Revista TN Petróleo #88

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geopolítica

O papel das National Oil Companies (NOCs)

nos Brics

Em meados do século XIX, as indústrias mais importantes da primeira Revolução Industrial (têxteis, aço, transporte ferroviário e a vapor), atingiram seu grau de maturidade e perderam seu dinamismo, cedendo lugar aos novos ramos da química, eletricidade e, principalmente, à nova fonte de energia: os motores a combustão.

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Marcelo Marinho Simas é economista Pleno da Petrobras desde 1998, graduado pela UFRJ (1987). Doutorando em Geologia Econômica (UFRJ) e M. Sc. em Geologia Econômica (UFRJ). Pós-graduações em O&G (Coppe), Engenharia de Petróleo (PUC-Rio) e Análise de Conjuntura (IE/UFRJ). Atualmente trabalha no Centro de Pesquisas & Desenvolvimento (Cenpes) na Gerência de Relacionamento com a Comunidade de Ciência & Tecnologia.

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ste período conhecido como a segunda Revolução Industrial, marcou mudanças ainda mais profundas, pois, o domínio da energia passou a ser o eixo em torno do qual gravitam todas as demais indústrias e sem o qual uma nação está condenada ao subdesenvolvimento. É neste contexto que surgem as indústrias de petróleo e de energia elétrica e a importância do controle das fontes de energia como estratégia geopolítica que vai perdurar até hoje. Após um período de quase cem anos em que o preço do petróleo situou-se entre US$ 2,00-3,00/bbl em termos nominais (1870-1970), os questionamentos ao chamado ‘cartel das Sete Irmãs’ (formado pelas maiores companhias de petróleo do mundo entre 1928 e 1973: Exxon, Shell, BP, Chevron, Mobil, Texaco, Gulf Oil e depois CFP) originaram na década de 1960 a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), passando o mercado a coexistir com dois tipos de cartéis: um das empresas que queriam maximizar seus ganhos, outro dos países hospedeiros que também estavam ávidos para ter um quinhão maior das rendas petrolíferas por meio de royalties, preço do óleo no mercado internacional, etc. A Opep tornou-se efetivamente um cartel com poder unilateral capaz de impor preços a partir da primeira crise do petróleo em 1973, quando se iniciou a guerra árabe-israelense do Yom Kippur com o apoio dos EUA a Israel. Os países árabes vislumbraram o petróleo como uma oportunidade para pressionar os EUA e o barril de petróleo chegou a quadruplicar de preço, indo de quase US$ 3,00 para cerca de US$ 12,00 entre fins de 1973 e início de 1974. Com isso, motivou-se a nacionalização das reservas de óleo e gás em vários países do Oriente Médio, como a Líbia, Arábia Saudita, entre outros, que se sentiam prejudicados pela política de preços das Sete Irmãs. Os ativos destas empresas naqueles países foram então transferidos para a constituição das chamadas National Oil Companies (NOCs). Neste momento, é aberta a ‘caixa de pandora’ da geopolítica do petróleo. Ela atinge seu ápice, pois uma simples commodity – cujo preço era relativamente estável nos quase cem anos anteriores e propiciou “energia barata” para os países –, passou a ser utilizada com objetivos políticos para impor os interesses dos produtores aos consumidores. Esta nova realidade trouxe consequências graves aos países consumidores, como recessão, inflação e desemprego, transformando o petróleo numa commodity estratégica. Com essa crise, foi quebrada também a verticalização da indústria que ia do ‘poço ao posto’ ficando o upstream (exploração e produção) com os


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