Versus Magazine #15 Agosto/Setembro 2011

Page 62

NADER SADEK «In the Flesh» (Season of Mist) Este é um projecto curioso. O seu mentor, que empresta o nome à banda, não toca nenhum instrumento e, segundo parece, só compôs uma pequena parte da música. Tornou-se conhecido no meio do metal como o arquitecto das impressionantes instalações e efeitos visuais que ornamentaram os palcos de bandas como Mayhem e Sunn O))), sendo este álbum o registo da sua primeira incursão nos domínios da música propriamente dita. E para concretizar da melhor maneira esta sua ambição, o artista em causa pegou nos conceitos e nos esboços musicais que idealizou e depositou-os nas mãos de gente competente: o ex-Morbid Angel Steve Tucker (voz), Rune Eriksen dos Ava Inferi (ex-Mayhem, guitarra) e Flo Mounier dos Cryptopsy (bateria). O que resultou é death metal de inegável qualidade. Todavia, com excepção do intro e de dois curtos interludios (inteiramente redundantes, diga-se), bem como o belo instrumental “Nigredo in necromance”, este é um álbum caracterizado essencialmente por uma sonoridade e estilo perigosamente próximos de... Morbid Angel com rasgos de Death e... Mayhem. É certo que é um mimo sentir Eriksen a exercitar os dedos nas seis cordas com uma rapidez e técnica inéditas desde os tempos de «Ordo ad chao», assim como é delicioso apreciar a criatividade e a precisão com que Mounier castiga o seu kit. Contudo, tratando-se de um trabalho que resultou de uma associação inusitada entre um artista de outras artes e um conjunto de músicos de craveira (já para não falar do rol de convidados ilustres que participaram: Attila Csihar, Tony Norman, etc), seria de esperar daqui nada menos do que alguma inovação. Em lugar disso fica a sensação de muita parra e pouca uva. [7.5/10] Ernesto Martins NARGAROTH «Spectral Visions of Mental Warfare» (No Colours Records) Se o excelente «Jahreszeiten», o álbum anterior dos Nargaroth, já impressionou por soar invulgarmente épico e animado (!) então preparem-se para a autêntica “bomba” que é este novo registo de originais. E digo “bomba” porque mais de metade deste álbum é feito de trechos com estéticas que vão do dark ambient à electrónica, passando até por algo que se assemelha a new age. Além disso, o black metal cru e old school que sempre foi a imagem de marca da banda germânica, surge, desta vez, numa versão bem mais pesarosa e doomy, em três temas notáveis: o introspectivo “An indiferent cold in the womb of Eve”, que se fixa irremediavelmente na memória por via do seu riff de base repetitivo e das notas esparsas de teclados que sugerem como que gotas de uma chuva melancólica a cair; “A whisper underneath the bark of old trees”, que segue numa cadência igualmente lenta, mas é conduzido por uma hipnótica melodia de guitarra ao estilo dos Summoning e contém samples de uma película de Fritz Lang que lhe emprestam um toque ainda mais dramático; e o título-tema do álbum que se baseia também numa bela linha de guitarra, mas segue numa toada ainda mais solene. Ora, se o disco fosse todo assim seria álbum para arriscar até uma nota máxima. O problema é que a enfadonha “Journey through my cosmic cells”, além de ser a terceira faixa ambiental consecutiva, também soa deslocada no contexto; e a tecno/pop “March of the tyrants” constitui o pior fecho que um álbum deste tipo poderia ter. Apesar de tudo, a verdade é que com estes dois últimos álbuns, Ash transformou os até agora genéricos Nargaroth numa entidade singular em que todo o fã de black metal devia investir algum tempo. [7.5/10] Ernesto Martins NERVECELL «Psichogenocide» (Lifeforce Records) Longe está o início deste milénio, um ponto de origem para vários enlaces, um deles sendo Nervecell, um agrupamento dos Emirados Árabes Unidos, mais concretamente Dubai. Deixando de lado qualquer sumptuosidade inerente a esse lugar e inspirando-se em recantos mais funestos à alma desabrigada, Nervecell cedo mostrou que possuía um grande empenho em corroer o underground. Conquistando já uma sólida base de fãs com os diversos EPs, o seu primeiro álbum, «Preaching Venom» demonstrou que a banda subia a fasquia tanto em qualidade como em motivação. Após vários concertos pelo mundo


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.