Coletânea de Textos brasileiros

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Florentina Pitz Maiochi Professora da 1ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Octávio Pereira Lopes – São Paulo Iniciei meus estudos no interior do estado de Santa Catarina. Cursei o primário numa escola rural multisseriada. Aprendi a ler decorando as lições da cartilha. Gostava de estudar, mas as séries iniciais foram difíceis; além das dificuldades normais para quem vê letras pela primeira vez, havia também a barreira da língua, eu só me comunicava em alemão, a língua utilizada pelos meus pais. Cursei a 5ª série, preparativa para o exame de admissão, na cidade, pois meus pais mudaram-se para um sítio próximo a uma pequena cidade, para que os filhos pudessem dar continuidade aos estudos. Em seguida, ingressei no Curso Normal Regional, equivalente ao antigo ginásio, que dava habilitação para o magistério em escolas rurais multisseriadas. Quando estava no 3º ano desse curso, na época 2º grau, li o primeiro livro não-didático da minha vida estudantil; recebi-o como prêmio de boa aluna e lembro-me de ter lido e relido muitas vezes. Naquele tempo não tínhamos livros em casa, exceto a Bíblia e os didáticos, e não havia biblioteca na escola e nem na cidade. Terminei esse curso aos 16 anos de idade e, no ano seguinte, comecei a lecionar numa escola municipal rural para alunos de 1ª a 4ª série. Eu cuidava da parte pedagógica e simultaneamente da merenda, da higiene e da limpeza do prédio escolar, e da APM (Associação de Pais e Mestres), responsável por arrecadar fundos para manter a escola. Lembro-me que era difícil dar conta de tudo em meio período de trabalho, mas tenho lembranças boas da escola, dos alunos e da comunidade. Mesmo assim, não estava satisfeita, saí em busca de melhores condições e resolvi continuar meus estudos. Fiz o curso Normal (antigo Magistério), com duração de três anos e que me habilitava para lecionar em Grupo Escolar de 1ª a 4ª série primária e de 1ª a 4ª série ginasial. Foi muito difícil continuar lecionando numa escola naquelas condições num período, e no outro viajar diariamente 60 Km de estrada de terra para estudar. Consegui terminar os estudos e trabalhar num Grupo Escolar. Depois vim morar em São Paulo e, como meus estudos não tinham validade em outro Estado, não podia lecionar aqui, a não ser que fizesse o curso de Pedagogia. Enfrentei todos os obstáculos, fiz a faculdade e comecei a lecionar numa escola estadual, como professora substituta. Depois, prestei o concurso de professor de 1ª a 4ª série da Rede Municipal de São Paulo e fui efetivada em 1978, onde estou até hoje. A minha primeira classe foi uma 1ª série. Era a 1ª C. Naquela época o ensino municipal adotava a cartilha A pata nada que ensinava todas as sílabas primeiro em "a", ex: ba, ca, da, ma, etc; formava-se palavras e frases e só depois fazia-se a troca das vogais, isto é, substituía a vogal "a" pelo "o" em todas as consoantes e assim sucessivamente com as outras vogais. Eu achava muito complicado, mas tinha que seguir as normas da escola.

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