Versus Magazine #14 Junho/Julho 2011

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ARKAN «Salam» (2011 / Season of Mist) Depois do bom acolhimento do primeiro trabalho, «Hilal», em 2008, o colectivo francês Arkan regressa com o sucessor, e promete um seguimento mais que lógico e previsível onde se mistura o Metal pesado com harmonias e escalas musicais do médio oriente. O fundador dos Arkan, Foued Moukid (ex-The Old Dead Tree), volta a unir estas duas frentes musicais, ocidental e oriental, com o intuito de fomentar a paz (Salam). E espalhar essa mensagem através da música é uma acção muito nobre e inteligente, já que esta, na sua forma, é capaz de quebrar as barreiras da língua e dos costumes. Para tal, Arkan prepara-se muito bem, com um trabalho cuja produção está muito boa, a cargo de Fredrik Nordström que trabalhou com os In Flames e Dimmu Borgir, e também convidou Kobi Farhi (Orphaned Land) para participar no tema “Deus vult”, que se destaca pelas escalas harmónicas que utiliza. Outra carta que a banda não descarta e que tanto a caracterizou no «Hilal» é o recurso à voz feminina, cuja responsabilidade é da Sarah Layssac que faz um bom trabalho. A harmonia criada entre a sua voz e a gutural de Florent Jannier é muito boa; as energias sentidas na comunhão com o instrumental são muito agradáveis e encaixam como uma luva. No final, somos levados a pensar que existem

aqui clichés e pouca originalidade, ou não houvesse aqui um bocadinho de Septic Flesh (que de facto “salta à vista”). Mas a verdade é que o destaque vai para os Arkan por conseguirem criar um trabalho com uma significante maturidade, e no qual quaisquer referências externas ficam esbatidas. Esperemos que resista à erosão do tempo. [8/10] Victor Hugo

«777 – Sect(s)» «Fallen» (2011 / Debemur Morti Productions) Estes franceses gostam de surpreender pela positiva, através de um Black Metal muito peculiar –sonoridades sufocantes, mas também arrepiantes o que consequentemente acaba por ser uma lufada de ar fresco para o panorama desta estética musical. «777 – Sect(s)» poderia ser uma ilustração sonora do que é o pânico (como na “Epitome III”), tal é a intensidade da música composta neste álbum; poderia ser também uma metáfora para outros sentimentos, já que nem só de pânico e confusão existencial é sentido – ironicamente podemos conceber o Belo nestes acordes distorcidos, ou mesmo harmoniosos (“Epitome II” – uma passagem simplesmente brilhante e arrepiante), se conseguirmo-nos abstrair da lógica que a nossa razão concebeu. Não é de todo, um trabalho para ser racionalizado, mas antes para ser sentido até ao tutano. E isso está presente no conceito do próprio álbum,

já que este estende-se por temáticas existenciais e filosóficas, onde o nihilismo tem destaque – estes senhores concebem a vida como uma passagem muito rápida, e mesmo uma ilusão – ilusão proporcionada pelo sistema em que ela foi encaixada; e mesmo a lógica, essa é uma mentira criada pela razão. Aqui, em «777 – Sect(s)» não há espaço para religião nem ciência, porque tudo o que seja produto do Homem é como mais um degrau para a decadência. Então, onde cabe o papel do Homem? Qual será, para estes Blut Aus Nord, o horizonte da existência? Eis, caros leitores, um trabalho que deve ser apreciado como uma obra de arte, já que desta é emanada descargas de uma lucidez desarmoniosa, mas que no entanto acaba por harmonizar todo o caos sistemático-existencial. Complicado? Basta sentir. [9/10] Victor Hugo

DEATHSPELL OMEGA «Paracletus» (2010 / Norma Evangelium Diaboli/Season of Mist) Quando Dante descreveu a verdadeira arte como algo que é cruel por definição, bem podia ter em mente o equivalente do séc. XIV ao trabalho produzido nos últimos sete anos pelos Deathspell Omega. Desde que gravaram «Si Monumentum Requires, Circumspice», em 2004, o nome do obscuro trio gaulês passou a ficar associado a uma aterradora e original metamorfose de black metal, de composição torcida e sonori


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