Combate Socialista Nro.36

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COMBATE SOCIALISTA PUBLICAÇÃO DA CORRENTE SOCIALISTA DOS TRABALHADORES - CST Tendência Interna do Partido Socialismo e Liberdade

6 nVEºREI3RO/2011

FE

EGITO VIVA A REVOLUÇÃO ENTREVISTA Babá analisa "novo" governo

CONJUNTURA A República dos Ricos

INTERNACIONAL Viva a Revolução Árabe

PÁGINAS 2 e 3

PÁGINAS 6 e 7

PÁGINA 11


CONJUNTURA

Entrevista com Babá

“DILMA e SARNEY estão no mesmo BARCO”

Encontramos Babá no apartamento que aluga da Tijuca preparando sua dissertação de mestrado. Ao deixar de ser parlamentar em 2006 voltou à sua antiga profissão de professor universitário. Com 18 anos de parlamento dedicados a apoiar as lutas do povo e à construção de uma alternativa de esquerda, saiu dele com o mesmo padrão de vida de um professor universitário sem mestrado, e é por isso que neste momento está concluindo o seu Curso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional no IPPUR/UFRJ. Babá também se recusou a receber duas aposentadorias por mandatos no parlamento. A primeira por ter cumprido oito anos como deputado estadual e outra por oito anos como deputado federal. Babá se mantém com dignidade e orgulho de não ter nunca traído os interesses do povo trabalhador. Expulso do PT e fundador do PSOL acompanha o dia a dia da política com a mesma paixão de sempre. Aproveitamos nossa visita para dialogar sobre como vê o governo Dilma e as perspectivas. repatriam lucros para fazer frente aos déficits das matrizes afetadas pela crise, seja na Europa ou nos Estados Unidos. Isso contribui para o déficit das contas externas.

CS: Dilma te trouxe surpresas? Ou era o que esperavas? BABÁ: Não, de forma nenhuma, resultou ser até pior do que muitos esperavam. Sei que nestes primeiros meses de governo ainda existe algum crédito da população sobre o que ela irá fazer. Mas as linhas fundamentais do projeto já estavam desenhadas por Lula. Antes de assumir já se falava no ajuste fiscal, ou seja, vinha um plano de arrocho. E veio. Os servidores terão seus salários congelados; para o salário mínimo só 6%

COMBATE SOCIALISTA PUBLICAÇÃO DA CORRENTE SOCIALISTA DOS TRABALHADORES CST/PSOL - SEÇÃO DA UNIDADE INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES - UIT www.uit-ci.org Av. Gomes Freire 367 - 2º andar Centro - Rio de Janeiro Telefone (21) 2507-9337 combatesocialista@gmail.com Editoria: Silvia Santos e Rosi Messias Tradução e correção: Adriano Dias e Priscila Guedes Diagramação e projeto gráfico: Marcello Bertolo As matérias assinadas são de responsabilidade dos autores e colaboradores

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CS: Dilma e os petistas fizeram campanha denunciando os tucanos por privatistas, o que é verdade. Mas significava que eles não iriam privatizar. Como estás vendo esse aspecto do governo Dilma?

de aumento; corte no orçamento de 50 bilhões que significa menos dinheiro para saúde, educação, segurança, prevenção de catástrofes ambientais, etc. Até o PAC terá as verbas reduzidas.... CS: Mas os grandes empresários e banqueiros continuam muito confiantes com Dilma, assim como antes estavam confiantes com Lula... . BABÁ: É claro! Como não vão estar se os juros, já os mais altos do mundo com Lula, com Dilma aumentaram! A dívida interna continua crescendo, e por isso precisam fazer cortes

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de despesas para pagar juros aos banqueiros. Os empresários vão ganhar desoneração da folha de pagamento para “reduzir o custo Brasil”. Ou seja, vão contribuir menos ainda com a Previdência. O que de verdade pretendem é ir empurrando as pessoas para a Previdência privada... Ocorre que se por um lado o governo tem que poupar após toda a gastança do Lula para eleger sua sucessora, por outro tem a situação da economia mundial que não está confortável. É verdade que a crise no Brasil, e na América Latina em geral, teve um efeito menos devastador que nos países centrais. Mas existe.... As multinacionais e os bancos

BABÁ: Dilma e o PT mentiram durante a campanha, pois já começaram a privatizar! Com nomes confusos para que as pessoas não apercebam, falam que os hospitais universitários passarão para controle de “Organizações Sociais”. Mas ou é estatal ou é privado, não tem outro setor. Estão privatizando a saúde! Definiram privatizar a Infraero e os aeroportos, que serão entregues para quem? Para ex-banqueiros! Vão querer cobrar até para usar o carrinho das bagagens! CS: Havia quem afirmava que Dilma e Mantega conformariam uma dupla mais desenvolvimentista... BABÁ: Essa é a história da


CONJUNTURA carochinha! Palocci, Mantega, Dilma, o novo presidente do Banco Central, todos eles estão fechados com o grande capital! As divergências entre eles são secundárias, no atacado estão todos de acordo. Ao aumentar os juros, todos os créditos consignados e os créditos que a população pega para poder aumentar o consumo, se encarecem. Assim, é a população endividada quem acaba pagando o pato. Todos eles no governo trabalham com a meta de superávit como objetivo: ou seja, tem que ter dinheiro em primeiro lugar para os banqueiros e em último lugar para a classe trabalhadora e o povo. CS: Que comentário faria sobre o fato de Sarney ter sido novamente eleito como presidente do Senado? BABÁ: O que simboliza Sarney? Continuidade na política e nos métodos de governo corruptos. Estamos quase numa “cleptocracia”, ou seja, governo dos que roubam. Saiu publicado o patrimônio dos parlamentares, vejam que cresce de forma geométrica na medida em que passam anos no parlamento. Agora Dilma acabou brigando com o PMDB do Rio... para entregar Furnas ao PMDB do Sarney ! Assim os apagões continuarão, pois os cargos públicos não são para servir à população, mas para engordar patrimônios dos políticos. Agora Sarney afirma que se dedicará à Reforma Política. Logo ele, que se apropriou dos Estados do Maranhão e do Amapá, e sob seu controle político se transformaram nos Estados mais pobres do país. Entrou no quarto mandato de senador, finalizará com 32 anos de mandato! Imaginam que reforma política pode sair daí? Ele pode dar aula de como se manter no poder mamando nas tetas do Estado! Ninguém esquece tampouco

MAIS do mesmo: Sarney na presidência do Senado e Dilma anuncia cortes de 50 bilhões no orçamento

os atos secretos, os verdadeiros “canetaços” clandestinos de Sarney e sua tropa, para nomear parentes e apadrinhados em altos cargos no senado, com polpudos vencimentos. Mas essa forma de conduzir a política agrada a maioria dos parlamentares, ao final, eles auto-aumentaram o salário de 16 para 26 mil com a benção de Sarney e das lideranças petistas... CS: E no tema Meio Ambiente, como vê? BABÁ: Outro engodo... Vejam: a verba para prevenção de catástrofes ambientais, num país tropical que sofre enchentes todo ano, foi absurdamente reduzida. E veio a tragédia da serra fluminense, além das enchentes quotidianas em SP, SC, MG... Mas o projeto de Mudança do Código Florestal, com relatoria do PCdoB, que se diz de esquer-

da, mas governa para a direita, está aí, preparando o terreno para mais catástrofes, pois possibilita um desmatamento ainda maior, entre outros aspectos. Vejam a construção da usina de Belo Monte, no Pará. Cada vez que um dirigente do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) destacava que não poderia ser outorgada a licença ambiental o coitado caía! E assim, foram empurrando até que outorgaram uma licença parcial. A OAB solicitou a “completa e imediata paralisação” do projeto visto que, as cidades e comunidades afetadas não têm nenhuma compensação. É impossível defender o Meio Ambiente sem romper com as multinacionais que o depredam todo dia. Vejam outro absurdo: o governo vai investir 33 bilhões para a construção do Trem Bala entre RJ e SP. Dinheiro do BNDES e também dos Correios a quem

Dilma empurrou para entrar na sociedade... Agora, o trem com destino a zona norte, oeste e baixada fluminense do RJ utilizado por milhões de trabalhadores e trabalhadoras diariamente está totalmente sucateado. A empresa que tem a concessão não investe e o povo viaja como gado.Tem numerosos acidentes, mas essa não é prioridade!Eu acho que é aí onde deveriam investir, reestatizando-o, e não emprestar bilhões do dinheiro público para a iniciativa privada construir um trem que sairá mais caro que a viajem de avião! Ou seja, Dilma continua dando dinheiro para os ricos e migalhas para os muito pobres... CS: acabou nosso tempo... Algum recado? BABÁ: Parece-me que o povo lá no Egito está nos dando um recado de como atuar frente a governos corruptos!

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CONJUNTURA

Direitos Humanos no governo DILMA:

torturadores continuarão impunes

Maria Eloisa Mendonça e Makaíba Militantes do PSOL-RJ

Sai Lula entra Dilma Roussef. Com a “presidenta” assume também a nova Ministra da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, Maria do Rosário (PT/ RS). Com a troca de personagens nos mais altos cargos da nação é natural esperar por mudanças na política de governo com relação aos direitos humanos. No entanto, a única novidade é a formação de uma Comissão da Verdade para investigar e esclarecer os crimes (torturas, sequestros e assassinatos) cometidos pelo Estado durante a ditadura militar, mas sem prisões ou julgamentos dos criminosos. Além de não contemplar os anseios dos brasileiros sobre essa época sinistra do país, o governo federal vem fazendo uma brutal propaganda com essa Comissão, enquanto busca ocultar as graves violações dos direitos humanos cometidos pelo Estado país afora, muitas delas já apontadas em relatório da Anistia Internacional. Entre elas podemos citar a ausência de uma política nacional de Segurança Pública, assumindo as práticas fascistas nas chamadas “pacificações de favelas”, bem como o uso da força nos enfrentamentos com trabalhadores em greve, nas execuções extrajudiciais e de torturas e humilhações cometidas por policiais, assim como a propagação das milícias como um braço ilegal do Estado. Nas disputas por terra, as violações de direitos humanos aumenta-

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regimes militares desses países, como é o caso do ex. general Videla condenado em Argentina a perpetua em cárcere comum. Por que não se pode também punir os membros militares da ditadura brasileira que praticaram a tortura e assassinatos se até mesmo a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Anistia Internacional criticam tais posturas dos governantes Lula e Dilma? A resposta é simples: porque quem dá a primeira e a ultima palavra na política de direitos humanos no governo de Dilma Roussef, ainda são os mesmos ram durante o governo Lula. tíveis com a Convenção Ameri- que estavam nos governos Nos grandes centros urbanos cana de Direitos Humanos e anteriores de Lula, FHC, Itamar, Collor e Sarney. Os poa política de limpeza étnica carecem de efeitos jurídicos”. leva os sem-teto e os homosNão é à toa que Nelson Jo- líticos civis e militares que sexuais a serem submetidos bim, mantido no cargo de Mi- participaram ativamente da a ameaças, agressões e as- nistro da Defesa no governo ditadura militar. O regime sassinatos. de Dilma tem total concordân- militar caiu sob a força da cia com o atual projeto da Co- mobilização dos trabalhadomissão da Verdade. Proposta res e do movimento popular, No Brasil do PT e do no III Plano Nacional de Di- mas os seus agentes sobreviPMDB, fazer justiça é reitos Humanos, essa Comis- veram sob o manto do regime revanchismo... Mesmo que isso contrarie o são só tem como objetivo in- democrático burguês, da falacórdão da Convenção Ameri- vestigar, com base na inter- sa democracia do poder ecocana de Direitos Humanos do pretação dada pelo STF, a Lei nômico e da corrupção contiqual o Brasil é um dos signa- de Anistia de 1979. Apesar da nuando a dar as cartas nos tários, que afirma não pode- aparente queda de braço en- sucessivos governos, graças rem ser anistiados os crimes de tre o Ministro da Defesa e a ao pacto político-social feito Estado. Como o exemplo re- Secretária dos Direitos Huma- entre políticos burgueses e cente, em 24 de novembro de nos, a Ministra Maria do Ro- uma boa parte das lideranças 2010, da condenação do Esta- sário, o governo federal nun- dos movimentos populares e do brasileiro pela Corte Inte- ca aceitou e nem vai levar a sindical, como o ex metalúrramericana de Direitos Huma- frente, outra proposta que não gico e ex presidente Lula, tranos, no caso dos “desapareci- esteja de acordo com os inte- indo assim mais uma bandeidos” da “Guerrilha do Ara- resses dos chefes dos tortura- ra de luta da classe trabalhaguaia”. Um dos principais pon- dores do regime militar, mui- dora brasileira. Por isso é urtos da conclusão dessa senten- to bem representados na figu- gente que os movimentos que lutam contra a criminalizaça condenatória diz que: “As ra de Nelson Jobim. Enquanto no Brasil se dis- ção das lutas sociais, assudisposições da Lei de Anistia brasileira (tal como pervertida- cute interpretações sobre a mam também a pauta da pumente interpretada pelo Supre- Lei de Anistia, outros países nição ao terrorismo de Estamo Tribunal Federal), as quais da América Latina já prende- do praticado durante a ditaimpedem a investigação e san- ram e condenaram diversos dura militar não aceitando a ção de graves violações dos di- militares por violações aos di- política de impunidade goreitos humanos, são incompa- reitos humanos nos antigos vernamental.

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CONJUNTURA

A TRAGÉDIA da serra

fluminense poderia ter sido evitada! Claudia González PSOL Niterói

Todos os verãos, assistimos a estréia de um novo filme de catástrofes com cenas mais assustadoras, mas com o mesmo final. Enchentes em São Paulo, Minas Gerais, desabamentos no Rio de Janeiro, população desabrigada, centenas de mortos. No caso da serra fluminense, os mortos e desaparecidos superam o milhar. A explicação dos governos é sempre a mesma: muita chuva e muita gente ocupando terrenos localizados em área de risco. Estes argumentos mentirosos podem ser facilmente derrubados. Mas os governos conhecem há muito tempo os efeitos destes argumentos. Está comprovado que como consequência do aquecimento global, os períodos de chuva aumentaram. Partindo desta premissa vários países como Austrália contam com equipamentos adequados e conseguiram prever com três meses de antecedência a aproximação das tempestades e alertar sua população. Em relação à ocupação irregular, o ministro de Ciência Tecnologia Aloizio Mercadante, estimou que cerca de cinco milhões de pessoas more em áreas de risco potencial no país e contabilizou que existem 500 áreas com risco de deslizamento e 300 com risco de inundações. Apesar da confirmação destes dados, que não são novos, o Ministério da Integração Nacional deixou de investir, nos últimos sete anos, quase R$ 1,8 bilhão na prevenção de desastres naturais em todo o país. A criação de um novo sistema de alarme é discutida

desde 2009. A criação de uma rede de radares custaria cerca de R$ 110 milhões, mas o dinheiro nunca apareceu. Em janeiro, Mercadante anunciou que será adquirido um novo sistema, mas que só poderá funcionar a partir de 2014. O argumento para não liberar dinheiro é a falta de projetos. Mas surpreende que em oito anos de governo, Lula pagou R$ 851 bilhões apenas em Juros de uma dívida ilegal e imoral que, no entanto, continua aumentando. Este dado exemplifica que as demandas dos ricos são prioridade para o governo. Rio de Janeiro, estado campeão em descaso O estado do Rio de Janeiro foi o mais afetado este ano. Mais de 800 mortes e centenas de desaparecidos assolam a região serrana. O governador Sergio Cabral novamente responsabilizou às ocupações irregulares como causadoras do desastre. Em abril do ano passado, em referencia às 256 pessoas que morreram habi-

por um local para morar. Os empreendimentos continuaram crescendo, mas os desabrigados do Morro do Bumba foram recentemente despejados pela força policial do abrigo 4° GAN e trasladados em caminhões do lixo a um local improvisado sem as mínimas condições de ser habitado. O governo do Rio gastou 10 vezes mais em consertos do que em prevenção; pois isso favorece os empreiteiros que financiam suas campanhas! Destaca-se na falta de políticas de prevenção de catástrofes e de transparência no controle dos gastos públicos. Surpreende a liberação de mais tando áreas de risco, o gover- de um bilhão de reais, votados nador expressou: “No Rio de na calada da noite pela AsJaneiro entra ano, sai ano e sembléia do Rio de Janeiro essa missão da ocupação do para compra de trens que sesolo urbano não é tratada com rão cedidos à empresa privaa devida seriedade. Não é pos- da Supervia, quando o certo sível a construção irregular seria exigir que a empresa recontinuar, quase todas as pes- alizasse o investimento. As prioridades dos governos soas que morreram estavam ficam desmascaradas. Famíliem área de risco”. Cabral esquece que a res- as carentes de São Paulo e Rio ponsabilidade pelo controle ficaram destruídas, sem perssobre a ocupação adequada do pectivas de moradia nem recursolo é do governo. Grande par- sos para reconstruir suas vidas. Contudo os ricos destes este da população que é expulsa do campo e atraída às gran- tados serão beneficiados com des cidades. Sem encontrar al- a instalação do trem bala. O ternativa de moradia, ocu- orçamento para o projeto é de pam terrenos e constroem ha- 33,1 bilhões de reais e o goverbitações precárias sem conhe- no poderá garantir o financicimento técnico. A outra cara amento de até 20 bilhões atrada ocupação é o monopólio das vés do BNDES! A história se repete. Todos melhores áreas pela especulação imobiliária. Em abril do os dados demonstram que os ano passado Niterói eviden- desastres dos últimos anos poderiam ter sido previstos e ciou este contraste. Divulgavam-se em custo- evitados. Claro, se os governos sas publicidades mais de dez tivessem investido o dinheiro novos empreendimentos imo- público em benefício da popubiliários de luxo, alguns loca- lação carente e não nas delizados em áreas de reserva mandas urgentes de banqueiflorestal. Entretanto milhares ros, empresários especuladode desabrigados imploravam res e financistas corruptos.

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CONJUNTURA

A República dos ricos de costas para o povo Adriano Dias Executiva PSOL-DF

S O C I R S O D A S A CA

Michel Oliveira Direção Nacional do PSOL

Começa uma nova legislatura no Congresso Nacional. Conchavos e o velho toma-ládá-cá marcam a distribuição de cargos da mesa diretora, nas comissões permanentes e na eleição da presidência da Câmara e do Senado. O fundamental não foi dito em nenhum discurso: os parlamentares aumentam o próprio salário e mantêm privilégios, enquanto o povo amarga um salário de fome. Mudam os atores, mas a novela permanece a mesma. O caso do Senado é pior. Sarney foi reeleito pela 4º vez para presidir o palácio dos atos secretos. A chegada de Lula e do PT à presidência da república reabilitaram definitivamente essa velha raposa, cujo partido ocupa a vice-presidência. O PSOL fez diferente. Lançou candidatura própria na Câmara e no Senado e demonstrou independência política. Votou contra o aumento dos parlamentares e apresentou proposta de salário mínimo de R$ 700. Esse é o valor que ele deveria ter alcançado para concretizar a promessa de Lula de dobrar o poder de compra do mínimo. Mais uma promessa não cumprida, apesar do PT estar no terceiro mandato. Legislando em causa própria No final da legislatura passada os parlamentares decidi-

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ram aumentar o salário dos senadores e deputados federais em 61,83%, da presidente da República 133,96% e do vice-presidente e os ministros em 148,63%. Um deputado passou de R$ 16 para R$ 26 mil. Ao mesmo tempo em que Dilma impõe um salário mínimo de R$ 545, valor insuficiente para manter uma casa e garantir o transporte, ainda mais agora com as tarifas aumentando. Os políticos do sistema alegam que não podem conceder aumento maior ao mínimo por conta do que chamam de “déficit da previdência” e “impacto nas contas públicas”. O que não é verdade. Inúmeros especialistas já demonstraram que a previdência social, como parte da Seguridade Social, não possui déficit já que é um sistema que visa garantir direitos por meio de recursos provenientes de im-

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postos e contribuições. Eles mentem para desgastar a Previdência Pública preparando o clima para a aprovação da nova reforma privatizante do setor. Por outro lado, se há impactos negativos nas contas públicas, porque Dilma não vetou o novo salário dos políticos? Cada deputado federal, custa ao mês R$ 126 mil. Lembre-se que, ao todo, existem 517 deles. Há ainda o salário dos senadores, 3 por estado, e dos ministros que são mais de 30. Porque não vetar o reajuste no próprio salário, aplicando o bordão repetido pelo planalto de “fazer mais com menos”? Ao contrário, Dilma declarou que vetaria qualquer reajuste no mínimo acima de R$ 545 e optou por manter todos os privilégios e mordomias dos políticos. Eles recebem 14º(Dezembro) e 15º salário (feverei-

ro), enquanto o povo começa o ano endividado. Em função desses privilégios eles ficam milionários no exercício do mandato. Somente no PT já existem 14 parlamentares que declararam à Justiça eleitoral possuir mais de R$ 1 milhão em patrimônio. No entanto, o problema maior das contas públicas já foi explicado, pela Auditoria Cidadã da Dívida, ao mostrar que o país gasta 48% dos recursos do Orçamento Geral da União com juros, rolagem e amortização da dívida federal. Paga-se aos agiotas mais de R$ 1 bilhão por dia! Apenas o aumento dos juros no início do ano elevará os gastos com a dívida interna em cerca de R$ 10 bilhões por ano. As centrais Lulistas são responsáveis pelo mínimo atual As centrais sindicais, pressionadas por suas bases, apresentaram um mínimo insuficiente de R$ 580 e a revisão da tabela do imposto de renda. Porém, são responsáveis pela fórmula que impôs o baixo valor atual, acerto feito no governo Lula ao atrelar o reajuste de salário ao crescimento do PIB e não às necessidades do povo trabalhador. É impossível moralizar e democratizar o congresso O PSOL apresentou duas plataformas na eleição do Senado e da Câmara. Na primeira o conteúdo é exclusivamente democrático, na segunda, incluem-se reivindicações históricas da esquerda


CONJUNTURA brasileira. Na câmara, Chico Alencar, o candidato do PSOL, declarou que o Partido defende “auditoria da dívida pública”, o fim do “trabalho escravo”, “10% do PIB para educação” e projetos de Lei que fazem justiça a várias “categorias profissionais”. No senado, o PSOL lançou Randolfe Rodrigues, que em seu discurso, legitimou o senado como “casa revisora de leis” e propôs a recuperação da “independência”, “transparência” e “ética” da instituição. Essas ilusões “republicanas” desarmam os militantes do PSOL, porque repetem o velho programa do PT que trata a democracia como algo neutro, sem conteúdo de classe. A tese da radicalização da democracia, aplicada pelo PT, não deu certo. O programa democrata que visava recuperar a “credibilidade das instituições” do regime e a ética na política não passou a prova da história. A república dos ricos não pode ser reformada ou moralizada e é utilizada por uma minoria rica para a opressão da maioria trabalhadora. O Estado capitalista serve aos poderosos sendo corrupto e antidemocrático. É o dinheiro que define os votos dos parlamentares, as ações do executivo e as sentenças judiciais. O PT foi tragado por essa lógica no parlamento e no executivo. Ou alguém acredita que o Senado presidido por Sarney por amplíssima maioria pode ser independente e ético? A república, pensada como um valor universal, levou Randolfe a reivindicar Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela. Mas não pôde citar o PT das origens, que realizou o primeiro comício pelas diretas em SP, pois a bancada do partido votou contra a constituição de 1988 por ser uma Carta que perpetua a exploração capitalista. A imprensa fez boas referências ao discurso de Ran-

dolfe numa clara sinalização de que deseja e pressiona pela domesticação do PSOL. A militância tem o desafio de combater essa pressão, reafirmando a radicalidade que marcou as bancadas parlamentares do PSOL. O Ficha Limpa mostrou sua limitação O projeto Ficha Limpa foi apresentado como uma possível saída para a sequência de crises que assolavam o regime político. Após a coleta de 1,6 milhão de assinaturas, foi apresentado na Câmara dos deputados canalizando o descontentamento da população com a impunidade de corruptos e corruptores. Mas rapidamente se mostrou limitado, uma vez que os tribunais absolveram conhecidos corruptos da política Nacional como Maluf, Collor e Garotinho. Por outro lado, militantes dos movimentos sociais foram criminalizados, como militantes do MTL de Minas Gerais e o candidato a vice-governador pelo PSOL em SP, Aldo Santos, cuja candidatura foi indeferida por apoiar ocupação do MTST. Nestes exemplos, comprova-se que a esquerda não

pode apoiar a restrição de direitos, pois elas se voltam, sempre, cedo ou tarde, contra os trabalhadores. No regime político atual existe um pacto entre os 3 poderes (executivo, legislativo e judiciário) para que ricos e poderosos não sejam punidos. A impunidade permite regalias a parlamentares e figuras do alto escalão dos governos, enquanto a população padece com arrocho salarial e perdas de direitos. Isso explica porque, saídas por dentro da ordem estabelecida, não conseguem reverter o quadro de sucessivos escândalos nas instituições do regime. Para mudar as regras do jogo: Apostemos todas as fichas na mobilização Quando ocorre mobilização o regime tem mais dificuldade de livrar corruptos da degola. Um exemplo categórico foi a ocupação da reitoria da UnB, que levou a renúncia do reitor da lixeira de ouro Timothy Muholland. Com ele caíram todos os decanos e ainda conquistaram-se avanços em pautas democráticas. Outro exemplo foi a mobilização que colocou o ex-governador

do DF na cadeia, um fato inédito desde na nova república. Temos que seguir estes exemplos. Figuras como Sarney só serão removidas do poder quando a ação do povo trabalhador se manifestar nas ruas, cujo exemplo é visualizado agora nos protestos do povo árabe. Somente a mobilização pode garantir punição aos delinqüentes do colarinho branco, por fim aos privilégios e levar à frente propostas como o plebiscito para decidir o salário de parlamentares e ministros que ademais deve ser atrelado ao salário mínimo; a revogação do mandato daqueles que não cumprirem seus compromissos; a prisão dos corruptos e corruptores com confisco de bens; o financiamento público de campanha; o fim do senado e o congresso unicameral; e o voto secreto no congresso nacional.

LUCIANA GENRO DEVE TER O DIREITO DE SE CANDIDATAR

Luciana Genro teve uma alta votação para deputada federal no Rio Grande do Sul. No entanto, o partido não alcançou o coeficiente eleitoral e não foi reeleita. Como seu pai, Tarso Genro, do PT, se elegeu governador, Luciana não poderá se candidatar, pois a lei contra o nepotismo a impede. Mas não é o caso de Luciana. Somos contrários ao nepotismo, mas não concordamos com sua aplicação de forma indiscriminada afetando o direito de uma dirigente do PSOL como Luciana a se candidatar a um cargo eletivo.

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SINDICAL

UNIDOS PRA LUTAR contra o aumento da passagem de ônibus Correspondente CS

O ano começou com aumento na passagem de ônibus em todo o país, prejudicando as famílias assalariadas. De acordo com o IBGE, entre 2002 e 2003 o trabalhador gastava 18,7% de seu orçamento com locomoção e 21,1% com comida. Em 2008 e 2009, a alimentação caiu para 20,2% enquanto o transporte subiu para 20,1%. Por isso ocorreram protestos em Aracaju, Natal, Porto Alegre e Vitória. Em Salvador, reuniu mil pessoas. Em São Paulo 4 mil. Em Belém, não foi diferente. Os empresários querem R$ 2,15, reajuste de 16%. “Isso está acima da inflação e é 3 vezes maior que o reajuste do salário mínimo, sendo que a tarifa atual, em vigor desde 2010, já é abusiva. Fato que motivou re-

PROTESTO contra aumento das tarifas de ônibus em Belém do Pará

presentação nossa junto a Ministério Público Federal, derrubando o aumento por dez dias no ano passado”, lembra Cedício Vasconcelos, do Sindicato dos Servidores Federais. Para justificar o reajuste as empresas alegam gastos com a frota e que o Pará possui a me-

nor tarifa do Brasil. No entanto, não consideram que 43% da população vive com até um salário mínimo e que o Pará lidera a lista do pior transporte do país. Segundo o IPEA, na região norte, os atrasos e ausência de linhas são maiores que em todas as outras regiões. “A patronal

COMERCIÁRIOS DE NOVA IGUAÇU/RJ

A Oposição tinha razão! Márcia Chaves Oposição Comerciária

Na eleição de 2009 do sindicato dos comerciários de Nova Iguaçu e região, a chapa da Oposição denunciou os graves problemas de burocratismos perpetuados pelo grupo que dirige o sindicato há mais de 15 anos, como o fato de diretores que recebiam o dobro do salário por estarem liberados. Na época havia um rombo no sindicato de R$ 600 mil reais (dados da denuncia que compõe o inquérito policial, parte deles roubados pelo Tesoureiro, nomeado pela maioria) e o sindicato estava em uma profunda crise. A direção majoritária do sindicato realizou um verdadeiro tribunal de inquisição contra a Oposição por causa dessas denuncias, perseguindo e caluniando-os de amigos do patrão. Essa situação foi acompanhada pelo conjunto da vanguarda sindical de todo o país e na época pela Conlutas, cuja direção avalizou a conduta da situação. Passado um ano e meio o Sindicato realizou um congresso, cujas resoluções tinham como centro medidas "contra a Burocratização do Sindicato e os privilégios

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dos dirigentes" estabelecendo, entre outras medidas, que "o salário do dirigente sindical que recebe pelo sindicato deve ser o mesmo que ele ganhava na loja, na função que ele exercia; os seus aumentos devem ser iguais aos conquistados pela categoria" (Jornal dos Comerciários de novembro de 2010). As resoluções do congresso só demonstram que a Oposição tinha toda razão em suas denuncias mostrando claramente que o problema do sindicato não era a oposição, que tinha apenas dois membros numa executiva de nove, como afirmava a direção do sindicato. E sim que a direção do sindicato sofria de graves desvios burocráticos que só podiam ser sanados a partir do controle da base. Hoje a oposição não faz mais parte do sindicato. Então como explicar que nesta entidade os diretores continuam com privilégios? Como explicar que a direção do sindicato só descobriu agora os graves problemas burocráticos? Se a oposição tivesse sido ouvida, ao invés de perseguida, teríamos acabado de forma conjunta com os privilégios, já em 2009. Infelizmente a direção majoritária da CSP/Conlutas avalizou e continua a avalizar essa metodologia.

mente. Não há renovação da frota, o salário dos rodoviários é baixo e nos finais de linha falta até água potável. O reajuste vai parar é no bolso dos patrões” dispara Marcio Amaral, do Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba. Para o presidente do Diretório Central dos Estudantes da UNAMA, Rogério Guimarães, o aumento só ocorre porque “os empresários tem alianças com os governantes. Os donos das empresas e os prefeitos, não pegam ônibus lotado, velho e sujo, como a população”. Em Belém já ocorreu a primeira manifestação de rua no dia 03/02, que conquistou uma Audiência Pública com a prefeitura. A luta segue por meio de panfletagem e colagem de cartazes preparando novo protesto.

SERVIDORES PÚBLICOS

Direito não se reduz, amplia-se! No dia 16/02 será lançada a campanha salarial do funcionalismo federal cujo eixo será o arquivamento do PLP 549 que congela salários e investimentos no setor por 10 anos, a retirada do PL 248 que pretende demitir servidores por insuficiência de desempenho, o cumprimento dos acordos salariais e de carreira negociados com Lula e a não privatização dos hospitais universitários. O dia 16/2 deveria ser uma Marcha unitária com outras entidades sindicais e trabalhadores da iniciativa privada. Infelizmente por pressão dos setores governistas, que são maioria da direção da Fasubra e Condsef, com a desculpa de evitar diluir o lançamento da nossa campanha salarial, não aceitaram unificar a data. Fato que sem dúvida fortalece o governo e enfraquece nossa luta. Apesar disso avaliamos que o lançamento unitário da campanha salarial é algo que deve ser muito valorizado pois desde a luta contra a reforma da previdência, feita pelo governo Lula, isso não era possível. Primeiro pela política que teve o governo de dividir o funcionalismo nas intermináveis mesas de enrolação por planos de carreira. Segundo pelo papel que cumpriu a direção do funcionalismo que aceitou transformar as campanhas salariais das categorias em mera disputa por migalhas no orçamento da união. Todo apoio a luta unitária do funcionalismo público federal. Neide Solimões - Executiva Nac. CONDSEF


SINDICAL

Por um SALÁRIO MÍNIMO digno para o povo trabalhador Douglas Diniz Diretório Nacional do PSOL e Unidos pra Lutar

Diz o artigo 7° da Constituição Brasileira que o salário mínimo deve satisfazer as necessidades essenciais do trabalhador e de sua família, que o governo tem a obrigação de preservar seu poder aquisitivo mediante reajustes periódicos. Nem o valor do salário de R$ 545,00 que está sendo proposto por Dilma e ardorosamente defendido por Lula, nem o valor de R$ 580,00 que estão defendendo as Centrais Sindicais ligadas ao governo resolvem o problema da maioria do povo brasileiro que sobrevive desse salário. Essa discussão sobre o valor do mínimo demonstra o quanto o governo mente para os trabalhadores e para a população brasileira quando diz querer erradicar a pobreza. Com esse salário de fome, milhões de brasileiros conti-

nuarão amargando a escravidão das horas-extras, seguir trabalhando em dois locais ou terão que fazer um “bico” qualquer para tentar sustentar suas famílias. A CUT e a Força Sindical, mesmo tendo convocado atos em função da pressão de sua base social, tem feito muito jogo de cena sobre a questão. Mas foram justamente essas centrais que acertaram com o governo passado a formula de reajuste do mínimo, não à toa,

Lula os tem chamado de oportunistas. Mas esta expressão demonstra também como Lula esqueceu seu passado de trabalhador e defende hoje os interesses dos patrões. Para justificar um reajuste tão pequeno, o governo diz que o orçamento da União não suporta um valor maior. Porém, o reajuste dos parlamentares, ministros e da presidente foi reajustado de forma robusta. Enquanto a presidenta Dilma

anuncia um forte ajuste fiscal e um corte de 50 bilhões no orçamento federal. Para a alegria dos banqueiros e da CNI (Confederação Nacional das Industrias) que elogiou a medida: “anunciado antes da sanção da lei orçamentária, reforça o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal”. Nós trabalhadores já ficaríamos satisfeitos se o percentual dado aos parlamentares (61,83%) fosse repassado ao valor do salário mínimo que ficaria em R$ 825,00, longe ainda dos R$ 2.000,00 que segundo o DIEESE deveria ser o valor necessário para um trabalhador sustentar sua família. A culpa do novo valor do salário é da CUT e da Força Sindical que perderam o poder de pressão sobre o governo por justamente apoiarem o governo. Cabe às novas direções independentes, que não conchavam com patrões e governo, a luta por um salário digno.

SINDICATO DOS CORREIOS DO AMAZONAS

Um ano após a eleição CUT tenta recuperar o sindicato no tapetão Afonso Rufino Presidente do SINTECT/AM

Em fevereiro de 2010, foram realizadas de forma democrática as eleições da diretoria do SINTECT/AM (Sindicato dos Correios do Estado do Amazonas), com a vitória da Chapa 1, a atual diretoria. A chapa vitoriosa dirigida pela UNIDOS PRA LUTAR conta com integrantes que defendem a Conlutas. Já a opositora chapa 2 financiada pela CUT e pela direção dos Correios foi derrotada por segunda vez. Apesar da transparência na eleição, a chapa derrotada da CUT não aceitou a vontade da categoria e entrou na Justiça para impedir a continui-

dade do mandato. O Juiz Afrânio Roberto Pinto Alves Seixas, aceita que as eleições foram transparentes, porém, força para realizar novas eleições. Ainda pediu a seu amigo pessoal do Ministério Público para se pronunciar ao seu favor, assim este órgão também pediu anulação da eleição. O golpe é similar aos que aconteciam na ditadura militar. A CUT solicita anulação da eleição e intervenção do sindicato por junta governativa indicada pela FENTEC (Federação Nacional dos Trabalhadores na ECT) dirigida por eles (CUT e CTB). Não é o primeiro sindicato dos Correios que está sob ameaça de intervenção autoritária do Esta-

do. O mesmo ataque sofrem os SINTECT do Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso. Esta maracutaia toda tem motivos claros, a Federação dirigida pela CUT e CTB está em conchavo com a direção dos Correios, com as chefias e com o próprio governo Dilma. A finalidade também é clara, privatizar os Correios através de “Correios S.A.” Já no ano passado impuseram o congelamento dos salários para 2010 através do “Acordo Bianual”. Esses fatos provocaram uma rebelião na base, a metade dos 36 sindicatos se agruparam na oposição a atual direção e em assembleias votaram contra esses acordos, mas logo, por meio de

fraudes, a CUT conseguiu assinar o acordo com o governo. A intenção da Federação e dos governistas é evidente, derrotar os sindicatos combativos e por essa via derrotar as lutas dos trabalhadores dos Correios. Por isso, o SINTEC/AM apela às entidades, movimentos e parlamentares a prestar solidariedade enviando e-mails para sintect-am@hotmail.com, c/c para unidospralutar@ymail.com ou fax para 92-3302-5994 (sindicato), a fim de evitar este golpe contra a liberdade e independência dos sindicatos frente ao governo, e de evitar que se cale quem denuncia os ataques aos serviços públicos e aos trabalhadores.

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JUVENTUDE 13º CONEB da UNE

Sem democracia e

sem críticas ao governo Silaedson Juninho Diretor da UNE pela Oposição de Esquerda

No período de 15 a 17 de Janeiro 3 mil estudantes participaram no Rio de Janeiro do Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE - CONEB, evento esse que reúne os Centros Acadêmicos das Universidades brasileiras. Lula acabou com a maior bandeira da UNE e a direção não abriu a boca! O CONEB ocorreu em uma conjuntura especial do nosso país e do estado do Rio, pois diferente do que a direção majoritária da UNE (PCdoB, PMDB e PT) falava: “Copa, Olimpíadas e grandes investimentos no Brasil e no Rio”, o Brasil assistia um dos maiores desastres de nossa História. Ocorrido na região Serrana do estado, levou à morte mais de 800 pessoas, causadas pelos descasos dos governos, Federal, estadual e municipal. Nessa semana do CONEB, o governo anunciou o salário mínimo de R$ 545,00, com mais medidas de ajuste. A direção majoritária da UNE se negou a debater essas questões e não denunciou o veto de Lula aos 50% do Fundo Social do Pré Sal para educação, que foi aprovado no congresso; e, diga-se de passagem, essa foi a principal bandeira da UNE em 2010. Falta de democracia marca o início do CONEB O CONEB contou com 21 mesas debates, bastante antidemocráticas, onde palestrantes tinham de 20 a 30 minutos para falar e os estudantes 10 inscrições de apenas 2 mi-

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OPOSIÇÃO de esquerda organiza ato contra reajuste dos parlamentares

nutos para perguntar ou colocar suas opiniões. Por responsabilidade da direção majoritária, não tivemos grupos de discussão para aprofundar o debate e discutir as perspectivas do movimento estudantil para 2011. Na programação, estava previsto um ato. Para a surpresa de todos, o ato era fechado dentro do Maracanãzinho, sem diálogo nenhum com a sociedade, o que obrigou a Oposição a convocar um ato na rua. Assim, a Oposição de Esquerda fez um ato aos redores do Maracanã e Petrobras, no bairro da Tijuca que contou com quase mil estudantes, com palavras de ordem contra o aumento do salário dos parlamentares, solidariedade às Vitimas da Região Serrana, Contra os leilões do petróleo e em defesa de 10% do PIB para educação. Mas essa falta de democracia justifica-se pela política da direção, pois no final do ano a UNE não se pronunciou a favor dos estudantes contra sucessivos escândalos do ENEM. A razão desta conduta é que a UNE recebeu no final do ano mais de 35 milhões do governo.

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Uma nova direção para o ME Está demonstrado que os estudantes necessitam de uma nova direção para o movimento estudantil, que deverá surgir das novas direções de DCE´s e Centros Acadêmicos independentes do governo e das reitorias. São eles que organizam lutas especificas e gerais em cada Universidade e em cada estado à exemplo dos companheiros do Pará na luta contra o aumento das tarifas de Ônibus. (ver pág. 9) Inspirando-nos na juventude da Tunísia e do Egito, que nas ruas enfrentam a ditadura, a repressão e o desemprego fruto da crise econômica, colocando em cheque os governos corruptos, é que podemos caminhar para a construção da nova direção. Para isso é necessário também fortalecer e impulsionar iniciativas como o seminário de Uberlândia, que juntou diversos setores, coletivos e entidades, com vontade de movimentar a estudantada brasileira. Na opinião do Vamos à Luta, o governo Dilma seguirá atacando a juventude e os trabalhadores, mas a majoritária da UNE continuará blindan-

do-o e apoiando suas medidas. O governo acaba de confirmar o corte de 50 bilhões no orçamento. Isso será um golpe imenso para a educação e a universidade publica. A cada colega estudante que participou pela primeira vez de um espaço nacional do movimento estudantil, fazemos um convite a se juntar aos que querem e fazem movimento estudantil sério, de luta e combativo. Por isso, em 2011 temos que começar a construir fortes mobilizações contra a redução do orçamento e em apoio aos trabalhadores das Universidades que terão seus salários congelados, apoiando-nos nas calouradas, fortalecendo cada vez mais nossa luta e forjando nela uma nova direção política para os estudantes brasileiros.

A participação do Coletivo

VAMOS À LUTA

O Coletivo VAMOS À LUTA teve uma das maiores e mais animadas bancadas da Oposição de Esquerda, com muitas palavras de ordem e disposição nos debates, fazendo boas intervenções e polarizando com a direção em cada mesa. O alojamento da UNIRIO – URCA foi um dos mais cobiçados pelos participantes do CONEB e contou com a presença de estudantes da UNIFAP, UNAMA, UFPA, UEPA, CESUPA, Secundaristas, UnB-, UFU, UFOP, UFMG, UFF, UFSC, UPF, UFRGS e estudantes da Bahia e de São Paulo. As culturais também foram momentos marcantes do Acampamento na UNIRIO, com festas regionais e muito luau na Praia Vermelha. Realizamos 2 plenárias no acampamento, uma no primeiro dia e outra após o CONEB, que ajudaram bastante nas discussões políticas e na precisão de nossas tarefas.


INTERNACIONAL

Viva a revolução árabe! A queda do ditador tunisino Zine El Abidine Ben Ali, em 14 de janeiro, foi o primeiro trunfo democrático revolucionário. Agora,após três semanas de mobilizações de milhões de pessoas e greve geral, está encurralado e se resistindo a cair Hosni Mubarak no Egito, o maior dos países árabes. Miguel Lamas Correspondência Internacional

A ditadura de mais de 30 anos de Mubarak no Egito foi o principal apoio dos EUA e de seu gendarme regional, Israel. Por isso a queda de Mubarak significará um duro golpe à dominação norte-americana na região. Lembremos que no ano passado Estados Unidos viuse obrigado a retirar a maior parte de suas tropas do Iraque (que é outro país árabe) e a deixar uma parte, mas sem participar de combates. Este foi um triunfo da resistência iraquiana. Por sua parte Israel, que ocupa a Palestina, não conseguiu dominar a rebelião do povo palestino que também é árabe. E no Afeganistão, o imperialismo evidencia o fracasso de sua intervenção. Estes fatos foram sentidos como triunfos por todos os povos árabes, e junto a brutal crise da economia capitalista mundial, sem dúvida alentaram a atual irrupção revolucionária dos povos. De acordo com governos e comentaristas do imperialismo, se trataria de uma revolução democrática, para tirar uma ditadura. Mas isto é somente uma parte da verdade. Porque os povos tunisino e egípcio (e os protestos populares em outros países árabes) não somente são por reivindicações democráticas, mas contra o preço do pão e dos alimentos, contra o desemprego massivo e os salários de fome nas fábricas imperialistas e nos empregos públicos. Estes verdadeiros castigos para os povos são produto da dominação das multinacionais e dos corruptos governantes ao seu serviço. Para resolvê-los, são necessárias medidas de expropria-

TUNÍSIA foi estopim de mobilizações e revoluções no mundo árabe

ção das multinacionais e dos bens dos governantes e de suas famílias, que representam a maior parte da burguesia local. Quer dizer, são necessárias medidas anti-imperialistas e anticapitalistas. A contradição é que, frente à inexistência de direções socialistas revolucionárias, os partidos políticos burgueses e reformistas, alentados pelo imperialismo, tentam usurpar essa revolução para que não saia dos marcos do capitalismo. Sendo que, dessa forma não poderá solucionar os urgentes problemas de miséria do movimento de massas. Desta forma, o processo revolucionário em andamento e seus triunfos democráticos abrem uma luta por quem dirige e quem conformará os futuros governos. Em Tunísia, junto às reivindicações democráticas, anti-imperialistas e sociais, já está colocada a necessidade de lutar por substituir o atual governo provisório que ninguém escolheu. E exigir que a central operária tunisina (UGTT) retire seu apoio ao novo governo, e se disponha, junto aos comités de cidadãos e demais organizações populares, a encabeçar um verdadeiro governo dos trabalhadores e do povo em luta. Pois só desta forma, po-

derão ser tomadas as medidas de fundo que o povo precisa. No Egito também existe a mesma dinâmica de diferenciação de classe. Ainda não caiu Mubarak e seu regime, e essa continua sendo a principal tarefa. Mas já os partidos patronais negociam com a ditadura enquanto o povo continua lutado para derrocá-la. Caso se confirme a sua queda, abrira-se a dinâmica concreta sobre quem deverá sucedê-lo: enquanto o imperialismo e as burguesias apostam na democracia burguesa formal, para tentar conter a força do povo, os trabalhadores terão o desafio de avançar nos seus sindicatos independentes e comités populares para apresentar uma alternativa de poder. Por isso a revolução árabe reatualiza a necessidade histórica da construção de partidos socialistas revolucionários para encabeçar a luta por estas mudanças de fundo, que passam pela expropriação do imperialismo, das famílias dos ditadores e uma economia planejada de forma socialista e como democracia, de baixo para cima, a serviço da maioria do país. Em outros países árabes, como Iêmen, Argélia, Marrocos, Jordânia, aconteceram

mobilizações em solidariedade com Tunísia e Egito e com reivindicações similares, contra “seus” governos. Sem dúvida, um triunfo da revolução democrática no Egito com a queda de Mubarak, alentará novas revoluções. A tarefa internacional mais urgente e a de convocar à solidariedade internacional com as mobilizações operárias e populares e dos povos contra as ditaduras, começando por Abaixo Mubarak e seu regime! Basta de ditaduras pro imperialistas e corruptas! Fora o imperialismo e suas bases militares no Iraque e em todos os países árabes! Fora os sionistas da Palestina!

22 países, 339 milhões de pessoas O mundo árabe se estende a 22 países com idioma e cultura comuns. Abrange o norte da África (denominado Magreb) e o Oriente Próximo asiático. O mundo árabe se estende a 22 países com idioma e cultura comum. Em total, 339 milhões de habitantes. Os mais importantes são: Egito (80 milhões de habitantes); Argélia e Marrocos (33 milhões); Arábia Saudita (27 milhões); Sudão (39 milhões) Iêmen (22 milhões); Iraque (27 milhões); Tunísia (10 milhões) ; Somália (nove milhões) ; Líbia (seis milhões); Jordânia (seis milhões); Palestina (quatro milhões). A maioria dominada por regimes ditatoriais, “republicanos” ou monárquicos, submetidos ao imperialismo.

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INTERNACIONAL

REVOLUÇÃO NO EGITO

Fora Mubarak!

Miguel Lamas

Correspondência Internacional

Quando fechávamos esta edição, na terceira semana de gigantescas mobilizações e greve geral, setores de oposição política negociam com a ditadura uma suposta “transição democrática”. Mas o povo na rua continua mobilizado exigindo a saída do ditador. No dia 25 de janeiro, o “dia da cólera”, centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas. As sedes do partido de governo e a casa do governo em Alexandria foram destruídas pelos manifestantes. Nem a brutal repressão da policia (haveria mais de 300 mortos) nem o “toque de recolher” com os militares nas ruas, nem a atuação assassina dos quebra paus armados pelo regime conseguiram deter o processo revolucionário. A polícia perdeu o controle das ruas, infinidade de carros policiais foram queimados com molotov. O exército foi para as ruas, supostamente, para garantir o toque de recolher. Mas os militares confraternizaram com os manifestantes, que dançavam e cantavam acima dos tanques. Contra a ditadura, a miséria e o desemprego Os manifestantes denunciam o desemprego, a inflação, o preço do pão e do leite em pó. Exigem a renuncia do ditador, e até então não existe maior presença das palavras de ordem religiosas islâmicas. Após 30 anos de ditadura, salvo o partido islâmico a Irmandade Muçulmana não existem líderes ou organizações reconhecidas pela oposição. Nos bairros se formaram comités populares, em alguns

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casos junto com militares, para proteger as casas da ação de delinquentes alentados pela mesma polícia. O movimento sindical está dominado por uma burocracia corrupta afim do regime. A mobilização nas ruas mostrou um imenso vácuo de direção. Mas ao calor da luta se expressa, nos fatos, um embrião de poder popular, com os comités de vigilância nos bairros, a recentemente criada Federação de Sindicatos Independentes, que já convocaram a greves dos trabalhadores estatais, estaleiros e têxtis, assim como organizações juvenis que impulsionam as mobilizações. Em 28 de janeiro, Mubarak anunciou a renuncia de todos os ministros e a nomeação como vice-presidente do chefe dos serviços segredos de inteligência, ou seja, o chefe dos torturadores, Omar Suleimán. E reafirmou que não renunciará. Negociações Neste marco, o imperialismo pressiona por uma saída pactuada que preserve o exército egípcio, que recebe dos Estados Unidos 1,5 bilhão de dólares ao ano em armamento,

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como garantia de seus interesses na região. Mas precisam fazer concessões para desmontar o processo revolucionário. Esta é a principal preocupação. O vice Omar Suleiman reuniu-se com a Irmandade Muçulmana, o partido Wafd (liberal) e o Tagamu (centro esquerda) assim como com empresários e políticos independentes, entre eles um representante de Mohamed El Baradei, premio Nobel da Paz e figura apoiada pela mídia imperialista. A reunião, mostrada parcialmente na TV, realizou-se sob um enorme retrato de Mubarak. De acordo com o governo, acordou-se uma “transição pacífica com base na Constituição”. A Irmandade Muçulmana afirmou que as reformas propostas por Suleiman eram “insuficientes”. O Movimento Juvenil seis de Abril não foi à reunião, pese a ser convidado, e chamou a continuar a mobilização, afirmando que não haverá negociações até Mubarak deixar o poder. É urgente a solidariedade com o povo egípcio, em pé de luta por expulsar o ditador. Fora Mubarak! é a palavra

de ordem central até que cai o ditador. Por sua vez, unicamente um novo governo dos sindicatos independentes, das organizações juvenis em luta, dos comités populares são os únicos que podem garantir acabar totalmente com a ditadura e seu aparelho repressivo, as plenas liberdades democráticas, a expropriação das multinacionais, salário e trabalho para todos, o armamento do povo junto à base do exército para defender a revolução, as eleições libres para uma Assembleia Constituinte que reorganize o país em beneficio das maiorias populares. Não à negociação com a ditadura! Manter a mobilização até a saída de Mubarak e seu regime! Devemos exigir do governo Dilma, e dos governos latino americanos que se reivindicam progressistas, a imediata ruptura de relações com Mubarak. Egito tem 80 milhões de habitantes sendo o país árabe mais importante e com a maior força militar. Tem um milhão de metros quadrados de superficie (quatro vezes o Estado de SP). Controla o Canal de Suez, por aonde circula a maior parte do petróleo que vai para Europa. O juvenil Movimento 6 de Abril, convocante da primeira mobilização em 25 de janeiro, nasceu em 2008 em solidariedade com as greves de 20 mil operários téxtis em Mahalla no Delta do Nilo. Hosni Mubarak e sua familia acumularam uma fortuna, roubado ao povo egipcio, em propiedades imobiliárias na Europa e dinheiro em bancos suiços, que expertos calculam entre 40 e 70 bilhões de dólares.


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