Entrevisra

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entrevista Dom Odilo Pedro Scherer

CARDEAL DE SÃO PAULO FALA SOBRE “NOVA EVANGELIZAÇÃO” Homem do seu tempo, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, 62 anos, comunica-se frequentemente com os fiéis da Arquidiocese, do Brasil e do Twitter. Nesta entrevista exclusiva à Revista Paróquias & Casas Religiosas, especialmente focada na necessária renovação dos métodos na transmissão da fé cristã (temática do Sínodo dos Bispos, em outubro), o Cardeal recomenda e incentiva para que os padres evangelizem por meio das novas mídias sem que “descuidem do contato pessoal e da atenção às pessoas”. Leia a íntegra: Qual a importância e a relevância do tema do próximo Sínodo dos Bispos – cujo tema será “Nova Evangelização para transmissão da fé cristã” –, para a vida da Igreja nos tempos atuais? O tema é da máxima importância, uma vez que trata da missão primordial da Igreja, que é evangelizar; e a Igreja se encontra diante do desafio de promover uma “Nova Evangelização” a fim de atingir, de maneira eficaz, a transmissão da fé cristã, que é o objetivo da evangelização. O próprio Papa Bento XVI advertiu, na Carta Apostólica Porta Fidei, com a qual anunciou o Ano da Fé, que estamos diante de um sério risco de perda e diluição da fé cristã nos tempos atuais; e isso seria a perda do seu tesouro mais precioso. A expressão Nova Evangelização já é ouvida na América Latina desde a década de 1980. A Igreja latino-americana terá uma importância especial por este motivo? De fato, o apelo para uma Nova Evangelização já foi feito à Igreja inteira nos anos 1980; na América Latina, essa preocupação ficou explicitada na 4ª 12 Paróquias & CASAS RELIGIOSAS

Luciney Martins / O São Paulo

Conferência Geral do Episcopado da O que a Igreja entende por Nova EvanAmérica Latina e do Caribe, de Santo gelização? Antes de tudo, significa que quer Domingo, em 1991. Na virada do mi“evangelizar de novo”, partindo da lênio, esse mesmo apelo foi mais forte constatação que esta tarefa nunca pode e foi objeto das assembleias especiais ser considerada como “já feita”. Cada do Sínodo dos Bispos, para os diversos geração precisa ser evangelizada. Hoje, Continentes. No fundo, já era o grande esse processo não acontece mais de objetivo do próprio Concílio Ecumaneira espontânea e óbvia, como no mênico Vaticano II, convocado pelo passado, e corremos Papa João XXIII com um sério risco de não o objetivo primeiro A Nova Evangelização parte mais transmitirmos de ”incrementar a fé católica”. Mesmo sem da percepção renovada de que a fé à nova geração, empregar o conceito estamos “em estado permanente nem dentro da famíde “Nova Evangeliza- de missão”, e de que todos nós, lia, se não o fizermos ção”, o que o Concílio membros da Igreja, somos um de maneira buscada e consciente. Por oumais queria era promover isso mesmo. povo de “discípulos-missionários” tro lado, situações e desafios novos requeA Igreja na América de Jesus Cristo rem novas iniciativas, Latina, sem dúvida, métodos adequados e linguagens aprotem uma contribuição muito imporpriadas; tudo isso é parte de uma “nova” tante a dar para a próxima Assembleia evangelização. O mais importante, Geral do Sínodo dos Bispos, uma vez porém, é a nova tomada de consciência que nós já temos, em nossos países, sobre a missão primordial da Igreja, boas experiências na realização desse que é evangelizar; ela existe para evanprocesso. Também no Brasil.

www.revistaparoquias.com.br |julho-agosto 2012


gelizar, de muitos modos e sempre. A Nova Evangelização parte da percepção renovada de que estamos “em estado permanente de missão”, e de que todos nós, membros da Igreja, somos um povo de “discípulos-missionários” de Jesus Cristo. É possível atualizar a linguagem da evangelização, modernizando-a, sem alterar a essência do Evangelho? De quais maneiras? Esse é um desafio e uma necessidade; a Igreja precisa usar linguagens e métodos novos, permanecendo, no entanto, fiel a si mesma e ao conteúdo da fé. De fato, nós já estamos usando as “linguagens” novas, colocadas à nossa disposição em grande quantidade: linguagem escrita, falada, pelo rádio, a televisão, a internet e as novas mídias, mas precisamos usá-las ainda mais intensamente e de maneira adequada. Porém, nada disso dispensa, finalmente, a linguagem direta exercida no contato pessoal, a palavra, a escuta, o testemunho, o amor, a “paixão” (parresia) da fé... Quais são os maiores desafios da evangelização nos dias atuais? Há muitos. Um deles é encontrar corações abertos e dispostos a ouvir; nosso tempo faz com que as pessoas estejam muito ocupadas, distraídas e se vejam disputadas por tantos “discursos”, que querem sua atenção e seu tempo... Outro desafio é estarmos preparados e atentos às necessidades das pessoas, preparados para ir ao seu encontro e para lhes falar e comunicar a Boa Nova, quando elas estão abertas para acolher ou, até mesmo, estão à procura de uma “palavra de fé” em suas angústias, sofrimentos e perplexidades. Também o afervoramento na fé daqueles que já creem é um desafio; ninguém será evangelizador, se não tiver feito uma profunda e alegre experiência de Deus e da força salvadora do Evangelho. Um sério desafio para os católicos é sair da indiferença, da ignorância religiosa e do respeito humano em relação à própria fé. Comunidades e pessoas frias ou mornas na sua fé não têm energias para comunicar a fé. Todos nós temos Assine: assinaturas@promocat.com.br

a necessidade de retornar constantemente às fontes, para nos realimentar na Palavra de Deus, na Liturgia, na oração e no estudo da fé da Igreja. Não se ama nem se transmite o que não se conhece. A Jornada Mundial da Juventude pode ajudar a renovar o discurso da Igreja? Como? As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), como os Encontros Mundiais de Famílias, são metodologias novas de evangelização. Muita linguagem nova vai despertando ali e a ação do Espírito Santo na Igreja fica evidente nessas iniciativas. A JMJ tem um enorme potencial evangelizador para a juventude e para a Igreja toda. Qual o papel dos jovens na Nova Evangelização? O melhor apóstolo do jovem é outro jovem; eles têm uma capacidade própria de contagiar outros jovens com o Evangelho e de levá-los ao encontro com Cristo. Por outro lado, evangelizar os jovens é absolutamente necessário para que a transmissão da fé continue de geração em geração; contrariamente, essa corrente ficaria interrompida. Em parte, temos que admitir que isso já está acontecendo, quando vemos que muitos jovens não estão evangelizados, não formam mais lares cristãos, não batizam os filhos e não os encaminham para a iniciação à fé e à vida cristã. Esta questão é preocupante. São Paulo deve receber o maior número de peregrinos estrangeiros na chamada “Semana Missionária” que antecede a JMJ-Rio 2013. Como a Arquidiocese poderá se beneficiar deste fluxo de juventude presente aqui? A Arquidiocese de São Paulo, com as outras dioceses da área metropolitana, receberão certamente muitos jovens de outras partes do mundo para a Semana Missionária, antes da JMJ-Rio. A preparação dessa semana, o envolvimento dos jovens daqui e de suas famílias nessa preparação, na acolhida dos jovens que virão de fora, bem como as atividades a serem realizadas, tudo isso terá um fruto seguro. É um grande

momento de graça de Deus para nós e nossos jovens. Vale a pena acreditar. Como o senhor vê a realização desta Semana Missionária aqui em São Paulo? Quais devem ser os objetivos das atividades desta semana? Essa Semana será programada de acordo com as orientações gerais dadas pelo Pontifício Conselho para os Leigos e pela Organização Nacional da Jornada. Ainda não temos uma programação elaborada, mas em todo o caso, haverá a acolhida e hospedagem dos jovens, que virão os momentos de interação com os jovens locais nas famílias, comunidades e organizações diversas da Igreja de São Paulo, atividades culturais, iniciativas missionárias, encontros grandes de massa. Tudo isso significará muito trabalho, mas também é uma enorme oportunidade para a evangelização. No contexto da Nova Evangelização e desta preocupação com a juventude, o que o senhor diria aos padres que estão iniciando seu ministério agora, em um tempo dominado pelas mídias digitais? Vivam intensamente este tempo e suas oportunidades; usem as novas mídias, mas também as tradicionais; sobretudo, não descuidem do contato pessoal e da atenção às pessoas. A homilia é um momento essencial de comunicação e de alimentação da fé, que não pode ser substituída por nenhuma outra forma de comunicar. Mas penso que não devemos contentar-nos apenas com ela e precisamos criar mais oportunidades para falar e anunciar o Evangelho de maneira explícita e para formar o povo, sobretudo os jovens. Pergunto a mim mesmo: quantas pessoas nós atingimos, de fato, em nossas paróquias? Quantos jovens? Quantas escolas, colégios, universidades? Os jovens estão lá...

Colaboração: Rafael Alberto - Secretário de Comunicação Arquidiocese de São Paulo. Paróquias & CASAS RELIGIOSAS 13


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