Versus Magazine #14 Junho/Julho 2011

Page 27

“[Na minha opinião] o black metal é para ser apreciado sozinho e não a confraternizar com centenas de pessoas, bebendo cerveja.” de poder ensaiar juntos. E, assim, ele foi-se afastando do conceito musical de Infestus, enquanto eu me embrenhava nele cada vez mais… Então, decidimos que seria melhor que eu continuasse a jornada sozinho. Mas continuamos a ser bons amigos e a fazer da Terra um lugar insalubre. Portanto, no fim de contas, eu sou mesmo o único elemento de Infestus. E não me parece que esta situação venha a alterar-se algum dia. O que consegui fazer neste álbum tornou a música da banda incrivelmente autêntica e capaz de expressar de forma esmagadora os recessos mais negros e doentios da minha mente. Assim, criei um conceito apocalíptico, capaz de revelar a cada ouvinte o seu próprio lado negro, que normalmente tentamos esconder, para podermos viver as nossas vidas. Fizeste o «Ex|Ist» sozinho ou ainda contaste com a colaboração do Dagon? O conceito, a composição da música, as letras, os instrumentos, os vocais, até a mistura e o design/layout do álbum, é tudo da minha autoria. O Dagon já não participou neste. Estava previsto que escreveria as letras, mas não chegou a fazê-lo. Era previsível que o projecto desembocasse nesta solidão musical. Na verdade, até foi um desfecho lógico. «Chroniken des Ablebens» e «Ex|Ist» são mais ou menos simétricos no que se refere às letras: no primeiro, a maior parte delas são em Alemão e, no segundo, em Inglês. Esta mudança de língua foi intencional? «Chroniken des Ablebens» tem metade das letras em Alemão, porque são da autoria do Dagon. Em «Ex|Ist», só existe uma letra em Alemão: “Der Blick hinaus”. Não há qualquer intenção subjacente a este facto. No entanto, tenho pena de só ter escrito um texto em Alemão para este álbum, porque o uso desta língua confere um ambiente realmente especial à música. Tenciono voltar ao esquema metade Inglês/ metade Alemão, no próximo álbum. Há alguma relação entre este álbum e o anterior? A mim parece-me que o segundo é uma consequência lógica do primeiro, já que «Chroniken des Ablebens» trata da morte e «Ex|Ist» da não existência. Não. Aliás, os dois álbuns são bastante diferentes no que se refere aos seus conceitos de base. «Chroniken des Ablebens» trata, de uma forma alongada, o momento da morte, que tardava a chegar, exprimindo as emoções que o acompanham e uma atitude profundamente misantrópica e de negação da vida. «Ex|Ist» ocupa-se essencialmente da luta pela vida, narrando uma viagem assustadora ao âmago da mente de alguém, que está a ser corroída por uma insanidade de índole esquizofrénica, associada a uma perturbação da mente que fragmenta sistematicamente a alma, até que não sobra nada para além de um invólucro vazio e vegetativo. Este álbum “respira”. E essa “respiração”

aumenta e decresce, de acordo com a situação emocional em causa a cada momento. Podes, literalmente, sentir, ouvir e testemunhar a degeneração da personalidade, se o escutares de uma só vez. Este conceito representa muito mais do que uma ideia. Está associado a situações que ninguém quer experimentar, pelo menos voluntariamente. Abre portas que, provavelmente, nunca mais se fecharão. Desta vez, não foste tu que fizeste o artwork, para variar. Como conheceste o Eric Lacombe? A arte dele assenta que nem uma luva no teu álbum. Realmente, é verdade. Quando andava à procura de um artista à altura, queria encontrar alguém que fosse o meu alter ego em termos gráficos. Não queria que o trabalho fosse feito por um estúdio de design. Queria uma imagem que fosse tão doentia como o conceito do álbum; uma obra de arte saída de umas profundezas tão tenebrosas como as minhas. E quando vi a obra do Eric na internet pela primeira vez, percebi logo que era exactamente aquilo que eu queria. Nem lhe perguntei o que significava a sua arte, porque compreendi tudo mal olhei para as obras apresentadas. A ilustração da capa não podia estar mais adequada ao conceito deste álbum. Podes interpretá-la como uma


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.