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O ESTADO DE S. PAULO

DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010

WERTHER SANTANA/AE

Férias no colégio? Os pais agradecem Escolas oferecem atividades recreativas durante o mês de julho para os alunos Mariana Mandelli

Duas vezes ao ano, os pais têm a mesmadúvida: ondedeixar os filhos durante o período de férias enquanto a rotina de trabalho continua? Para ajudar a solucionaro dilema familiar, os colégios particulares de São Paulo investem em atividades cada vez mais diversificadas, que vão de festa do pijama à estadia em uma comunidade rural, passando por cursos de idiomas e oficinas de artesanato, para divertir os estudantes e tranquilizar as famílias. Segundo as escolas, muitos pais perguntam logo na hora da matrícula se a instituição oferece atividades em julho. “É uma preocupação que surge para as famílias logo quando conhecem a escola. Funcionar em julho é quase uma condição para escolher o colégio, porque tirar férias nesse período costuma ser mais complicado para os pais do que em dezembro ou janeiro”, conta Teca Antunes, diretora pedagógica do Colégio Santa Amália, que realiza curso de férias bilíngue,comatividadeseminglêspara alunos e não alunos. A procura para se inscrever

nas escolas costuma ser grande. “Temos um número limitado de vagas e mandamos, com antecedência, uma circular para os pais com a programação. Estamos com fila de espera”, afirma Cláudia Baratella, vice-diretora do Colégio Renovação, que preparouatividadesdiferentesparacada dia da semana. “As crianças adoram e a gente consegue programar bem a rotina”, conta Vilma Frois, de 33 anos, mãe de Dafne, de 7 anos, e deMarcelo Augusto,de 5,queestudam no Renovação. Para cobrir os custos da infraestrutura e dos funcionários, que incluem transporte, alimentação, segurança e materiais, as escolas cobram preços diversificados, que dependem do tipo de passeio ou recreação envolvida – os valores médios vão de R$ 50 a ● Segurança

MARIA PARENTE ORIENTADORA EDUCACIONAL

“O pai se sente seguro para tocar a rotina quando sabe que o filho está na escola, com conhecidos.”

SP tem atividades especiais para crianças Museus e espaços culturais oferecem oficinas, contação de histórias e shows, entre outras atrações Para os pais que não contam com escolas que funcionam durante este mês há diversos locais na metrópole paulista que terão programação especial para as férias das crianças. Além das atrações ao lado, há

açõesrecreativasemdiversosespaçosculturais dacidade.NaCasa das Rosas (telefone: 3288-4477), a programação deste mês tem oficinas artísticas, shows e contação de histórias. Já o Teatro de Dança (telefone: 2189-2555) oferece um cardápio vasto de espetáculos e até mesmo aulas gratuitas de dança. Antes de sair de casa, não se esqueçadeconsultarhorário,endereço, preço e faixa etária das atrações,essencialquandosetrata de crianças. / M.M.

Alegria. Alunos do Colégio Renovação, que vai funcionar em julho, fazem festa do pijama com direito à guerra de travesseiros R$ 550. Para os pais, mais importa que a quantia cobrada é a tranquilidade de que os filhos estejam bem cuidados, em um ambiente conhecido. “Eu sempre procurei colégios que tivessem esse esquema de férias, porque só consigo tirar uma semana de folga em julho”,afirma a gerente de serviços Grazielle Martinez,de35anos.Seufilho,Lucas, de 3 anos, fica uma semana comela,umacomcadaavóeoutra no Santa Amália. “Os horários da escola nas férias são mais ou menos os mesmos, o que é ótimo.” Transformar o espaço. Passar as férias de julho dentro da escola pode ser confortável para os pais, mas como se sentem as crianças? Para fazer com que elas esque-

çam que estão no mesmo lugar onde passam o ano inteiro estudando, as escolas abolem o uniforme,flexibilizamhorários,promovematividadesinterativasfora da escola e evitam mantê-las dentro da sala de aula. “Procuramos usar toda a infraestrutura, promovendo atividades em toda a área da escola”, explica Leila Bohn, coordenadora do Atelier Arte e Expressão da Escola Viva, na zona sul. Brincadeiras corporais, artesanatos com diversos materiais, jogos de quintal e aulas de teatro costumam fazer parte do cronograma de julho das escolas. “Queremos que eles (os alunos) olhem de um jeito diferente para esse mesmo espaço que estão acostumados. É um ritmo mais mágico e lúdico, para dar

esse gostinho de colônia férias para eles”, conta Maria Santina Parente, orientadora educacional do período integral do Colégio Nossa Senhora Aparecida, outra escola da zona sul. tras crianças, mesmo que sejam os colegas do dia a dia escolar, também é considerado benéfico pelos pais. Mas as escolas afirmam que também incentivam as famílias a passarem tempo com os filhos. “Existe um incentivo da nossa parte para que essas criançastenhamfériasforadaescola também”, afirma Luciana Guimarães,psicopedagogadaescola infantil Adolphe Ferrière, no Morumbi, que conta com aulas de crochê, costura, tapeçaria, culinária e jardinagem.

As escolas também oferecem atividades com propostas socioeducativas. No caso do Colégio São Luís, os alunos do ensino médio têm a oportunidade de vivenciar o cotidiano de trabalhadoresrurais.Eles fazemuma viagem a Montes Claros, norte de Minas Gerais, onde passam uma semana na casa de uma família ajudando nos afazeres e convivendo com a comunidade. “Nossos alunos aproveitam as férias para se sensibilizar com a realidadedo outro.Nesse caso, o ‘outro’ é o lavrador pobre, que planta para subsistência”, afirma Iracy Gomes, coordenadora do projeto. “Queremos que eles saiam da cultura urbana e sintam orgulho em transformar esse período de férias em algo que vão levar para o resto da vida.”

MARIANA CHAMA-19/5/2010

EVELSON DE FREITAS/AE-25/3/2009

Cidadania. O convívio com ou-

OPÇÕES DE MUSEUS WERTHER SANTANA/AE-7/5/2010

● Museu

do Futebol:

Em dias determinados serão oferecidas atividades pedagógicas sobre futebol, como um quiz interativo e a construção de um totem simbólico com os principais lances da história do esporte. Telefone: (11) 3664-3858.

DIRCEU RODRIGUES-16/3/2010

● Museu da Língua Portuguesa:

Aos sábados, domingo e feriados serão realizadas visitas monitoradas. A exposição Menas, o Certo do Errado, o Errado do Certo vai até o dia 18. Telefone: 3326-0775.

● Museu

da Casa Brasileira:

Nos dias 17, 24 e 31, das 14h30 às 17 horas, são realizadas oficinas gratuitas de férias, com atividades lúdicas sobre arquitetura, design, urbanismo e paisagismo. As vagas são limitadas. Telefone (11) 3032-2499.

Catavento:

A exposição Planeta Inseto: Biodiversidade, que ocorre entre os dias 6 e 22, é uma mostra interativa com atrações que explicam a importância dos insetos no ecossistema. Site: www.cataventocultural.org.br/mapas.asp.

ENTREVISTA TASSO MARCELO/AE-4/2/2010

Marcelo Cortes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ

‘Escola tem de parecer boa aos olhos do aluno’

de pula para 78%, com renda de R$1,6 mil. No entanto, o jovem parece não enxergar isso. Ele não vê essa ligação com o mercado de trabalho, não vê isso como motivação. Isso se deve, em grande parte, ao caráter generalista do ensino médio, que tenta fazer e ensinar muita coisa, mas não consegue. ● Por quê?

Na quinta-feira, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede a qualidade do ensino fundamental e médio do Brasil a cada dois anos. Em escala de 1 a 10, o Ideb revelou crescimento pífio do ensino médio, que recebeu nota 3,6 – 0,1 a mais que na edição anterior, de 2007. Os estudantes dos anos iniciais e finais do fundamental receberam, respectivamente, 4,6 e 4,0. Para o especialista em economia da educação Marcelo Côrtes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGVRJ), falta foco a essa etapa da educação. Segundo ele, a resposta está no ensino profissionalizante – Neri coordenou, para o Instituto Votorantim, a pesquisa A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho, divulgada no início do ano. Reportagem do Estado na edição de ontem mostrou que

“não querer comparecer” às aulas foi o segundo principal motivo de ausências entre os estudantes do ensino médio. O Estado conversou com o especialista sobre as possíveis razões para o Ideb do ensino médio não avançar no mesmo ritmo que os anos iniciais e finais do ensino fundamental. ● Por que o ensino médio não atrai os alunos?

O principal problema é a falta de interesse. Seja para justificar os índices de evasão ou os motivos que os estudantes usam para explicar suas faltas. ● Mas por que isso ocorre?

É uma questão, como sempre, de políticas públicas. Costumase pensar que boa educação é ter a melhor escola possível, com o melhor prédio, a melhor infraestrutura e os melhores professores e funcionários trabalhando. Mas não é só isso. Temos de pensar também no pro-

Porque o estudante não vê a coerência que estudar física e química pode ter em sua vida. Ele não compreende o que esse conteúdo pode trazer em termos práticos. Além disso, o tempo de permanência na escola é muito curto. Uma jornada diária de quatro horas é pouco. Ele aprende pouco e não tem o interesse pelo conhecimento motivado.

QUEM É ✽ Marcelo Neri é economistachefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado à Fundação Getulio Vargas (CPS/ FGV). É Ph.D. em economia pela Universidade de Princeton e mestre em economia pela PUC-Rio. Atuou como pesquisador na Diretoria de Estudos Sociais do Ipea e é membro ativo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

● Qual solução você enxerga para esse quadro?

Constatação. Neri: ‘Ensino profissionalizante é bom caminho’ blema da oferta de vagas. E, isso resolvido, temos de criar demanda para essa oferta. ● Como assim?

Para um estudante de 15 anos realmente querer estar dentro de uma escola, ela tem de parecer boa aos olhos dele e aos olhos de quem lá estuda. A falta

de interesse não está ligada somente à questão financeira, de falta de investimento ou do estudante mais pobre não ter dinheiro para ir e vir da escola todos os dias. É um problema intrínseco ao ensino médio brasileiro. Já está enraizado. ● Mas como podemos motivar

essa demanda a se interessar pela escola?

Existe um paradoxo econômico dentro de tudo isso. Pesquisas comprovam que quem conclui o ensino fundamental tem 68% de chance de ser empregado com uma média de salário de R$ 700. Para quem finaliza o ensino médio, essa empregabilida-

O ensino profissionalizante é um bom caminho. Mas também não serve para todos. Uma mudança do conteúdo que é dado no ensino médio também seria bom. No caso da educação profissional, o primeiro passo é mudar a visão que as pessoas têm dela, de que é uma educação de segunda classe. / M.M. NA EDIÇÃO DE AMANHÃ, O ‘ESTADO’ PUBLICA OS DADOS REGIONAIS DO IDEB, POR ESTADOS E MUNICÍPIOS.


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