Versus Magazine #13 Abril/Maio 2011

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“Vamos esquecer os três primeiros álbuns. O primeiro é uma demo, o segundo é […] o começo oficial da banda [Risos]… «Onyx» representa uma nova era na banda, um novo começo, o Ano Um” Portugal um lugar acolhedor, humanamente quente, ao invés da fria Noruega. Não estou habituado a ser tão aberto, sou uma pessoa introvertida, tal qual um tímido montanhês Norueguês. Foi um grande passo para mim vir para Portugal, e no início, custou-me um bocado a habituação porque não estava interiorizado do funcionamento do país, mas logo que esta fase passou e entrei no ritmo do país, descobri de facto o quanto maravilhoso é este país, a sua herança cultural e história. Muitos excelentes aspectos a todos os níveis, o que me leva a só poder dizer bem de Portugal. A única coisa que lamento é as pessoas não se esforçarem em se ajudarem umas às outras na sua área de intervenção, como por exemplo na música. As coisas melhoraram nos últimos anos, coisa que não senti no início. Fico contente por isto estar a mudar no sentido certo. No fundo, encontrei aqui o ambiente certo para poder levar uma vida calma e relaxar. Tem-me feito muito bem. E em relação à cena metálica? Podemos fazer alguma comparação entre a cena Norueguesa e Portuguesa? De maneira nenhuma. Aqui temos geralmente pequenas bandas e uma grande banda que é efectivamente famosa além fronteira, que são os Moonspell, enquanto que a Noruega tem muitas mais bandas internacionalizadas, pelo que a comparação não é possível. Penso que isto advém de, na Noruega ser muito mais fácil ter o apoio do estado para este tipo de actividade, enquanto que aqui estás sempre a lutar contra o sistema. Ser músico aqui não é fácil, nem sequer é considerado arte! Na Noruega estas coisas são muito fáceis. Por exemplo, temos bandas de Black Metal a serem apoiadas pelo estado. Os Mayhem receberam bastante dinheiro do estado, qualquer coisa como 10.000 € para ir tocar na Rússia. Este tipo de apoio financeiro é muito comum. Conheço bandas de Black Metal que recebem 15.000 € para fazer uma tournée, e isto nunca acontecerá em Portugal. Penso que isto contribui para arrefecer a coisa, retirando a vontade às pessoas de fazer alguma coisa, porque nasces com o sentimento que não vais conseguir. Isto está de tal forma enraizado que o teu pensamento primário é “Ah, isto não vai funcionar, não vale a pena”, e este é o maior problema da cena metálica

portuguesa. Mas como é que podes lutar contra este pensamento, quando não existe nenhum apoio de qualquer espécie? Depois, é tudo demasiado caro: instrumentos, lugares para ensaiar; temos de ter uma paixão loucamente estranha para não desistir. Vejo agora com bons olhos que as coisas estão ligeiramente mais fáceis e há várias bandas a aparecer com material muito interessante. Mas as dificuldades mantêm-se, eu sei isso, até porque por vezes é difícil ter os Ava a tocar nalguns sítios porque o preço dos bilhetes é demasiado elevado, etc… Também é triste mas é verdade que na grande fotografia dos média do Metal [lá fora] estamos sempre para trás, e que ficam com uma má interpretação acerca do metal que vem de Portugal. Fico contente em constatar que no caso dos Ava isto tem sido diferente, mas também, certamente é por causa de mim, que sou Norueguês e não Português e tenho vários contactos na Noruega, o que torna a coisa muito mais fácil. As pessoas conhecem-me pelo meu passado… Ava está a conseguir chegar lá, mas eu compreendo que é muito difícil para as bandas Portuguesas. Complementando aquilo que acabaste de dizer, é muito comum em Portugal dizer-se que é duríssimo conseguir viver da música. Somos de imediato incentivados a abandonar a ideia e seguir outro caminho. Parece que, ou já temos um nome construído, ou as coisas podem correr mal se o timing for errado. Conseguem os Ava Inferi viver hoje da música ou ainda é um tanto cedo para isso? É demasiado cedo para pensar nisso, para conseguirmos viver da música. Mesmo assim, dá para pagar algumas despesas de vez em quanto. Ganhámos mais quando vamos tocar para fora, o que é uma coisa boa, e até faz sentido este fluxo porque lá há mais dinheiro. Gostava de te poder dizer que sim, que podemos viver da música, na próxima vez que me fizeres esta pergunta [Risos]. Mas não é por esta razão que estou aqui, mesmo que tivesse de pagar do meu bolso 3.000 € para lançar o meu álbum, eu fazia-o, porque isto é a minha vida e eu sem a música provavelmente morreria. Eu vivo para isto. Quais são os planos dos Ava Inferi para os próximos meses?


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