Rudge Ramos Jornal - Edição 1.079

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo ANO 38 - Nº 1079

6 de dezembro de 2018

Aos nossos leitores: Voltaremos a circular em fevereiro de 2019 - Boas festas!

Natal anima comerciantes Expectativa no Rudge é que vendas compensem resultados negativos registrados ao longo de 2018. Pág. 3 Beatriz Cordeiro /RRJ

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Visita guiada

Giulia Marini/RRJ

Túmulos do cemitério da Vila Euclides guardam a história da cidade. Pág. 7 Fernanda Fernandes/RRJ

» TRÂNSITO

Implantação de corredor de ônibus no bairro Assunção causa transtornos Pág. 5

» SAÚDE - Apesar de SUS disponibili-

zar oito tipos de contraceptivos diferentes, pílula ainda é a mais utilizada. Pág. 10


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ECONOMIA

Filipe Carnevale do Nascimento

A VULNERABILIDADE das mulheres negras ao desemprego é 50% maior. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em outubro, mostra que a cada 1 ponto percentual a mais na taxa de desemprego, as mulheres negras sofrem, em média, aumento de 1,5 ponto percentual. Para as mulheres brancas, o reflexo é de 1,3 ponto percentual. Segundo o professor de história Leonardo Pinto Ferreira, de São Bernardo, o racismo é um dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres negras para conquistar uma vaga em um processo seletivo das empresas. “Até os anos 90, era comum ler em anúncios de emprego nos quais se exigia boa aparência e sabíamos que isso significava ser branco. Ser mulher e negra coloca muito obstáculos para uma contratação. Mesmo sendo competentes, dificilmente conseguem uma vaga”. Outro aspecto histórico que contribuiu para esse cenário atual, segundo o professor Ferreira, é a falta de políticas por parte do governo que visam a introduzir essa parcela afrodescendente na sociedade. “A abolição aconteceu em 1888, há 130 anos, mas sem reparar erros históricos, simplesmente libertou os escravos, mas não houve nenhuma compensação por mais de 300 anos de escravidão”. Tainá Neiva, de São Bernardo, diz que já sofreu preconceito na hora de uma entrevista de emprego, não só pela cor da pele, mas pelo tipo de cabelo. “Eu tenho que prender meu cabelo no máximo para que ele fique com o mínimo volume possível. Porque quando eu estou fazendo a entrevista, percebo que a pessoa não está

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Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

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6 de dezembro de 2018

Mulheres negras são as mais prejudicadas com o desemprego Segundo pesquisa, vulnerabilidade dessa classe é 50% maior Filipe Carnevale do Nascimento/RRJ

Moradora do ABC, Ellen Mayara está desempregada há uma ano e diz que precisa se preparar duas vezes mais para uma entrevista de emprego que uma mulher branca

DIRETOR Kleber Nogueira Carrilho COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183)

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação).

EQUIPE DE REDAÇÃO - Andressa Navarro, Ariel Correia, Camila Falcão, Camilla Thethê, Flávia Fernandes, Gabriel Batistella, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Giulia Requejo, Gustavo Garcez, Helena Tortorelli, Letícia Rodrigues, Luchelle Furtado, Luis Henrique Leite, Marcelo Hirata, Mayara Clemente, Natália Rossi, Tamara Sanches, Victor Augusto e alunos do curso de Jornalismo.

DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

olhando no meu rosto e sim para o meu cabelo e isso já é uma forma de julgamento”. A também moradora de São Bernardo Leticia Moreira diz que o preconceito, às vezes, não aparece na entrevista, mas no dia a dia do trabalho. “O racismo é bem velado, escondido. Em um processo seletivo a gente não consegue perceber com clareza, já nos locais de trabalho já é mais fácil escutar os comentários racistas, por exemplo”. E prossegue falando como tenta superar esses desafios em uma dinâmica de trabalho. “Eu me visto bem para se destacar, dou uma estudada na vaga, tento falar com clareza meus conhecimentos gerais e sempre prendo meu cabelo”. Já a moradora de Santo André Ellen Mayara diz nunca ter presenciado alguma forma de preconceito por parte dos recrutadores em alguma entrevista, mas que se sente na obrigação de se preparar melhor. “A gente tem que sempre fazer duas vezes mais do que uma mulher branca. Tenho que me dedicar duas vezes mais, tenho que estar mais arrumada e fazer tudo melhor”. Outra barreira que atrapalha o acesso ao trabalho é o baixo nível de educação que essas mulheres possuem atualmente, de acordo com o economista Nelson Nascimento, de São Bernardo. “Não há facilidade de acesso para as minorias menos favorecidas para a educação em níveis superiores e isso dificulta a qualificação das pessoas. E essa situação acaba por gerar uma parcela de desemprego muito maior para essa população negra”. E continua. “Esse panorama de crise que estamos vivenciando é resultado das más gestões dos últimos políticos que governaram nosso país. E isso pode ser percebido principalmente pelos altos índices de desemprego”. 

MARKETING - Ronilson Carassini DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves de Barros REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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Comerciantes locais se animam com fim de ano Setor se movimenta Igor Maciel FIM DE ANO lembra Natal e festas e, consequentemente, roupas novas, presentes, brinquedos, até mesmo decoração natalina. Se, de um lado o período custa caro ao bolso da população, do outro, é o melhor amigo dos comerciantes. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as compras de Natal este ano movimentarão cerca de R$ 34,5 bilhões. No Rudge, algumas lojas já registraram movimentação maior em novembro, com a Black Friday, o que já serviu de estímulo para o mês seguinte e preparo para as vendas natalinas. A gerente Luciana Benucci, da loja Aroma e Arte, tem um olhar positivo sobre o mercado. “Novembro já é um mês que a gente espera realmente um crescimento por causa da Black Friday, e dezembro, na consequência, também, por causa do Natal. Agora com essa situação política aparentemente definida, o comércio está aquecendo”. Esse otimismo não foi assim o ano todo. Desde o início de 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem divulgado, por meio da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), um resultado negativo nas vendas do varejo, tendo se agravado no mês de junho e julho por conta da greve dos caminhoneiros iniciada em maio. As vendas varejistas caíram 0,5% nesse período e foi o terceiro mês consecutivo de resultado negativo, de acordo com o IBGE. “O ano foi muito fraco para a gente. Os clientes compravam muito mais. De um ano e meio para cá o comércio está bem devagar, as pessoas compram assim, coisas baratinhas”, afirma Viviane Gasparini, gerente da loja Mª Kbrita, localizada no bairro. O cenário político tam-

ECONOMIA

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do com que a taxa de câmbio de todos os países se altere com alguma frequência. No caso brasileiro, o que nós tivemos foi a intensificação desse processo por conta do cenário eleitoral”, explica Fábio Terra, economista docente da Universidade Federal do ABC. A queda nas vendas mais cedo com Black Friday e aguarda as vendas do Natal do setor no ano e a instabilidade econômica não Fotos: Igor Maciel/RRJ foram suficientes para fazer os comerciantes locais recuarem diante das vendas de fim de ano, mas os levaram a adotar algumas estratégias. Luciana, por exemplo, alega que a novidade sempre é uma boa saída. “Toda semana, a gente recebe pedido, então, apostamos nisso. Inovação, acho que essa é a palavra, tanto de vitrine, quanto de produto que fica na frente da loja. A ideia é atrair o cliente para dentro, porque na hora que ele entra, vê o leque amplo que a gente tem para oferecer”. Para a consumidora Ana Luiza Martins, o fim de ano será repleto de presentes e para isso irá pesquisar. “Eu senti que os preços aumentaram em relação ao Lojas do bairro buscam atrair o cliente com um visual chamativo, focando nas novidades e promoções ano passado, mas fazer o quê? A gente gosta de bém colaborou para esse do diretamente nas impor- futuro da economia de uma comprar, dar presentes no esfriamento do comércio, tações e exportações. “Essa maneira mais desconfiada, Natal, então acabamos pespor meio da instabilidade guerra comercial de escala e quando isso acontece, a quisando bastante e muitas das eleições, que fez o dólar global tem feito com que os demanda por dólar se torna vezes encontramos [os preoscilar bastante, impactan- investidores enxerguem o mais intensa e volátil fazen- sentes] fora dos shoppings, no comércio local mesmo, como o daqui do Rudge”. O também consumidor Danilo Favero relata que usará o 13º salário para as compras de fim de ano. “Porque assim a gente consegue comprar sem sentir tanto no bolso, já que nessa época temos que pensar na ceia de Natal que também pesa bastante”. O economista Fábio Terra ressalta três fatores para que os últimos dois meses do ano sejam responsáveis por uma atividade econômica intensa. “Em novembro, nós temos um conjunto grande de promoções, sobretudo a Black Friday, a segunda das razões é que muitas pessoas, por conta dos presentes de Natal do mês de dezembro, fazem as suas aquisições já em novembro. E o terceiro fator que se junta a esses dois é o 13º salário. Além disso, muita gente, por exemplo, compra via crédito em novembro, um presente para entregar em dezembro Instabilidade política, crise financeira e a greve dos caminhoneiros afetaram desempenho do comércio em 2018 e pagar depois”. 


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EDUCAÇÃO

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É vendo que se FALA...

Escola de surdos garante ensino e inclusão para a comunidade de São Bernardo

Andressa Navarro

DE ACORDO com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de dez milhões de brasileiros com alguma deficiência auditiva. Destes, aproximadamente um milhão são crianças e jovens de até 19 anos. São 10% dessa comunidade que têm dificuldades ou não consegue encontrar ensino público direcionado para surdos. É o caso de Tawanny Marques, que perdeu a audição depois de adquirir uma bactéria, quando tinha apenas 2 anos. Conceição de Maria Marques, a mãe de Tawanny, conta que a menina passou por três escolas antes de realmente encontrar uma em que se desenvolvesse melhor. Hoje, a menina estuda na EMEB Neusa Basseto, no Rudge. A escola municipal oferece ensino para crianças surdas há mais de 60 anos, e, possui um diferencial: uma comunidade que gera identificação e traz interação real para essas crianças, que se sentem limitadas em escolas, onde as diferenças as deixam deslocadas. Conceição relata, que, apesar das escolas bilíngues oferecerem o ensino das libras e um intérprete para o acompanhamento das crianças com deficiência, o nível de sociabilidade e a falta de interação com os colegas fazia com que Tawanny, muitas vezes, se fechasse, e a escola se tornava um lugar não muito atrativo. De acordo com a mãe, o cenário mudou desde que a filha entrou na escola Neusa Basseto. “Ela já participou de outras escolas bilíngues, mas não teve o desenvolvimento que teve em um ano na EMEB”. A escola tem como primeira língua as libras e como segunda, o português, ou seja, todo o conteúdo é lecionado na linguagem de sinais, inclusive o português escrito. Com salas pequenas, ensino integral e inclusivo, professores especializados em educação especial e, até

Fotos: Andressa Navarro/ RRJ

Acima, mãos falam “bem-vindos” na linguagem de sinais. Abaixo, a expressão visual é exaltada para identificar a escola e a comunidade surda

mesmo, alguns surdos, e salas formadas só por deficientes auditivos, a escola forma uma comunidade, onde a interação e conversação se torna simples e, todos vivem uma mesma realidade, fazendo com que as crianças se sintam parte daquele ambiente. Situação que propicia o aprendizado da língua dos sinais e das matérias padrões, principalmente, para as crianças que entraram na escola mais velhas, e têm dificuldades. “Quanto mais cedo essa criança entrar em

contato com a língua dos sinais, mais rápido ela vai se desenvolver. É no dia a dia, com contato com outras pessoas, que utilizam a linguagem”, explica a diretora da escola Cristiane Gori, ressaltando o reconhecimento de uma identidade surda para os jovens. Natali Santos também sente a importância da escola na vida da filha. A mãe de Kamilly Aurora conta que a menina estuda na “Neusa Basseto” desde um ano e oito meses de idade, indicada pelo fonoaudiólogo que a

atendeu quando descobriram a surdez. Com gratidão, explica como a escola é importante na vida de Kamilly. “Ela nunca quer faltar, ela gosta de ir para as aulas, porque se sente confortável”. Para ampliar a comunicação e o melhor relacionamento das crianças com a comunidade, a escola dá oficinas para o ensino das libras para familiares e amigos dos alunos. Conceição e Natali aprenderam a linguagem dos sinais nessas oficinas, e não escondem o quanto isso fez a diferença

dentro de casa. Ambas relatam que a relação entre mãe e filha se intensifica, ao passo que estudam e aprendem juntas como usar as mãos para se comunicar. Mas a escola não gera crescimento só para as crianças. Silvia Fernandes, que trabalha como orientadora pedagógica no local, conta que a gratidão e o prazer que sente em trabalhar com o desenvolvimento das crianças é “gigante”. Sentimento compartilhado pela diretora da instituição e sentido por Natali na hora de ver o crescimento de Kamilly. “As outras escolas não têm o mesmo suporte que a ‘Neusa’ tem, as pessoas que estão lá, fazem o que fazem por amor”, conta. Legislação e conquistas A escola existe desde 1957, quando a comunidade surda da região se juntou e reivindicou o ensino inclusivo para as crianças com deficiências auditivas, ganhando a batalha. E é essa luta que marca a história das conquistas desta comunidade. E ainda necessária até hoje. Cem anos antes, no império, D. Pedro institucionalizava a primeira escola para surdos. Mas foi somente em 2002, que a libras foi reconhecida como língua nacional, o que viabilizava a legislação e garantia direitos à comunidade de surdos. Em 2005, o decreto foi em relação ao ensino da linguagem dos sinais nos cursos de formação de professores e fonoaudiólogos, o que contribuiria para a capacitação de professores para a educação especial de deficientes auditivos. E, por aí vai, hoje, até o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) já se adaptou e oferece a prova em vídeo e interpretada na linguagem brasileira de sinais, inclusive as dificuldades no ensino e inclusão para a comunidade surda foi o tema da redação do ano passado. Mas, apesar das conquistas já serem muitas, os surdos ainda tem que reivindicar seus direitos a todo instante. “A inclusão de verdade está só no papel. Ainda falta muito para chegarmos ao ideal, mesmo dentro de casa não é todo mundo que sabe a linguagem dos sinais”, conta Natali, ressaltando a necessidade de evolução nos serviços para que o direito de inclusão seja uma realidade para todos. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fernanda Fernandes

NO COMEÇO de junho deste ano, foi inaugurado o corredor de ônibus na Av. João Firmino, em São Bernardo. Localizado do lado esquerdo da pista, tem 2,6 km de extensão e já conta com todos os ônibus municipais passando por ele. Além da João Firmino, outras vias estão em obras para ganharem corredores de ônibus, como a Av. Dr. Rudge Ramos, Senador Vergueiro e Estrada dos Alvarengas. O objetivo do corredor exclusivo é otimizar o trajeto das linhas que cruzam a avenida, inicialmente em apenas cinco minutos para, no futuro, ser de 10 minutos, favorecendo mais de 30 mil pessoas dos bairros dos Casa, Assunção, Alves Dias, Alvarenga e área central. Neste momento, os ônibus da empresa Expresso SBC, ligada a EMTU, continuam a trafegar do lado direito da pista. “A EMTU já foi informada sobre a implantação e operação do corredor e sobre a gradativa retirada dos pontos de parada do lado direito da via. Em médio e longo prazo, todos os veículos de transporte coletivo deverão percorrer o corredor”, disse o secretário de transportes de São Bernardo, Delson José Amador. Ainda de acordo com o secretário, os ajustes estão sendo feitos gradativamente. Atualmente, já é permitido o tráfego de táxis com passageiros, transporte escolar e ônibus de fretamento. Aos finais de semana e feriados o corredor é liberado para o tráfego de todos os tipos de transporte. No entanto, o tráfego dos ônibus da EMTU do lado direito da avenida ainda causa trânsito, mesmo que haja duas faixas para tráfego livre – o ônibus ocupa mais de uma das faixas para se locomover. “Melhorou bastante, para quem anda de ônibus, ele está chegando e fazendo o trajeto mais rápido. Mas os carros ficaram apertados, um carro mais largo ocupa mais de uma faixa”, disse a aposentada Lourdes de Amorim. “Está sendo bom para quem anda de ônibus, mas para quem anda de carro causou trânsito e ficou um pouco apertado”, disse a balconista Laís Dias Oliveira, que utiliza regularmente a via e o transporte público. O engenheiro de tráfe-

CIDADE

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Fotos: Fernanda Fernandes/RRJ

O corredor exclusivo para transporte público, localizado na Av. João Firmino, mudou a rota da linha 07 - Cooperativa/Paço e atrapalhou o trânsito

Corredor de ônibus complica trânsito no bairro Assunção Implantação ainda não é definitiva e ônibus acabam por trafegar nas duas pistas go Rogerio Russo afirmou que o projeto pode cumprir seu papel futuramente se for bem organizado, “Por enquanto, são inviáveis os ônibus passando dos dois lados. Para deixar tudo em ordem, não deveria liberar já o corredor, porque a João Firmino não tem pista suficiente. É necessário, primeiro, ajustar todas as linhas de ônibus do lado esquerdo para trafegarem no corredor”. Outro obstáculo é a mudança de rota da linha 07 – Cooperativa/Paço, que antes passava por um trecho da João Firmino e subia para a Rua Cristiano Angeli. E agora segue pela João Firmino até o final (sentido Área Verde) para mais na frente, através da Av. Presidente Kennedy, percorrer um trecho curto da Cristiano Angeli. “O ‘07’ passava ali em cima na Cristiano, agora que ele mudou de rota, as pessoas precisam descer e subir para poder utilizar o transporte público”, relatou Lourdes de Amorim. Atualmente, as linhas

05 – Jd. Laura/Paço, 05B – Quimicos/Paço, 07 – Cooperativa/Paço (via Estrada e via Castelo), 07A – Mizuho/ Paço, 43 – Detroit/Paulíceia e 11 – Orquideas/Paço usam o corredor de ônibus da Av. João Firmino. E as linhas 156 – Eldorado (Jardim Inamar)/Baeta Neves (via Paço Municipal) e 255

As linhas intermunicipais ainda não utilizam o corredor , o que tem dificultado o trânsito local e confundido os passageiros

– Diadema (Jardim Padre Anchieta) via Piraporinha/ Terminal São Bernardo (via Paço Municipal) ainda tra-

fegam pelo lado direito da avenida, o que deixa o passageiro confuso na hora de saber onde pegar o ônibus. A EMTU afirmou que foi contatada pela Secretaria de Transportes, em maio, e está realizando os procedimentos com a secretaria e a Expresso SBC para resolver o problema. 


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CIDADE

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Ciclovias de Santo André sofrem com sucateamento Atualmente, cidade conta com 22 quilômetros de ciclovias construídas Fotos: Beatriz Chagas/RRJ

Beatriz Chagas

EM ABRIL de 2015, o então secretário de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos Paulo Serra (atual prefeito de Santo André pelo PSDB) anunciou o início das construções da primeira ciclovia de Santo André, que iriam interligar a Vila Luzita à estação Prefeito Celso Daniel por um custo de R$ 1,9 milhão. O objetivo do governo municipal, na época, era alcançar 50 km de ciclovias até 2017. No entanto, um ano após o prazo, a cidade ainda não atingiu nem metade dessa meta, contabilizando apenas 22 km de ciclovias construídas. Nas mãos de Paulo Serra, principal articulador da iniciativa, as ciclovias sofrem com a manutenção precária, a falta de iluminação em percursos e,

Sempre que tenho vontade de andar de bicicleta, busco os parques, nunca a ciclovia; temo pela minha segurança Adnan Yunes Estudante

Manutenção precária, falta de iluminação e descontinuidade dos trechos são os principais problemas das ciclovias da cidade

Além de atrapalhar ciclistas, más condições desestimulam o uso da bike como transporte alternativo

principalmente, a descontinuidade dos trechos. É o que conta o fundador do grupo de ciclistas Corujas Bike Team, Levi Maximiano. “A ciclovia de Santo André é muito limitada, atende apenas uma região ao centro, além de estar praticamente abandonada e precisando de reparo e limpeza”. Maximiano relata também como a descontinuidade desencoraja os usuários. “Atrapalha muito, não encoraja o ciclista a usar a bicicleta como meio alternativo de transporte,. Se tivéssemos uma malha cicloviária maior e cuidada, certamente haveria muito mais adesão”. Atualmente, a administração municipal alega fluxo diário de cerca de 700 pessoas ao longo da faixa de 10 km. Na maior ciclovia da cidade, alguns trechos são pintados sobre calçadas, interrompidos por obstáculos que estavam no percurso antes da construção, e que não foram removidos, ou muito estreitos. Isso atrapalha a circulação dos usuários, que acabam dividindo espaço com carros e até mesmo pedestres. Além disso, a precariedade das ciclovias afasta um possível público, que vê nas bikes uma opção sustentável de transporte e lazer. “Sempre que tenho vontade de andar de bicicleta, busco os parques, nunca a ciclovia; temo pela minha segurança. Também poderia usar para me locomover, mas tenho medo de ficar tão perto dos veículos grandes”, conta o estudante de administração Adnan Yunes. O Secretário de Mobilidade Urbana, Edilson Factori, assegurou a qualidade das ciclovias de Santo André. “Todas as ciclovias e ciclofaixas foram executadas dentro dos parâmetros técnicos vigentes pelo Departamento Nacional de Trânsito”. A prefeitura estima, anualmente, um gasto de R$ 150 mil para a manutenção de cada quilômetro de ciclovia implantada, incluindo sinalização, repintura e limpeza. Factori também comentou as alterações no plano cicloviário dentro da nova gestão. “Será revisado e incluído no Programa de Mobilidade Urbana, previsto para abril de 2019. Este documento trará modais que serão implantados e os locais onde comportarão a estrutura de ciclovia”. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Beatriz Cordeiro

ESPALHADOS pelo mundo existem vários cemitérios que acabaram se tornando atrações turísticas, seja por possuírem belas esculturas, uma arquitetura diferente ou por serem os locais onde personalidades históricas e famosas estão enterradas. Aqui em São Bernardo, um exemplo disso é o Cemitério da Vila Euclides, que abriga personagens importantes como Thereza Delta, a primeira e única prefeita da cidade, Salvador Arena, o fundador da Termomecanica, e Lauro Gomes, o prefeito que trouxe as indústrias para o município. Eles são os jazigos que mais atraem a curiosidade dos visitantes, que, muitas vezes, buscam um passeio diferente. Antigamente, os mortos eram sepultados nos quintais das igrejas. Em São Bernardo, eles eram enterrados atrás da capela da Nossa Senhora da Boa Viagem, onde hoje está localizada a Igreja Matriz. Entretanto, no final do século 19, uma epidemia de varíola se espalhou pela cidade e, como era uma doença altamente contagiosa, os sepultamentos não podiam mais ser realizados em áreas urbanas. Dessa forma, o Estado determinou que os corpos deveriam ser enterrados em um lugar mais alto e longe dessa área. Foi assim que surgiu o cemitério, na Avenida Redenção. Após o tombamento do cemitério como patrimônio histórico, começaram a ser organizadas as visitas guiadas para o local. A chefe da Divisão de Preservação da Memória de São Bernardo, Denise Puertas, explica que o principal objetivo das visitas é fazer com que as pessoas conheçam e estabeleçam um contato mais próximo com os bens culturais da cidade. “Às vezes não é só saber da história, no caso do cemitério, é trabalhar uma materialidade que vem desde um tempo um pouco mais remoto, mas que chega até nós e é um suporte de memórias. Quando as pessoas enterram seus familiares, elas não têm mais a presença daquela pessoa, então, tudo que resta são as memórias. Assim, o cemitério é um lugar, por excelência, de memórias”. Denise ainda conta que muitas pessoas acham estranho esse tipo de passeio, enquanto outras afirmam sentir medo, mas com as visitas, essa impressão vai

CIDADE

6 de dezembro de 2018

Foto: Beatriz Cordeiro/ RRJ

Visita guiada em cemitério é um passeio curioso na cidade Espaço da Vila Euclides recebe pessoas para conhecer um pouco da arquitetura, história e memória do lugar sendo, aos poucos, quebrada. “A gente vai explicando com um viés bastante histórico as ideias higienistas da virada do século, o porquê da separação do cemitério das igrejas e o que era aquela epidemia, porque as pessoas não sabiam o que que era, como pegava, porque morriam tão rápido, era um medo do desconhecido. Então, isso acabou criando hoje um certo receio, mas a gente tem tido um resultado muito positivo e as pessoas que vão acabam desmistificando, perdendo esses medos e encarando a partir de um outro olhar.”

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Mas não são somente as visitas que atraem as pessoas para o cemitério. A aposentada Dinair Bernardelli frequenta o local esporadicamente para visitar sua mãe que está enterrada ali. “Eu não tenho receio de cemitério, eu gosto, acho que é um lugar tranquilo. Mas, hoje em dia, tem que tomar cuidado, você vem durante a semana aqui e não vê mais pessoas. A minha mãe trazia a gente aqui pequeninho, e tínhamos que andar de mão dada porque a gente se perdia, e vinha a família inteira, hoje não existe mais isso”.

Acima, vista geral dos jazigos; abaixo, sepultura do ex-prefeito Lauro Gomes e uma rua do cemitério onde se encontram os túmulos mais antigos

Além disso, Dinair fala que o ambiente é muito bonito, mas está descuidado e sem proteção, levando a um roubo constante de túmulos. Todos os domingos é realizada, pela igreja católica, uma missa, às 9h, na capela ecumenica do cemitério, que leva muitas pessoas a visitarem o local para relembrar dos familiares enterrados ali ou apenas para participar da cerimônia religiosa. Antônio Borgani, 83, e sua filha Cirlene Maria Borgani, 52, frequentam essa missa todos os domingos e aproveitam para visitar o túmulo da esposa e mãe, respectivamente. “A gente vem recordar os nossos entes que já passaram desta vida, então agora a gente vem lembrar do bem que eles fizeram para nós. E pra nós aqui é um lugar comum, é onde vai ser o fim de todos. Lá em casa, a gente cresceu sempre indo quando tinha velório, mas no dia de finados a gente tinha o costume de fazer uma visita”, lembra Cirlene. As visitas ao cemitério são realizadas pela Seção de Patrimônio Histórico de São Bernardo e gratuitas. Normalmente, elas são realizadas todas as últimas sextas-feiras do mês, mas há horários abertos para grupos, escolas e interessados em geral. Para participar, basta mandar um e-mail para patrimonio.sbc@gmail. com ou entrar em contato pelo telefone 4337-8217. 


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ESPECIAL

Gabriela Viana

EM ÉPOCA de Natal, a solidariedade costuma aflorar. E, com os efeitos do espírito natalino, quem ganha é quem precisa. Muitas pessoas, nesse período, ajudam o próximo por meio de doações, seja de alimentos, roupas, brinquedos ou até mesmo as tradicionais “sacolinhas” de Natal. De doações individuais até pequenos grupos que se solidarizam, um grande projeto é realizado, distribuindo, muito além de presentes, alegria. Thaiany Cuencas, de Santo André, que participa de trabalhos voluntários das instituições Olhar de Amor e Cruz Vermelha, há um ano e meio, conta que tem bastante trabalho no final do ano. “Via a alegria das famílias em ter algo parecido com uma ceia, presentes para dar para os filhos... A época de Natal também move pessoas que nunca ajudaram, a querer doar, e isso faz com que mais famílias sejam alcançadas”, conta Thaiany. Mesmo com pouco, essa ação pode mudar o Natal de muita gente, além de trazer outro significado para quem participa. Para Thaiany, é uma mudança na forma de ver o mundo. “Quando doamos, recebemos muito mais do que as pessoas carentes, aprendemos muito e aprendemos a olhar os problemas por outra perspectiva, tudo parece mais simples de resolver”. Para Leonardo Silva, morador de São Bernardo, que faz doações há seis anos durante a época de Natal, ajudar o próximo o presenteou com amigos e também com o carinho das pessoas. As ações são uma forma de ajudar a deixar a vida dessas pessoas mais leve após um ano que pode ter sido difícil. “São crianças que sonham, que são carinhosas. Em uma das vezes, num evento que fiz num orfanato, em Santo André, eu ouvi de algumas crianças que elas queriam vir embora comigo. E nesse dia, sem dúvida, eu entendi que eu não tinha a metade dos problemas que elas têm”. Para quem recebe, essa época é importante, uma vez que o número de doações costuma aumentar. Segundo Isabela Macedo, responsável pela captação de recursos e comunicação do Orfanato Lar Pequeno Leão, de São Bernardo, a ação mais forte neste final de ano da instituição são as sacolinhas de Natal feitas em quatro tipos:

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Arquivo RRJ

Doações aumentam com chegada do Natal

Entidades contam com a ajuda de voluntários para garantir festa de fim de ano das crianças atendidas

Famosas ‘sacolinhas’ ajudam crianças de instituições com roupas e brinquedos Gabriela Viana/RRJ

roupas, material escolar, higiene pessoal e lençol. “A gente distribiu essas sacolinhas, depois recolhe e elas duram muito tempo, praticamente o ano inteiro, até pela amplitude do nosso trabalho em outros quesitos de doação: doações livres, pessoas que vêm e deixam objetos ou alimentos”, conta Isabela.

Na instituição, é realizada uma confraternização, uma ceia como em todas as casas quando as sacolinhas são entregues para as crianças. É mantida a regra, em respeito à individualidade das crianças, que os doadores não podem entregar essas contribuições pessoalmente. “Todos sabem que foram doa-

das, mas os doadores não são revelados”, afirma Isabela. A assistente social da Organização da Sociedade Civil (OSC) Casa Transitória dos Servidores de Maria, Cecilia Barucco, de São Bernardo, conta que a instituição realiza todos os anos, nessa época, uma grande festa para comemorar a chegada

do Papai Noel, realizando também a entrega das sacolinhas doadas para as crianças e adolescentes. “Já estamos em fase de decoração para essa festa, que sempre é realizada no domingo que antecede o Natal. Ela só acontece devido às doações e contribuições de amigos e do comércio”, disse Cecília. 


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Locomotiva desembarca no Ibirapuera

CULTURA

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Fotos: Helton Prado/RRJ

Orquestra da região apresenta repertório inspirado nos clássicos do rock Helton Prado

Ao final do espetáculo as cortinas não foram fechadas. Seguido do inevitável pedido de bis da plateia – prontamente atendido pela Orquestra Locomotiva, o que se viu foi uma grande confraternização entre músicos, professores, maestro, familiares e espectadores à beira do palco do Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, como se houvesse um segundo ato inesperado e não ensaiado. Não era para menos: a apresentação marcava o encerramento das comemorações dos dez anos da orquestra andreense, realizado no sábado, dia 17 de novembro. O auditório projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer – e que desde 2014 dá nome ao espaço – teve seus 806 lugares preenchidos e, devido à lotação máxima, muitas pessoas acabaram ficando para o lado de fora, algo que a organização da casa garante ser raro, e confidencia que em média só cinco de todos espetáculos que acontecem no espaço

ao longo do ano consegue tal proeza. O sentimento do maestro Rogério Schuindt, idealizador do projeto e a frente da orquestra desde seu início, em 2008, é paradoxal. “Felicidade por ter alcançado essa marca, tristeza por quem ficou de fora da festa”, explica. Durante o espetáculo, o maestro agradeceu a todos presentes e relembrou o difícil início do Projeto Locomotiva, em uma salinha em Santo André, há dez anos. A inspiração para o projeto surgiu após uma viagem a Venezuela de Schuindt, que conheceu o Projeto El Sistema, que tirava crianças em estado de vulnerabilidade por meio do ensino da música. O sonho de Rogério Schuindt era de trazer o projeto para Santo André, sua cidade natal, e com a ajuda do seu irmão, Sérgio Schuindt, seu sonho foi ganhando forma. No terceiro dia de aula, o então garoto Robert Cardoso chegou até o projeto após amigos comentarem sobre aulas de música gratuitas.

Grupo conta com 150 músicos dos polos de Santo André e de Mauá À direita, o maestro Rogério Schuindt. Ao lado, o violinista Robert Cardoso

Com a ideia de aprender bateria, o menino teve que se contentar com as aulas de violino. E fez valer o aprendizado, após ser spalla da orquestra, hoje Cardoso é o maestro responsável pelo polo aberto esse ano em Mauá. O violinista destaca a oportunidade que o Projeto proporcionou para ele, e ressalta que, sempre que possível, a prioridade é escalar músicos formados no projeto para dar aulas. Robert também se mostra bastante orgulhoso de

estar tocando em palcos célebres da cidade, que além do Ibirapuera, esteve na Sala São Paulo com a Orquestra Locomotiva, em Maio. O maestro Rogério Schuindt ressalta que a orquestra toca também em

praças, escolas, na comunidade e não só em grandes palcos. Schuindt se mostra bastante otimista com 2019, com a perspectiva de abrir novos polos, como na capital paulista mas também em Moçambique. 

Projeto se expande graças a instrumentos de PVC

O luthier Ivan Oliveira, 29, conta que seu interesse pela arte da construção de instrumentos surgiu aos 14 anos

“Há somente uns quatro luthiers no ABC inteiro”, estima o luthier Ivan Oliveira, do projeto Locomotiva. Além de integrar o seleto grupo de profissionais na região, ele tem mais um motivo para se orgulhar: constrói violinos e violas de PVC. A ideia de substituir a tradicional madeira dos instrumentos por materiais alternativos, como o PVC, foi exportada de um projeto pioneiro na cidade de Angical, interior da Bahia. Patrocinado pela Braskem, a orquestra andreense teve acesso ao processo de fabricação e, frente a necessidade de atender mais crianças, a ideia foi pronta-

manuseio no novo material. Ele lembra que levou dois meses até dominar a técnica, e teve todo o suporte do profissional que desenvolve os violinos na Bahia. No térreo da sede da instituição, todas as manhãs, é possível vê-lo com seus mais dois auxiliares na lapidação do PVC. E da luthearia que hoje sai violinos e violas, já em 2019, deverá ter seus primeiros violoncelos. Rebeca Menezes, coordenadora do Locomitiva, se orgulha da produção de violinos alternativos. “O projeto, pela primeira vez, conseguiu zerar a fila de espera para o ingresso nas aulas”. (HP) 

mente colocada em prática pela Locomotiva. Desde março desse ano, os violinos produzidos por Oliveira possibilitaram o ingresso de mais 50 crianças nas aulas de música do Projeto Locomotiva. “Um violino na loja, de madeira, custa em torno de R$ 400, já o de PVC, sai em média de R$ 100”, explica. Além do preço vantajoso, segundo o luthier, com o tempo que se leva para construir um único violino convencional, é possível produzir 12 com o material alternativo. A instituição fornece todos os instrumentos de PVC gratuitamente aos alunos

que estão começando a se aventurar pela música. A partir do momento que evolui no aprendizado, as crianças migram para o violino de madeira. Isso porque, segundo o luthier, o material acaba interferindo no som, que fica um pouco mais abafado e baixo quando comparado aos

violinos tradicionais. Ivan Oliveira conta ainda que já fazia alguns consertos de instrumentos para a orquestra Locomotiva, e quando convidado para o desafio, não hesitou em aceitar. A experiência de mais de dez anos na área o ajudou no processo de aprendizado no


10 SAÚDE

Giulia Marini

O SISTEMA Único de Saúde (SUS) oferece oito tipos de contraceptivos como parte de uma política de planejamento familiar que busca reduzir o número de ocorrências de gestações não planejadas. Entre eles, encontra-se o DIU de cobre. Mesmo com esse serviço público para a sociedade, de acordo com o Ministério de Saúde, apenas 3% das brasileiras usam o dispositivo intrauterino como contraceptivo. A auxiliar de administração, Francisca de Faria, colocou o DIU com 38 anos, mas teve problemas. “Para mim, foi uma dor horrível nos primeiros dois dias, eu não fui nem trabalhar, senti muita cólica. Cheguei até a pensar em tirar. Passou um ano, eu fui no ginecologista fazer meus exames achando que estava tudo normal, mas meu médico falou que o DIU estava totalmente fora do útero”. A servidora pública, Micaela Martins, 34, procurou o atendimento do SUS porque o plano de saúde não cobria os custos do DIU. “Conversei com a ginecologista e marquei. A própria médica disse que não tinha porque pagar tendo o serviço gratuito. Foi um mês o tempo gasto desde a primeira consulta até a colocação do DIU”. Micaela afirma que o processo foi tranquilo e atendeu às expectativas. “Eu colocaria de novo, tranquilamente. Mas, dá próxima vez, quero colocar com anestesia ou alguma forma menos dolorosa”, explica. A médica ginecologista e obstetra Débora Ramos Beltrammi conta que o DIU de cobre traz tranquilidade às mulheres porque não tem necessidade de lembrar de tomar pílulas ou injeções rotineiras. “O cobre do DIU promove alteração na camada que

6 de dezembro de 2018

APENAS

3%

DAS BRASILEIRAS USAM O DIU DE COBRE COMO CONTRACEPTIVO

Implantação do contraceptivo pode ser feita pelo SUS, gratuitamente

reveste o útero internamente e essas mudanças afetam o espermatozóide. O processo de ovulação não é inibido, mas o cobre pode provocar danos ao óvulo não fecundado”, explica. Apesar

desse contraceptivo não ser abortivo, não causar câncer e ser um método reversível e duradouro, a médica afirma que pode ter desvantagens também. “Podemos encontrar alguns problemas tam-

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da Secretaria do Estado de São Paulo, o crescimento foi de 445% em 10 anos. A estudante de medicina veterinária Giovanna Carvalho já pensou em tomar a pílula anticoncepcional mais de uma vez, mas hesitou porque tem receio. “Tem vários efeitos colaterais que podem aparecer quando você começa a fazer uso desses medicamentos. Fotos: Giulia Marini/RRJ Tem outros também, como o adesivo, mas eu não confio”. Além disso, Giovanna alega que a pílula do dia seguinte e a camisinha já atendem o que ela procura. “Eu já tomei a pílula do dia seguinte duas vezes só neste ano. Eu compro ela sempre que estou sem camisinha”, explica. A analista de comunicação e marketing, Ana Carolina Grassi, conta que optou por parar de tomar anticoncepcional depois que a mãe dela morreu com trombose e descobriu que também poderia ter. “Tomei dos 15 aos 22 anos, mas ao parar, percebi uma melhora muito grande em muitas coisas, apesar de voltar a ter espinhas e um pouco de cólica, meu inchaço diminui, meu cabelo ficou mais forte e eu parei de reter líquido”. Por conta disso, a analista preferiu lidar com os imprevistos com a pílula do dia Apesar da seguinte mesmo não sendo quantidade de sua opção preferida. “Já opções de tomei pílula do dia seguincontraceptivos, o te e por mais que eu não mais ultilizado tenha ficado grávida, eu ainda é a pílula odiei porque é uma bomba anticoncepcional de hormônio e não me senti bem com ela”, explica. A ginecologista Débora Ramos Beltrammi alerta bém como alteração que a pílula do dia seguinte no padrão da mens- possui efetividade em torno truação, aumento de 75% e o uso repetitivo de cólicas durante o compromete o verdadeiperíodo menstrual, a ro significado de seu uso. não proteção de in- “Fora a ocorrência, em feções sexualmente alguns casos, de náuseas transmissíveis e a e vômitos, dor abdominal perfuração uterina e de cabeça, sensibilidade no momento da colo- nas mamas e tontura”. Ainda de acordo com a cação”, explica. médica, é aconselhável a substituição da pílula do Outras opções Em contrapar- dia seguinte por um método tida, o número de contraceptivo de uso rotimulheres tomando a pílula neiro. Além disso, ela acredo dia seguinte teve um dita que o uso regular de aumento significativo. De preservativos (masculino e acordo com dados reunidos feminino) para prevenção pelo Panorama da Contra- de infecções sexualmente cepção de Emergência no transmissíveis é de extrema Brasil do Instituto de Saúde importância. 


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ESPORTE

6 de dezembro de 2018

Orgulho do Rudge, Meninos Futebol Clube completa 83 anos Segundo o atual presidente, o clube foi eleito o mais querido do ABC, em 1969 Arquivo pessoal

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Queremos voltar com o bom futebol de campo. Éramos conhecidos e temidos por todos os times da região Jair Simpson Presidente

Gabriel Teles de Oliveira

O MENINOS Futebol Clube foi fundado em 1935, em frente ao prédio 18, da Estrada do Vergueiro, no Rudge. Em 2018, completa 50 anos, como uma referência histórica e esportiva no bairro. O clube foi criado pelos jovens: Elias Severo dos Anjos, Cirilo Mantovani, Cezar Pierangelli Emilio Pedroso de Toledo, João Pierangelli, Angelo Cuzziol, José Eudonizio Moreira, José Alexandre Pierangelli e José Montick. O primeiro presidente foi João Chiavaliero. O Clube marca ainda a história do bairro, que já teve o nome de bairro dos Meninos Novos e depois bairro dos Meninos. Rudge Ramos veio apenas nos anos de 1940. Construído em área de apenas oito mil metros quadrados, atualmente, o clube tem diversas atividades aos sócios em suas três piscinas, (sendo uma semi-olímpica), ginásio de esportes para o basquete, vôlei, futsal e ainda mantém jogos e salão para partidas de xadrez, bocha, artes marciais, yoga e inúmeras festas culturais. O futebol de botão também tem longa história em campeonatos oficiais da federação paulistana. Em 1949, o então estádio dos Meninos foi o primeiro do ABC a ter iluminação. Ganhou vestiários, bar, dependências para reunião e cancha de bocha. No segundo governo Lauro Gomes, o campo foi modernizado ganhando arquibancadas, vestiários subterrâneos, salão para treinos de boxe, festa e novo bar. O estádio chegou ao fim de 1972. A área foi trocada com as instalações da arquibancada. Depois, no lugar do campo, foi construída a Praça Oriental. O Meninos, em novas instalações, ampliou seu destaque social esportivo. De acordo com um dos diretores, Augusto Toldo, que jogou futebol de campo pelo clube por mais de 20 anos nas décadas de 70 e 80, o Meninos é muito querido. “O Meninos foi um dos campeões em festas da

Time de Futebol dos Meninos no ano de 1940, um dos primeiro que o clube teve Fotos: Gabriel Teles de Oliveira

Atuais instalações contam com três piscinas, ginásio poliesportivo, estacionamento e salão de jogos

cerveja, manteve o futebol varzeano por muitos anos, revelou grandes jogadores que atuaram pelo Juventus, Ypiranga, São José/SP, Sorocaba e até no Palmeiras

após os anos 60. É ainda um clube família”, disse. Acácio, Ponce, Bujão, Uriart, Zezé, Esquerdinha, Zoinho e Jamelão foram alguns dos jogadores que

defenderam o clube no futebol varzeano. Muitos consideram o Meninos o clube mais antigo da cidade, mas de acordo com o atual presidente do

local, Jair Simpson, essa informação não procede. Mas isso não impede que ele seja o mais adorado do ABC. “Em 1969, foi realizada uma votação pela população, em que elegiam o clube mais querido do ABC. Vários outros clubes entraram para concorrer, mas o Meninos ganhou com o maior número de votos. Éramos destaque pela nossa equipe de bocha”, disse Simpson. Além disso, o clube, antigamente, era muito conhecido no ABC pelas festas que tinha. “Ficou marcado como ponto de encontro, todos se conheciam, proporcionava uma socialização muito grande. São Bernardo inteiro ia para lá e também pessoas de outras cidades”, lembra o presidente. Já a respeito do futebol, Simpson comentou sobre os primeiros jogos e os futuros projetos. “Queremos voltar com o bom futebol de campo. Éramos conhecidos e temidos por todos os times do ABC. Disputamos a 3ª Divisão do futebol profissional. Na Copa São Bernardo, dominávamos o título e o grito de campeão. Simpson também falou sobre um possível “esquecimento” do clube. “Fomos deixado de lado de uma tempo para cá. O clube envelheceu, o time e festas também. Concordo que, hoje em dia, com o crescimento desordenado da cidade, é difícil ter contato que nem antes, mas não podemos deixar o nome Meninos em vão”. Com tantas mudanças, o presidente enfatizou a batalha de deixar vivo o clube. “Não tenho muita ajuda, temos sócios de verão, de seis meses, que depois não dão mais as caras aqui. Temos lucros em algumas festas, e outros amantes do clube que ajudam com o que têm. Sou morador do Rudge há 40 anos, desde quando me conheço como tal, sou Meninos F.C. 


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6 de dezembro de 2018

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade


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