiro romance, Luzia Homem, data de 1903. Na revista “Os Anais”, publicou outro romance, O Almirante, de costumes cariocas, e a novela Uirapuru, em que descreve cenas do Extremo Norte. Para o teatro, produziu dramas e comédias: A Perdição, Rochedos que Choram, Túnica de Néssus, Tântalo, Um Par de Galhjetas, Os Maçons, e O Bispo. Foi com Luzia Homem que se enfileirou entre os grandes autores brasileiros. Domingos Olímpio é Patrono da cadeira nº 8 da Academia Cearense de letras. Faleceu a 06 de outubro de 1906, no Rio de Janeiro. Por sua composição Luzia Homem, publicada em 1903, é considerado um clássico, enquadrando-se no “Ciclo das Secas”, da Literatura Nordestina. Fundou e dirigiu a revista “Os Anais”, onde publicou o romance 0 Almirante, deixando incompleto Uirapuru, também romance. 99


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Alguns de seus romances são realistas, de cunho regionalista como se observa nos tipos e cenas que descreve. Sua prosa é exuberante, dúctil e pitoresca. É também considerado precursor do moderno romance regionalista brasileiro, com Luzia Homem, sua mais obra mais conhecida, criando a personagem Luzia Homem. O enredo transcorre no Ceará, em 1878 e integra um grupo de retirantes e sua figura forte e personalidade marcante. que logo atrai a atenção dos homens, que disputam o amor da heroína. Esta protagonista reúne qualidades físicas de homem e a beleza plástica de mulher. Logo sua figura soberba chama a atenção de homens diametralmente opostos: Crapiúna, soldado de maus bofes, e Alexandre, honesto e trabalhador. Crapiúna, a fim de conseguir as boas graças de Luzia, arma uma calúnia contra Alexandre, e este é preso sob acusação de roubo. Graças à interferência de Teresinha, pobre desgraçada, mas ainda animada por uns restos de virtude, tudo se esclarece, e Crapiúna acaba sendo levado para a cadeia em lugar de outro. Assim, Luzia e Alexandre podiam realizar seu sonho: ir para a praia com a mãe dela, velha entrevada, casar-se. Em caminho, Luzia, enveredando por um atalho, topa com Crapiúna, que fugira da prisão para vingar-se de Teresinha. Lutam, e o soldado apunhala a moça, em seguida despenca no precipício. Violência

na Educação

Vejo como predominante a educação elitista, que exerce o poder de violência material. Segundo José Dias Sobrinho, o poder de violência simbólica é a capacidade que tem os grupos ou classes detentoras do poder. Um ato político é também um ato educativo, no tocante à realidade. O aprendizado recebe uma carta de informações, em grande parte, através das classes médias; muitas vezes, retrabalhada por eles, a ideologia dominante se difunde, se põe em marcha, se fortalece. A escola vista de baixo para cima nos toca de ma100


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neira sensível, pois seria no domínio, na ânsia de chegar lá que as tensões e os conflitos se intensificam entre as classes inferiores. A escola é vista, em grande parte, como uma agência de poder, do poder, para o poder, pelo que ela faz e pelo que ela não faz, pelo que diz e pelo que cala, pelo que aceita e pelo que recusa. A escola é para Atrusser, o aparelho ideológico número 1. Podemos suscitar ainda que a universidade é também um lugar de tensões: exigências e pressões das classes médias pela qualidade e, sobretudo pela quantidade de chances educacionais, conflitos inter e extraclasses. Em outras palavras, sob o pretexto de edificar e salvaguardar a neutralidade cultural nada inocente esse mecanismo, que massacra a política por meio de intangibilidade da técnica, a universidade aparentemente escamoteia a instância política, criando de si a imagem de terreno neutro, um vazio ideológico pretensamente acima dos constrangimentos sociais. O poder que exerce a educação é visto de cima para baixo enquanto que fosse invertido pelas classes políticas, não seria beneficiada apenas uma classe social. É classista todo sistema educacional de uma sociedade de classe. A principal beneficiada é sempre dominante. O que mais detém o poder, o saber, a consciência de suas necessidades, para se preservar, dispondo dos meios de produção intelectual, dispõe ao mesmo tempo dos meios de imposição. Podemos sentir que a universidade é uma de suas agências mais importantes, cujo grande contingente é constituído pelas classes médias. Nessas próprias agências a serviço das elites, o professor tipicamente de classe média desempenha, por detrás e através da ideologia cientificada, objetiva pretensamente desideologizada, reproduzir, como agente, a ideologia dominante. O que situa o caráter dualista do poder no que concerne à educação são as aspirações de uma mudança utópica. Um punhado de homens satisfeitos com o poder absoluto, não tem a consciência feliz, estando presos às torturas de um cep101


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tismo irremediável, no momento de esboçar um plano dentro do contexto educativo; nesse tocante mesmo com o poder evidentemente se opõe com um orgulhoso dogmático. Suscitando aqui uma descoberta de Marx, no tocante de que a luta entre as classes existe porque elas têm interesses antagônicos. É impossível haver harmonia entre a classe que explora e a classe que é explorada. Aureny Braga (Matéria publicada no jornal Tribuna do Ceará em 1996)

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Lucarocas – cadeira nº11 Luis Carlos Rolim de Castro (LUCAROCAS), professor, poeta e artista plástico, nascido a 30 de maio de 1957, em Fortaleza. Graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, com habilitação em Português e Literatura. Curso de especialização Metodologia do Ensino fundamental e Médio pela Universidade Vale do Acaraú – UVA, Formação do Magistério no Instituto de Educação do Ceará – IEC. Atualmente faz curso de Especialização em Administração Escolar. É professor da Universidade Vale do Acaraú – UVA e da Rede Pública Estadual de Ensino na área de Língua Portuguesa e Literatura. Foi professor de Literatura das Escolas Christus, e Professor de Artes do Colégio Piamarta. Atualmente é assessor parlamentar. Poeta e Escritor, Membro do Centro de Cordelista do Nordeste – Cecordel e da AMLECE – Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará –, Lucarocas possui diversos artigos publicados em Jornais e Revistas. Entre as suas publicações destaque para os Livros de Poesia Romântica: Íntimo Amor Utópico; Passos da Imaginação, os Amores do Poeta e Sedução Prazer do Amor (no prelo). Possui mais de 80 (oitenta) títulos de Literatura de Cordel publicados, dentre eles: O Povo sem Patativa, O San to Jesus Agreste, Amazônia Não Senhor, Reclame de Trabalhador, O sonho de Itamar, O Mistério do Ovo Quadrado, O Professor 6%, No Circo da Educação- Brincando de Avaliar, Este é o meu País, Ferrolho de Cabaré. Recebeu as seguintes premiações: 103


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1994 – 1° Lugar: Literatura de Cordel (Crateús-CE). 1997 – 4º Lugar: Literatura de Cordel (Rio de Janeiro-RJ). 2000 – 1º Lugar: Literatura de Cordel (Rio de Janeiro-RJ). 2000 – 3º Lugar: Soneto (Portugal). 2001 – Menção Honrosa: Cordel (Rio de Janeiro-RJ). 2001 – Destaque Especial: Poesia (Cruz Alta – RS). No campo das Artes Plásticas, destaque para a Pintura, Serigrafia e Xilogravura.

Patativa do Assaré: o Poeta (patrono) Antônio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré) nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural do município de Assaré-CE. Em 1910 perde a vista direita, em conseqüência da doença conhecida por “dor d’olhos”. Órfão de pai aos 8 anos, passa a trabalhar, ao lado do irmão mais velho, para sustentar os mais novos. Aos doze anos, o garoto Sinhazinho, como era chamado na família, freqüenta uma escola rural. Estuda apenas por seis meses, mas pro­cura ler sempre que seu trabalho permite. Em 1922, começa a fazer versos. Diz ele: “A poesia sempre foi e ainda está sendo a maior distração da minha vida. O meu fraco é fazer verso e recitar para os admiradores, porém nunca escrevo os meus versos. Eu os componho na roça, ao manejar a ferramenta agrícola e os guardo na memória, por mais extensos que sejam.” Aos 16 anos ganha uma viola da mãe, e diz: “Cantava por esporte, a pedido dos amigos. Cantei com os mais famosos cantadores do Nordeste, mas não quis fazer profissão. Nunca deixei a agricultura.” Aos 20 anos, já considerado um cantador e tocador de viola autêntico, Antônio Gonçalves da Silva vai ao Pará. Em Belém, conhece o folclorista cearense José Carvalho de Brito, que lhe deu o nome artístico de Patativa do Assaré, justificando que a espontaneidade de sua poesia tinha semelhança com o canto sonoro da Patativa. A partir daí, passou a ser conhecido por Patativa do Assa­ré. 104


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Em 1930 retorna à Serra de Santana, recomeça sua vida de roceiro, porém sempre fazendo versos: “Eu sou fio do Assaré: Onde viveu meu avô Lugá do meu nascimento Que fica no interiô, De junto do Cariri.” (...) “Meu verso é como semente Que nasce em cima do chão Não tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte Das obras da criação. “ (...) “Prá gente aqui ser poeta é preciso fazer rima completa, não precisa professor: Basta ver o mês de maio, um poema em cada gaio e um verso em cada flor.” A exemplo da maioria dos cantadores e dos poetas de cordel, Patativa do Assaré começou fazendo simples trovas de gracejo que, embora fizessem sucesso, não apresentavam mensagens da realidade do sofrimento e do abandono do sertanejo. Diz o poeta: “De treze aos quatorze anos comecei a fazer versinhos que ser­viam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: brincadeiras de noite de São João, testamento de Judas, ataques aos preguiçosos que deixam o mato estragar os plantios da roça, etc.” Mais tarde, passou a escrever uma poesia de cunho social e fez dela sua marca, denunciando o abandono e o sofrimento do nordestino, reclama do sistema da desigualdade política, econômica e social da região e da falta de interesse e comprometimen105


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to dos governantes. Torna-se, assim, o intérprete dos seus irmãos sertanejos, e faz-se seu porta­-voz. Homem cristão, com seu código de valores fundamentado na tradição religiosa da Bíblia, adverte o nordestino que “não foi Deus que lhe deu um destino causador do padecer”: “Nunca diga, nordestino, que Deus lhe deu um destino causador do padecer. Nunca diga que é o pecado que lhe deixa fracassado, sem condição de viver.” “Já sabemos muito bem de onde nasce, de onde vem a raiz do grande mal. Vem da situação crítica, desigualdade política, econômica e social.” “Mas, não é o pai celeste que faz sair do Nordeste legiões de retirantes. Os grandes martírios seus não é permissão de Deus. É culpa dos governantes. “’ Somente a partir de 1955 vem ao grande público nordestino a obra poética de Patativa, com a publicação do livro: Inspiração Nordestina. O poema A Triste Partida, também musicado por Patativa do Assaré, na interpretação de Luiz Gonzaga, o sertanejo do Exu, alcança grande sucesso em 1962, e torna-se o hino do retirante nordestino.

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Em 1978 é lançado nacionalmente o livro Cante lá que eu canto cá, visto pela imprensa brasileira como um marco na história da cultura popular. Elogiado e admirado em todo o Brasil, Patativa do Assaré recebe inúmeras homenagens: 1981 – O cantor Raimundo Fagner produz o disco mais vendido de Patativa do Assaré, A Terra é Naturá. 1982 – Recebe o título de Amigo da Cultura 1983 – Recebe o título de Cidadão Fortalezense, agradecendo a homenagem em versos. 1984 – Inaugurado em Assaré um Centro Popular, reunindo acervo sobre Patativa e suas obras. 1986 – Recebe a Medalha da Abolição, maior comenda do Ceará. 1989 – Em Assaré, a estrada que liga Assaré a Antonina do Norte passa a denominar-se Rodovia Patativa do Assaré. 1989 – Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Regional do Cariri – URCA. 1995 – Lançado o disco e CD: Patativa do Assaré, 85 anos de Poesia, no Teatro José de Alencar, em Fortaleza. Algumas de suas obras: Inspiração Nordestina (1955); Cante lá que eu canto cá (1978); Inspinho e Fulô (1988); Edição completa das Obras de Patativa em Cordel (1991); Aqui tem coisa (1994).. “Patativa do Assaré é aclamado, de modo unânime, como o grande nome da poesia dita popular de todos os tempos. Nele vida e obra se fundem.” A poesia de Patativa é tão autêntica que o Pe. Antônio Vieira disse que se Patativa não fosse poeta seria cangaceiro. Da mesma forma que Lampião defendeu seu povo com bacamarte, Patativa defende com sua poesia social, humana e sentimental: Ele é o mais autêntico intérprete de sertanejo, é a maior po­tencialidade para gritar contra as injustiças e discriminações sociais e econômicas do sertão. 107


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Se o Brasil de Gonçalves Dias tem palmeiras onde canta o sabiá, o Brasil de Patativa tem mandacaru, onde a juriti chora ao entardecer, tem aroeira onde o João de Barro faz o seu ninho. A poesia de Patativa é colhida da terra, dos roçados, como se estivesse apanhando feijão ou quebrando milho. Sua poesia é nascida da experiência vivencial, do contato com a terra onde nasceu, viveu, sofreu, trabalhou, tirando o seu sus­tento, terra onde vive feliz, no seu Assaré, no seu Ceará.

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O povo sem Patativa Lucarocas Quem conhece Patativa, O poeta popular, Sabe que é lenda viva Na memória secular; Homem da agricultura Que faz do verso cultura E da vida poesia. E no cabo da enxada Faz a bandeira hasteada Clamar por democracia. Fez repente na viola Cantando mágoas da vida, Rimou a paz que consola Com toda dor da partida; Fez um verso pra saudade Metrificou liberdade, Com a voz do coração. Cantou para o agreste Se livrar de toda peste Que assolava o sertão. Patativa sertanejo, Dono da simplicidade Colocou no seu versejo A força da humildade. E contra a opressão Defendeu o seu irmão Em todo verso que fez Mostrando-se defensor Do homem trabalhador E do povo camponês. 109


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O verso do Patativa Sempre clamou por justiça Numa luta coletiva. Não colocava preguiça, Despertava ao trabalho Qual o bater do chocalho Alertando o lavrador; O seu verso era carinho Que pra livrar do espinho Plantava primeiro a flor. Foi no ventre do sertão Que o poeta nasceu. Fazendo calo na mão Com a enxada escreveu No seco da terra dura Um versejar de fartura De grande sabedoria; Pois enquanto a terra arava Sua mente transformava Natureza em poesia. Esse poeta do povo, Um defensor do agreste, Quando faz um verso novo Traz o canto do Nordeste Que tem o cheiro da roça, A pobreza da palhoça E a fome tão tirana; Mas sua voz é altiva Qual cantar da patativa Lá na Serra de Santana.

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Com seu jeito de poeta O Patativa roceiro Pra uns se tornou profeta, Pra outros foi escudeiro; E com sua poesia Pregou a sabedoria Do trabalho e da fartura; Isso foi lhe dando fama E hoje o povo lhe chama Poeta da agricultura. Com a fama que ganhou Não obteve riqueza, Apenas amenizou A dor de sua pobreza; Pois o seu maior valor Está em ser trovador, Amante da poesia E viver de trabalhar E seus versos recitar Na mais profunda alegria. A fama desse poeta Não ficou ignorada, A sua obra completa Foi lá na França estudada; Mas parece uma ironia Que a sua poesia Seja lá fora aplaudida, Louvada e pedida em bis Enquanto no seu país Foi muita vez esquecida.

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O poeta da justiça Muito foi injustiçado, Teve a vida submissa Por trabalhar no roçado; E por viver no sertão Lhe colocaram o grilhão De poeta sem cultura. Mas a sua poesia Promoveu a anistia Do povo da agricultura. Nas asas do Patativa Muita gente quis voar E de maneira abusiva Tentaram lhe enganar, Usando sua poesia Sem lhe dar a garantia E o seu real valor, Mas no mundo há justiça Pra evitar a cobiça Da arte do trovador. Hoje para redimir Todo erro do passado Pensam em restituir Ao poeta injustiçado Lhe fazendo homenagem Com certa politicagem; Em jogada eletiva, Fazem festejo fechado E assim fica afastado O povo do Patativa.

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Usam do nosso poeta Para atrair multidões, Mas a platéia seleta Formada por “tubarões” Muito privilegiada Em teatro confinada A cultura comemora; E nessa ação festiva O povo sem Patativa Fica no lado de fora. O hiato que se faz Do povo com a cultura Ao poeta não apraz E só lhe causa amargura Pois a sua poesia Tem sal de democracia E sabor de liberdade. E não quer ver o seu verso Vivendo no universo De quem dita autoridade. Bem maior do que o homem É força que vem de Deus, E hoje os dias consomem As rimas dos versos seus. E essa voz do Patativa Fica menos produtiva Para fazer verso novo; E vai o tempo criando Jeito de ir afastando O Patativa do povo.

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Quando for definitiva A pausa da sua voz O poeta patativa Deixará dentro de nós O vazio da saudade Do grito de liberdade Dos grandes versos que fez; E vai o povo chorar Por não poder escutar Os seus versos outra vez. Do poeta social Ficará uma lembrança E sua alma imortal Será luz de esperança Que brilhará no sertão Formando um grande clarão No seio dos nordestinos, Que lembrarão com saudade Os cantos de liberdade Que marcaram seus destinos. A saudade vai lembrar, Quando nascer a manhã, Patativa recitar Sua “Morte de Nanã” E lembrando da chupeta Relembra sua “Mãe Preta”. Com o coração de luto No peito sente saudade Recita “Mãe de Verdade” E “Conversa de Matuto”.

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O povo recordará Desse poeta da roça “Cante lá que eu canto cá” Feito na sua palhoça; E assim se lembrarão De “Resposta de Patrão” E também “Meu Passarinho” “Pergunta de Moradô” De “Ispinho e fulô” “Filho de gato é gatinho”. Quando chegar o momento Da saudade decisiva Haverá um só lamento Do povo sem Patativa. E como luz em magia Um banho de poesia Cobrirá sua despedida Lembrando seu “Boi fubá” Todo povo chorará Por sua “triste partida”. (Brasília, 10 de julho de 2002) ................. Hoje a triste partida Faz registrar o seu dia. O povo faz despedida Ao mestre da poesia. E a cor da natureza Perde na terra a beleza Pra no céu ser mais ativa, E os anjos nos hinos seus Fazem um coro com Deus Pra receber Patativa. 115


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Quando no céu recebido Patativa vai lembrar Desse seu povo sofrido Que muito lhe ouviu cantar E a Deus pedirá em hino Pra que o povo nordestino Não venha mais padecer; E que a sua poesia Dos céus traga a alegria Pro povo melhor viver. E os filhos dos sertões Farão suas romarias. As preces e orações Serão sempre poesia Do Patativa aclamado, Que por todos sendo amado, Em um só clamor de fé, Farão sua memória viva; Transformarão Patativa No Santo de Assaré. (Fortaleza, 05 de fevereiro de 1996)

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FRANCISMAR DE CASTRO – cadeira nº 12 FRANCISMAR DE CASTRO Araújo nasceu em Crateús-Ce, aos 12 de setembro de 1 952. Descende em linha paterna de JOSÉ VERÍSSIMO e materna de JOANA GOMES DE CASTRO ARAÚJO. Estreou oficialmente na literatura em abril de 2006, com a obra Metalito, um livro paradidático infantil, destinado a crianças de sete a dez anos, que mistura ficção com realidade. Poeta desde os anos 70, escreve poemas, contos, artigos... Tem Curso Superior em Turismo (Universidade Vale do Acaraú – UVA) e em Letras (Universidade de Fortaleza – UNIFOR). É atualmente vice-presidente da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará – AMLECE), na qual tem como opatrono o poeta, jornalista, advogado e professor JÁDER DE CARVALHO.

A obra de Jáder de Carvalho (Patrono) Jáder Moreira de Carvalho, nasceu em Quixadá, no dia 29 de dezembro de 1901. Era filho de Francisco Adolfo de Carvalho e Rita Moreira de Carvalho. Faleceu em Fortaleza, a 07 de Agosto de 1985. Teve publicadas as seguintes obras: yy Sociologia – O Índio Brasileiro; O Problema Demográfico; Povo Sem Terra; Antologia de João Brígido. yy Romances – Classe Média; Doutor Geraldo; A Criança Vive; Eu Quero o Sol; Sua Majestade o Juiz; Aldeota. yy Poesias – Terra de Ninguém; Água da Fonte; Cantos da Morte; Temas Eternos; Menino Só; Delírios da Solidão; Rua de Minha Vida; Terra Bárbara; Meu Passo na Rua Alheia; Alma em Trovas; Poemas para o povo. 117


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yy Disco – País dos Nordestinos. Popularmente consagrado e imortalizado pela versatilidade de formas e temas de sua escritura. Sensível, intrépido e inquieto, escrevia como sentia, em tom natural e livre, em alto tom de expressividade. Os amantes da cultura e da literatura choram sua ausência e enaltecem a sua obra, como se pode ver pelas opiniões que coletamos e expomos a seguir. “Jáder de Carvalho, um homem, um poeta, um mito. O Ceará ainda tem raizes que falam de ti, amigo e poeta, nunca esquecido; agora chamado Jáder Saudade.” (PAULO FRAZÃO) “Jáder de Carvalho não morreu, apenas se transferiu. Seu espírito de amante da liberdade estará sempre do nosso lado guiando-nos os passos, encorajando-nos nos grandes embates da luta contra o despotismo daqueles que se nutrem da escravidão.” MANUEL COÊLHO RAPOSO “ Orador, inflamava as multidões pela facilidade do seu verbo e a coragem pessoal, características da sua atuação. Mas foi, a meu ver, como Poeta, que Jáder de Carvalho consagrou-se não apenas na provincia, aqui se manteve fiel por toda sua vida, mas no plano nacional, figurando sem favor entre os maiores vates brasileiros dos tempos modernos.” BLANCHARD GIRÃO “Jáder de Carvalho foi homem de muitas legendas, eu já o disse repetidamente. Coexistiram nele o jornalismo combativo e irônico; o idealista de formação marxista, sem esquecimento do humanismo; o brilhante professor de Sociologia; o advogado intransigente na defesa dos mais humildes; o romancista de inspiração social ou punitiva, como ele próprio se classificava, no caso, e sobretudo, acima de todos esses valores, o poeta autêntico, de grande força lírica e telúrica. Jáder de Carvalho enriqueceu as letras e a inteligência de nossa terra.” MOREIRA CAMPOS

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TERRA BÁRBARA (Obra-Prima de Jáder de Carvalho) Na minha terra, As estradas são tortuosas e tristes Como o destino do seu povo errante. Viajor, Se ardes em sede, Se acaso a noite te alcançou, Bate sem susto no primeiro pouso: terás água fresca para a tua sede, rede cheirosa e branca para o teu sono. Na minha terra, O cangaceiro é leal e valente: Jura que vai matar e mata. Jura que morre por alguém – e morre. (Brasil, onde mais energia na água, que tem um só destino, do teu Salto das sete Quedas ou na vida, que tem mil destinos, do teu jagunço aventureiro e nômade?) Ah, eu sou da terra do seringueiro, o intruso que foi surpreender a puberdade da Amazônia. Eu sou da terra onde o homem, seminu, Planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil. Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá E fui crescer nos canaviais do Cariri, Entre caboclos belicosos e ágeis. Filho da gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos, Eu sou o índice do meu povo: Se o homem é bom - eu o respeito. Se gosta de mim – morro por ele. 119


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Se, porque é forte, entendesse de humilhar-me, ai, sertão! Eu viveria o teu drama selvagem, Eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante, Como antes te acordava ao choro da viola...

POEMA DE LOUVOR A QUIXERAMOBIM Jáder de Carvalho Não quero gravata. Não me tragam relógio-de-pulso. Quero o gibão. Quero as perneiras. Quero o chapéu-de-couro. Quem vai a Quixeramobim não é o professor, o bacharel, O jornalista Jáder de Carvalho. Quem vai é o neto de vaqueiros, o menino que não esqueceu o pátio das fazendas. Quem vai é o rapaz que, longe do mato, longe do Banabuiú, punha o ouvido na areia da capital e ouvia (ah, como ele ouvia!) o tropel de um certo poldro Andorinha, o mugido da vaca Esperança. Quixeramobim, fala do coronel jucá! Fala de Antonio Conselheiro! Conta-me a história do infeliz Luciano e da famosa Joana Batista Barreira. (Aqui no ouvido, Quixeramobim: Estavas no teu juízo quando, no papel, destronaste o Imperador Pedro I e, de uma penada só, derrubaste a dinastia bragantina e proclamaste a República em 24?) Olha: no chão que os teus gados pisam com ternura Andou o pé revolucionário do meu bisavô João Aires de Olival. Rapazinho, vindo do sertão para o Liceu, 120


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Não vi nada de novo nos teus rios, nas tuas serras, nos teus campos. Tudo era conhecido velho. Até a cruz gravada na pedra, perto do trem, Me pareceu familiar. Eu não vira a todos, com antecipação de quase um século, Pelos olhos de João? Às vezes, pego na pena – e me sinto um padre Mororó. Às vezes, de pálpebras fechadas, sou um vaqueiro de Muxuré. Às vezes, ardo em rancor: limpo, então, o bacamarte, selo o cavalo, sou um Maciel a quem tomaram a terra, Um Maciel a quem mataram um parente, E me largo na estrada, em busca dos Araújos. Ah, Quixeramobim, eu adivinho a poesia. Até na vida dos teus ladrões de gado! Até na vida dos teus escravos! Até no adultério das senhoras das casas-grandes! Até nas sentenças de morte dos teus primeiros jurados! Até nos despachos – ásperos e rápidos despachos Do juiz leigo, meu parente capitão Antônio Duarte de Queiroz. Até na tosse dos tísicos que te procuram! Chegou a hora, outra vez chegou a hora de pôr o ouvido no chão da Capital: Lá vem o tropel do poldro Andorinha! Lá vem o aboio dos vaqueiros de Muxuré e do Logradouro. Lá vem a súplica do matador de Luciano ao pelotão de fuzilamento: “Meus amigos, eu só peço que não me deixem sofrer!” Lá vem, mais perto, o poldro Andorinha! Meninas, tragam o meu gibão! Tragam as perneiras! Tragam as esporas! Tragam o meu chapéu-de-couro! É assim que eu vou a Quixeramobim... 121


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EPITÁFIO DE EULÁLIA PARA JÁDER A terra, mãe das árvores e das flores, recebeu teu corpo. Mas o teu corpo não será pó, será a árvore que agasalha; O teu cérebro não será cinza, será luz. Tu que viveste repartindo bondade e saber, Infinitamente viverás nas árvores, Nas plantas, nas flores, na saudade.... Não morre quem Nos outros vive. Não morre quem Nos vivos VIVE.

A Jáder de Carvalho Francismar de Castro O vento e suas canções me ensinaram, Que a brisa do mar diz palavras de amor, Que através delas eu me sinto em teus braços E entre os abraços o tempo me ensinou... Que a tua beleza brilha mais que as estrelas, Que o azul do mar os teus olhos inventaram, A natureza fez tudo tão perfeito, que eu não sei Se o imperfeito, ela também criou... A metamorfose da nuvem branca, Veio quando conheceu tua’lma, Diante deste teu resplendor, O mar agitado se acalma. Desenrolando estes versos, Um grito lembrança senti n’alma, O subconsciente logo me fala, Fala de ti, minha doce Laura. 122


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Jáder, o inimitável Jornalista, advogado, professor, escritor... Amou muito, e por todos foi amado. Determinação, coragem e lealdade Eram suas qualidades inseparáveis. Retroceder, verbo que jamais conjugou.

Francismar de Castro

Dedicou-se à familia e ao estudo poético, Erradicando de sua vida a negatividade. Cumpriu com brilho sua missão terrena. Amante da literatura e do lirismo, Renovou a poesia com o seu talento, Venerando a beleza e a estética. Amando a terra, seu povo e seus ideais, Liberou suas idéias e as dividiu com todos. Homem coerente com o seu tempo e espaço Orgulhando-se sempre do seu povo nordestino.

Socorre-me Francismar de Castro

Ah! Céu azul... Ao apreciar-te, faz-me lembrar dela. Dos teus olhos, de como és linda... Singela. Quero te encontrar, envolver-me contigo. Onde estiveres e aonde fores, eu te sigo; Seja como amante, namorado, ou amigo. Quero ficar perto de ti, só assim terei sentido. Sem ti, sou apenas um ser sem vida, Sou o mar sem peixes, a linha sem anzol, Sou numeral que não soma, Oh! Karol... Socorre-me, voltarei a viver contigo, A desfrutar deste sol.

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Realidade A casa que não habitamos, O emprego que não temos, A saúde que sonhamos, A vida que não vivemos.

Francismar de Castro

A universidade fantasma, Fantasma é o conforto, Homenagem nunca em vida, Somente depois de morto... Mundo! mundo e mundo... Por que és tão imundo? Fala-me algo, algo ético, Não sejas tão moribundo... Cala-te, língua, és ímpar, A audição, sim, é par... Tudo é somente hipocrisia, Direito não tens de falar...

Amor, mulher A minha vida de amor Alicerçada com águas, Frutos... calor do sol Sem rancor, sem mágoas... Ritmo binário, tom si–bemol Bonança, roupa sem nódoas.

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Francismar de Castro


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Águas não são lágrimas Sol não produz suor... Vida vivida, videira... Ritmada em tom maior Luz cintilante ligeira, Segue um caminho só. Amor formado na rocha. Águas da fonte saíram, Frutos como tochas, Uvas como jamais vistas, Justiça unindo-se ao amor, Daí, a mulher pariu...

Variações sonoras Francismar de Castro A prosódia (pronúncia) deixa de ser exercida corretamente quando analisamos a linguagem e os modismos de várias regiões num mesmo estado ou num mesmo país. O dialeto cearense sofre mutações em cada região do Estado, ocasionando uma cacoépia (pronúncia em desacordo com as regras da ortofonia – arte de corrigir os defeitos da pronúncia), que torna difícil uma regra para definirmos os fenômenos da introdução de neologismos (palavras novas, palavras criadas) na ortografia, ou fixar aspectos da dialetação portuguesa no Ceará, como talvez preferisse dizer o Sr. Amadeu Amaral. Penso, por exemplo, que se pode reproduzir a poesia popular matuta, onde desponta e se fixa no povo a língua luso-brasileira, sem reduzi-la à hedionda aravia (linguagem ininteligível, ou seja, linguagem que ninguém entende). Por que escrever – pulo e num - agravando a homonímia, (é a situação em que uma só palavra assume duas ou mais significações diferentes, mas cuja origem admite vocábulos diferentes, em vez de – pelo e não)? 125


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Mas não se pode evitar que o sertanejo da região do Cariri diga: “pulos santos de beijar os altare”. Nômades poetas de outras plagas que se fixaram no Cariri e em outras cidades do Estado falariam “cauçada” seguindo a prosódia cearense e não “carçada” como em outros Estados do Nordeste e de Minas Gerais. Outra palavra que comumente se fala com erro prosódico é “cebola” que o cearense pronuncia “cibola; ou ainda: “filuzufia”, “biulugia”... E o sotaque? Como elemento prosódico, o sotaque pode criar uma linguagem distinta, embora permaneça a grafia. Notável a diferença da pronúncia do “r” em Minas Gerais com o “r” do Nordeste. Aliás, no Ceará (Fortaleza), é comum ouvir-se um locutor de rádio confundir a 3a pessoa do singular do indicativo com o infinitivo verbal. Ouvimos freqüentemente confundirem vê com ver. Normalmente este erro se dá, pela pronúncia afetada, pelo sotaque gerado pela influência tardia da língua de suas regiões, que fizeram parte da vida ativa do indivíduo que fala. Para exemplificar vamos usar palavras do elucidário (vocabulário) de Leonardo Mota: apaideguado; amojada; baé (baixo); bochecha (logro); caborge (feitiço); caçote (sapo pequeno); dicomer (comida). São palavras usadas indistintamente nas regiões, com mutações prosódicas de acentuação aberta ou fechada. Para melhor ilustrar as diferenças, podemos usar citar algumas histórias que já pertencem ao folclore nordestino: Realizava-se uma festa cívica chamada: “Festa do Centenário. Um iguatuense se imiscuiu (misturou-se) entre os que participavam da passeata e pergunta a outro assistente da parada: “Moço, a procissão está aqui, mas cadê a image, cadê o andô, cadê o São Tenaro?” Em Fortaleza, um doutor baiano tomava um sorvete na “Rotisserie Sportmen” quando um garoto lhe ofereceu um bilhete de loteria: 126


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– Doutor, compre a sorte! – Como é que você sabe que eu sou doutor? – Porque negro bem vestido, aqui no Ceará, ou é doutor da Bahia, ou é criado de inguilês.... Durante uma viagem, Leonardo Mota mostrava sua preferência por macarrão na hora das refeições e o Major Raimundo Afonso o interpela: – Dr., o Sr. fique ciente que o que dá valor ao home é carne, feijão e farinha.... – O Sr. não gosta de macarrão, major? – Como lá isso! De comida estrangeira eu só como mesmo é doce de latra. No Ipu, havia um tipo popular chamado Manoel dos Cachorros. Em certa ocasião, ele tentava ensinar um remédio para reumatismo; e, como era muito religioso, entremeava suas falas com expressões louvando o Senhor, e saiu esta frase: – “Remédio de reumatismo é sebo de carneiro, abaixo de Deus, capado”. As variantes sonoras entre o povo do Cariri e de Fortaleza são hoje muito pequenas devido ao intercâmbio comercial, a facilidade de transporte e o desenvolvimento escolar. Mas o que é notório é saber que o linguajar popular do interior do Estado assume ares de assertivas humorísticas, pelo inusitado uso de vocabulário denso e modismos. Francismar de Castro

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WAGNER VITORIANO BEZERRA – cadeira n.° 13 Wagner Vitoriano Bezerra, aquariano, católico, devoto de Nossa Senhora, nasceu na Cidade de Iguatu, Ceará. Fez seus primeiros estudos com sua mãe, seus irmãos e um professor particular que lhes ensinava a tabuada com auxílio de uma palmatória. Sua vida foi marcada pela dificuldade e construída com estudo e muito trabalho. Iniciou seus estudos propriamente ditos em 1954 com 15 anos, quando ingressou na Escola Industrial de Fortaleza. Em 1956, se transferiu para o Colégio Fênix Caixeiral, onde concluiu o Curso Ginasial. Em 1958, após mini-vestibular se matriculou no Colégio Liceu do Ceará, permanecendo até o término do Curso Científico. Foi membro efetivo do Centro Estudantal Cearense. Diretor da Folha Estudantal, do Centro Estudantal Cearense. É formado em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio e em Direito pela Universidade Federal da Paraíba. Ficou órfão de pai aos 9 anos de idade, o que lhe obrigou a trabalhar muito cedo, aos 12 anos; e aos 17, já era funcionário público estadual lotado na Secretaria da Agricultura onde, a convite de seu primo Edival Távora, exerceu também o cargo de oficial de gabinete. Prosseguindo em plena ascensão funcional, foi nomeado para a Secretaria da Fazenda e nesta exerceu vários cargos de chefia, entre eles o de Chefe de Fiscalização. Aposentou-se como Auditor Fiscal do Tesouro no último nível, após trabalhar 37 anos ininterruptos. É casado com Lourdes Sales Vitoriano há mais de 42 anos, tem uma filha do coração e dois lindos netos. Wagner gosta de fazer amigos, ler, ouvir música, jogar baralho com seus amigos e fazer uma “fezinha” no bingo. Fica muito feliz quando alguém o convida para ser padrinho. Pelas contas que fez, já apadrinhou mais de 22 crianças. 128


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Ao longo do tempo já foi agraciado com alguns títulos por diferentes segmentos da sociedade. Dentre eles, o diploma de Maçom Cem por Cento, pela Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará; o diploma de Gratidão, pelo Lions Clube de Fortaleza Planalto Distrito L-15; a Medalha do Mérito João Pereira Magalhães, pela Loja Maçônica Deus e Maranguape e uma Portaria de Elogio do então Secretário da Fazenda, General Edson Amâncio Ramalho. Foi Bibliotecário da União dos Funcionários Fazendários do Estado do Ceará (UFEC) e da Associação dos Aposentados Fazendários do Estado do Ceará (AAFEC), e Presidente da comissão que elaborou o Estatuto da AAFEC. Já aposentado, mas, com o mesmo espírito de luta, ajudou a fundar o Rotary Clube de Maracanaú e a Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará, da qual é tesoureiro. É co-participante do livro “Liceu do meu tempo, II edição”. Atualmente dedica parte do seu tempo escrevendo suas memórias no livro que pretende publicar brevemente. Quando inspirado, faz alguns versos que está colecionando para serem inseridos no seu livro.

Humberto Teixeira, doutor do baião (patrono) Humberto Cavalcanti Teixeira nasceu no dia 5 de janeiro de 1915, em Iguatu, Ceará, filho de João Euclides Teixeira e Lucíola Cavalcante Teixeira. Desde cedo apresentava aptidões para a música; aos 6 anos, aprendeu a tocar musete - versão francesa da gaita de foles. Aprendeu também flauta e bandolim. O seu tio Lafaiete Teixeira foi o responsável pelos seus primeiros ensinamentos musicais. Aos 13 anos, depois de ter editado sua composição Miss Hermengarda, tocava flauta na orquestra que musicava os filmes mudos no Cine Majestic de Fortaleza. Aos 15 anos radicou-se no Rio de Janeiro onde, aos 18 anos, em 1934, foi premiado com “Meu Pecadinho” pela revista “O Malho” num concurso de música carnavalesca. 129


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Em 1943, formou-se em advocacia pela Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro. Nesta época já tinha composto sambas, marchas, xotes, sambas-canções e toadas. Em 1944, teve gravada a primeira música, em parceria com Lírio Panicalli, o samba apoteótico “Sinfonia do Café”, cantado por Deo. Compôs “Kalu”, para a cantora Dalva de Oliveira e “Adeus, Maria Fulô”, com Sivuca, para Camélia Alves. No ano de 1954, Humberto Teixeira elegeu-se Deputado Federal,. Teve destaque na Câmara Federal, quando do seu empenho na defesa dos direitos autorais. Conseguiu aprovar a lei Humberto Teixeira, que permitia maior divulgação da música brasileira no exterior, através de caravanas musicais financiadas pelo Governo Federal. Humberto Teixeira levou para o exterior Valdir Azevedo, Francisco Carlos, Dalton Vogeler, Leonel do Trombone, o guitarrista Poly, a cantora Marta Kelly, o acordeonista Orlando Silveira, o Conjunto Radamés Gnatalli, o maestro Quincas e seus Copacabanas, Vilma Valéria, Carmélia Alves, Jimmy Lester, Léo Peracchi, Sivuca e muitos outros. As canções de Humberto Teixeira foram interpretadas principalmente por Luiz Gonzaga, mas outros cantores de expressão nacional também tiveram este privilégio; foram eles: Dalva de Oliveira, Camélia Alves, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Fagner, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho etc. Eleito por 3 anos consecutivos o melhor compositor do Brasil, quebrando rotinas e cânones, imprimiu novos rumos à seresta nacional. Com o baião, fincou-se um novo marco na evolução da música popular brasileira. Representou o Brasil na Noruega, França e Itália, como Delegado Especial junto ao XVIII Congresso Internacional de Autores e Compositores. Para o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, mais conhecido como Nirez, a energia do trabalho de Humberto Teixeira reside na determinação dele em continuar a cantar o Ceará mesmo longe do Estado onde nasceu. 130


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Ednardo, cantor e compositor, que gravou um CD com várias composições de Humberto Teixeira com seu maior parceiro, Luiz Gonzaga, entrevista ao Jornal O Povo, considera o compositor iguatuense de grande e incrível importância para música universal. “Ele era um cabra que tinha alma na música (ou música na alma, não sei), porque tinha uma profunda sensibilidade, uma concepção harmônica intuitiva mesmo sem ser instrumentista. Isso me deu muita alegria ao trabalhar em cima da obra dele. (...) são músicas muito fortes que ele deixou alicerçadas para o Brasil todo poder tomar conhecimento e valorizar. “A erudição do Humberto proporciona uma sofisticação que prima pela simplicidade, por um raciocínio muito limpo. Assim como o poeta Patativa do Assaré, ele deveria ter sua vida nos currículos escolares para que as gerações que estão vindo passem não só a reconhecer a obra, mas também a história dele. É importantíssimo fazer com que ela tenha ressonância principalmente na comunidade em que esse cidadão nasceu”. A opinião é de Nonato Luiz, violonista e compositor, na mesma reportagem. A musicóloga e professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Elba Braga Ramalho (que publicou, em 2000, o livro Luiz Gonzaga, a síntese poética e musical do sertão, Ed. Terceira Imagem – originalmente tese de doutorado defendida na Liverpool University) interpreta a parceria dos dois músicos como a responsável, na década de 40, pela divulgação de uma visão estética nordestina que conseguiu ir além da literatura. Isso só foi possível a partir das vivências e saberes de cada um deles (em entrevista ao Jornal O POVO. 18/11/2006). Em declarações autobiográficas, Gonzaga tinha em mente o que queria fazer, mas não sabia de antemão como transformar suas idéias musicais e de conteúdo poético em objeto de arte. Necessitava de alguém que complementasse seu grande sonho: transformar em canção toda a bagagem cultural que guardava na memória. E até então, seus parceiros nem sequer alcançavam suas pretensões. Foi 131


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o encontro com Teixeira que possibilitou a grande arrancada para a concretização de seu projeto. Uma parceria musical que possibilitou a realização de um projeto estético que revelou o Nordeste de um modo muito original: pela música, pela poesia, pelo canto, acrescidos do instrumental, do linguajar, da indumentária, da coreografia. Três canções tornaram-se ponto de partida para esse feito: “Baião”, “No meu Pé de Serra” e “Asa Branca”. Confessa Humberto Teixeira em entrevista publicado em 1995 pela Equatorial: “A nossa parceria [Humberto refere-se a Gonzaga], eu costumo dizer que não sei onde começa o poeta e onde termina o músico, é uma parceria indestrutível, muito amiga, muito fraterna... Eu nunca me incomodei muito com esse processo que atinge muito a todo criador de um modo geral, em qualquer manifestação artística. Nem sempre o que cria ou aquele que entra mais intelectualmente ou musicalmente ou o que seja, ou com a letra da coisa, é quem se beneficia do que aquilo pode render junto da massa, junto do público, na representação do que por ventura essa obra de arte, em qualquer manifestação artística, venha a ter. Eu nunca me incomodei com isso porque eu sempre analisei de uma maneira muito fria. O baião se tivesse sido feito só por mim, o que não foi, fui eu e o Luiz Gonzaga, ele continuaria sendo apenas um negócio inédito, ao passo que com o Luiz Gonzaga ele se tornou esse marco extraordinário dentro da música popular brasileira marcando uma década de sucessos fantásticos”. Em “Danças folclóricas brasileiras” (1954), Maria Amália Correa Giffoni, registra a coreografia do baião, que remonta a década de 40 do século 18: “Já em 1842, falava-se no baiano ou baião, difundido no Nordeste brasileiro e muito em voga no século XIX. Era conhecido no Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Bahia, com diversas modalidades coreográficas... caracterizava-se por ser dança viva, com movimentos improvisados, ágeis, nele aparecendo o sapateado, a castanhola de preferência produzida com os dedos, palmas, meneios, giros, além de volteados e roda de galo e mais raramente da umbigada”. 132


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Na verdade, em rótulo de disco, designando um gênero musical, o nome baião apareceu pela primeira vez em 1930, num 78rpm gravado na Columbia, pela cantora pernambucana Stefana de Macedo.O baião chama-se “Estrela Dalva”, composição de João Pernambuco, que participa do disco como acompanhante. Independente da gênese, o baião firmou-se em pouco tempo. Foram raríssimos, os astros da era do rádio que não o gravaram. Do passional Nelson Gonçalves ao ídolo das mocinhas sonhadoras, Cauby Peixoto. Das esfuziantes rainhas Emilinha e Marlene, ao galã-família Carlos Galhardo, de timbre mais apropriado às valsinhas dolentes. Não só no Brasil. Lá fora, a voluptuosa Silvana Mangano caiu no dengo do baião, fazendo sucesso com “Anna” (El negro Zumbon), tema do filme de Alberto Lattuada. Insuspeitadas influências do baião estão no rhythm and blues de meados dos anos 50, forjado na linha de montagem do Brill Building, um dos edifícios da Broadway, sede de dezenas de editoras musicais. De Leiber & Stoller, Doc Pomus e Shuman, a Gerry Goffin e Carole King, até Burt Bacarach (ouçam com atenção Do you know the way to San Jose?) empregaram células rítmicas e linha de baixo de baião em suas composições. A seminal parceria entre Gonzagão e Humberto Teixeira foi prolífica para o pouco tempo que durou. Teixeira alegou diferença de sociedade arrecadadora para o afastamento. Mais provável é que, esgotados os temas de domínio público, Humberto Teixeira tenha continuado produzindo pérolas e tendo que dividir com o Luiz Gonzaga que, sabidamente, era compositor bissexto, e um intérprete, “sanfonador” genial, que tornou definitiva quase toda gravação que fez, e que, costume existente até hoje, exigia parceria em canções cantadas por ele. “Que nem jiló”, “Baião de dois”, “Macapá”, e tantas outras, provavelmente só tiveram de Gonzaga a sanfonização e a voz privilegiada. Humberto Teixeira faleceu no Rio de Janeiro no dia 3 de outubro de 1979. Da união com Margarida Teixeira, nasceu a atriz De133


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nise Dumont. De Iguatu para todo o Brasil. Assim se resume sua trajetória e a obra, Amemória do Doutor do Baião, como era chamado pelo parceiro Luiz Gonzaga, vem sendo reavivada, 27 anos após sua morte, pela filha dele, a atriz Denise Dummont, por meio de um livro e de um filme. Em homenagem e reconhecimento, o governo estadual e a prefeitura de Iguatu, fizeram uso de seu nome para a Rodovia CE021 - que liga Iguatu à Fortaleza, à Agência do banco do Nordeste do Brasil de Iguatu e o Centro Cultural Iguatuense.

Lembranças do meu tempo de criança Hoje cedo ao ler o jornal “A Praça”, de minha querida cidade de Iguatu, me veio à idéia de perguntar onde e como estão as pessoas e os lugares com os quais convivi ou dos quais ouvia minha mãe falar. Começo desejando saber do Dr. José Mendonça Neto, médico humanitário, que além de não cobrar consulta dos pobres ainda dava os remédios; do Dr. Durval Mendonça, médico e irmão do Dr. Mendonça; do Dr. Agenor Gomes de Araújo, médico caridoso e muito competente, que cuidou de minha poliomielite; do dentista Dr. Moretti, todos com consultórios na Praça da Matriz. Os farmacêuticos: Dalmário Cavalcante, Apucro Lima Verde e Juca Mendonça, este último proprietário da Farmácia dos Pobres; do Professor João Coelho, que morava na Praça da Matriz, vizinho à nossa casa e onde ensinava a tabuada com a palmatória na mão. Do Padre João Linhares, professor e proprietário do Curso de Preparação para o Exame de Admissão, onde tive o prazer de estudar. Onde está o comerciante Meton Maia, que animava os carnavais? E meus colegas de infância, João Augusto e Evòdio? E Donana, professora e proprietária do Curso de Datilografia onde fui diplomado? 134


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O advogado Nicanor, pai de meu xará Wagner, e o Dr. Péricles Gomes de Araújo, irmão do destemido Belchior? O que foi feito das figuras folclóricas Neném, apelidada de Meu Bem, que usava flores na cabeça e só pedia um mil réis, e Antonio das Neves do Buchão, que era gago e andava com uma bengala na mão, e quando os meninos o aperreava ele corria atrás e gaguejava usando palavras pornográficas, e que fazia a maior diversão da meninada? Como estará a Lagoa da Sebastiana, a Lagoa da telha, a Estação ferroviária, a Ponte de ferro sobre o rio Jaguaribe, a Praça da Matriz, a Praça da Estação onde eu nasci, as Ruas 15 de Novembro, antes Rua do Cisco e a rua Floriano Peixoto, onde também morei? Sobre a Praça da Matriz recordo, com saudades, o primeiro flerte e a primeira namorada, os passeios de bicicleta alugada, as Novenas de Nossa Senhora Santana na Igreja Matriz, as missas aos domingos celebradas pelo Padre Couto, as missões dos frades, a minha primeira comunhão, feita com o Padre Néri Feitosa e o ingresso nas reuniões de aspirante de filho de Maria, o que me fez lembrar do comerciante Geraldo Matias, carinhosamente chamado de Maninho. Quantas lembranças boas afagam meu ego, mesmo sentindo muitas saudades de meus pais e de meus irmãos que já se foram!... Todas essas lembranças são do menino que saiu do lguatú em 1953, quando tinha 14 anos, e fixou residência em Fortaleza, de onde nunca mais saiu. Wagner Vitoriano

O Liceu do meu tempo Aquele Liceu, na Praça dos Bombeiros, deve ter sempre um lugar reservado com carinho e desvelo na história pessoal de cada um que por ali passou. Alunos, professores, funcionários, colabo135


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radores, todos que puderem dar a sua contribuição para garantir às futuras gerações a memória daquele importante estabelecimento de ensino, devem fazê-lo e é por isso que louvo a iniciativa daqueles que organizaram e publicaram o livro “O Liceu do meu Tempo”, compêndio que li e reli em sua primeira edição com enorme prazer. Por isso, resolvi dar a minha modesta contribuição para os relatos que serão inseridos no segundo livro. Ingressei nas fileiras do Liceu do Ceará no Primeiro Científico, turno da manhã. Para cursar a escola me submeti a um exame de admissão, quase um vestibular, como era de praxe àquela época. O Diretor de então era o Professor Boanerges Farias de Cisne Sabóia, pessoa muito boa, mas rígido ao extremo, chegando ao zelo de não permitir que os alunos usassem fardas desabotoadas, tanto na área interna, como na externa à escola. Primeiro dia de aula. Dois alunos veteranos me convocaram e anunciaram o trote, prática contumaz nos idos das décadas de cinqüenta e sessenta, e que graças a Deus não existe mais. Percebendo ser eu portador de necessidades especiais, disseram que iam me passar um trote leve, entregando-me na seqüência uma caixa de fósforos, mandando que eu com os palitos medisse toda a calçada no entorno do Liceu. Imediatamente e obedecendo a hierarquia, passei a colocar enfileirados um a um, os palitos sobre o meio-fio. Ao completarem- se dois metros, os veteranos desmanchavam, sob o argumento de que eu não estava fazendo da forma correta, e me mandavam recomeçar e assim por várias vezes repetiram a ordem. Com o passar do tempo, a tarefa ao invés de me cansar, acabou por exaurir a eles, até que me mandaram parar. Assim o fiz. Mas não havia se encerrado por ali. Perguntaram se eu dispunha de um pente fino, objeto que era hábito os adolescentes possuírem, de preferência da marca “Flamengo”, além de um espelhinho redondo, em cujo verso havia sempre uma foto de mulher seminua ou o escudo de seu time do coração. Assenti. 136


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Entreguei-lhes o pente, ao que eles me indagaram com que lado preferia me pentear. Como fazia parte do figurino da época ter os cabelos alinhados com “glostora” espécie de gel dos dias de hoje - informei preferir o lado mais fino. Num gesto brusco, quebraram o pente ao meio me entregando a parte mais grossa, justamente aquela que não tinha valia para mim. Não satisfeitos insistiram no trote e ordenaram que eu fizesse uma declaração de amor voltada para a parede, como se esta fosse minha namorada. Lembrando-me de uns versos que tinha feito para uma namorada por quem nutria um amor platônico disparei: Sonhei que era feliz, À sombra de teu olhar, Lembrei-me daquele dia, E daquele mesmo olhar, Tirei teu nome em acróstico, E hoje vivo a sonhar. Ao terminar os veteranos sentenciaram: você tem de fazer é uma declaração de amor com suas próprias palavras, de improviso, sem versos decorados. Obedeci mais uma vez dizendo palavras das quais nem mais me recordo, satisfazendo finalmente os alunos que me acuavam. Apesar de todo aquele sofrimento estava muito feliz por fazer parte daquele colégio e envergar, orgulhoso, a sua farda. Ano seguinte, 1959, comprometido com o trabalho, passei a estudar no turno da noite, onde concluí o Científico. Recordo-me desse período de alguns professores que, por um ou outro motivo, marcaram sua passagem por ali. Um deles foi o professor de Matemática, Adroaldo Castelo, também conhecido pelo apelido de Rui Barbosa, dada à semelhança fisionômica com o grande bra137


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sileiro. Era de pouca conversa, mas de imenso conhecimento da matéria e boa didática. Iniciava suas aulas sempre de uma só maneira, escrevendo com letra bem legível, ocupando toda a lousa, sem deixar um só espaço. Outro que está registrado em minhas lembranças é o professor Tupá, que lecionava Francês e cuja esposa, Amélia, tinha sido minha colega de ginásio. Ambos tornaram-se grandes amigos. Ainda guardo em minha memória alguns nomes de colegas de classe, como Célio Menezes, amigo querido, que depois se formou em Medicina e foi ser médico do IPEC. Rubens Alencar, muito estudioso e exemplar em Química, se tornou um bom parceiro me convidando várias vezes para estudar em sua casa, onde hoje funciona o Palácio Maçônico Moraes Correa, localizado na Praça da Bandeira; formou-se em Medicina, no Rio de Janeiro, e foi, posteriormente professor, da Faculdade de Medicina daquela cidade. Lúcio Alcântara, médico, voltou-se desde cedo para a Política, tendo sido senador e governador do Ceará; Tarcisio Sindoux, que se formou em Agronomia e que o vi pela última vez no Liceu por ocasião da posse do Secretariado do Governador Lúcio Alcântara. Estênio Esmeraldo, de saudosa memória, português perfeito, advogado, tendo se aposentado como auditor da SEFAZ, meu colega fazendário. Lembro-me também do contemporâneo do Liceu Cearense e meu colega na SEFAZ, Manuel Aguiar de Arruda; e ainda os conterrâneos Osmar Alves de MeIo e Jaime Alencar, grandes líderes que conheci. No Liceu do meu tempo havia muita disciplina, apesar das peraltices dos estudantes. O corpo docente era todo de professores competentes e bem remunerados. Aquele talvez fosse o único colégio gratuito em que os filhos de pais ricos queriam estudar. Refiro-me aos anos que vão de 1958 a 1961, quando lá estudei. Gostaria muito de um dia desses rever os colegas e professores com quem convivi principalmente os que concluíram comigo o Científico na turma de 61. Bons tempos aqueles dos quais guardo as melhores e mais felizes lembranças. 138


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Meu título agora é Senhor Já fui moço estudei muito Cheguei até ser doutor Hoje sou aposentado Meu título agora é senhor. Já guardei o meu anel Meu diploma engavetei Sou apenas Bacharel Porque na Faculdade estudei. Trabalhei muito na vida Muitas coisas conquistei Mas o melhor que tenho Nestes versos eu direi: Tenho uma mulher que me ama Dois netos que quero bem Uma filha que me encanta Com o humor que ela tem. Eu sou o filho da sorte A esperança que veio Um sonho realizado Graças a Deus eu sou eu.

Wagner Vitoriano Bezerra

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Pamonha & caviar Trovas, poesias e versos Tudo é invenção de poeta Quem não sabe fazer rima Não deve entrar na conversa. Falar e discursar em público É um dom que Deus nos dá, Mas precisa estudar muito E o verbo saber domar. Se não vai passar vergonha Na hora que for falar E em vez de rimar pamonha Vai trocar por caviar.

Wagner Vitoriano

Rezando o terço com fé Deus ouviu a minha prece Nossa senhora ajudou Rezando o terço com fé Minha enfermidade sarou Vou continuar rezando Pra agradecer ao Senhor Bendito seja louvado A quem o terço inventou.

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Viva a Virgem de Fátima Que o terço recomendou Com toda a nossa estima Vai também nosso louvor. Salve a boa Margarida Que este terço iniciou Muito obrigado às amigas Que no grupo me aceitou. Wagner Vitoriano

Na casa do trovador O aprendiz de trovador, em visita ao poeta Fernando Acâncio. Estava pegando brisa O poeta do amor De pijama e sem camisa, Fazia muito calor. Ele se chama Fernando, Seu amigo é o Heitor, Fui logo me apresentando: Sou o Wagner prosador. Respondeu ele contente: Seja bem vindo, senhor, O calor está ardente Na casa do Trovador. Wagner Vitoriano. 141


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Para registrar meu amor Valkiria menina nova Filha do sol e da chuva É Cearense e Gaúcha É bela como uma rosa. Tem avô e tem avó, Bisavó e Bisavô; Sua mãe é humorista, Seu pai compositor. Eu escrevi estes versos Para registrar meu amor. Não sou compositor humorista, Mas sou da humorista o autor. Vovô Wagner

Vai ser chamado João Vitor Quando a televisão filmou o nascimento do meu neto. Foi gerado e já foi visto Passou na televisão Vai ser chamado João Vitor E ser homem de visão. Quando crescer há de ser Um filho de estimação Pensando só em fazer O bem a toda nação. Vovô Wagner 142


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Falta pouco pra sangrar Passou a noite chovendo Ás águas correndo pro mar Meu açude está enchendo Falta pouco pra sangrar. O gado está no curral Os bodes estão pra chegar A lagoa quase na tampa Falta pouco pra sangrar. O Wagner está jogando O Renato vai chegar. O Aristóteles está ganhando Falta pouco pra sangrar. A Antártida está derretendo E o povo não quer ligar O mar está violento Falta pouco pra sangrar.

Wagner Vitoriano

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NÚBIA Maria de Barros GOMES – cadeira nº 14 Núbia Maria de Barros Gomes é natural de Baturité, no Ceará. É filha de Dionísio Moreira Gomes e Maria Edineuda de Barros Gomes. Escritora, autora de oito livros de auto-ajuda: Segredos da Paz (1997); Respirar, a mais bela arte (1998); Os Vencedores (1999); Cura Interior e a Paz (2000); Em paz, usufrua o sucesso (2001); Auto-estima e paz (2002); Feliz e Vencedor (2004); Como Vencer o Estresse (2006). É membro da AMLCE – cadeira nº. 14.

Bibliografia comentada: 1. Segredos da Paz. Um livro que nasceu num momento em que a autora percebeu Deus dando-lhe respostas. Antes, segundo Núbia Gomes, ela apenas monologava. Mas, um belo dia, sentiu que a sua mão foi movida para escrever a Resposta do Céu. A autora afirma que, para compreender as mensagens contidas nesse livro, o leitor precisa ser um iluminado. 2. Respirar, a mais bela arte. A autora teve um sonho no qual Deus lhe ordenou que escrevesse um livro com esse título. Sem saber a autora por onde começar, o próprio Deus lhe deu cada mensagem. A linguagem é doce, suave, é como a água que você toma na concha das mãos e sorve, calmamente, para a sua satisfação. 3. Os Vencedores. Um livro que traz fatos reais de vitória nas mais diversas áreas da vida. Os entrevistados foram curados de câncer, venceram problemas financeiros, problemas de angústia e depressão. A obra apresenta, também, exercícios preciosos para a libertação de traumas ocultos nas pessoas. 144


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4. Cura Interior e a Paz. Não há palavras para descrever a essência deste livro. Só mesmo saboreando cada frase, degustando o maná ali contido. Um livro completo para modificar a sua vida. 5. Em paz, usufrua o sucesso. Eleito pelos leitores masculinos como o “Manual do Vencedor”, traduz fórmulas de riqueza interior. O capítulo “O Poder dos Vencedores” escapou das mãos de um bandido, o que o torna ainda mais atraente. Também emociona as mulheres, ajuda a vencer o mal da solidão, o pânico e outras tribulações da vida. 6. Auto-estima e paz. Um livro que acaricia o ego, cura sentimentos doentios, retira mágoas e alimenta a alma com finas iguarias. Aconselhamento sábio que modifica padrões de pensamentos negativos. Apresenta também mensagens de consolo e esperança. Amplia o campo da auto-estima, deixando a pessoa muito mais feliz. 7. Feliz e Vencedor. Quem pensa em melhorar a sua qualidade de vida, sentir bem-estar, vencer a ansiedade, ser feliz em todos os sentidos, deve ter esse livro como um espelho. Para todas as ocasiões, há uma mensagem positiva. Para empresários ou para quem esteja planejando montar o seu próprio negócio, há dicas valiosas. 8. Como Vencer o Estresse. O livro que faltava em matéria de autoajuda. Não apenas traz um aconselhamento eficaz, mas transmite suas mensagens através de doces fábulas. O leitor vai voltar a sua infância e retornar como um adulto corajoso. Uma abordagem suave, prática e real a ser aplicada no cotidiano. Objetiva trabalhar o emocional, criando o hábito da felicidade.

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Francisco Alves de Andrade e Castro (patrono) Francisco Alves de Andrade e Castro nasceu em 21 de novembro de 1913, nos sertões de Mombaça, Estado do Ceará, no Sítio Recreio, de chão duro e de solos vermelhos. Seus pais foram José Alves de Castro e Raimunda Paes de Castro. Fez o curso primário em sua cidade juntamente com seu irmão, a quem tanto queria e admirava, Paes de Andrade. Saiu de sua terra para cursar o secundário no Seminário Diocesano de Fortaleza, onde, aos 20 anos, escreveu seu primeiro poema incluído pelo nosso poeta Artur Eduardo Benevides na sua Antologia de Poetas Bissextos do Ceará. Francisco Alves de Andrade e Castro diplomou-se na Escola de Agronomia do Ceará, sendo o orador de sua turma, teve como lema “Estudaremos o Nordeste”. E ele realmente se dedicou ao estudo dos problemas nordestinos, dos quais, depois de Tomás Pompeu Sobrinho e José Guimarães Duque, se tornaria a grande autoridade. Cientista e Humanista formou-se também em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Ceará. Afirmou-se nele a ampla visão humanista. Herdou dos seus avós, do clã dos Inhamuns, o amor à terra e, movido pelo desejo de amenizar a vida do homem do campo, foi um dos cearenses que mais escreveu sobre o Nordeste. Em 1942, casou-se com Dona Mundinha, como era chamada carinhosamente. Tiveram quatro filhos: Raimundo Régis – agrônomo e professor universitário, como foi seu pai; Tereza Cristina – a única filha do casal, formada em Letras e Pedagogia na Universidade Federal do Ceará; Pedro José e Paulo Alexandre, ambos médicos. Francisco Alves de Andrade e Castro exerceu vários cargos e funções públicas, dentre os quais se destacam os seguintes: Diretor da Produção Animal da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Ceará; Secretário da Agricultura do Ceará, em 1946; Delegado Federal do Ministério da Agricultura na década de 60; Chefe do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará; Repre146


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sentante do Governo do Ceará no CODENO e, depois, na SUDENE; Chefe da Zona do Departamento de Terras e Colonização, da Secretaria de Agricultura do Ceará; Professor Catedrático de Zootecnia Especializada da Escola de Agronomia da Universidade Federal do Ceará. Recebeu, ainda, os títulos de Professor Emérito, da Universidade Federal do Ceará e de Professor Honoris Causa, da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Foram-lhe concedidas a Medalha do Mérito Agronômico do Brasil (outorgada pela Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil) e a Medalha Justiniano de Serpa, do Estado do Ceará. Foi membro do Instituto do Ceará e da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Suas principais obras publicadas são: As Possibilidades de Desenvolvimento e Melhoria dos Recursos de Gado Bovino no Ceará (1942); A Escola Rural e a Pecuária (1946); O Pioneiro do Folclore no Nordeste do Brasil (1949); Estudo sobre Juvenal Galeno; Estudos de Zootecnia Regional (1949), Tomás Pompeu e seu Tempo (1954); A Pecuária e o Crédito no Polígono das Secas (1955); A Reforma Agrária no Polígono das Secas (1959); Cerâmica Utilitária de Cascavel (1959); Agronomia e Desenvolvimento do Nordeste (1960); O Presbítero e os Sertões (1976); Ildefonso Albano e outros Temas (1985); e Saga dos Sertões de Mombaça (1987). Seu livro Agronomia e Humanismo, uma de suas obras principais no campo da ciência, conquistou o Prêmio Clóvis Beviláqua, da Universidade Federal do Ceará. Também são muitos os estudos que fez estampar em periódicos, mas podemos destacar “Como nasceu a indústria da oiticica no Ceará”, na revista Nordeste Econômico e Financeiro de 1948; a “Saudação a Guimarães Duque”, na Revista do Instituto do Ceará de 1953, bem como o prefácio que escreveu para a edição de 1965 das “Lendas e Canções Populares” de Juvenal Galeno. Organizou o livro “Renato Braga - In Memoriam (1967)”. São de Francisco Alves de Andrade e Castro os versos: “In Aeternum”, feitos em homenagem ao seu mestre e amigo-irmão, Re147


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nato Braga, que certo dia a ele confessou: “- Chico Alves, quando eu morrer gostaria que plantassem uma árvore, sobre a terra onde estarei...”

Receitas para uma vida de qualidade O mundo precisa de paz. A paz precisa de um habitat, que é a sua mente. A mente só terá a paz se começar a dominar seus medos. O fenômeno tem semelhança com o mistério do som. Algumas músicas transmitem emoções intensas. Uma nota musical tem o poder de deixar alguém mais feliz ou triste. Pensamentos têm também o mesmo poder das notas musicais. Não sabemos como funciona o processo, mas se você analisar o poder do pensamento, perceberá tudo o que a mente é capaz de realizar. Quando alguém pinta uma tela, está imprimindo os seus pensamentos... Quando alguém escreve um livro, está transportando seus pensamentos para o mundo. Tenha pensamentos cheios de fé e vivenciará a PAZ. Há uma troca contínua de energias. As pessoas brilham em conjunto. Transportamos sensações através dos nossos pensamentos. É por isso que temos aquela sensação de vazio no meio da multidão. A razão está na preocupação doentia que a maioria carrega dentro de si. Como o pensamento é contagiante, você tem a sensação de inferioridade. Alguns deixam vir à tona o medo ou até o pânico, mas é preciso aprender a dominar esse tipo de angústia para se tornar uma pessoa mais feliz. Nessas poucas páginas, mostrarei pela inspiração divina que você pode ser independente do terror que assola o mundo. Após essa leitura, você será mais feliz. Siga esse conselho e aprenderá a produzir a PAZ. Envolva-se numa atmosfera de prazer em tudo o que fizer. Cada gesto seu, cada passo dado, cada movimento das suas mãos... Tudo o que você fizer deve ter um toque artístico. Isso mesmo! Tudo planejado para o prazer de realizar algo. Se vai tomar um banho no chuveiro, se vai ao mar, se tiver uma piscina ou 148


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apenas um tanque, sinta o quanto é agradável usufruir as águas. Desfrute da imensidão da vida. Relaxe SEMPRE... Transmita a paz no olhar... Transmita a paz no sorrir, Transmita a paz no silêncio... Relaxe como se você fosse um seixo junto da fonte. Não se agite mesmo que tenha inúmeros motivos. Mesmo que esses motivos sejam justos... Não é justiça você perder a sua calma. Alimente-se da luz da serenidade. Navegue sempre à procura do porto da paz. O líder da verdadeira vida comanda os próprios sentimentos. Não se deixa mortificar por acontecimentos desagradáveis. Não padeça por dores imaginárias. É do cântico da vida que se elabora a receita para a felicidade. Cremos que a esperança é algo canoro. Do fluir da fonte, que está próxima do seixo, você pode apreciar a paz cristalina. Em todos os lugares, no campo e na cidade, você pode sentir a bênção sem medidas. Não se apresse, não sofra. Não tema o caos... Tudo está previsto, mas o seu Pai Divino já tem lhe preparado para viver cada fase... Há ordem para o seu íntimo. O mundo tem pressa, a vida se agita, mas se você pensar que há um livro escrito com a sua história, cujo final é feliz, saberá que a serenidade é sinal dos sábios. Na ternura da alma, a paz se encontra... Portanto, abra o seu coração e seja tocado pela divina graça. Decida pelo perdão e sentirá a leveza de viver mais feliz. Prepare-se para a Paz! Paz, estado de conforto espiritual, anulação do medo, renovação da capacidade de sonhar... Quando você está em paz, todos os homens ficam em harmonia com você... Não importa se o mundo está em guerra, tribulação ou dor, a paz que vem do Pai celestial permanecerá inabalável. Onde buscaremos a paz? Nas coisas deste mundo? Em coisas materiais? Não! Nossos olhos não conseguirão enxergar essa tão sonhada paz. Eu afirmo que, se você esperar que os outros lhe dêem a paz, você nunca a terá. A única forma de obtê-la é plantando. A única maneira de usufruir os seus frutos é aceitá-la no seu terreno. Para isto, ele tem que ser preparado. Primeiro: busque a 149


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melhor semente, aquela sem falhas, para não correr o risco de ela não germinar. Cuide para que o seu terreno não seja o primeiro a rejeitá-la. Fique vigilante para que o mundo não roube a semente, pois, ao nosso redor, voam inimigos da semente. Paz é a riqueza essencial. Você deve adubá-la, irrigá-la... Protegê-la, até que ela tenha força própria para um crescimento independente. Porque, a princípio, ela é apenas uma frágil mudinha; mas, se tomarmos todos os cuidados, ela crescerá e dará os frutos que todos buscam como alimento. Quem comer desse alimento jamais terá fome. Nisso consistem as revelações verdadeiras conforme a Palavra de Deus. : “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede”. A verdadeira revelação é que o amor de Jesus Cristo, o filho do pai celeste, é a verdadeira semente que todos precisam plantar no coração, para ter a verdadeira paz.

Paz e magnetismo (influência positiva) O sucesso depende do carisma pessoal. O carisma é a manifestação do pensamento. Compreendendo o processo, você vai poder melhor usufruir os seus benefícios. Reconheça o poder interior (magnetismo) e exerça essa força para surpreender, positivamente, os seres que estão a sua volta. Não se apresse para receber o reconhecimento. Tudo virá naturalmente. O segredo de um ser magnético é a sua imperturbável serenidade. Pode o inimigo lhe arranhar com a sua fúria. Ele (o ser magnético) mostrará a outra face, a face amorosa, a face afetuosa, a face que perdoa. Fará aos outros uma coisa maravilhosa: o bem que ele deseja para si mesmo. Você quer ser magnético, quer brilhar na passarela da vida? Então comece a participar dos desfiles com bons sentimentos. Dia após dia, brilhando como o sol, deixe que a sua imagem seja um conforto para todos que o conhecem. O bem que você faz é um mistério que retorna mul150


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tiplicado. O amor que você dedica é correspondido também de forma misteriosa. Tudo o que fizer se tornará matéria-prima para sua edificação. O amor é a chave que abre os corações. É o sentimento primordial da vida. Quando Deus idealizou os sentimentos, deu-nos o que lhe era mais inerente: o seu próprio amor. O bem é manifestação do amor de Deus. 100% dos acontecimentos trágicos que você teme não se tornarão realidade se você deixar Deus no controle da situação. Medite, ore e modifique planos contrários a sua felicidade. Sinta a ordem mental. Tome nota de tudo o que você precisa para viver melhor. Os outros deixarão de lhe transmitir negativismo se você colocar seus pensamentos positivos em sintonia com a terra. Assim a sua vida será melhor, e todos os que desfrutarem da sua companhia serão mais felizes. Alimente, pois, sentimentos de poder e paz interior. Deixe de estresse! Não se preocupe com a matéria. Mas como vou viver sem comida, bebida, roupas? O Divino Mestre tem a resposta. Confie no Eterno Deus! “A vida é mais valiosa que o alimento, o corpo, mais importante que o mais belo terno”. Olhe para as aves livres a voar. O Criador as alimenta. Saiba que você vale mais que milhões de pássaros. Por mais ansioso que esteja, não poderá acrescentar nada. Nada! E pelo que há de vestir, por que se preocupar? Olhe os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam. Nem o Rei Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pense: se Deus assim veste a erva campestre que hoje existe e amanhã já seca, quanto mais a você, que é eterno. Deixe de pouca fé! Não se inquiete! O seu Pai celestial sabe que você precisa de tudo isso. Busque primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas as coisas serão satisfeitas! Não se inquiete pelo dia de amanhã; porque estas coisas lhe serão acrescentadas. O dia de amanhã estará sob controle. Tenha fé em Deus. Respire e Relaxe. (Do Evangelho de São Mateus 6:25-34 – Adaptado). 151


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Ar, uma receitinha contra o estresse Escolha o caminho perfeito para a respiração. Durante o trajeto, você recebe uma brisa suave e calmante. Seu corpo fica em estado de relaxamento absoluto. Os problemas se tornam pequeninos. As dificuldades já não parecem tão significativas. Esse é o caminho da respiração correta. Pense no elemento ar. Imagine que esse elemento é semelhante à água. Receba o ar (elemento precioso), coloque-o no filtro do seu nariz. Pense em algo maravilhoso. O ar é purificado. Agora deixe que ele “jorre” no organismo, limpando todas as substâncias venenosas do estresse. Sossegue os pensamentos. Eleve-se nos sentimentos. Medite e solte agora o precioso “jato” pela boca. Repita esse exercício quantas vezes forem necessárias para sentir a paz. Cada vez que os conflitos quiserem-lhe dominar a mente, volte a praticar a respiração profunda. Seja consciente do infinito prazer obtido ao respirar corretamente. Essa atividade, se praticada várias vezes ao dia, vai-lhe trazer um bem-estar tão grande que, mesmo nos momentos de dor, você vai se sentir melhor que os demais. Na proporção de mil vezes mais fortalecido que as pessoas que não sabem praticar esse ato, você será sempre vencedor em qualquer maratona que lhe apresentar a vida. Preste atenção ao inalar o oxigênio. Continue atento ao soltar o ar. Nesse precioso intervalo, ocorre o mais maravilhoso dos fenômenos: o prazer espiritual. Por isso, é importante que você respire pausadamente nos momentos de raiva, agitação e temor. Lembre-se de que a solução está próxima, a brisa sopra sem cessar. Numa linguagem popular, você tem apenas que abrir as janelas do seu nariz para receber a simpática brisa. Deixe que ela descanse nos estofados dos seus pulmões. Permita que ela se balance na cadeira do seu diafragma. Medite, pense harmonioso... E só abra a porta da sua boca quando ela for sair. É meio infantil a comparação, mas a transmito dessa maneira para que todos possam 152


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compreender. Falo com simplicidade para que todos tenham acesso ao conhecimento científico: respirar causa felicidade. Por que se denomina felicidade? Porque com a respiração você encontra o equilíbrio. Com equilíbrio, os problemas existem, mas a sua atitude diante deles será diferente. Quando sofremos alguma pressão interior, parece que ficamos, momentaneamente, cegos. A solução está ao nosso alcance e passamos rapidamente sem percebê-la. Assim acontece com o ar, é a solução para todos os nossos problemas de ansiedade, está próximo do nosso nariz e nós, insensatamente, deixamos de utilizá-lo. Preferimos ofegar com o cérebro confuso, pois quando não respiramos corretamente, quem sofre as deficiências é nosso cérebro. Qualquer problema de um minuto causará a impressão negativa de que vai durar uma vida. Todo pensamento perde o seu dinamismo próprio. As idéias mais brilhantes continuam no sótão da inconsciência. A arte de respirar não precisa de universidade. Mas você tem que ser autodidata... Não apenas estudando, mas respirando, respirando. Não perca nem um momento da sua vida sem praticar essa bela arte.

Não tema respirar em ambientes insalubres. Pelo contrário, se você respirar corretamente, vai filtrar o ar pelo nariz, receber ar purificado e depois vai liberar o ar velho pela boca. Dessa maneira, você estará se prevenindo contra as doenças. Respire quando estiver contente, respire quando estiver triste. Respire quando relaxado, respire quando ansioso. Analise também como fica o seu semblante quando está silencioso, veja se não está mordendo os lábios, trincando os dentes, franzindo a testa, fazendo gestos de impaciência etc. A mente feliz se manifesta na linguagem corporal. As pessoas passam a vida reclamando. Ai que calor, ai que dor de cabeça. Que mundo ruim... Ninguém diz: está percebendo que vento bom sopra agora? A minha cabeça está tão leve! Estou colaborando para a melhoria do mundo! Pelo contrário, há comentários incessantes sobre o trânsito, violência, políticos, doença... Dificilmente, encontramos alguém que diga: Que clima gostoso! Como Deus é bom! Estou sentindo uma paz!... Como estou feliz! 153


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Fale apenas de prazer. Prazer de existir, prazer de vivenciar a essência de cada momento. Acostume seu cérebro a praticar a gratidão. Tudo o que você desfrutar deve ser acompanhado de um sentimento aprazível e uma exclamação: QUE BANHO MARAVILHOSO! QUE ALIMENTO DELICIOSO! QUE BRISA AGRADÁVEL! QUE PRAZER ESTE ENCONTRO! QUE DIA LINDO! QUE NOITE ESPECIAL! Enfim, deve bendizer ao Criador pela vida encantadora que tem. Somos críticos do planeta e nos esquecemos de glorificar a Deus pela felicidade. Quando Jesus nasceu, os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Os anjos têm razão. Deus sempre será glorificado, incondicionalmente, mas os homens só terão a paz se a quiserem. Só os que têm real vontade de viver a paz é que a desfrutarão. A missão dos pacificadores é difícil, direi até impossível. São muitos os que preferem vivenciar a vida em eterno conflito. Há muitos que dão a vida para a fofoca. Perdem o tempo só falando da vida dos outros. Têm prazer em mencionar sobre alguma tragédia de alguém conhecido. São vírus invejosos que contagiam quem lhes der atenção. Não devemos parar para ouvi-los. Tudo o que temos a fazer é nos afastarmos desses fabricantes de infelicidade. Quando algum deles interceptar a sua paz, procure respirar profundamente, retirando-se em seguida.

Paz No deserto, sedento, sem alento, mantenha a paz como oásis. Num pântano de lágrimas, em pranto, deixe em paz o seu coração. No trânsito estressante, no sol escaldante, seja o cavalheiro ou a dama galante, mantenha a calma da sua alma... E o equilíbrio da emoção. No trabalho, os nervos em frangalho, respire para renovação. 154


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Mesmo cercado de perigo por todos os lados, fique tranqüilo, você está protegido pelo Pai divino. O Senhor é seu Pastor, carneirinho inquieto. Ele quer vê-lo descansando num pasto verdinho. Ele está sempre por perto. Leva você para fontes muito límpidas. Cuida da sua vida. Mesmo que você ande pelo vale dos assaltantes, Ele não está distante, está sempre pronto para defender você. Dele depende o seu viver. Ele o seguirá, portanto, seja feliz, tenha uma vida feliz, diga: O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ!

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LUCINEUDO MACHADO IRINEU – cadeira nº. 15 Atuando como professor de Língua Portuguesa e Literatura de diversas escolas e cursos pré-vestibulares da capital cearense, Lucineudo Machado Irineu nasceu em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, em 16 de junho de 1986. Graduando em Letras (Licenciatura Plena com habilitação em Língua Espanhola) pela Universidade Federal do Ceará, leciona as disciplinas de Língua Portuguesa e Produção Textual nas instituições onde trabalha. Lecionou, ainda, Língua Espanhola na Casa de Cultura Hispânica – UFC, em 2008. Atualmente dedica-se à pesquisa lingüístico-literária referente a sua tese de mestrado. Como universitário, participou de diversos congressos, palestras e oficinas, além de cursos, mini-cursos e seminários, como ouvinte e como ministrante. Tendo iniciado sua carreira docente aos 17 anos logo quando ingressou no Curso de Letras, em março de 2004 passou a publicar suas produções como analista literário ainda no mesmo ano, quando lançou, em parceria com um companheiro de academia, ensaios literários acerca da vida e obra de dois escritores cearenses: Moreira e Natércia Campos. Em 2006, com registro na Biblioteca Nacional, publica a obra Vivências de Leitura: um olhar analítico sobre as obras indicadas para o vestibular da UFC, que em 2008 chega a sua 4ª edição. Em 2006, através do Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará, foi convidado pelo Professor Ms. Vicente Júnior para promover o ciclo de palestras do projeto Literatura em Pauta, onde pôde produzir reflexões sobre a importância do ensino de Literatura Cearense e da inserção de autores regionais na lista de obras indicadas para vestibulares em geral como forma de divulgação da cultura local. O projeto segue até os dias correntes. 156


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Atual professor do Curso de Letras a Distância da UFC, é membro da cadeira Nº. 15 da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará, tendo a escritora Natércia Campos como patrona.

Natércia Campos (patronesse) Lucineudo Machado Natércia Campos nasceu na Praia de Iracema, em Fortaleza, a 30 de setembro de 1938. Estreou na literatura em jornal, no suplemento literário do O Povo. Recebeu seu primeiro prêmio no concurso literário do Banco Sudameris com o conto A Escada, em 1987. Seu segundo prêmio veio no ano seguinte, 1988, quando foi agraciada na categoria conto, na 4ª Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, com o livro Iluminuras. Premiada pela terceira vez em 1998, na categoria romance, o título agora foi para A Casa, ganhador do prêmio Osmundo Pontes de Literatura. Sua quarta premiação foi no ano de 1999, na categoria crônica, com Vôos, vencedor do prêmio Ideal Clube de Literatura. Filha do professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Ceará, o contista Moreira Campos, e Maria José Alcides Campos, a escritora foi funcionária da Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará. Dentre suas obras, destacamse, além das já mencionadas: O Jardim (conto, 1990); Penitentes (conto, 1996); Eles (conto, s/d); Por terra de Camões e Cervantes (viagens, 1998) e Caminho das Águas (viagens, 2001). Filha de um dos maiores contistas do Brasil, e sem dúvida o maior do Ceará, Natércia sempre manteve um intenso contato com a biblioteca do pai, fato que futuramente seria fundamental para a compreensão de tão grande cultura. A autora tornou-se uma mulher de muitos prêmios, apesar de escrever, na maioria das vezes, para deleite pessoal. A característica modesta de escrever deu a ela, de uma maneira indireta, o seu primeiro prêmio literário a nível nacional: seu primeiro conto, A Escada, foi inscrito 157


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no concurso literário do Banco Sudameris por seu filho, que leu o texto e, considerando sua extrema qualidade, dirigiu-o para ser outorgado pela Academia Botucatuense de Letras. A leva de premiações dos escritos proféticos de Natércia Campos só havia começado. Em 1988 é a vez de Iluminuras, um livro de contos premiado na 4ª Bienal Nestlé de Literatura. No mesmo ano, o também escritor cearense Artur Eduardo Benevides ganha o mesmo prêmio que Natércia, mas dessa vez na categoria romance. Esse fato foi um dos primeiros passos para uma longa amizade vivida entre os dois. Duas das significativas premiações seriam insuficientes para celebrar o talento da escritora em contar estórias. Em 1998, na categoria romance, o premiado agora é A Casa, primeiro colocado no prêmio Osmundo Pontes de Literatura. Em 1999, na categoria crônica, Natércia ganha o prêmio Ideal Clube de Literatura, com Vôos.

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Crítica literária cearense A Casa, de portas abertas Lucineudo Machado O romance A Casa (1999) foi um lançamento de fortuna crítica não só pelo glamour, mas também pela boa hora em que chegara. Ao longo de sua trajetória, o romance se tornou um forte atrativo para amantes e não-amantes da literatura brasileira de todas as idades, sejam eles jovens leitores ou consagrados críticos literários. A presente obra, na realidade, compõe-se de um livro de pequenos contos, verdadeiras estórias de trancoso do sertão nordestino, que, ligados por um fio temático, dão ao livro uma tipologia de romance. Segundo o professor Paulo de Tarso, em O Discurso do Imaginário, tal habilidade da autora consiste em um processo de costura, denominado por ele de recurso de Sherasade, em referência à contadora de estórias das mil e uma noites. A casa, já na sua construção, passa por um processo de sacralização: ela se torna algo sagrado que representa proteção, é uma parte da natureza, e o que é mais interessante é a sua antropomorfização – a casa ganha vida como se fosse um ser humano. A personagem-protagonista, através de sua extrema relação com a natureza, reconhece a chegada da Morte através dos ventos, pois fora dela o espaço é o natural e o dos personagens, uma vez que dentro dela o que se revelam são os mistérios e os segredos lá contidos. Baseando-se em um discurso destramatizado e sem tensões diegéticas, a narradora se torna onisciente, mas, apesar de tal onisciência, e como grande contadora de histórias que é, a casa não julga, ela somente relata, quase que imparcialmente. O enredo conta a história de várias gerações que por aquela casa passaram. Mitos, estranhezas e histórias de trancoso compõem a vida dos personagens, que têm uma importância igual dentro da narrativa, pois a única protagonista existente no ro159


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mance é a própria casa. Um dos pontos fortes do romance é que, à medida que a narradora fala dos personagens, ela fala também de si mesma, revivendo e misturando folclore, realismo fantástico e aspectos sobrenaturais a uma bem medida dose de ficção. Um dos traços importantes na obra é o regionalismo, herança de inúmeras leituras feitas pela autora sobre Luís da Câmara Cascudo. O caráter regionalista nos revela o sertão nordestino castigado pela seca, mas com características universais. Algumas características do Neo-Realismo saltam aos olhos do leitor. No romance, por exemplo, a verdade não é absoluta, cabe ao receptor do texto fazer suas interpretações, além da freqüente descontinuidade temporal (o nexo temporal é o que menos importa no enredo do romance). Em A Casa, a linguagem molda-se numa intensa amenização dos dramas vividos pelos personagens, que entram e saem da narrativa com o tempo, pois só a casa se eterniza. A morte é um tema recorrente em Natércia, assim como em seu pai, Moreira Campos, nos contos do livro Dizem que os cães vêem coisas. O vento anunciador da morte e as sensações da casa, como a descrição do terremoto, dão a ela uma postura impressionista ao esboçar o discurso que parece ser descartável, uma marca da literatura pós-moderna. O enredo de A Casa torna-se contagiante e encantador simplesmente porque a autora soube expor como ninguém as nossas crenças, nossos valores sociais e religiosos e nossa cultura, afinal, submersa nas águas de um açude, a casa renascerá, como se do mundo marinho fizesse parte, dando uma eterna continuidade à narrativa metafísica, mágica e sobrenatural da contadora de histórias e imortal Natércia Campos, que assim sempre será enquanto em seus leitores existir o que ela entendia como sendo a mágica dualidade entre o Cristal das Águas e a Chama das Fogueiras.

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Moças, flores... Fortalezas: a visão de um cronista-poeta em Moça com Flor na Boca

Lucineudo Machado

O livro Moça com flor na boca, do cronista cearense Airton Monte, publicado em 2004 pela FUNCET, foi reeditado em 2005 pelas Edições UFC com 62 crônicas que versam sobre a dura realidade de Fortaleza cruamente estampada nas entrelinhas do texto. Apesar da efemeridade que é típica da crônica, os textos de Airton Monte são questionadores, indutores de reflexões por parte do leitor. As crônicas da obra recriam a realidade sem que seja tomada do leitor a posição de analista e participante efetivo desta realidade. São valores instigantes em uma linguagem descontraída, humorística, irônica e sarcástica até que são colocados em xeque nos textos. Introspectivas, líricas e reflexivas, muitas são as crônicas que mesclam um teor humano a uma boa e bem medida dose de humor, elemento forte em suas produções. Muitas são as possibilidades de leitura de mundo através da ótica do cronista. É ele um poeta do cotidiano. Apesar do teor ficcional presente nas produções literárias, não há nos textos de Airton Monte a ausência de realidade. Muito pelo contrário, é exatamente neste ponto que reside uma das maiores habilidades do escritor: interpreta erros e acertos, achados e perdas, dores e alegrias do homem em seu dia-a-dia. Pelo caráter híbrido da crônica, muitas são as vezes em que se quebram as barreiras entre o narrador e o próprio autor, havendo, então, uma incursão de fatos e lembranças e uma recorrência a vivências passadas do autor. O leitor atento perceberá claramente a recorrência de assuntos e o modo como o autor justifica tal repetição junto a seu público. É interessante destacar também que uma leitura mais aprofundada da obra gera no leitor uma sensação de educação, de idéias, repetição de temas e as inovações lingüísticas utilizadas pelo autor, como a inserção de cartas e de piadas na crônica. Sob a visão subjetiva do poeta, é plausível afirmar que grande parte das crônicas de Airton Monte são líricas, reflexivas até, 161


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marcando o extravasamento dos sentimentos do autor ante a realidade que lhe serve de inspiração. O cotidiano, nesse aspecto, é fruto da visão particular do autor, que mostra os fatos do dia-a-dia sobre um contexto emotivo, o que o desprende do simples teor jornalístico, atribuindo às suas crônicas um subjetivismo na medida certa que logo engrandece o gosto do leitor. A predominância do eu nas crônicas é pulsante, mas o autor é habilidoso ao exteriorizar essa noção lingüística. No livro, produtivo é o foco narrativo que o autor tão bem soube manipular, esteja ele na 1º ou na 3º pessoas. Diversos tipos de crônicas estão presentes na obra: a crônica piada, a crônica narrativa, a crônica metalingüística, além da crônica-poema. Além dos tradicionais tipos apontados, o autor inova inserindo a crônica fantástica, prova da habilidade narrativa e composicional de Airton Monte. Apesar de suas particularidades, é da fonte do lirismo que bebem todas as crônicas de Moça com Flor na Boca. É interessante perceber que através deste aspecto lírico o autor se coloca em um intenso questionamento do mundo e até mesmo de sua existência. Aqui o que se destaca é o modo como o cronista vê e interpreta o mundo, partindo de si mesmo para a ficção. É, antes de tudo, o registro de seus desejos e anseios seguido da retratação da vida cotidiana. Primordialmente, interessa ao escritor ser subjetivo como ser humano indagador, inquieto e que tem consciência do vazio que lhe toma por vez, mas que logo irá passar. Melancólico, dolorido e eivado de tristeza, o autor sobrepõe o humor que diverte o leitor, revelando sua habilidade com a escrita, tema de muitas de suas crônicas. Muitas outras são as temáticas abordadas no livro, como a mulher, esta que é figura constantemente exaltada pelo poeta, além do sexo e da sua cidade natal, Fortaleza, ambiente de muitas de suas crônicas. Também várias são as relações de intertextualidade com deuses das mitologias grega e romana e com escritores brasileiros, como Vinícius de Morais, por exemplo. 162


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Numa perspectiva formal é interessante analisar como o autor recorre constantemente ao discurso indireto livre, quando a voz do narrador se mistura à dos personagens, ou solilóquio, em termos técnicos. Em uma linguagem despojada e totalmente desapegada à gramática, o autor transcreve da fala para a escrita tons coloquiais da língua. As letras, por exemplo, muitas vezes são escritas por extenso, como agá e ipsilone. É importante mostrar que o autor muitas vezes recorre a um léxico rebuscado. Temas outros estão ali: o mar é figura constante nas crônicas de Airton Monte, assim como as tristes tardes de domingo. Muitos são os sentimentos personificados nas crônicas, como o Longe, por exemplo. Em nível temporal, alguns textos trazem uma cronologia bem marcada, mas isso não é regra, muitos também são os textos com o tempo narrativo interno ou psicológico. Caracterizado pelo uso constante de frases nominais, Airton Monte, pelo seu modo lírico de narrar, intitula-se poeta. Surpreendendo o leitor e desfazendo trechos tensos que se formam no decorrer do texto, muitas são as passagens em que o autor apresenta um coloquialismo misturado à linguagem popular. É uma mistura de assunto sério e objetivamente tratado com ironia, humor e sarcasmo. É de grande importância destacar a existência de frases cruéis e naturalistas quando o autor trata da morte, do silêncio que corrói o espírito; são passagens agonizantes e frenéticas presentes no livro. No pensamento de seus personagens não há tabus, inibição ou eufemismos de atos dos quais a ficção, por ventura, não pudesse tratar. Preciso em suas narrativas, o cronista estampa cruelmente o que se passa no psíquico e o tópico poético dos personagens. Airton Monte é, sem dúvida, o poeta do contraste, da aproximação e do afastamento, da alegria e da tristeza, do peso e do contrapeso, e é exatamente nesse aspecto que reside a diferença entre o tradicional e o inovador. As crônicas do autor, além de boas de serem lidas, parecem criar uma imagem em nosso inconsciente. Em todas as direções, é para uma literatura de pólos opos163


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tos e de contraste que segue a produção do cronista. É isto que revela não só o autor poeta, mas o analista que mexe com o leitor, pois assim ele exibe ao lado uma visão dupla do mundo: a poética e a naturalista; a primeira, pela linguagem, e a segunda, pelo foco na sociedade mostrada de maneira nua e cruel. Grande conhecedor da arte de manipular a palavra, atentese para o fato de Airton Monte ter selecionado para a obra em análise duas crônicas, Moça com flor na boca e Os olhos das crianças de Bagdá, que abrem e encerram a obra respectivamente e que possuem um tom extremamente reflexivo, com uma acentuada preocupação social. Por isso, além do prazer de leitura, as crônicas de Moça com flor na boca eternizam, a cada página, a escrita de Airton Monte, dando-lhe lugar reservado no gosto de seu ávido público leitor.

Quem tem medo de fantasma? A contística de Pedro Salgueiro em Dos Valores do Inimigo Com O Peso do Morto, O Espantalho e Brincar com Armas, o autor de Dos Valores do Inimigo teve fortuna crítica festejada desde muito cedo. E é este último livro que revela o sucesso atual do escritor. Dividido em três partes: Acontecimentos, Dos Valores do Inimigo e Soluço Antigo, a obra apresenta-se em uma coletânea de quarenta e seis contos no total. Apesar de estarem divididos em blocos temáticos, percebe-se claramente que só em Soluço Antigo é que há uma temática única: a velhice. Com contos realistas e fantásticos, Acontecimentos e Dos Valores do Inimigo representam na obra sinônimo de mescla estilística. No primeiro bloco de contos, o predomínio é de temas misteriosos, sobrenaturais e fantásticos. Mas há ocorrência destes temas também em alguns contos de Dos Valores do Inimigo. Mas efetivamente o que predomina na primeira parte da obra é o drama, a tensão, temas abordados na ótica da fragilidade, da morte. É interessante destacar o modo como Pe164


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dro Salgueiro conduz esses elementos até o final de sua narrativa de modo a prender o leitor. Realista antes de tudo, o autor é sintético, certeiro na escolha do vocabulário e na precisão sugestiva. Conciso como deve ser um contista, Pedro Salgueiro sabe com perícia manipular o núcleo dramático da narrativa. Mas ele também é dramático e psicológico ao criar seus personagens. Com finais não menos dramáticos, seus contos têm em geral uma característica básica: a tensão com a qual eles são narrados, deixando muitas vezes, de maneira sugestiva, um final em aberto, restando ao leitor completá-lo. Habilidoso em criar narrativas de suspense, Pedro Salgueiro segura e conduz o leitor até o final do texto, onde o que o leitor encontra não é o final tradicional. Essa é a técnica de composição de Dos Valores do Inimigo. Numa perspectiva temática, os contos versam sobre o fabulário nordestino, a psicologia do sertanejo e as histórias e costumes do imaginário dessa gente. Muitos são os contos em seu livro que versam sobre a honra e a vingança, numa constante tentativa de entender o psicológico daqueles personagens. Sob intensa atmosfera de tensão, é o drama humano que está presente nas entrelinhas dos contos. Mas não só no sertão nordestino centram-se os contos de Pedro Salgueiro. A vida moderna, absurda e caótica, também é mostrada em toda sua incoerência e incompreensão. Em contos com essa característica, esconde-se do leitor a causa das ações que ocorrem ali, é um jogo de atitudes marcantes nas produções do autor. É, assim, uma maneira que o autor encontra de fazer com que o leitor reflita sobre os atos dos personagens. É incrível o modo como Salgueiro sugere fatos no enredo para que o leitor busque entender as minúcias do conto para compreendê-lo na totalidade. Como técnica de composição, muitas vezes o leitor percebe que a narrativa de alguns contos de Dos Valores do Inimigo são pura habilidade comunicativa. Este, talvez, seja o grande mérito diferencial da obra. Assim, chega-se à conclusão da diversidade estilística adotada pelo autor em sua obra, numa mescla de sugestão e fantasia. 165


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Estruturalmente, são contos narrados alguns com o narrador-personagem e outros com o narrador observador. O ambiente é o próprio mistério. No que toca o enredo, vêem-se na obra histórias mistas, como no primeiro conto, Vislumbre, onde o desfecho é um complô, uma brincadeira que envolve todos os moradores da cidade em torno da carta perfumada. Em A Fotografia, por exemplo, temos um conto vazio de sentido, vazio este marcado pelas reticências. Tudo é mistério ali, e o narrador empenha sua vida para entender tudo que estava acontecendo na viagem da prima Laura com o noivo. É o mistério presente em muitos contos do livro. Assim como Aleine, o conto mencionado acima é fruto de um final incerto, onde o autor parece esconder tudo que estaria para ser revelado. Em Invasão, é uma sensação de caos que invade o personagem que transforma o conhecido no desconhecido e vice-versa. Em Brincar com Armas, a temática é o sobrenatural influenciando agonicamente a vida dos homens na Terra. Competente e habilidoso em suas narrativas, no conto que dá título ao livro, Pedro Salgueiro mistura humor e tensão de modo peculiar. Nos contos que versam sobre a velhice, é a descrição que predomina. São histórias simbólicas, mas que não caem na mesmice narrativa. São, assim, contos independentemente bem narrados. Numa mesma análise do livro em perspectivas formais e ainda temáticas, é imprescindível evidenciar a presença da narrativa frenética e compulsiva, muitas vezes marcada por significativos saltos temáticos. Pedro Salgueiro não fecha as questões e proposições expostas em seu texto, grande exemplo disso é a recorrência da pontuação “!?”, insinuando uma pergunta-resposta (ou o contrário). Muitos são os temas e textos que parecem se repetir durante todo o livro. É interessante observar como os personagens desviam os olhares cara a cara com as pessoas, como em uma condição subumana. Os ambientes obscuros estão presentes em cenas onde os 166


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personagens escondem-se por entre os benjamins. São fantasmas vivos, assim como os vivos fantasmas que aparecem e desaparecem na narrativa (perceba a insinuante repetição de personagens que desembarcam de um trem em uma cidade quase que fantasma). A linguagem e a própria narração são por vezes chocantes. A morte e o misticismo são motivos suficientes para cenas fortes que são narradas de maneira caótica e inverossímil. Às vezes, a estética do estranhamento se faz presente também no narrador, que, muitas vezes, é uma figura feminina, como em Pânico. De tudo aqui observado, só resta uma constatação: a narrativa habilidosa que Pedro Salgueiro produz um marco fantástico no mundo das letras cearenses. Escritor seguro e competente que chega ao gosto do público com criatividade e enleio, impôs-se com seus contos como presença honrosa em nossas gloriosas letras locais e nacionais.

Reforma Ortográfica (da Língua Portuguesa?) O Brasil já está mesmo preparado para enfrentar tão grande reforma em sua língua vernácula? Lucineudo Machado Se algum assunto que jamais se pensasse ser relevante tem chamado a atenção dos intelectuais de nosso país, sem dúvida nenhuma este assunto é a reforma ortográfica pela qual nossa amada língua portuguesa deverá passar nos próximos dias. O assunto intriga, instiga e assusta alunos e professores de todo o país. Atualmente, o português é falado em oito países. Além do Brasil, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor Leste e Portugal adotam o idioma brasileiro como língua vernácula, língua essa que, por sinal, tem duas grafias oficiais, o que acaba dificultando seu estabelecimento como um dos idiomas oficiais da ONU (Organização das Nações Unidas). Daí 167


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a necessidade de padronizá-la. A ortografia-padrão tem como objetivo facilitar o intercâmbio cultural e político entre essas nações. Segundo órgãos oficiais da educação, como o MEC, por exemplo, com as normas unificadas, o Brasil sairia do que se convencionou chamar “isolamento lingüístico”, já que todos os países que fazem parte da CPLP (Comunidade de Países da Língua Portuguesa) seguem o português falado em Portugal. Tal questão obriga que livros redigidos no português do Brasil tenham de ser traduzidos para a língua vernácula local quando chegam a esses países. Em um consenso amplo, a verdade é que mudanças em geral costumam ser dolorosas e, como tal, devem ser feitas paulatinamente. Mas parece que não é desta filosofia pedagógica que desfrutam os idealizadores da reforma (não da língua portuguesa, a meu ver, pois o título é abrangente e novidadeiro, mas de uma parte dela, para ser mais preciso da escrita formal – a ortografia - e da acentuação, em menor escala). A questão é que, assustados e acuados diante de tal medida, a intelectualidade brasileira, e a sociedade civil como um todo, passa a se questionar sobre a real necessidade desta “uniformização lingüística”, em busca talvez de maior “prestígio político”. O prazo já foi sugerido: ano de 2009 ao que tudo indica, com alguns anos de tolerância, talvez 5 ou 6, para que professores e editoras possam se preparar para servir de norte precursor para guiar tais mudanças, da maneira o mais responsável possível. Mas os falantes brasileiros devem se manter calmos. As novas regras da língua portuguesa, quando acontecerem, serão aplicadas apenas na ortografia. As pronúncias típicas de cada país permanecem iguais, respeitando, assim, as variedades fonológicas regionais. Nessa perspectiva, os falantes se questionam: e afinal, o que muda? Dentre as principais modificações, há de se destacar o fim do trema, presente hoje em palavras como “lingüística”; as novas regras para o emprego (ou o não emprego do hífen); além das novas regras de acentuação, dentre elas algumas que propõem a 168


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mudança no processo de acentuação de palavras com o registro de ditongos abertos, como “idéia” e “assembléia”, que perdem o acento agudo, e de palavras grafadas com vogais dobradas, como “vôo”, por exemplo, que deixam de levar acento circunflexo. Mesmo diante das inúmeras informações veiculadas pela imprensa, todos devem se perguntar sobre como esta reforma está sendo feita. A bem da verdade, muito pouco das características peculiares do português brasileiro manter-se-á nessa reforma, diante das aberturas ideológicas do Brasil ante o protecionismo lingüístico de Portugal, e ainda não falamos do polêmico acréscimo, em nosso alfabeto, das letras “k”, “w” e “y”, decisão que abre ainda mais as “portas do paraíso” para a “invasão lingüística” norte-americana, com a enxurrada de expressões como “kilogram”, “delivery” e “wood”, que já nos sufoca desde muito (e só para citar algumas). Mas há ainda a maior de todas as perguntas a se fazer: como ficará o ensino daqui para frente? E a capacitação dos professores já habilitados a trabalhar com a língua em seu estágio atual? E as gramáticas e dicionários? Responsabilidade social é o mínimo que se pode esperar dos idealizadores desta iniciativa que, se bem conduzida, deverá ser nobre e histórica. Pensando em tudo que foi discutido é que se conclui: na pior das hipóteses, pelo menos estamos prestes a mudar algo, uma tentativa válida de acrescentar novos ares ao nosso idioma. Mas há de haver parcimônia e responsabilidade ao se pensar no assunto, afinal estamos tratando de nossa língua, a maior identidade nacional e herança cultural que um cidadão de bem pode ter.

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Noite, quase noite para Pedro Salgueiro Para mim, as coisas sobrenaturais sempre foram um tormento. Desde criança, tenho um problema muito grande de crer que os espíritos dos homens não se vão deste mundo depois da morte. E assim, ao que tudo indica, ocorreu com o senhor Gomes Fernandes, homem muito zangado, que morreu depois de quase cinqüenta anos que viveu naquela velha fazenda. Todas as noites, eu e meus amigos de rua íamos jogar futebol desde as cinco da tarde até as nove da noite. Para nossas mães, aquilo era um inferno, pois quase sempre tinham que nos buscar na rua, uma vez que não víamos o passar do tempo. Elas sempre nos aconselhavam que mantivéssemos distância da porta da casa do senhor Fernandes, que não gostava nada de crianças. Mas, inocentes, sempre estávamos ali, e ele tratava logo de nos expulsar quando a bola ia até a porta da casa velha da esquina. Ele nos jogava pestes, até o amanhecer, este cinza e triste. Acredito que com essas pestes veio uma grande maldição, pois algo havia saído da ordem natural de sempre. Certo dia, algo me surpreendera naquela pacata rua onde vi passar toda a minha vida. Para mim, tudo era muito estranho. Não entendia tão grande movimento na casa do senhor Fernandes. Pessoas chorando, velas acesas por toda a casa, e ele a dormir, profundamente. Depois, ao fim do dia, todos se foram e levaram aquele homem que a mim sempre me pareceu tão perigoso. Já noite, as pessoas regressaram. Vinham do lugar que, na época, os adultos chamavam de cemitério. Eu e meus amigos estávamos, como sempre, na rua a jogar, até que um de nós, Marcelo, nos propôs que mudássemos de brincadeira e fôssemos nos esconder, e assim o fizemos. Mas algo muito ruim estava prestes a acontecer. Me sentia tenso, tinha em meu coração a sensação de que alguém mais estava conosco naquela velha fazenda do senhor Fernandes. Logo, 170


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um dos meninos disse que havia visto um vulto entre as árvores. Uma menina saiu correndo com muito medo, e eu, sozinho, via as folhas das árvores balançando. Senti calafrios por todo o corpo, sentia que alguém estava ali, ao meu lado. Não havia visto nada nem ninguém, mas meu coração me dizia que o senhor Fernandes estava ali. Até hoje tenho a mesma impressão daquele dia. Sempre que vou caminhar na rua à tarde, na quase noite, sei que ali está alguém a mais. E às seis da noite, o Céu e a Terra se tornam um só, e os espíritos voltam a esta dimensão. Lucineudo Machado

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Mário Caúla Bandeira – Cadeira nº 16 Mário Caúla Bandeira nasceu no dia nove de maio de mil novecentos e trinta e sete, em Fortaleza. Quarto Filho de Jacob Bandeira dos Santos e Ednir Caúla Bandeira, que se casaram em Pedra Branca antes de mudarem para Fortaleza. Aos vinte e dois anos Mário casou-se com Rita Guerreiro de Sousa e tiveram seis filhos: Ângelus, Urânia, Andréa, Jacob, Vitória e Isaac. Sempre ligado a livros, considera-se autodidata. Idealista pela causa da Doutrina Espírita e da Maçonaria, é atuante defensor do homem pela busca da verdade, ideal que aprendeu participando ativamente dessas duas Instituições. Para ambas escreveu incontáveis artigos e participou de palestras infindas. No Movimento Espírita foi presidente do Centro Espírita Grão de Mostarda e na Maçonaria exerceu com Sabedoria e Prudência e por duas ocasiões o elevado cargo de Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará. Na área profissional enveredou pelo desenho gráfico, profissão que desempenha há cinqüenta anos. Na Academia Municipalista de Letras do Ceará ocupa a cadeira número 16, cuja patronesse é a acadêmica da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, Inês Kaúla Machado, sua irmã.

Patronesse: Inês Caúla Participante da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno de seu caráter meigo e doce, segundo descrição da escritora Viviane Fernandes, assumindo a cadeira n° 56 da Casa de Juvenal Galeno, cuja ocupante anterior era Inês Kaúla. Na introdução, assim se expressa: 172


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Por meio deste despretensioso trabalho, desejo registrar, em breves linhas, um pouco da iluminada passagem, neste mundo, de uma das mais expressivas literatas do meio alencarino: a doce, tema e eterna INÊS CAÚLA SANTOS MACHADO, beletrista que primeiro ocupou a Cadeira de n° 56 da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, sendo sua patrona a jornalista e escritora manauara Myrian Coeli. É sabido que o Elogio “de Patrona, requisito essencial ao status de Sócia Acadêmica na aludida sociedade feminina, caracteriza-se pelo relato sucinto da vida social e, principalmente, à lavra artístico-literária da homenageada, tenha sido ela a padroeira ou a ocupante anterior da Cadeira pretendida. Contudo, no caso Inês, reduzir a poucas linhas a sua biografia chega a ser quase frustrante, quase como contar uma história de forma incompleta, ocultando os trechos mais interessantes e apaixonantes do enredo. Assim o afirmo porque Inês Caúla foi todo um universo de virtudes e, sobretudo, de sensibilidade, e dizer que o universo é formado apenas por planetas, é privar o ouvinte do conhecimento de que, no cosmos, há sem número de sóis e infinitude de estrelas. Confesso não ter sido uma tarefa das mais fáceis falar a respeito de Inês sob a espreita de limites físico-temporais, tantas foram as informações obtidas junto a seus familiares e amigos, tantas as suas qualidades, tantas as histórias sobre Inês... Mesmo assim, a síntese fez-se necessária. Por oportuno, trago a lume o pensamento da literata cearense Cândida Galeno, ex-diretora da Casa de Juvenal Galeno, a respeito da poesia, registrado quando da apresentação do livro “Trovadores do Ceará”, publicado pela Editora Henriqueta Galeno: “A poesia, emanação de Deus, vive em contato com o infinito. No seu impulso cósmico, é transporte, devaneio, idílio e prece. É pequena como o átomo, mas possui o mesmo poder dinâmico 173


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para mover o mundo. Daí sua forma invencível, porque vai onde chegam a inteligência e o sentimento, com todas as vibrações do gênero criador:” . Como perceberemos, a poesia, essa “emanação de Deus”, encontrou em Inês Caúla um de seus maiores expoentes, uma de suas maiores representantes no plano terrestre. Espero que neste trabalho simples tecido com o mais elevado respeito e carinho à memória da homenageada, possamos adentrar untos, o universo que se fez Inês - um todo no qual se constitui verdadeiro sacrilégio o apartar de sóis, luas, estrelas e planetas, entes interdependentes, simbióticos, inseparáveis ... Aqui vai um pouco da sensibilidade de Inês homenageando o marido Anfilóquio Machado, no

“Tu e Eu” Tu, não estás só na vida! Eu sozinha não estou. Somos dois seres num só, unidos num só amor! É tua vida por mim vivida! A minha vida é teu viver. Sinto que sou, por ti querida e teu amor é meu querer! São nossos filhos confirmação do nosso amor, exaltação da vida às vidas! que nos deu por vida! Amor... amor... esta união que a vida faz entre nós dois: - uma só alma, um só coração. Inês, um universo artístico 174


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E continua Viviane Fernandes: “Inês Caula foi uma artista em potencial. De tudo ela fez, em tudo ela viu poesia. Além de dedicar-se à arte literária como cronista, contista, articulista e poetisa, Inês entregou-se também ao artesanato e às artes plásticas confeccionando peças de tapeçaria, artigos decorativos de materiais exóticos e realizando pinturas em tela, em vidro e em cerâmica. Enveredou, outrossim, na arte culinária, deliciando a todos que provaram de seus memoráveis quitutes. Mostrando sua humildade – Inês afirma em Ousadia:

OUSADIA

Não tem rima Não tem forma O que me vem à cabeça O que me dita o coração Para levar ao papel Faço uso da palavra Que escrevo com emoção Eu me perco no silêncio Me encontro na ousadia Em dizer que isto aqui Vou chamar de poesia...

Não foi difícil o apaixonar-se por Inês durante a realização deste humilde trabalho. Pensar que quase nos conhecemos... tão breve o lapso temporal entre sua derradeira participação na reunião mensal na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno e minha chegada a esta gloriosa sociedade. Poucos meses... Mas a união frustrada em vida, realizou-se após seu desenlace. E quanto mais lia, mais via, mais ouvia mais me deslumbrava, mais lamentava o tardio reencontro. 175


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Compondo este manuscrito, foi-me possível descobrir que Inês foi um ser dotado de grande beleza interior, a qual se refletia através de seu porte atraente, de seus gestos delicados, de seus escritos e palavras, da atenção dispensada a todos, revelando seu misticismo congênito e sua humanidade vertente. Inês foi, indubitavelmente, uma mulher detentora de elevados dons artísticos, literários e humanitários. Todo o seu trabalho, toda a sua vida consistiu num constante meditar sobre o querer divino, num crescente doar¬-se a seus semelhantes. Vigilante, ela atendeu, incontinenti, o chamado de Deus. Mas o esplendor de seu viver foi tão imenso, que ela permanece em seus escritos, o seu brilho continua reluzindo em suas obras, e seu coração ainda pulsa no peito de seus entes amados. Honra-me, demasiado, sucedê-Ia, mesmo sabendo que não possuo atributos bastantes para tanto. Espero, contudo, que as lições oriundas da busca de conhecê-Ia forneçam-me supedâneo para merecer, pelo menos, ser bem vinda às sessões da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno na qualidade de sua nova admiradora. Viviane Fernandes - 14.03.99

Não é fácil ser Cristão Mário Caúla Não é fácil ser cristão, vez que a Doutrina de Jesus não é uma proposta para fins de semana, nem um piquenique religioso, quando vestimos a túnica nupcial de ver Deus, ou simples momento de declaração efusiva de nossa crença. É muito mais transcendente e de difícil vivência do que se pensa. Difícil mas não impossível. Propôe mas não impõe. 176


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Não é aconchegante colchão de repouso para nossos dias de devaneios espirituais ou de infortúnios; Não é rótulo de exteriorização visual de nossa fé. Dizer-se cristão é fácil; difícil é vivenciar os ensinamentos que o cristianismo nos ensina. Fácil é seguir Jesus; Difícil é caminhar com Ele. “Vai, vende o que tens, dá aos pobres e segue-me”, disse Jesus ao moço rico. Como é difícil para nós ainda presos excessivamente aos bens materiais, onde não somos os proprietários desses bens, mas meros mordomos. Sim, não é fácil vivenciar o Cristianismo. O homem velho que ainda habita em nós que são as paixões, o ódio, o orgulho, etc. não nos deixa crescermos na direção da luz da sabedoria. Não é apenas matar ou roubar que é contra a lei; Jesus diz que quem chamar o outro de “raca”, será réu em juízo. Raca é um termo pejorativo que significa entre os hebreus, “homem de pouco valor” e se dizia virando o rosto e cuspindo. Portanto nem precisa usar de agressão física pois a simples expressão de desprezo pelo semelhante já era admoestado por Jesus. “Perdoa não só sete vezes, mas setenta vezes sete. Perdôo mas não esqueço, dizemos nós. Porque não conseguimos nos desvincular ainda do orgulho e dos melindres. E olhe que quem perdoa é o primeiro que se beneficia, porque gera paz interior; “Se alguém te pedir para andar um quilômetro, anda dois”. Solidariedade. Disponibilidade de servir, ser útil, ajudar a velhinha atravessar a rua; dar bom dia ao pedinte, cumprimentar o lixeiro, acompanhar a dor de alguém...mas estamos tão envolvidos nos nossos próprios problemas que nos falta tempo de andar com o outro.

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O Evangelho que Jesus nos legou, é lei universal, funcionando para todo o Universo e não apenas para um povo escolhido e de uma determinada região. É o maior código de moral e o antídoto mais eficiente para os nossos limites e imperfeições, porque constrói o homem novo, fazendo nos libertarmos do homem velho. Alguns, não tendo religião, taxam os religiosos de “bregas”, “quadrados”, pois acham que envolver-se com o “religare” é coisa ultrapassada, bom mesmo é o epicurismo que ensina o máximo de prazer e o mínimo de dor. Todavia, por desconhecerem o Evangelho não percebem que os ultrapassados são eles, pois todo religioso sincero possui mais anti-corpos, gozam de mais saúde e produzem mais beta endorfina, que lhe dá paz e felicidade. “Quadrado” é quem odeia, porque tem um inferno dentro de si; Conhecendo o Evangelho, “ora pelo inimigo” “Brega” é quem não perdoa porque alimenta o ódio no coração. Quem conhece o Evangelho se desvincula do agressor, rompendo os vínculos da animosidade. “Desatualizado” é quem ainda não aprendeu que “na casa do meu Pai há muitas moradas” e que o universo é infinito e em expansão, e fica brigando por um metro de terra numa disputa latifundiária... É, realmente não é fácil vivenciar esses ensinamentos, porque incomoda ao nosso egocentrismo, não permitindo nos libertarmos das amarras do vício, das vulgaridades, da beligerância, do egoísmo e tantos outros defeitos que ainda possuímos. Porque o processo evolutivo é lento e a natureza não dá saltos. Cada ser humano absorve os ensinamentos de acordo com o estágio de sensibilidade e percepção em que se encontra. É como dizer “onde está o teu tesouro, aí está teu coração”. Daí a proposta do “não julgueis” porque desconhecemos a realidade do outro o que nos leva a compreender que o homem é um ser em processo, não está pronto, está a caminho. Errando e caindo, tropeçando e se levantando, mas sempre 178


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para a frente em busca da luz da verdade. Como disse Jesus, “conhecerás a verdade e ela vos tomará livre”, livre de que? De nossas próprias limitações, ignorâncias e erros. Mas um dia absorveremos e vivenciaremos na prática, todos os ditos do Rabino da Galiléia, retomando quantas vezes forem necessárias pelo processo da reencarnação, para repetirmos as lições e desenvolvermos a capacidade de amar e perdoar, servir e vivenciar o Evangelho. É, não é fácil, mas não é impossível.

E por falar em Espiritualidade Mário Caúla E por falar em espiritualidade... é que parabenizamos a iniciativa do jornal O Povo de, em boa hora, abrir espaço para que diversas denominações religiosas expressem suas idéias. Vivemos um momento em que a sociedade, além dos materialistas, cobram dos chamados religiosos que falam de moral, espiritualidade, amor ao próximo etc. o exemplo da vivência daquilo que pregam e falam nos seus templos. Com a prática do ecumenismo exercita-se a oportunidade de estarmos juntos, discordando até do ponto de vista do outro, mas o fazendo com a tolerância cristã e elegância verbal, defendendo o direito que o outro tem de acreditar na modalidade religiosa que melhor lhe preencher os anseios interiores. Assim, participo ativamente dessa idéia onde aprendi a respeitar os pontos de vistas alheios, discordando sem ferir ou fazer inimizade com os que pensam diferente de mim. Mas há quem não goste de conviver com as diferenças por achar que a sua verdade é a única, trancando-se em si mesmo, deixando assim de usufruir dos conhecimentos dos outros e se informando de que se constitui a crença, a filosofia ou o modo de pensar 179


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de seus semelhantes. Ecumenismo, que quer dizer universal, é uma proposta de vivenciarmos uma macrovisão do mundo do pensamento e das idéias, para ampliarmos nossos conhecimentos e vivenciarmos os ensinos da crença que professamos. Alguns supõem que é fusão de práticas religiosas em que o Evangélico aceitaria a reencarnação, o Católico a comunicabilidade com os desencarnados e os Espíritas fossem se confessar e aceitar a Eucaristia. Não pode. Seremos sempre um mundo qual tabuleiro de xadrez onde cada um é a pedra que é, no limite do seu universo interior, tendo que respeitar esse espaço de quem discorda, mantendo seu ponto de vista, sua crença e convivendo numa globalização de respeito e sentimentos afetivos para com o próximo. Aí estaremos vivenciando a espiritualidade no sentido do amadurecimento espiritual, isto é o homem que percebeu o espírito do Cristianismo, vivenciará a espiritualidade como estado transcendente de comportamento. Francisco de Assis notabilizou-se pela capacidade de amar. Teresa de Calcutá era a espiritualidade pelo devotamento à dor alheia. Irmã Dulce, a espiritualidade da caridade. Luther King vivenciava a espiritualidade na defesa dos direitos humanos. Chico Xavier, uma vida de espiritualidade no serviço ao próximo... E quantos espiritualizados que não se notabilizaram na fama, e que trabalham no anonimato, subindo favelas ou visitando as vielas escuras das dores humanas; os que devotam sua espiritualidade na descoberta de vacinas e remédios na intimidade dos laboratórios ou empresários que discretos, promovem o bem-estar social; os artistas de todos os matizes que difundem a estesia além de líderes religiosos que exemplificam o amor e o perdão, a caridade e os ensinamentos no comportamento ético. O discípulo de Jesus é concitado à espiritualidade - “honra teu pai e tua mãe”. 180


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O candidato a cristão aprende a espiritualidade através da cidadania - “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” Os que se envolvem com as idéias de Jesus são convidados a exercitarem a espiritualidade vivenciando o “Orai pelos vossos inimigos”. Quem pretende vivenciar os ditos da Boa Nova adquire espiritualidade incorporando em seu comportamento a transcendência do perdão... Enfim, espiritualidade é estado d’alma, é o céu dentro de si, o amor aos divergentes, a compreensão dos limites humanos, a tolerância para com as infrações alheias sem conivência mas com caridade, amor, esquecendo e perdoando incondicionalmente.

E por falar em espiritualidade... Mário Caúla Templo de Luz Na linha reta Do eixo central Da tua espinha dorsal Rumo à luz concreta Direta e discreta Do subjetivo ao real, Entre colunas me acho. E em esquadria, Na inibição normal Natural do Aprendiz, Frente ao mundo Estrelífero, brilhante Ofuscante, repousante E feliz que tu és, Absorto quedo, E não sabendo 181


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Escrever nem ler Minha saudação faço E envolto Num clima cósmico, Universal, magnético, Sob o olhar dos meus irmãos A me auscultarem Do corpo a esquadria E dos atos a retidão Proclamo que aqui vim Novos progressos fazer Submetendo a vontade E as velhas paixões vencer. Templo de pedra Pedras de luz, Tua argamassa É o suor Suor do amor Vertido com lágrimas Misturado com dor. De entre colunas Tua intimidade contemplo, És universo de luz, paz E de claridades. No Norte, Vislumbro a Força De Aprendizes polindo, suando Aprendendo e construindo Na horizontal, Enquanto no Sul a Beleza Do intelecto porfia Por maior harmonia No mundo mental. 182


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Estendo a visão No rumo do alto e vejo A luz da Sabedoria A espraiar-se no Oriente Da percepção espiritual. Oh! Templo Sagrado Onde nos reunimos Para aprender A amar e servir Lutar e vencer, Vencer a nós mesmos Suprimindo atrofias Dos dons imortais Ou quebrando grilhões Que nos chumbam ao solo Das imperfeições De pedra imatura, granítica Vibrátil Mas contendo no íntimo Precioso rubi, Que é o que somos Como seres pensantes, Amantes, atuantes, Na prática do bem E ao bem destinados. Eu te saúdo Meu Templo/Oficina Que só nos ensina A evoluir. No Norte, no Sul Ou no Oriente Nos impeles sempre, pra frente No rumo da Luz. 183


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José Bonfim de Almeida Júnior (JÚNIOR BONFIM) – cadeira no. 18 Memorial Vim a este mundo dois anos após o último golpe militar brasileiro, mais precisamente no vigésimo dia do mês mais alegre e florido que existe, o saudável mês de maio. Cresci na localidade denominada Mondubim, no mágico sertão de Crateús. Aos seis anos, vivi minha experiência memorável: vestido numa roupa branca como farinha, recebi minha primeira comunhão e recitei uma poesia. Mais do que decorar rezas e versos, havia descoberto a irresistível luz que arrasta o homem para o território transcendental. Ainda hoje, os pilares da poesia e da religião são os principais sustentáculos do meu edifício pessoal. Oito anos mais tarde, em 1980, iniciava uma experiência vocacional na Diocese de Crateús. Sob as bênçãos do profético bispo Dom Fragoso, um grupo de cinco jovens reunia-se debaixo do mesmo teto para inaugurar um novo paradigma de formação religiosa – seminaristas no meio do povo –, numa resposta ao velho estilo de Seminário convencional. Com apenas 14 anos de idade, eu era de longe o mais novo do grupo. A nossa Diocese, com sua postura de vanguarda no âmbito da Teologia da Libertação, proporcionoume uma arrojada aventura de alteração conceitual. Navegando no oceano de Movimento Popular, entre as ondas tempestuosas das Associações de Bairros, Comunidades de Base e Sindicatos dos Trabalhadores, encontrei a bússola de compreensão do mundo: o abismo que separa as classes sociais, as engrenagens que distinguem os diversos modos de produção, o instrumental da injustiça, a sociedade piramidal. 184


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Seis anos de convivência na arena da igreja foram suficientes para eu descobrir que, apesar de serem sinônimas, Padre e Pai no dicionário católico tinham se tornado palavras antônimas. Tive que fazer a opção: resolvi ser Pai. O ímpeto adolescente de ser sacerdote estava superado, pois já tinha saboreado as primeiras frutas maduras da árvore dos vinte anos. (Aliás, por falar em paternidade, abro este parêntese para sublinhar que, após alguns pares de anos de casamento com Francisca Maria, pai de Marília, Marguerrite e Hermano, sou daqueles que acreditam na família como lócus afetivo primeiro, ambiente privilegiado de integração e espaço fundamental para o processo de formação humana). Perdi o vínculo com o campo eclesial, mas não perdi o amor à seara social: o ofício de plantar a Justiça é permanente. Com o coração resoluto, lancei-me à militância político-partidária. Ao mesmo tempo em que exerci um mandato de vereador, cursei a Faculdade de Pedagogia, através da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Nesse período, deixei de lado os alfarrábios sectários, aprofundei minhas concepções ideológicas e, como lecionou o filósofo, aprendi que “a virtude está no meio”. Hoje, empunho a bandeira da social-democracia com convicção. Creio na construção de uma terceira via, alternativa tanto ao desenho excludente do capitalismo selvagem quanto ao modelo centralizador do socialismo estatal. Teço estas considerações porque sustento que nosso marco referencial teórico-educacional está na razão direta de idéia que fazemos do todo social. Sob este farol, assumi mandato em parlamento mirim, ocupei funções e prestei assessoramentos no município de Crateús por dezesseis anos. Sucede que, a par da militância sóciopolítica, jamais descurei de folhear os velhos e novos alfarrábios, objetos de fascínio, meios de transporte para o vale da profundidade. Em 2000, juntei uns versos cheios de fulgor e outros temperados pela experiência e publiquei um livro chamado “Poesias Adolescentes e Maduras”. Em 2001, concluí o curso de Direito pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. 185


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A entrada na AMLECE, em 2007, reacendeu em meu peito o ardor pela escrita. Hoje tenho, em lapidação final, um conjunto de crônicas sobre a urbe em que nasci Crateús, agrupado sob o nome de “Amores e Clamores da Cidade”. Além disso, assino uma coluna no Jornal Gazeta do Centro-Oeste e outra na Revista Gente de Ação.

Discurso de posse Júnior Bonfim Cativado pela deferência com que fui convidado para integrar esta comunidade literária, não poderia deixar de pronunciar algumas sílabas de afeto e gratidão. Aliás, permitam-me que fale apenas daquele que pretendo reivindicar como patrono da cadeira 18, que me foi reservada. Tornou-se lugar comum, entre os militantes das letras, a afirmação de que quanto mais nos aprofundamos no local, mais nos tornamos universal. Fernando Pessoa foi um expoente dessa tese quando cantou que o rio mais belo do mundo era o que corria pela sua aldeia. Sucede que o patrono da minha cadeira foi além dessa assertiva. Nascido no pé da Serra da Matriz, nas Ipueiras, soube dialeticamente combinar, de forma magistral e em linguagem incomparável, o arcabouço telúrico do ‘local’ e o manancial germinador do ‘universal’. Como ele próprio afirmou, cantou “as gitiranas das Ipueiras em Jerusalém, em Belém, no Pará, e em Belém de Judá, no lago de Tiberíades, no Mar Morto, na feira de Cafarnaum e na Cripta de Nazaré, onde o arcanjo Gabriel anunciou à Virgem o nascimento de Jesus”. Eleito pela guida órfica européia como O Poeta do Século XX, Mourão foi um deus grego da literatura que veio ao mundo pela costela oeste do Ceará. No jardim da infância, deixou a terra natal e foi conquistar o globo. Após uma temporada de estudos nas montanhas mineiras, sob a reverência aos Profetas do Aleijadinho, Melo Mourão partiu para a Cidade Maravilhosa e, dali, com ferro, madeira 186


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e ternura, entalhou uma das mais auspiciosas esculturas biográficas contemporâneas. Polemista incorrigível, foi perseguido durante a Ditadura do Estado Novo como “integralista”. Na Ditadura Militar, sofreu igual persecutório por ser considerado “comunista”. Em verdade, era um caboclo nordestino profundamente livre. É por isso que eu, um desafinado versejador da beira do rio Poty, tomo assento entre vós com a humildade do poeta: “Nada esperem de mim. Vim aqui apenas para cantar. E para que cantem comigo!”.

Uma mulher chamada Teresa Júnior Bonfim Muitos são os que afirmam que “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Outros, no afã de externar generosidade, fizeram um reparo e asseveraram que é “ao lado do homem que encontramos a grande mulher”. Perdoem-me, mas penso diferente. Mulheres há que, sem fixação, indiferença ou rejeição ao companheiro, constroem marca própria! Nunca desfraldei bandeiras feministas, mas sempre admirei as mulheres talentosas que, conservando a ímpar doçura maternal, exibem a fortaleza das descendentes de Eva. O útero da História é pródigo em exemplos: Cleópatra - uma das mulheres mais festejadas da história da humanidade – além de deslumbrante, era inteligente e culta, e sua notória esperteza manteve as fronteiras do seu reino; Joana D’Arc, jovem camponesa que vestiu a farda militar e foi protagonista de uma guerra que restabeleceu a dignidade francesa, além de ser queimada pela mesma Igreja que, séculos depois, reconheceu sua santidade; a catarinense Anita Garibaldi, combatente da Revolução Farroupilha, mulher muito à frente de seu tempo... A lista é, pois, numerosa... Antes de rabiscar estas linhas, que me foram sugeridas a próposito do Dia Internacional da Mulher, pensei em homenage187


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ar uma mulher de forma singular. Imaginei, primeiramente, que poderia ser aquela que me gerou, cujo convívio me foi subtraído prematuramente. Depois, pensei que poderia ser a minha esposa, a quem prefiro chamar de consorte, porque compartilha comigo o sonho, a sesta, a saudade, o silêncio, a sonoridade, a soledade, os surtos, os sustos... enfim, a sorte de viver. Mas há uma que, pela colossal história de vida, galgou um tipo tão superior de destaque que merece um registro todo especial. Antes do mais, foi considerada pelo então Secretário Geral das Nações Unidas, Pérez de Cuéllar, como “a mulher mais poderosa do mundo”. Sem ter gerado um único filho, transformou-se, pela esplendorosa fé e pelo oceânico amor, na mãe mais fecunda do planeta. Sobre ela, a diretora de uma revista feminina escreveu um chamativo artigo intitulado “Uma mulher que nunca passará de moda”. De início, afirmava: “Não é Cindy Crawford nem Cláudia Schiffer. Provavelmente, nunca entrou numa boutique, mas é uma das mulheres que marcam o passo à Humanidade e que deixarão um rasto indelével no século que termina. É muito possível que a preocupação pelo seu look não passe da água e do sabão, mas o seu olhar irradia uma força especial”. A passarela por onde desfilou e exibiu seu glamour e sua beleza extraordinária foi o espaço onde reluzia a dor e a miséria mais comovente, nos corredores desprezados dos aidéticos, nos esgotos onde se escondiam os vitimados pela lepra. Ruanda e Angola, Ulster e Biafra, a Etiópia e a Somália, o Harlem e o Bronx, o Tondo de Manila e o Líbano estão entre os palcos de sua vida. Diuturnamente, comendo de maneira frugal e dormindo apenas três horas diárias, em solene e incansável vigília de amor, operou sua missão sob o pálio do ‘ora et labora’. Nascida em 26 de agosto de 1910, em Skoplje, um lugar entre a Albânia e a antiga Iugoslávia, atual República da Macedônia, construiu um verdadeiro império de amor e caridade. Hoje, são mais de 450 centros de assistência em mais de cem nações de todo o 188


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mundo, inclusive no Brasil, e quase cinco mil religiosas e duzentos missionários, espalhados em albergues para adolescentes grávidas, cozinhas gratuitas para famintos e refúgios para pessoas sem lar. No dia 5 de setembro de 1997, o coração dessa mulher iluminada parou de palpitar. Seu nome: Inês (Agnes) Gonscha Bojaxhiu, eternizada como Madre Teresa de Calcutá, a missionária do século XX. Sua mensagem, estrela flamejante em defesa da vida, continua contundente: “O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundo os cientistas e pesquisadores, para todos; existe riqueza mais que de sobra para todos. Só é questão de reparti-la bem, sem egoísmo. O aborto pode ser combatido mediante a adoção. Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas. Ninguém tem o direito de matar um ser humano que vai nascer: nem o pai, nem a mãe, nem o Estado, nem o médico. Ninguém. Nunca, jamais, em nenhum caso. Se todo o dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito felizes. Um país que permite o aborto é um país muito pobre, porque tem medo de uma criança, e o medo é sempre uma grande pobreza”. Mulheres desse naipe nos instigam a celebrar, com o incenso da profundidade, o Dia da Mulher!

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No dia dos namorados Menina, eu quero te namorar: Na mora do amor te amar! Como quem está exilado do tempo, Como quem escuta uma sombra perdida, Como quem hipnotiza os ponteiros do relógio... Quero na mora do amor te amar! Menina, eu quero te namorar: Ir com a boca à Roma do amor te olhar! Como um pássaro que não conhece limites, Como um viajante que a tudo percorre Sem nunca sair do lugar... E com a boca ir à Roma do amor te olhar! Menina, eu quero te namorar! Com o mar de o amor te abraçar! Como quem ausculta o infinito, Como quem abarca com todos os braços O inumerável corpo da simplicidade... Pois com o mar do amor quero te abraçar! Menina, eu quero te namorar: Com a romã do amor te beijar! Como quem faz do encontro dos lábios Uma indizível pesquisa fluvial... Com a romã do amor vou te beijar! Menina, eu quero te namorar: O maior ramo de amor te ofertar! Como quem leva oferendas de luz ao altar, Como quem abre as linhas da mão E indica o mapa ardente da ternura’ Para o maior ramo de flor te ofertar! 190

Júnior Bonfim


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Menina, eu quero te namorar: Na mora do amor te amar, Ir com a boca à Roma do amor te olhar, Com o mar do amor te abraçar, Com a romã de amor teus lábios beijar, O maior ramo de amor te ofertar. Ora, menina, eu namoro te amar! Ou, melhor, eu amo te namorar!

Soneto para o centenário de Neruda Primeiro uma garrafa de vinho chileno. Depois, um litro de cachaça do Ceará. Apenas isto, e todo o pó do idílio terreno, Para o centenário de Neruda celebrar.

Júnior Bonfim

Poeta de todos os sonhos, viajor genial, Voaste do amor fugaz, da desesperada canção, Para a ardente paz da luta. A trincheira social Da Espanha em guerra mudou teu coração. Que fio azul une o meu mágico e quente sertão À tua vinhateira, delgada e fria região austral? “O silencioso mistério, a solenidade essencial, A clareza de horizonte, a inexplicável resistência, A sublime condição, a humilde imponência...” Um brinde, pois, ao mais portentoso cantor geral!

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Soneto do amor completo Vejo brotar de tua alma a fonte da harmonia; De teus olhos, uma torrente de firmeza cristalina; Do teu corpo formoso, uma insondável mina; De tuas veias azuis, o rio caudaloso da poesia. Contigo apreendi os valores essenciais: A bondade saindo pela janela da retidão, O esforço precedendo à delícia do pão E o sonho fecundando a cultura de paz. Contigo confirmei que vale a pena ser decente, Primor de mulher, discreta luz, rosa coerente. De ti recebi o alimento perene à lúcida alegria. Ah! Hoje eu posso afirmar solenemente: Melhor do que cantar uma mulher a cada dia É conquistar a mesma mulher diariamente!

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Júnior Bonfim


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JOSÉ MUNIZ BRANDÃO – cadeira nº 19 Nasci em 6 de março de 1940, no Município de Itarema-CE. que significa Pedra Cheirosa em tupi-guarani; onde os primeiros habitantes foram os “Índios Tremembés”, ainda existentes, em menor quantidade. Com o passar dos tempos, as famílias de outros Estados, e de Portugal – a maioria – foram chegando e povoando a região, tanto que as nossas famílias Muniz e Brandão, não fugindo à regra, também têm origens lusitanas. Cursei o ensino fundamental em diversas escolas de minha cidade natal, e o ensino médio no querido Liceu do Ceará (tendo concluído em 1966). Fui funcionário público federal (E R S/10ª R M), de 1961 a 1972; e representante de Vendas e Propaganda Médica (Propagandista de Laboratórios), de 1973 a 2006, ano em que me aposentei. Maçon, Venerável Mestre da ARLS Acácia Alencarina Nº 50 (1991-92); Grande Inspetor Geral da Ordem REAA – Grau 33; Filiado Livre da ARLS Cavalheiros Spartanos Nº 85. Membro da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará AMLECE, Cadeira Nº 19, tendo como patrono o escritor Joaryvar Macedo.

Joaryvar Macedo, o Escritor (patrono) No dia 20 de maio de 1937 nascia no Sítio Calabouço, município de Lavras da Mangabeira, Joaquim Lobo de Macedo mais conhecido como JOARYVAR MACEDO, filho de Antonio Lobo de Macedo e Maria Torquato de Macedo. Após o falecimento do pai, veio para o Crato, iniciou o Curso 193


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de Letras na então Faculdade de Filosofia, concluindo-o em l968, sendo o orador da turma. Já formado, dedicou-se ao magistério, lecionando em Juazeiro e Crato, ora no Ginásio Municipal e Colégio Estadual, ora no Colégio Salesiano e na própria Faculdade de Filosofia. Fez parte do ICC, Instituto Cultural do Crato, ocupando a cadeira cujo patrono é o Dr. Otacílio Sampaio de Macedo. Em 22 de setembro de l974, fundou o ICVC, Instituto Cultural do Vale do Cariri na cidade de Juazeiro do Norte, sendo o seu primeiro presidente. Joaryvar Macedo, na sua ascendência cultural tomou conhecimento de uma vaga na Academia Cearense de Letras, cadeira nº 4, patrono Antonio Bezerra, ultimamente ocupada por Milton Dias. Concorreu e foi eleito. E na noite de 19 de agosto de 1983, por ocasião de seu ingresso, foi saudado, em nome da Academia Cearense de Letras, pelo acadêmico Mozart Soriano Aderaldo, no Auditório Presidente Castelo Branco, na Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Na conclusão do discurso, disse Aderaldo: “Ingressai em nosso meio de cabeça erguida e coração aberto. Sentai-vos na cadeira nº 4 com a tranqüilidade de quem a merece. A casa é vossa. Sede feliz”. Por sua vez Joaryvar, visivelmente emocionado, terminou o seu agradecimento falando assim: “Senhor Presidente, Senhores Acadêmicos: Eu estou feliz – supremamente feliz. Mas, acima disso, asseguro-vos, sinto-me responsável, e não deslumbrado. À prova de vossa confiança depositada em minha modesta pessoa procurarei corresponder, na medida das minhas forças, engajando-me, decisivamente, nas grandiosas tarefas que a Academia tem a desempenhar. Ocioso seria expressar minha profunda gratidão à generosidade das palavras de Mozart Soriano Aderaldo, que me abriu as portas desta Augusta Casa, com as chaves do coração, que se desabrochou num depoimento de amizade e ternura. A vós todos que aqui viestes, sou imensamente grato pelo fulgor que a vossa presença proporcionou à solenidade desta noite; para mim, a mais importante, a mais maravilhosa e a mais bela de todas as noites”. Joaryvar Macedo tem um currículo extraordinário e dentre 194


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as suas obras destacamos, entre outras: Os Augustos (1971); Um Bravo Caririense (1974); Templos, Engenhos, Fazendas, Sítios e Lugares (1975); A Estirpe da Santa Teresa (com l.200 páginas.1976); Influência de Portugal na Formação Étnica e Social do Cariri (l978); Origens de Juazeiro do Norte (l978); O Talento Poético de Alencar e Outros Estudos (l984); Antonio Lôbo de Macedo. O Homem e o Poeta (l988); Império do Bacamarte (l990). Sua obra é grande, multiforme e bela, como bela foi a sua vida, toda ela dedicada ao cultivo das letras, à verdade histórica, ao nobre exercício do magistério, à sublime missão de educador. Foi Secretário de Cultura e Desporto no Governo Gonzaga Mota. Em l99l, estava com 54 anos e seriamente doente, doença que ele ocultava e que terminou ceifando-lhe a vida. Ao seu lado, em todos os momentos, sempre esteve a sua esposa, senhora Rosalba Saraiva Macedo. (Fonte: P. A. Sobreira, In: MACÊDO, joryvar, a Estirpe da Santa Teresa, Imprensa Universitária da UFC1976.)

História das academias A palavra ACADEMIA significa escola, lugar onde se ensinam ciências e artes, etc. Segundo renomados escritores cearenses, próximo de Atenas, Grécia, amigos do saber da escola de Platão reuniam-se no jardim Academus, procurando desvendar os segredos do desconhecido. Esse gesto foi repetido por outros grupos, e noutros lugares, ao longo do tempo. Dessas pesquisas, desses estudos, dessas discussões, nasceu uma cultura que aos poucos foi se avolumando, a ponto de criar novo comportamento, outra maneira de pensar, diferente forma de agir. No seio das Academias, em todos os tempos e lugares, reúne-se a força do pensamento humano. Esse pensamento não morre. Vem daí a expressão imortalidade para os seus componentes. 195


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Não a imortalidade física, mas a da mente, geradora de prodígios na área do conhecimento. Em 1570, em Paris, conheceu-se a Academia do Palácio, protegida pelo rei Carlos IX. Em Roma, o papa Gregório XIII, em 1577, fundou a Academia de Belas Artes; e em 1582, ainda em Roma, surge a Academia della Crusca, destinada ao estudo da língua italiana. A Academia Francesa, a primeira sem fins didáticos, criada sob a inspiração de Richelieu é de 1635; a Real Academia de Londres é de 1662; a Real Academia de Madrid e as de Ciências de Berlim e Petersburgo, do século XVIII. No Ceará, após outros movimentos, surgiu a PADARIA ESPIRITUAL e seu jornal O PÃO, pela geração de Farias Brito, Antonio Sales, Adolfo Caminha, Oliveira Paiva, Rodolfo Teófilo, entre outros. Exatamente, no dia l5 de agosto de l894, em prédio à Rua Major Facundo nº 2, esquina do Passeio Público, onde funcionava o Hotel de France, em seu salão nobre, realizou a Academia Cearense de Letras, que se denominava apenas Academia Cearense, sua primeira sessão. Só três anos, depois, em 1897, foi fundada a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, então capital federal. A iniciativa da fundação da Academia Cearense de Letras coube ao historiador Guilherme Studart, depois Barão de Studart. Foram seus companheiros fundadores: Justiniano de Serpa, Farias Brito, Drumond da Costa, José Fontenele, Álvaro de Alencar, Benedito Sidou, Franco Rabelo, Antonio Augusto de Vasconcelos, Pedro Queiroz, Alves Lima, Waldomiro Cavalcante e Antonio Fontenele. O espírito acadêmico, conforme definiu Joaquim Nabuco, “é uma espécie de instinto de conservação ou um convite à fraternidade das inteligências, pela alegria do convívio intelectual e compreensão dos espíritos, fundindo cérebros e corações, para a comunhão de idéias; as Academias têm por finalidade o cultivo e o desenvolvimento da Literatura, assim como, a produção científica em forma de ensaio ou tratado; propõem-se a promover o exame das doutrinas ou questões literárias e científicas da atualidade, por meio de discursos, palestras e conferências.” 196


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Foi dentro desses princípios que nasceu a nossa ACADEMIA MUNICIPALISTA DE LETRAS DO ESTADO DO CEARÁ, fundada e registrada em cartório no dia 25 de Junho de 2005. Sua primeira Diretoria teve a seguinte composição: Presidente, o Sr. José Lemos de Carvalho (Dezinho), escritor e bacharel em Comunicação Social pela UFC; Secretário, José Anízio de Araújo (atual presidente), escritor e engenheiro agrônomo; o engenheiro, Professor e Mestre em Geografia, Caio Lóssio Botelho, entre outros membros – advogados(as), escritores(as), empresários(as), professores(as), altos(as) funcionários(as) federais –, verdadeiros timoneiros de tão brilhante iniciativa cultural, a quem devemos a honra de estarmos ingressando hoje aqui também. José Muniz Brandão

O Liceu do meu tempo Em 1960, quando residia na Praia do Futuro, fiz amizade com João Baltazar de Sousa, que cursava o 1.º ano ginasial no Liceu do Ceará. Como eu tinha muita vontade de estudar – naquela época já com 20 anos de idade só havia terminado o curso primário –, pedi àquele amigo para me orientar, o que ele fez de imediato. Emprestou-me um livro com toda a matéria separada para o Exame de Admissão (exigido na época para fazer o curso ginasial), e me ajudou até a última prova E, naquele mesmo ano de 1960, conclui o 1º ano ginasial, indo e voltando toda noite do Liceu na companhia prazerosa daquele inesquecível companheiro, que sempre esteve a um ano de estudos na minha frente. Daria um livro todos os fatos registrados naquele período de sete anos, participando a princípio das famosas greves do revolucionário liceísta Parangaba e seus simpatizantes, as reuniões sempre na Praça do Liceu, após abandonarem as salas de aulas. A Direção do Colégio, em represália, conseguia com o Corpo de Bombeiros um carro-pipa com a sua possante mangueira, para 197


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desfazer o tal movimento negativo, à custa de muita água. Os colegas “pinguços”, que faltavam às aulas e ficavam no bar da esquina bebendo até terminar a última aula, e quando se perguntava o motivo, eles alegavam (inventavam) que era um protesto à desassistência do Colégio para com os alunos do ginasial. Outros fatos cômicos que aqui destacamos: Um padre professor de História do Brasil, do 2º ano ginasial, que em dia de teste escolhia um aluno para ajudá-lo a argüir os outros, e, se esse auxiliar confirmasse uma resposta certa, estando errada, o mesmo perderia 2 pontos. A partir daí todos da classe procuraram se atualizar com a matéria de História recebida, mas o jeitinho brasileiro não foi esquecido. Quando a pergunta era feita e aquele professor saía para fumar o seu cigarro (a cada l0 minutos), se o colega não soubesse a resposta, nós argüidores dávamos a ele os 2 pontos e ao sermos questionados dizíamos ao padre a resposta certa. Um dos colegas da turma era feioso, alto, magro, desengonçado, com uma vista perdida e com o pomo de adão muito saliente, embora fosse muito estudioso e querido por todos, era alvo de constante chacota de um outro colega muito bom em caricatura. Esse colega moleque pegava um giz e, com poucos traços no quadro negro, retratava o outro com um olho branco, o gogó o máximo, enfim, original e acima uma frase: “Quem sou eu?” Ao entrarmos com o feioso, ríamos junto com ele, que nunca ligou pra qualquer brincadeira a seu respeito, e no final do curso científico, quando a maioria estava preocupada em fazer cursinhos preparatórios para seus vestibulares preferidos, ele passou direto no vestibular de OSPB (Organização Social e Política do Brasil), passando também no concurso para Professor do Liceu, onde foi lotado. Havia um professor “biriteiro” que só chegava na nossa sala apoiando-se nas paredes até sentar-se na sua cadeira. Sentado, ele escrevia a matéria em forma de arco até onde a mão alcançava. Soubemos que odiava cigarros. Uma noite, para testá-lo, falamos das últimas cadeiras: “Aqui você não pode fumar! O professor não 198


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gosta de cigarros!” Foi o bastante pra ele se levantar e endossar a proibição, prometendo até suspensão se houvesse desobediência. Tempos maravilhosos, com bons professores nos preparando para o futuro promissor. No curso científico, o nosso professor de Biologia era tão competente que atraia o diretor, Padre Hélio, para assistir parte da sua aula de fungos, protozoários, etc. Haja saudades! José Muniz Brandão

Poética do amar (acróstico) Já que Deus nos fez todos a sua imagem, Outorgando-nos a sua semelhança, Sendo nosso viver sempre de esperança, É divino que tenhamos sua roupagem. A vida é dor e risos, entretanto, Não somente o prazer, teu bem-estar; Inda podes amar a Deus, Pátria e teu lar; Zela por tudo isso, que é belo e santo. Imortaliza o amar à terra, à natureza, O firmamento, enfim, toda a grandeza, De tudo quanto Deus quis e criou. Enfim, ama a todos e tudo nesta terra, Ama os céus, os mares que ela encerra, Reflete que jamais viveu quem não amou. A alegria da paz a dor desterra, Um amor em conflito é sofrimento, Já que a paixão nos dois vai triunfar; O casal separado vive um tormento, Porque nasceu para um, o outro amar. 199


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Renascemos em cada anoitecer, E dormimos pra nosso amor amanhecer, Sempre pronto a crescer no dia-a-dia; Devemos ser assim a vida inteira, A vivência diária é rotineira, Acordemos para a vida que irradia. Mil hábitos na vida adquirimos, Lembrando a mocidade de aventuras. Entretanto, a vida passa e não sentimos; Consistindo a existência em ânsias puras. E na velhice aumenta a nostalgia, Já nos restando somente a fantasia, O apego às coisas isentas de amarguras. Ser feliz não é só o não sofrer; E amar é sofrimento, e não só prazer... Muitas vezes de um grande padecer, Uma união se transforma em imortal.. Nossa vida há de ser sempre uma prece. Ilusório é não renunciar, que engrandece, Zéfiro suave que nossa vida enternece, Banhando nossa alma de essência colossal. Refaz teu coração para uma só verdade: A paz interior é o que nos convém; Não queiras nunca humilhar ninguém, Deus nos fez seus mensageiros da bondade; A todos ensinou que, com a caridade, Os espíritos altaneiros se iluminam. Sempre as boas ações é que determinam Este mundo tão difícil ser melhor, Com Deus em cada lar e ao seu redor, Reluzir paz e amor, que nos animam. José Muniz Brandão 200


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Um aprendiz do mundo... Já que Deus permitiu no seu mundo tão perfeito, O seu aprendiz sonhar um dia ser poeta; Sem ter o domínio desta arte tão seleta, Eu lhe agradeço por meu sonho quase feito. Mundo fantástico onde a luta é um direito, Uma esperança que carrego em minha meta; Não importando ela ser ou não completa, Incitou-me e vou lutar mais satisfeito. Zéfiro que sempre envolveu a minha alma. Ainda ávida de amor para a sua calma, Morada da luz divina sempre em meu ser; Lampejo que flui da minha mente em poesia, Enternecendo-a e me elevando a cada dia, Como a magia dos que estão pra renascer.

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À minha pepita Pedi para Deus um dia, Enviar-me um grande amor, Para pôr fim a minha dor, Intensa que eu sofria. Te vi e quanta alegria... Amei-te com muito ardor, Minha alma com fervor, Encheu-se de poesia. Uma vida de aventuras, Amamo-nos com loucuras, Muitos dias de paixões; O nosso eterno cantinho, Relembra sempre o carinho, Em nossos dois corações.

José Muniz Brandão

Sonhos e fases da nossa vida SONHO E FASE – 01 “Dois gametas se fundem de repente, Deus infunde o espírito. Novo ser é gerado: mente e corpo. Uma vida, em outra, duas vidas distintas”; A vida, enfim, multiplicada e gerada. Assim, começamos a viver no mundo... Neste imenso colégio de um só professor. Quem nunca ouviu pelos pais ou irmãos mais velhos Falar dos seus primeiros e trôpegos passos? Antes se arrastando pelo chão, Todo sujo até aprender a engatinhar; 202


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Nos primeiros meses da vida infantil, Querendo pegar em tudo que vê, Levando tudo à boca para mastigar, ainda sem dente... O início dos primeiros passos, as primeiras quedas, As muitas escoriações, os sentidos choros. Escapamos destas e de outras situações, por verdadeiro milagre. Crescemos um pouco e começamos a correr; As quedas aí são de rachar os beiços, cabeças, braços... Chegam também as primeiras escolas: jardim da infância ou maternal – Novos coleguinhas e um bonito material escolar. Seguem-se as disciplinas elementares:, os NÃOS. Pouco se pode fazer. E quando se teima, sempre alguém vê E sem a menor compostura vai enredar à professora, Que sem consciência, pois somos tão pequenos ainda, Nos coloca de castigo em pé e sem direito à defesa.

SONHO E FASE – 02 Aprendemos a andar, correr, pular... Como crianças somos sempre amenas, Vemos tudo igual, do mesmo jeito. Tudo nos chama a atenção, principalmente o que é novo e nunca visto. Continuam os NÃO PODE, agora ditos em tons mais altos! Na escola, a tia às vezes perde a paciência quando gritamos. Outros coleguinhas e novos brinquedos com boas horas de folga... As lições são mais difíceis, pois temos agora cartilha e tabuada, Que tiram o sossego da gente. Até vontade de não brincar!... Tem também os colegas mais adiantados, Que tiram as melhores notas com boas caligrafias, E até humilham a gente nas argüições, pois sabem tudo. Tanto nas lições de tabuadas quanto nas de soletrar, É usada uma diabólica palmatória como castigo, E ai de quem errar qualquer pergunta, Pois os sabichões se valem disso e o bolo come de esmola. 203


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Nessa hora, as poucas paquerinhas passam para o lado deles, E nós só temos a hora do recreio, nas peladas, pra descontar. Nesse momento, da boca pra baixo, tudo é canela. E não adianta fuxicar para a professora que levou porrada, Porque esta diz: “Futebol só joga quem é homem...” Vem também o convívio junto à irmandade, sem muitos privilégios; Pois a família sempre é numerosa com 10, 15 ou mais filhos. Os cuidados sempre são confiados aos(às) mais velhos(as). Estes(as) já despertando para as primeiras paqueras; E já usando sua própria disciplina: “Não saia daqui”. E a gente doido para correr pra qualquer lado... Deve-se manter a criança mais em casa e na escola, Para ela não ser atraída pela droga, nem levada à prostituição.

SONHO E FASE – 03

A gente nasce, cresce, vai vivendo; Quantas mudanças surgem em nossas vidas! Em cada período que conseguimos atingir: A voz afina, engrossa ou fica misturada mais pra fina; Novos pêlos (pubianos) em todo o corpo na nossa puberdade. Outros sinais de homem: peitos inchados e doloridos. Barba e bigode e cabelos nas axilas. O apego pelas coisas vai crescendo, As primeiras ilusões com namoradas, As desilusões com a vontade de parar tudo... A consciência de que vale a pena continuar, Pois a vida é longa e cheia de surpresas. Novas amizades e sonhos mesmo os mais difíceis, Que se realizam nos deixando mais afoitos, Acreditando que tudo sempre vai dar certo. Com menos fatos tristes e momentos mais alegres... Depois a realidade de que já crescemos, E chegou a hora de termos vida própria. De aumentarmos mais nossos conhecimentos, 204


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De fazermos todos os cursos profissionalizantes; Enfim de sermos pessoas capazes, De vencermos qualquer batalha em qualquer época, Para termos vida digna e independente. Para que possamos ajudar a quem devemos... Nossa vida, formação e tudo que já somos, Num preito da mais pura e justa gratidão, A Deus: pedindo-LHE coragem, saúde, força e sabedoria.

SONHO E FASE - 04 Aprenda a ser sensato e coerente, Trabalhe e estude muito para alcançar vitórias. Não deixe nada pra resolver depois, Quando puder dar logo uma solução. Lembre-se que a luz da frente é que alumia, O tempo é ouro e, quando perdido, Dificilmente se recupera uma oportunidade desperdiçada. Veja cada pessoa como gente de bem, Os parentes, amigos e companheiros. Que podem ser-lhe úteis na batalha diária; Tendo mais cuidado com os estranhos. Quando enfrentar o grande mundo de esperanças, Tenha sempre bom caráter por premissa, Não se entregue, se integre com cuidado; A pouca vida ainda tem muito a lhe ensinar. Os pés sempre no chão para meditar melhor, O cérebro e o coração atentos para lembrar coisas importantes. Nunca troque a alegria pela dor, Inicie uma vida com o melhor futuro, Sempre crescendo sem voltar para trás; Não discrimine nada nem ninguém, Pois devemos sentir prazer como qualquer “hobby”, Em procurar alegrar, ajudar e dar felicidades, 205


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Ao nosso irmão, que é o nosso próximo. Viva com simplicidade, pois as coisas simples são eternas.

SONHO E FASE – 05 Controle sempre o ímpeto impulsivo, Nunca deixe ninguém ver você chorar, Controle a pressa, trabalho e atitudes. Sem deixar lacunas do imperfeito, Em nada que fizer se torne omisso, Mostrando a todos sua personalidade. Torne a sua vida cristalina e sem maldades, Seja correto no que diz e no que faz. Evite qualquer tipo de nervosismo, Pois o mesmo inibe a razão e o desprendimento. Seja atencioso com as pessoas mesmo as mais simples. Respeite-se e terá sempre seu valor destacado e bem visto, Siga as máximas: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Cuidado com as más companhias, pois são sempre negativas; Onde “Uma ovelha ruim bota um rebanho a perder”. Ouça sempre e analise os conselhos dos seus pais e de idosos; Reflita profundamente as dicas das pessoas experientes. Com quem conviver mostre sempre seu lado original; Aprende-se muito também com a pureza das crianças. O que é bom, é considerado bom naturalmente; Mas, o que parece ser desastroso ou calamitoso também é, Desde que nos sirva como processo purificador, de crescimento. É a vaidade que nos leva a nos arrogarmos, Do direito de julgarmos nossos semelhantes; Quando nos livrarmos desse espírito crítico, E mostrarmos mais boa vontade com as pessoas, Estas se sentirão atraídas por nós e também cooperarão mais conosco. Nunca busque a felicidade com o sacrifício alheio, Pois criaremos nossa própria infelicidade. 206


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SONHO E FASE – 06 “Ainda que estejamos certos, não argumentemos a nosso favor; Sempre que pensarmos e agirmos conforme as Leis Divinas, Que regem toda a criação e todas as ações humanas, Os resultados serão benéficos por toda a vida. Também quando nos adaptarmos às Leis Naturais e Reguladoras, Os nossos caminhos se tornarão mais suaves; Quando resistirmos a elas, surgirão as dificuldades.” Lembremos que, ao atingirmos os 30 anos, já temos que ter: Pelo menos um filho, casa própria e ter escrito ou estar fazendo um livro; Mas se não foi possível atingir os níveis mais altos, Procure alcançá-los com fé e persistência, degrau por degrau. Como a vida é uma caixa de surpresas, Esteja sempre preparado para as rejeições humanas. Quando se afastarem de você e o evitarem; Quando lhe faltar o dinheiro e não tiver mais amigos; Ou vendo-o muito abatido alguém se deleite; E quando só lhe restarem alguns parentes pobres, Ao vê-los, mostre estar sempre contente e feliz. Nunca demonstre a ninguém o seu pequeno ou grande desgosto; Pois quando lutamos com Deus no coração, Progredimos e superamos todos esses obstáculos; Além de criarmos um estado de espírito celestial, Que nos eleva, conforta e nos impulsiona para a vitória. Franqueza é sinônimo de Sinceridade e Lealdade; Veja na Educação o aprimoramento físico, intelectual e moral do cidadão; A Saúde é o nosso completo bem-estar físico, psíquico e social;

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PEDRO JORGE MEDEIROS – cadeira n.º 20 Pedro Jorge Medeiros, nasceu no dia 13 de abril de 1966, na ainda bucólica Fortaleza. Filho do médico Raimundo Medeiros Sobrinho e da pedagoga Maria Nirvanda Medeiros. Iniciou os estudos na antiga e já extinta Escola Infantil Brincolândia, depois no Instituto Educacional João XXIII, onde veio a alfabetizar-se, e, no ano de 1972, começou a estudar no Colégio Cearense Sagrado Coração, por um longo período de 11 anos, obtendo assim uma sólida formação intelectual, moral e espiritual, baseada na vocação dos irmãos maristas, o que muito favoreceu seu êxito na vida acadêmica, conseguindo lograr êxito e graduar-se em duas faculdades: Economia, em 1989 e Direito em 1995, ambos concluídos na conceituada Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Cursou, como extensão universitária a Escola Superior de Guerra – ESG, no Rio de Janeiro, em 1993. Especializou-se, com pós-graduação lato sensu: em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR, no ano de 1997; em Direito Tributário, pelo Instituto Cearense de Estudos Tributários – ICET, no ano de 1999; em Direito Processual Civil, pela Universidade Federal do Ceará - UFC, no ano de 2001; e em Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo, no ano de 2005. Uniu-se matrimonialmente com Eveline de Weimar Chaves Medeiros, em 18 de Dezembro de 1993, de cuja união, nasceram: Natasha Chaves Medeiros, em 08 de Outubro de 1994; Pedro Jorge Medeiros Filho, em 18 de Abril de 1999, e Marina Chaves Medeiros, em 1º de Fevereiro de 2002. Pedro Jorge Medeiros é membro atuante de diversas instituições, no Ceará, no Brasil e no exterior. É vice–presidente da Associação Brasileira dos Advogados – ABA; Diretor da Caixa de 208


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Assistência dos Advogados do Ceará - CAACE; é vice-presidente da comissão da Sociedade de Advogados da OAB-CE; membro da Comissão de Assuntos Tributários da OAB-CE; membro da ABDTAcademia Brasileira de Direito Tributário, com sede em São Paulo, do IBPT- Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, com sede em Curitiba, da Associação Brasileira de Direito Tributário, com sede em Belo Horizonte, da AASP - Associação dos Advogados de São Paulo, com sede em São Paulo, da UIA - Union Internacionale des Avocats, com sede em Paris; Delegado adjunto da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG, no estado do Ceará, Diretor Social do tradicional Clube Náutico Atlético Cearense, e membro do Lions Clube Fortaleza Fátima. Participou de inúmeros congressos e seminários como palestrante e presidente de mesas e debates, têm vários artigos científicos na área de Direito Tributário em publicações nacionais, e é autor de livros em co-autoria, como: “Conhecendo Nossos Tributos”, “Legislação Tributária de Fortaleza” e de uma publicação feita exclusivamente para o conceituado encontro: Brasil x Alemanha, realizado em Fortaleza no ano de 2005, intitulado: “Manual de Orientação do Investidor Estrangeiro no Brasil”, que foi traduzido para a língua alemã. É sócio-fundador do escritório jurídico Medeiros Advogados Associados, com sede em Fortaleza desde 1999, assumindo assim a consultoria e assessoria jurídica de diversas e conceituadas empresas e instituições do nosso Estado e fora dele. É também consultor especial de estruturação financeira de fundos de investimentos.

Raimundo Girão (patrono) Raimundo Girão, nasceu filho de Luís Carneiro de Sousa Girão e Celina Cavalcanti, na fazenda Palestina, do Município de Morada Nova, perto três quilômetros da sede municipal, no dia 3 de outubro de 1900, uma quarta-feira.

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Aos cinco anos de idade, com os pais, mudou-se para Maranguape, cidade em que permaneceu até 1913 e teve a oportunidade de fazer os primeiros estudos freqüentando a escola pública dirigida pela professora Ana de Oliveira Cabral (D. Naninha) e o colégio particular do prof. Henrique Chaves. Em novembro de 1913, transferiu-se para Fortaleza, passando a freqüentar o colégio Colombo, do prof. Manuel Leiria de Andrade, e em seguida matriculou-se no Liceu do Ceará, no qual tirou os necessários preparatórios (1919). No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de Direito do Ceará, cujo curso terminou, colando grau de Bacharel, no dia 8 de dezembro de 1924. Nessa mesma faculdade, doutorou-se em 1936, sendo aluno laureado. Advogado nos auditórios do Estado, quando em 1932 é chamado para exercer as funções do cargo de Secretário Geral da Prefeitura de Fortaleza (Secretaria Única) para a 14 de dezembro desse ano receber a nomeação de Prefeito Municipal interino. Efetivou-se no cargo no dia 19 de abril de 1933 e o exerceu até 5 de setembro de 1934, dedicando todos os seus empenhos e experiências aos interesses administrativos da Capital cearense. No ano seguinte, por ato governamental de 21 de setembro, foi nomeado sem que o pleiteasse, Ministro do Tribunal de Contas do Ceará, criado pelo Dec. n° 124, do dia 20, anterior, do Governador Francisco Menezes Pimentel. Nesse governo, foi distinguido com várias e importantes Comisssões, inclusive a Comissão que representou o Ceará nas Conferências de Assuntos Econômicos e Fazendários, a primeira reunida no Rio de Janeiro (1940) e a segunda em Salvador (Bahia, 1940). Outra Comissão, de alta significação, de que fez parte foi a encarregada de elaborar o Projeto de Estatuto dos Funcionários do Estado (1942). Nomeado, em 2 de março de 1946 Livre Docente da Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará, na Cadeira de Estudos Comparados das Doutrinas Econômicas. Em 1949, como representante do Estado do Ceará e do Instituto do Ceará (para o qual entrara como Sócio Efetivo em 1941 e do qual foi Presidente de Honra e 210


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recebeu, post mortem, o título de Sócio Benemérito), participou do I Congresso Histórico do Estado da Bahia, comemorativo do 4° Centenário de Fundação da Cidade de Salvador, realizado nos dias 18 a 30 de março. Quando Prefeito Municipal (1933/34), teve a oportunidade de concorrer para a instalação do primeiro Club de Rotary do Ceará, a que por duas vezes presidiu. De caráter rotário, tomou parte, além de outras, da Comissão Distrital de Manaus (1951), demorando-se algum tempo na Amazônia para sentir melhor as belezas da Hiléia. Duas vezes mais esteve naquela maravilhosa região. Em 1952, é nomeado presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, ao qual já servira como Conselheiro desde 1935. Foi Mordomo da Santa Casa de Fortaleza. Com o prof. Mozart Soriano Aderaldo participou do congresso comemorativo do Tricentenário da Restauração Pernambucana, realizado no Recife em julho de 1954. Foi um dos fundadores e primeiro Diretor da Escola de Administração do Ceará. Nomeado em 9 de janeiro de 1960 Secretário Municipal de Urbanismo, de cuja Pasta foi o primeiro titular, pois foi ela criada por sugestão sua. Nomeado, por Ato de 3 de outubro desse ano, recebeu a nomeação como primeiro titular da Secretaria de Cultura do Ceará (1966-71), pasta criada com o desdobramento (a primeira no Brasil) da anterior Secretaria de Educação e Cultura, em conseqüência de trabalho seu, constante e cuidadoso, adotado pelo Governo do Estado. Presidiu a Academia Cearense de Letras, no biênio 1957/58, na qual ocupava a Cadeira n° 21 de que é Patrono José de Alencar. Em 1985 foi aclamado “Presidente de Honra” e, posteriormente, eleito sócio efetivo da Sociedade Cearense de Geografia e História, tendo ocupado a Cadeira de n° 22, patroneada pelo romancista Franklin Távora.

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Recebeu Raimundo Girão em vida, e mesmo in memoriam, um grande número de honrarias, representadas por medalhas, troféus, títulos honoríficos e outras condecorações. A sua bibliografia é alentada: legou-nos 54 títulos entre livros e plaquetas, além de ter organizado 12 volumes de variados assuntos. Prefaciou 19 livros de terceiros. Sua colaboração em periódicos – jornais e revistas- alcançou a quase cinco dezenas, entre artigos, crônicas e entrevistas. Casou-se pela primeira vez corn Maria Monteiro de Lima, que veio a falecer em 19.11.1925, sem filhos. Era filha de Manuel Gonçalves de Lima e Maria do Carmo Monteiro. O segundo casamento deu-se em 27.11.1926 com Maria Gaspar Brasil (Marizot), nascida em 18.03.1910, em Fortaleza, filha de Prudente do Nascimento Brasil e Inês de Moura Gaspar. Do casal nasceram dez filhos, que se multiplicaram em trinta e um netos e quarenta bisnetos. Em enquete promovida pela TV Cidade, de Fortaleza, no ano de l987, foi consagrado como um dos vinte maiores cearenses de todos os tempos. Faleceu em 24 de julho de 1988, nesta Capital. Em 1991, o Prefeito Juraci Magalhães, por decreto, prestou-lhe expressiva homenagem, mudando a denominação da Avenida Aquidabã, para Avenida Historiador Raimundo Girão.

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A IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE MOBILIZAÇÃO PARA A DEFESA DO BRASIL Pedro Jorge Medeiros “A guerra é uma invenção da mente humana; e a mente humana também pode inventar a paz.” (Sir Winston Churchill)

INTRODUÇÃO O Ministério da Defesa, em conjunto com a Escola Superior de Guerra, busca de forma intensa disseminar conhecimentos doutrinários a respeito da Mobilização Nacional em diversas cidades brasileiras, com o intuito de preparar a sociedade civil para uma possível necessidade de uso desta ferramenta, haja vista que a mesma é um instituto previsto em nossa Carta Maior de 1988, tanto no art. 22, bem como no art. 84, XIX. Tivemos o prazer de participar da etapa realizada em Fortaleza-Ceará, e a elaboração deste artigo, busca acrescentar e colaborar com as discussões e debates ocorridos neste evento. É nosso desejo que o mesmo oriente uma visão ativa, viva e eficaz na formação de cidadãos que busquem um Brasil cada vez mais independente e soberano.

AVALIAÇÃO CONJUNTURAL A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 22, XXVIII e no art. 84, XIX a utilização da Mobilização Nacional ‘’in verbis: ’’ Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e Mobilização Nacional; Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da Repú-

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blica: XIX - Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional. (Grifos nossos).

Ao ser positivada em nossa Lei Maior, demonstra que o legislador originário preocupou-se em tornar efetiva a utilização da Mobilização Nacional em caso de necessidade. Entendemos ser de fundamental importância a aprovação do Projeto de Lei nº. 2.272 de 2003, que cria o Sistema Nacional de Mobilização Nacional – SINAMOB. Para Celso Lafer, ‘’a palavra guerra provém do germânico ‘werra’, que tem a acepção de discórdia, combate. Já a palavra paz se origina do latim ‘pax’, de verbo cujo particípio é ‘pactus’, donde o pacto celebrado entre os beligerantes para fazer cessar o estado de guerra. A etimologia das duas palavras explica o inter-relacionamento que permeia a dicotomia paz/guerra, na qual a guerra é o termo forte e a paz, por isso mesmo, é usualmente definida e dicionarizada como ausência de guerra.’’ Na análise da vida internacional, em contraste com o que ocorre no plano interno, no qual o termo forte é ordem (pois a desordem, a falta de ordem), a prevalência da guerra sobre a paz é o pressuposto do realismo político. A mitologia grega registra a histórica preponderância da guerra sobre a paz. Ares, o deus da guerra, tem assento no panteão olímpico. Já a Paz (Eirene), assim como a Justiça (Diké) e as Boas Leis (Eunomia) são divindades de menor hierarquia que integram o séqüito de Afrodite. Segundo Lafer “Até o século XX a valorização da guerra foi mais freqüente que a sua condenação. Hegel, por exemplo, contestando Kant, diz que a guerra assegura a saúde moral dos po214


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vos, que se veria afetada pela estagnação de uma paz perpétua, da mesma maneira que os ventos protegem o mar da podridão inerente às águas paradas.”. Apesar da situação de relativo pacifismo em que vivemos, inferimos então que a necessidade de prepararmo-nos para um possível conflito armado é primordial, pois hodiernamente vivemos em uma região cheia de problemas, e o Brasil precisa cada vez mais firmar-se como nação líder na América Latina. Não podemos de forma alguma aceitar calados invasões em nossas propriedades, como ocorreu recentemente na Bolívia e nem tampouco aceitar agressões gratuitas as nossas instituições por parte de presidentes populistas, como quando nosso Congresso Nacional foi achincalhado pelo presidente da Venezuela recentemente. Além de que, temos a maior reserva de água do planeta e somos alvos de constantes cobiças por parte de líderes dos paises desenvolvidos. Si vis pacem para bellum (se queres a paz, prepara-te para a guerra). Este brocado latino nunca foi tão atual para a situação brasileira, e a criação do SINAMOB com certeza gerará um poder de persuasão muito grande frente às demais nações limítrofes do Brasil. De acordo com o projeto de Lei, a Mobilização Nacional consiste no conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, desde a situação de normalidade, complementando a Logística Nacional, com o propósito de capacitar o País a realizar ações estratégicas no campo da Defesa Nacional, para fazer face a uma agressão estrangeira. A guerra é uma das piores chagas da humanidade, entretanto o grande estadista Winston Churchill falou que: “Há alguma coisa pior do que a guerra? Há. A escravidão é pior do que a guerra. A tirania é pior do que a guerra. Hitler é pior do que a guerra.”. Realmente, além do que foi enumerado por Churchill, eu entendo que pior que a guerra é a falta de preparo para enfrentá-la, 215


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esta sim é uma situação onde a nação desmobilizada e enfraquecida torna-se alvo fácil para ser invadida ou vitimada por agressões econômicas e psicológicas.

POLÍTICAS (O QUE FAZER) A conceituação de Política de defesa Nacional já demonstra claramente o que deve ser feito para a implementação do SINAMOB: ‘’A Política de Defesa Nacional, voltada para ameaças externas, tem por finalidade fixar os objetivos para a defesa da Nação, bem como orientar o preparo e o emprego da capacitação nacional, em todos os níveis e esferas de poder, e com o envolvimento dos setores civil e militar’’. Ou seja, a política é definida como ‘’a arte de fixar objetivos e orientar o emprego dos meios necessários a sua conquista.’’

Então para que seja realizada a implementação do Sistema Nacional de Mobilização para Defesa do País se faz necessário um trabalho baseado no uso da Política Governamental de Mobilização Nacional, que se expressa através da formulação de objetivos a alcançar e a preservar, no campo da Segurança Nacional, com atuação sobre o Poder e o Potencial Nacionais. Tais objetivos devem possuir duas naturezas: tangíveis (mensuráveis ou concretos) e intangíveis (abstratos) A Política Governamental de Mobilização Nacional é assim conceituada: “Elenco de objetivos a atingir, estabelecidos pelo Governo, desde a situação normal, no amplo Campo da Segurança Nacional, de forma a adequar as diversas Expressões do Poder Nacional, em face da declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira.” 216


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Infere-se então que os Objetivos para uma Política Governamental de Mobilização devem ser buscados nos documentos elaborados na Fase Política do Método para o Planejamento da Ação Política, considerando os seguintes aspectos: yy na etapa de Avaliação de Conjuntura (AC), dentre seus vários desdobramentos, a capacidade do Poder Nacional, que determina os meios logísticos disponíveis; yy na etapa de Concepção Política Nacional (CPN), estabelecidos os cenários desejados, submetidos ao crivo dos Pressupostos Básicos e das variáveis alinhadas como Hipóteses de Conflito Armado (HCA), é determinada a “DECISÃO POLÍTICA” (O QUE FAZER), com a escolha do cenário desejado, caracterizado pelos Objetivos de Governo, para o período em estudo.

ESTRATÉGIAS (COMO FAZER) De acordo com a doutrina da Escola Superior de Guerra, a Diretriz Governamental de Mobilização Nacional dará aos planejadores a orientação sobre “COMO FAZER”, como deverá ser conduzida a Mobilização, determinando as Estratégias necessárias à consecução dos Objetivos estabelecidos pela Política Governamental de Mobilização. É elaborada com base na Concepção Estratégica Governamental (CEG) e de forma coerente e harmônica, com as Diretrizes Estratégicas Governamentais de Desenvolvimento e de Segurança, que antecedem na seqüência do planejamento governamental. Assim, a Diretriz Governamental de Mobilização Nacional deverá constituir uma orientação estratégica do Governo, para a consecução dos Objetivos de Mobilização, normalmente definidos na Política Governamental de Mobilização Nacional. No Planejamento da Mobilização Nacional, os Exames Estratégicos têm por finalidade aprofundar assuntos que, por sua complexidade e pela influência ou repercussão causadas em outras áre217


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as, merecem ser melhor conhecidos, ou para aquilatar a viabilidade de decisões tomadas em etapas anteriores do Planejamento. Os Levantamentos Estratégicos são dados atinentes a áreas estratégicas, geográficas ou de atividades humanas, destinados a formar um quadro de conhecimento suficiente para uma apreciação das características destas áreas e a fornecer aos usuários o conhecimento de fatos e aspectos fundamentais que configuram o caráter e o corpo do país em estudo. Permite aos planejadores da Mobilização Nacional conhecer, com profundidade, aspectos de interesse relativos ao próprio país e a outros países, a atividade específica e a outras atividades correlatas, etc. Os Dados Estatísticos e Censitários são indicadores sobre o próprio país e sobre as demais países citados nas Hipóteses de Conflito (HC), Hipóteses de Conflito Armado (HCA) e Hipóteses de Emprego (HE), fundamentais para o Planejamento, particularmente para a determinação das Necessidades e levantamento das Possibilidades. Os planejadores da Mobilização, em níveis Setorial e Específico, se apóiam também em outros documentos, tais como: yy yy yy yy

Avaliação da Conjuntura (dados levantados); Concepção Política Governamental; Concepção Estratégica Governamental; Diretrizes Estratégicas Governamentais de Desenvolvimento e de Segurança; yy Plano Nacional de Desenvolvimento; yy Planos Nacionais de Defesa Interna e Externa; e yy Planos Nacionais de Guerra. A etapa de Orientação da Mobilização, do ápice para a base do SINAMOB, completa-se com a elaboração de diretrizes nos seguintes níveis: yy Nível Geral (Governamental); 218


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yy Nível Setorial (a cargo de cada Órgão Setorial do SINAMOB); yy Nível Específico (a cargo de Órgãos de Nível Ministerial e Secretariais, do Governo Federal); e yy Nível de Órgãos Subordinados. Concluída a etapa da Orientação do Planejamento, tem início a etapa da Elaboração dos Planos de Mobilização. Estes são elaborados, para cada Hipótese de Conflito Armado (HCA) e Hipóteses de Emprego (HE), desde os níveis inferiores da estrutura sistêmica. Após exame e aprovação, serão consolidados pelos Órgãos Superiores, em sentido inverso à etapa de Orientação, dando origem aos Planos Setoriais de Mobilização e, no vértice da estrutura, ao Plano Nacional de Mobilização, sempre com a preocupação que ocorra o acompanhamento sistêmico da implementação desses Planos e a conseqüente retro-alimentação simultânea. Os Planos de Mobilização serão os seguintes, no sentido da base ao ápice do SISTEMA NACIONAL DE MOBILIZAÇÃO: yy Planos de Mobilização dos Órgãos Subordinados aos Ministérios (PM); yy Planos Específicos de Mobilização (PEM); yy Planos Setoriais de Mobilização (PSM); e yy Plano Nacional de Mobilização (PNM). Os Planos de Mobilização, em todos os níveis do planejamento, deverão abordar as suas fases típicas da Mobilização: a primeira, relativa às atividades e medidas a serem adotadas durante a situação normal, isto é, na fase do Preparo da Mobilização; e a segunda, contendo as atividades a serem desencadeadas na fase da Execução da Mobilização, após a decretação desta. Na primeira fase, com base no confronto efetuado pela Logística, entre as necessidades e disponibilidades, deverão ser previstas e planejadas atividades e medidas que contribuam para o fortalecimento do Poder Nacional, realçando os investimentos 219


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ambivalentes, isto é, aqueles que destinados ao Desenvolvimento possam servir à Segurança e vice-versa. Deverão, também, na primeira fase, ser adotadas medidas que indiquem soluções alternativas para aquelas necessidades que, porventura não puderam ser atendidas em tempo hábil, apesar da celeridade e compulsoriedade da fase seguinte da Mobilização. Dentre as medidas a serem adotadas, citam-se, por exemplo: yy incentivo à indústria bélica e à produção de insumos críticos e estratégicos; yy incremento à pesquisa aplicada e o desenvolvimento tecnológico, particularmente, de materiais de defesa, sempre em busca de soluções autóctones; yy a dinamização da Mobilização Industrial por meio da alocação de Encomendas Educativas; yy a adequada formação de reservas militares; e yy a diversificação geográfica da produção de bens. E finalmente deve ser posto em prática o Plano de Desmobilização que é: “a concretização do Planejamento da Desmobilização que se traduzirá no Plano Nacional de Desmobilização tendo por finalidade, entre outras, estabelecer os objetivos específicos, as ações a realizar e a orientação normativa que consubstanciam as atividades da Desmobilização’’.

CONCLUSÃO Ao final deste trabalho, fica cristalina a importância da criação do Sistema Nacional de Mobilização para defesa do País, primeiro pela própria previsão constitucional insculpida no art. 22, XXVIII e no art. 84, XIX, bem como da necessidade estratégica do País em ter o SINAMOB. Como hodiernamente muitos conflitos têm inicio sem uma declaração formal de guerra, tornam-se exíguos os prazos para a 220


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execução da Mobilização que torna o planejamento e preparação da mesma de fundamental importância em tempo de paz. George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos de forma lapidar explicou que: “Estar preparado para a guerra é um dos meios mais eficazes de preservar a paz.” Isto é uma verdade atual diante dos acontecimentos a que nosso país vem sendo submetido; com certeza, com a criação do SINAMOB teremos mais meios de nos mobilizarmos e nos prepararmos para efetuar uma reação imediata a qualquer agressão estrangeira. Para o grande general SUN TZU a “A arte da guerra é submeter o inimigo sem combate.” Este é o poder que temos que exercer tanto no âmbito continental como em nível mundial. Para concluir faz-se importante, baseado na doutrina da Escola Superior de Guerra, enumerar as atribuições do Sistema Nacional de Mobilização Nacional: yy elaborar e manter atualizado, desde épocas normais, um planejamento integrado e abrangente da Mobilização Nacional, concretizado pela elaboração de Planos de Mobilização que, por consolidações sucessivas, culminarão no Plano Nacional de Mobilização (PNM); yy coordenar as atividades dos Ministérios ou órgãos interessados relativas ao planejamento integrado da Mobilização Nacional; yy promover a participação efetiva de outros órgãos federais, estaduais, municipais e, até mesmo, da iniciativa privada, cujas atividades funcionais indiquem e recomendem sua participação no Preparo e/ou Execução da Mobilização Nacional; yy manter, em estado de permanente atualização, os dados de pesquisa, estatísticos e censitários relacionados com as Expressões do Poder Nacional e que permitam determinar as disponibilidades totais e as necessidades mínimas das Forças Armadas e da população civil; yy poder promover a rápida transferência de recursos entre os diferentes setores das Expressões do Poder Nacional e a pro221


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yy yy yy

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dução de meios adicionais, conforme as necessidades da Mobilização Nacional; obter a inclusão de atividades e medidas de interesse da Mobilização nos Programas de Desenvolvimento dos órgãos competentes; assegurar a convergência de esforços e promover a integração de recursos e meios, com vistas à coerência e compatibilização dos programas de interesse da Mobilização Nacional; fornecer aos órgãos envolvidos no planejamento das Ações Estratégicas de Segurança os dados relativos às disponibilidades de recursos mobilizáveis ou mobilizados nos diferentes setores das Expressões do Poder Nacional; promover a sua Execução, uma vez decretada a Mobilização Nacional; e conduzir, quando oportuno, a Desmobilização Nacional.

BIBLIOGRAFIA 1. BRASIL (Constituição). Constituição da República Federativa do Brasil.Brasília, Senado Federal: atualizada até a Emenda 53 de 19/12/2006. 2. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Assuntos Específicos. Rio de Janeiro, 2006. 3. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Departamento de Estudos: Mobilização Nacional. Rio de Janeiro, 2004. 4. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Departamento de Estudos: Logística Nacional. Rio de Janeiro, 2004

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OLÍMPIO ARAÚJO – cadeira nº 21 O professor José OLÍMPIO de Sousa ARAÚJO nasceu em Itapebuçu - Maranguape (CE), em 09-02-1951, onde cursou os primeiros anos escolares. É filho do escrivão do Registro Civil José Henrique de Araújo e Carmelinda Francisca de Sousa Araújo. Aos treze anos de idade, acompanhou a família de mudança para Fortaleza, tendo seu pai falecido alguns meses depois. Licenciado em Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Pernambuco – (1975), em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará – UFC (1977) e Letras (UFC – 1985), além de pósgraduado em Planejamento Educacional (Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, 1996). Foi professor de Redação e de Língua Portuguesa no Colégio Deoclécio Ferro e Centro de Estudos Pedro II, e professor de Língua Portuguesa e supervisor dos Colégios Brasil e Rui Barbosa – os três últimos já extintos. Foi professor de Didática e de Prática de Ensino no Colégio Estadual Anchieta (Maranguape) – do qual exerceu o cargo de vice-diretor e na Faculdade de Pedagogia (UFC). Foi professor e diretor da Escola de 1º Grau Sebastião de Abreu (da Prefeitura Municipal de Fortaleza). Atualmente aposentado dedica-se à pesquisa gramatical e lingüística. Publicou em abril de 2007 o livro “Desenvolvendo a Habilidade de Escrever”, em co-autoria com seu irmão, o também professor e acadêmico Murilo Araújo. Está trabalhando em três projetos para futuras publicações: um sobre pontuação, outro sobre atividades lúdicas em língua portuguesa, e uma produção literária (memórias e escritos diversos). É membro honorário da Academia Limoeirense de Letras e membro da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará – AMLECE 223


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Moreira Campos – “um mestre na arte do conto”. PATRONO Filho de portugueses, porém nascido no nosso sertão (município de Senador Pompeu, em 6 de janeiro de 1914). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará em 1946 e licenciado em Letras Neolatinas (Faculdade de Filosofia do Ceará, 1967). Professor titular da cadeira de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da UFC – onde tive a felicidade de ser seu aluno. E que aulas! Quanta saudade! Solícito, receptivo, de linguagem fácil e presença agradável... José Maria MOREIRA CAMPOS, poeta e ficcionista, notabilizou-se no conto, e neste gênero produziu: Vidas Marginais (1949); Portas fechadas, prêmio Artur de Azevedo do Instituto Nacional do Livro, (1957); As Vozes do Morto (1963); O Puxador de Terço (1969); Os Doze Parafusos (1978); A Grande Mosca no Copo de Leite (1985); Dizem que os Cães Vêem Coisas (1987). Legou-nos também o livro de poemas, Momentos, (l976). Pertenceu ao Grupo Clã e à Academia Cearense de Letras. Suas obras foram traduzidas para vários idiomas: alemão, francês, hebraico, italiano e inglês. Após 80 anos de uma vida laboriosa e feliz, partiu para a eternidade (7 de maio de 1994), imortalizando-se, sobretudo, na mente de quantos o conheceram e na qualidade de sua produção literária. Escolhera, em 1993, uma coletânea de contos (Dizem que os Cães Vêem Coisas), como seu “legado para a Literatura”, conforme disse à filha e também escritora Natércia Campos. E foi ela que coordenou a 4ª edição do referido livro, em 2002, verdadeiras pérolas literárias selecionadas pelo próprio autor. Parece-me tarefa dificílima escolher os melhores contos dentre os aí elencados, mas impressionaram-me, sobremodo, os seguintes: Lamas e Folhas (que Herman Lima considera obra-prima), Vigília, O Preso, A Gota Delirante e Dizem que os Cães Vêem Coisas (escolhido para título do livro). Mostra a singular capacidade de desenvolver temas do cotidiano urbano, de modo conciso, transparente, fugindo ao her224


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metismo e caos, que dominam muitos dos escritores atuais. Daí a linguagem expressiva, objetiva e precisa, levando o leitor a inserirse ao enredo. Ele mesmo define o seu estilo, a partir da frase de Ciro dos Anjos: “A Literatura se nutre do real”. Mas ressalva que “não significa excluir o fantástico ou real-mágico e até a fantasia aceitável, a recriação, enfim, sem o que não haverá arte.” Deixemos, então a palavra com os críticos literários. Todos afinados em frisar as qualidades e a importância no contexto do modernismo cearense, e brasileiro, da obra do inesquecível escritor. Rachel de Queiroz, que o considera “mestre na arte do conto”, declarou-se, em correspondência à Natércia Campos, “sua contumaz leitora e admiradora fervorosa”. A imortal autora de Dora, Doralina é categórica, ao enfatizar a singularidade do contista conterrâneo: “[...] sempre nos surpreende com um enredo que se conta em algumas páginas, mas tão denso, tão cortante eu diria, capaz de resumir toda uma situação dramática em duas frases acerbas; todo um esplendor de paisagem em três linhas; e fazer você se abismar num pôr-de-sol, num pulsar de maré, no risco do vôo de um pássaro. Moreira Campos – Prossegue Rachelo – com sua prosa perfeita, bela, que não imita ninguém, não fez escola; é que não pode ser imitado, na singularidade da sua estilística. Não sei de nenhum prosador vivo, na nossa língua, que o iguale, e nem mesmo que o imite.” Herman Lima, que também o considera “mestre do conto moderno”, afirma: “As pequenas ou grandes tragédias, as comédias ocultas do cotidiano burguês, fixadas por ele, ganham, em sua mão experiente, uma especificidade que o aproxima dos maiores nomes do conto psicológico de todos os tempos, de Machado de Assis para cá, inclusive e principalmente Tchecov, de sua íntima e fiel convivência, ou, mais perto de nós, de um Joyce dos Dubliners ou um Sherwood Anderson, de Winesburg Ohio”. 225


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Para Sânzio de Azevedo, “em Moreira Campos o que mais importa são os dramas da alma humana, e não a terra, ostensivamente retratada nas páginas de Afonso Arinos e Gustavo Barroso”. Francisco Carvalho enfatiza “a prosa enxuta, a frase carregada de sentido, a noção de ritmo e musicalidade, o poder de síntese, o rigor no emprego da palavra, a densidade psicológica e a expressividade”. No seu Livro de Ouro da Literatura Brasileira (400 Anos de História Literária), Assis Brasil destaca, no Modernismo Cearense, ao lado de Rachel de Queiroz e Jáder de Carvalho, a obra literária de Moreira Campos: “Narrador consciente, contador de histórias, o interesse moderno e atual da literatura de Moreira Campos está na sua constante preocupação com a forma, não repetindo o seu processo, mas ampliando e complementando novos enfoques narrativos. A sobriedade e a contenção, características do conto moderno estão hoje plenamente dominadas pelo escritor, sem perda da importância existencial de seus personagens.” O professor Assis Brasil conclui com uma síntese de José Lemos Monteiro, de que transcrevemos os seguintes aspectos: “o predomínio dos elementos descritivos sobre os narrativos, a incessante luta pela concisão e conseqüente omissão de traços que possam ser percebidos pelos leitores, a eliminação de comentários ou interpretações do narrador à margem do desenrolar das ações e a utilização dos modernos processos de estruturação dos diálogos.” No mesmo tom de Lemos Monteiro, conclusiva é, sem dúvida, a análise de Batista Lima: “As principais características da narrativa de Moreira Campos são: uma tendência para o uso de elementos descritivos em paralelo aos narrativos; os vazios deixados para serem preenchidos pelo leitor; a eliminação de comentários e interpretações paralelas; a quase ausência de diálogos; a atuação do tempo como elemento corrosivo sobre os personagens; o 226


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uso das repetições como forma de superação das dificuldades de relacionamento entre as diferentes classes de pessoas; a ironia; a luta pela concisão.” Sem dúvidas, podemos encontrar, também na sua produção poética, a sutileza, a sensibilidade, a transparência, expressas em sons, cores , sensações táteis e cinéticas e sentimentos diversos. É o que se verifica no poema Natureza. No seu recolhimento, em silêncio, o poeta “apalpa”, vê, ouve, sente a “cantilena da água”, o frescor da brisa, a explosão de cigarras, o canto de pássaros, o baque da fruta madura... E, assim, em expressivas metáforas, pode-se constatar a sintonia do poeta com a natureza. Sons e ruídos que “estão milenarmente impregnados no homem”, honestos, ao contrário do plástico, do petróleo, que tanto agridem o planeta. Enfim, um poeta capaz de captar do simples e do natural mensagens profundas.

Natureza Sento-me no silêncio e apalpo a natureza. A cantilena eterna da água, que tem raízes límpidas e misteriosas. Nasce não sei onde, vem de entranhas antigas como o tempo e desce em cachos de espuma. Vem branda a brisa e fresca como um bálsamo. Mil cigarras que explodem em concerto único. O canto longínquo do pássaro não identificado (mas um pássaro). 227


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O baque surdo da fruta na legitimidade do seu amadurecimento. Todos os ruídos estão milenarmente impregnados no homem como uma memória platônica. Sons honestos. Uma herança, uma identificação, ou sinfonia. Nada resulta do petróleo ou é conquista do plástico. Não há insultos, não há agressões à natureza. Sobretudo ninguém que me perturbe esse recolhimento. Somente o silêncio. Ler Moreira Campos é, indubitavelmente, um deleite e, ao mesmo tempo, uma situação de aprendizagem. Daí a homenagem deste neófito acadêmico, escolhendo-o como patrono da cadeira n.º 21 da AMLECE. Olímpio Araújo

FONTES: www.revista.agulha.nom.br www.biblioteca.ufc.br CAMPOS, Moreira. Dizem que os Cães Vêem Coisas. (Prefácio de Rachel de Queiroz). 4. ed. Fortaleza, Editora UFC, 2002. BRASIL, Assis. O Livro de Ouro da Literatura Brasileira. Editora Tecnoprint.

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Obrigado, poeta! Datam da adolescência minhas primeiras incursões na produção poética, quando dividia Walt Disney, Zorro, Tarzan, Flecha Ligeira e outros heróis das revistas em quadrinhos com algumas das obras de Alencar e de Castro Alves. Às vezes me dava vontade de escrever, e punha num caderno arremedos de poemas e de crônicas. Não tinha coragem de mostrá-los a ninguém, sempre considerei fracos, superficiais, meus escritos. Iniciei um romance autobiográfico, que não consegui levar adiante. Quando cursei Letras, na UFC, o prof. Teoberto Landim (disciplina Composição e Estilo), em todas as aulas deixava-nos um tema ou título para compormos uma narrativa. Achei ótima idéia e fiz todas as redações propostas. Apesar deste incentivo e de minha motivação, escrevi pouco, e tudo trancado a sete chaves. A maior parte da minha vida universitária e profissional foi direcionada a outras áreas, especialmente Pedagogia. Já aposentado por invalidez (os velhos faróis sempre ameaçando bloquear-me), conheci, em Limoeiro do Norte, o poeta Marcelino Queiroz. Foi num almoço, junto com meus irmãos, Expedito e Murilo Araújo, e outros amigos. Num diálogo cordial, aberto e interessante, o prof. Marcelino, em certo momento, olhou-me e disparou à queima-roupa: “Você tem perfil acadêmico.” E, depois de dizer outras frases positivas, como quem sabe de toda a minha trajetória de dificuldades, acanhamento, ostracismo, ajuntou, agora se dirigindo ao meu irmão e poeta: “Expedito, vamos colocar o Olímpio na Academia Limoeirense de Letras.” Foi um toque angelical. Tipo aquele que assegurou à Sara, já idosa que seria mãe. Duvidei como ela: “Eu, professor!?... É tão pobre o que escrevo, que nem ouso mostrar a quem quer que seja... Sou apenas um gramático frustrado... E combinaram e me empossaram como acadêmico honorário.’ Mas que impressionante, que grande poder de persuasão, que força mental tem o prof. Marcelino Queiroz! Integrei-me à idéia. Aceitei de meu irmão Murilo a participação no projeto “Desenvol229


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vendo a Habilidade de Escrever” (que publicamos em abril de 2007). Aceitei o generoso convite do poeta e músico Francismar de Castro para integrar a Academia Municipalista de Letras – AMLECE (empossado em julho de 2007). Vejo-me buscando os velhos alfarrábios e parece que estou conseguindo organizar alguns escritos que, com muito boa vontade dos amigos, podem ser considerados literários. Obrigado, Senhor. Obrigado por ter-me feito cruzar caminho com este teu mensageiro, Marcelino Queiroz. Olímpio Araújo

Peçonha A pracinha estava repleta. Noite de sábado e de novena da padroeira, no bairro João XXIII, feliz com a recém-chegada energia de Paulo Afonso. E eu mais ainda: podia dar minhas voltas, minhas paqueradas. – Olímpio!... – Mas olha aí! Tudo bem... Antônio?! (Consigo conter-me, a tempo de não chamar o apelido que o deixava furioso.) Sigo, volteando na praça. Deixando meu conterrâneo, contente e conversador – características dos engraxates – espelhando os sapatos de um cliente. Não me afasto muito e... essa não!... Pois não é que aparece um gaiato (sem dúvida também de Itapebuçu) pra estragar tudo!... – Peçonha! Peçonha! Ei... Pe-ço-nha!... Peçoooooonha!!... Aí não teve jeito. Soltou tudo. Fechou a cara e disparou atrás do insultante, gritando impropérios e palavrões. “Rodou à baiana”. Já rouco e esbaforido, vendo que não o conseguia alcançar, retornou ao local de trabalho: – Espera, desgraçado, deixa eu te pegar, pra tu ver o que é peçonha!... 230


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Não teve mais clima. A noite – estava indo tão bem! – acabou, Juntou seus instrumentos às pressas... E foi saindo, acabrunhado e impotente, ante o coro afinado dos moleques de plantão: – Peçonha! Ei... Peçoooonha!... Também retirei-me, reflexivo. Tão alegre estava o rapaz... Tão cordato e prestativo... Quem fizera a malvadeza de lhe botar horripilante apelido? Se preocupe não, Pe... – digo – Antônio. Lá também poucos me chamavam de Olímpio, ou Zé Olímpio. Era Galo Cego, Ceguim, Galo Branco, Sarará... Quase lhe dizia isto quando outro dia, ao retornar a Itapebuçu para rever parentes, encontrei-o feliz e faceiro. Olímpio Araújo

Um exemplo de vida Gestos e fala de permanente meiguice e desapego. Quem o conhecia facilmente confirmava a simpatia que inspirava já ao primeiro contato. Pouco mais de um metro e sessenta distribuía-se por um corpo esbelto, de moreno claro, bigode e cabelo grisalho, este cortado à escovinha. As deficiências visual e auditiva não o impediam de manter em casa interessantes colóquios com as pessoas de maior nível cultural do lugar. “Preciso pôr em dia o meu francês...” – assim o pároco costumava justificar a presença aos encontros. Além de escrivão do Registro Civil, apresentava incrivelmente várias outras habilidades de ofício (pedreiro, carpinteiro, funileiro...), que exercia por prazer, domesticamente, nos raros momentos de folga. Apesar da curta convivência – eu tinha treze anos quando o Pai o chamou –, há muito o que recordar. Um banho de cuia, na cacimba do rio seco, de manhãzinha... eu, pequeno e feliz, seguran231


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do sua mão... Todas as manhãs, ele, católico e vicentino fervoroso, participando da santa eucaristia. Vejo-o, no alpendre, a desenrolar com paciência, os bilros da renda que minha mãe, afobada, não conseguia. Ou num dos cantos da sala de visitas, em sua mesinha exclusiva, a escrever em papelotes, que, depois de cheios, eram acondicionados em caixotes de madeira, confeccionados por ele próprio. Na nossa primeira mudança para Fortaleza, vendo que mamãe não apoiava a idéia, tentou, em vão, convencer-me: “Meu filho, leve este material, não deixe sua mãe jogar fora... Isto vai ser importante pra você. São pesquisas de vida de santos e curiosidades!...” Com certeza, este fato, ao lado da tomada do cartório por pessoas da própria família, depois de cerca de quarenta anos com ele – nunca entendi bem por que acontecera isso –, causoulhe grande desgosto. Comovo-me demais, ao recordá-lo, embora, com nove anos, não estivesse à altura de compreender que, naquela ocasião, estava sendo descartada interessante produção, fruto de aplicada pesquisa. Oh, meu Deus! Aquele sábado de aleluia. Eu era apenas um adolescente. Na véspera já o observáramos em animados diálogos com o padrinho Otávio e outros amigos seus, já finados. Chamou-me e perguntou pelos outros três filhos, um por um. “Pai, o Expedito foi à casa da noiva, o Murilo ficou morando em Itapebussu, e o João Batista foi passar o final de semana com ele.” – “Já não os verei mais”. Era aproximadamente 8 e meia da noite. Recusou suavemente a colher de chá que minha mãe insistia em colocar-lhe na boca: “Não carece mais, minha filha!” Entre um bocejo e um trejeito de quem esboça sorriso, partiu. Restou-me a visão de um olhar sereno, uma orientação mansa, lábios de leve e permanente sorrir, o andar insone pela casa madrugada adentro... Gestos e atitudes que me chegam, teimosos, vivíssimos, em seqüência indefinida e sem controle, de vez em quando, em tela projetada por minha mente. Foi. De certo, rumo ao paraíso. Libertando-se de anos de dor, além da privação de ver, de muito pouco ouvir. 232


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Naquele instante estava deixando a morada terrena, não apenas meu pai. Sem dúvida, aquele cidadão paciente e de diálogo fácil, aberto, não foi apenas um pai afetuoso, um esposo devotado, um católico convicto... Foi, de fato, bem mais que um grande cidadão. Um carismático, um exemplo de vida. Olímpio Araújo

Pedagogo nato Senti profundamente a morte do Prof. Acrísio Nogueira Pessoa. Nesses últimos anos não o tinha visto. Sabia apenas que deixara a esposa e os filhos no comando do Colégio e voltara ao seu querido Lima Campos. Como bom sertanejo que nunca deixara de ser. Aliás, um de seus maiores orgulhos; o outro era o de ser professor. Lembro-me de sua primeira viagem aérea (a Brasília), quando, contrariando a agente de viagem, não permitiu que o cadastro fosse feito como diretor, empresário, presidente do Sindicato. Exigiu, isso sim, o de professor; só viajaria nessa condição, com esse único registro. E a euforia com que nos narrou o incidente... Aprendi muito com ele. Era um homem de grande inteligência e de impressionante carisma. Observei isto a partir do primeiro contato, quando me contratou para lecionar Língua Portuguesa em seu estabelecimento. Nascia ali uma simpatia recíproca, alimentada por algumas características comuns, como a deficiência visual e o entusiasmo pela Educação. Foram anos decisivos na minha formação profissional. Pedagogo nato. Simpático, empático, autêntico, brincalhão, persistente. Os óculos de grossas lentes acentuavam-lhe o respeito e a confiança, ao contrário do que pensasse um observador apressado. Lutador incansável, inquieto, incapaz de abater-se ou de recuar diante das dificuldades. Intransigente na busca da qualidade de ensino, fã de Lauro de Oliveira Lima – uma das figuras mais expressivas à época na te233


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oria educacional. Inovador, sempre atento e disponível. Dele ouvi declarações do tipo: “Se a maior parte dos alunos de uma turma está de recuperação, de recuperação estão também o professor e a escola.” E esta: “Quando entro numa sala após uma aula, e vejo arrumadinhos os alunos e as carteiras, aí verdadeiramente não houve aula.” Ao se aproximar o final do ano, costumava orientar seus comandados: “Todos nós, Direção, funcionários e professores, devemos nos vacinar contra o cansaço e o estresse, para conseguirmos levar nosso trabalho até o final, atenuando os atritos”. Com que alegria escancarava sua própria casa, juntamente com a esposa, Tia Ângela, nas confraternizações natalinas! Ora puxava travessuras, ora insultava (alvinegro que era) os torcedores do Fortaleza. Levava-nos, uma, duas vezes por ano a excursões, em que nada pagávamos. Quão saudáveis e inesquecíveis aqueles finais de semana! Temperamental, reclamava incontinente de erros e displicências. Contudo, quando excessivo ou inoportuno, não tardava o pedido de desculpas. Era também generoso no reconhecimento e no elogio. Então partiste, mestre... Muitos dezembros passarão, mas tuas idéias e teus ideais continuam e te imortalizam junto aos amigos, aos ex-alunos e à família, que tão bem cuida deste outro teu filho tão querido, o nosso Deoclécio Ferro. Nos braços do Pai, descansa em paz, guerreiro. Olímpio Araújo

O único gol – Vai, Manel! Faz o gol, cara!... Aah!... Era sempre assim. Todas as vezes que o botavam no time. Os outros que ficavam de fora incentivavam, gritavam... 234


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Quando inventaram de fazer o time, já se sabia que só uns três batiam na bola direitinho. Afinal, era uma brincadeira, não eram profissionais... Que que tinha se perdessem? Podiam ganhar algumas vezes... O importante era praticar esporte, pular, correr na quadra, suar, baixar a barriga. Era mais um motivo para o grupo se reunir... O Manel chamava logo a atenção de todo mundo. Desajeitado. Correndo como quem está amarrado. Dava pancada sem nem saber como... Mas com a continuação, o rapaz – inteligente e aplicado – foi prosperando. Pelo menos na raça. Jamais chegaria a um craque. E o esforço foi sendo recompensado. As risadas irônicas foram cedendo espaço aos aplausos. – Menino, isso é tu mesmo?... Olha... passou até pelo Edson... Mas o goleiro pegou!... – Lá vai de novo! Chuta, Manel!... Eita, o Batista tirou mesmo na hora!... E passou a entrar parte dos treinos no time de cima. Só faltava fazer o gol. Como jogava de cabeça baixa, facilitava o desarme pelos adversários, ou chutava para fora. Naquele jogo, o time vencia, tranqüilo: 4 x 1! O outro time era mais fraco, sem dúvida. Faltavam cinco minutos para o final. Alguém grita: “Bota o Manel!!” Aí, começa o coro: “Man...nel! Man...nel! Man...nel!”. Voz do povo, voz de Deus. Manel entrou sob palmas. Estava resoluto, respondendo, ao mesmo tom da ovação: “Hoje eu faço o meu! Custe o que custar!...” No domingo passado, perdera um, só ele e o goleiro. Escorregou. Depois, noutro lance, chutou bem, mas ... o danado do goleiro – também o Batista era muito bom, o titular! – segurou firme. – Olha lá o Manel! Vai, Manel, vai!!... Agora! Chuta!... – Na traaaaave!! 235


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– Nossa! O Manel já dá pra jogar no time de cima... Só falta o gol... Pegou a bola, numa trombada com o adversário... – Foi falta, não! Caiu de maduro!... Deixou o segundo “na saudade”. Antes da aproximação do terceiro, disparou um “míssil” certeiro em direção ao gol. Apesar da surpresa e da violência do chute, o goleirão foi ágil e decidido na defesa. Não conseguiu, porém, deter a bola. – È goooooooool!... Goooool do Maneeeeeel!. – Que tubaço! Nem o Renato faz um gol desse... E o jogo acabou. Manel é só alegria ante os acenos e gritos da galera. A euforia, no entanto, pouco durou: correram a socorrer o goleiro desmaiado. Na tentativa de evitar o gol, batera com a cabeça na trave. E Manel, inconsolado – o goleiro já chegou sem vida ao hospital –, abandonou as quadras, as brincadeiras. Aquela cena iria para sempre ficar gravada na memória. Como é que pode? Por que, por que, meu Deus, tinha que ser assim? De que valeu este triste e único gol?

O que você ‘tá esperando?... Sá vai à Sé? Se for Sá, você vai? Sá, Sé, se, si, só, Sul. E o Norte? Morte?! Mas eu não morro... Socorro! Não, não salve o povo!... Ele tem a força! Força, povo, força de novo... 236


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Força do povo, força do novo! O novo não se inventa... constrói-se. Eu acredito... E você? Pois vá contar pro Sá! Vá, não fique só! Tire os olhos da Sé! (Mas sem perder a fé...) Se você não aceita Que o Norte exista Tão-somente para prover o Sul. Então?!...

Olímpio Araújo

Verde-mar O dia passa e não me enervo, fácil relevo toda maçada... Se cai a noite, um fogo ardente, um doce açoite me enche a mente. Pouco mais tarde, meu corpo arde Com teu calor. Mimos e beijos... Cresce o desejo, E o meu amor. És, Margarida, Suave rosa, felicidade Que conquistei. 237


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No teu sorriso Me realizo. Tudo suponho no teu olhar de verde-mar. Que belo sonho!...

Olímpio Araújo

E já se foi um ano... (12/09/2006 – 1º. Aniversário de morte de minha mãe) Apesar do pouco ócio, A cabeça em devaneio, Vou precisar de algum ópio, Ou usar de outro meio. Modinhas cantaroladas Na cadeira de balanço. Conversas ela puxava, Já confusa e em voz mansa. O Ceará joga quando? Dizem que vai haver guerras... No meu quarto vi um santo, Mas quero ficar na terra. Meu filho, estou quase cega... Como pode ser assim?! Mas a Deus a gente entrega, Que a todos protege, sim. Ai, Senhor, eu não sabia Que doía tanto assim... Que a velha mãe faria Tanta falta para mim... 238


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Seus cuidados, seus carinhos, Às vezes, grosseiro o jeito; Mas eu era seu menino, E eu sem entender direito... Dela muito me restou Com a teimosa lembrança: Entre outras me deixou Amor, fé e esperança.

Para você, Fernanda! Você se preocupa demais, Exageradamente, até. Eu entendo você, Fernanda!... Esse seu medo de morrer Também é meu... Afinal, a vida é tão preciosa!... Medrosa, nervosa, “inocente”... Prefiro ver sua solidariedade, Sua capacidade de interagir... Quem de você se aproxima É que percebe melhor: Amiga, atenta e atenciosa. Você é gente, Fernanda. Gente cada vez mais minoria, é verdade. Mas gente seleta, gente que constrói.

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Que pode reconstruir este mundo. Este mundo... Tantas e tantas brilhantes inteligências!... E tão pouco sentimento... Você está certa. Eu entendo você, Fernanda!...

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Olímpio Araújo


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M. MURILO de ARAÚJO – cadeira nº 22 Manoel Murilo de Araújo nasceu no distrito de Itapebussu, município de Maranguape, em 19 de agosto de 1944. Passou sua primeira infância na terra natal, onde teve seus primeiros estudos: alfabetizado por sua mãe, Carmelinda Francisca se Sousa Araújo, e os primeiros anos no Grupo escolar Antônio Marques de Abreu. Ênfase aqui para a professora Mazinha, grande mestra. De 1956 e 59, vai estudar no seminário franciscano de Canindé e no seminário de Capuan-Caucaia CE, onde conclui seu primeiro grau (hoje Ensino Fundamental). Esse tempo de seminarista lhe valeu uma boa base para os estudos do segundo grau (Ensino Médio) que só veio acontecer na sua maioridade. Cumpre ressaltar que Murilo tem o gene literário do seu pai José Henrique de Araújo, escrivão do Registro Civil do cartório de Iatapebussu – escritor autodidata. Abandonando os estudos por determinado tempo, tem uma vida meio desregrada no âmbito familiar: casa-se muito jovem e é mal sucedido. Tem como seu primeiro trabalho o de trocador de ônibus e, em seguida, o de motorista na empresa de ônibus, onde é tratado como pessoa da família, do proprietário Raimundo Costa da Silva. O referido empresário juntamente com sua esposa D. Mariinha o incentivam a voltar a estudar, seguindo o modelo dos seus outros irmãos: José Expedito, João Batista e José Olímpio. Sentindo, enfim, a necessidade de “crescer”, segue o conselho de seus patrões e volta com “toda a força” aos estudos. Fixa residência em Fortaleza com a mãe e os irmãos. Casa-se novamente, agora, com sucesso: uma união que só lhe trouxe ajuda e incentivo. Trabalha ainda algum tempo como motorista de ônibus. Consegue aprovação nas provas do Supletivo do Segundo Grau, 241


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e, em seguida, no curso de Direito da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), bacharelando-se em 1983. Ainda universitário, em 1977, assume o magistério, passando a lecionar no Curso Pedro II e no Colégio Santa Cruz. Depois, nos colégios: Deoclécio Ferro, Santa Maria Gorete, Crhistus, Santo Inácio, Zênite... Ingressa no Curso de Letras, o que acontece na Universidade Estadual do Ceará (UECE), concluindo-o em 1992. Faz especialização em Planejamento Educacional (Pós-Graduação) pela Universidade Salgado de Oliveira (NIVERSO), 1991. Escreveu algumas apostilas especiais de preparação para a Escola Técnica Federal do Ceará (hoje, CEFET); concursos públicos e Vestibulares. Só em 2006 consegue publicar seu primeiro livro “Desnvolvendo a Habilidade de Escrever”, em parceria com seu irmão José Olímpio – livro que traz toda a sua experiência de professor, de modo prático, criativo e didático para o educando em geral. Atualmente, leciona em importantes colégios de Fortaleza: Equipe, Lima Nogueira e Catulo da Paixão Cearense (escola pública municipal).

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Juvenal Galeno: “Pioneiro do folclore no Nordeste” (patrono) Juvenal Galeno da Costa e Silva – o grande nome da poesia popular cearense. Perito observador do ambiente campestre: lavradores, vaqueiros, poetas e cantores populares; da natureza: serras, árvores, pássaros, mar (destaque para os jangadeiros). Reproduz, portanto, nos seus versos os costumes, as crendices, as brincadeiras, os sentimentos e a bravura do homem simples. O seu objetivo primordial era “representar o povo brasileiro”, notadamente o cearense e por extensão todo o nordestino. Grande poeta, mas de uma notável simplicidade. Juvenal Galeno, conforme observa Sânzio de Azevedo, mostrou-se tímido ao enfrentar pela primeira vez o público ao qual seus versos se destinavam. Diz Juvenal Galeno na abertura dos “Prelúdios Poéticos”: “Quando lerdes este livro, lembrai-vos do seu título da tenra idade de quem escreveu, e sede indulgentes.” Juvenal Galeno da Costa e Silva veio ao mundo no dia 27 de setembro de 1836, filho de agricultor bem sucedido, José Antônio da Costa e Silva e Maria do Carmo Teófilo e Silva. O pai o queria trabalhando na área agrícola, mandando o filho para o Rio de Janeiro especializar-se em assuntos de lavoura, mas quem já traz a estrela de poeta só tende a brilhar. Conhece na grande cidade Machado de Assis, Quintino Bocaiúva e Joaquim Manuel de Macedo, isso quando se torna amigo de Paula Brito, proprietário de uma famosa tipografia. Foi assim que seus primeiros escritos começaram a aparecer na revista Marmota Fluminense, onde escrevia Machado de Assis. Seu livro de estréia “Prelúdios Poéticos” é de 1856, considerado por Mário Linhares e Antônio Sales como “o marco inicial da literatura cearense”. Nesse livro já se vê, podemos considerar, 243


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dois símbolos de sua cearensidade: o primeiro “A Jangada” símbolo já consagrado: Agora vamos ter o deleite de navegar n´A Jangada do nosso querido poeta: (I) Minha jangada de vela, Que vento queres levar? Tu queres vento da terra, Ou queres vento do mar? Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

( II ) Aqui no meio das ondas Das verdes ondas do mar, És como que pensativa, Duvidosa a bordejar! Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

( III ) Saudades tens lá das praias, Queres n´a areia encalhar? Ou no meio do oceano Apraz-te as ondas sulcar? Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

( IV ) Sobre as vagas, como a garça, Gosto de ver-te adejar, Ou qual donzela no prado Resvalando a meditar: Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

(V) Se a fresca brisa da tarde A vela vem te oscular, Estremeces como a noiva Se vem-lhe o noivo beijar:T Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

( VI ) Quer sossegada na praia, Quer nos abismos do mar, u és, oh minha jangada, A virgem do meu sonhar: Minha jangada de vela, Que ventos queres levar?

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( VII ) Se à liberdade suspiro, Vem liberdade me dar; Se fome tenho-ligeira Me trazes para pescar: Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

(VIII ) A tua vela branquinha Acabo de borrifar; Já peixe tenho de sobra, Vamos à terra aproar: Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

( IX ) Ai, vamos que as verdes ondas, Fagueiras a te embalar, São falsas n´estas alturas Quais lá na beira do mar: Minha jangada de vela, Que vento queres levar? Neste poema, vê-se que Juvenal Galeno é poeta popular com passagens pinceladas pelo eruditismo. O segundo símbolo – “O Cajueiro” – destacando nacionalmente o Ceará – “Cajueiro Pequenino”: Vejamos agora a proximidade que Juvenal Galeno tinha com os elementos da natureza; no caso, o desabafo da reminiscência infantil que o poeta faz com o cajueiro. (I) Cajueiro pequenino Carregadinho de flor, À sombra das tuas folhas, Venho cantar meu amor, Acompanhado somente Da brisa pelo rumor, Cajueiro pequenino, Carregadinho de flor.

(II) Tu és um sonho querido De minha vida infantil, Desde esse dia... me lembro... Era uma aurora de abril, Por entre verdes ervilhas, Nasceste todo gentil, Cajueiro pequenino, Meu lindo sonho infantil. 245


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(III) Que prazer, quando encontrei-te, (IV) Nascendo junto ao meu lar! Cresceste... se eu te faltasse, Este é meu, este defendo. Que de ti seria, irmão? Ninguém mo venha arrancar! —Afogado nesses matos, Bradei e logo cuidoso, Morto à sede no verão... Contente fui-te alimpar, Tu que foste sempre enfermo, Cajueiro pequenino, Aqui neste ingrato chão! Meu companheiro do lar. Cajueiro pequenino, Que de ti seria, irmão? (V) Cresceste... crescemos ambos, Nossa amizade também; Eras tu o meu enlevo, O meu afeto o teu bem; Se tu sofrias... eu, triste, Chorava como... ninguém! Cajueiro pequenino, Por mim sofrias também!

(VI) Quando em casa me batiam, Contava-te o meu penar, Tu calado me escutavas, Pois não podias falar; Mas teu semblante, amigo, Mostravas grande pesar, Cajueiro pequenino, Nas horas do meu penar!

(VII) Após as dores... me vias Brincando ledo e feliz O “tempo-será” e outros Brinquedos que eu tanto quis! Depois, cismando a teu lado, Em muito verso te fiz... Cajueiro pequenino, Me vias brincar feliz!

(VIII) Mas um dia... me ausentaram... Fui obrigado... parti! Chorando, beijei-te as folhas... Quanta saudade senti! Fui-me longe... muitos anos Ausente pensei em ti... Cajueiro pequenino, Quando obrigado parti!

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(IX) Agora volto, e te encontro Carregadinho de flor! Mas ainda tão pequeno, Com muito mato ao redor... Coitadinho, não cresceste Por falta do meu amor, Cajueiro pequenino, Carregadinho de flor.

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João Clímaco Bezerra reitera minhas palavras sobre o popular-erudito desse nobre poeta: “Juvenal Galeno, que tanto se valeu da poesia popular, não foi, todavia, um poeta espontâneo e sem cultivo literário, como a maioria dos improvisadores de desafio que povoaram os sertões nordestinos notadamente na segunda metade do século passado.” Sânzio de Azevedo também adverte: “Juvenal Galeno era um romântico, mas com uma particularidade que faz dele figura ímpar nos quadros da poesia cearense ou mesmo brasileira: a inspiração genuinamente popular. É claro, porém, que sua poesia não pode confundir-se com a arte do povo inculto.” O ponto mais alto da lavra poética de Juvenal Galeno apareceu já na sua maturidade com o lançamento de “Lendas e Canções Populares” (1865), mais tarde em 1892, numa nova edição: “Novas Lendas e Canções”. Já com residência fixa no Ceará, foi diretor da Biblioteca Pública, cargo que exerceu até 1908 (afastado por haver perdido a visão). Foi sócio e fundador do Instituto do Ceará; e é Patrono, na Academia Cearense de Letras, da cadeira n.º 23, ocupada por sua filha Henriqueta Galeno. Ainda em vida tem o prazer de ver a criação da Casa Juvenal Galeno, por suas filhas Henriqueta e Juliana. Em 7 de março de 1931, deixa Fortaleza rumo ao céu.

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Autor ainda de A MACHADADA, POEMA FANTÁSTICO (versos satíricos), 1860; PORANGABA (poemeto), CENAS POPULARES, 1871, 2ª ed. aumentada 1902; CANÇÕES DA ESCOLA, 1871; LIRA CEARENSE, 1872; FOLHETINS DE SILVANUS (prosa), 1891. Fica aqui registrada a seleção de alguns dados da biografia do agora meu patrono, Juvenal Galeno da Costa e Silva, da cadeira n.º 22 desta seleta Academia – AMLECE , que me abriu os braços numa recepção carinhosa de todos os meus novos irmãos. M. Murilo de Araújo

FONTES: AZEVEDO, Sânzio de. Aspectos da literatura cearense. Fortaleza, Edições UFC/ Academia Cearense de Letras, 1982. BARREIRA, Dolor Uchoa. Aspectos da Literatura Cearense. Organizada pela Academia Cearense de Letras e editada pela Imprensa Oficial,1957 308 p. Eleuda de Carvalho, Jornal O Povo, 20.03.2006.

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O bom brasileiro Tudo estava preparado. Apenas esperavam a ordem do diretor para começar o hasteamento da Bandeira. — Um momento, por favor! Acho que não está certo... Já que vamos hastear a Bandeira, façamos algo diferente... Todos se voltaram para o novo professor, sem acreditar no que viam: parar o início de uma solenidade dessa forma... — Desculpe-me, Sr. Diretor, primeiro deve ser cantado, ou melhor ainda, declamado o hino da nossa Bandeira; em seguida, cataremos com toda efusão e respeito o Hino Nacional. Ninguém conseguia entender o porquê desse contratempo. Tudo parado; todos estáticos. E o professor, eufórico, continuou: — Luisinho, Beatriz, Arilo e Clara, venham aqui. Todos se posicionem respeitosamente para fazerem a declamação do hino da Bandeira, como lhes ensinei em sala de aula. Em seguida, entoaremos o Hino Nacional, como de praxe. Fica bem mais interessante e de um civismo maior. — Mas, professor!... Interrompeu Luisinho. — Já sei, não sabem de cor a letra do hino, mas como já previa, trouxe algumas cópias e... Tudo certo. Vamos?! O jogral no momento do hino da Bandeira foi belíssimo, e o coro geral do público, uma maravilha... Muitos aplausos... e o diretor, pasmo, diante do que via. “Seria um sonho? Não, tudo real; que invenção bendita!” Já na sala de aula: – Agora, minha gente, como incentivo, darei um ponto na prova parcial para quem me disser os nomes dos autores da letra e da música dos dois Hinos. Como? Ninguém?! Vou melhorar: dois pontos na prova bimestral para quem declamar ou cantar, sem cópia. O hino da nossa Independência... Meu Deus, que falta de civismo!... 249


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O diretor que acompanhara o professor até a classe, vendo todo aquele silêncio da turma, confessou que tinha, também, “culpa no cartório”. O professor desabafou: — O que realmente acontece é que não existem mais aqueles momentos cívicos d´outrora nas escolas. Viva então o Catulo da Paixão cearense, escola pública municipal de Fortaleza, que dá o seu exemplo de BOM BRASILEIRO, mostrando, principalmente, esses dois símbolos nacionais cultuados sempre que há comemorações de destaque. M. Murilo de Araújo

POR QUE se erra tanto o PORQUÊ? A turma estava um pouco apreensiva. De repente... — Olá, pessoal! Qual o ............... de tanto silêncio! — Ora, professor – disse um dos alunos – o seu atraso nos deixou assim. Mas não se preocupe ............... tudo já está em ordem. O mestre, bastante satisfeito com a recepção dos alunos, começou eufórico: — O assunto inicial é ortografia: o uso de certas letras e palavras que, geralmente, apresentam dúvidas. — O senhor não se apresentou primeiro, .................. ? falou Margarida, a mais extrovertida da turma. — ........... ?! Eu não fiz isso? Murilo, o novo amigo de vocês. E aí, alguma dúvida? Só para relembrar, veja o quadro:

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PORQUE = porquanto (conjunção explicativa ou causal); é empregado nas respostas, explicações e causas. Ex.: Não fui à praia porque choveu. PORQUÊ = substantivo (vem, geralmente, antecedido de artigo ou pronome); é o nome da palavra ou sinônimo de motivo. Ex.: Você acha complicado o emprego do porquê? / Não consigo entender o porquê de tantos problemas. POR QUE = por qual motivo no início, ou dentro da frase. Ex.: Por que há tanto egoísmo entre os seres humanos? / Você, por que não adquiriu ainda o livro Desenvolvendo a habilidade de Escrever? Também (separado sem acento) POR QUE: = pelo(a) qual, pelos(as) quais. Ex.: Há vários ideais por que devemos lutar. POR QUÊ = por qual motivo, no final da frase ou com pausa acentuada (ponto, vírgula, ponto-e-vírgula) – vale também para a palavra que. Ex.: Você não veio , por quê? / Ela foi muito grosseira, não sei por quê, não sei para quê. (Do livro Desenvolvendo a Habilidade de Escrever) Complete, agora com segurança, as lacunas do texto acima. M. Murilo de Araújo

Acendeu-lhe uma luzinha Carlinhos não sabia como “ganhar” o avô. Imaginou um e outro plano. Tudo já tinha feito, mas nenhum resultado positivo. Somente o velho poderia “dobrar” o pai. Acendeu-lhe então uma luzinha: 251


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– Vô, o senhor já foi criança, certo? – Certo, por quê? – Criança sofre muito, né? – Velho mais ainda, meu filho! O menino viu que ia perder novamente, Resolveu aliar-se ao avô: – Vozinho, vamos fazer um acordo? Você é o pai do meu pai, manda nele; então pegue o carro dele e vamos nos mandar pro açude... O senhor fica botando “a minhoca n´água”, pegando seus peixes, e eu tomando meu banho, Assim, ninguém manda em ninguém... M. Murilo de Araújo

Escolas literárias Barrendo Baco o banzo sentimento. Amargo sentir sempre a pedir: Rezando, mostrando arrependimento. Rindo, às vezes, do próprio sofrimento; Onera palavras até em medir. Conspira, inspira, suspira na lira O som sibilado à voz seletiva. Aprimorando o teor conceitista, Reduz o cultismo do vate artista. Cantando, compondo o canto campeiro, Ainda aprova o inconfidente mineiro. Ditosos ditames dita Dirceu. Impõe o real no mais nobre apogeu; Simples, porém, no escrever todo seu, Mudando o rumo da época altista, Onde se vê o brado do neoclassista. 252


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Romântico é deveras sonhar: Ontem, hoje, amanhã, sempre a vagar, Malhando o sentir nas asas do tempo, Antevendo e vendo o tempo chegar. Não importa assim a voz da razão. Tudo nas rédeas do coração. Inda busca no íntimo inspiração, Suprindo o sentimento solene, Modernizando, sim, o antigamente Onde se faz aquilo que se sente. Realidade abate o sentimento, Extrapola a realeza cordial, Através da veia material. Lapida bem a esfera realista: Imparcialismo e molde iluminista. Simílimo à lida do classicista. Moderno retrato da era atual Onde apenas impera o cetro real. Simbolismo, sentimento, simplismo. Introspecção, buscando a união. Misterioso: mítico e misticismo. Brilho, cores, coração, devoção. O grito do não ao materialismo. Lirismo, louvação, libertação. Indutismo, senso, suposição... Sincretismo seleto: artista arteiro. Musicalidade e metaforismo Onde se vê raias do Romantismo.

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Muita liberdade com realismo, Onde está o artista bem verdadeiro: Diz e faz como quer, sem formalismo. Entusiasta da arte e bem altaneiro. Ri, desdenha, pisa e sem moralismo. Nutre esperanças de um mundo fagueiro. Intenso lavor e um não ao purismo. Sincretismo seleto: artista arteiro. Mais luta, mais gosto, mais aforismo, Onde a liberdade se faz primeiro.

M. Murilo de Araújo

AMLECE Amigos Muito Leais; Educadores Coerentes, Especiais. Amplitude na amizade, Magna no magistério. Legal luta da lealdade, Encontro de entes egrégios. Centro de caros cultores, Enlace de vates e prosadores.

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M. Murilo de Araújo


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Tudo passa... Os séculos, os anos, os meses, os dias, as noites, as horas... Passa a infância, a adolescência passa; corre a fase adulta, a velhice voa... Tudo passa... Só não passa a vontade de viver.

M. Murilo de Araújo

Gostoso idioma Já não posso entender-te?! Entender-te não é fácil... Fácil, porém, pois és dócil. És a razão do meu saber. Vivo sempre ao teu encalço, Não te deixo um só instante, Pois tens a magia e o laço Para prender-me, excitante. Em muitas bocas te vejo: Bem dita e de bom disfarce; Desamada, desconheço. Já te sinto num abraço, Já bem sinto o nosso enlace: PORTUGUÊS gostoso te acho.

M. Murilo de Araújo 255


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GENTIL TEIXEIRA ROLIM – cadeira no. 23 GENTIL TEIXEIRA ROLIM é filho de Gonçalo Gomes Teixeira e Maria Olívia Rolim e nasceu em Iguatu, CE. É casado com Maria do Socorro Lopes. O casal tem três filhas Adriana, Luciana e Juliana. Aposentado como fiscal fazendário e instrutor da Divisão de Treinamento da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará; atualmente, exerce a coordenação de acompanhamento do ICMS de vários municípios cearenses, além de Sócio-Administrador da empresa GENTIL - CONTROLES E SERVIÇOS MUNICIPAIS LTDA-ME. Concluiu o 2º. Grau (hoje Ensino Médio), como Técnico em Contabilidade, na Escola Técnica de Iguatu, e cursa Ciências Contábeis na Universidade Estadual Vale do Acaraú. Participou de vários seminários e congressos no Ceará e em outros estados nas áreas de Relações Humanas, Legislação Tributária, Administração. Foi professor de Legislação Tributária, na escola Técnica de Comércio em Iguatu-Ce, (1977); Instrutor de Legislação Tributária nos Cursos de Máquina Registradora, Emissor de Cupom Fiscal e pdv, normativo, teórico, prático e normas de fiscalização - Divisão de Treinamento do Departamento de Recursos Humanos - SEFAZCE. em Fortaleza, de 1988 a 1995. Exerceu vários cargos de chefia na SEFAZ. Foi Secretário de Finanças da Prefeitura Municipal de Fortim, no período de janeiro de 1993 à abril de 1994. Recebeu elogios formalizados pelo então Secretário da Fazenda, General Assis Bezerra, através da Portaria Nº. 032/79, datada de 12.03.79, publicada no Diário Oficial de 16.03.79.

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Foi condecorado com o título de cidadão jaguaretamense, pelos relevantes serviços prestados à comunidade, outorgado por maioria absoluta de votos pela Câmara Municipal de Jaguaretama, no Palácio Bezerra de Menezes, em 29 de agosto de 2004, conforme resolução nº 03/2004 datada de 02 de julho do mesmo ano. É Vice-Presidente da AAFEC-Associação dos Aposentados Fazendários Estaduais do Ceará, no biênio de 2006/2007, reeleito para o triênio 2008/2010. Autor do livro “MEMÓRIAS DA SEFAZ” (Gráfica Encaixe, 2006), ocupa a cadeira nº. 23 da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará – AMLECE.

Alcântara Nogueira (patrono) FRANCISCO DE ALCÂNTARA NOGUEIRA, nasceu na cidade de Iguatu, Estado do Ceará, na Rua Floriano Peixoto, em 15 de abril de 1918. Descendente de uma das mais antigas famílias da terra, era filho de Alfredo Nogueira de Castro, antigo comerciante e agricultor, e D. Maria Alcântara Nogueira (Maroca). Fez o Curso Primário (primeiros anos escolares) em sua cidade natal, transferindo-se depois para Fortaleza (CE), onde cursou o Ginasial (últimas séries do atual Ensino Fundamental) e o Científico (Ensino Médio), partindo posteriormente para o Rio de Janeiro. Abraçou de inicio a carreira de Medicina, em 1935, afastandose da mesma para seguir aquilo que o destino histórico lhe havia determinado: o DIREITO e, logo após, também a FILOSOFIA. Aos 18 anos ingressa na Faculdade Nocional de Direito e, em seguida, faz também Filosofia, tornando-se um mestre respeitado nas ciências juristas e na área da ciência geral dos princípios e causas, que o colocariam, mais tarde, em situação de real destaque no cenário das letras nacionais. Foi desta forma bem acertada a escolha para quem, segundo um dos amigos e contemporâneo, Dr. Edival de Melo Távora, já aos 13 anos revelava suas qualidades de grande 257


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orador e, aos 15, já penetrava nos pensamentos transformistas de Hegel e Darwin. Ainda na década de 30, desperta para o Jornalismo, passando a escrever em revistas e jornais cariocas, sempre com segurança e seriedade, abordando principalmente assuntos na área filosófica que abraçara triunfalmente ao lado do Direito. Quando de férias na sua terra, destacava-se ora no terreno do esporte, notadamente voleibol e futebol, ora na parte intelectual, na qualidade de freqüentador assíduo do Grêmio Literário Humberto de Campos, do qual figurava como orador oficial, demonstrando, sempre pujança e idealismo, ao lado de grandes companheiros de então, como José Julio Cavalcante, Abelmar Ribeiro da Cunha, Filgueiras Lima, Gomes Moreira, etc. Advogado, mestre do Direito constitucional, filósofo de renome nacional, escritor emérito, jornalista, professor catedrático, foi lente da Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, da fundação Getúlio Vargas e da Universidade Federal do Ceará. Na década de 40, ao lado do grande político baiano João Mangabeira, ingressou no Partido Socialista Brasileiro (PSB), participando de várias campanhas, inclusive concorrendo a uma cadeira de deputado estadual, pelo Ceará, embora sem êxito. Entre as principais obras de sua autoria, além de diversas traduções, destacam-se: Três Valores do Espírito (com Prefácio de Clovis Beviláqua), livraria Freitas Bastos, 1944; Universo (tratado de Filosofia Racional), Rio de Janeiro Irmãos Pongetti-Editores, 1950; Idéias vivas e idéias mortas (com prólogo de Rodolfo Teófilo), Rio de Janeiro. Organizações Simões Editora, 1957; O Pensamento Filosófico de Clóvis Beviláqua (Prefácio de Hermes Lima), Rio de Janeiro, Departamento Administrativo do Serviço Público. Serviço de Documentação, 1959; Farias Brito, filósofo do espírito, Rio de Janeiro, Livraria Freitas Bastos S.A. Editora 1962; Iguatu (Memória Sócio-Histórico-Econômica), 1ª Edição, Fortaleza. Editora “Instituto do Ceará” 1962 (2ª Edição, Revista e ampliada, Fortaleza. 1985); 258


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O Método racionalista histórico em Spinoza (Prefácio de Miguel Reale), São Paulo, Mestre Jou Editora, 1976; O Pensamento cearense da segunda metade do século XIX (Prefácio de Pinto Ferreira), Fortaleza, Instituto Brasileiro de Filosofia (Secção do Ceará), 1978; Filosofia e ideologia, São Paulo, 1979; Conceito ideológico do direito na escola de Recife (Nota prévia de Alceu Amoroso Lima), Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1980. Dotado de grande valor moral e respeitado em todas as rodas intelectuais do Estado, tinha uma impressionante disposição para a pesquisa e leitura, deixando, ao morrer, grande e preciosa biblioteca, junto com um rico acervo em jornais, revistas, documentos e correspondências. Em 1988, por ocasião da Festa de Confraternização realizada na cidade de Iguatu, nos dias 16 e 17 de junho, foi escolhido pelos remanescentes do antigo Grêmio Literário Humberto de Campos (hoje denominado Clube dos Oito), para ser o orador oficial na homenagem póstuma ao Monsenhor José Coelho de Figueiredo Rocha, sendo, no ato, representado pela filha mais velha, que fez a leitura do discurso por ele preparado. O seu nome, com uma relação bem considerável de seus feitos, consta da pasta de nº 178, de valoroso acervo histórico, político e cultural organizado em Fortaleza (CE), pelo ilustre iguatuense Dr. Edival de Melo Távora. Após sua morte, ocorrida em Fortaleza, em 26 de março de 1989, a Administração Municipal de Iguatu, à época, capitaneada pelo Prefeito Hildernando José Bezerra Moreira, prestou-lhe significativa homenagem, assegurando-lhe lugar bem destacado em nossa história, através da denominação de uma Praça Pública com o seu nome ao centro da qual se acha erguido o seu busto, fato solenemente acontecido em festividade realizada em 26 de julho de 1990. Posteriormente, já na administração do Prefeito Marcelo Sobreira, deu-se a inauguração solene, em meio a um seleto público, do MUSEU DA IMAGEM E DO SOM PROFESSOR FRANCISCO ALCÂNTARA NOGUEIRA, instituição criada pela Lei nº 016/89, de 24.04.89, da 1ª administração Hildernando José Bezerra Moreira. 259


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(ste trabalho, de autoria de Wilson H. Lima Verde, foi preparado e organizado com base em pesquisas realizadas em acervos históricos e literários.)

CRÔNICAS RETIRADAS DO LIVRO MEMÓRIAS DA SEFAZ (DE AUTORIA DE GENTIL TEIXEIRA ROLIM) O fumante Estávamos em serviço em certa Coletoria do interior, quando de súbito, entra o Secretário da Fazenda, acompanhado de um dos seus assessores, que tinha a fama de tabagista, fumava feito caipora, embora não gostasse muito de comprar cigarros. Tão logo chegou à Repartição (todo mundo naquele suspense devido à presença do Secretário), o assessor virou-se para um fiscal e foi logo perguntando: “Você fuma?” O colega levou um susto e respondeu nervosamente: “Fumo sim... mas se o senhor quiser, eu deixo agora mesmo.”

Mal-entendido Conheci também um colega que não deixava passar nada, sempre que podia. Certa vez, quando fiscalizava uma sapataria, procurando saber se a nota fiscal estava registrada no Livro de Entrada de Mercadoria, o contribuinte perguntou: “Qual é o número?” Ao que ele respondeu imediatamente: “O meu é 38, e o do colega é 40”. Só que o contribuinte se referia ao número da nota.

Não sabia tirar leite Havia também um soldado da PM que andava muito no Posto Fiscal. Uma vez me confidenciou: “Eu só não sou fiscal igual a 260


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vocês porque fui muito tolo”. E prosseguiu: “Uma vez recebi um convite de um chefe político para trabalhar na fazenda e não aceitei porque não sabia tirar leite. Depois foi que fiquei sabendo que a Fazenda a que ele se referia era a SEFAZ”.

Professor de auto-escola Outro dia, mais uma vez, quando tomava umas e outras, um colega resolveu dar umas voltas com a namorada em um bairro afastado do centro da cidade, e começou a ensinar-lhe a dirigir; de repente passou por eles um amigo da esposa, que se pôs a fitá-los insistentemente. Ele, então, teve, uma idéia: interrompeu a aula de direção e foi bem caladinho para casa, e disse para a esposa: “Minha filha, você vive me pedindo para aprender a dirigir, não é? Pois bem, aproveite agora, enquanto estou com vontade.” E saiu com a esposa para o mesmo local onde estivera antes com a namorada e, com uma paciência de causar espanto, começou a ensinar-lhe, ladeira abaixo, ladeira acima. Quando voltaram para casa, ele já foi logo ouvindo a empregada dar um recado: “Dona Zulmira já telefonou três vezes, querendo falar com a senhora.” A mulher ligou para a amiga, e ele só ouvia a esposa dizer: “Não minha amiga, você está enganada, era eu mesma.” Quando terminou o diálogo, a esposa contou: “Sabe o que a Zulmira estava me dizendo? Que te flagrou lá na saída da rua, ensinando uma mulher a dirigir.” Ele abriu um sorriso e aproveitou para, mais uma vez, provar sua inocência e respondeu cinicamente: “Isso é para você ver, mulher, como o povo tem inveja da nossa felicidade.”

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MAILDE ROCHA – cadeira n.° 24 Biografia da acadêmica Mailde Maria Rocha Teixeira nasceu em 1957, na cidade de Uruburetama, Estado do Ceará. É formada em pedagogia pela UVA, além de outros cursos como Gestão Escolar, Ciências Físicas e Biológicas, Recursos Humanos. Dedicou-se muito cedo ao trabalho com crianças e pais. Já na infância escrevia pequenos contos e poesias Em seu livro de estréia Renascer (poemas), mostra a nova criatura em que se transformou. Professora, diretora, alfabetizadora de jovens e adultos. Versada em literatura de cordel é também poetisa. Atualmente membro da Academia Municipalista de Letras do Ceará – AMLECE, ocupante da cadeira nº 24.

Adolfo Caminha (patrono) Escritor cearense, um dos principais representantes do naturalismo no Brasil, sua obra, densa, trágica e pouco apreciada na época, é repleta de descrições de perversões e crimes. Adolfo Ferreira Caminha nasceu no dia 29 de maio de 1867 na cidade de Aracati. Ainda na infância se muda com a família para o Rio de Janeiro. Em 1883 ingressa na Marinha de Guerra, chegando ao posto de segundo-tenente. Cinco anos mais tarde se transfere para Fortaleza, onde é obrigado a dar baixa, depois de seqüestrar a esposa de um alferes, com a qual passa a viver. Trabalha como guardamarinha e começa a escrever. Em 1893 publica A Normalista, romance em que traça um 262


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quadro pessimista da vida urbana, “esse acervo de mentiras galantes e torpezas dissimuladas”. Vai para os Estados Unidos e, das observações da viagem, resulta No País dos Ianques (1894). No ano seguinte provoca escândalo, mas firma sua reputação literária ao escrever Bom Crioulo, obra na qual aborda a questão do homossexualismo. Colabora também com a imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Já tuberculoso, lança o último romance, Tentação, em 1896. Morre no Rio de Janeiro no dia 1º de janeiro de 1897. A Normalista é a história chocante de um incesto em que a personagem principal é seduzida pelo padrinho. Já O Bom Crioulo trata das minorias sexuais condicionadas pelo ambiente. O personagem Amaro, O Bom Crioulo, se envolve amorosamente com um jovem grumete, que acaba sendo seduzido por uma portuguesa. A descoberta da traição leva Amaro a assassinar seu amante.

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Não era sonho Não foi apenas um sonho, Nem uma mera ilusão. Encontrei, no meu caminho, Um amor, que entrou no meu coração. Fiquei transbordada De tanta felicidade; Com minha vida transformada, Do meu passado, já não sentia saudade. Não foi uma mágica, Não foi imaginação. Aconteceu tudo de repente, Com tanta emoção... Amor assim não tem igual. Não adianta tentar, É um amor sobrenatural, Que se precisa provar. E aonde iremos achar Esse amor assim? Basta apenas aceitar Essa forma de amar!

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A flor que renasceu Tudo começou assim: Uma flor triste, sem calor, Até parece que era o fim; Mas, sem perceber, nasceu o amor. A flor que floresceu, Aqui no meu jardim. O sol resplandeceu, Bem quentinho assim. A flor já não é triste, O seu sorriso brilhou! O caminho já abriste, Foi quando tudo começou. Essa flor sou eu. Hoje vivo a cantar. Essa flor nunca mais sofreu. Hoje só vivo para amar.

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Liberdade Liberdade, tenho sim. Liberdade é amor. Liberdade não é fim, Liberdade é o Senhor. Liberdade, liberdade! De cantar e de chorar. É muita felicidade, E só vivo a cantar. Liberdade você sabe? Se não sabe, comece a pensar. Liberdade só se sabe No dia em que aceitar. Aceitar o Senhor Jesus, Sem medo de se decepcionar, Porque ele traz a luz, A vida, e os sonhos faz realizar.

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Fé Fé é a nossa fortaleza, É nossa restauração, Nos trás tanta firmeza, Até mesmo na escuridão, Escuridão da nossa vida, nos problemas que vem; não podemos ficar abatida, nem mesmo no vai-e-vem... No vai-e-vem dessa vida, muitas vezes fico a pensar: tem tanta gente sofrida, que não queira imaginar. Mas se você tem fé, ninguém vai lhe segurar; você vai vencer até a sua benção chegar.

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MARIA NIRVANDA MEDEIROS – cadeira. n.° 26 Maria Nirvanda Medeiros, nascida em Camocim-Ceará, no dia 15 de outubro de 1941, filha de Francisco das Chagas Medeiros e Joaquina Teixeira Medeiros. “Tive uma família muito grande, graças a Deus, pois tive a felicidade de meus pais me darem 11 irmãos, sendo 6 homens e 5 mulheres. Para tristeza da família, já faleceram nossos pais e uma irmã. Aos nove anos de idade vim para a Capital (Fortaleza) estudar, pois nossos pais não gostariam que seus filhos permanecessem no interior. Cheguei em Fortaleza em julho de 1951, indo morar na residência de meus tios Raimundo Medeiros Sobrinho e Antonia Medeiros, onde encontrei felicidade, paz, minha prima EUNICE, que me orientou e me acompanhou até meu casamento”. Após terminar o curso normal contrai matrimônio com Raimundo Medeiros Sobrinho em 1964, ainda acadêmico de Medicina. Deste enlace matrimonial, feliz união conjugal, que durou até o falecimento do Dr. Medeiros, 2008, tiveram quatro filhos: Pedro Jorge Medeiros – advogado, casado com Eveline Chaves Weimar Medeiros – pedagoga; Adda Christiane Medeiros – psicóloga, casada com João Daniel Moreira – contabilista; Jorge André Medeiros – advogado, casado com Maria do Céu Studart Mattos Cruz Medeiros – publicitária; Raimundo Medeiros Júnior – empresário, noivo de Juliana Rosa, universitária. Hoje, a família está acrescida de seis netos: Natasha, Pedro Jorge Medeiros Filho e Marina (filhos de Pedro Jorge e Eveline); Sarah, Christiane e Maria Clara (filhas de Adda e Daniel). Cursei as primeiras letras no recanto materno; as séries iniciais (Curso Primário à época) no Grupo Escolar dos Merceeiros; e o Curso Ginasial (hoje 6ª à 9ª série do Ensino Fundamental) e o Curso Normal 268


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(ensino Médio profissional para professor) no Instituto de Educação. É licenciada em pedagogia e pós-graduada em Administração Escolar e em Supervisão Escolar, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); e ainda especializada em Psicopedagogia, pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), além de várias outras na área de Educação. Como profissional, lecionou nos três níveis: fundamental, médio e universitário. Foi Supervisora Escolar da Educação de Jovens e Adultos, (Liceu do Ceará e Instituto Cearense de Surdos e mudos); Vice-Diretora da Escola de 1º grau Joaquim Nogueira. Muito atuante nas áreas educacional e literária: Presidente da ACEPE (Associação Cearense de Creches e Pré-Escola) – 1992 a 1996; .Presidente da 4ª jornada da ACEPE (Associação Cearense de Creches e Pré-Escola); Membro efetivo da Comissão Cultural da ALFE (Associação Lojista Feminina do Ceará); Sócia Efetiva da AJEB (Associação das Escritoras Jornalistas do Brasil); Participação nas AJEB – Letras (2003) e Policromias 2º volume (2005), com poemas; Presidente da Escola de Pais do Brasil, Secção Fortaleza-CE; Membro do Conselho Deliberativo da Escola de Pais do Brasil – secção Fortaleza – Ceará; Diretora-proprietária do Instituto Educacional O Brasinha. Participou dos seguintes trabalhos: Dados Culturais: Livro: Domadora 100%; Organização e artigos da Revista da ALFE – 25 ANOS; Organização e artigos do jornal da ALFE; Organização e Artigos pedagógicos do Jornal do Colégio “O Brasinha”; Organização e Artigos das Revistas da Escola de Pais do Brasil – Secção Fortaleza (Ceará); Organização e Artigos do Jornal – “SEARA – JOVEM” (Leo Clube); Vários artigos publicados na Revista do Clube do Médico sobre Educação; Poemas e artigos – na revista AJEB – Letras e Policromias; Organização e artigos no Livro da Academia Leonística de Cultura no Ceará – (sete volumes); Palestras em várias Convenções do Lions Clube, Distrital e Nacional; Participação da Convenção Internacional – Lions Clube; Curso de Educação para Família (EPB) Nacional; Vários cursos de aperfeiçoamento para 269


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professores; Curso de Dinâmica de Grupo; Palestras em várias Comunidades-escola de Pais; Organizadora do Livro Rememorando Dias Felizes de Raimundo Medeiros Sobrinho; Sócia Fundadora da Academia Leonística de Cultura no Ceará – Cadeira nº 25; e Presidente no biênio 2002/2004; Membro da Academia Municipalista de Letra do Estado do Ceará AMLECE, cadeira n.ª 26.

Panegírico do patrono (Dr. Clovis Beviláqua) Clóvis Beviláqua, filho de José Beviláqua (que foi deputado provincial por muito tempo) e de Martiniana Aires Beviláqua, nasceu em Viçosa – Ceará, em 4 de outubro de 1859 e faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de julho de 1944. Iniciou os seus estudos na cidade natal, ingressando, em 1872, no Ateneu Cearense. Daí transferiu-se para o Colégio oficial de Fortaleza, em 1875. Com 17 anos, em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu nos estudos freqüentando o Externato Gaspar e o antigo Mosteiro de São Bento, concluindo os preparatórios juntamente com Paula Ney e Silvia Jardim. Em 1878, embarcou para Recife, iniciando os estudos jurídicos na renomada Faculdade. Com Martins Júnior, começa a publicar o folheto Vigílias Literárias e, a seguir, o jornal A Idéia Nova. Ambos trabalharam no Jornal República, nos folhetos Escalpelo, Estenógrafo e o Crime de Vitória. Ao concluir o curso, em 1882, foi escolhido para orador da turma. Ingressou na carreira de magistrado em 1883, ao ser nomeado promotor Público de Alcântara, no Maranhão. No jornalismo fez campanha pela República e, após a proclamação, foi eleito deputado à Assembléia Constituinte pelo Ceará. Foi a primeira e a última vez que ocupou uma posição política. Em 1884, já casado com dona Amélia de Freitas, prestou concurso para professor de Filosofia da Faculdade de Direito de Recife. Iniciou, então, a série de obras jurídicas que o credenciaram 270


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perante o país para desincumbir-se da missão que lhe foi atribuída pelo Presidente Epitácio Pessoa, em 1899, convidando-o a colaborar com o anteprojeto do Código Civil Brasileiro. Veio para o Rio de Janeiro em março de 1900 e, em outubro do mesmo ano, terminava sua obra. A matéria passou a ser estudada no Congresso Nacional. No Senado, foi Rui Barbosa encarregado de estudar o projeto e dar o parecer. A demora por parte deste começou a impacientar, mas ninguém sabia o que estava Rui Barbosa a fazer. Quando, afinal, apresentou o parecer, era um trabalho monumental em que examinava, particularmente, tudo que dizia respeito à vernaculidade do projeto de Clóvis Beviláqua, deixando de lado tudo que dizia respeito à matéria jurídica, para se lançar em questões gramaticais de toda ordem. É que para Rui Barbosa a firmeza e propriedade das expressões eram de capital importância. A esse propósito travou-se uma longa polêmica entre Rui Barbosa e o filólogo Carneiro Ribeiro. Em sessões públicas memoráveis Clóvis Beviláqua defendeu seu trabalho. Somente depois de dezesseis anos de discussão, em 1º de janeiro de 1919, o seu anteprojeto era transformado no Código Civil brasileiro, libertando-nos, afinal, das Ordenações do Reino, que tinham vindo da época colonial. Em 1906, o Barão do Rio Branco nomeava-o Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores, onde se manteve até 1934. Em 1920 foi convidado a fazer parte do Comitê dos Juristas no Conselho da Sociedade das Nações. Com a condição de não se ausentar do Brasil, aceitou, colaborando, no importante convênio. Continuou publicando novos livros de literatura e direito, sobretudo os Comentários ao Código Civil, em seis volumes. Em obras especiais estuda diversas partes do Código: Direito de Família, Direito das Obrigações, Direito das Causas. Consta que Clóvis Beviláqua deixou de freqüentar a Academia quando ela recusou o pedido de inscrição que fez sua mulher, a escritora Amélia de Freitas Beviláqua, para concorrer à vaga de 271


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Alfredo Pujol, sob a alegação de que as mulheres não podiam ser Acadêmicas. A sua carta de inscrição é de 29 de maio de 1930. A gazeta de Notícias, de 20 de agosto de 1926, já informava que eram três a cadêmicos que se afastaram definitivamente: Oliveira Lima, Graça Aranha e Clóvis Beviláqua, e por essa razão não votaram para eleger o sucessor de Mário de Alencar, na cadeira nº 21. Clóvis Beviláqua, jurista, magistrado, jornalista, professor, historiador e crítico. Suas obras: Vigília Literária, 2 folhetos, em colaboração com Martins Júnior (1879 – 1882); A filosofia positiva do Brasil (1884); Estudos de Direito e Economia Política (1886); Épocas e Individualidade (1889); Teoria Geral do Direito Civil (1890); Lições de Legislação Comparada sobre o Direito Privado (1893); Frases e Fantasias (1894); Direito de Família (1896); Juristas Filósofos (1897); Código Civil Comentado, 6 volumes (Edições tiradas separadamente, por volume; edição completa (1916); Direito das Obrigações (1896); Em Defesa do Projeto do Código Civil Brasileiro (1906); Princípios Elementares de Direito Internacional Privado (1944).

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Amigo Amigo é muito raro, mas quando se tem é um tesouro. Sinta-se orgulhoso, se o encontrou, porque, realmente é difícil. Amigo de verdade: Está sempre disposto a dar a mão na hora da alegria, da tristeza; nos momentos de conquista, nos momentos de perdas. Amigo de verdade: É o que sabe perdoar; sabe amenizar a dor; sabe se envolver no contratempo; sabe se enveredar no pesadelo. Amigo de verdade: É uma mão que te guia, quando te encontra em dificuldade; É uma segurança; É um tesouro. Amigo de verdade: É o que acolhe teus sonhos; É o que te ouve; É o que te mostra a maravilha da vida; É o que deseja teu sucesso; É o que te ama de verdade. Amigo de verdade: É felicidade. Maria Nirvanda Medeiros

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Meu amor (Homenagem ao Medeiros) Medeiros, Pra mim, tu és amor Desde que te conheci Ao teu lado com fervor No momento em que nasci Sempre me sinto segura Quando estou ao teu lado Querendo minha augura Sentindo-me confortada Longos anos de amor Sempre com compreensão Para mim és um beija-flor Completando coração Quarenta e três anos Sempre com felicidade Quatro filhos criamos Eterna felicidade. Maria Nirvanda Medeiros

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GLADSON MOTA – cadeira n.º 27 Gladson Wesley Mota Pereira nasceu em Fortaleza (CE), aos 27 de julho de 1973. Filho de Dalton Pereira e de Maria da Conceição Mota Pereira. Casado com Isabelle Balreira Fontenelle, com dois filhos: Arthur e Gabrielle. Cursou Direito, em 1995, na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Apresenta ainda em seu currículo as seguintes especializações: Pós-Graduação em Direito Constitucional (UNIFOR, 1997); Pós-Graduação em Direito Empresarial (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2002); MBA em Gestão empresarial (Fundação Getúlio Vargas, 2005). Advogado militante, é atualmente sócio de Torzzini Freire Advogados, tendo sido sócio da Mota Advogados Associados (19952001) e Assessor Jurídico nas áres trabalhista e tributária do Grupo Edson Queiroz. Ex-Conselheiro e ex-presidente da Comissão de Exame de Ordem da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Ceará, exerce atualmente cargos de grande importância sociocultural: Presidente da Associação dos Advogados do Brasil (ABA), Secção do Ceará; Membro da Comissão da Sociedade de Advogados da OAB-CE; associado à Academia de Direito Tributário; conselheiro da Associação dos Advogados Trabalhistas do Ceará; Professor de Prática Trabalhista no Curso de Direito da Faculdade Christus. Autor de diversos artigos, dentre os quais: yy Procedimento Sumaríssimo, publicado no Jornal Diário do Nordeste (24/04/2000); yy A incompetência da justiça do trabalho para apreciar os litígios oriundos da relação jurídica existente entre as caixas de previ275


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yy yy yy yy

dência privada fechada e seus associados, publicado no Boletim IOB de Jurisprudência (2001); Multa não aplicável ao processo do trabalho, publicado no Jornal Gazeta Mercantil (05/03/2007); Inaplicabilidade: Nova lei não se aplica ao processo do trabalho, publicado no Jornal trabalhista Consulex (nº 1167, 23/04/2007); Revisão sim, extinção não, publicado no jornal O Povo (10/01/2008); Mercado desigual, publicado no jornal O Povo (03/03/2008).

Gladson Mota foi eleito para a cadeira Nº 27 da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará (AMLECE) e tem como patrono José Martins Rodrigues.

José Martins Rodrigues (patrono) Nasceu em Quixadá, Ceará, a 2 de setembro de 1901. Filho de Martinho Rodrigues Sobrinho e Isabel de Almeida Rodrigues. Professor Catedrático de Direito Civil da Faculdade de Direito do Ceará. Jornalista dos mais atuantes fundou “O Estado”, colaborando também no “Correio do Ceará” e “O Nordeste”. Membro do Conselho Federal de Educação, Consultor Jurídico do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica. Como Deputado Estadual, foi líder da maioria no governo Matos Peixoto. No governo Menezes Pimentel assumiu a pasta da Fazenda. Deputado Federal, exerceu a liderança do PSD, na Câmara dos Deputados. Exerceu, ainda, os cargos de Secretário do Interior e Justiça, Secretário da Agricultura e Membro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Foi fundador do MDB, no Ceará e a nível nacional, sendo membro das Comissões de Orçamento e de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Trabalhos Publicados: 276


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yy “Ensaios Jurídicos” na Revista Forense e na Revista de Direito Administrativo; yy Efeitos jurídicos do silêncio; yy Trabalhos literários e discurso parlamentares sobre temas de direito e de política.

Mercado desigual Em outubro deste ano, vamos comemorar os vinte anos da promulgação da Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”. Não obstante os avanços trazidos, há muito o que refletir sobre a realidade, ainda cruel, quando a igualdade estabelecida para nossa Carta Magna refere-se ao mercado de trabalho. Nela são vedados a diferenciação salarial e os critérios de admissão em função de sexo, idade, cor ou estado civil. No entanto, não é preciso grande esforço para percebermos que a desigualdade entre homens e mulheres e entre brancos e negros ainda é flagrante no mundo do trabalho. Recentes dados do IBGE, referentes aos indicadores sociais dos últimos dez anos, dão conta de que pretos e pardos recebem, em média, 40% menos do que os brancos. Além disso, segundo o Ministério do Trabalho, os homens ganham 17% a menos do que as mulheres que ocupam as mesmas funções, apesar da taxa de escolaridade das mulheres ser mais alta (7,4 anos, em média, contra 7,2 dos homens). Esses números são vergonhosos diante de uma constituição que prevê como objetivo fundamental da nossa República, dentre outros, a construção de uma sociedade justa, e que promova o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Felizmente podemos observar alguns avanços. Recentemente, o Ministério do Trabalho divulgou estudo comprovando que, no Amapá e no Distrito Federal, as mulheres já estão ganhando mais do que os homens, em funções que exigem níveis de escolarização mais elevados. 277


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É preciso repensar esse quadro, como mudanças firmes na legislação e no comportamento, investindo na base, sobretudo na universalização do ensino de qualidade. Do contrário, essas diferenças históricas permanecerão como vergonhosos dados estatísticos de nosso País, tornando letra morta os objetivos fundamentais de nossa República. Gladson Mota (Publicado no Jornal O Povo, 06/03/2008)

Multa não aplicável ao processo do trabalho Em junho de 2006 entrou em vigor a Lei 11.232/05, que alterou o Código de Processo Civil (CPC), prevendo novas regras para o cumprimento da sentença judicial. Entre as novas disposições, há a previsão de multa para o devedor condenado que não efetuar o pagamento no prazo de 15 dias, sendo essa multa de 10% do valor devido. A iniciativa legislativa buscou trazer maior celeridade e eficácia ao cumprimento das sentenças judiciais. Entretanto a nova lei não se aplica ao processo do trabalho, como vem sendo equivocadamente entendido por alguns doutrinadores e juízes. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina que, quando requerida a execução, será expedido mandado de citação ao executado para que ele cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as condições estabelecidas. Quando se tratar de pagamento em dinheiro, o devedor deverá pagar em 48 horas ou garantir a execução, sob pena de penhora, sendo que a execução poderá ser garantida mediante depósito do valor, atualizado e acrescido das despesas processuais, ou por meio de bens à penhora. Por outro lado, quando o devedor não efetua o pagamento da importância reclamada nem garante a execução trabalhista, seus bens serão penhorados até que bastem para o pagamento da importância, acrescida de custas e juros de mora, calculados a partir da data em que foi ajuizada a reclamação inicial. Portanto, como se vê, a execução de sentenças trabalhistas tem um rito 278


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próprio, não sendo a ela aplicáveis as regras introduzidas pela Lei 11.232/05. Somente na fase de conhecimento, a legislação processual poderá ser aplicada arbitrariamente à CLT, visto que, para a fase executiva, é prevista a aplicação da Lei de Execuções Fiscais. Desse modo, apenas em caso de omissão da CLT e da Lei de Execuções Fiscais é que podem ser aplicadas as regras de cumprimento de sentença prevista no CPC. No entanto, não se pode falar em omissão no caso em questão, pois tanto a CLT quanto a Lei de Execuções Fiscais dispõem de regras próprias para as execuções, sem dispor a respeito da fixação do prazo de 15 dias para pagamento do valor devido sob pena de multa de 10%. O sistema de execução trabalhista é suficiente na regulamentação da matéria. Quando o devedor não paga o valor a que foi condenado, é expressamente previsto na CLT que haverá penhora de bens suficientes para o pagamento do débito, acrescido de custas e juros de mora. Existe, portanto, previsão expressa das conseqüências em caso de não pagamento ou não prestação de garantia pelo executado, não se podendo falar em omissão da CLT que justifique a aplicação das regras do CPC. Entender de forma contrária seria violar os princípios da legalidade e do devido processo legal, colocando em xeque a segurança jurídica. Gladson Mota (Publicado no Jornal Gazeta Mercantil, 05/03/2007.)

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TARCÍSIO MENDES DE ARAÚJO – cadeira n.º 28 Nasceu na cidade de Sobral em 14 de Julho de 1936, filho de Antônio Cláudio de Araújo e Ana Guaraci Mendes de Araújo. Cursou o 1º. Grau (Ensino Fundamental) no Ginásio Sobralense e o 2º. Grau (Ensino Médio) no Colégio Marista Cearense. Em 1953, entra como sócio na empresa em que seu pai era acionista majoritário atuando na atividade de beneficiamento de algodão e extração de óleo. Inicia como tesoureiro, mas logo em seguida vira diretor de vendas. Nos idos de 1983, fui convidado a participar de outra empresa, desta feita em sociedade com seu irmão em uma fábrica, cuja atividade era a industrialização de tinta e corretivo de solo. nova atividade era estruturar todo o setor de vendas e expandir o mercado para todo interior do Estado. Como Diretor do Centro dos Exportadores do Ceará, incrementou, junto à classe exportadora, o sentido de preservar a qualidade dos nossos produtos, tipificando-os de modo mais amplo, distinguindo-os dos demais em outros Estados. Fez vários cursos de formação teológica, como: Curso Bíblico – Antigo e Novo Testamento. Pe. Caetano MInett de Lesse; Curso de aprofundamento doutrinário e histórico da Bíblia; Curso de Aconselhamento; Curso de Oração Meditativa (os três últimos com José Edmundo Facó Magalhães da Cunha). Tem ainda Cursos de HARDWARE, REDES E SOFTWARE, realizado na “MICROLINS – Centro de Formação Profissional”. Dedica-se, atualmente a palestras e a escrever sobre aconselhamento espiritual. Orientador Espiritual na Comunidade Jesus de Nazaré (João XXIII Conselheiro Espiritual). Palestrante 280


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nas áreas de: Espiritualidade, Importância do Pensamento, Família e Relacionamento. É considerável o trabalho de Tarcísio Mendes, como palestrante: crônicas publicadas nos jornais – Diário do Nordeste e O Povo; palestras no Desafio Jovem, hospitais, Rotary Club, Encontro de Casais com Cristo, em várias paróquias de Fortaleza; participação semanal, às quintas feiras, na Rádio Dom Bosco na “Hora da Família”, de 12h20min as 13h00min.

Livros Lançados yy Nós, Quem Somos? Na esteira da atual crise de transição que arrasta o mundo na passagem da era moderna para a chamada pós-moderna, destacase o fenômeno da crescente deteriorização do relacionamento humano, secundado pelo desprezo dos valores morais, que provocam a recusa de qualquer código de ética na condução da coisa pública e na estruturação da vida familiar. A mentalidade materialista dominante, dos mais variados matizes, afeta hoje profundamente os formadores da opinião pública, e a prática hedonista se instala no âmago do comportamento humano dentro do lar e no seio da sociedade. As conseqüências funestas destes desvios reducionistas vêem confirmadas diariamente nos noticiários e programas transmitidos, sempre recheados de cenas de violência e de vilezas, que degradam e denigrem os nossos meios de comunicação social. Este livro objetiva ajudar os leitores a encontrar o caminho da verdadeira felicidade, capaz de integrar todo homem e o homem todo na aventura da vida aberta ao próximo, homens e mulheres, bem como a todo o universo.

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yy Como Alcançar a Felicidade Qual sentido teria a vida, se não o de ser feliz? Embora tenha sido o maior intento do ser humano, em todos os tempos, por que temos assistido no decorrer da história, tantos desatinos no seu caminhar? Dentro do contexto do nosso universo, somos a obraprima do Criador e fomos criados a sua imagem e semelhança, destacando-nos das demais criaturas, pelos inumeráveis dons recebidos, os quais têm nos qualificado como os senhores da terra. Se por meio do discernimento fomos capazes de sair das cavernas, vencendo todas as intempéries – desde os primórdios da vida, dominando o fogo, criando a roda e tantas outras inovações fantásticas... – hoje, já estamos viajando pelo espaço sideral, em busca de outras aventuras e, então, questionamos: por que o homem não consegue associar às suas incontáveis conquistas ao seu maior intento? A felicidade; é este o objetivo primordial deste livro, apresentar os inúmeros obstáculos, como vencê-los e conseqüentemente alcançarmos a tão almejada felicidade. yy O Dilema da Comunicação O homem, por índole, é, um ser sociável e, para viver esta experiência, utiliza-se do relacionamento como fundamento desta convivência. Assim, a comunicação é o elo entre os seres humanos, tornando realidade este grande sonho. Questiona-se, entretanto, o seguinte: se esta é grande aspiração dos seres da nossa espécie, por que existem tantas resistências, lutas, disputas e guerras na busca deste intento? Já se encontra em fase de elaboração o quarto livro e levará o seguinte título: “Os Porquês da Ética”. Resultado de muitas pesquisas, apresenta uma crítica sobre os vários aspectos do comportamento humano, principalmente naquele relativo ao título.

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Filgueiras Lima (patrono) Nasceu a 21 de maio de 1909, em Lavras da Mangabeira, filho de Silvino Filgueiras Lima e Cecília Tavares Filgueiras. Em 29 de Julho de 1927, aos 18 anos de idade, ocupou as funções de inspetor regional do ensino, cargo em que se efetivou, por concurso em 1931. Em 1932, fundou com outros a revista pedagógica “Educação Nova” de que foi redator-chefe, depois transformada em órgão da antiga diretoria geral de instrução pública do ensino no Ceará. Em fevereiro deste mesmo ano foi nomeado chefe do Serviço de Estatística Educacional daquela diretoria. Nos anos de 1931 e 1932, ocupou interinamente o cargo de diretor geral da instrução. Em dezembro de 1933, conquistou atravez de concurso (1º lugar) a cadeira de Didática da Escola Normal Pedro II, hoje Instituto de Educação. Em 1934, exerceu os cargos de Inspetor do Ensino Normal e de Assistente Técnico do Ensino. Publicou em 1932, o livro “Festa de Ritmos”, obtendo menção honrosa de poesia da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 1933, colou grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito do Estado do Ceará. Em 1936, foi paraninfo da 1ª turma de concludentes do curso de aperfeiçoamento de professores do Instituto de Educação. Manteve durante o ano de 1937, uma página pedagógica no jornal O Povo. Manteve pela estação da Ceará Rádio Clube um programa cultural intitulado “Arte e Pensamento”. Fundou a revista literária “Fortaleza”, de que foi um dos redatores. No mês de fevereiro de 1938, fundou com o Dr. Paulo Sarasate o Instituto Lourenço Filho, hoje Colégio Lourenço Filho, de que foi diretor mais de 25 anos e onde ensinou os métodos e técnicas da pedagogia fundamental. Era seu orientador e supervisor, na qualidade de presidente do conselho técnico educacional. 283


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Em 1939, representou o Ceará numa reunião de intelectuais brasileiros promovida pelo prestigioso jornal A Gazeta, de São Paulo, em cujo auditório proferiu uma conferência sobre a vida e a obra de José de Alencar, sob o título A Literatura Cearense na Formação do Sentimento Nacional, a qual foi publicada em folheto pelo órgão paulistano e meditada pela imprensa universitária sob o título “Alencar e a terra de Iracema”, durante as comemorações do centenário daquele romance. No dia 30 de novembro de 1939, teve assento na Academia Brasileira de Letras, onde foi recebido e saudado pelo acadêmico Aloysio de Castro. Em 1944, publicou seu segundo livro de poesias intitulado “Ritmo Essencial”. O poeta Filgueiras Lima foi membro do Conselho Deliberativo do Instituto Brasil Estados Unidos no Ceará – IBEU/CE desde sua fundação em 1943 até 1949, passando pelas presidências de Edgard Cavalcante Arruda, Faustino de Albuquerque e Sousa, Daniel Augusto Lopes e Carlos Ribeiro. Em fevereiro de 1946, foi convidado pelo Interventor Federal, Ministro Pedro Firmeza a ocupar as funções de Secretário de Educação e Saúde do Estado do Ceará (era cargo de caráter técnico), permanecendo nas interventorias do Coronel Machado Lopes e do Desembargador Feliciano de Atayde. Durante a sua administração fundou 350 escolas, instalou gabinetes dentários para grupos escolares do interior, delegacias regionais do ensino, reformou o ensino normal e primário, criou a diretoria de fiscalização e orientação de ensino, promoveu várias campanhas educativas. Representou o Ceará no 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos em fevereiro de 1947, de cuja sessão de instalação foi orador oficial pronunciando uma conferência sobre “A Educação de Adultos na Democracia”. Representou os diretores de escolas privadas do Ceará, em Belo Horizonte, em julho de 1946. Em nome das delegações dos Estados pronunciou um discurso onde defendeu o tema “Educação para a Liberdade e para a Paz. 284


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Em 1949, representou o Ceará no Congresso de Educadores realizado na capital da Bahia, no qual apresentou uma tese sobre ”Metodologia das Ciências Sociais” impressa pela editora do Instituto do Ceará. No ano de 1950, por solicitação do Ministro da Educação e Cultura, prestou sua colaboração ao Departamento Nacional de Educação, cooperando com a campanha de educação de adultos. Neste ano de 1951, foi nomeado diretor do Instituto de Educação do Estado do Ceará. Nesse mesmo ano ocupou a cadeira de Didática Geral da Faculdade de Filosofia do Ceará. Atendendo a convite especial, em 1954 e 1956, tomou parte em reuniões pedagógicas e congressos levados a efeito em Recife e São Paulo, pela Diretoria do Ensino Comercial. No primeiro, apresentou um trabalho sobre “Ensino Comercial” como modalidade de educação geral e no segundo sobre “Ensino Moderno das Ciências Sociais”. Publicou, em 1956, o livro “Terra da Luz” edição da Livraria Freitas Bastos, coletânea de poemas sobre seu Estado. Era presidente do Conselho Estadual de Educação, cargo que exercia há mais de dez anos e para o qual foi reconduzido quando da reorganização do Conselho, em virtude dos dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ocupava na Academia Cearense de Letras a cadeira 21, fundada por Antônio Sales a quem sucedeu e da qual é patrono José de Alencar. Era membro efetivado do Instituto do Ceará, sócio fundador do Instituto do Nordeste. Foi professor da cadeira de “Relações Humanas” da Escola de Administração do Ceará e também presidente do Conselho Fiscal do Serviço Especial de Educação e Cultura, desde sua instalação. Publicou pela livraria Freitas Bastos o livro de versos “O Mágico e o Tempo” em tardes de autógrafos, no Rio e em Fortaleza, 285


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deixaram antevendo-se o brilhante sucesso a ser por ele alcançado. No dia de lançamento do livro em nossa capital, foi agraciado com a medalha de honra do Município, pelo prefeito de Fortaleza, Murilo Borges que na mesma data – 14 de julho –, sancionou a Lei nº2571 que lhe concedeu o título de cidadão de Fortaleza. Faleceu na madrugada do dia 28 de Setembro de 1965, deixando viúva D. Amazonina Braga de Filgueiras Lima, com quem se consorciara em 1935 e de quem teve os filhos Rui, Antônio e José. Em 26 de Janeiro de 1973, em caráter post-mortem, o poeta e educador Filgueiras Lima foi agraciado com a medalha Justiniano de Serpa. A solenidade de entrega das medalhas aconteceu no palácio da Abolição e contou com a presença do Governador do Estado, Dr. Plácido Castelo e do ministro da educação Senador Jarbas Passarinho. A medalha Justiniano de Serpa foi contemplada a doze professores que se destacaram por serviços prestados à área da educação no Ceará. Gostaria de expressar nesta oportunidade a minha grande alegria por ter escolhido como meu patrono a insigne personagem de uma das maiores expressões da poesia alencarina, o bacharel em ciências jurídicas, o ilustre professor, educador e representante da cultura cearense em várias oportunidades, o inesquecível Filgueiras Lima, de quem me sinto orgulhoso pela sua elevada competência, dignidade, humildade, honradez e tantos outros qualificativos de que faz jus a sua autêntica personalidade. Tarcísio Mendes de Araújo

Um Gesto de Amor Na simplicidade de certas pessoas existe uma força interior que as anima a disponibilizar toda sua vida em benefício dos menos favorecidos. Interessante é que quase sempre são pessoas de pequena posse e, no entanto, encontram meios de conseguir o necessário para ajudar aos quantos possam dela necessitar. Uma destas é a 286


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minha querida amiga “Lili”. Sempre a tenho visto preocupada com contas d’água, luz, aluguel etc, solicitando das pessoas amigas uma pequena contribuição, não para si, mas para os seus necessitados. Ao conversarmos com ela, sentimos a sua empolgação, ao traçar os objetivos da sua comunidade, principalmente quando relata o crescimento deste trabalho, quer com os adolescentes, crianças, gestantes, ou ainda com as mães solteiras, não somente para ajudá-las materialmente, mas acima de tudo ensinando-lhes uma profissão capaz de lhes render no futuro a condição de continuar sozinhas. São vários cursos: corte e costura; trabalhos manuais com madeiras, com gesso; confecção de pãezinhos; etc. Eu a conheci há alguns anos pelo nome de Raimunda Nascimento de Lima, mas todos a chamam carinhosamente de Lili. Que Deus te abençoe minha querida amiga. Tarcísio Mendes de Araújo

O futuro está em nossas mãos “Solidariedade e Paz” anunciam o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Mas como ser solidários para construir a PAZ, quando vivemos permanentemente ameaçados e com medo? (Pe. Darci Luiz Marin) Como ocorre anualmente no início da Quaresma, a Igreja lança a Campanha da Fraternidade, com o intuito de estimular os cristãos à paz e a concórdia, resultantes da vivência do amor, tão insistentemente ensinado por Jesus. O tempo urge e, se não agirmos com presteza, ele escorregará pelos dedos das nossas mãos sem que nada tenhamos realizado! O momento é agora, até porque nada é possível fazer entre as duas eternidades – o ontem e o amanhã. Por mais poderosos que possamos ser nada será possível 287


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alterar daquilo já feito no passado; no amanhã, se estivermos vivos, só poderemos construir algo quando este for novamente o hoje de sempre, porque somente nele poderemos realizar. Se fizermos uma breve reflexão, veremos as incoerências da vida: o homem conquistou a Lua há várias décadas, mas não foram solucionados ainda os problemas seculares do nosso planeta como as secas, a fome e outras atrocidades pendentes em nosso dia-a-dia; parece ter sido ontem, quando o supertelescópio Hubble, filmou o berçário das estrelas mostrando o nascimento de um corpo celeste; entretanto nas maternidades da vida terrena continuam as mesmas agressões, como o aborto, o abandono dos filhos através do divórcio e outras tantas aqui não mencionadas. Os avanços na Genética são tão rápidos quanto polêmicos (embora reconheçamos os inegáveis avanços desta ciência, contudo é necessária a ampliação destes debates, com o intento de obtermos uma melhor avaliação de possíveis conseqüências futuras). Estamos na era digital, portanto, multiplica-se no dia-a-dia a informatização do nosso planeta, permitindo a comunicação imediata com qualquer país do mundo; todavia, a nossa comunicação em casa, no trabalho, com os nossos irmãos, está cada vez mais deficiente. Vivemos atualmente a solidão das massas – em meio a uma multidão de pessoas é possível sentir-se sozinho(a). Percebe-se claramente no seio da sociedade um estado de apreensão, insatisfação e revolta, mesmo nas cidades de menor porte, aonde ainda não chegaram as guerrilhas urbanas hoje existentes, embora não declaradas. Tudo isto é fruto do desamor, causando a insegurança do ódio, que por sua vez faz nascer as mágoas e os ressentimentos, os quais são facilmente transformados em desejos de vingança e estes acabam marginalizando a criatura. Somente a solidariedade, a fraternidade conduz à verdadeira paz; não aquela paz dos cemitérios, mas aquela conseguida pela luta daqueles que, com suor e lagrimas, a tenham promovido. Assim agiu o nosso amado Jesus. Tarcísio Mendes de Araújo 288


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TAXAS & AUMENTOS Vivemos atualmente uma experiência impar em nosso querido Brasil. Isto porque, após algumas décadas de inflação astronômica, finalmente nos encontramos em uma estabilidade econômica. Apesar de alguns percalços causados por falta de administração do orçamento federal, a nossa sociedade está vivendo uma experiência que muitos jovens não haviam experimentado. Alguns artigos como, por exemplo, os eletrodomésticos, têm até baixado de preço de forma apreciável, entretanto, os produtos alimentícios têm aumentado muito mais que a inflação, causando sérios transtornos àqueles que vivem de salário mínimo. O grande problema é que a grande maioria de cearenses vive atrelada a este mísero salário mínimo, que de tão mínimo tornouse uma vergonha nacional, porquanto assumimos o posto de um dos países de menor renda per capita do mundo. Realmente esta situação é espantosa, porque num país que ostenta o título de nono lugar entre aqueles mais industrializados do mundo, tenha um contraste tão aviltante de assumir quase o último lugar deste ranque em distribuição de renda. O que mais nos entristece é a falta de sensibilidade dos nossos governantes, tentando esconder embaixo do tapete da hipocrisia, os ostensivos aumentos realizados em todas as atividades estatais, tornando assim insuportável a subsistência para aqueles que vivem de um até três salários mínimos, que infelizmente representam a nossa grande maioria, aqui no nosso Ceará. Podemos lembrar, sem haver necessidade de fazer nenhum esforço de memória, os aumentos ocorridos ultimamente: no Imposto de Renda, o aumento das alíquotas nas tabelas progressivas, aumento do preço do consumo de energia, aumento no uso das telecomunicações, aumento previsto para a água num percentual aproximado de 24%, e criação de novos impostos como o CPMF, etc, etc. Tivemos oportunidade, nesta última semana, de acompanhar através da mídia nacional, os vários debates sobre a constitucionali289


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dade deste novo imposto criado pela prefeitura de Fortaleza, quando tivemos a oportunidade de ouvir vários debates realizados por renomados expoentes da atividade econômica, sobre a tão falada “TCL” (TAXA DE COLETA DE LIXO). No entanto, não ouvimos aquela que seria a mais oportuna e a mais justa de todas as reclamações. O POVO NÃO PODE PAGAR MAIS ESTE IMPOSTO. Não se trata aqui de uma atitude de desobediência civil porque isto não deve ser feito, porquanto existem outros meios legais de conseguir os mesmos resultados. Aproveito a oportunidade para louvar a ação dos órgãos públicos e entidades de classes, que em boa hora souberam acorrer em benefício do povo sofredor de nossa terra. Todavia, tenho certeza de que a grande maioria do povão gostaria de ter ouvido através da imprensa, nestes últimos dias, as dificuldades que estão enfrentando para assumir com os parcos recursos de que dispõem, todos os compromissos como colégio, IPTU, e outros que são peculiares aos primeiros meses do ano. Se nos detivermos um pouco, veremos quão sacrificada está a nossa população. O aumento do salário mínimo verificado no ano passado foi de apenas R$10,00 e para este ano estima-se a fabulosa quantia de R$8,00; isto, sem falar do funcionário público, que não recebe aumento há dois anos. Com um misero salário somado a este desrespeitoso aumento, resta-nos obrarmos o maior de todos os milagres que temos tido notícia, desde a multiplicação de pães realizada por Jesus Cristo: o milagre da sobrevivência com um salário tão mínimo! Resta-nos apenas um apelo às autoridades constituídas da nossa terra: olhem com mais amor e caridade para este povo, que apesar de pobre e humilde, tem a garantia de direitos constitucional de igualdade e cidadania, pois é o mínimo que se pode dar a este povo para ele poder sobreviver com dignidade. A coisa mais humilhante que podemos ver num ser humano é o ato de pedir esmola. Este homem de mãos calejadas, que tem fama de trabalhador em todos os recantos do Brasil, tem direito a um pouco mais de respeito. Tarcísio Mendes de Araújo 290


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Paulo Roberto Cândido de Oliveira – cadeira n.º 29 O poeta PAULO ROBERTO Cândido de Oliveira é filho de Samuel Brasileiro de Oliveira e de Maria Laurismar Cândido de Oliveira. É formado em Engenharia Elétrica. Além de consultoria e execução de projetos e serviços de instalações elétricas de alta e baixa tensões, é instrutor educacional com o uso de softwares com síntese de voz, para inclusão digital de pessoas com deficiências visuais. Desde os doze anos escreve poesias, crônicas e textos em geral. Participou do 2º Concurso “Terça-feira em prosa e verso” da Academia Cearense de Letras, sendo agraciado com a medalha de prata como segundo lugar, no ano de 2001. Fez parte da Antologia “3 milênios de poesia e prosa” com três trabalhos publicados. Lançou seu primeiro livro de poesias em Maio de 2007 intitulado “Viagem ao Céu Particular. Tomou posse na cadeira 29 da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará-AMLECE em 27/05/2008, cujo patrono é o escritor Antônio Sales.

Antônio Sales (patrono) Poeta, dramaturgo, jornalista, Antônio Sales nasceu na então povoação praieira de Parazinho, hoje Paracuru (CE). Em 1880 já participava com seus escritos em alguns periódicos da capital cearense como “A Avenida”, “A Quinzena”, “O Domingo”, entre outros. Sem sombra de dúvidas, Antônio Sales, mais tarde, se tornaria um dos maiores nomes da literatura brasileira. Só para não deixar de citar um de seus confrades da época, Machado de Assis, o autor da perdurável obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, 291


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etc. Ainda moço Sales desfrutara do prestígio de freqüentar a alta intelectualidade cearense, como por exemplo, O Clube Literário, que segundo o professor Sânzio de Azevedo, em nota sobre os Grêmios Literários do Ceará, afirma que o poeta por esses tempos “mal se iniciara na literatura”. De família humilde, Sales chegara a Fortaleza nos idos de 1884 com apenas 16 anos; na época garantiu seu sustento como caixeiro viajante de casas comerciais, às quais lhes suprimiam as poucas horas ao lazer da leitura, fazendo-se, com muito esforço, autodidata. A poesia de Sales cedo surgiu com “Versos Diversos” (1888) e “Trovas do Norte” (1891). Em 30 de maio de 1892, no Café Java, de Mané Coco, na Praça do Ferreira, Antônio Sales idealiza a Padaria Espiritual que se destacou por sua irreverência postulando a Semana de Arte Moderna de 1922. Curiosamente os padeiros se autodenominavam com os respectivos pseudônimos ou “nome de guerra”, como por exemplo: Moacir Jurema (Antônio Sales) Félix Guanabariano (Adolfo Caminha), Lopo de Mendoza (Rodolfo Teófilo), etc. Era a Padaria Espiritual na sua primeira fase com direito a deboches e gargalhadas que mais tarde, no século XX, ganharia a cidade de Fortaleza o epíteto de “Ceará Moleque”, com direito a vaia ao sol e um certo Bode Ioiô. Segundo contam era bom bebedor de cachaça e apreciador de boa poesia, além de ter sido eleito vereador desta mesma cidade. Dentre os intelectuais que compunham a primeira fase da Padaria estavam: “Ulisses Bezerra, Sabino Batista, Tibúrcio de Farias, Álvaro Martins, Temístocles Machado. Lopes Filho e Antônio Sales”. Já na segunda fase da Padaria Espiritual, Os Padeiros, voltavam suas idéias às questões políticas e sociais sacudindo o âmago dos literatos nos primeiros anos do golpe da Republica, ou melhor, na transição monárquica – republica, no governo de Nogueira Accioly. Foi naquela agremiação literária (Padaria Espiritual) onde Antônio Sales escreveu o seu curioso estatuto - manifesto proibindo a qualquer padeiro recitar ao pia292


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no ou escrever versos em língua estrangeira e quem escrevesse em folhas perfumadas seria sujeito à pena de vaia ou expulsão. O jornal era O PÃO, veículo por onde eles divulgavam seus escritos denominados de “O PÃO DE ESPÍRITO”, arranhando a sociedade burguesa da época. “Faço lembrar um trecho de Adolfo Caminha quando descreveu o perfil social da Padaria na coluna “Sabatina”, ainda na primeira fase em 1892: “ (...) Somos obrigados a ir, às quintas-feiras e aos domingos, ali ao Passeio Público exibir a melhor de nossas fatiotas e o mais hipócrita e imbecil de nossos sorrisos. (...) Ocupamo-nos de política, mais de uma política torpe, reles, suja, indigna de ser tocada por mãos que calçam luvas de pelica. A literatura e as artes, por assim dizer, são os melhores tônicos para o espírito.” Lê-se no Artigo 2&9702; da Padaria Espiritual que os Padeiros se organizavam de um Padeiro-mor (presidente), dois Forneiros (secretários), um Gaveta (tesoureiro), um Guardalivros (bibliotecário), e os Amassadores (sócios livres). Sabe-se que o programa de instalação da padaria não se deu no Café Java, mas na Rua Formosa (hoje Barão do Rio Branco). Sales, que era inovador, jovem e inquieto, pretendia que seus artigos repercutissem lá fora, no Rio de Janeiro. E repercutiram! E com seus 48 artigos, “cujo fim é reunir rapazes de letras e artes (...) e fornecer pão de espírito aos sócios em particular e ao povo em grande parte”, fez voltar os olhos dos homens de letras do Rio para aquela agremiação literária e irreverente de Fortaleza. No 8° artigo diz bem o compromisso dos Padeiros com a literatura, onde se lê: “VIII – As Fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à exceção das quintas-feiras, e nos domingos, ao meio dia.” Ao lado de Sales, estava Adolfo Caminha, autor de O Bom Crioulo, (livro que inaugurou o Naturalismo no Brasil), Álvaro Martins, Henrique Jorge e outros de grande importância. Segundo estudiosos, a Padaria Espiritual consolidou a literatura realista cearense, inclusive com Rodolfo Teófilo, através de seu livro A Fome (1890). 293


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Sales foi presidente, ou melhor, padeiro-mor de 1892 a 1894 e dentre outros que tiveram na função de padeiro-mor podemos citar Juvino Guedes, José Calos Junior e Rodolfo Teófilo. Aos 29 anos, ou seja, em 1897, deixa o Ceará afastando-se quase completamente dos irreverentes poetas da lendária Padaria Espiritual, indo residir no Rio de Janeiro. E entre tantos valores a que chegara às elites literárias nacionais, Antônio Sales vai ao ápice colaborando na fundação da Academia Brasileira de Letras, onde em suas memórias, “Retratos e Lembranças”, publicado em 1938, deixa-nos curiosos ao relembrar a formação da ABL da qual participara: “(...) E foi naquela feia e pobre travessa da Rua do Ouvidor que veio ao mundo a Academia Brasileira de Letras. Foi Lúcio Mendonça seu verdadeiro criador e pai (...). Devo alertar que ela não foi muito bem recebida com alvoroço, pelo menos por parte de alguns habitantes da roda ilustre (...). Lembro-me de José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado de Assis, também, fez algumas objeções. Mas Nabuco e Taunay e outros concordaram (...). Restava discutir-se o primeiro grupo de imortais (...).” O inesquecível Sales viveu plenamente a época de ouro, não só do parnasianismo, mas do realismo e naturalismo brasileiro, atuando na literatura por um período de meio século. Em 1920 regressa ao Ceará, após vários anos no Rio de Janeiro, trabalhando como jornalista dos periódicos: “Correio da Manhã” e “O País” entre outros jornais da imprensa nacional. Em 1930 participa intensamente de um novo movimento, agora em prol de reorganizar a Academia Cearense de Letras, escolhendo como seu patrono José de Alencar. Sales foi presidente desta mesma entidade de 1930 a 1937. Em 14 de novembro de 1940, vítima de hipertensão arterial, falece aos 62 anos. Fecharam-se para sempre os olhos do poeta que viram uma Fortaleza que hoje é (para alguns) esquecida, obscura, distante. 294


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Publicou apenas um romance de estética realista regional, com traços também naturalistas, chamado Aves de Arribação, inicialmente publicado em folhetins do Correio da Manhã do Rio de Janeiro, em 1903 de 15 de janeiro a 6 de maio, e não em 1902, como equivocadamente registram Dolor Barreira, Pedro Nava, Wilson Martins e Otacílio Colares. Viria a ser publicado em forma de livro apenas em 1913. Até ser reconhecido como escritor, trabalhou no comércio de Fortaleza com a precoce idade de catorze anos. Anos depois, passaria pela vida de funcionário público, político e jornalista, inclusive no Rio de Janeiro. Mas voltaria à capital cearense em 1920, onde viveu até seu falecimento, em 14 de novembro de 1940. Deixou as seguintes obra: Versos Diversos, poesias (1890); Trovas do Norte, poesias (1895); Poesias (1902); Minha Terra, poesias (1919); Aves de Arribação, romance naturalista (1914).

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Pensamento pra minha mãe Paulo Roberto Mãe, quando subo ou desço uma escada, quando subo ou desço pelo elevador, penso em ti, que sempre me faz chegar no alto ou no chão, com o penhor de estar seguro e de sentir que sou uma pessoa amada. Mãe, quando passo em frente às farmácias ou diante de um hospital, penso em ti. Pode nenhum remédio existir ou algum médico me tratar mal, mas contigo sempre terei a cura do teu amor a me nutrir. Mãe, quando passo na porta dos Templos ou ao largo dos altares penso em ti. Tua Fé inabalável em mim, abençoa todo o meu ser e meus olhares para que eu encontre as luzes do caminho. Mãe, quando sinto o gosto de uma fruta ou o verdejante farfalhar da vegetação, penso em ti. Plantas, maçãs, uvas ou atas sempre lembram ao meu coração que contigo as belezas são inatas. Mãe, 296


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por onde eu passar haverá sempre o pensamento de que eu nada seria sem ter de ti, esse tão puro amar.

Virtudes senhoras Paulo Roberto Eu conheço uma parte do mundo que você não conhece: O mundo dos cegos. Uma sociedade que não esquece o poder da alegria, todas as vezes que retiramos do caminho as barreiras da melancolia e lançamos estas criaturas no terreno fértil das felizes horas, quando todos avançam as cercaduras e as virtudes se tornam senhoras. Eu conheço um mundo que não padece com seres que também têm suas deficiências, mas que renascem todos os dias como uma prece, num viver sem limitações de essências. Cantam, tocam e dançam, despertando as sonolentas consciências, adormecidas diante do pulsar da vida. Eu queria reconhecer neste mundo em que vivo aquela luz que havia se escondido entre as sombras dos egos, e que viria iluminar sem preconceitos, os corações vivos dos seres cegos. Eu acredito em outra parte do mundo que mantém acolhedor todos os peitos e com braços que procuram as margens 297


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no afã de abraçar os que têm defeitos. Acho que sonhei com o mundo das essencialidades e acordei operário no mundo das realidades...

Olhar aceso Paulo Roberto Olhos pra que te quero, imagens pra que te espero? Olhos são pra olhar, ver é pra desvendar. Vê melhor quem vê maior. O invisível é visto pelo incrível ver do invencível ser. O que vemos é o que dá vazão ao que somos e o que temos é o que vazou de onde não vemos. Olhos acesos sabem enxergar mais do que ver; fazem iluminar olhos que não vêem e acendem a esperança dos que não crêem.

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SERIDIÃO CORREIA MONTENEGRO – cadeira no. 30 SERIDIÃO CORREIA MONTENEGRO, filho de Mário Holanda Montenegro e de Maria Hilma Correia Montenegro, é natural de Fortaleza - CE, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Ceará. Exerceu o cargo de Técnico de Educação da Secretaria de Educação do Estado do Ceará e de Professor de Organização Social e Política do Brasil e de Educação Moral e Cívica do Instituto ,de Educação do Ceará. No magistério superior, lecionou “Legislação Tributária”, na União Brasiliense de Educação e Cultura - UBEC (Faculdade Católica de Brasília), “Direito Tributário”, “Prática da Tributação Empresarial” e “Direito Administrativo”, na Universidade de Fortaleza da Fundação Educacional Edson Queiroz e “Direito e Legislação Tributária”, na Escola de Administração Fazendária do Ministério da Fazenda, em Brasília. Ocupou o Cargo de Técnico de Tributação do Ministério da Fazenda e o de Fiscal de Tributos Federais, Agente Fiscal de Tesouro Nacional, Auditor Fiscal de Tributos Federais e Auditor Fiscal da Receita Federal. Exerceu o cargo em comissão de Auditor e Programador, na Coordenação de Tributação da Receita Federal em Brasília, de Coordenador do Programa Imposto de Renda, na Receita “federal em Salvador, e Chefe do Núcleo Regional de Informações Econômico-Fiscais, Chefe da Divisão de Informações EconômicoFiscais e Chefe da Divisão de Arrecadação, da Superintendência Regional da Receita Federal da 3a Região Fiscal, em Fortaleza. Foi sub-chefe de Gabinete do Vice-Governador Figueiredo Correia, exerceu o Mandato de Vereador de Fortaleza, na legis299


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latura de 1968 a 1972, pelo partido do Movimento Democrático Brasileiro, e foi 1.0 Secretário do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Municípios, Seção do Ceará. Representou o Brasil no “Seminário Internacional sobre a Implantação, Desenvolvimento e Controle de Sistemas de Gestão Informatizados, na Administração Pública e na Grande Empresa”, no Centre D’études Pratiques D’informatique e D’automatique CEPIA, Paris - França, 1982. É Pós-graduado em Planejamento do Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Brasília, em curso patrocinado pelo CENDEC/IPEN MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO. Na Receita Federal em Salvador, elaborou as monografias “Dimensionamento Quantitativo e Qualitativo dos Recursos Humanos da sa Região Fiscal” e “Causas da Improcedência dos Processos Fiscais”, e, em Brasília, publicou inúmeros Pareceres Normativos, na Coordenação do Sistema de Tributação. É Procurador da Fazenda Nacional do Ministério da Fazenda, em Fortaleza. Foi membro do Conselho Editorial da Revista Projeção, de circulação nacional. É sócio do Rotary Club de Fortaleza Benfica, do qual foi Presidente.

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Eduardo Campos (patrono) MANUEL EDUARDO PINHEIRO CAMPOS, conhecido como Eduardo Campos ou, carinhosamente, como Manuelito Eduardo, nasceu em Guaiúba, então Distrito de Pacatuba-CE, em 11 de janeiro de 1923, filho de Jonas Acióli Pinheiro e Maria Dolores Eduardo Pinheiro. Ficou órfão de pai aos quatro meses e foi entregue aos cuidados dos tios João Pereira Campos e Isabel Eduardo Campos, com quem passou os primeiros anos de sua vida ao sopé da Serra da Aratanha, em Pacatuba, mudando-se, em sua companhia, para a Rua do Imperador, 90, em Fortaleza, aos 8 anos, em 1930. Foi casado com Heldine Márcia Cortez Campos, com quem teve dois filhos, Eduardo Augusto e Elnina Márcia. Diplomou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, em 1948. Radialista, jornalista, e escritor, destacou-se como dramaturgo, teatrólogo, romancista, contista, historiador, folclorista, biógrafo, ficcionista, ensaísta, memorialista, pesquisador de História e estudioso de problemas sociais. Participou, juntamente com os escritores e intelectuais, Antônio Girão Barroso, Antônio Martins Filho, Artur Eduardo Benevides e Moreira Campos, dentre outros, do importante movimento literário cearense denominado “Clube de Literatura e Arte” - Clã. Publicou mais de 70 livros, situando-se em segundo lugar em número de publicações, dentre escritores cearenses, superado apenas por Gustavo Barroso. Foi Diretor-Presidente da “Ceará Rádio Clube”, Diretor-Geral e, depois, Superintendente dos Diários e Rádios Associados no Ceará, escolhido anos mais tarde, pelo jornalista Assis Chateaubriand, para integrar a Comissão Executiva do Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados. Diretor dos jornais Correio do Ceará e Unitário, da Rádio Araripe do Crato e da “TV Ceará” – canal 2, emissora de televisão pioneira no Ceará (novembro de 1960). Foi Presidente da Academia Cearense de Letras, por dez anos, da Academia Cearense de Retórica, da Comissão Cearense de Folclore, do 301


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Conselho Estadual de Cultura, do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, além de fundador e primeiro presidente da Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão, do Sindicato das Empresas Proprietárias de Emissoras de Rádio e Televisão de Fortaleza e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Ceará. Presidente do Conselho Superior da Associação Cearense de Imprensa e Membro do Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará. Atuou como Secretário do 1º Congresso Cearense de Escritores de Fortaleza, como Vice-Presidente do II Congresso Brasileiro de Radiodifusão e como membro da Comissão Executiva do V Congresso Brasileiro de Folclore. Foi Secretário de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, em dois Governos: Virgílio Távora, de 1979 a 1982, e Manoel de Castro, de 1982 a 1983. Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal do Ceará. Foi presidente da Sociedade de Assistência à Maternidade-Escola Assis Chateaubriand – SAMEAC. Agraciado com o troféu “Sereia de Ouro”, concedido pelo Sistema Verdes Mares de Comunicações e com a medalha do mérito Tamandaré, do Ministério da Marinha (1964); com a medalha Clóvis Beviláqua, do MEC; com a medalha do Pacificador do Ministério do Exército (1969), com a medalha José de Alencar (1974), com a medalha de Honra do Município de Fortaleza (1973), e com a medalha Caio Prado Júnior (1996). Recebeu diversos Prêmios Culturais, dentre os quais o Prêmio de Reportagem “Correio do Ceará (1944), o Prêmio Livraria Aequitas de radiofonização, Ceará Rádio Clube (1944), Prêmio José de Alencar da UFC, para conto e ficção (1965, 1969 e 1970), Prêmio Cidade de Fortaleza, da Prefeitura Municipal, de Melhor Obra Literária (1967), Prêmio Estado do Ceará, Ensaios e Estudos Literários (1983), Prêmio Melhor Espetáculo, no Festival de teatro Amador de São José do Rio Preto (1971). No rádio, atuou como locutor, radioator, animador e redator de programas, alguns de grande sucesso, como “As Bailarinas divertem o Rei” e “Paisagem Sertaneja”, tendo introduzido, neste último, a atuação de cantadores e repentistas. 302


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Na televisão, sob a direção artística de Péricles Leal, executou programação ao vivo, com adaptações de trabalhos originais de grandes escritores, como o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, o escritor francês Prosper Merimé, do escritor norte-americano John Griffith London, mais conhecido como Jack London e do romancista e contista Henri René Albert de Maupassant, dito Guy de Maupassant. Na década de 60 e 70, foram ao ar na TV Ceará – canal 2, os teledramas “As Tentações do Demônio”, “O Amargo Desejo da Morte” e “A Morte Prepara o Laço”. No teatro e na dramaturgia, iniciou como ator em 1939, interpretando o papel de Jesus, em “Jesus Crucificado”, no pequeno teatro do Educandário Santa Maria, em Fortaleza. Em 1940, atuou no Teatro São Gerardo, em comédia de sua autoria, fundando no ano seguinte, ao lado de Artur Eduardo Benevides, o TeatroEscola Renato Viana, em que atua, repetidas vezes, como diretor, ator e autor, e até como pintor de cenários. Em 1950, é encenada, no Teatro Universitário, sua peça de vanguarda “O Demônio e a Rosa”, ousada e inovadora. Em 1952, divide a direção da peça “Os Deserdados”, apresentada no Teatro José de Alencar, com Valdemar Garcia. Em 1996, a peça “A Donzela Desprezada” estréia no novo e moderno Teatro do IBEU. Foi o autor das peças mais apresentadas no Ceará: “O Morro do Ouro” e “Rosa do Lagamar”. Até o ano de 2000, dos textos que escreveu para o teatro, mais de mil espetáculos já haviam sido vistos por platéias de Fortaleza, e outras cidades do Ceará, além de capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, São Luís, Recife, Vitória, Belém e Manaus. Escreveu ainda: Biografias: “Gustavo Barroso: Sol, Mar e Sertão”; “Natanael Cortez e o Ministério da Palavra”; e “Edson Queiroz”. Contos: “A Borboleta Acorrentada”, “A Viagem Definitiva”, “Águas Mortas”, “As Danações”, “As Mal-maridadas”, “Dia da Caça”, “Face Iluminada”, “O Abutre e Outras Histórias”, “O Escri303


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vão das Malfeitorias”, “O Pranto Insólito”, “O Tropel das Coisas” e “Os Grandes Espantos”. Correspondências: “Cartas de Afeição”. Estudos e Ensaios: “O Lugar da Cozinha”, “A Medicina da Fome”, 50 Anos de Ceará Rádio Clube – 1934/1984”, “A Descoberta do Sabor Selvagem”, “A Fauna do Nordeste do Brasil - Conhecimento Científico e Popular”, “A Fortaleza Provincial: urbana e rural”, “A Gramática do Paladar”, “A Invenção do Discurso Ambiental”, “A Memória Imperfeita”, “A Viuvez do Verde”, “A Volta do Inquilino do Passado”, “As Irmandades Religiosas do Ceará Provincial”, “Aspectos Socioculturais dos Inventários das Ribeiras do Mossoró”, “Capítulos da História da Fortaleza do Século XIX”, “Crime e Descrime”, “Crônica do Ceará Agrário”, “Estrada de Ferro de Baturité: história e ação social”, “Imprensa Abolicionista, Igreja, Escravos e Senhores”, “Complexo de Anteu”, “O Ideário de Manezinho do Bispo”, “O Inventário do Quotidiano”, “O Parceiro Só”, “O Pouso da Águia”, “O Retrato da Praça”, “Os Vizinhos”, “A primeira Comunhão”, “Procedimentos de Legislação Provincial do Ecúmeno Rural e Urbano do Ceará”, “Revelações da Condição de Vida dos Cativos do Ceará”, “TV Ceará – A Fábrica de Sonhos” e “Vocabulário Antigo”. Folclore: “Medicina Popular do Nordeste”, “Estudos de Folclore do Cearense”, “Folclore do Nordeste” e “Cantador, Musa e Viola”. Memórias: “Na Flor da Idade”, “O Inquilino do Passado” e “A Volta do Inquilino do Passado”. Romances: “A Véspera do Dilúvio” e o “Chão dos Mortos”. Teatro: “A Farsa do Cangaceiro Astucioso”, “A Última Ceia do General”, “Teatro Completo de Eduardo Campos, Volume I” (contendo: “Um Autor em Dois Atos”, “Retrospectiva em Tempo de Teatro”, “O Demônio e a Rosa”, “O Anjo”, “Os Deserdados”, “A Máscara e a Face”, “Nós, as Testemunhas” e “Fortuna Crítica”) 304


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e “Teatro Completo de Eduardo Campos, Volume II” (contendo: “Um Autor em Dois Atos”, “O Morro do Ouro”, “A Rosa do Lagamar”, “A Donzela Desprezada”, “O Julgamento dos Animais”, “O Andarilho” e “Fortuna Crítica”. Infogravura: com a utilização de programas gráficos de microcomputador, desenhou ilustrações da capa do livro “O Pranto Insólito”, da obra “O Livro de Raquel” e de vários contos do livro “A Borboleta Acorrentada”, todos de sua autoria. Essas ilustrações fizeram parte da exposição “Infogravuras de Eduardo Campos”, ocorrida no ano de 2000, na Galeria de Artes da ASSEFAZ – Museu da Receita Federal, no Centro da Memória do Espaço Cultural do Ministério da Fazenda, em Fortaleza, tendo sido saudado, na solenidade de inauguração, pelo Procurador da Fazenda Nacional, Dr. Seridião Correia Montenegro. O escritor Eduardo Campos faleceu, aos 84 anos de idade, em 19 de setembro de 2007

Mitologia Durante a juventude, principalmente na adolescência, aprendemos a amar tudo o que nos parece grandioso, nas ciências, na natureza, na História e na Literatura. É a fase da vida em que o idealismo estimula o devaneio e excita o desejo pelo intangível e pelo inatingível, e o jovem se impressiona com histórias extraordinárias e sobrenaturais, se fascina com feitos heróicos, descobre e cria mitos, que lhe despertam a curiosidade e a imaginação, e também o desejo de ampliar e aprofundar conhecimentos. Através da leitura, passa a conviver com fatos reais e imaginários, na busca incessante por um mundo de sonhos, ilusões e felicidade. Nesse fértil campo de idealismos e sonhos, de ficção e realidade, o jovem se depara, para seu deleite, com histórias surpreendentes e incomuns, colhidas no mundo maravilhoso da mitologia. 305


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O estudo da mitologia desperta e incentiva o desejo de desvendar o incomum e o sobrenatural, diante dos fenômenos e transformações da natureza, dos mistérios relacionados com os embates da vida, com a dor da morte e com o desejo de continuar vivendo, num mundo cheio de deuses e de histórias fantásticas. Os mistérios, os enigmas, os segredos e o desconhecido, sempre atraíram e apaixonaram os homens, que, preocupados com as dificuldades da vida e com a possibilidade da existência de um outro mundo, procuraram explicá-los, criando uma incrível mitologia, em que o universo é povoado por deuses, divindades e mitos imaginários. O “Aurélio” define mito como “a narrativa de significação simbólica, geralmente ligada à cosmogonia, e referente a deuses encarnadores das forças da natureza e de aspectos da condição humana”. Mitos são as invenções tradicionais e lendárias, utilizadas para interpretar os fatos e os eventos da natureza, tomando por base o sobrenatural. Nas eras primitivas da humanidade, todos os fenômenos naturais eram razão de espanto e medo, e motivo de deslumbramentos e de pavores. Em razão do desconhecimento científico, fenômenos naturais como o nascer e o pôr do sol, o surgimento e o desaparecimento cíclico da lua, a escuridão da noite, os ventos, as chuvas, as tempestades, os relâmpagos e os trovões, as estrelas, as nuvens e as marés, todos deveriam pertencer a um mundo secreto e poderoso, comandado por deuses e divindades. Ao se iniciar o estudo da mitologia, surge a indagação filosófica sobre suas origens, e sobre o suporte sobre que se funda, se na verdade material ou em sonhos da imaginação. Existem algumas teorias, construídas para explicar a origem dessa área do conhecimento. A teoria bíblica defende a tese segundo a qual todas as lendas mitológicas têm sua origem nos textos das Escrituras, embora os 306


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fatos tenham sido desvirtuados, distorcidos e alterados. Muitas das figuras do Velho Testamento corresponderiam a personagens da mitologia. Na verdade, há muitas coincidências interessantes, como a que considera Deucalião a figura de Noé; Hércules, a de Sanção; Árion, a de Jonas; e a que faz a correspondência entre o Dragão que guarda os pomos de ouro e a serpente que enganou Eva, no Paraíso. Apesar dessas e de outras muitas coincidências, a teoria bíblica não consegue explicar a maior parte das lendas mitológicas. A teoria histórica afirma que todas as personagens mencionadas na mitologia foram seres humanos reais e explica que as lendas e tradições fabulosas, que as envolvem, nada mais são do que criações de épocas posteriores, que acrescentaram e enriqueceram episódios e detalhes, às lendas e tradições, que envolvem essas personagens históricas. De acordo com essa visão, Éolo, rei e deus dos ventos, por exemplo, teria sido governante de uma ilha do Mar Tirreno, onde reinou com justiça e piedade e ensinou, aos habitantes da ilha, o uso da navegação a vela e a forma de identificar, por sinais atmosféricos, as mudanças do tempo e dos ventos. Outro exemplo é o da lenda, segundo a qual, Cadmo semeou a terra com dentes de dragão, dos quais nasceram homens armados. Historicamente, Cadmo seria um imigrante, procedente da Fenícia, que ensinou aos habitantes da Grécia o conhecimento das letras do alfabeto, que deu origem à civilização, indicada pelos poetas como a decadência do estado primitivo do homem, este denominado a Idade do Ouro, em que imperavam a inocência e a simplicidade. Segundo a teoria alegórica, todos os mitos da antiguidade eram simbólicos, contendo verdades morais, religiosas ou filosóficas, ou fatos históricos, sob a forma de alegorias, que, com o decorrer do tempo, passaram a ser entendidos literalmente. Saturno, por exemplo, chamado de Cronos pelos gregos, que devorava os próprios filhos, na visão da teoria alegórica, destrói todas as coisas que ele mesmo cria. 307


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A teoria física consiste em considerar que os elementos ar, fogo e água foram, originalmente, objeto de adoração religiosa, e as principais divindades eram personificações das forças da natureza. Ocorreu, nesse caso, uma transmutação da personificação dos elementos da natureza, em seres sobrenaturais, que se encarregavam da direção e administração dos objetos desses elementos naturais. A mitologia grega, em particular, encheu a natureza de seres invisíveis e divindades, que teriam sob seus cuidados todos os objetos, tais como, as rochas de uma montanha, os oceanos, o sol e a lua, os ventos e as tempestades, as fontes e os riachos. Cada uma das teorias acima traz verdades, mas há mitólogos, como Thomas Bulfinch, que acreditam que a mitologia de uma nação se origina de todas aquelas fontes combinadas, e não de uma só em particular, podendo-se acrescentar que muitos mitos surgiram do desejo do homem de explicar fenômenos naturais, que não conseguia entender e outros do desejo de explicar a origem dos nomes de lugares e de pessoas.

DIVINDADES MITOLÓGICAS GREGAS E ROMANAS Os gregos, ao procurarem explicar os problemas da vida e as transformações da natureza, instituíram sua religião e criaram a mitologia, num mundo cheio de deuses e divindades, incumbidos das mais diversas atividades e fenômenos naturais, no meio dos mortais. Os romanos, influenciados pelo pensamento, arte e religião gregos, seguiram mais tarde o mesmo caminho e adotaram seus deuses e divindades, o que resultou na fusão da mitologia dessas duas grandes civilizações antigas. Havia identidade entre muitos dos deuses gregos e romanos. Assim, por exemplo, o Zeus grego era aceito como o Júpiter romano, Ártemis, como Diana, Hera, como Juno, Palas Atena, como Minerva, e assim muitos outros. Tudo o que era misterioso e inexplicável pela ciência da época, era entendido pela presença e pela ação de um deus ou de uma 308


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divindade. O mundo foi povoado por uma grande variedade de divindades, que presidiam todas as manifestações do universo, com poderes sobrenaturais, nada existindo sem a presença de um deus a comandar os movimentos e a vida, em todos os recantos do mundo. O Olimpo se localizava na mais elevada montanha da Tessália, próxima à Macedônia, com três mil metros de altura, em cujo cimo Zeus tinha o seu palácio e os deuses maiores mantinham a sua morada, levando uma vida de delícias, alimentando-se de ambrósia e de néctar, e conservando a eterna juventude, embora as armas dos homens lhes fossem mortíferas. As divindades greco-romanas eram hierarquizadas em quatro diferentes classes, assim distribuídas: 1. Os grandes deuses eram em número de vinte, dos quais doze compunham o Conselho Celestial, com igual número de deuses e de deusas, mais conhecidos pelo nome latino (o nome grego está indicado entre parêntesis). Os seis deuses eram: Júpiter (Zeus), Netuno (Possêidon), Marte (Ares), Vulcano (Hefesto), Mercúrio (Hermes) e Apolo (Febo). As seis deusas eram: Vesta (Héstia), Juno (Hera), Vênus (Afrodite), Ceres (Deméter), Diana (Ártemis) e Minerva (Palas Atena). Os outros oito deuses eram: o Céu (Urano), o Destino (Hados), Saturno (Cronos), Plutão (Hades), Baco (Dioniso), Cupido (Eros), Cibele (Réia) e Prosérpina (Perséfone). 2. Os deuses menores, Pã, Flora e outros, não participavam, nem podiam assistir ao Conselho Celestial, acessível apenas aos grandes deuses. 3. Os semideuses ou heróis eram os que tinham por pai ou mãe alguma divindade ou que, por terem qualidades excepcionais, haviam sido admitidos entre os deuses, como era o caso de Perseu, Teseu, Hércules, Dédalo, Jasão, Orfeu, Órion, Meleagro, Cadmo, Édipo e muitos outros. 309


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4. As divindades alegóricas eram constituídas pelas virtudes e pelos vícios divinizados, tais como, a Justiça, a Verdade, a Discórdia, a Piedade, a Paz, a Fé, o Silêncio, e outros. Na presente abordagem, nos limitaremos a tecer algumas considerações apenas sobre os grandes deuses do Olimpo, que formavam o Conselho Celestial. A área de poder dos deuses era delimitada, havendo uns que tinham poder no céu, outros na terra, alguns no mar e alguns outros nos infernos, classificando-se, assim, os deuses em celestiais, terrestres, marinhos e infernais. A análise das fontes mais remotas indica que a concepção cosmogônica mais difundida na Grécia apontava para a idéia de que, originariamente, o Céu e a Terra se confundiam em massa amorfa. No início da criação, ocorre a ruptura entre esses dois elementos, com a geração de componentes próprios para cada um deles. Assim, rompese o caos, para que a Luz (Aither), sucedendo à Noite (Nýks), ilumine o espaço entre a Terra (Gãia ou Géia) e o Céu (Ouranós), e o mundo emerja, com a aparição do Mar (Póntos), originado da própria Terra. Imediatamente após o Caos, aparecem Géia e Eros. Géia (a Terra), considerada a mãe universal e responsável pela alimentação dos seres, gerou Urano ou Ouranós (o Céu), e logo se uniu a ele, advindo dessa união os Titãs, em número de doze, dos quais seis eram do sexo masculino: Oceanos (Oceano), Ceo, Crio, Hipérion, Jápeto e Cronos. E seis do sexo feminino: Tétis, Téia, Têmis, Mnemósine, Febe e Réia. Da união de Geia e Urano, nasceram os Ciclopes (Brontes, Asteropes e Argos) e os Centímanos (Briareu, Coto e Gias). Segundo Géia, Cronos (o Tempo) mutilou seu pai, tendo-se derramado o sangue sobre a Terra, fazendo nascer os Gigantes e as Fúrias, e sobre o Mar, fazendo nascer Afrodite (Vênus). Cronos (o Tempo) sucedeu seu pai no trono e se casou com Réia, mas os filhos que nasciam dessa união eram devorados pelo 310


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pai, com receio da previsão de Urano, segundo a qual Cronos seria destruído por um de seus filhos. O significado dessa alegoria é que o Século devora os anos, os anos engolem os meses, os meses comem os dias, os dias se alimentam das horas, que são seus próprios filhos. Mas Réia, ao nascer Zeus, que era seu sexto filho com Cronos, para evitar a continuação da perda de sua prole, decidiu enganar o marido e escondeu o recém-nascido numa caverna da Ilha de Creta, deixando-o aos cuidados dos pastores coribantes, espíritos da montanha de Creta, e aos seus sacerdotes, dando ao marido, para comer, no lugar do filho, uma pedra envolta em paninhos de recém-nascido. Para evitar que o choro do menino fosse ouvido pelo pai, os sacerdotes dançavam, batendo as lanças nos escudos, e o alimentavam com mel de abelhas e leite de cabra. Ao crescer, Zeus destronou o pai, como estava previsto, tornando-se o novo senhor do Olimpo, obrigando seu pai, Cronos, a ingerir uma poção, que lhe fez vomitar todos os filhos que havia devorado, os quais voltaram à vida. São eles: Héstia, Deméter, Hera, Possêidon e Hades. Os Titãs lhe fizeram guerra e tentaram destituí-lo, para reconquistar seus direitos ao trono, mas Zeus venceu os Gigantes, em número de cem, com a ajuda dos Ciclopes e dos Centímanos. Zeus (Júpiter) casou-se com Juno (Hera), conhecida como a rainha dos céus, e foi considerado o chefe supremo, o rei dos deuses, e é representado como um homem poderoso, sentado num trono de marfim e ouro, sustentando na mão direita os raios e, na esquerda, a Vitória, tendo como cetro uma águia. Juno (Hera), na condição de rainha dos céus, presidia os matrimônios e os nascimentos, e era representada por uma majestosa matrona, portando um cetro e uma coroa, fazendo-se acompanhar de um pavão real, cujo nome era Argos. Minerva (Atena) era a deusa da sabedoria, das ciências e das artes. Era a favorita de Júpiter, que lhe atendia a todos os desejos. 311


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A deusa Minerva (Atena) deu seu nome à cidade de Atenas, onde foi erigido o famoso “Partenão”, em sua honra, e onde foi esculpida, por Fídias, uma estátua de ouro e marfim, em sua homenagem. Nas diversas representações de Minerva, a deusa sempre aparece carregando uma roca, uma lança, um capacete ou um ramo de oliveira, ao lado de um burro e de um galo. Vesta (Héstia) era a deusa do fogo e tinha, desde tempos imemoriais da Grécia e da Ásia, a missão de manter aceso ao fogo, a ela consagrado. Em Roma, competia às Vestais o desempenho dessa sagrada função. As Vestais, que receberam esse nome em homenagem à deusa a que serviam, eram virgens, que faziam votos de castidade, enquanto permanecessem no exercício desse mister. O descumprimento desse compromisso era considerado sacrilégio, punido com a morte da Vestal infratora. Apolo (Febo), filho de Zeus (Júpiter) e Latona, nasceu na Ilha de Delos. Logo depois do nascimento, matou, com suas flechas, a serpente Píton, em Delfos, local onde depois foi construído o mais célebre de seus templos, cujos oráculos eram acatados e respeitados em todo o mundo antigo. Inventor da lira, comandou as musas e foi o protetor das artes, deus da harmonia, da música e da inspiração poética. Foi também deus da profecia, protetor dos navegantes, das colheitas e dos rebanhos, grande curador e médico. Era, sem dúvida alguma, o mais adorado de todos os deuses gregos. Como deus do Sol, conduzia diariamente o carro do Sol de um extremo a outro do céu, sendo responsável pelos dias e pelas noites. Apolo é o efebo por excelência, normalmente representado nu, a não ser quando porta a lira de cordas ou a cítara. A época arcaica nos mostra o deus Apolo, muitas vezes, portando o arco (Apolo de Pireu, Museu Nacional de Atenas). Foi também o deus luminoso e purificador, que inspirou os artistas dos séculos V e IV a.C., cujas obras só nos são conhecidas através de cópias antigas. Podem-se citar, nessa condição, o Apolo Sauroctone (cópia de um original de Praxíteles, Louvre-Paris), o 312


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Apolo de Kassel (cópia de um original atribuído a Fídias, Museu de Kassel), e o Apolo do Belvedere (Vaticano), que passou a ser, na Renascença, o modelo e o símbolo da beleza masculina. Os temas apolíneos muitas vezes são tratados na pintura, por pintores como Rafael, como o bolonhês Annibal Carrache, como o dominicano G. Reni e como francês Eugène Delacroix, na Galeria de Apolo, no Louvre. Os amores de Apolo foram, muitas vezes, infelizes. Cita-se, inclusive, que o deus Apolo não conseguiu seduzir Dafne, que foi metamorfoseada em loureiro. O mais conhecido de seus filhos é Asclépio (Esculápio), fulminado por Zeus, por ter querido subtrair os homens à morte, por sua ciência médica. Apolo tinha por emblemas a serpente, o galo, o bastão e a taça. Diana (Ártemis), filha de Júpiter e irmã gêmea de Apolo, era, “na Terra”, a deusa dos bosques e da caça; “no céu”, era Febe (Selene), deusa da Lua; “nas regiões inferiores”, era Hécate. Diana, adorada principalmente pelas donzelas, era representada com os pés descalços, em trajes de caça, com uma aljava sobre os ombros. Em Éfeso, foi erigido o mais famoso templo em honra de Diana, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Ceres (Deméter) ensinava aos mortais a arte de lavrar a terra, de semear, de colher e de assar ao forno. O mais famoso templo, construído em homenagem à deusa Ceres, foi o de Elêusis, na Grécia. A deusa Ceres era representada como uma solene matrona, segurando uma coroa de espigas, símbolo da fertilidade. Vulcano (Hefesto), filho de Júpiter e Juno, tinha uma aparência desagradável, pois, era feio, disforme e coxo, mas era, em contrapartida, o mais habilidoso de todos os deuses. Fazia toda espécie de trabalhos, desde jóias para as deusas, centelhas para Júpiter, e armas para Aquiles. Vulcano era o deus do bronze, do ferro, do ouro e da prata. Esse deus é representado segurando um martelo em sua mão direita e umas tenazes na mão esquerda. 313


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Os poetas descrevem sua morada, numa ilha coberta de rochas, de cujos picos brotam chamas e fumaça, tendo, por essa razão, derivado do nome do deus a palavra vulcão. Mercúrio (Hermes), considerado o mensageiro dos deuses, também era filho de Júpiter, e era o deus dos viajantes, dos comerciantes, dos mendigos e dos ladrões. Esse deus era conversador e gostava de fazer intrigas, mas bem informado e presente em todas as partes, estava sempre disposto a prestar uma ajuda. Foi considerado muito importante o papel que desempenhou, no Olimpo e na Terra. Nas estátuas em sua homenagem, é sempre representado, com o gorro e os pés enfeitados com pequenas asas, como prova de sua agilidade. Netuno (Possêidon), filho de Saturno e irmão de Júpiter e Plutão, era o deus do mar, dos rios e das fontes. Era representado de pé, num carro formado por conchas marinhas, puxado por quatro delfins ou quatro cavalos-marinhos. Na fronte, se apresenta com um diadema e, na mão, com um tridente, símbolo de seu tríplice poder. Marte (Ares) era o deus da guerra e sempre se apresentava acompanhado da Vitória, mesmo não sendo invencível nas guerras. É representado pela figura de um homem forte, armado de capacete, lança e escudo. As marciais ou festas de Marte, realizadas no mês de março, assim como a terça-feira, do latim martis dies, eram consagradas ao deus Marte. Vênus (Afrodite) era a deusa dos prazeres do amor, considerada a própria expressão da beleza, da juventude e da graça. A deusa do amor celebrizou-se por ter ganho um prêmio, outorgado por Páris, em razão de sua beleza, superior às de Juno e Minerva. Ora é representada com seus pés descansando numa concha, ora sentada num carro puxado por cisnes. Na Idade Média, o nome Vênus era usado como sinônimo do amor carnal, em contraste com o amor espiritual. O seu filho Cupido (Eros) inspira o amor e aproxima e une os amantes. 314


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Além desses, havia outros grandes deuses que não tinham assento no Conselho Celestial, que eram o Céu, o Destino, Saturno, Plutão, Baco, Cupido, Cibele e Prosérpina. Havia deuses menores, que eram colaboradores das grandes divindades, numerosos deuses do lar, deuses do campo e da cidade, deuses das águas, das montanhas e dos bosques, e os deuses que povoavam os mundos inferiores ou regiões infernais. Sobre todos eles, cabenos dizer apenas que os gregos povoaram os céus com todo tipo de divindade e onde quer que existisse uma vida, aí também havia um deus. Mas essas divindades não eram poderosas como os deuses principais, apenas agiam em seu nome, como servidores dos ocupantes do Olimpo, designados por eles para missões especiais, sendo também confidentes dos mortais. Não se pode concluir este trabalho, deixando a falsa impressão de que a mitologia ficou restrita à Grécia e a Roma. Pelo contrário. Muito se tem a falar sobre a mitologia egípcia, sobre a mitologia assírio-babilônica, sobre a mitologia fenícia, sobre a mitologia céltica, sobre a mitologia iraniana, sobre a mitologia oriental, sobre a mitologia hindu, sobre a mitologia germânica e sobre a mitologia nórdica, o que faremos numa próxima oportunidade. Sir James George Frazer, professor da Universidade de Cambridge e autor de obras sobre mitologia, afirma que “a importância dos mitos, como documentos sobre o pensamento humano ainda embrionário, é geralmente admitida, e eles não mais são recolhidos nem comparados apenas para satisfazer vão desejo de divertimento, mas pela luz que lançam sobre a evolução intelectual da nossa espécie. Ainda há muito a fazer para concluir esse trabalho de coleção e comparação, antes que todos os mitos do mundo possam ser classificados e agrupados, num Corpus Mithorum, onde, como num museu, esses fósseis do espírito poderão ser expostos de forma a ilustrar uma etapa primitiva da marcha do pensamento, desde seus mais humildes princípios, até alturas ainda desconhecidas.” Hoje, a mitologia é considerada um dos ramos da ciência das 315


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Origens, que veio abrir caminho a pesquisas e estudos, tanto no campo filológico, como no religioso, representando temário extraordinário, no curso interminável dos tempos, para todas as formas da Arte, e para a Literatura.

Bibliografia C. W. Ceram, Deuses, Túmulos e Sábios – O Romance da Arqueologia George Baker, Deuses e Heróis; Thomas Bulfinch, Mitologia Geral – a Idade da Fábula Thomas Bulfinch, O Livro de Ouro da Mitologia – Histórias de Deuses e Heróis Maravilhas do Conto Mitológico, da Coleção “Maravilhas do Conto Universal”.

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NOSSOS ACADÊMICOS 1. JOSÉ LEMOS DE CARVALHO (DEZINHO LEMOS). Rua Edite Braga, 183; Jardim América-Fortalez (CE), CEP 60.425.100 Fone – 3494.5933 Patrono: PLÁCIDO CASTELO

3. CAIO LOSSIO BOTELHO Rua Otton de Alencar, 36; Jacarecanga - Fortaleza (CE), CEP 60.010.270 Fone – 3238.0859 / 3238.0449 Patrono: SENADOR POMPEU 4. JOSÉ ANÍZIO DE ARAÚJO Rua Éfren Gondim, 326; Serrinha - Fortaleza (CE), CEP 60.741.050 Fones – 3225.5784 / 3292.8688 / 8788.7507 e-mail: anizio33@uol.com.br Patrono: JAIME EVANGELISTA DE ARAÚJO 5. JAILDON CORREIA BARBOSA Rua Soriano Albuquerque, 155/201; J.Távora-Fortaleza (CE), CEP 60.130.160 Fone -3226.9317 / 3226.6846 / 9184.6745 e-mail: jaildonbarbosa@ibest.com.br Patrono: LEONARDO MOTA

6. MARIA MATILDE MARIANO Rua Rosa Cordeiro, 420; Condomínio Residencial Água Fria, Bl 12, ap 202,CEP. 60.812.450;Edson Queiroz-Fortaleza (CE) Fones – 3279.1647 / 8857.8301 e-mail: muntamba@ig.com.br Patrono: RACHEL DE QUEIROZ 317


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7. FRANCISCO CASTRO DE SOUZA Rua François Teles de Menezes, 188/504 – Fátima – 60.415.110 Fortaleza CE Fone: 3272.2349 / 8861.2349 E-mail: castro.adv@bol.com.br Patrono: MOZAR SORIANO ADERALDO

8. FRANCISCO ELOY BRUNO ALVES (Pe. ELOY) Rua Peru, 1977; Parangaba - Fortaleza (CE), CEP 60.740.510 Fones: 9211.5666 / 32250173 / 3225.9451 e-mail: peeloyalves@bol.com.br Patrono: SENADOR OLAVO OLIVEIRA 9. EDSON JOSÉ PINHEIRO Rua Mato Grosso, 39; Demócrito Rocha-Fortaleza (CE), CEP 60840.620 Fones – 9185.6427 / 9106.8267 / 3225.1515 Patrono: JOSÉ DE ALENCAR

10. AURENY BRAGA BARROSO FORTE RAMOS Rua Vicente Braga, 318; Parangaba-Fortaleza (CE) Fones – 3245.2381 / 8749.4214 / 9942.31233 e-mail: aurenybraga@hotmail.com Patrono: DOMINGOS OLÍMPIO

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11. LUIS CARLOS ROLIM DE CASTRO (LUCAROCAS) Rua Altair, 85 – Maraponga-Fortaleza (CE), CEP 60.711.10 Fones – 8797.7242 / 4101.2375 e-mail: lucarocas@hotmail.com Patrono: PATATIVA DO ASSARÉ 12. FRANCISMAR DE CASTRO ARAÚJO TRABALHO: Rua Pedro Borges, 33 sala 709 – Palácio Progresso, Fortaleza(CE) RES.: Rua Pe. Guerra, 2142; Parquelândia-Fortaleza (CE) francismarcastro@uol.com.br Patrono: JADER DE CARVALHO 13. WAGNER VITORIANO BEZERRA Av. Alfredo Weyne, 100/303 Bloco 2; Fátima-Fortaleza (CE) Fones – 3256.1601 / 8897.6573 e-mail: wagnervbezerra@hotmail.com Patrono: HUMBERTO TEIXEIRA 14. NÚBIA MARIA DE BARROS GOMES 15. LUCINEUDO MACHADO IRINEU Rua Quintino Cunha, 3714; Tabapuã - Caucaia (CE) Fone – 8854.6476 e-mail: lucineudomachado@yahoo.com.br Patrono: NATÉRCIA CAMPOS 16. MÁRIO CAULA BANDEIRA Rua Eretides Martins, 1004; Ellery - Fortaleza (CE) Fones – 3223.2293 / 9126.5228 e-mail: mariokb@ig.com.br

Patrono: Inês Caula 319


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17. JOÃO BOSCO FERREIRA LIMA Rua Mário Lanza, 1613; Água Fria-Fortaleza (CE); CEP 60.834.240 Fones – 3278.5605 / 9984.7736 / 9131.3594 e-mail: jotabosko@yahoo.com.br

Patrono: Durval Aires 18 JOSÉ BONFIM DE ALMEIDA JUNIOR (JÚNIOR BONFIM) Rua Carlos Vasconcelos, 1316; ap 101, Meireles-Fortaleza (CE) Fones – 3264.5671 / 8818.1049 e-mail: juniorbonfim@msn.com PATRONO: MELO MOURÃO 19. JOSÉ MUNIZ BRANDÃO Rua N, Casa 43, Centro Icaraí–Caucaia (CE) Fones – 3223.8964 / 3318.2249 / 9991.2364 e-mail: Muniz.Brandão@yahoo.com.br PATRONO: JOARYVAR MACEDO 20. PEDRO JORGE MEDEIROS RES.: Rua Manoel Queiros, 280; Apto 702; Fortaleza (CE) TRAB.: - Rua Tomaz Acioli, 565; J. Távora-Fortaleza (CE) Fones – 9619.3986 / 3246.9133 / 3262.9092 / 3248.9123 e-mail: p.jorgemedeiros@uol.com.com.br PATRONO: RAIMUNDO GIRÃO 21. JOSÉ OLIMPIO DE SOUSA ARAÚJO Rua Valderi Uchoa, 250; Gentilândia-Fortaleza (CE.), CEP 60020110 Fones – 3214.5155 / 3243.6450 / 9904.5631 e-mail: j.olimpio.sa@hotmail.com Patrono: MOREIRA CAMPOS

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22. MANOEL MURILO DE ARAÚJO R. Mons. Vicente Martins, 1567; bairro João XXIII-Fortaleza (CE) fONES – 3290.2340 / 8735.8068 e-mail: muriloaraujo@hotmail.com Patrono: JUVENAL GALENO 23. GENTIL TEIXEIRA ROLIM Rua Pe Guerra, 1535; Parquelândia-Fortaleza (CE), CEP 60.455.360 ones – 3281.5280 / 8718.2875 / 9984.7303. e-mail: gentiltr1@terra.com.br Patrono: ALCÂNTARA NOGUEIRA 24. MAILDE MARIA ROCHA TEIXEIRA Rua 105, CASA 40, Nova Metrópole-Caucaia CE Fones – 3213.1790 / 9908.6110 PATRONO: ADOLGO CAMINHA 26. MARIA NIRVANDA MEDEIROS Rua Nunes Valente, 136; Apto 102; Aldeota-Fortaleza (CE) CEP 60.125.070 Fone – 3246.5423 Patrono: CLÓVIS BEVILÁQUA 27. GLADSON WESLEY MOTA PEREIRA R, Cel. Hélder Benevides, 30; apto. 300; Guararapes Fortaleza (CE), CEP 60810-321. Fones: 3241 2434 / 33883399 / 9925 4812 Patrono: JOSÉ MARTINS RODRIGUES

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28. TARCÍSIO MENDES DE ARAÚJO Rua Catão Mamede, 181; apt.° 202; Aldeota-Fortaleza (CE), CEP 60140-110. Fones: 3224 3939 / 8824 0002 e-mail: tarcisioaraújo@superig Patrono: FILGUEIRAS LIMA 29. PAULO ROBERTO CÂNDIDO DE OLIVEIREA R. Felino Barroso, N.° 41, Fátima-Fortaleza (CE),, CEP 60050-130. Fones: 3281 6111 / 9983 5543 Patrono: ANTÔNIO SALES 30. SIRIDIÃO CORREIA MONTENEGRO R. Artur Façanha, 66; ap. 702; Meireles-Fortaleza (CE) Fones: 3878 3301 / 9983 5913 e-mail: seridiãocm@hotmail.com.br Patrono: EDUARDO CAMPOS

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