UPorto Alumni #13

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EDIÇÃO

DO

CENTENÁRIO

UNIVERSIDADE DO PORTO

Porto, Carnaval Académico, [1882] - [1949] PT/CPF/APR1451, Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 13, II Série, Março de 2011, 2.5 Euros



Dito isto, importa enaltecer o contributo para o Centenário dos nossos antigos estudantes, a quem esta revista se dirige em primeira instância. Foi muito significativo o número de alumni que correspondeu ao apelo lançado e apoiou as comemorações do Centenário, também monetariamente, concorrendo assim para o engrandecimento da efeméride. Saudamos tão louvável gesto por aquilo que representa em termos de interesse, afectividade e orgulho pela Universidade. É reconfortante verificar que os nossos antigos estudantes mantêm laços fortes com a U.Porto, não lhe regateando apoio de forma espontânea ou quando a instituição o solicita, como foi o caso. Queremos agradecer igualmente às instituições públicas e privadas, às empresas e aos cidadãos que, com esforço institucional ou pessoal, contribuíram ou vão ainda contribuir para as comemorações. Estes apoios externos devem naturalmente ser enaltecidos, mas não apenas pela sua relevância material para a realização do programa do Centenário. Merece também ser sublinhado e elogiado o significado simbólico destes apoios, na medida em que consubstanciam um genuíno interesse pela nossa Universidade, um louvável apreço pela sua comunidade académica, uma real avaliação da importância do Centenário e um reconhecimento da crescente abertura à sociedade que a U.Porto tem vindo a assumir. Por outro lado, o apoio a instituições de grande relevância para a vida colectiva, como é inegavelmente o caso das universidades, constitui um acto de cidadania que nos apraz registar. Impõe-se também um veemente agradecimento a toda a comunidade académica da U.Porto, cujo envolvimento na organização do programa do Centenário tem sido de enorme relevância e de quem esperamos uma ampla participação nos diferentes eventos das comemorações dos nossos 100 anos. Finalmente, queremos apresentar um agradecimento muito especial à Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário, que é superiormente presidida pelo Prof. Luís Valente de Oliveira – um distinto antigo estudante da U.Porto que, no cumprimento da sua missão, tem revelado inegável competência, dedicação, empenho e entrega. Resta-nos agora desejar que as comemorações do Centenário sejam, como é nosso propósito, um momento de festividade, convívio, reflexão e partilha de saber, onde todos participem imbuídos de um espírito de comunhão com os valores académicos.

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Reitor da Universidade do Porto José Carlos Marques dos Santos

O Centenário da U.Porto é uma efeméride de grande simbolismo e impacto na vida da instituição. E é-o sobretudo porque, ao longo de 100 anos, a nossa Universidade conheceu um percurso ascendente. Percurso esse que se traduziu num ensino de maior qualidade e mais diversificado, numa produção científica crescente e internacionalmente competitiva, numa dinâmica cultural com relevância pública e multifacetada, numa valorização do conhecimento promotora de crescimento socioeconómico, numa cooperação internacional activa, profícua e prestigiante. Por tudo isto merecem ser celebrados os factos e acontecimentos, as ideias e realizações, as pessoas e meios, as vontades e decisões que contribuíram para que a U.Porto seja hoje a maior universidade portuguesa e se encontre entre as melhores universidades da Europa. Esta edição especial da revista UPorto Alumni é inteiramente dedicada à história da nossa Universidade, com o intuito de dar a conhecer a um universo amplo de leitores acontecimentos e personalidades que influenciaram, decisivamente, o progresso da instituição. E se alguns dos factos e figuras históricos aqui abordados são familiares a muitos dos nossos leitores, bastantes outros há que escapam ao conhecimento geral. São pequenas curiosidades, situações menos badaladas, personalidades mais discretas, recordações difusas que, não obstante, ajudaram a construir um património memorialista importante para a afirmação exterior da Universidade e, sobretudo, para a consolidação do sentimento de pertença à nossa comunidade académica. Por outro lado, quisemos também olhar o horizonte que temos pela frente, pois desejamos que as comemorações do Centenário sejam uma rampa capaz de catapultar a Universidade para um patamar superior de progresso. Para isso convidámos várias personalidades com ligações à U.Porto a se pronunciarem, nas páginas desta revista e no portal do Centenário, sobre os caminhos que a Universidade deve trilhar no futuro, de forma a reforçar a sua posição no meio académico internacional e a consolidar-se enquanto alavanca de crescimento científico, cultural, social e económico.


8 DIRECTOR José Carlos Marques dos Santos

NO CAMPUS A U.Porto organiza, nos dias 24 e 25 de Março, no auditório da FEUP, a Conferência do Centenário – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, reflexão e debate está estruturado em torno de quatro grandes tópicos: Saberes, Vida, Territórios e Universidade. Cada tópico será lançado por uma personalidade proeminente no respectivo domínio, seguindo-se as intervenções dos oradores e um debate com a assistência. A sessão de abertura da conferência tem lugar às 09h15 do dia 24, cabendo ao reitor da U.Porto, Marques dos Santos, e ao investigador Alexandre Quintanilha presidirem à cerimónia.

A brilhante carreira académica de Francisco Gomes Teixeira teve como ponto alto a nomeação para reitor da U.Porto, que acabava de ser criada, em 1911. Mas o célebre matemático teve uma vida transbordante de acontecimentos, desde o brilhantismo enquanto estudante aos cargos públicos que ocupou, passando naturalmente pela actividade de investigação que o inseriu, à época, na comunidade matemática internacional. Durante o seu Centenário, a U.Porto vai homenagear Gomes Teixeira e consagrá-lo Figura Eminente de 2011.

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REDACÇÃO Anabela Santos (AS) Catarina Lucas (CL) Pedro Rocha (PR) Tiago Reis (TR)

EDIÇÃO E PROPRIEDADE Universidade do Porto Gabinete do Antigo Estudante Serviço de Comunicação e Imagem Praça Gomes Teixeira 4099-345 Porto Tel: 220408178 Fax: 223401568 ci@reit.up.pt

SUPERVISÃO REDACTORIAL Ricardo Miguel Gomes (RMG)

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DEPÓSITO LEGAL 149487/00

IMPRESSÃO DigiPress

DESIGN Rui Guimarães

TIRAGEM 110.000

PERIODICIDADE Trimestral

Criados em 1919, os institutos de Anatomia e de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina constituem o embrião da investigação científica desenvolvida na U.Porto. Entre cadáveres preservados em formol e microscópios manuais, descobrem-se os mestres que, um século depois, continuam a ser referências no presente e inspiração para o futuro.

PERCURSO

UPorto Alumni Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto Nº 13, II Série

COORDENAÇÃO EDITORIAL Assunção Costa Lima (G-AAUP) Raul Santos (SCI)

COLABORAÇÃO REDACTORIAL Conselho Coordenador de Comunicação: Angelina Almeida (FCNAUP) Carlos Oliveira (FEUP) Deolinda Ramos (FADEUP) Elisabete Rodrigues (FCUP) Fátima Lisboa (FLUP) Felicidade Lourenço (FMDUP), Joana Cunha (FBAUP) Mafalda Ferreira (EGP) Maria José Araújo (FPCEUP) Maria Manuela Santos (FDUP) Mariana Pizarro (ICBAS) Pedro Quelhas de Brito (FEP) Suzana Figo Araújo (FAUP) Teresa Duarte (FMUP)

FOTOGRAFIA Egídio Santos

ICS 5691/100

INVESTIGAR

VINTAGE A U.Porto foi a primeira universidade portuguesa a adquirir um computador. Em Dezembro de 1967, é entregue à FCUP um NCR Elliott 4100 de 16 KB. O mentor do projecto foi Rogério Nunes, que ficaria a liderar o LACA – unidade responsável pelo apoio técnico e administrativo aos utentes da máquina. Destinado sobretudo ao cálculo científico, o computador serviu toda a Universidade e manteve-se activo durante 15 anos. Teve o epíteto de “Hermengarda”, devido ao seu comportamento inconstante. Mas foi um marco histórico no meio académico português, tendo possibilitado importantes avanços pedagógicos e científicos.


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16 A história da U.Porto é aqui revisitada, desde os seus antecedentes até à situação actual. Apesar de oficialmente criada em 1911, a Universidade tem raízes que remontam a 1762, data da criação da Aula de Náutica por D. José. Numa fase inicial, a U.Porto surge estruturada em duas faculdades: Ciências e Medicina. Mas, no decurso do século XX, verifica-se uma diversificação de saberes e a autonomização das escolas. Hoje, a Universidade é constituída por 14 faculdades, uma business school e 61 unidades de investigação. É este lastro histórico que vai servir de base ao futuro da instituição.

O Orfeão Universitário do Porto (OUP) foi criado em 6 de Março de 1912. A ideia partiu de um grupo de estudantes que sentia a necessidade de um complemento à acção formativa, natural a uma instituição de ensino. O tempo trouxe o carinho por uma certa transversalidade e, nos anos 40, para além do coral universitário, o OUP conseguiu ir bem mais longe. Passa a integrar fados, tangos e até rábulas humorísticas. Além disso, pela primeira vez, as raparigas começam a usar o actual traje académico, que foi, posteriormente, adoptado noutras universidades.

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VIDAS E VOLTAS

FACE-A-FACE

OLHARES Trinta personalidades com ligações à U.Porto olham para o horizonte da instituição e tentam perceber de que forma a Universidade pode projectar-se na comunidade académica internacional, bem como reforçar o seu contributo para o crescimento científico, cultural, social e económico do nosso país. As opiniões são díspares, mas existe a convicção geral de que o futuro da U.Porto é auspicioso e que os próximos 100 anos podem ser enfrentados com ambição.

Em entrevista, o reitor da U.Porto explica os principais propósitos das comemorações do Centenário, salientando que se trata, não só de celebrar o passado, mas sobretudo de preparar o futuro da instituição. E um futuro auspicioso implica, diz, uma reorganização da Universidade, tendo em vista a progressão para um patamar superior de qualidade. Ganhar escala, cooperar internamente, racionalizar recursos, aumentar o rigor e promover a interdisciplinaridade são as palavras de ordem. De resto, Marques dos Santos preconiza a mesma receita para todo o ensino superior português, o qual, em sua opinião, tem instituições a mais.

Muitos anos antes do Cortejo da Queima das Fitas, já os estudantes do Porto saíam às ruas da cidade para celebrar com a população. Sem cartolas e bengalas, era com fantasia, sátira e “namoricos de serpentina” que se fazia então o Carnaval dos Estudantes. Mas esta tradição festiva foi interrompida abruptamente, levando, na noite 29 de Abril de 1934, estudantes e populares à rua em sinal de luto. Numa Europa vergada pela II Guerra Mundial, deixara de haver espaço para “um dos mais alegres dias que o Porto alguma vez viveu”.

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CULTURA

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EM FOCO

DESPORTO Em plena II Guerra Mundial, os estudantes da U. Porto terminam a primeira participação nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s) com os títulos de andebol e futebol. Foi o arranque de uma história desportiva que nasceu num ambiente politizado e que culmina, meio século depois, com o actual domínio pela U.Porto do desporto universitário em Portugal. Pelo meio, várias peripécias marcaram uma actividade fundamental para o reforço do espírito académico e para a socialização dos estudantes.


NO CAMPUS

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o âmbito das comemorações dos seus 100 anos, a U.Porto organiza, nos dias 24 e 25 de Março, no auditório da Faculdade de Engenharia (FEUP), a Conferência do Centenário – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, reflexão e debate está estruturado em torno de quatro grandes tópicos: Saberes, Vida, Territórios e Universidade. Cada tópico será lançado por uma personalidade proeminente no respectivo domínio, seguindo-se as intervenções dos oradores e um debate com a assistência. No entender do presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário, Valente de Oliveira, a conferência “visa descortinar os principais desafios que o futuro nos põe e fazer assentar a acção multímoda da Universidade em bases que foram discutidas e criticadas, antes de serem adoptadas”. Isto significa que a discussão vai realizar-se em torno dos principais desígnios que a U.Porto adoptou para si, não esquecendo os meios para os alcançar e os obstáculos que terá de enfrentar. A discussão será, contudo, enquadrada numa análise mais ampla do actual panorama do ensino superior no nosso país e no mundo, para a qual foram convidados ilustres especialistas nacionais e estrangeiros.

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A sessão de abertura da conferência tem lugar às 09h15 do dia 24, cabendo ao reitor da U.Porto, Marques dos Santos, e ao investigador Alexandre Quintanilha presidirem à cerimónia. Logo a seguir realiza-se, durante toda a manhã (a partir das 09h30), a sessão Saberes, com moderação de Lúcia Almeida Matos (U.Porto) e os oradores Helga Nowotny (European Research Council), António Nóvoa (reitor da Universidade de Lisboa) e Maria Manuel Jorge (U.Porto). Nesta sessão vão ser abordadas “questões relativas aos processos sociais de geração, transmissão e apropriação dos saberes, nomeadamente as que se prendem com os bloqueamentos e desigualdades nas aprendizagens escolares, com o modo como se inserem, são valorizados e eventualmente regridem os conhecimentos e títulos académicos no espaço concreto do trabalho e das organizações, com a incerta correspondência entre acesso à informação, reflexividade e participação cívica”. A partir das 14h30 tem início a sessão Territórios, que conta com os oradores Alain Bourdin (Université de Paris Est, Marne la Vallée), João Ferrão (Universidade de Lisboa), Álvaro Domingues (U.Porto) e Manuel Ferreira de Oliveira (Galp Energia). A moderação está a cargo de Filipe Duarte Santos (Universidade de Lisboa). Nesta sessão “partir-se-á da constatação de que os territórios e seus usos se tornaram numa das questões críticas da contemporaneidade”. Neste sentido, “só uma abordagem pluridisciplinar permitirá encontrar novos critérios e processos de projecto, regulação e gestão que articulem desígnios múltiplos e por vezes contraditórios”. No dia 25, a conferência arranca às 09h30 com a sessão Vida, na qual vão ser “abordadas algumas das múltiplas perspectivas sob as quais pode ser vista: a das ciências da


vida, procurando compreender os seus aspectos essenciais, a sua manutenção, a sua qualidade; as consequências sociais, políticas e económicas do seu prolongamento; a sua relação com o ambiente; a biodiversidade perante as suas ameaças; o ser humano como sujeito e agente; a sua inserção nos contextos naturais e nos ambientes construídos; enfim, toda a complexidade que nenhuma perspectiva que evite a multiplicidade disciplinar permitirá abarcar”. Para tanto, a sessão conta com a moderação de Guilherme Oliveira (Universidade de Coimbra) e as intervenções de Lee Silver (Princeton Univesity), Manuel Sobrinho Simões (U.Porto) e Teresa Pizarro Beleza (Universidade de Lisboa). Da parte da tarde, a partir das 14h30, tem lugar a sessão Universidade, cujo moderador é António Rendas (Universidade Nova de Lisboa) e os oradores Roger Dillemans (KU Leuven), Timothy O’Shea (University of Edinburgh) e Seabra Santos (Universidade de Coimbra). Nesta sessão “procurar-se-á pensar a Universidade no confronto entre os valores em que se fundou e os desafios que hoje tem”. Segue-se a sessão de encerramento da conferência, que também será presidida por Marques dos Santos e Alexandre Quintanilha. Resta dizer que a Comissão Organizadora da Conferência do Centenário é formada por Alexandre Quintanilha, António Marques, Cândido Agra, Jorge Gonçalves, José Madureira Pinto, Nuno Portas e Pedro Guedes de Oliveira.

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RMG


PERCURSO

arece paradoxal que um homem que consagrou a vida ao rigor da matemática tenha, no dealbar da idade adulta, confiado o seu destino aos caprichos da sorte. Mas foi exactamente isto que aconteceu a Francisco Gomes Teixeira, quando confrontado com a sempre angustiante escolha da área de estudo a seguir após o liceu. O pai apontava-lhe a Teologia ou o Direito como boas opções académicas, enquanto o primo médico, em casa de quem viveu

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durante os estudos liceais em Lamego, aconselhou-o a formar-se em Matemática, dadas as excepcionais aptidões que o jovem já então revelava para os números. A decisão foi tomada por moeda ao ar e o acaso encaminhou o primeiro reitor da U.Porto para uma brilhante carreira de matemático, pedagogo e académico. Tendo a sorte como conselheira, o jovem nascido em 1851, na aldeia de S. Cosmado, no distrito de Viseu, matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra. Mas, com apenas 17 anos e oriundo de uma família humilde, Gomes Teixeira não tinha ainda resolvido plenamente os seus dilemas vocacionais nesse primeiro ano lectivo do curso (1869-1870). A sua ideia era

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concluir Matemática e depois seguir Engenharia Militar. Contudo, acabou por optar em definitivo pela carreira de matemático por influência de um dos seus professores, Tôrres Coelho. E novamente a fortuna esteve do seu lado, pois logo no primeiro ano conquistou um prémio de mérito e, ao longo do curso, atingiria as mais altas classificações como estudante. Gomes Teixeira concluiria, em 1874, o curso com “Muito Bom por unanimidade” (20 valores), classificação até aí inédita naquela faculdade. No ano seguinte apresentou a sua dissertação de licenciatura e, 18 dias depois, defendeu o seu doutoramento, sendo de novo aprovado com a nota máxima. Com 24 anos, Gomes Teixeira era já doutorado e, pouco depois, seria eleito sócio correspondente da Academia das Ciências.

Inicia então a sua carreira de investigador e docente na universidade coimbrã, tendo tomado posse como lente substituto em Dezembro de 1874, por despacho do rei D. Luiz I. Depois de uma breve passagem pelo Observatório Astronómico de Lisboa, em 1878, onde exerceu o cargo de terceiro astrónomo, Gomes Teixeira foi progredindo na carreira académica de forma meteórica. Tanto assim que, logo em 1880, é promovido a lente catedrático da Faculdade de Matemática. Durante este período desenvolveu uma intensa actividade de investigação


(numa primeira fase dedicada à Análise e, mais tarde, à Geometria), passando a integrar a comunidade matemática internacional. Trocava correspondência com os mais prestigiados matemáticos do mundo e publicava artigos nas melhores revistas científicas da época, tendo ainda fundado, em 1877, o Jornal de Sciencias Matemáticas e Astronómicas, que foi publicado durante 28 anos. Paralelamente, Gomes Teixeira envolveu-se na política. Em 1879, com apenas 28 anos, foi eleito deputado às Cortes pelo Partido Regenerador, liderado por Fontes Pereira de Melo. Representou esta força partidária, não apenas nesse ano, mas também em 1879, 1883 e 1884. Vinte e sete anos depois, em 1906, pouco antes da implantação da República, aderiu ao Partido Regenerador Liberal,

1.º reitor da U.Porto Inesperadamente, Gomes Teixeira interrompe, em 1883, a sua ligação à Universidade de Coimbra e pede transferência para a Academia Politécnica do Porto, que havia sido criada em 1837. Esta mudança comportava evidentes riscos para a carreira do investigador, pois a escola que antecedeu a U.Porto estava vocacionada para o ensino técnico e, por conseguinte, não tinha nem a qualidade científica e pedagógica nem o prestígio académico da instituição coimbrã. Na decisão terá pesado a ligação de Gomes Teixeira ao Porto, onde conheceu a sua esposa, Ana Arminda Cardoso, natural da cidade. Mas, uma vez mais, Gomes Teixeira foi bem-aventurado na sua opção, dado que, logo em Dezembro de 1886, seria no-

mático assumiu funções de docência na Faculdade de Ciências, onde leccionou a cadeira de Cálculo Diferencial e Integral. Foi reitor durante sete anos (passou a reitor honorário em 1918) e só deixou a cátedra em 1929, depois de atingir o limite de idade para o exercício de cargos públicos. Faleceu poucos anos depois, em 1933, na cidade do Porto, tendo sido alvo de sentidas homenagens e inúmeras notícias em Portugal e no mundo. Como homem profundamente religioso que era e também muito orgulhoso das suas origens, Gomes Teixeira desejou ser sepultado no seu local de baptismo: a igreja de S. Cosmado. Entre as obras mais importantes de Gomes Teixeira, destacam-se os dois volumes do “Curso de Análise Infinitesimal, Cálculo Diferencial” (1889 e 1892), com os quais modernizou o ensino da matemática entre nós; a “História das Matemáticas em Portugal” (publicada

meado director e lente da 3.o cadeira da Academia Politécnica do Porto. Apesar da hercúlea tarefa que tinha pela frente, Gomes Teixeira logrou engrandecer a instituição portuense, designadamente com as reformas que promoveu na sua secção de Matemática. De tal forma que, quando a Academia Politécnica do Porto e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto deram lugar à U.Porto, em 22 de Março de 1911, Gomes Teixeira foi eleito reitor da nova instituição. Concomitantemente ao cargo de reitor, que passou a exercer a partir de 17 de Julho de 1911, o mate-

postumamente, em 1934), que constitui uma referência para os estudiosos das ciências no nosso país; e o “Tratado de Curvas Especiais Notáveis, tanto Planas como Torsas”, com o qual conquistou, em 1897, um importante prémio da Academia Real de Ciências espanhola. No ano em que comemora o seu Centenário, a U.Porto designou Francisco Gomes Teixeira como Figura Eminente da Universidade em 2011. Isto significa que, ao longo do ano, vão ser organizadas diversas iniciativas de evocação da vida e obra do primeiro reitor da U.Porto. Mas o próprio programa do Centenário já contempla, como é natural, acções de homenagem a Gomes Teixeira, designadamente a publicação de dois livros sobre este matemático. Referimo-nos às obras “Francisco Gomes Teixeira. O homem, o cientista, o pedagogo” e “Francisco Gomes Teixeira. Curso de Analyse Infinitesimal – Calculo Differencial. Análise de alguns conteúdos”, ambas da autoria de Maria da Graça Ferreira Alves.

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que João Franco fundara na sequência da sua ruptura com Hintze Ribeiro, então líder do Partido Regenerador. Além de deputado, Gomes Teixeira desempenhou importantes cargos públicos, como os de Vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1908), de reitor da U.Porto (1911) e de membro da Junta Orientadora dos Estudos (1923). Para todos estes cargos foi nomeado por governos republicanos, apesar de ter representado nas cortes um partido monárquico conservador. Parece, pois, que, não só Gomes Teixeira sobrepôs o serviço à causa pública aos seus ideais políticos, como o regime republicano não se escusou a recorrer ao prestígio académico e científico do matemático português.

RICARDO MIGUEL GOMES

Apesar da hercúlea tarefa que tinha pela frente, Gomes Teixeira logrou engrandecer a instituição portuense, designadamente com as reformas que promoveu na sua secção de Matemática.


INVESTIGAR

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CRIADOS EM 1919, OS INSTITUTOS DE ANATOMIA E DE HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA (FMUP) CONSTITUEM O EMBRIÃO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DESENVOLVIDA NA U.PORTO. ENTRE CADÁVERES PRESERVADOS EM FORMOL E MICROSCÓPIOS MANUAIS, DESCOBREM-SE OS MESTRES QUE, UM SÉCULO DEPOIS, CONTINUAM A SER REFERÊNCIAS NO PRESENTE E INSPIRAÇÃO PARA O FUTURO.

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ão há indícios de que Joaquim Pires de Lima, Hernâni Monteiro e Abel Salazar tenham estado juntos na noite de 3 de Agosto de 1919. O primeiro, professor ordinário (actual catedrático) e regente da cadeira de Anatomia Comparada, estaria provavelmente absorto na descrição de um cérebro dissecado, numa das mesas de mármore do Teatro Anatómico. Na porta ao lado, imagina-se o segundo, jovem regente de Anatomia Topográfica, a colocar as últimas “novidades” nos armários do Museu de Anatomia. Já os olhos do terceiro, professor ordinário de Histologia e Embriologia, aguardariam a decisão pregados a um microscópio dourado. Se, contudo, os três se tivessem encontrado no velho edifício da Faculdade de Medicina (no antigo largo da Escola Médica, ocupado hoje pelo ICBAS), poderiam assinalá-lo com um brinde. Algumas horas depois, ganhariam o direito a ser os protagonistas desta história. Parêntesis. A produção de conhecimento científico já acompanhava a missão da U.Porto desde a sua fundação – antecedendo-a até – quando, a 4 de Agosto de 1919, o Senado da Universidade, reunido em Assembleia Extraordinária, aprovou a criação do Instituto de Anatomia e do Instituto de Histologia e Embriologia da FMUP. Vivia-se então na ressaca do Estatuto Universitário de 6 de Julho de 1918, que se propunha “imprimir às Universidades um vigoroso impulso para que se tornem verdadeiros centros de investigação científica”. No mesmo sentido ia o decreto n.0 4652 que, a 12 de Julho desse ano, promulgava uma nova organização do ensino médico, sustentada no incentivo à investigação e ao “ensino profissional”. Paralelamente à revolução legislativa, uma outra estava em marcha. Ainda a fazer contas às baixas da I Guerra Mundial e a braços com batalhas diárias contra surtos mortíferos de pneumonia, febre tifóide ou tuberculose, o mundo despertava para a urgência de novas conquistas. Desse movimento resultariam algumas das mais importantes descobertas da História da Medicina: a insulina em 1920, a morfina em 1925, a penicilina em 1928... Eram por isso favoráveis os ventos que sopravam

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a 1 de Julho de 1919, dia em que Joaquim Pires de Lima e Abel Salazar solicitaram à Faculdade a criação e respectiva direcção de dois institutos de investigação científica. Com um percurso no qual se contavam alguns artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, ambos viam naquelas estruturas uma oportunidade de dinamizarem a investigação produzida pela Faculdade em duas áreas de conhecimento “irmãs”: a Anatomia Macroscópica, designada apenas por Anatomia, e a Anatomia Microscópica, que constitui a histologia. A outra inovação configura-se no modo de encarar o conhecimento científico, assente num modelo – inédito à época – em que o ensino e a investigação combinavam e interagiam numa mesma estrutura. Os argumentos rapidamente convenceram os meios de decisão. Cinco dias após o envio da proposta, esta é aprovada pelo Conselho Escolar da FMUP, presidido por Maximiano Lemos, e logo a seguir pelo Senado da U.Porto. Já a 8 Novembro, o Presidente da República, António José de Almeida, decreta a criação do Instituto de Investigações Anatómicas e do Instituto de Investigações Histológicas. Em poucos meses, os dois institutos estavam prontos a arrancar.

Que investigação se fazia há 90 anos atrás? Ao protagonismo das máquinas à escala nano e das linguagens digitais que comandam a ciência actual contrapunha-se, no raiar do século passado, o fascínio pelo corpo humano, “objecto” tão admirado quanto desconhecido. Era-o cada vez menos para Joaquim Pires de Lima e Hernâni Monteiro. “Os primeiros trabalhos do instituto privilegiavam a descrição anatómica do corpo humano. Muitas das variações de coisas básicas como as artérias, músculos e ossos são descritos com grande pormenor por esses professores e ainda hoje são referências no estudo da Anatomia”, introduz Dulce Madeira, actual directora do Instituto de Anatomia. Encontramo-la numa visita ao Museu de Anatomia, instalado numa ala alheia à azáfama de corredores e escadas do Hospital de S. João, casa


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Prova microscópica de Abel salazar (Foto CasaMuseu Abel Salazar)

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Hernâni Monteiro no Laboratório de Anatomia

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02 Estudantes da FMUP numa aula de Anatomia, com Hernâni Monteiro (Foto Museu de História da Medicina da FMUP) 03 Abel Salazar no Laboratório de Histologia (Foto CMAS) 04

04 Edifício da FMUP no início da década de 30 05 Sala provisória do Instituto de Histologia nos anos 30 (Foto CMAS)

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06 Colecção de crânios do Museu da Anatomia (1932)

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da FMUP desde 1959. Logo à entrada, recebe-nos o coração de J. Vicente de Carvalho (1792-1851), pioneiro dos estudos anatómicos no Porto. Mas é nas salas seguintes, entre esqueletos, cérebros abertos a régua e esquadro e corações preservados em formol, que o puzzle do corpo humano ganha forma. Cruzando o olhar com o resumo dos estudos publicados pelo Instituto até 1921, ali se encontram as mandíbulas caracterizadas por J.A. Pires de Lima nos estudos de Osteologia. Seguese um encontro com o esterno-cleido-mastoideu e outros músculos descritos por Hernâni Monteiro na área da Miologia. O coração contrai perante as artérias coronárias que inspiravam a Angiologia. E logo descontrai para dar força à árvore de nervos pintados a corante que conduzem ao sistema nervoso central. Por esta altura fixamo-nos no “feto anencefaliano”, que repousa num frasco. “Sempre que se encontrava alguma variação do normal, essas peças vinham para cá e eram estudadas”, refere Dulce Madeira. Da ala das “Monstruosidades” acenam o esqueleto de um gigante e uma fila de crânios com macrocefalias. Ao mesmo tempo que o corpo se desvendava a olho vivo nas mesas da Anatomia, outra história de sucesso era escrita nos microscópios do Instituto de Histologia e Embriologia. Sucessor de Plácido Costa (1848-1916), Abel Salazar começou por se dedicar ao estudo da anatomia do cérebro. Mas cedo os micrótomos e almofarizes do instituto se voltaram para o conhecimento da estrutura e evolução do ovário. Foi nesse âmbito que Abel Salazar desenvolveu uma série de abordagens inovadoras de coloração microscópica. Dessa pesquisa resultaram várias técnicas histológicas – sintetizadas no Método Tano-férrico de Salazar – que acabariam por revolucionar a investigação celular. Na verdade, pouco tempo após a criação dos dois institutos, era já evidente o impacto de ambos na projecção da Universidade junto do meio científico. Apesar das dificuldades – em 1919, Joaquim Pires de Lima alertava para a situação “deplorável” do material da faculdade e para a necessidade de “ampliar o pessoal técnico” –, a produção científica multiplicava-se (às descobertas de Abel


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Salazar respondiam as 2.700 peças catalogadas no Museu de Anatomia em 1921, o dobro das registadas em 1917). Paralelamente, os investigadores publicavam artigos nas principais revistas científicas e acumulavam participações em congressos por todo o mundo. Em 1928, Joaquim Pires de Lima remata a sentença nas páginas de O Comércio do Porto. “Já não é segredo para ninguém que os trabalhos portuenses de Histologia e de Anatomia são correntemente citados em todos os meios cultos do estrangeiro”.

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A herança do passado continua viva nos corredores da FMUP

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Peça do Museu de Anatomia da FMUP

02 Peças do Museu de Anatomia da FMUP 03 Instituto de Histologia e Embriologia do Prof. Abel Salazar

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04 Teatro Anatómico do Instituto de Anatomia do Prof. J. A. Pires de Lima

“Quem só sabe Medicina nem de Medicina sabe” ... Lê-se numa das paredes do átrio do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Nesta máxima, repetida há mais de 90 anos aos estudantes que se iniciavam no estudo da Histologia, projecta-se a outra faceta que, paralelamente à vocação científica, configura o carácter precursor dos primeiros institutos da U.Porto. “É aí que começa a ganhar força a ideia de que o ensino tem que estar ligado à investigação para ter qualidade e formar verdadeiras mentes científicas”, realça Deolinda Lima, actual directora do Instituto de Histologia. Em 1919, a mensagem encontrava eco nos estatutos do Instituto de Anatomia, que chamava a si “a dupla função de habilitação profissional e investigação científica”. Dentro desta nova visão, os estudantes passam então a “contar” como parte activa no processo de investigação liderado pelos professores. “Abel Salazar entendia a actividade docente como uma investigação colectiva, privilegiando o confronto de ideias”, lê-se na biografia assinada pela Casa Museu Abel Salazar. “Hoje, estuda-se medicina em bonecos. Privilegia-se a técnica. Mas falta a humanidade”, contrapõe o médico Aureliano da Fonseca. Aos 96 anos, fala com o direito de quem foi estudante de Joaquim Pires de Lima, do qual fixou as palavras na primeira aula de Anatomia: “Aqui está um defunto sem história para por nós ser retalhado, possi­bilitando-nos o conhecimento da maravilhosa estrutura do corpo humano. Tal dádiva devemos agradecer com respeito”. Resultado: “Ninguém entrava nas aulas de Anatomia sem fato e gravata”, mesmo quando a companhia convidava à quebra do protocolo. “Havia um ou outro colega que pegava no pénis de um cadáver e o metia no bolso das raparigas. Sempre desdramatizava a situação…”.

O papel pioneiro que o Instituto de Anatomia e o Instituto de Histologia e Embriologia desempenharam na promoção da actividade científica e do ensino da U.Porto garantir-lhes-ia, por si só, um lugar na história. Contudo, nos saberes de várias gerações de homens e mulheres, ambos souberam potenciar a herança dos fundadores. Ao Instituto de Anatomia é reconhecido um papel fundamental na raiz e no desenvolvimento do Hospital de S. João”. Já os laboratórios da Histologia mantiveram-se na vanguarda reivindicada por Abel Salazar, tendo acolhido, por exemplo, um dos primeiros microscópios electrónicos do país, nos anos 50. Chegados à actualidade, a História continua escrever-se, ainda que em tempos distintos. No caso da Anatomia, as palavras vão dar mais uma vez às salas do Museu, que recebem mais de mil visitantes por ano. “É possível aprender a Anatomia quase toda aqui”, diz Dulce Madeira. Não é por acaso. “A Anatomia Macroscópica está desvendada e isso deve-se também ao trabalho pioneiro do Instituto”. Conhecido o corpo à flor da pele, é ao ensino pré-graduado e pós-graduado que destina grande parte do tempo. O “pouco que sobra” é dedicado à investigação na área das neurociências, “onde estamos há mais de 30 anos”, completa a docente. Já nos corredores do Instituto de Histologia e Embriologia, o corre-corre de batas brancas deixa antever o porquê de ali se gerar boa parte da produção científica assinada pela FMUP. É assim desde que o instituto, a par do LBMC – Laboratório de Biologia Celular e Molecular (que derivou daquele no início do milénio), começou a especializar-se na investigação em dor, pela qual é reconhecido a nível internacional. “Só nos últimos três anos, o índice de impacto dos nossos artigos evoluiu de 3 para 4,5, o que é excelente”, resume Deolinda Lima. Mas outros desafios se avizinham. Prestes a mudar-se para o novo edifício da Faculdade, o Instituto prepara a (re)fusão das suas actividades de ensino e investigação com o LBMC, da qual resultará o Departamento de Biologia Experimental. Em curso está ainda a criação do Centro Pluridisciplinar de Investigação em Dor (CPID-UP), estrutura “única no país” que, segundo Deolinda Lima, “vai congregar várias estruturas ligadas à investigação e tratamento da dor”.

TIAGO REIS

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A U.Porto foi a primeira universidade portuguesa a adquirir um computador. Em Dezembro de 1967, é entregue à FCUP um NCR Elliott 4100 de 16 KB. O mentor do projecto foi Rogério Nunes, que ficaria a liderar o LACA – unidade responsável pelo apoio técnico e administrativo aos utentes da máquina. Destinado sobretudo ao cálculo científico, o computador serviu toda a Universidade e manteve-se activo durante 15 anos. Teve o epíteto de “Hermengarda”, devido ao seu comportamento inconstante. Mas foi um marco histórico no meio académico português, tendo possibilitado importantes avanços pedagógicos e científicos.

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uma altura em que se vulgariza o uso de laptops, e-readers, tablets, smartphones, PDAs, netbooks, notebooks, leitores de mp3, entre outros dispositivos electrónicos portáteis (ou gadgets como lhe chamam os aficionados), é difícil conceber que, na década de 60, os computadores eram umas máquinas gigantescas, vagarosas no processamento, limitadas na memória e complicadas de operar. Pois a U.Porto possuiu algumas dessas máquinas que hoje nos parecem da era dos Flintstones, mas que, naquele tempo, eram tecnologicamente sofisticadas e permitiram à Universidade importantes avanços pedagógicos e científicos. A epopeia da computação na U.Porto teve início no final dos anos 60 e, em grande medida, foi impulsionada pelo entusiasmo, dinamismo e competência científica de Rogério Nunes, professor catedrático da Faculdade de Ciências (FCUP) e investigador na área da Matemática Aplicada (entretanto falecido, em 2000). No ano lectivo de 1963/64, Rogério Nunes estagiou, como senior visitor, no Mathematical Laboratory da Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Era então 1.0 assistente da FCUP e tinha sido responsável pela instalação e exploração do Serviço da Hora do Observatório Astronómico (hoje Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros), o que implicou uma série de trabalhos de electrónica digital. A experiência em experimentação numérica e o contacto, em Cambridge, com modernos dispositivos de computação terão estado, pois, na base do empenho que Rogério Nunes colocou na aquisição de um computador para a FCUP. José Joaquim Pereira Osório, professor catedráti-

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co da FCUP, trabalhou de perto com Rogério Nunes e confirma esta ideia. Mas acrescenta ainda, como factor importante para a aquisição do computador, a grande amizade entre Rogério Nunes e Fernando Serrão, também professor da FCUP (Química) e à época secretário de Estado da Juventude e Desportos. Segundo José Joaquim Pereira Osório, o governante convidou o seu antigo docente, Rogério Nunes, para uma deslocação a Inglaterra, em Setembro de 1966, a fim de escolher o modelo de computador mais adequado à Universidade. Estavam assim abertas as portas, por via governamental, para a concretização da compra do primeiro computador de uma universidade portuguesa. Em Dezembro de 1967, e após concurso público, seria entregue à FCUP um NCR Elliott 4100 de 16 KB (24 bits). Em 15 de Fevereiro de 1968, o computador – que implicou um investimento de 20 mil contos (100 mil euros) – foi apresentado publicamente numa cerimónia que contou com a presença do ministro da Educação, Inocêncio Galvão Telles. A ocasião serviu, igualmente, para inaugurar oficialmente o LACA – Laboratório de Cálculo Automático da FCUP, uma unidade com cerca de 15 colaboradores que dava apoio técnico e administrativo aos utilizadores do computador.

O difícil feitio da “Hermengarda” Instalado no rés-do-chão da Biblioteca Geral, no actual edifício da Reitoria, o Elliott 4100 foi, como mais tarde escreveu Rogério Nunes, “adquirido, fundamentalmente, para fins de Cálculo Científico. Dele podiam utilizar-se (e utilizaram-se, efectivamente) não só elementos da Faculdade

RICARDO MIGUEL GOMES

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[FCUP] como da própria Universidade do Porto e de outras universidades, bem como ainda entidades particulares”. E, de facto, o computador conheceu rapidamente a adesão da comunidade académica da U.Porto, tanto assim que, em 1974, “para além de muitos outros utentes, mais de dois mil alunos utilizavam o computador durante, pelo menos, um semestre”, escreveu Rogério Nunes. De resto, logo após a inauguração, o LACA passou a funcionar com dois turnos de operação, das 8h00 às 20h00. O Elliott 4100 era, à época, muito evoluído tecnologicamente, até porque Rogério Nunes teve a preocupação de protelar a compra do computador precisamente para adquirir o último modelo do fabricante inglês, segundo nos contou José

Prof. Rogério Nunes

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O computador NCR Elliott 4100 de 16 KB (24 bits)

02 Sala onde funcionava o LACA, no actual edifício da Reitoria

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Joaquim Pereira Osório. Ainda assim, à luz dos padrões actuais, a máquina caracterizava-se por um funcionamento complexo, pela lentidão no processamento de dados e pelas limitações da memória. Era pouco mais do que uma máquina de calcular, garante um dos utilizadores de então, Carlos Madureira. Este professor catedrático da Faculdade de Engenharia (FEUP) lembra, a propósito, que o computador ganhou, entre os seus utilizadores, um epíteto feminino, “Hermengarda”, devido ao seu comportamento temperamental. Ou seja, a máquina por vezes empancava e os seus processos rudimentares, vagarosos e complicados punham os nervos em franja a muitos utilizadores. Imagine-se o que era perfurar programas numa fita de papel que se desenrolava de uma bobina, utilizando um teletipo. Tratava-se, de facto, de um processo moroso e com grandes riscos, uma vez que as fitas perfuradas são um suporte frágil e pouco manuseável. As operações de inserção e anulação de dados dependiam da habilidade do operador do teletipo, não sendo praticamente possível realizar operações de ordenação de registos e de verificação de dados. Por outro lado, reconstituir uma fita rasgada por acidente era uma tarefa bastante árdua. “As meninas iam trocar os


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Zona do LACA reservada aos utentes do computador

02 Inauguração do LACA: J. P. Osório (à esq.), Galvão Telles (ao centro) e Rogério Nunes (de costas)

bits um a um”, recorda um outro utilizador de outrora, Francisco Calheiros, professor associado da FEUP. “Dava trabalho, muito trabalho. O computador era uma amante tramada: ocupava muito tempo!”, acrescenta com ironia. Francisco Calheiros salienta ainda que, quando chegou, o computador “tinha zero de software. Era um monte de fios e de memórias de ferrite”. Foi necessário, por isso, um intenso trabalho de desenvolvimento de programas. Para este esforço contribuíram decisivamente as dezenas de cursos livres de programação que, no final dos anos 60, o LACA organizou para uma ampla audiência de estudantes. Esses cursos serviram ainda como meio de promoção do uso dos computadores na Universidade, designadamente para utilização corrente no cálculo científico. Mas a intervenção de Rogério Nunes não se quedou aqui. Este docente e investigador logrou ainda encontrar financiamento, dentro da FCUP, para custear um upgrade do Elliott 4100. A memória do computador passou, então, de 16 KB para 64 KB, graças a um investimento de 5 mil contos (25 mil euros). “A Faculdade, num gesto hoje inimaginável, se sacrificou, na quase totalidade, a fim de que tal melhoria se levasse a cabo”, escreveu, a propósito, Rogério Nunes.

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15 anos em funcionamento “Praticamente com a sua estrutura inicial”, como salienta José Joaquim Pereira Osório, o Elliott 4100 funcionou ininterruptamente durante 15 anos: de 1967 a 1982. O computador chegou, até,

a ser ameaçado pelo incêndio ocorrido na FCUP, actual edifício da Reitoria, em 19 de Abril de 1974, facto que terá acelerado a sua transferência para novas instalações da U.Porto na Rua das Taipas. “Foi uma sorte muito grande. Toda a parte norte do edifício foi destruída e o fogo parou ao chegar à zona da Biblioteca”, lembra José Joaquim Pereira Osório. Mas, apesar das actualizações, a usura do tempo terá sido fatal ao Elliott 4100, na opinião de Carlos Madureira, que se recorda da máquina dar muitos problemas no final de vida e de terem sido comprados dois computadores semelhantes para retirar componentes. Carlos Madureira esteve directamente envolvido na substituição do Elliott 4100 por um Cyber 170720, em 1982. Foi um dos promotores do CIUP – Centro de Informática da Universidade do Porto, estrutura que, por seu turno, absorveu o LACA – unidade que, em 1979, já havia perdido o seu fundador e presidente da Comissão Directiva, Rogério Nunes, que se demitira devido, como escreveu, a um “diferendo com o Conselho Directivo” da FCUP. Para Carlos Madureira, o Cyber representou um salto qualitativo, uma vez que tinha 1 MG de memória central e 1 GB em disco para toda a Universidade, era multiutilizador (ou seja, podiam ser programadas várias tarefas em simultâneo, cabendo à máquina reparti-las no tempo) e utilizava linguagens mais evoluídas, como o Basic. Até à construção do edifício do CIUP, no Campo Alegre, o Cyber esteve instalado na Rua das Taipas, onde, num primeiro momento, atormentou a vizinhança com o seu barulho ensurdecedor. Contudo, a desactivação do Elliott 4100 e a aquisição do Cyber 170-720 ainda hoje não são pacíficas. Rogério Nunes escreveu, em 2000, que o novo computador foi comprado “numa época em que o fabricante (C.D.C.) acaba de encerrar o fabrico da série 700 da década de 70 e lançava a série 800 da década de 80”. Ou seja, já estaria desactualizado. José Joaquim Pereira Osório também sublinha esse facto e considera mesmo que, “com o Cyber, começa a decadência”. Já Francisco Calheiros e Carlos Madureira, embora enalteçam veementemente o trabalho desenvolvido por Rogério Nunes, são da opinião de que o fundador do LACA estava demasiado afeiçoado ao Elliott 4100. Carlos Madureira admite, inclusive, que houve reacções negativas ao Cyber sobretudo entre os docentes e investigadores mais velhos, que, diz, não dominavam ainda as novas linguagens computacionais.


MONTRA

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PÁGINAS QUE FAZEM A HISTÓRIA DO CENTENÁRIO

Quase dezena e meia de obras Por último, “Universidade do Porto: Raízes e Memórias da Instituição”, da autoria de Cândido dos Santos, um livro que atravessa todos os momentos da U.Porto, desde as suas origens mais profundas ao seu sustentado crescimento. Uma obra que só poderia ser lançada em ano de Centenário. Descubra neste livro o papel da Aula de Náutica (1762) na criação da U.Porto, a ligação entre a cidade e a instituição e os modelos que a Universidade tem seguido na internacionalização e na procura de estudantes estrangeiros. As quatro obras referidas têm a chancela da U.Porto editorial e integram a colecção de livros a lançar ao longo de 2011, como forma de celebrar o Centenário da Universidade. No campo editorial, há ainda a destacar o lançamento das obras “A República na Universidade. A Universidade na República” (Jorge Fernandes Alves), “Percursos da Internacionalização na Universidade do Porto – Uma Panorâmica Centenária” (Pedro Teixeira), “A Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919-1931)” (Pedro Baptista), a biografia de Ferreira da Silva (Jorge Fernandes Alves), a edição ampliada por Francisco Ribeiro da Silva da “História da Escola Politécnica do Porto” (Artur de Magalhães Basto), “Os Reitores da Universidade do Porto. Retratos e Notas Biográficas (coordenação de Francisco Ribeiro da Silva), “A Real Escola de Cirurgia e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Um Contributo para a História da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto” (Amélia Ferraz), “O Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: Passado, Presente e Futuro de uma Escola Paradigmática” (Romero Bandeira), “A Universidade e a Cidade. Imagens para o Futuro” (António Cardoso) e “O Novo Modelo de Governação da U.Porto” (coordenação de Cândido Agra).

PEDRO ROCHA

28 de Outubro de 1911. Presidido por Francisco Gomes Teixeira, o Senado reúne-se pela primeira vez e elege a Junta Administrativa da Universidade do Porto. Esta é a primeira acta de que há memória na U.Porto e pode ser lida, na íntegra, no “1º Volume das Actas do Senado”, um dos vários livros que serão lançados em 2011 para assinalar os cem anos da Universidade. O “1º Volume das Actas do Senado” tem introdução de Cândido dos Santos, cobre o período entre 1911 e 1929 e conta-nos a história dos primeiros cinco reitores da U.Porto: de Francisco Gomes Teixeira (1911-1917) a Alexandre Alberto de Sousa Pinto (1929-1931). A instituição dava os primeiros passos constituída apenas por duas faculdades (Ciências e Medicina) e duas escolas (Engenharia e Farmácia). As actas reflectem isso mesmo: os primeiros acontecimentos, a criação, as origens, as lutas internas mas também as lutas externas à U.Porto, como a queda da 1.ª República, que alterou por completo o panorama da educação em Portugal. Todos os factos históricos e os marcos que assinalaram os primeiros anos de vida da Universidade estão implícitos nas actas do Senado da U.Porto, centenas de documentos históricos ao dispor do leitor. “Francisco Gomes Teixeira. O homem, o cientista, o pedagogo” é outro dos livros com que se assinala os 100 anos da U.Porto. Trata-se de uma investigação de Maria da Graça Ferreira Alves sobre o prestigiado cientista e primeiro reitor da Universidade. Segundo esta obra, Gomes Teixeira foi uma “personalidade fascinante que marcou a sociedade da época”. O livro evidencia o perfil de Gomes Teixeira como cientista mas também como pessoa. Para traçar um perfil rigoroso e abrangente, a autora teve de enquadrar a figura “no ambiente familiar, na vida académica, na comunidade científica, na sociedade em geral, delineando linhas da sua personalidade, como cidadão, como cientista, como mestre”.

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As comemorações do Centenário são pretexto para várias iniciativas editoriais. Está prevista a edição, em paper back, da obra “Universidade do Porto: Raízes e Memórias da Instituição”, agora revista e aumentada pelo seu autor, Cândido dos Santos. Vai ser também publicado o primeiro livro das Actas do Senado da U.Porto, bem como uma biografia do primeiro reitor, Gomes Teixeira, e uma análise dos conteúdos científicos desenvolvidos pelo célebre matemático. Estas duas obras são da autoria de Maria da Graça Ferreira Alves.

Tanto esta obra como a intitulada “Francisco Gomes Teixeira. Curso de Analyse Infinitesimal – Calculo Differencial. Análise de alguns conteúdos” resultaram da tese de doutoramento sobre o primeiro reitor da U.Porto da autoria de Maria da Graça Ferreira Alves. Da tese resultou, então, um livro biográfico e outro sobre os conteúdos matemáticos e os raciocínios de Francisco Gomes Teixeira. Este último foi essencialmente elaborado para especialistas da área matemática e é constituído por seis capítulos, onde surgem várias análises das quatro edições do curso dirigido por Gomes Teixeira: Analyse Infinitesimal — Calculo Differencial.


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esumir 100 anos de história numa barra cronológica como a que abaixo se apresenta acarreta vários riscos. Desde logo, o risco simbólico de se traduzir em caracteres e manchas de cor os feitos do Homem. Mas também o risco de colocar numa série limitada de pontos em plano de sucessão, o que o devir da História torna, por defeito, impossível. Um momento é, contudo, incontornável. 22 Março de 1911 é a data que os livros e arquivos de História assinalam como o primeiro dia da U.Porto: “No território da República, além da Universidade de Coimbra já existente, são criadas mais duas Universidades – uma com sede em Lisboa e outra no Porto” (excerto do artigo 1.0 do Decreto de 22 de Março de 1911). Em poucas linhas e sem direito a discursos herói-

cos, assim se consumava o motivo que reúne, em 2011, toda a comunidade em torno das celebrações do Centenário. Talvez por isso, acresce a tentação de criar epítetos que enfatizem a efeméride. No caso da U.Porto, é comum apelidá-la de “filha” da República que, instaurada em Outubro de 1910, criou as condições para a descentralização do ensino superior, oferecendo ao Porto e a Lisboa o que até então estava solidificado em Coimbra. Muito antes, porém, a barra cronológica havia começado a contar. Encontrar as raízes da U.Porto exige recuar ao século XVIII e a uma combinação de experiências que viriam a projectar-se na futura Universidade. Neste contexto, a Aula de Náutica (1762) e a Aula de Debuxo e Desenho (1779) formam o embrião

22 de Março de 1911 Publicação do decreto que cria a U.Porto, através da fusão da Academia Politécnica com a escola anexa de Engenharia e a Escola Médico-Cirúrgica.

16 de Julho de 1911 Inauguração da U.Porto, sob a presidência do Ministro do Interior, António José de Almeida, considerado o “fundador” da Universidade.

16 de Julho de 1911 Eleição do primeiro reitor, o matemático Francisco Gomes Teixeira.

12 de Abril de 1937 Cerimónia de lançamento da primeira pedra do monumento de homenagem à memoria dos antigos estudantes da U.Porto mortos em combate, na I Guerra Mundial.

1937 Centenário da Academia Politécnica do Porto, antecessora da FCUP e FEUP.

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1911 Maio de 1911 Criação da primeira Associação dos Estudantes do Porto, assinalando o arranque do movimento associativo dentro da Academia.

28 de Outubro de 1911 1.ª sessão do Senado da Universidade.

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1922 Início da publicação de O Porto Académico, que marca o nascimento da imprensa académica na Universidade.

1925 Centenário da Real Escola de Cirurgia, antecessora da escola médico-cirúrgica do Porto. Foi no contexto das celebrações que se deliberou a criação da actual Maternidade Júlio Dinis.

1935 Afastamento compulsivo de Abel Salazar da U.Porto, por motivos políticos.

1937 A Faculdade de Engenharia instala-se no edifício da Rua dos Bragas.


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do ensino superior no Porto. Àquelas sucederia, em 1803, a Academia Real da Marinha e Comércio, em cuja diversidade de saberes – abarcando áreas como a Matemática, o Desenho e as Línguas – a U.Porto viria a inspirar-se um século depois. Faltava o ensino médico, iniciado em 1825 pela Régia Escola de Cirurgia. O relógio não pára até 1836, primeiro ano da era Passos Manuel. Sob a nova égide reformista, a Régia Escola de Cirurgia evolui para a Escola Médico Cirúrgica, passando esta a anexar uma Escola de Farmácia. No mesmo ano, abre portas a Academia Portuense de Belas Artes (Escola Portuense de Belas Artes, a partir de 1881). Já em 1837, a Academia Politécnica sucede à Academia Real da Marinha e Comércio com a finalidade de promover uma “alta formação in-

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Domingos Alvão, Praça Gomes Teixeira, s/d, AFP000306 - CPF DGARQ

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Duelo à pistola entre Alfredo de Magalhães e Lopes Martins, professores catedráticos da Faculdade de Medicina, a 24 de Maio de 1928

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Grupo de estudantes fundadores do Jornal “Porto Académico” (1922)

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Academia Politécnica (Desenho de Joaquim Cardoso Vilanova, 1833)

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Grupo de professores assistentes da U.Porto em 1937

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Visita de João Franco à Escola Médica em 1907

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Estudantes finalistas da Faculdade de Medicina

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1920 1 de Novembro de 1911 Sessão Inaugural da U.Porto. 6 de Dezembro de 1912 Criação do Orpheon Académico do Porto, génese do actual Orfeão Universitário do Porto.

27 de Novembro de 1915 Criação da Faculdade Técnica – Faculdade Engenharia (FEUP), desde 17 de Dezembro de 1926 –, a partir da autonomização da Escola de Engenharia da Faculdade de Ciências.

4 de Agosto de 1919 O Senado da U.Porto aprova a criação dos institutos de investigação científica de Anatomia e Histologia na Faculdade de Medicina. No ano seguinte, a 24 de Maio, seria deliberada a fundação dos institutos de Zoologia, Botânica e Química.

9 de Setembro de 1919 Criação da 1.ª Faculdade de Letras, por iniciativa de Leonardo Coimbra. Seria extinta em 1928.

3 de Janeiro de 1921 Criação da Faculdade de Farmácia (FFUP), a partir da conversão da Escola Superior de Farmácia.

13 de Abril de 1921 A U.Porto, através da Faculdade de Ciências, atribui pela primeira vez o grau de Doutor Honoris Causa.

1944 Leopoldina Paulo torna-se a primeira mulher doutorada pela U.Porto (Faculdade de Ciências / Biologia).

1946 Início da construção do Observatório Astronómico do Monte da Virgem.

1947 Criação do Centro de Estudos Humanísticos (CEH), que anteciparia a reactivação, 14 anos depois, da Faculdade de Letras da U.Porto.

1948 Inauguração da primeira residência universitária: Lar de S. João de Brito (Rua da Boa Hora).

1940 1942 Criação do Centro Universitário do Porto, génese dos actuais Serviços Sociais da U.Porto e do Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP), criado em 1946.

1945 A U.Porto participa na primeira edição dos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s).

1947 Afastamento compulsivo do professor Ruy Luís Gomes, por motivos políticos.

1948 Fundação do Teatro Universitário do Porto (TUP).

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1938 Inauguração do edifício da Faculdade de Farmácia, na Rua Aníbal Cunha.


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dustrial”. Separando aquilo que a Universidade haveria de unir, são estas três entidades que, até à primeira década do século XX, garantem uma oferta alargada de formação nas áreas ligadas às Ciências, Artes e Medicina. É assim sobre uma base sólida de quase 150 anos de experiência formativa que a U.Porto abre as portas em 1911. Desde esse ponto seminal, muitos momentos pontuaram a vida da instituição. Perante a incapacidade de os condensar, impera o critério da “primeira vez”. A começar pela sessão que, a 16 de Julho de 1911, assinalou o arranque das actividades da U.Porto. Nesse mesmo dia foi eleito o primeiro reitor, Francisco Gomes Teixeira, cuja visão – “os estabelecimentos de ensino quando são bons, atraem às cidades em que estão inseridos estudantes vindos de diversos pontos, que lhes dão vida e favorecem o seu comércio e a sua indústria” – haveria de apontar o futuro. E logo viria a primeira reunião do Senado, órgão fundamental na definição das linhas de orientação da Universidade ao longo de praticamente toda a sua existência. À “primeira vez” exige-se a continuidade que, na U.Porto, tem expressão máxima nas suas 14 faculdades. À cabeça, Ciências e Medicina, descendentes da Academia Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica. Na estrutura inicial da Universidade participam ainda as Escolas Anexas de Farmácia e Engenharia, embrião das faculdades que nasceriam em 1915. Em 1919, é criada a primeira Faculdade de Letras, projecto cunhado por Leonardo Coimbra e que, extinto em 1928, re-

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gressaria em 1961. Antes, em 1953, surge Economia, um sonho sonhado desde 1911 e que pôs fim a um hiato de mais de 30 anos sem que novos saberes se expandissem na U.Porto. Em 1975, Corino de Andrade, Ruy Luís Gomes e Nuno Grande “inventam” o ICBAS, ao mesmo tempo que se vence o combate pela Faculdade de Desporto. O seguinte seria pela Faculdade de Arquitectura, incorporada em 1979, a partir do curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes. Na ESBAP está também a génese da Faculdade de Belas Artes, criada em 1992. Pelo meio, rima com inovação a criação das faculdades de Psicologia e Ciências da Educação e de Medicina Dentária. Já nos anos 90, é inaugurada a Faculdade de Direito, com quase 80 anos de atraso. E por fim, em 1996, a Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação, “faculdade benjamim” mas

1960

1950 1950 Criação da Escola Superior de Belas Artes do Porto (activa até 1992), ascendente directa das faculdades de Arquitectura e de Belas Artes da U.Porto.

1953 Inauguração do Estádio Universitário do Porto. 28 de Maio de 1953 Fundação da Faculdade de Economia (FEP).

1954 Inauguração do Jardim Botânico do Porto, na Casa Andresen. 1959 Fundação do Hospital de S. João, no qual passa a funcionar a Faculdade de Medicina (FMUP).

1970

18 de Agosto de 1961 Criação da nova Faculdade de Letras (FLUP), que anexa o Centro de Estudos Humanísticos. Abre portas em 1962.

1967 Instalação do 1.º computador na U.Porto.

19 de Abril de 1974 Incêndio no Edifício Histórico da Universidade (Pr. Gomes Teixeira), do qual resulta a destruição total da ala norte.

1986 Criação do Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI).

1988 A lei n.º 108/88, de 24 de Setembro, devolveu de novo às universidades a autonomia científica, pedagógica, financeira e disciplinar. Com base na norma, a U.Porto elaborou os seus novos estatutos, que vieram a ser promulgados a 26 de Julho de 1989.

8 de Novembro de 1988 Constituição formal do ISEE – Instituto Superior de Estudos Empresariais.

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Março de 1977 A Faculdade de Letras muda-se para o “Complexo Pedagógico” no parque da Casa Burmester, à Rua do Campo Alegre. O espaço foi entretanto ocupado pelas instalações da Faculdade de Ciências.

21 de Dezembro de 1979 Criação da Faculdade de Arquitectura (FAUP), a partir da integração do curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP)

5 de Novembro de 1980 Criação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), a partir da autonomização do Curso Superior de Psicologia, criado em 1977.

1988 Lançamento da primeira pedra do novo edifício da FAUP, projectado por Siza Vieira. Ficaria pronto em 1992.


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Estudantes do Curso de Ciências Biológicas da FCUP, no Jardim da Cordoaria (1944)

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Estudantes da Faculdade de Medicina à saída de uma aula de Anatomia (anos 50)

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Professores da Faculdade Técnica em 1915

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[Edifício da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto], [19--] PT/CPF/ALV024651, Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

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Queima das Fitas (1967)

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Edifício Histórico da Universidade (interior)

alicerçada nos 20 anos de experiência do Curso Superior de Nutricionismo. Mas não se esgota nas faculdades o património da U.Porto. Num percurso pela Invicta, encontramo-lo com vigor no Edifício da Universidade (Pr. Gomes Teixeira), casa “histórica” da Faculdade de Ciências (até 2006), casa da Reitoria, baú dos tesouros do Museu de História Natural e desde sempre o centro nevrálgico da instituição. Longe da pedra, olha-se para as estrelas a partir do Observatório Astronómico do Monte da Virgem, fundado em 1948. Ou do Jardim Botânico, aberto ao público em 1968. A estes juntam-se os espaços que marcam a passagem da U.Porto para a modernidade, como o que Siza Vieira pensou para a FAUP (1992). E os do futuro, como os que servirão, a partir de 2011, o ICBAS, a FFUP e a FMUP.

1974 Eleição do primeiro reitor no pós-25 de Abril: Ruy Luís Gomes. Inicia-se um novo período na história da U.Porto, assinalado, em primeira instância, pelo afastamento de vários membros do pessoal docente e do corpo de funcionários.

Junho de 1974 A Faculdade de Economia muda-se para o novo edifício no Pólo II, na Asprela.

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“Sem pessoas não se fazem cem anos”, alerta-se nas páginas desta revista. Afinal, é nelas que reside a história viva da U.Porto. A começar pelos 17 reitores que, em épocas e contextos próprios, lideraram a Universidade no caminho do progresso. Para ele contribuem ainda gerações de investigadores e professores. Sábios que, como Augusto Nobre, Ferreira da Silva ou Gonçalo Sampaio, continuam a ser fontes de inspiração. As maiores figuras escondem-se, porém, nas gerações de homens e mulheres que, ao longo de 100 anos, beberam dos saberes da Universidade. Em troca, retribuíram com o seu talento e capacidade de mobilização. Assim nasce a primeira Associação de Estudantes do Porto, logo em 1911. E como esquecer o Orfeão, o TUP ou a Queima das Fitas, festa que, há mais de 100 anos, celebra o “ser universitário” pelas ruas do Porto?

1975 Criação da Casa-Museu Abel Salazar, em S. Mamede de Infesta. Maio de 1975 Incêndio destrói a quase totalidade do edifício da Faculdade de Farmácia.

5 de Maio de 1975 Criação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Entra em funcionamento a partir de 1976/77, com as licenciaturas em Medicina e Ciências do Meio Aquático.

3 de Dezembro de 1975 Criação do Instituto Superior de Educação Física, actual Faculdade de Desporto (FADEUP).

30 de Outubro de 1992 Criação da Faculdade de Belas Artes (FBAUP), a partir da integração dos grupos de pintura, escultura e design da comunicação da ESBAP.

5 de Março de 1992 Um incêndio destrói parte do edifício do ICBAS.

Outubro de 1976 A Reitoria transfere-se para o antigo edifício militar do Centro de Instrução e Condução Auto do Porto (CICAP), à Rua D. Manuel II.

1990 1989 Inauguração do Círculo Universitário do Porto. 1989 Criação do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

1990 Estudantes da U.Porto participam pela primeira vez no programa Erasmus. 1991 Criação do Instituto de Biologia e Medicina Celular (IBMC).

5 de Dezembro de 1995 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Letras, no Campo Alegre.

8 de Julho de 1994 Criação da Faculdade de Direito (FDUP).

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6 de Janeiro de 1989 Criação da Faculdade de Medicina Dentária (FMDUP), a partir da integração da Escola Superior de Medicina Dentária.


EM FOCO

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

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Como em qualquer epopeia digna de passar de geração em geração, nem só de sorrisos se faz esta história. Nela também se chorou a extinção da primeira Faculdade de Letras; lamentou-se o afastamento de professores históricos – Abel Salazar e Ruy Luís Gomes, entre outros – que as “circunstâncias” roubaram à academia; assistiu-se, impotentes, aos incêndios na Faculdade de Ciências (1974), na Faculdade de Farmácia (1975) e no ICBAS (1992). Mas também aí a Universidade soube erguer-se e unir-se para ultrapassar as tormentas. É por tudo isto uma Universidade orgulhosa da sua História a que hoje se celebra. Sendo a maior universidade de Portugal, com mais de 700 programas de formação frequentados por mais de 30 mil estudantes, a U.Porto lidera o ensino e a investigação científica a nível nacional. É

também a mais internacional das universidades portuguesas, estabelecendo-se entre as 200 melhores universidades da Europa, segundo os mais cotados rankings, onde a U.Porto se habituou a estar a partir de 2007.

Como explicar este sucesso? A resposta terá que contemplar a vocação da U.Porto para oferecer um ensino abrangente e na vanguarda das práticas pedagógicas. Do passado acenam Rodrigo Sarmento de Beires (o primeiro doutor, em 1917) e Leopoldina Santos (a primeira doutorada, em 1945), exemplos da cultura de exigência e superação enraizada na U.Porto. Uma cultura que também é de adaptação às necessidades da comunidade. Foi nesse espírito que a Faculdade de Medicina se “uniu” ao Hospital de S.João, criando um novo paradigma de hospital universitário. Mais recentemente, encontramo-la no dinamismo da EGP-UPBS, ou na plena adaptação dos cursos da Universidade às directrizes de Bolonha. À faceta pedagógica liga-se a de “universidade de investigação”, tal como a idealizaram Joaquim Pires de Lima e Abel Salazar quando, em 1919, criaram na Faculdade de Medicina os primeiros institutos de investigação científica. De então para cá, a U.Porto soube potenciar esta herança afirmando o estatuto de mais produtivo e prestigiado centro de investigação científica em Portugal. Foi nesse caminho que se geraram, no início da década de 90, o IPATIMUP, o INEB ou o IBMC. Desta com-

Julho de 1996 Criação do Instituto Superior de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (ISCNAUP), denominado, desde Julho de 1999, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP).

1996 Abertura ao público, no Edifício Histórico da Universidade, do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da U.Porto, actual Museu de História Natural da U.Porto.

15 de Julho de 1997 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Medicina Dentária, no Pólo II, na Asprela.

Novembro de 1998 Abertura ao público do Planetário do Porto, fundado pela U.Porto e pela CM Porto. A gestão científica do Planetário é feita pelo Centro de Astrofísica (CAUP).

18 de Dezembro de 1998 Constituição do INESC Porto, a partir do pólo do INESC que já existia na cidade(INESC Norte), desde Maio de 1985.

22 de Março de 1999 O reitor institui o dia 22 de Março como o Dia da Universidade, a comemorar anualmente no aniversário da criação da U.Porto.

22 de Março de 2006 Inauguração do novo edifício da FPCEUP, no Pólo da Asprela.

1 de Dezembro de 2006 Após a saída da Faculdade de Ciências, o Edifício Histórico da Universidade passa a ser ocupado pelos serviços da Reitoria.

3 de Agosto de 2007 A U.Porto surge pela primeira vez no lote das 500 melhores universidades do mundo, segundo o Academic Ranking of World Universities.

28 Janeiro de 2008 Criação formal do I3S, a partir da parceria entre o IPATIMUP, o IBMC e o INEB.

4 de Janeiro de 2008 Assinatura do acordo de fusão da EGP – Escola de Gestão do Porto e do ISFEP numa só escola de negócios da Universidade. A nova EGP-UPBS seria constituída em 5 de Junho.

2008/2009 Cursos da U.Porto plenamente adaptados ao modelo de Bolonha.

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2007 Primeira edição do IJUP – Encontro de Investigação Jovem da Universidade do Porto.

25 de Julho de 2008 Lançamento da primeira pedra do novo edifício do ICBAS e da FFUP, nas instalações anteriormente ocupadas pela Reitoria, na Rua D. Manuel II.

22 de Dezembro de 2008 Assembleia Estatutária da U.Porto aprova passagem a fundação pública de direito privado, no âmbito do RJIES.

21 de Julho de 2009 Criação da Fundação Marques da Silva.


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04 [Hospital de Santo António], [19--], PT/CPF/ ALV006705, Centro Português de Fotografia/ DGARQ/MC

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Cerimónia de Imposição de Insígnias na Queima das Fitas de 1966

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Incêndio na Faculdade de Farmácia em 1975

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Incêndio no Edifício Histórico da Universidade em 1974 (Átrio Principal)

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Estudantes Erasmus da U.Porto no início da década de 90

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O caminho está longe de estar concluído. “Somos do tamanho dos nossos sonhos”, diz o poeta. Na U.Porto, a ambição passa pela afirmação entre as 100 melhores universidades do mundo até 2020. Foi a pensar nisso que a Universidade abraçou, em 2009, a transformação em fundação pública de direito privado, lançando novas perspectivas a uma comunidade académica cada vez mais comprometida com o futuro. Reflectindo o “Olhar” de Daniel Serrão, “viver 100 anos é muito bom para uma pessoa. Para uma instituição, como a Universidade, é só um princípio”.

TIAGO REIS

binação nasceriam os primeiros Laboratórios Associados sediados na U.Porto. E porque o conhecimento é uma oportunidade de negócio, também aí se têm marcado pontos por via do incentivo à inovação dentro e fora do campus, acção na qual se tem empenhado, desde 2006, o Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC). Às conquistas internas acrescem as desenhadas no panorama do ensino superior internacional, onde a U.Porto se afirma como foco de atracção para milhares de estudantes e investigadores de todo o mundo. Iniciado nos finais dos anos 80, período em que a Universidade recebe e “exporta” os primeiros estudantes Erasmus, o trilho da internacionalização contempla hoje laços de cooperação com centenas de instituições dos cinco continentes.

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2000 Novembro de 2000 Constituição dos primeiros Laboratórios Associados na U.Porto: IBMC/INEB e IPATIMUP.

Março de 2009 Inauguração dos primeiros espaços do Pólo do Mar do UPTEC, instalado no antigo Edifício da Sanidade (junto à marina de recreio do Molhe Norte, em Leça da Palmeira).

14 de Maio de 2009 Promulgados os novos estatutos da U.Porto como fundação.

27 de Abril de 2009 Instituída pelo decreto-lei 96/2009 a fundação públida de direito privado denominada Universidade do Porto.

2009/2010 Arranque do P.INC – Pólo de Indústrias Criativas do UPTEC.

22 de Março de 2001 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Engenharia, na Asprela.

2003 Primeira edição da Homenagem às Figuras Eminentes da U.Porto.

2003 Primeira edição da Mostra da Universidade do Porto, no Palácio de Cristal.

2004 Designação dos primeiros Professores Eméritos da Universidade do Porto.

Maio de 2010 U.Porto organiza Campeonato Mundial Universitário de Rugby Sevens.

Setembro de 2010 A U.Porto foi a 85ª instituição de ensino superior europeia com mais artigos científicos publicados em 2009. Março de 2011 Mais de 10% (3.250) dos estudantes e investigadores da U.Porto são estrangeiros, com origem em 91 países.

2005 A Faculdade de Ciências começa a abandonar o Edifício Histórico da Universidade, para se instalar no novo complexo no Pólo do Campo Alegre.

2005 Criação do UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto).

Março de 2011 A U.Porto surge em seis rankings internacionais entre as 100 melhores universidades europeias ou muito próximo das 100 melhores. No Times Higher Education - THE World University, a U.Porto ocupa a 106ª posição.

Março de 2011 Comemoração do Dia do Centenário, com a presença do Presidente da República.

2005 Primeira edição da Universidade Júnior.

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1 de Março de 2000 Criação do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR).


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A PRIMEIRA DOUTORADA

ATRIBUIÇÃO DO GRAU DE DOUTORAMENTO

IMPOSIÇÃO DAS INSÍGNIAS DOUTORAIS

Apesar da presença das mulheres no ensino da U.Porto remontar à criação da Universidade e até às suas antecessoras – Rita Morais Sarmento formou-se, em 1894, na Academia Politécnica –, a participação feminina só começou a ganhar dimensão a partir de finais da primeira metade do século XX. É preciso, por isso, avançar algumas décadas para localizar o primeiro doutoramento de uma mulher na U.Porto, no caso, Leopoldina Ferreira Paulo. Estávamos em Novembro de 1944 quando a primeira doutora da U.Porto apresentou as suas provas de doutoramento em Ciências Biológicas, na Faculdade de Ciências. A tese versava “Alguns caracteres morfológicos da mão nos portugueses”. Por ser o primeiro, o doutoramento de Leopoldina Ferreira Paulo teve grande projecção na imprensa. Em 21 de Novembro de 1944, o “Jornal de Notícias” escreveu: “Na Universidade do Porto vai doutorar-se em Ciências uma senhora, facto inédito da vida académica da nossa terra”. Mais tarde, a 23, “O Comércio do Porto” também salienta o facto pelo seu ineditismo: “Pela primeira vez na história da Universidade do Porto uma senhora está a prestar provas de doutoramento na Faculdade de Ciências”. Leopoldina Ferreira Paulo voltaria a ser notícia em Junho de 1945, por altura da imposição das insígnias doutorais em sessão solene pública. Nesse momento, contou com a companhia de Judite dos Santos Pereira que, a 25 Janeiro desse mesmo ano, apresentou as provas de doutoramento em Geologia, também na Faculdade de Ciências. Se foi lento o acesso das mulheres ao ensino, também foi demorada a sua aceitação entre o corpo docente e não docente. No Porto, foi só depois da criação da Universidade que a primeira mulher, Leonor Amélia da Silva, ascendeu à docência, na categoria de 1.ª assistente da Faculdade de Medicina, em 1912. No caso do pessoal não docente, a primeira funcionária foi Laura Rosa de Castro, contratada pela Faculdade de Ciências em 31 de Maio de 1919.

Quando a U.Porto foi criada, em Março de 1911, integrou no seu corpo docente vários professores doutorados pelas instituições que a antecederam e pela Universidade de Coimbra. Contudo, foi preciso esperar seis anos para que a U.Porto atribuísse, pela primeira vez, o grau de doutoramento. O distinguido foi Rodrigo Sarmento de Beires que, a 20 de Junho de 1917, apresentou provas de doutoramento em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências. Natural de Lisboa, Rodrigo Sarmento de Beires (1895-1974) foi professor catedrático da Faculdade de Ciências. Com uma carreira de docente sempre ligada à U.Porto, esteve ainda à frente do Centro de Estudos Matemáticos do Porto, tendo substituído Ruy Luís Gomes no cargo. Faleceu em Junho de 1974. Tido como o grau por excelência do percurso académico, o doutoramento está ligado, por tradição, àqueles que anseiam prosseguir a carreira de docente. No caso da U.Porto, a primeira legislação relativa à obtenção do grau remonta ao decreto de 12 de Maio de 1911, que estabelece o plano geral de estudos da Faculdades de Ciências. Nele se determina que “os bacharéis que pretenderem o grau de Doutor são obrigados, na secção de Ciências Matemáticas, à apresentação de uma tese original, impressa, sobre assunto da sua escolha”. Nas secções de Ciências Físico-Químicas e Histórico-Naturais exigia-se ainda “um ano de tirocínio prático, provado num laboratório nacional ou estrangeiro”. Em ambos os casos, a tese era defendida e discutida perante um júri de três membros. Desde o doutoramento de Rodrigo Sarmento de Beires, milhares de estudantes/ professores obtiveram o grau pela maior universidade portuguesa. Na Faculdade de Medicina, os primeiros doutorados surgem logo em 1918.

Ainda que a U.Porto já tivesse professores doutorados desde a sua criação, em 1911, e que outros académicos ali tivessem prestado provas de doutoramento desde então, foi preciso esperar mais de 18 anos para assistir à primeira cerimónia pública de imposição das insígnias doutorais a docentes da Universidade. Os distinguidos a 21 de Julho de 1929 foram Fernão Couceiro da Costa (Faculdade de Ciências/Matemática), Manuel Joaquim Ferreira (Faculdade de Medicina) e Armando de Vasconcelos Larose Rocha (Faculdade de Farmácia). Incorporando um costume até então restrito à Universidade de Coimbra, esta sessão inédita “interessou, tanto os meios académicos, como o público”, segundo relato de “O Comércio do Porto”. Foi, por isso, um Salão Nobre do Edifício Histórico da Universidade “repleto de curiosos” aquele que deu as boas-vindas aos três doutorandos. A estes juntaram-se o então reitor da U.Porto, Alexandre Sousa Pinto, o reitor honorário, Gomes Teixeira, os professores Gonçalo Sampaio, Tomás Dias, Alberto de Aguiar e Aníbal Cunha (directores, respectivamente, das faculdades de Ciências, Engenharia, Medicina e Farmácia). Depois do elogio dos “padrinhos” dos doutorandos, seguiu-se o momento alto da cerimónia: a imposição das insígnias. Tal como em Coimbra, estas incluíam o capelo (chapéu), a borla (pequena capa) e o anel. Ainda que a cerimónia pública de imposição das insígnias doutorais não tenha criado no Porto uma tradição idêntica à de Coimbra, outros professores da Universidade foram alvo desta distinção ao longo do tempo. Destes destaca-se o filósofo Agostinho da Silva, investido, em 31 de Julho de 1930, com o grau de Doutor em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras. Quinze anos depois, a 16 de Junho de 1945, repetiu-se a cerimónia para sete novos doutores.


ATRIBUIÇÃO DO TÍTULO DE “EMÉRITO”

A 13 de Abril de 1921, a U.Porto atribuiu pela primeira vez o título de Doutor Honoris Causa, a mais elevada homenagem prestada pela instituição. Os distinguidos pela Faculdade de Ciências foram o francês Joseph Joffre, o inglês Horace Smith-Dorrien e o italiano Armando Diaz, generais das tropas aliadas durante a I Guerra Mundial. Segundo “O Comércio do Porto”, “eram cerca de 6 horas e meia da tarde quando os generais chegaram à Universidade, recebidos no átrio pelo reitor Dr. Augusto Nobre e pelos professores de diversas faculdades, estudantes, e pessoas gradas, ao mesmo tempo que a banda da Guarda Republicana executava a ‘Portugueza’”. A cerimónia teve lugar no salão nobre do Edifício Histórico da Universidade, que “regorgitava (sic) de pessoas (…), vendo-se em logares especiaes revestidos das suas insignias universitarias todos os directores e professores das faculdades de Sciencias, Technica, Medicina, Lettras e Pharmacia”. Na presença de múltiplas personalidades da cidade e do país, a alocução/elogio a cada um dos homenageados coube a Francisco Gomes Teixeira, então reitor honorário da U.Porto. O histórico matemático lembrou que os doutoramentos Honoris Causa “são por natureza pela Universidade reservados para os homens distintos da Ciência”, mas “são também aplicáveis aos homens ilustres na arte de guerra, porque só pode ser bom chefe do exército quem possuir uma forte inteligência e uma extensa cultura científica”. Desde 1921, cerca de 80 personalidades nacionais e estrangeiras foram distinguidas pela Universidade com o doutoramento Honoris Causa, como reconhecimento pelos seus feitos.

O professor catedrático da FAUP Eduardo Souto Moura (na foto) foi o primeiro membro da comunidade académica da U.Porto a ser agraciado com o Prémio Pessoa – distinção atribuída, anualmente, à personalidade portuguesa que, durante esse período e na sequência de uma actividade anterior, “tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país”. Em 1988, o arquitecto somou assim à sua extensa lista de galardões aquele que é, seguramente, um dos mais prestigiados prémios concedidos em Portugal. Nascido no Porto em Julho de 1952, Eduardo Souto Moura licenciou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1980. No ano seguinte inicia a actividade como profissional liberal, sendo também convidado para assistente do curso de Arquitectura, na FAUP. Entre 1988 e 1994 foi professor convidado em diversas universidades estrangeiras: Paris-Belleville (1988), Harvard e Dublin (1989), ETH de Zurique (1990-91) e Lausanne (1994). Dos seus inúmeros projectos, destacam-se o Mercado Municipal de Braga, a Casa das Artes (Porto), a Pousada de Santa Maria do Bouro (Amares), a Biblioteca Infantil e Auditório para a Biblioteca Municipal do Porto, a Casa no Bom Jesus (Braga) e a Casa das Histórias Paula Rego (Cascais). É um dos mais consagrados arquitectos mundiais, tendo conquistado igualmente o Prémio SECIL de Arquitectura, em 1992. O presidente do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (IPATIMUP), Manuel Sobrinho Simões, foi outro dos laureados com o Prémio Pessoa, em 2002. Nascido no Porto em Setembro de 1947, licenciou-se em Medicina na FMUP em 1971, com a classificação de 19 valores. Especializou-se em Anatomia Patológica cinco anos depois, com a classificação de 20 valores. Doutorou-se em Patologia na FMUP em 1979. Fez o pós-doutoramento, em 1979/1980, no Instituto de Cancro da Noruega. É professor catedrático de Anatomia Patológica na FMUP e, desde 1990, professor adjunto de Patologia e Biologia Celular do Jefferson Medical College da Universidade Thomas Jefferson de Filadélfia. Foi professor visitante ou cientista convidado em cerca de 30 universidades ou institutos de cancro da Europa, EUA, América Latina, Ásia e África. Trata-se de um dos grandes especialistas internacionais em oncologia.

A 22 de Março de 2004, a U.Porto concedeu pela primeira vez o título de Professor Emérito, através do qual a Universidade manifesta um especial reconhecimento aos seus professores jubilados ou reformados pela contribuição extraordinário que deram e continuam a dar à instituição. Em sessão solene comemorativa do Dia da Universidade foram, então, proclamados “Eméritos” os professores José Maria Moreira de Araújo (FCUP – Física e Astronomia), Maria Luiza Coelho Cortesão (FPCEUP, na foto), Mário Cerqueira Gomes (FMUP) e Vasco Sanches da Silva e Sá (FEUP). Estatuto de Professor Emérito da U.Porto consta da deliberação n.º 126/2004, aprovada na reunião da Secção Permanente do Senado de 15 de Julho de 2003 e publicada no Diário da República de 4 de Fevereiro de 2004 (II Série). De referir, a propósito, que o título de Professor Emérito estabelece-se com base num simples código deontológico e num conjunto adicional de direitos e deveres, acordados entre a U.Porto e o docente, mantendo-se assim entre estes uma colaboração regular. Cabe à Reitoria ou a uma das unidades orgânicas da Universidade propor a concessão do título de Professor Emérito, sendo este outorgado pelo reitor por um período de cinco anos renovável. Da lista de professores eméritos constam ainda os nomes de Jorge Ribeiro de Faria, Nuno Grande, Serafim Correia Pinto Guimarães, Maria Cândida Pacheco, Joaquim Bairrão Ruivo, Carlos Maria da Silva Corrêa, João Maria Machado Cruz, José Novais Barbosa, Nuno Portas, Sérgio Leopoldo Fernandez Santos, Roberto Salema, Bártolo Paiva Campos, António da Silva Costa e Maria de Sousa.

RIC ARDO MIGUEL GOMES / TIAGO REIS

PRÉMIOS PESSOA

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PRIMEIROS HONORIS CAUSA


AGENDA

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

PROGRAMA DE COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO 22 de Março de 2011 —Dia do Centenário Serenata Monumental Praça dos Leões 0H01

Sessão Solene de Comemoração do Centenário Salão Nobre da Reitoria 16H00 ORADOR CONVIDADO: Eduardo Lourenço. “Portugal e os seus desafios”

Concerto de Música Sinfónica Portuguesa Coliseu do Porto 21H30 Orquestra do Norte MAESTRO: Dr. José Ferreira Lobo 1.ª PARTE I — “Stacatto Brilhante” de Joly Braga Santos II — “Almourol” de Francisco Lacerda III — “Suite Alentejana n.º 2” de Luís de Freitas Branco 2.ª PARTE IV — “Poema para violoncelo e orquestra” de Luís Costa. (1.ª audição) V — “No coração do Porto” de Fernando Lapa Versos de Vasco Graça Moura (peça coral sinfónica encomendada expressamente para o Centenário).

Memória e Património Cinco Séculos de Desenho na colecção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Museu Faculdade Belas Artes Cento e vinte desenhos do acervo da Universidade onde avultam obras de artistas credenciados e se podem conhecer diferentes expressões estéticas. COMISSÁRIO: Francisco Laranjo — UNIVERSIDADE DO PORTO

As Preciosidades Bibliográficas da Universidade do Porto Biblioteca Almeida Garrett Exposição de obras bibliográficas raras que integram o acervo da Universidade e são testemunhos da produção de conhecimento da instituição ao longo dos seus 100 anos. COMISSÁRIO: José Adriano de Freitas Carvalho — UNIVERSIDADE DO PORTO

Colecção Egípcia da Universidade do Porto Reitoria da Universidade do Porto Colecção de cem peças oferecidas à Universidade no início do século XX e que, para além da sua raridade e valor, permitem conhecer melhor a história de tão importante civilização antiga. COMISSÁRIO: Luís Manuel de Araújo — UNIVERSIDADE DE LISBOA

Trinta Instrumentos para o Ensino das Ciências Museu Nacional de Soares dos Reis Exposição de peças do acervo da Universidade através da qual se compreenderá melhor a história do ensino da ciência na instituição e a evolução que conheceram os respectivos instrumentos. COMISSÁRIO: Luís Miguel Bernardo — UNIVERSIDADE DO PORTO

Ensino do Desenho na Escola Politécnica Gravuras, Estampas e Instrumentos Museu Nacional de Soares dos Reis

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Exposição de peças do acervo da Universidade na qual se constata a importância que a Escola Politécnica teve na formação de técnicos qualificados ao longo dos séculos XVIII e XIX. COMISSÁRIO: Luís Miguel Bernardo — UNIVERSIDADE DO PORTO

A Evolução de Darwin

Museu Botânico — Casa Andresen Exposição de peças dos acervos da Universidade, do Museu de História Natural de Nova Iorque e de outras instituições nacionais e internacionais. Ela é fundamental para conhecer a importância científica de Darwin e o seu contributo para a expansão do conhecimento. COMISSÁRIOS: Nuno Ferrand — UNIVERSIDADE DO PORTO José Feijó — UNIVERSIDADE DE LISBOA

Gravuras de Bartolozzi Exposição de gravuras de Bartolozzi, que pertencem ao acervo da Universidade. Uma oportunidade para apreciar o trabalho do artista italiano (1727—1815), bem como um conjunto de óleos e desenhos de Vieira Portuense, alguns deles gravados por Bartolozzi. COMISSÁRIA: Lúcia Matos — UNIVERSIDADE DO PORTO

Publicações Científicas da Universidade do Porto

1980—2011 Apresentação de capas ou primeiras páginas de artigos, teses ou livros de investigadores da Universidade em revistas ou outras publicações estrangeiras. Assim se dá a conhecer a dimensão da produção científica da instituição e a sua repercussão no mundo.

Encontro-Festa dos Antigos Estudantes

Edifício da Reitoria e espaço envolvente. 30 de Setembro de 2011 Iniciativa que visa reunir várias gerações de membros da comunidade académica, tendo em vista não apenas o convívio mas também, e sobretudo, o reforço do sentimento de pertença à Universidade.

Edições do Centenário — Série História A História da Universidade do Porto Cândido dos Santos

Actas do Senado da Universidade do Porto (Outubro 1911—1931). Vol. I Introdução: Cândido dos Santos Memória Histórica da Academia Polythecnica do Porto Artur Magalhães de Basto Reedição e notas de Francisco Ribeiro da Silva A Real Escola de Cirurgia e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto Um contributo para a História da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Maria Amélia Ferraz A Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919—1931) Pedro Baptista O Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: passado, presente e futuro de uma escola paradigmática Romero Bandeira Os Reitores da Universidade do Porto Retratos e notas biográficas Francisco Ribeiro da Silva — COORDENAÇÃO (PUBLICAÇÃO DA FUNDAÇÃO ENGENHEIRO ANTÓNIO DE ALMEIDA)

Identidade e Comunidade XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho

Centro de Congressos e Exposições da Alfândega 20 a 27 de Junho O tema do congresso é “A construção do Vinho – Uma Conspiração de Saber e de Arte”, cabendo a respectiva organização à associação UM PORTO PARA O MUNDO, que envolve a Universidade. COORDENAÇÃO: António Sarsfield Cabral

A Construção do Vinho Uma Conspiração de Arte e de Saber

Centro de Congressos e Exposições da Alfândega 20 a 27 de Junho Exposição a decorrer em paralelo com a organização do XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho. COORDENAÇÃO: Faculdade de Arquitectura da U.Porto

Regata dos barcos rabelos Rio Douro Participação na regata de barcos rabelos de uma embarcação com vela e tripulação da Universidade. Mais uma forma de reforçar os laços da instituição com a cidade. COORDENAÇÃO: António Sarsfield Cabral

Mostra Etnográfica Palácio de Cristal 25 de Junho Recriação da Festa de S. João nos Jardins do Palácio de Cristal. COORDENAÇÃO: NEFUP e OUP

Mostra Coral da Universidade 25 de Novembro de 2011 COORDENAÇÃO: AAOUP, NEFUP e OUP

Festival de Tunas da Universidade do Porto XXV FITU — Cidade do Porto Coliseu do Porto 13, 14 e 15 de Outubro de 2011 Mostra de Tunas U.Porto Março de 2012 Apresentações de tunas nacionais e internacionais, exaltando o espírito académico associado a estes agrupamentos. COORDENAÇÃO: OUP e Comissão de Praxe para as Actividades Académicas

Tradições à Letra Espectáculo de músicas, cantares e danças tradicionais de Portugal, tendo por base textos de alguns dos mais distintos antigos estudantes da U.Porto (Júlio Diniz, Camilo Castelo Branco, Raul Brandão, Manuel Laranjeira, Adolfo Casais Monteiro, António Gedeão e Jorge de Sena). COORDENAÇÃO: NEFUP

A Varanda Peça de teatro a levar à cena pelo TUP sobre texto de JeanGenet. A Varanda mostra a feira de vaidades do mundo, contando a história de um bordel que não é senão uma metáfora do tecido social que nesta peça é, através do riso, alvo de uma acutilante crítica. Encenação de António Júlio. COORDENAÇÃO: TUP

Sarau Cultural do Orfeão Universitário do Porto 9 de Março de 2012 COORDENAÇÃO: OUP

Litografia Francisco Laranjo 99 exemplares numerados e assinados pelo autor

CD — 24 Cadernos e Cantatas de Natal Fernando Lopes Graça CD com peças extraídas dos “24 Cadernos” e das “Cantatas de Natal”. Coral da Faculdade de Letras da Universidade do Porto dirigido pelo maestro Borges Coelho COORDENAÇÃO: Borges Coelho

Selo — “100 Anos das Instituições de Ensino” No âmbito desta colecção vai ser emitido um selo alusivo ao centenário da Universidade do Porto,

7.ª Universidade Júnior Junho, Julho e Setembro Programa de cursos de Verão desenvolvido, desde 2005, pela Universidade e que tem como objectivo despertar nos jovens (11 aos 17 anos) o interesse pelo conhecimento, ajudando-os, ao mesmo tempo, nas suas opções vocacionais. Integra um programa geral e escolas de introdução à investigação (Física, Matemática, Química Línguas, Humanidades e Ciências da Vida e da Saúde).


Encontros

Conhecimento e Horizontes

Armanda Passos articula aspectos oníricos em matérias simbólicas da figuração do ser, numa exigência psicológica voltada para si. Mulheres como eixo, numa preocupação de referência sólida, organizam espaços bidimensionais e excluem a presença do tempo, adquirindo uma constante identificável. COMISSÁRIA: Fabíola Valença — UNIVERSIDADE DO PORTO

Conferência do Centenário

Dias Abertos Visitas às faculdades por alunos de escolas básicas e secundárias, entre outras iniciativas dirigidas à comunidade académica.

Gala do Desporto da U.Porto Consagração dos estudantes e funcionários que representaram a U.Porto em competições desportivas nacionais e internacionais. COORDENAÇÃO: GADUP

Jogos do Centenário Competição de diferentes modalidades disputada ao longo de 2011 por equipas das faculdades constituídas por estudantes, funcionários, investigadores e antigos estudantes. COORDENAÇÃO: GADUP e Associações de Estudantes Olimpíadas do Centenário da U.Porto Competição de diferentes modalidades concentrada em dois fins-de-semana (só para estudantes), com equipas das diferentes faculdades. COORDENAÇÃO: GADUP e Associações de Estudantes Torneio de Rugby Competição concentrada num fim-de-semana com equipas de rugby das universidades portuguesas. COORDENAÇÃO: GADUP Torneio de Golfe Aberto a toda a comunidade académica e a elementos em representação de entidades/ empresas com ligações à U.Porto. COORDENAÇÃO: GADUP Torneio de Ténis Aberto a toda a comunidade académica e a elementos em representação de entidades/ empresas com ligações à U.Porto. COORDENAÇÃO: GADUP Torneio de Xadrez Simultânea de um mestre internacional com os melhores xadrezistas da U.Porto COORDENAÇÃO: GADUP Jogos sem Fronteiras/ Jogos Tradicionais Aberto a toda a comunidade académica; a realizar de preferência nos espaços da U.Porto e noutros espaços alternativos. COORDENAÇÃO: GADUP, AAEE’s, Comissão de Praxe para as Actividades Académicas e outras organizações de estudantes da U.Porto

Regatas no Douro

Auditório da Faculdade de Engenharia 24 e 25 de Março Sendo a maior universidade portuguesa, a U.Porto é também uma das instituições líderes do conhecimento no nosso país. Neste sentido, afigura-se pertinente reflectir sobre o que até agora foi atingido pela Universidade, quais os seus actuais desafios e quais os seus objectivos para as próximas décadas. Quatro tópicos – Saberes, Vida, Territórios e Universidade – foram seleccionados para discussão e debate públicos. Estes tópicos cobrem vastas áreas de interesse e são, em geral, entendidos como tendo um impacto muito significativo nas sociedades contemporâneas.

XXIX International Symposium of the International Society of Biomechanics in Sports Faculdade de Desporto da U.Porto 27 de Junho a 1 de Julho O IS BS2011 é a mais importante reunião mundial de Biomecânica no Desporto. Organizado pela Faculdade de Desporto da U.Porto e pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, o IS BS2011 vai apresentar e discutir os mais recentes desenvolvimentos científicos mundiais na Biomecânica do Desporto, fomentar a investigação biomecânica em Portugal e promover internacionalmente a investigação, os centros de investigação e os laboratórios portugueses dedicados à Biomecânica e à Biomecânica do Desporto. Será na altura criado o LABIO MEP, um laboratório de biomecânica que reúne investigadores de cinco faculdades da U.Porto. COORDENAÇÃO: João Paulo Vilas-Boas — UNIVERSIDADE DO PORTO

Centro de Cultura Financeira Metodologias e instrumentos para uma literacia financeira. COORDENAÇÃO: João Loureiro — UNIVERSIDADE DO PORTO

Cem anos – Cem palavras Um concurso literário de micro-contos de ficção, aberto a todos os membros da Universidade. Os melhores contos serão reunidos num volume a publicar posteriormente. COORDENAÇÃO: Francisco Ribeiro da Silva — UNIVERSIDADE DO PORTO

Universidade: instalações, acontecimentos, pessoas, ambiente, … Concurso fotográfico aberto a toda a comunidade universitária. As fotografias seleccionadas integrarão automaticamente o “banco de imagens”. O regulamento será publicado em breve. COORDENAÇÃO: Manuel Janeira — UNIVERSIDADE DO PORTO

Barcos Dragão Competição entre as seis universidades do Norte de Portugal e da Galiza.

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Faculdade de Farmácia Rua D. Manuel II

Embarcações sem motor Competição aberta a toda a comunidade académica.

Faculdade de Medicina — Ciências Básicas Pólo da Asprela

COORDENAÇÃO:

GADUP, Porto Lazer e Associações de Estudantes

Corrida Universitária Junho de 2011 (durante as Festas da Cidade) Aberta a toda a comunidade académica e à cidade. COORDENAÇÃO: GADUP e Porto Lazer

Inauguração destes novos edifícios do campus universitário, no âmbito do processo de expansão, ampliação, requalificação e modernização dos equipamentos educativos e científicos da U.Porto. COORDENAÇÃO: António Cardoso — UNIVERSIDADE DO PORTO

Jogos Galaico-Durienses

Edições do Centenário

Competição desportiva entre as seis universidades do Norte de Portugal e da Galiza. COORDENAÇÃO: GADUP

Série Presente e Futuro A Universidade e a cidade. Imagens para o futuro António Cardoso — COORDENAÇÃO

Congresso da Tradição Académica

O novo modelo de governação da U.Porto Cândido Agra — COORDENAÇÃO

Encontro de diferentes academias do país. 2011/2012. COORDENAÇÃO: GADUP, AAEE’s, Comissão de Praxe para as Actividades Académicas e outras organizações de estudantes da U.Porto

Percursos da Internacionalização na Universidade do Porto – uma panorâmica centenária Pedro Teixeira — COORDENAÇÃO

Exposições

Cinco Séculos de Desenho Gravuras de Bartolozzi Preciosidades Bibliográficas Colecção Egípcia Ensino do Desenho na Escola Politécnica Trinta Instrumentos para o Ensino das Ciências A Evolução de Darwin Publicações Científicas (1980—2011) A Construção do Vinho – Uma Conspiração de Arte e de Saber Armanda Passos

Espectáculos

Serenata Monumental Concerto de Música Sinfónica Portuguesa Mostra Coral da Universidade Festival de Tunas Tradições à Letra A Varanda Sarau Cultural Regatas no Douro Regata dos barcos rabelos Encontro-Festa Mostra Etnográfica

Outros eventos

CD — 24 Cadernos e Cantatas de Natal Selo — “100 Anos das Instituições de Ensino” Litografia “O Académico” Título de Doutor Honoris Causa Centro de Cultura Financeira Cem anos – Cem palavras (CONCURSO) Universidade: instalações, acontecimentos, pessoas, ambiente, … (CONCURSO) Inauguração dos edifícios Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Faculdade de Farmácia Faculdade de Medicina — Ciências Básicas

Desporto

Gala do Desporto da U.Porto Jogos do Centenário Olimpíadas do Centenário da U.Porto Torneio de Rugby Torneio de Golfe Torneio de Ténis Torneio de Xadrez Jogos sem Fronteiras/ Jogos Tradicionais Jogos Galaico-Durienses Corrida Universitária

Edições do Centenário

A História da Universidade do Porto Actas do Senado da Universidade do Porto (Outubro 1911—1931). Vol. I Memória Histórica da Academia Polythecnica do Porto Artur Magalhães de Basto A Real Escola de Cirurgia e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto Um contributo para a História da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919—1931) O Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: passado, presente e futuro de uma escola paradigmática Os Reitores da Universidade do Porto Retratos e notas biográficas A República na Universidade. A Universidade na República Francisco Gomes Teixeira O homem, o cientista, o pedagogo Francisco Gomes Teixeira. Curso de Analyse Infinitesimal – Calculo Differencial. Análise de alguns conteúdos Ferreira da Silva. Biografia A Universidade e a cidade. Imagens para o futuro O novo modelo de governação da U.Porto Percursos da Internacionalização na Universidade do Porto – Uma panorâmica centenária 25

Exposições Armanda Passos (Retrospectiva e Obra Gráfica)

Sessão Solene de Comemoração do Centenário Conferência do Centenário IJUP XXIX International Symposium of the International Society of Biomechanics in Sports XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho Congresso da Tradição Académica 9.ª Mostra U.Porto 7.ª Universidade Júnior Dias Abertos nas Faculdades


OLHARES

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

ANA LUÍSA AMARAL

ANTÓNIO MOTA

“É preciso formar redes a partir dos saberes concentrados nas Faculdades”

“As parcerias universidade/ empresa devem cada vez mais ser promovidas”

Escritora | Antiga estudante e professora associada da FLUP

Presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil SGPS | Antigo estudante da FEUP

Das salas de aula à liderança das principais instituições da região e do país, vestindo a capa e batina ou a bata branca dos mais conceituados centros de investigação portugueses, o legado da U.Porto repousa hoje nas mãos dos actuais e antigos estudantes, docentes, investigadores e outras figuras da Academia e da região. São pessoas que por mérito próprio simbolizam o passado, o presente e o futuro da maior universidade portuguesa. Neste espaço reúnem-se alguns destes nomes*, em cuja primeira pessoa se projecta a herança histórica da U.Porto, mas sobretudo os caminhos, desejos e desafios a abraçar pela Universidade neste século.

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* (Ver testemunhos completos no site do Centenário: http://centenario. up.pt/100olhares)

A U.Porto é formada por várias faculdades, que concentram saberes de ordens diversas. É preciso aproveitálas, formar redes. Seria excelente que os centros de investigação cruzassem áreas diversas como a literatura e a física, a engenharia e as artes, por exemplo. Mas é preciso mais: entender, por exemplo, que a Filosofia ou a Literatura, e o seu estudo, não geram protótipos, não têm valências económicas imediatas, mas que ensinam e ajudam a pensar – assim criando cidadãos com verdadeiro espírito crítico, ou seja, seres humanos melhores. Não podemos perder de vista essa perspectiva, a do humano. Sob pena de nos perdermos a nós mesmos.

Hoje, as universidades não têm de ser só escolas de saber. Devem desenvolver a sua actividade num contexto mais alargado e contribuírem directamente para a criação de valor na economia do país. Para isso, as parcerias universidade/ empresa devem cada vez mais ser promovidas, procurando inovar-se em soluções técnicas que permitam aumentar a competitividade. Estou certo de que a U.Porto pode, deve e irá continuar a contribuir, não só para formar técnicos, mas também pessoas ambiciosas, capazes de ajudar este país a evoluir positivamente.


BELMIRO DE AZEVEDO

CLÁUDIO SUNKEL

“A U.Porto precisa de continuar a sua abertura ao exterior”

“A U.Porto deve ser um guia em todos os aspectos do saber “

“O futuro da U.Porto passa pela cultura da exigência, da superação”

“A U.Porto deve ser um local de constante inquietação intelectual”

Presidente da NANIUM | Antigo estudante da FEUP

Fundadora e directora do Fantasporto | Antiga estudante da FLUP | Membro do Conselho Geral da U.Porto

Empresário | Presidente do Conselho de Administração da Sonae | Antigo Estudante da FEUP | Doutor Honoris Causa pela U.Porto

Investigador e director do IBMC | Professor catedrático do ICBAS

Novos tempos exigem mudanças e uma universidade não é disso isenta. A U.Porto precisa de continuar a sua abertura ao exterior, adaptando a sua oferta na educação e as suas capacidades no desenvolvimento do conhecimento e de tecnologias às prioridades da região e do país, assim contribuindo para o seu desenvolvimento. Esta maior abertura pode também permitir-lhe angariar suporte financeiro para novos projectos, num aproveitamento de sinergias que sem dúvida é benéfico para todos os envolvidos. Não podendo ficar de fora da onda de globalização, a U.Porto terá de continuar a abrir-se ao mundo, acolhendo mais estudantes, professores e investigadores estrangeiros, promovendo um ainda maior intercâmbio internacional, fazendo jus à melhor tradição da cidade do Porto.

O papel da U.Porto daqui a 100 anos será, como hoje já é, o de consagrar o Porto como uma cidade de eruditos, criadores, cientistas e especialistas, como Oxford, por exemplo. Mas a sua modernidade tem de ser visível e atractiva em todos os aspectos e para toda a gente. É importantíssimo dar a ideia de que saber é uma vantagem e que o esforço é sempre necessário para o sucesso Daí a sua ligação à sociedade ser absolutamente necessária. A U.Porto deve ser um farol do conhecimento, mas também um guia em todos os aspectos do saber. Eu sou idealista, como se pode ver.

A U.Porto coloca a ambição num patamar que honra a sua história. Mas sabemos que os objectivos não se concretizarão sem afinar sinergias – as melhores universidades são transversais, cruzam saberes e apostam na inovação. Assim sendo, o promissor futuro da “minha universidade” passará pela cultura da exigência, do desafio permanente, da superação; pela criação de um ambiente de motivação, onde cada um possa desenvolver as suas mais-valias; por uma postura aberta ao mundo e às suas reais necessidades. Com alunos portugueses e não portugueses, professores que não desistem de aprender, parcerias com os melhores entre os melhores e uma relação privilegiada com os sectores produtivos.

É preciso continuar a melhorar a qualidade do ensino, a qualidade da investigação, assim como a qualidade dos serviços que a Universidade presta através da sua enorme rede de Faculdades, Institutos, Unidades de Investigação e Laboratórios Associados. O trabalho que se desenvolve dentro da Universidade tem de estar cada vez mais ligado ao tecido social que nos rodeia, incluindo todo os seus intervenientes, desde as escolas até às empresas. A investigação tem de ser conhecida dentro e fora da Universidade, de forma que o conhecimento possa voltar a sociedade de uma forma ou de outra. É difícil visualizar o papel da Universidade daqui a 100 anos, mas penso que deve continuar a ser um local de constante inquietação intelectual e pensamento livre. De outra forma não poderá contribuir para o futuro.

TIAGO REIS

BEATRIZ PACHECO PEREIRA

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ARMANDO TAVARES


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OLHARES

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA

DANIEL BESSA

DANIEL SERRÃO

EDUARDO CARQUEJA

“A U.Porto deve prosseguir como centro nevrálgico de cidadania”

“Temos condições para competir numa ‘liga de honra’ à escala mundial”

“A inovação deve ser o programa, por excelência, da U.Porto”

“Tem que ser o motor de inovação e empreendedorismo da região”

Bispo das Forças Armadas e de Segurança | Antigo estudante e professor assistente da FLUP

Economista | Director-geral da COTEC Portugal | Ex-director e professor da EGP - Escola de Gestão do Porto e da EGP - UPBS | Antigo estudante e docente da FEP

Médico | Professor jubilado e antigo estudante da FMUP

Empresário | Fundador da NDrive | Antigo estudante e professor da FEP

A abertura às exigências científicas e sociais de outros países e suas culturas, a sensibilidade à preparação cientifica e pedagógica de seus profissionais, ao serviço de um país progressivo (oxalá!), a presença de seus alunos e professores no âmbito de sectores de ensino e de responsabilidades várias do país, não permitirão que se perpetue a figura do “Clerc” e do intelectual conformista. (...) A U.Porto deve prosseguir como centro nevrálgico da cidadania do país e da região Norte, tão augusta como olvidada. As múltiplas gerações voltarão a Atenas e a Roma, a rejubilar com a ágora da democracia, com o foro de todos os direitos. É num Estado de direito que uma Universidade está em seu lugar! A do Porto, por todos os motivos, será sempre gémea de uma cidade livre e invicta.

Não haverá vitória, nem no contexto nacional, nem sequer no contexto regional e local, se a U.Porto não for capaz de se afirmar no contexto internacional. Partimos muito atrás para podermos afirmar-nos numa “primeira liga mundial”, mas temos todas as condições para competir numa “liga de honra à escala mundial”. Trata-se de um longo caminho a percorrer para o que, a meu ver, dispomos da visão e da vontade, das competências e, não sei se com o mesmo grau de acutilância, da estratégia e sobretudo da organização. Não consigo antever a U.Porto daqui a cem anos, mas gostaria muito de a ver como a primeira universidade portuguesa a ser capaz de seleccionar como reitor uma figura de primeira linha da academia mundial – dando um contributo decisivo para vencer o que são alguns dos nossos maiores males como povo: o medo, o proteccionismo e o corporativismo.

Na linha da nova concepção da universidade como empresa, o melhor caminho é o da eficiência na produção do que a universidade decida produzir, sejam técnicos sejam pessoas cultas. Hoje a questão do financiamento ocupa o primeiro lugar na cogitação dos responsáveis e o apelo aos gestores e às empresas é constante. Tenho dúvidas sobre se o modelo empresarial é o melhor para fazer viver uma universidade como uma instituição cultural, criadora e difusora de saber, mas o tempo dirá se estou certo ou errado. A Universidade deve ainda estar na primeira linha de apoio ao país, em especial em período de dificuldades. Das crises sai-se com inovação. E a inovação deve ser o programa, por excelência, da U.Porto para os próximos 100 anos.

A Universidade tem de ser cada vez mais o motor da inovação e empreendedorismo da região e se posicionar cada vez mais no contexto internacional. É o ambiente certo, tem as pessoas com os conhecimentos e atitude correctos, laboratórios que permitem experimentar novas ideias e tem alunos com energia para arriscar. O aluno que estuda e faz exames é um animal do passado. A sociedade moderna exige um ser que pensa lateralmente nos problemas, arrisca com opiniões, toma a iniciativa e lidera o grupo em que se insere. A Universidade tem de encubar este novo saber, fazê-lo com base numa experiência integral de ensino, proporcionando novas experiências aos seus alunos.


“Não haverá estratégia de desenvolvimento da cidade e da região sem um forte envolvimento da Universidade” Economista | Ministro de Estado e das Finanças do XVIII Governo Constitucional e do XVII Governo Constitucional (2005-2009) | Antigo estudante e professor associado da FEP

A U.Porto deve prosseguir no caminho de exigência e qualidade que tem trilhado. Produzir e deter recursos humanos altamente qualificados e inseridos nas redes nacionais e internacionais de pesquisa, de conhecimento e de inovação é decisivo para a sua vitalidade (...). Num Porto que, ao longo das últimas décadas, perdeu muito do que bom tinha, a U.Porto é um reduto de iniciativa, competência e capacidade científica, técnica e organizativa. Não haverá estratégia de desenvolvimento, de dinamização e revitalização da cidade e da região sem um forte envolvimento da Universidade. O papel da Universidade daqui a 100 anos não será muito diferente do de hoje. Os tempos serão diferentes e a forma de cumprir esse papel também, mas a Universidade terá que continuar a ser um “farol” que aponta o caminho do progresso, da inovação, da modernidade e da valorização humana.

HEITOR ALVELOS

“É preciso um investimento claro na investigação aplicada” Director do festival Future Places| Professor auxiliar e antigo estudante da FBAUP

Destaco a necessidade de um investimento claro e inequívoco em projectos de investigação aplicada; um diagnóstico permanente de contextos exteriores passíveis de beneficiarem de colaboração com a Universidade; um reforço de visões de múltipla escala, articulando a perspectiva local com a perspectiva global de formas dinâmicas; um enfoque prioritário em parcerias com outras universidades da região, traduzidas em projectos que investem nas maisvalias da produção industrial e cultural específicas da região; a potenciação de uma cultura bilingue (português/ inglês), recusando o modelo polarizado, substituindo-o pela simultaneidade linguística.

HÉLDER MAIATO

JOÃO PAULO VILAS-BOAS

“É fundamental começar a ver a U.Porto na linha da frente da investigação”

“A U.Porto será uma universidade de inspiração olímpica”

Investigador do IBMC | Professor auxiliar convidado da FMUP | Antigo estudante do ICBAS e da FCUP

Professor catedrático da FADEUP | Antigo estudante do ISEF e da FPDEF

Focando-me na área da investigação, que é a que eu domino, o que eu gostaria era que se começasse a falar menos em número de publicações científicas e cada vez mais na qualidade das publicações que saem da U.Porto. É fundamental começar ver a Universidade na linha da frente da investigação em áreas em que claramente sejamos competitivos, em que possamos marcar a diferença. Não há dúvida de que esse é o caminho, mas terá que ser percorrido de forma séria e determinada. De resto, tem que se afirmar como uma universidade internacional, capaz de atrair estudantes de países cuja língua oficial não é o português. Sem isso, não vamos atrair pessoas de outras partes do mundo que, pela sua diversidade e riqueza de experiências, podem trazer novos contributos e uma nova forma de estar à U.Porto.

Não me restam dúvidas de que devemos continuar a trilhar os mais inovadores caminhos por que decidimos enveredar nos anos mais recentes (...), mas temos de ter consciência de que temos de o fazer melhor e mais depressa do que os nossos congéneres; e isso não é tarefa fácil! Mas se o fizermos e o fizermos bem, menos como frete, mais como missão, mas sobretudo como paixão, então daqui a 100 anos a U.Porto terá cumprido os seus desígnios, será uma universidade de investigação, uma universidade encastrada e indispensável à sociedade que serve, uma universidade prestigiada; seguramente não uma entre as 100 melhores da Europa, mas uma entre as 100 melhores do mundo. No fundo será uma universidade de inspiração olímpica.

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FERNANDO TEIXEIRA DOS SANTOS


OLHARES

JOÃO TEIXEIRA LOPES

JORGE ARMINDO

JOSÉ PINTO DA COSTA

MANUEL CARVALHO

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Sociólogo | Ex-deputado da Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda | Professor associado e antigo estudante da FLUP

Presidente da Amorim Turismo, SGSP, SA e suas associadas | Antigo estudante e professor da FEP

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A U.Porto é a maior oportunidade para a região Norte, enquanto centralidade de inovação, conhecimento e participação. Mas para que isso se concretize, tem de desenvolver o seu processo de afirmação pública e política, no sentido lato de tomada de posições estratégicas para o futuro da região. Sem temer polémicas: criar a dissensão é muitas vezes o ponto de partida das mudanças mais intensas. Nem sempre é fácil. A Universidade Portuguesa está infelizmente a tornar-se uma máquina cada vez mais burocratizada, sem que tal signifique necessariamente um acréscimo substantivo de qualidade. Urge avaliar Bolonha. Estamos demasiado mergulhados nos “procedimentos”. Para os próximos 100 anos? Menos gestão, mais Universidade!

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C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

A U.Porto deverá continuar a trilhar o caminho a que nos habituou, procurando melhorar a integração dos seus membros no seio da comunidade nacional e internacional em prol da mobilidade e troca de experiências entre os estudantes. Daqui a 100 anos, o papel da U.Porto será ainda mais importante do que foi até agora, pois o mundo será ainda mais exigente e competitivo, constituindo a formação um dos seus principais elementos.

Médico | Professor jubilado do ICBAS | Ex-director do Instituto de Medicina Legal do Porto | Antigo estudante da FMUP

Contrariando um centralismo desenfreado, a U.Porto tem imposto a sua voz mediante a sua qualidade científica e pedagógica. Para reforçar esse papel, deve reforçar a abertura à sociedade, melhorar a mobilidade de docentes e alunos, criar oportunidades para que todos os que querem aprender o possam fazer nesta instituição, fomentar o espírito de competição interna e externa, reanimar os valores humanistas por vezes tão esquecidos, auscultando a comunidade em que está inserida e reforçando o seu impacto no mundo. Que, 100 anos depois destes primeiros cem, a Universidade esteja no lugar cimeiro que merece.

Jornalista | Director adjunto do Jornal “Público” | Estudante da FLUP

Apesar de todas as melhorias, acreditar que a academia portuense é um mundo perfeito é um erro e um mito. Muitas faculdades continuam fechadas sobre si próprias; muitos docentes continuam a execrar contactos com o exterior; a mediocridade ainda domina departamentos e faz com que os mais jovens sejam convidados ao conformismo ou à inércia. A maior parte dos males é, mais do que portuense, de natureza institucional. Ou nacional. Olhando ao que se passou numa década, é provável que na próxima tudo isto se dilua e que o dinamismo que hoje se pressente em tantas áreas da U.Porto acabe por dar forma a uma nova cultura. No espaço de uma década deram-se passos enormes, e nada nos deve levar a crer que o efeito de bola de neve se venha a perder nos próximos anos.


MANUEL OLIVEIRA MARQUES

MANUEL SOBRINHO SIMÕES

MANUELA TAVARES DE SOUSA

MARIA DE SOUSA

“Impõe-se não restringir a sua atenção e acção estratégicas ao que é mais visível ou gerador de maior notoriedade”

“É fundamental acentuar a marca Universidade do Porto”

“É importante que a U.Porto mantenha o vínculo próximo com a comunidade”

“O caminho passa por sermos excelentes”

Com todo o respeito e apreço pela ambição de se projectar a Universidade a nível nacional e internacional, que deve ser cumprida e a todos mobilizar, impõe-se não restringir a sua atenção e acção estratégicas ao que é mais visível ou gerador de maior notoriedade e influência a curto prazo, e atender antes ao particular tecido económico e social do meio em que a Universidade se insere, abrindo-se mais e mais a esse meio e para ele encontrando as respostas e soluções exigidas em cada tempo concreto. Que a dimensão, a importância, a excelência e a ambição da U.Porto não a impeçam de afirmar-se, cada vez mais se possível, como um espaço de cultura, de criação de saber e de liberdade. Assim, a Universidade há-de ser, certamente, muitas vezes centenária.

Um desejo para o futuro: que a U.Porto, isto é, as suas unidades e as suas gentes sejam cada vez mais exemplares em termos de formação, investigação científica, desenvolvimento tecnológico e interacção com as empresas e a sociedade em geral. Se conseguirmos isto, vamos também conseguir uma das melhores universidades da Europa e do mundo. É fundamental acentuar as marcas Porto e Universidade do Porto por mais que nos custe assistir, e custa-nos, ao desbotamento de marcas como Faculdade de Arquitectura, Faculdade de Medicina, ICBAS, IPATIMUP, IBMC, INEB,… O que se deseja a uma instituição com 100 anos é que seja exemplar pelo trabalho, pela qualidade e pela (boa) governação.

CEO da Imperial | Antiga estudante da FEUP e da FFUP

A U.Porto tem vindo a criar condições para se poder afirmar como uma das mais prestigiadas universidades a nível internacional. Para que tal se concretize, é essencial que o conhecimento do meio científico seja posto ao serviço da inovação, através de uma cooperação activa e sistemática com as organizações, partilhando recursos e ampliando competências. É igualmente importante que a instituição mantenha o vínculo próximo que tem vindo a estabelecer com a comunidade, facilitando o acesso ao conhecimento, orientando de forma inovadora a formação pedagógica e potenciando uma formação mais completa e que fomente o empreendedorismo. Por fim, deve existir a vontade de reforçar a relação com a comunidade escolar internacional, contribuindo para o reconhecimento da instituição além-fronteiras.

Investigadora e coordenadora de investigação do IBMC | Professora jubilada do ICBAS | Coordenadora científica do programa GABBA | Professora Emérita da U.Porto

O caminho passa por sermos excelentes. Tão excelentes que apareçam grandes filantropos que deixem nos seus testamentos milhões de euros à Universidade só por que cá se formaram e querem os seus nomes ligados a uma grande e unicamente excelente universidade. Mas em verdade não acredito que possamos vir a ser tão unicamente excelentes, pelo menos nos próximos anos. Que eu perceba nem sequer fizemos ou tivemos a preocupação de fazer essa análise em profundidade, mesmo nos mais recentes institutos de investigação. A preocupação que sinto no ar é que devemos criar aglomerados locais maiores que possam vir a assegurar emprego para mais pessoas, sem perceber bem que atingir alguma excelência pode levar séculos e exigir a renovação radical do tecido universitário. Na minha condição de Emérita cá voltarei, velhinha, para ver, mas creio que a ver-se só se verá mesmo nos próximos cem anos.

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Professor associado e antigo estudante da FEP | Ex-administrador e presidente da Comissão Executiva da Sociedade Metro do Porto, SA | Membro do Conselho Geral da EGP - UPBS

Director e investigador do IPATIMUP | Professor catedrático e antigo estudante da FMUP


OLHARES

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

MÁRIO BARBOSA

NUNO BRANDÃO COSTA

NUNO CARDOSO SANTOS

RUI AMORIM DE SOUSA

“O futuro da Universidade será onde chegarem a transversalidade, o conhecimento integrativo, o hábito da exigência e da responsabilidade”

“A Universidade tem que intervir de modo mais concreto na cidade”

“O grande objectivo terá de ser a afirmação internacional”

Arquitecto | Professor assistente e antigo estudante da FAUP | Prémio SECIL Arquitectura 2008

Astrónomo | Investigador do CAUP | Professor afiliado da FCUP

“A aposta em projectos transversais será um factor crítico de sucesso para as próximas décadas”

No caso da arquitectura, para além do reconhecimento do seu prestígio, penso que a sua influência na comunidade deveria ser mais alargada e permanente. A influência da Universidade é, digamos, abstracta. A comunidade reconhece o seu valor, mas este não se concretiza para além das obras dos autores que saem da escola e vão, de modo fragmentado, construindo a cidade e a região – o que, diga-se de passagem, já é muito. Seria lógico se a escola fosse chamada a intervir de modo mais concreto nas questões da cidade... De resto, o caminho passa por manter a qualidade e a exigência. Valorizar o mérito e não se “academizar”. Valorizar a ligação e ter atenção permanente à sociedade e ao exterior. Se não se perder esse contágio entre a escola e a obra, o papel da U.Porto manter-se-á único.

O grande objectivo terá de ser a afirmação internacional, mas tal implica uma afirmação nacional e regional. Nesse aspecto, há algumas coisas que deveriam ser melhoradas. Nomeadamente, uma aposta na fixação dos recursos humanos (não “permanentes”) em áreas chave da investigação e uma melhoria na comunicação entre investigadores de diferentes departamentos/áreas/ centros de investigação. A ligação próxima entre a investigação e a divulgação científica é também essencial para que a U.Porto possa continuar (e mesmo melhorar) a sua capacidade de atracção dos melhores alunos. Se esse caminho for bem percorrido, creio que dentro de 100 anos (certamente antes disso) será possível ter uma universidade capaz de atrair investigadores e estudantes de todo o mundo.

Director e investigador do INEB | Professor catedrático e antigo estudante da FEUP

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A Universidade são muitos lugares. Muitas formas de agir. De interagir. E muitas formas de estar. O futuro da Universidade será onde chegarem a transversalidade, o conhecimento integrativo, o hábito da exigência e da responsabilidade. Será onde não existir mais espaço para pequenos túmulos habitados por sacerdotes que prosperam na complacência e na generosidade de fiéis públicos. Felizmente, só há um caminho para se estar vivo daqui a 100 anos: regenerarse continuamente.

Administrador delegado do grupo Cerealis SGPS | Membro do Conselho Geral da EGP-UPBS | Antigo estudante da FEP

Os jovens do futuro nascerão globais. Estarão menos condicionados pelos factores de proximidade geográfica. A atracção e retenção desses jovens estudantes e profissionais será feita pela oferta de qualidade, diferenciada e reconhecida. A U.Porto, inserida numa comunidade de fortes valores e tradições, de gente de trabalho e empreendedora, com práticas de qualidade comprovadas, tem todos os ingredientes para ver reforçado o seu reconhecimento nacional e internacional enquanto agente de formação. A aposta em projectos transversais às diversas áreas de conhecimento, à semelhança do da EGP-UPBS, unindo esforços em favor do colectivo, será um factor crítico de sucesso para as próximas décadas.


RUI MOREIRA

TERESA LAGO

TIAGO OUTEIRO FLEMING

VASCO TEIXEIRA

“A Universidade precisa de catalisar o apoio das empresas nacionais”

“A importância da U.Porto será aquela que a sua ambição actual traçar”

“O futuro reserva à Universidade um caminho de continuidade”

Empresário | Presidente da Associação Comercial do Porto | Antigo membro do Senado da U.Porto

Astrónoma | Professora catedrática e antiga estudante da FCUP | Fundadora e primeira directora do CAUP

“O caminho deve passar pela modernização das instituições, permitindo que se fixem pessoas de qualidade”

A Universidade deve ser motor da cidade, da região e do país. Pela sua própria natureza – lugar de criação, de discussão, de pensamento e de visão. Pela riqueza dos seus recursos humanos em termos de formação, de conhecimento, de diversidade e de vivência internacional. Mas isso obriga a que a Universidade adopte uma atitude de ambição e de liderança temperada pela humildade e realismo, com elevados padrões de exigência em termos da sua própria organização, prática e objectivos. A importância do papel da U.Porto, daqui a 10 ou 100 anos, será aquela que a sua ambição actual traçar: uma universidade a celebrar os 200 anos, com mais ou menos pompa, ou uma universidade europeia reconhecida pela sua qualidade intrínseca e contribuição competitiva.

O caminho a traçar pela U.Porto é o caminho que todas as universidades devem seguir. E esse caminho passa por premiar o mérito, promover a excelência, procurar pessoas que se destaquem pela qualidade dos seus trabalhos e da sua docência. Para atrair os melhores estudantes (nomeadamente os estrangeiros), é preciso ter os melhores professores e isso tem que ser o objectivo primordial para qualquer universidade que quer ser competitiva a nível nacional e internacional. Isso não só fortalecerá a Universidade e as pessoas que estão associadas a ela, como irá promover uma dinamização da cidade, da região, do país. De resto, o caminho deve passar pela modernização das instituições, permitindo que se fixem pessoas de qualidade e fornecendo-lhes condições para que possam desenvolver o seu trabalho.

Administrador e director editorial da Porto Editora | Antigo estudante da FEUP

O futuro reserva à Universidade um caminho de continuidade, de permanente abertura à inovação, aprofundando o seu relacionamento com a sociedade. É muito difícil prever como será o mundo daqui a 10 anos, muito mais daqui a 100, atendendo à crescente velocidade com que o conhecimento tem evoluído. Esse será, talvez, o maior desafio que se coloca à U.Porto: acompanhar e, ao mesmo tempo, contribuir para essa evolução, ajudando a cidade e a região do Porto a recuperar a importância que teve em tempos não muito longínquos, e que o centralismo sem visão nacional lhe tem retirado.

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A U.Porto é hoje reconhecida como a melhor [universidade] do país e pode ter um papel mais activo para desbloquear factores que condicionam ainda a performance do nosso ensino superior, se for ela própria um modelo de “governância” com capacidade de antecipação estratégica. Por tudo isto, é essencial que a Universidade seja vista como um espaço de conhecimento e diálogo crítico com a sociedade, para que todos os intervenientes do processo de formação assumam uma linguagem comum. Não tenho dúvidas de que a U.Porto tem neste momento capacidade para estar entre as melhores da Europa e mesmo do mundo. Mas, para isso, precisa de catalisar o apoio das empresas nacionais. Só assim poderá atrair mais talento internacional e posicionar, desse modo, a região e o país e o seu knowhow nos mercados externos.

Director e investigador da Unidade de Neurociência Celular e Molecular no IMM (Faculdade de Medicina de Lisboa) | Antigo estudante do ICBAS e da FCUP


Fotos Egídio Santos

O REITOR DA U.PORTO EXPLICA OS PRINCIPAIS PROPÓSITOS DAS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO, SALIENTANDO QUE SE TRATA, NÃO SÓ DE CELEBRAR O PASSADO, MAS SOBRETUDO DE PREPARAR O FUTURO DA INSTITUIÇÃO. E UM FUTURO AUSPICIOSO IMPLICA, DIZ, UMA REORGANIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE, TENDO EM VISTA A PROGRESSÃO PARA UM PATAMAR SUPERIOR DE QUALIDADE. GANHAR ESCALA, COOPERAR INTERNAMENTE, RACIONALIZAR RECURSOS, AUMENTAR O RIGOR E PROMOVER A INTERDISCIPLINARIDADE SÃO AS PALAVRAS DE ORDEM. DE RESTO, MARQUES DOS SANTOS PRECONIZA A MESMA RECEITA PARA TODO O ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS, O QUAL, EM SUA OPINIÃO, TEM INSTITUIÇÕES A MAIS, UNIVERSIDADES QUE NÃO SE SABEM DIFERENCIAR E UM SISTEMA DE FINANCIAMENTO QUE NÃO PREMEIA O BOM DESEMPENHO ECONÓMICO.


FACE-A-FACE

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

“UMA UNIVERSIDADE

DE VIAS PARALELAS NÃO LEVA A LADO NENHUM”

A

Como é que vai ser concretizada essa intenção de preparar o futuro? Vamos realizar um encontro, a Conferência do Centenário, para o qual convidámos várias personalidades a pensarem o futuro da U.Porto e do ensino superior em geral. Mas o centenário também nos vai ajudar a preparar o futuro ao agregar a Universidade. Acho que esse é o grande desafio que a U.Porto deve colocar a si própria. Se quer ser melhor no futuro, tem de se agregar mais, tem de trabalhar mais em conjunto, tem de saber retirar o melhor de cada um dos seus membros. Temos de perceber que se trabalharmos em conjunto, usando melhor os recursos, sendo mais multidisciplinares, promovendo a interdisciplinaridade, criando massa crítica, vamos ser mais fortes. Uma universidade de vias paralelas não leva a lado nenhum... As comemorações do Centenário vão, então, procurar envolver a comunidade académica da U.Porto, reforçando o sentimento de pertença à instituição... Sim, queremos que seja um factor de agregação. Queremos que toda a gente esteja junta a comemorar o passado e assim, com essa coesão, com essa unidade, ajude a preparar o futuro. E o futuro passa, como estabelecemos no nosso Plano Estratégico, por nos situarmos entre as 100 melhores universidades do mundo em 2020. Sabemos que é muito ambicioso. Já estamos próximos das 100 melhores da Europa, mas agora o salto é muito maior. E só lá chegamos trabalhando em conjunto, sendo exigentes e rigorosos no que fazemos e percebendo que só o muito bom ou excelente é que interessa à U.Porto.

Neste contexto, qual é o papel dos antigos estudantes nas comemorações? Os antigos estudantes são uma comunidade fundamental para o progresso da Universidade. Como nossos embaixadores, têm um papel decisivo na atracção de novos estudantes, na captação de projectos de investigação em parceria com empresas, na projecção da imagem da U.Porto, na aquisição dos nossos serviços, no financiamento da Universidade... Alguns dos nossos antigos estudantes estão muito bem na sociedade e, quer as suas empresas, quer eles próprios, podem apoiar a U.Porto em projectos específicos, retribuindo à Universidade um pouco do que esta lhes deu. A este nível, a nossa experiência no Centenário tem sido bastante positiva. Muitos antigos estudantes contribuíram ou vão ainda contribuir [financeiramente] para as comemorações, o que mostra que há aqui um campo a trabalhar de forma mais profissional. Isto é, criando networking entre todas estas pessoas. Já me falou dos objectivos das comemorações do Centenário ao nível interno. E para o exterior, quais são os propósitos da efeméride? A U.Porto tem como um dos seus pilares estratégicos uma crescente abertura ao exterior, o que pressupõe um trabalho conjunto da Universidade com as entidades que a rodeiam e a sociedade em geral. Este trabalho tem vindo a ser feito progressivamente e esperamos reforçá-lo com o Centenário, aproximando-nos ainda mais de outros sectores dinâmicos da sociedade. Um dos males deste país e uma das razões da crise em que estamos é, precisamente, termos indivíduos e instituições de primeira água mas que em conjunto falham. Esta mobilização da comunidade em torno do Centenário está a ser alcançada? Sim. Tem havido muita receptividade por parte de instituições e empresas, nomeadamente no apoio económico às comemorações. Mas este relacionamento com a comunidade já vem de trás, através de projectos comuns de I&D, de inovação, de formação e de voluntariado. Esta simbiose tem vindo a crescer, mas ainda há muito caminho a percorrer. Por exemplo, o contributo da Universidade no desenvolvimento económico do país pode ainda ser maior.

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U.Porto está a celebrar o seu Centenário. Quais são os principais objectivos e linhas de acção das comemorações? As comemorações do Centenário têm duas vertentes: por um lado, celebrarem o passado e, por outro, servirem de trampolim para o futuro. Eu defendo que o passado nos deve orgulhar e honrar, mas não pode deixar-nos sossegados. Não podemos viver à sombra dos louros do passado. Devemos, sim, querer ser sempre melhores. E por isso preparámos estas comemorações olhando para o futuro.

RICARDO MIGUEL GOMES

JOSÉ CARLOS MARQUES DOS SANTOS Reitor da U.Porto


FACE-A-FACE

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

Não teme que, no actual contexto de crise, a colaboração com as empresas possa estar comprometida? Penso que não. As empresas estão a dar um exemplo de resistência e de capacidade para evoluir, como se vê pelo aumento das exportações. Felizmente, a maioria delas está a perceber que é nos momentos de crise que se prepara o futuro. Não podemos cruzar os braços. Pelo contrário, devemos mobilizar-nos para fazermos mais e melhor em conjunto. Em vez de andarem só a competir, as empresas devem passar também a cooperar. Há áreas, como a I&D, onde as empresas podem cooperar entre si e com as instituições do ensino superior. É UMA OBRIGAÇÃO DA U.PORTO TRANSFERIR PARA O TECIDO EMPRESARIAL O CONHECIMENTO E A TECNOLOGIA QUE PRODUZ

Mas, ao prestar serviços à comunidade, a Universidade não está a concorrer directamente com as empresas? Não creio que a U.Porto preste serviços em concorrência com as empresas. A maioria das empresas não tem serviços de I&D e as que têm ganham, efectivamente, em recorrer à Universidade para, em cooperação, desenvolverem produtos estratégicos. Os serviços de que falo são de grande valor acrescentado e não existem no mercado português. Por isso, é uma obrigação da U.Porto transferir para o tecido empresarial o conhecimento e a tecnologia que produz, seja através de formação, seja apoiando o desenvolvimento de bens transaccionáveis.

Universidade de investigação

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A U.Porto tem vindo a incentivar o empreendedorismo, designadamente no UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto. Não teme que este esforço seja comprometido pela retracção económica? Uma empresa que se constitui hoje e só pensa no mercado nacional é melhor, se calhar, nem arrancar. Deve pensar sempre no mercado global. E já temos várias empresas no UPTEC que se internacionalizaram. No mercado global, há muitas zonas que não estão em crise e onde existem, portanto, boas oportunidades de negócio. Se as empresas do UPTEC tiverem criatividade, produtos inovadores e forem capazes de fornecer com qualidade, com certeza que se vão impor. E são essas empresas que, na nossa óptica, vão ser futuros parceiros da Universidade em projectos de investigação. Nasceram num ambiente virado para a inovação e têm recursos humanos com competências para projectos de I&D. Mas não nos podemos esquecer de que as indústrias tradicionais, como os têxteis ou o calçado, têm vindo a evoluir de maneira bastante assinalável. E a Universidade tem participado nessa evolução, estando disponível para continuar a contribuir para que a transformação tecnológica crie produtos de muito maior valor acrescentado.

A U.Porto pretende tornar-se uma “universidade de investigação”. O que é que isto significa? Significa que a investigação é um pilar fundamental da actividade da Universidade e é também a fonte fundamental da sua formação. Isto é, a formação é também resultado do conhecimento que é criado através da investigação. Não implica, portanto, uma desvalorização da função tradicional das universidades, que é ensinar... De maneira nenhuma! Nós somos uma universidade, portanto fazemos formação. Só que fazemos formação muito ligada à investigação. Ou seja, com os estudantes a participarem na investigação; com o trabalho dos docentes a ter uma componente científica bastante forte; e com a percentagem de estudantes de pós-graduação [2.0 e 3.0 ciclos] a ser maior do que a dos de graduação [1.0 ciclo]. Por outro lado, estamos já a treinar os estudantes do 1.0 ciclo através do IJUP [Investigação Jovem da Universidade do Porto], envolvendo-os em projectos de investigação e incentivando-os a produzirem artigos. Está a ser um sucesso muito grande: os estudantes ganham outra cultura científica, outra capacidade de pensar, outra autonomia de trabalho, outra abertura para a interdisciplinaridade. Tendo em conta o objectivo de se tornar uma “universidade de investigação”, não considera existir uma fragmentação excessiva das unidades de I&D dentro da U.Porto e uma discrepância interna ao nível da qualidade das mesmas? Concordo que há dispersão. Temos 61 unidades de investigação avaliadas pela FCT e se calhar algumas são pequenas demais. Pequenas em termos de massa crítica necessária à produção de resultados de nível internacional: artigos, patentes, tecnologias... Se queremos ser uma universidade de topo, temos de ser exigentes. Só podemos ter unidades de investigação [avaliadas] com “Muito Bom” e “Excelente”. O “Bom” já não é suficiente. Para isso, é necessário que as unidades de I&D se agreguem para ganhar dimensão e poderem participar em projectos internacionais, para se associarem a centros de investigação de grande qualidade mundial, para se candidatarem a programas de financiamento à escala global... É este o caminho e entronca no que disse há pouco: coesão, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Há, aliás, um movimento de integração de alguns institutos de investigação em que a U.Porto participa, transformando-os em unidades orgânicas da Universidade.


Programa para a internacionalização Isto entronca num outro conceito muito caro à U.Porto, a internacionalização. Exactamente. A internacionalização é, no fundo, ser capaz de atrair jovens estrangeiros, criar redes com instituições internacionais, promover a mobilidade dos nossos estudantes e docentes... Tudo isto é importante para criar uma nova cultura, estabelecerem-se contactos, desenvolverem-se programas conjuntos, etc. Neste sentido, a internacionalização é uma ferramenta fundamental para concretizar a nossa estratégia: ser uma universidade de investigação, ter uma formação reconhecida e contribuir para o desenvolvimento económico. No Plano Estratégico é defendida “a criação de um programa nacional para o financiamento da internacionalização das universidades portuguesas”. Em que moldes deve funcionar este programa? Seria importante que os governos apoiassem a internacionalização das universidades através de um programa específico. Haveria candidaturas a esse programa, onde as universidades explicariam as acções que gostariam de desenvolver e as respectivas necessidades de financiamento. As melhores candidaturas eram aprovadas e, assim, as universidades tinham um apoio suplementar para realizarem os seus projectos de internacionalização. Em Espanha isso já existe. Os empresários continuam a queixar-se de falta de quadros qualificados em algumas áreas do saber e de excesso noutras. Há a intenção de adequar a oferta formativa às necessidades do mercado? A Universidade não pode preparar os seus graduados para uma área específica que “está a dar”, mas que, porventura, daqui a uns anos já não dá. Tem de preparar pessoas que, ao longo da vida, vão ter muitas vezes de actualizar os seus conhecimentos e, se calhar, mudá-los completamente. Há aqui dois níveis a considerar: a formação de base, que tem de ser culturalmente alargada, cientificamente sólida e com skills de trabalho; e a formação contínua ao longo da vida, na qual as universidades e as empresas devem cooperar no sentido de definirem o conhe-

O SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS ESTÁ SOBREDIMENSIONADO. TEM INSTITUIÇÕES A MAIS.

cimento necessário e disponibilizá-lo. As sociedades evoluídas procuram que 30 a 40% da população tenha formação superior. É óbvio que, com um volume tão grande de graduados, nem todas as pessoas vão encontrar emprego na área em que se formaram. Mas hoje, em Portugal, quase que se recomenda que não se frequente o ensino superior. E isso é querer aniquilar o futuro do país! Temos de dizer às pessoas que devem frequentar a universidade, serem mais empreendedoras e olharem para o mundo como um mercado global. Bolonha veio promover a mobilidade. Uma pessoa que se formou em História pode fazer um 2.0 ciclo em Economia, por exemplo. Este cruzamento de conhecimentos vai, na minha óptica, esbater a ideia de curso e emprego numa área específica. O crescimento do número de graduados, no seguimento do contrato de confiança assinado entre as universidades e o Governo, não irá diminuir a qualidade do ensino e desvalorizar profissionalmente os diplomas? De modo nenhum. Mas aí há outro ponto que eu acho importante: o sistema de ensino superior português está sobredimensionado. Tem instituições a mais. Devia ter metade das que tem hoje. Toda a gente sabe isso, mas é difícil mudar. Porquê? Falta de coragem política? Resistência das instituições à mudança? Cada concelho quer ter uma universidade ou politécnico. Ora isso não é possível! Mas há uma maneira de contornar a situação: ter universidades com pólos em várias cidades. Agora, o que não se pode é repetir os mesmos cursos, que é o que acontece agora. E cursos com um número reduzido de estudantes, o que não é sustentável. Se três ou quatro instituições se juntarem para ter um curso num determinado sítio, podem ter 80 ou 100 estudantes. E já é sustentável. Portanto, ganha-se em racionalidade, eficiência e qualidade, pois podem-se concentrar numa só instituição bons docentes e estudantes. Para além de instituições a mais, parece não existir diferenciação entre elas... Todas querem ser universidades de investigação. Isto é uma loucura! Mas também não se pode decretar quais são as universidades de investigação: é só para quem, no terreno, tiver “pedalada”. Por isso, estamos a trabalhar para ser uma universidade de investigação. E já atingimos um patamar em que, mais um bocadinho, chegamos lá. Há outras que estão muito longe... E eu pergunto: valerá a pena? Não haverá interesse em existirem universidades sobretudo dedicadas aos primeiros ciclos e sem uma tão grande preocupação com a investigação?

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A U.Porto pretende atrair mais e melhores estudantes, docentes e investigadores, nomeadamente do exterior. Como espera aumentar a capacidade de atracção da Universidade? Com a qualidade do seu corpo docente, das suas instalações, dos seus laboratórios, da sua investigação... Temos, contudo, de melhorar a oferta de instalações de acolhimento, em particular residências para estudantes, docentes e respectivas famílias. E aí a cidade tem de dar um contributo. A Universidade não é uma entidade imobiliária. Era fundamental que o mercado de arrendamento evoluísse e que não houvesse tanta especulação imobiliária no centro da cidade. Para termos capacidade de atracção, também é fundamental a Universidade integrar as redes internacionais. Nós procuramos, cada vez mais, cooperar com as melhores universidades do mundo, nomeadamente oferecendo cursos de multititulação.


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A ideia de criação de grandes escolas não foi, portanto, abandonada. Não, não foi abandonada. Podem ser grandes escolas ou grandes unidades...

Reorganização interna A diferenciação far-se-ia pelos ciclos de ensino e não por áreas de estudo, é isso? Sim, não tanto por áreas mas pelo tipo de formação. Há um conceito errado na sociedade portuguesa: a qualidade é associada a coisas muito complexas. Mas não é assim! A qualidade de uma instituição [do ensino superior] está em cumprir bem a sua missão. Todas podem ter qualidade naquilo que fazem, mesmo tendo missões diferentes. Isto é, uma universidade pode ter como missão sobretudo formar estudantes do 1.0 ciclo, sendo a investigação um complemento a essa actividade. E outras que, pelo contrário, têm a investigação como base da sua formação, sobretudo do 2.0 e 3.0 ciclos.

SE QUEREMOS EVOLUIR PARA UM PATAMAR SUPERIOR DE QUALIDADE, TEMOS DE NOS TRANSFORMAR.

Essa diferenciação deve partir das próprias instituições ou ser imposta de cima? Terá de partir das próprias instituições... Mas podiam existir programas de incentivo para ver quem faz o quê e para ver quem tem, de facto, “pedalada”. Prevê que haja fusões entre instituições, encerramento de cursos, criação de consórcios...? Consórcios, se calhar, com pólos em várias cidades. É inevitável acabar com este exagero de instituições do ensino superior. Nós temos 30 universidades e politécnicos públicos, enquanto Espanha não chega a 50. Ora Espanha tem cinco vezes e meia a nossa população. Portanto, já se vê que há qualquer coisa que não está bem. Assim o dinheiro não chega. Mas a necessidade de reorganização interna também não se coloca na U.Porto? Sim, e há essa intenção. É difícil ter centros de decisão com a qualidade que se pretende. Precisamos de rever a nossa organização interna à luz da escola doutoral, do centro de recursos comuns, da integração como unidades orgânicas de grandes institutos de investigação e de uma maior eficácia no uso dos recursos (não só económicos) pelas unidades de I&D. Durante este ano algo terá de acontecer neste domínio, para encontramos uma solução de facto mais capaz de promover a qualidade que nós queremos ter. Este modelo não ajuda a aproveitar o melhor que há entre nós, a criar a multidisciplinaridade que é necessária, a fazer a investigação interdisciplinar que desejamos... Portanto, se queremos evoluir para um patamar superior de qualidade, temos de nos transformar. Atingimos o limite no patamar em que estamos.

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A nova organização interna passa pela criação de cinco grandes escolas, como foi falado? O número ainda não está definido... A organização tem de ser feita à luz dos estatutos. E eu acho que nos estatutos há ferramentas suficientes para criar uma nova solução. Que poderá ainda não ser a ideal, mas uma solução intermédia e com potencial para evoluir.

E a autonomia das unidades orgânicas não ficará em causa? Trabalhar em conjunto não significa perder autonomia. A autonomia é a capacidade de decidir como usar os recursos e contratar pessoas, mas às vezes é confundida com instrumentos de gestão que não têm nada a ver. No entanto, tem havido uma evolução no pensamento da Universidade. Internamente, as pessoas já perceberam que a marca U.Porto é mais importante, tem mais dimensão e goza de mais prestígio do que qualquer outra marca individual. As universidades portuguesas vão sofrer um decréscimo nas transferências do Estado. Como vai lidar a U.Porto com estas medidas de contenção? Nós levámos, há pouco tempo, um corte de 20% e soubemos resistir. De facto, a U.Porto – e isto é um mérito enorme de quem cá trabalha – conseguiu mobilizar-se para aumentar a oferta de cursos e de formação contínua, para valorizar o conhecimento da investigação, para desenvolver trabalhos remunerados para empresas, para angariar mais mecenato... Temos, contudo, de trabalhar mais no fundraising para atrair financiamentos alternativos, sobretudo de antigos estudantes e de quem queira deixar um legado à Universidade. No Plano Estratégico definimos, para 2014, o objectivo de atingir 55% de receitas próprias e 45% do Orçamento do Estado, pelo menos. Acho que Estado, não só não pode eximir-se de apoiar [as instituições do ensino superior], como a percentagem de financiamento público não deve ser menor para as universidades com maior capacidade de gerar receitas próprias. Pelo contrário: a percentagem deve até ser maior para quem gera mais receitas, premiando-se assim o desempenho das universidades. Dito isto, é importante que as verbas do Estado cresçam para que as universidades tenham mais ferramentas para actividades que sem esse apoio são impossíveis de realizar, como o desenvolvimento de novas áreas de investigação. Está satisfeito com o novo modelo de governação da U.Porto? Estou muito satisfeito. A colaboração do Conselho Geral e do Conselho de Curadores está a ser, para mim e para o resto da Universidade, extremamente gratificante. O apoio das personalidades externas tem-nos ajudado a criar uma cultura de rigor. São pessoas que exigem rigor no modo como se faz, nos prazos, na prestação de contas... E estou convencido de que há ainda muito a retirar desta colaboração, porque estamos apenas numa fase de aprendizagem. Agora, o regime fundacional por si só não transforma a U.Porto numa universidade de alta qualidade. Mas é um instrumento que torna mais fácil, com menor desperdício de tempo e de recursos, atingirmos os nossos objectivos.



VIDAS E VOLTAS

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Muitos anos antes do Cortejo da Queima das Fitas, já os estudantes do Porto saíam às ruas da cidade para celebrar com a população. Sem cartolas e bengalas, era com fantasia, sátira e “namoricos de serpentina” que se fazia então o Carnaval dos Estudantes.

iviam-se tempos conturbados em Portugal e no mundo quando, no raiar da tarde da última quinta-feira antes da Páscoa de 1933, Aureliano da Fonseca, então estudante do Liceu Alexandre Herculano, vestiu a farda de Pierrô. Da vizinha Espanha chegavam os sussurros de uma Guerra Civil anunciada. Da Alemanha nazi, as primeiras ameaças de um novo conflito a larga escala. Internamente, o Estado Novo estabelecia as regras do regime que se prolongaria por mais de quatro décadas. Com ele agrava-se também o clima de repressão que resultou na proibição, em finais de 1932, do associativismo estudantil e no consequente espartilho ao movimento académico despontado entre tertúlias de café, na segunda metade do século XIX. Na mente de Pierrô, porém, dominava a indecisão entre uma carreira de marinheiro e a de médico que abraçaria, um ano depois, na Faculdade de Medicina (FMUP). Também por isso, aquele Carnaval dos Estudantes, o primeiro do jovem Aureliano e o último que a cidade haveria de testemunhar, tinha um significado especial. Mas deixemos o jovem Pierrô nos seus pensamentos e partamos em busca das origens da festa que, nas primeiras décadas do século passado, fez do Porto a Nice portuguesa. Pelo menos assim projectava o Clube dos Fenianos quando, em 1904, decidiu transformar o Carnaval numa das grandes festas da cidade – conforme escreveu

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TIAGO REIS

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Sandra Brito no artigo “O Carnaval e o Mundo Burguês” (Revista da Faculdade de Letras HISTÓRIA). Mobilizando grande parte da população, a Festa do Momo desde cedo passou a incluir o cortejo académico. De tal forma que por altura da fundação, em 1911, da primeira Associação de Estudantes do Porto, os estudantes dos vários estabelecimentos de ensino da cidade (com a recémcriada Universidade à cabeça) passam a ter direito a corso próprio, na última quinta-feira antes do “domingo gordo”. Voilá. Assim nascia o Carnaval dos Estudantes. Encerrado o livro de história, a imaginação perdese nas ruas em terra batida que sobrevivem em fotos moídas a preto e branco. A cada esquina, uma multidão aguarda os estudantes. “Aquilo era uma loucura. A cidade parava para nos ver”, confirma Aureliano da Fonseca, o orfeonista que deu música aos “Amores de Estudante” e, aos 96 anos, um dos mais antigos alumni vivos da U.Porto. Há 80 anos era então um Pierrô ansioso por desfilar perante as donzelas que lutavam por um lugar às janelas. Porque a expectativa era alta, o Carnaval era preparado com grande antecedência. Até 1932, a organização cabia à Associação de Estudantes (Associação Académica a partir de 1924), responsável pela escolha dos temas dos carros e dos disfarces. Em 1933, ano do Pierrô, o método era outro. “A seguir ao Natal, os estudantes das Faculdades


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05 Carnaval dos Estudantes de 1928 (na fila de baixo, a Miss Portugal rodeada pelos generais Wu-ChiChi e Yang-Zé-Bana-Ná) 06 Notícia sobre o Carnaval dos Estudantes

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Carnaval dos Estudantes de 1932 (revista “Contra os Canhões”, no Teatro S. João)

02 Porto, Carnaval Académico, [1882] [1949] PT/CPF/APR1431 Centro Português de Fotografia/ DGARQ/MC 03 Carro dos “Pierrôs e as Pegas” no Carnaval dos Estudantes de 1933 04 Carnaval dos Estudantes (s/d)

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(Medicina, Engenharia, Ciências e Farmácia), da Escola de Belas Artes, dos Institutos e dos dois últimos anos dos Liceus (de Alexandre Herculano e de Rodrigues de Freitas) elegiam a Comissão do Cortejo. Depois, cada grupo elaborava um projecto de carro e apresentava-o à comissão. “O projecto tinha que ter o desenho da ornamentação, o qual não podia ter palavras de ofensa à moral e a quem fosse!”, alerta Aureliano da Fonseca. Azar. “Isso só despertava a vontade de camuflar o que queríamos dizer”. Definidos os carros a desfile, os estudantes invadiam as ruas da cidade em busca de financiamento para dar corpo ao cortejo. “As Escolas não davam nada”, queixa-se Aureliano. Em alternativa, o mecenato chegava da carteira dos comerciantes, especialmente as lojas e os cafés mais frequentados do centro. “Para o comércio, o Carnaval era uma grande oportunidade de negócio. Além disso, os estudantes eram respeitados, sobretudo quando usavam capa e batina [então comum aos universitários e aos estudantes liceu]. Não é como agora!”, provoca o Pierrô. Foi assim que, em 1929, a colheita rendeu uns respeitáveis 2000 escudos, segundo artigo sobre o Carnaval dos Estudantes publicado no O Porto Académico. Outras vezes, a fraca recepção era compensada com actos de heroísmo. “Na altura [1933], havia no Bonfim umas casas que vendiam madeira. Fomos lá e um senhor, depois de nos receber muito mal, deu-nos


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um tronco enorme, à espera que o deixássemos ficar lá. Pois bem, trouxemo-lo!”

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Cortejo da Queima das Fitas no início dos anos 80

02 Finalistas de Medicina no Cortejo da Queima das Fitas de 2010 03 Finalistas de Medicina na Festa da Pasta (1939) 04 Carro do 3º ano de Ciências Biológicas de 1967 05 Notícia sobre o Carnaval dos Estudantes 06 Programa do Carnaval dos Estudantes de 1929

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E eis que chega o grande dia O rufar dos tambores ganha força à medida que a hora do cortejo se aproxima. Bandeiras e confetis voam pelos céus ao encontro de Aureliano da Fonseca. “Era como o São João. As pessoas vinham em família e enchiam as ruas logo de manhã”. O caso não era para menos, não fosse o Carnaval dos Estudantes ocasião para “trazer” ao Porto as mais distintas figuras da época… e do faz-de-conta. À chamada – assinalada por norma com uma recepção na Estação de São Bento – não faltava desde logo a realeza. Foi o caso da comitiva do “Rei” D. Miguel que, meses depois da implantação da República, ressuscitou dos mortos para liderar o desfile de 1911. E quem diz realeza, diz rainhas da beleza, como a Miss Portugal (disfarçada de Augusto Rocha, estudante de Belas Artes) que abrilhantou o Carnaval de 1928, sob o olhar guloso dos generais Wu-Chi-Chi e Yang-Zé-Bana-na. Poucos cartazes rivalizam, porém, com o de 1929, ano em que a cidade recebeu o “ditador Trotsky”, o “Imperial Faraó Tu-Tan-Kamon e respectivas odaliscas” e o “Dr. Voronoff”, cirurgião francês famoso à época por realizar transplantes de testículos de macacos em escrotos de homens. Tal como previsto, batiam as 13 horas do dia 4 de Fevereiro quando “tais veemências” desembarcaram na Rua de Santa Catarina, “acompanhadas pela Feroz Guarda Vermelha e pela Orxestra Katastróphica e Mephistophélica de Desconcertos”. Dali seguiram para São Bento, ao encontro da Orxestra Pitagorica e da Tuna Académica de Coimbra que as esperavam a par da multidão. Reunida a comitiva, rumou-se ao Edifício da Universidade (Pr. Gomes Teixeira) para um “formidável choque de restolho musical inigualável”. De volta a 1933, procuramos o “Aureliano Pierrô” no corso que se apresta para arrancar do Palácio de Cristal. À cabeça, a Guarda Nacional Republicana em uniforme de gala e a cavalo. Logo atrás, estudantes marialvas vestidos a rigor, seguidos de “colegas em burricos, trajando à condição”. E, por fim, os mais de 30 carros alegóricos entre os quais facilmente se distinguem os “Pierrôs e as Pegas”. “Íamos cinco, todos iguais, e levávamos uma casota com uma pega em cima. Ora, ‘pega’ era um termo que se associava às raparigas ‘fáceis’. O que fazíamos era cantar umas quadras que tanto davam para pássaro como para prostituta”. Não consta


DO CARNAVAL PARA A QUEIMA DAS FITAS

que alguém se tenha queixado no percurso que o carro fez até à Praça da Universidade – onde se instalava o palanque do reitor da U.Porto – e daí até à Praça da Liberdade. Muito menos na subida pelas ruas Sá da Bandeira, Formosa, Santa Catarina, onde se iniciava o percurso inverso. “Quem percebesse percebia, quem não percebesse não percebia…”.

Fantasia. Festa. Sátira. Amor Entre os estudantes universitários, os risos e os fatos burlescos disfarçavam outras armas de arremesso à consciência. Para além da sátira social, circulavam mensagens de natureza política e “alfinetadas” ao mundo académico. Na memória da cidade ficaram representações como a de 1911, ano em que, segundo a revista Ilustração Portuguesa, “os estudantes do norte festejaram o Carnaval com um cortejo allegorico a factos da escola”. Entre “carros originalmente adornados com desenhos e legendas espirituosas” e com “muito riso e muita verve endiabrada”, celebrava-se então o Enterro da Farpa, em memória do papel que, antes da República, era usado para pedir dispensa das aulas dos “cursos presos” (aulas obrigatórias em que o professor chamava à lição a matéria do dia anterior), de acordo com a obra “Universidade do Porto, Raízes e Memória da Instituições”, de Cândido dos Santos. Já em 1929, chorava-se a

extinção, um ano antes, da primeira Faculdade de Letras, a bordo do carro “Ressuxerit”. Por sorte, a cura vinha logo atrás com os “Enfermeiros do Amor”. Ou, mais acima, das “janelas pejadas de meninas do Porto e das mais longínquas terras” nas quais se fixava o alvo das “serpentinas” dos estudantes. “Se alguma fosse mais sedutora, lançava-se-lhe a capa [guardada propositadamente para a ocasião] que depois se iria buscar, para melhor conhecimento”, graceja Aureliano da Fonseca. Misture-se tudo na ordem desejada e está pronta a receita que deliciava os portuenses por altura do Carnaval dos Estudantes. Só falta o digestivo. Terminado o corso, enquanto grande parte da multidão voltava a casa, os mais resistentes continuavam a celebrar nas récitas, representações teatrais e concertos que os estudantes promoviam por toda a cidade. Em 1929, a poesia do Dr. Voronoff abriu um serão de “concertos dearmonicos e orriplilantes” na sede da Associação dos Estudantes. De 1932, acenam as “bailarinas” que levaram a revista “Contra os Canhões” ao Teatro S. João. De 1933 não ficaram memórias. Afinal, àquela hora já o fato do Pierrô jazia no armário de Aureliano da Fonseca, abafado ao piano por uns quantos “Amores de Estudante”. E dali não voltaria a sair.

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O Enterro Não se conhecem ao certo as razões que levaram à morte súbita do Carnaval dos Estudantes. A(s) guerra(s) latente(s)? A ditadura? A mordaça ao associativismo? Talvez todas estas perguntas ecoassem pela cidade na noite 29 de Abril de 1934, quando estudantes e populares saíram à rua de luto. Restava uma última homenagem simbólica. Pierrô conta-nos como foi: “O Enterro consistiu num carro de bois a produzir forte chiadeira aguda e monótona, transportando um caixão mortuário coberto com um pano preto; logo seguiam-se centenas de estudantes de capa e batina fechada, com tochas na mão e esboçando sons de lamentos profundos. Em passo lento e com a cabeça abaixada fez-se todo o percurso do Cortejo, espectáculo que impressionou os milhares de pessoas apertadas ao longo dos passeios!”. Ainda nos anos 30, os estudantes do Porto esboçaram diversas tentativas de restabelecer a festa carnavalesca. Sem sucesso. Numa Europa vergada pela II Guerra Mundial, deixara de haver espaço para “um dos mais alegres dias que o Porto alguma vez viveu”.

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Apesar de constituir um momento privilegiado de contacto entre os estudantes e a população, o Carnaval dos Estudantes não era o único motivo pelo qual a cidade e a Academia se uniam para celebrar, nas primeiras décadas do século XX. Na verdade, estava-se ainda nos primeiros anos do século e já os estudantes de Medicina saíam às ruas do Porto para comemorar a entrega das pastas (aos quintanistas) e dos grelos (aos quartanistas). Vivia-se então a Festa/Entrega da Pasta, evento “pai” da Queima das Fitas e que, nos anos 20, acabaria por “beber” parte do espírito carnavalesco. Assim foi em 1928, ano em que O Comércio do Porto noticia a “recepção imponente, quase estupefaciente” que a população reservou ao “cortejo nupcial” protagonizado por estudantes fantasiados entre a Estação de São Bento e o edifício da Faculdade. Menos efusiva foi a “passeata” de 1939 – já após o Enterro do Carnaval – quando Aureliano da Fonseca e os restantes finalistas da FMUP se “chapelaram” (o uso de um chapéu virado ao contrário antecedeu a utilização da cartola) antes de se apresentaram à cidade em passeio “pacato e só com alguns burricos”. O resto da história conta-se rapidamente e desemboca nas mesmas ruas que hoje se pintam com as cores da Academia portuense, no início do mês de Maio. Ainda nos anos 30, a Festa da Pasta difundiu-se pelas várias faculdades da U.Porto. Foi assim sem surpresa que, em 1946 (ano em que a festa assume definitivamente a designação de Queima das Fitas), as quatro faculdades protagonizaram o primeiro cortejo em conjunto, à semelhança do desfile dos estudantes de Coimbra. De chapéu ou cartola, de bengala ou de “burrico”, o cortejo manteve-se até hoje – com interrupção entre 1971 e 1978 – como ponto alto das celebrações da Queima das Fitas do Porto, a segunda maior festa da cidade e a maior festa académica do País.


CULTURA

C E N T E N Á R I O D A U N I V E R S I D A D E D O P O RT O

ORFEÃO UNIVERSITÁRIO DO PORTO

SEM A PESSOAS NÃO HAVIA CEM ANOS

ndré Afonso tem 21 anos e dirige uma instituição que vai fazer 100: o Orfeão Universitário do Porto. Com irreverência, e a sua fiel companheira: a juventude. “É esse o truque”. O olhar bem espevitado é de fé no que vai dizer a seguir: “Sem pessoas não dá para fazer 100 anos. As tradições têm de passar para os mais novos. Se eles não se interessarem, elas morrem.” Misturar o passado no presente. “E reinventar, um pouco”, acrescenta o André. E dá exemplos: “Na parte da etnografia e do folclore”. Onde há,

artístico), se pensarmos que também originou a Tuna Universitária, um Grupo Cénico e uma Orquestra de Tangos. Reencontramos o mesmo olhar. Como se fosse outra vez noite, no café Monumental (que existia na Avenida dos Aliados), e o Paulo Pombo estivesse sentado ali ao lado. E houvesse um ritmo para o universo das emoções. E uma nota de música certa para trazer ao peito, quando é de sedes do coração e de as saciar que se fala. De que falamos afinal? De avidez. Do desejo de saber. Do viço do espírito porque se é estudante. Como acrescenta Aureliano da Fonseca: “Seria estudante quem mantivesse o desejo de saber”. E esta ideia aproveitámos para tatuar na memória: É o desejo de saber que garante ao espírito

O HINO AO ESTUDANTE (VER PÁG. 45) FOI TOCADO PELO ORFEÃO UNIVERSITÁRIO DO PORTO, PELA PRIMEIRA VEZ, NO TEATRO CARLOS ALBERTO, EM JANEIRO DE 1938. FALA DA CONSERVAÇÃO DO EFÉMERO. AINDA SE CANTA HOJE? COMO É QUE SE MISTURA A MEMÓRIA COM O FERVILHAR DA VIDA? GUARDA-SE NA CAIXINHA E ARRUMA-SE PARA O FUNDO DO SÓTÃO, OU DÁ-SE UM NOVO ARRANJO PARA VOLTAR A USAR? E SE É DO BOCA-EM-BOCA QUE FALAMOS, OU DA DANÇA, COMO É QUE SE ALICERÇA O PATRIMÓNIO À MUDANÇA? E A RECICLAGEM DE GESTOS EM MOVIMENTO? ANDRÉ AFONSO RESPONDE A ISSO: COM PESSOAS.

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reconhece, um combate a travar: “O combate ao estereótipo”. Qual? O estereotipo do rancho! “É rancho… já não quero ir! Não quero ir para o rancho”. É quando se diz: “Anda. Anda dançar uma vez... Depois ficam. Principalmente os mais novos”. E também aqui se tenta dar uma nova roupagem. Há sempre como pegar no antigo, raspar o bolor e trazer para a luz do dia. “Somos divulgadores de cultura. E queremos que as pessoas gostem e tragam os amigos, e os amigos dos amigos”. De tudo isto sabe muito bem Aureliano da Fonseca que, quando ainda era estudante, rodeou-se de bons amigos. Este médico, agora com 96 anos, e sócio honorário da Associação de Antigos Orfeonistas, foi estudante da Faculdade de Medicina (entrou em 1934), mas também, e por isso o fomos ouvir, foi um dos responsáveis pelo ressurgimento do Orfeão em 1937 (tinha sido desactivado em 1928), aquando das comemorações do Centenário da Fundação da Academia Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Foi um ano a fervilhar de espírito empreendedor (e

juventude! “E ser jovem não seria ser idealista e acreditar em efémeras ilusões?! E nessas efémeras ilusões não estão os seus amores?! Assim surgiram os ‘Amores de Estudante’”, o hino escrito por Paulo Pombo e musicado por Aureliano da Fonseca. Ao recolocar-se no tempo, este médico de 95 anos quer muito falar do “entusiasmo que a todos animava”. E ainda anima, até às águas mais subterrâneas do olhar. Mesmo quando pairavam sobre todos (ou será que também era por isto?) as “sombras da Guerra de Espanha e da Guerra Mundial”. Tratava-se, diz-nos, de “olhar o futuro com fé”. A alegria e a fé que queriam transmitir a quem os ouvisse. Este entusiasmo movimentou, na altura, e “em escassas duas semanas”, cerca de duas centenas de jovens estudantes. Eram provenientes das quatro faculdades que existiam (Medicina, Engenharia, Ciências e Farmácia). Mas é bom que se diga que este foi o espírito que fez nascer o Orfeão Universitário do Porto, a 6 de Março de 1912, cerca de um ano após a criação da U.Porto. Foi ideia de um grupo de estudantes que


Quero, ficar se m pre estu dante, P’ra eternizar A ilu são de u m instante. E sendo assim, O meu sonho de Amor Será se m pre re zado, Baixinho dentro de mim.

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Digressão do Orfeão Universitário a Viseu em 1945

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Orfeão Universitário em 1953

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Grupo Cénico do Orfeão Universitário (1937).

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Orfeão Académico do Porto (1912/13). Foto cedida pelo Orfeão

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É aqui, no edifício da Rua dos Bragas, que André Afonso passa grande parte das suas noites. É estudante de Engenharia Metalúrgica de Materiais. Faz parte do Grupo de Danças do Douro e também toca percussão no Grupo dos Pauliteiros. Acha que a formação deve ser o mais abrangente possível, “para que os estudantes se possam enriquecer como pessoas. Adquirir conhecimentos mais transversais, importantes para a vida em sociedade”. Também acha importante que os estudantes possam trazer para o Orfeão “um pouco da cultura da sua terra” e que as recolhas etnográficas continuem: só assim, o Orfeão Universitário do Porto continuará a ser “um organismo vivo”. O famoso etnomusicólogo Michel Giacometti, que percorreu o país a recolher músicas e cantares e deixou um registo inigualável da nossa tradição oral, iria gostar de ouvir André Afonso falar. E de ver este futuro engenheiro a dançar descalço e em mangas de camisa. Michel Giacometti iria gostar de conhecer o Orfeão Universitário do Porto.

A N A B E L A S A N TO S

Coral universitário feminino Em 1937, o Orfeão apresentava o primeiro coral universitário com mulheres no seu elenco. Em 2011, no cimo do primeiro andar do edifício onde se realizam os ensaios, numa porta ao fundo do corredor, lá está, o mesmo coral, outras vozes: “Três e quatro e… ‘Hallelujah and Ámen’…” Era o espiritual negro que o Coro Clássico estava a ensaiar aos comandos do maestro António Sérgio Ferreira, que também faz parte da direcção artística do Orfeão. Isto no primeiro andar, porque, no rés-do-chão, o Grupo de Danças do Douro acertava o passo à dança. O ponteiro das horas ainda há-de esticar até à actuação do Grupo de Cantares das Maçadeiras, ao Grupo de Cantares Alentejanos e ao Grupo dos Pauliteiros de Miranda. E é assim, praticamente todas as noites, neste edifício que fica por trás da Faculdade de Direito (à Rua dos Bragas). Os grupos começam a chegar por volta das seis e meia da tarde e os ensaios prolongam-se até depois do ponteiro entrar no dia seguinte. São 200 pessoas que organizam, interpretam e representam 16 grupos. As actividades repartem-se por três áreas principais: a académica (tunas e fado académico), a parte coral (coro clássico e outros de canto alentejano, As Maçadeiras e a Brigada de Cantares e Pandeiradas) e a parte etnográfica que se reparte pelos diferentes tipos de danças: Douro e Minho, Açores e Madeira, dança dos pauliteiros e, formado em

2010, das pauliteiras. Uma vez por ano fazem um espectáculo (o Sarau Anual) com todos os grupos activos. É uma oferta à cidade do Porto. O Orfeão continua a fazer chegar estes fragmentos de cultura lusitana a vários países, dos quais citamos apenas alguns: EUA, Brasil, Venezuela, Angola, Moçambique, Cabo Verde, África do Sul, China, Hong-Kong, Índia, Macau, Malásia e Tailândia, entre outros. O presidente do Orfeão Universitário do Porto faz questão de sublinhar que, em qualquer deslocação, o traje académico é uma espécie de “imagem de marca”. “Somos estudantes desta Universidade e sentimos orgulho nisso! É o meu quarto ano de Orfeão e, à medida que vamos conhecendo a instituição, vamos ganhando mais gosto e orgulho em pertencer a ela”.

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de um complemento à acção formativa, natural a uma instituição de ensino. O tempo trouxe o carinho por uma certa transversalidade e, nos anos 40, para além do coral universitário, o Orfeão conseguiu ir bem mais longe. Passa a integrar fados, tangos e até rábulas humorísticas. Pela primeira vez, as raparigas que frequentam o Orfeão começam a usar o actual traje académico, que foi, posteriormente, adoptado noutras universidades. A vontade de fazer mais pela cultura que somos todos nós leva ao surgimento do Grupo de Bailados Regionais. Há uma paixão que já cresceu e que se assume: cuidar e divulgar o folclore nacional. Para além dos grupos regionais, o Orfeão Universitário passa a integrar grupos de cantares populares, acumulando assim um valioso espólio em trajes regionais. Cresceu, e continua bem revigorado, este esforço em realizar e incentivar recolhas etnográficas junto das várias regiões do país, para desenvolver e melhorar o repertório de cada grupo.


CEM ANOS, CEM MEDALHAS!

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C ATA R I N A L U C A S

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No final da II Guerra Mundial, os estudantes da U. Porto terminam a primeira participação nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s) com os títulos de andebol e futebol. Foi o arranque de uma história desportiva que nasceu num ambiente politizado e que culmina, meio século depois, com o actual domínio pela U.Porto do desporto universitário em Portugal. Pelo meio, várias peripécias marcaram uma actividade fundamental para o reforço do espírito académico e para a socialização dos estudantes.

participação da U. Porto nas competições nacionais universitárias tem origem na década de 40. No cerne do processo esteve a Mocidade Portuguesa (MP), uma organização juvenil de carácter milicial que vigorou de 1936 a 1974, durante o Estado Novo, e cuja intervenção foi preponderante na dinamização do desporto das universidades. De acordo com o estudo “O Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP). 50 anos de desporto universitário (1949-1999)”, de João Carneiro e Manuel Couto, os Centros de Instrução da MP estavam encarregados de implementar uma política nacional ao nível do desporto escolar. E, a 27 de Abril de 1939, dá-se a fundação do Centro Escolar n.0 5 da Ala do Porto da MP, que agrupou os filiados desta organização, entre eles estudantes da Universidade. Segundo o mesmo estudo, a prática desportiva na academia portuguesa confinava-se, no final dos anos 30, a algumas provas interuniversitárias, realizadas pelos estudantes das faculdades e escolas superiores que, apesar da carência de instalações e do pouco apoio e organização, conseguiam, mesmo assim, atingir objectivos de integração e confraternização. As provas eram, no entanto, disputadas por estudantes sem qualquer preparação e com

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horários incompatíveis para a prática desportiva. É neste panorama que a MP intervém. Com o objectivo de disciplinar e coordenar a prática desportiva universitária, a MP realizou os seus Campeonatos Universitários, onde se disputaram as primeiras competições entre equipas representantes das universidades. Estes campeonatos pautavam-se por dois princípios fundamentais: o amadorismo e a vontade de fomentar a prática desportiva entre os estudantes. Em Novembro de 1940, a MP criou os Centros Universitários. A sede do Centro Universitário do Porto (CUP) foi inaugurada em 30 de Janeiro de 1942 e representou o arranque de uma acção multifacetada deste organismo dentro da U.Porto. Nos vários campos de intervenção do CUP, o desporto foi aquele que gozou de uma maior adesão no meio universitário portuense. A 18 de Fevereiro de 1942, sob proposta do professor Jayme Rios de Souza, na qualidade de director-adjunto do CUP, surgiu a Secção de Educação Física e Desportos. Já o Conselho Técnico Desportivo (CTD) era constituído pelo adjunto da secção e filiados das quatro faculdades (Ciências, Medicina, Engenharia e Farmácia). De acordo com o estudo de João Carneiro e Manuel Couto, no ano lectivo de 1941-42, o CUP


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tornava inexequível a continuidade de um trabalho de profundidade. Entendia-se “que devia haver um clube, porque, existindo apenas cinco ou seis faculdades, havia muito pouca competição, o que depois levou o impulsionador a criar o desporto federado”, diz-nos Vasco Sá que, por nomeação de Jayme Rios de Souza, foi Chefe de Educação Física e Desportos do CUP de 1953 a 1955. Desta proposta fundamentada nasce então o CDUP, o primeiro clube desportivo universitário em Portugal. “Este clube apareceu nos campeonatos de voleibol e andebol e, portanto, abriu-se um bocadinho aos próprios alunos do liceu. Começámos a ter juniores e a ter uma actividade competitiva mais intensa, com colocação de professores de educação física”, salienta o antigo atleta e docente desta Universidade. Mais tarde, em 1952, surgia o Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL). Voltando ao Estádio, este só se tornou operacional em 1951 e surgiu na sequência da cedência, por parte do Estado, da Quinta do Campo Alegre à Universidade, em 1950. No Porto surgiram, em 1952, alguns campos desportivos que, longe de satisfazerem as necessidades, ainda assim simplificaram consideravelmente os problemas das instalações.

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Grupo de Futebol da Associação de Estudantes do Porto (anos 20)

02 Centro Universitário (1942) 03 Centro Universitário (1942) 04 Centro Universitário (1942)

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organizou os primeiros Campeonatos Regionais Universitários (CRU) no Porto. Coube-lhe também a organização dos segundos CNU’s, nos quais os estudantes da U.Porto marcaram presença e que decorreram no Estádio do Lima entre 14 e 21 de Abril de 1945, sendo promovidos pela MP. A selecção da U.Porto terminou a participação com dois títulos (andebol e futebol). Inclusive, como refere Vasco Sá, antigo docente da Faculdade de Engenharia (FEUP), “as quartas-feiras à tarde eram para o desporto universitário, uma medida levada a cabo por Jayme Rios de Souza, que não deixava que se marcassem aulas para essa altura”, o que denotava a emergente importância atribuída ao desporto. Aproveitando a onda de comemoração, o CUP, através de uma representação do CTD, solicitou junto do Ministro da Educação Nacional, em 16 de Maio de 1945, a construção do Estádio Universitário do Porto. Entretanto, a 26 de Novembro de 1949, a direcção das actividades desportivas do CUP passou a ser da responsabilidade do Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP), criado por Jayme Rios de Souza, segundo Vasco Sá. Desta forma, iniciou-se um novo capítulo na história do desporto universitário portuense. Em vésperas da criação do CDUP, as secções desportivas que constituíam a Secção de Educação Física e Desportos eram várias. Não obstante, a experiência demonstrava que restringir a actividade desportiva unicamente ao meio universitário era insuficiente para manter, de uma forma contínua, a prática desportiva dos universitários. Tal facto fez com que Jayme Rios de Souza considerasse a criação de um Clube Desportivo Universitário que pudesse participar em competições de índole federada. Assim, resolvia-se a questão da impossibilidade de participação desportiva no CDUP para além dos dois anos após a conclusão do curso, o que


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25º Aniversário do CDUP. Equipa dos “velhos” e “novos” (Março de 1970)

02 Torneio de Natal, Centro Universitário (1964) 03 Torneio de Natal, Centro Universitário (1964). Na foto José Luís Lima

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Épocas Medalhas de Ouro da U.Porto Total medalhas (1º, 2º e 3º lugares) Participação em modalidades N.º estudantes nos CNU’s

05/06 23 54 7 85

06/07 25 70 12 210

07/08 19 72 17 237

08/09 32 81 23 320

09/10 45 102 25 297

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Na falta de um espaço próprio para a prática desportiva, recorria-se a instalações desportivas de outros clubes. De resto, um jogo que ficou inscrito na história da U.Porto realizou-se no Estádio do Lima (época de 51/52), em que a Universidade ganhou à selecção de Lisboa. “Jogava por nós o Gomes da Costa, médico, que era o interior esquerdo do [FC] Porto. Foi ele que marcou o golo aos 16 minutos e depois, a partir daí, deu-lhe o “abafo”, e nós aguentámos o resto do tempo à defesa. Os de Lisboa ficaram chateados como o “diabo” e, pronto, nós ficámos todos satisfeitos”, lembra Vasco Sá. A 28 de Abril de 1953 inaugurava-se, então, o espaço destinado à prática desportiva universitária. Destaque ainda para a construção, na década de 60, do Pavilhão Prof. Dr. Galvão Telles, um espaço de referência para a prática desportiva dos estudantes da Academia durante décadas, actualmente gerido pelo CDUP. Tendo representado a U.Porto nos CNU’s (futebol, andebol e voleibol), é com saudade que Vasco Sá lembra o desporto universitário como algo “extremamente agradável, porque, no fundo, era um factor de reunião. Cimentámos ali conhecimentos e amizades interessantes. Depois era muito engraçado porque havia disputa no desporto, mas havia uma confraternização muito grande. Era uma fonte de aproximação dos desportistas da Universidade, uma fonte de convívio”. Saliente-se o facto de, entre 1960 e 1970, a U.Porto ter conquistado títulos (1.0 lugar) em nove das dez épocas. Curiosamente, a modalidade mais forte ao longo desta década foi o futebol, com o qual a Universidade arrecadou o primeiro de um dos seus muitos títulos ao longo da sua história.

Desporto não escapa à ditadura José Costa Lima, actual director da Faculdade de Farmácia (FFUP), foi a pessoa responsável pela organização dos primeiros Campeonatos Universitários pós-25 de Abril, na altura como presidente do CDUP. Isto porque os CNU’s estiveram parados durante 5/6 anos, da mesma maneira que não houve Queima das Fitas. “Antes do 25 de Abril não era possível como estudante organizar o que quer que fosse que não fosse tutelado pelo regime ditatorial. E, portanto, eu diria que foi uma natural reacção dos estudantes à impossibilidade de organizar o que quer que fosse sem a tutela da ditadura. A Queima esteve, então, pa-

rada, tendo coincidido com a paragem dos campeonatos”, explica José Costa Lima. No Porto só havia uma associação de estudantes: a da FFUP que, “no meio das teias da ditadura, passou e foi aprovada como associação. As outras faculdades não tinham associações de estudantes reconhecidas formalmente. Eu lembro-me perfeitamente que, quando se organizava qualquer coisa, tinha que ser sempre sob a égide da Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia”, refere José Costa Lima. Embora obrigado a ultrapassar algumas barreiras, o desporto era, apesar de tudo, levado a cabo.

Tradição antifutebol do CDUP As actividades desportivas mais fortes do CDUP nos finais da década de 70 e inícios da de 80 (pós ditadura) eram, segundo o respectivo presidente, o basquetebol e o râguebi. Isto usando como critério de relevância o facto de estarem nas divisões mais altas do desporto federado do país. Também o pólo aquático, a canoagem e o ténis de mesa tinham protagonismo, sendo que a estas se juntavam o voleibol, o andebol, o xadrez, o judo, a ginástica e a natação, mas com níveis de participação e qualidade inferiores. Estranhamente, não se vê aqui o futebol. Como nos contou José Costa lima, “o CDUP tradicionalmente não tinha equipa de futebol, mas todos os centros tinham acordado que levariam uma equipa e, na época de 77/78, nós não tínhamos campeão regional universitário. E eu pedi ao professor [Olímpio] Bento que tratasse de arranjar e treinar uma equipa de futebol. Não sei o que fez mas arranjou voluntários, treinou a equipa de futebol e fomos campeões nacionais!”. A responsabilidade pela actividade desportiva na U.Porto, tanto a nível competitivo como nos campos da formação e lazer esteve, durante muitos anos, nas mãos do CDUP. Actualmente, essa função cabe ao Gabinete de Apoio ao Desporto da U.Porto (GADUP), nascido em Setembro de 2004. Hoje, a U.Porto é a universidade que mais se destaca em termos desportivos. De um total de 491 medalhas atribuídas ao longo das diferentes fases dos CNU’s da época de 2009/2010, 102 (aproximadamente, 20,8%) foram para a U.Porto, entre dez instituições. O nível de conquistas tem vindo a aumentar, sendo que para esta quantidade contribuem, maioritariamente, as medalhas de ouro (aproximadamente, 38%).


Universidade do Porto A maior instituição de ensino e investigação científica de Portugal e uma das 100 melhores universidades da Europa. 3 14 1 2 366 1 654 30 898 22 405 5 406 258 2 829 3 205 1 488 460 389 380 61 427 91 701 35 18 135 36 85 392

Campus universitários Faculdades Business school Docentes e Investigadores (1920,8 ETI) (76% doutorados) Não docentes (1648,1 ETI) Estudantes Estudantes de 1º Ciclo e de Mestrado Integrado Estudantes de 2º Ciclo / Mestrado Estudantes de Especialização Estudantes de 3º Ciclo / Doutoramento Estudantes e investigadores estrangeiros (10,37% do total) em programas de mobilidade em programas de 1º Ciclo e Mestrado Integrado em cursos de Mestrado em cursos de Doutoramento em cursos de Especialização Investigadores Nacionalidades Programas de Formação em 2009/10 Cursos de 1º Ciclo / Licenciatura Cursos de Mestrado Integrado Cursos de 2º Ciclo / Mestrado Especialização Cursos de 3º Ciclo / Doutoramento Cursos de Formação Contínua

4 050 4 052 155

Vagas disponíveis em 2009/10 (15,2% das vagas nacionais) Vagas preenchidas na 1ª fase do concurso nacional 2009/10 (100% das vagas preenchidas) Mais alta classificação média do último colocado das universidades públicas

61 31 14 2 038 52 32

Unidades de investigação Unidades avaliadas com “Excelente” e “Muito Bom” Unidades integradas em Laboratórios Associados ao Estado Artigos científicos indexados na ISI Web of Science em 2008 Patentes portuguesas submetidas (até Dezembro de 2009) Spin-offs (empresas desenvolvidas na Universidade)

30 663 216 53 321 2 647 633 9 1 220 18 2 270 3 495

Bibliotecas Títulos de Monografias Publicações periódicas disponíveis on-line Downloads de artigos científicos Residências Universitárias Camas (87% ocupação) Unidades de alimentação (cantinas, bares, etc) Lotação das cantinas Refeições servidas por dia

www.up.pt up@up.pt


A Universidade do Porto agradece a todas as instituições e particulares que apoiam, declarada ou anonimamente, a realização das Comemorações do Centenário:


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