Gears of War

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Capítulo 1

Damon Baird tentou se lembrar exatamente de como se sentiu no Dia-E, quando viu seu primeiro zangão. Lembrou-se dos pormenores, mas não da emoção que sentiu. Entretanto, imaginava ter sido como se sentia também naquele momento, com as tripas agitadas, o couro cabeludo tenso e o reflexo animal ligadão, deixando-o pronto para correr ou lutar. Ele não sabia por que esses talos pareciam diferentes dos outros, ou o que as grandes pústulas vermelhas estavam fazendo em seus troncos, mas tinha certeza, em um nível instintivo, de que ele deveria detoná-los de uma vez ou correr dali como o diabo foge da cruz. O helicóptero Rapina pairava no ar, vinte metros acima do chão. Assim, ele descartou a possibilidade de fugir. Em vez disso, avistou a pústula mais próxima. – Controle, aqui é RR-Oito-Zero, temos oponentes EchoCinco – Gettner repetiu, como se estivesse explicando a matéria para o garoto mais estúpido da classe. – Grande incursão talo. Três dos filhos da puta entraram em erupção. Sei que o Esquadrão Delta é praticamente um pequeno exército, mas uma ajudinha não faria mal a ninguém.

A voz de Mathieson nunca subia para um tom acima do calmo e desanimado, não importando quanta merda batesse no ventilador. – Eu escutei você, Oito-Zero, mas o Echo-Cinco está afastado da costa. Por favor, confirme sua posição. – Eu sei que está afastado, Mathieson. É por isso que é importante que a gente tenha um pouco de apoio. Eles não deveriam estar aqui. – Quantos pólipos? – Nenhum. Ainda. – Entendido, major. Aguarde. Baird ajustou sua mira novamente. Gettner era uma cadela sarcástica e sem charme, porém, ela estava certa. Os talos, aqueles crescimentos monstruosos parecidos com árvores, que eles descobriram somente algumas semanas atrás, deveriam estar bem longe do mar. Não. Entendemos tudo errado. Eles estão aqui, e isso significa que encontraram uma maneira de atravessar o granito. Este lugar era para ser seguro. Sim, como disseram a respeito de Ephyra. E de Jacinto. Por que eu sempre acredito nessa porcaria? Os talos já tinham afundado um navio de guerra, uma plataforma de perfuração de emulsão e um monte de pequenas embarcações. Talvez destruir rochas magmáticas fosse um trabalho relativamente tranquilo para eles, afinal. – Fenix, não posso segurar este pássaro no ar aqui o dia todo – disse Gettner. – Com essas coisas a gente tem que cagar ou sair logo da moita. – É, vou passar para eles essas alternativas, major. – Marcus

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Então, quantas variedades desses brilhosos vadios entraram? Major Gill Gettner, piloto de Rapina, ao ver os primeiros talos Lambent em Vectes. Rapina Rei RR-80, em patrulha sobre a parte norte de Vectes, dez dias após o pouso inicial Lambent. Mês da Tempestade, 15 D.E.


olhou para a mira de sua metralhadora enquanto Nat Barber, chefe de equipe, fazia imagens de reconhecimento. – Quanto tempo já passou? – Dois minutos – ela disse. – Vamos esperar dez. – Certo, vocês fiquem aí conversando, então. Enquanto isso, só vou perder um pouco mais de nosso precioso combustível extremamente limitado. As coisas não deveriam estar acontecendo desse jeito. Talos irromperiam em segundos e, em seguida, viriam pólipos, aqueles merdinhas malignos, todos cheios de pernas e presas, que transbordariam como caranguejos gigantes homicidas e explodiriam bem no meio da cara de quem estivesse pela frente. Entretanto, não havia nenhum sinal dos pólipos. Os talos apenas ficaram por lá, brilhando e esperando. Nunca vi pústulas nos talos antes. Quanto mais Baird olhava, mais ele podia distinguir uma cruz sobre a membrana, como se estivesse dividindo a coisa em quadrantes. – Ok, o que diabos são aquelas coisas – ele perguntou, mais para o conforto de ouvir a própria voz do que para obter uma resposta. – As pústulas, quero dizer. Alguém? Dom Santiago encolheu os ombros. – Sacos de semente. – Isso faz eu me sentir muito melhor. – Bem, você que pediu. – Dom olhou por cima do ombro. – Ei, Cole Train? Isso te lembra de alguma coisa? – Sim – falou Cole. Todos eles, seis soldados Gears e um

cachorro, acotovelavam-se por uma posição na beira do convés, tentando obter uma imagem clara para quando o inevitável respingar dos pólipos começasse. – Aquelas ervas daninhas que a gente achava nos canteiros de obras antigas, as que faziam um estrondo quando você apertava. Cara, eu costumava rir pra caramba brincando com elas quando era pequeno. – Eu também – comentou Dom. – Não me diga que você nunca bateu nelas para ver quão longe as sementes iam chegar, Baird. Baird lembrou-se de sua solitária e triste infância novamente. Ele era um garoto rico de uma família tradicional. Não tinha aventuras em lugares proibidos. Ele tinha aulas extras. – Eu nunca brinquei em canteiros de obras – disse ele, fingindo desdém, mas desejando ter escalado pelo menos uma vez uma placa de “não se aproxime” em sua juventude. – Minha querida mamãe enviaria o mordomo para fazer essa merda para mim. Aquela cadela... Dom virou-se para Bernie Mataki. – E você, sargento? – Não tínhamos isso nas Ilhas do Sul. – Construções? – Não, esse tipo de planta. Marcus estava debruçado sobre sua arma, franzindo o cenho para os talos. – Bálsamo de Ephyra – disse ele. Marcus sabia a que planta Dom se referia. – Semente explosiva. Glandulifera ephyrica. Marcus Fenix nunca tinha colocado o pé em nenhum tipo de construção, Baird tinha certeza disso. Sua família, não, sua

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dinastia, era ainda mais rica do que a família de Baird. Os Baird tinham algumas belas pinturas e uma mansão fechada: os Fenix tinham uma propriedade murada e verdadeiros tesouros, obras de arte de valor incalculável, mais do que no maldito Museu Nacional de Ephyra. E, agora, ninguém tinha nada. Os zangões acreditavam na igualdade, pelo menos. – Ah, sim, eu tinha me esquecido – disse Baird. – Você e Dom, amigos de uma infância alegre, blá-blá-blá... – Minha mãe – Marcus rosnou – costumava me levar para passear ao redor de Hollow. Minha mãe, a bióloga. Dom deu um golpe discreto com no cotovelo em Baird. – Só cale a boca, Baird – ele disse com uma voz cansada, quase inaudível por causa do barulho da Rapina. Então, Marcus tinha perdido seus pais; grande coisa. Todos os outros também, e Baird não sabia como isso fazia muita diferença agora. De qualquer maneira, ele ficou quieto. Manteve o olhar sobre as pústulas enquanto a Rapina pairava no mesmo nível dos ramos, sentindo o ar turbulento secar seus olhos. Ele não se atreveu a olhar para longe, nem a colocar seus óculos de proteção. Mac, o cachorro, apertou a cabeça entre as pernas de Dom e Baird, como se estivesse de olho nos talos também. Cinco minutos... Seis... E ninguém ainda tinha dito uma palavra sequer. Em seguida, a pústula que Baird tinha focalizado de repente parou de latejar. – Opa, cuidado. Aqui vem. – O dedo de Baird apertou o gatilho da Lancer. – A qualquer momento...

– Fiquem firmes – disse Marcus. – Não desperdicem munição. Em seguida, as pústulas pararam de palpitar, todas elas, de uma só vez. As manchas vermelhas brilhantes se turvaram como brasas e viraram um tipo de cinza fosco. Era difícil definir a visão, mas Baird sentiu que estava presenciando algo se tornar duro como concreto, como se toda a vida estivesse sendo drenada daquilo. – Acho que o show acabou – disse Cole. – Inferno, quero meu dinheiro de volta. Paguei para ver caranguejos brilhosos. Gettner recuou a Rapina para longe dos talos, subindo dez metros para fazer um loop lento acima dos ramos. – Certo, vou descer – ela falou. – Eles parecem mortos. – Tem certeza? – perguntou Baird. – O especialista em brilhosos aqui é você, que serrou um talo morto. O que você acha? Baird deu de ombros. Ninguém sabia o suficiente sobre os Lambent ainda, nem mesmo ele. – Tenho problemas de confiança. Especialmente quando se trata de brilhosos. Então, para onde tinham ido os pólipos? Seu melhor palpite era que eles não emergiam dos talos, mas com eles, assim como apareceram os leviatãs. Isso, porém, não era nada reconfortante, de qualquer maneira. Tinha uma peça faltando no quebra-cabeça, e Baird não gostava de incerteza. Gettner pousou no campo aberto a uns bons cinquenta metros de distância dos talos. Quem sabe ela também tinha suas dúvidas.

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– Tudo bem. Vamos acabar logo com isso. Mac rosnou profundamente com sua garganta, mantendo os olhos fixos nos ramos retorcidos. Bernie se abaixou para falar com ele. O vira-lata era quase da altura dde seus quadris, um lébrel escocês comprido, sujo, com pelo cinza e olhar fúnebre de mais de 900 metros de alcance. Ele ainda estava salpicado com pequenas queimaduras de sua última batalha com os pólipos. – Nenhum brilhoso, querido – Bernie sussurrou-lhe. – Está tudo bem. Nada de pólipos asquerosos. – Ele tem algumas contas a acertar – disse Baird. – Temos todos... – Ela pulou, apertando a coleira de Mac na mão. – Bem, pelo menos nós temos a chance de examinar a situação, agora. Marcus conduziu a lenta caminhada pelo meio dos talos com uma cautela geralmente reservada para quando se desarmava uma bomba. – Estou contando com o cachorro – ele declarou. – Os animais podem sentir essa merda muito antes da gente. Baird se afastou de Mac. Ele poderia parecer amável e babão agora, mas Baird já o vira quase rasgar o couro cabeludo de um cara. Os nativos treinavam seus cães para ficar soltos e atacar incursões de Abandonados. Baird não tinha nenhum problema com isso, uma vez que considerava a maioria das gangues Abandonadas um bando de vermes que só iam a Vectes para pilhar e estuprar. Ele só não queria testar quão boas eram as habilidades de reconhecimento do imbecil do cachorro. Dom caminhou até o primeiro talo e bateu seus dedos contra o tronco duro como rocha.

– Eles parecem pedra. – É. – Se Baird não tivesse visto os talos irromperem do solo, ele estaria disposto a acreditar que estavam lá há séculos. Não havia nenhum sinal de que eles já foram vivos algum dia. – Ou madeira petrificada. Marcus olhou para baixo do tronco. – Como será que são as raízes? – Olha, esta é uma ilha vulcânica – disse Baird. – Deveríamos estar seguros aqui. Se este lugar é à prova de zangões, por que não é à prova de brilhosos? – É, bom ponto. – Para os ouvidos de Baird, essas palavras eram tão boas quanto uma medalha. Especialmente quando vinham de Marcus, que não era dado a grandes elogios. – Pelo menos podemos descobrir mais sobre essas coisas agora, considerando que elas não estão no meio de uma centena de metros de água. Marcus fez uma pausa e apertou o dedo no fone de ouvido, recebendo alguma mensagem. Ele fechou os olhos por alguns segundos, um sinal claro de que a notícia o tinha deixado irritado. – Sim, eu escutei, coronel – disse ele. – Não, nós encontramos o cão... Sim, Bernie está bem... E agora ele virou um maldito geólogo, por acaso? Ok, vamos proteger a área e esperar até que você apareça. Fenix desligando. Bernie olhou para Marcus com a mandíbula apertada, fazendo aquela coisa de telepatia entre sargentos. Baird olhava, fascinado. – Ah – ela disse de maneira preocupante. Marcus tirou sua bandana por um instante e coçou o couro cabeludo, mostrando muito mais cinza em seu cabelo preto do

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que Baird se lembrava. Era raro e estranho vê-lo com a cabeça descoberta. De alguma forma, a remoção daquele pedaço de pano preto desbotado o fez ter um semblante mais humano e vulnerável, nem um pouco parecido com o de um herói de guerra. – Hoffman está reclamando que você não disse a ele que estava fora do acampamento – disse Marcus, amarrando o pano de volta. – E o presidente está vindo para dar uma olhada na situação. Isso era tudo do que precisavam, uma visita real de Prescott. – Ele está entediado, é? – Baird brincou. – Porque, se ele estiver, deveria achar um lugar pra cavar uma latrina. – Só faça o que ele mandar, Baird. – Marcus poderia ter dito o mesmo sobre Hoffman. – Ele está enviando Dizzy para arrancar uma dessas coisas para análise. Como diabos ele acha que vai conseguir fazer isso? Bernie tirou a coleira do Mac para deixá-lo farejar. – Isso é com você, loirinho. Você é a coisa mais próxima que temos de um cientista hoje em dia – ela disse, batendo na armadura do peito de Baird. – Apenas não perca aquele disco maldito. É tudo o que importa para Hoffman. Baird nunca se esqueceu do disco de dados. Ele o levava sempre escondido dentro de sua armadura. Dormia com o negócio debaixo do colchão e o mantinha ao alcance da mão quando tomava banho. Hoffman estava contando com ele para decifrar a coisa, e sua honra técnica dependia disso. – Uau, vocês dois entraram numa conversa de travesseiro bem chatinha, vovó – disse Baird, puxando o disco para a vista.

– No entanto, é meio difícil olhar Prescott nos olhos. Acho que ele sabe que fico carregando o disco pra lá e pra cá. Mac latiu umas duas vezes. Bernie virou-se para ver onde ele estava. – E o que ele vai fazer sobre isso? Rolar no chão com você e lhe arrancar o treco de vez? – Ela partiu para ver por que o cachorro estava latindo. – Na verdade, eu pagaria uma boa grana para ver isso acontecer. Cole foi até Baird e deu uma cutucada experimental em um talo com sua bota. – Bizarrice, cara. – Sim, ultimamente o mundo é uma bizarrice total. Mac continuou latindo. Cole olhou por Baird à distância e franziu a testa. – Eu não sou um especialista em cães – comentou –, mas o Mac faz o tipo silencioso e mortal. Ele não costuma latir. Marcus e Dom viraram ao mesmo tempo. Bernie encontrouse com Mac enquanto o cão enterrava o nariz na grama, como se estivesse captado um odor ali. Bernie retirou o rifle de suas costas e fez um gesto para Marcus se aproximar. – Eu não acho que ele encontrou um osso – disse Baird. Um rebanho de vacas estava assistindo a tudo no campo próximo, com suas cabeças aparecendo acima do mato baixo. Então, todas galoparam de repente para longe, como se algo as tivesse assustado. Mac começou a rosnar, com os olhos fixos em um ponto no chão. Baird se preparou para o pior. Mac revirou a grama, ainda rosnando, e, em seguida, começou a cavar freneticamente, até Bernie puxá-lo para trás pela coleira.

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– Acho que a gente deveria voltar para a Rapina – disse Marcus. Mas Baird não conseguia sentir nenhuma vibração sob suas botas. De volta à velha Jacinto, esse era o primeiro aviso de que um buraco de zangões ia surgir. Ele estava prestes a assinalar isso para Marcus quando, de repente, Mac se soltou do aperto de Bernie. O pasto em volta deles se elevou e rachou como em um terremoto, e Baird percebeu que eles estavam mais longe da Rapina estacionada do que imaginava. Um enorme tronco cinza-carvão explodiu a dez metros de distância, salpicado com luminescência vermelha. Baird sentiu um pouco de solo úmido arremessado para fora pela força da emersão. Ele abaixou a cabeça, por puro reflexo, e foi então que viu a enxurrada de pernas surgindo ao longo da borda de uma cratera, como aranhas rastejando para fora de um ralo. – Os pólipos! – Dom gritou. Sim, os pequenos cuzões finalmente decidiram aparecer. Pelo menos Baird tinha sua resposta. Eles vieram com os talos. Não como resultado deles. Buraco de emersão de pólipo, norte de Vectes. Era difícil dizer qual o tipo de Lambent ou Locust era o pior, mas Dom tinha sua tabela classificativa maluca de aberrações, e os pólipos recentemente tinham tomado o primeiro lugar dos tickers Locust. Eram como minas terrestres que podiam caminhar, correr e caçar. Eram peixes pequenos em comparação com um Berserker, mas eles enxameavam. Andavam a passos rápidos,

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e isso atingia um nervo primal dentro dele. Todas aquelas pernas velozes em movimento e o oceano de bocas com presas eram uma maré imbatível de destruição, que eclodia do solo para devorá-lo. Era difícil manter-se firme e lutar contra o impulso de correr. Entretanto, se fugisse, eles o subjugariam, e ele estaria morto. Algumas vezes, Dom não tinha certeza se isso importava, ainda mais agora que Maria e as crianças tiinham morrido, mas hoje ele acreditava que ficar vivo valia realmente a pena. As criaturas surgiram a partir do poço escancarado ao redor do talo, correndo em todas as direções, como leite fervendo em uma panela. Tudo o que Dom podia captar era a massa de pernas cinza-escuro. O primeiro pólipo que ele acertou detonou-se em uma rajada de tripas gordurosas e matou alguns de seus amigos Lambent na explosão, mas os outros continuaram a avançar, como se nada tivesse acontecido. Talvez estivessem inebriados com adrenalina e guiados pelo instinto, assim como ele. A única coisa que Dom podia fazer era focar a onda de noventa graus que vinha em sua direção, de modo que ele esvaziou o pente de sua arma, indo da esquerda para a direita e vice-versa. Em seus ouvidos, retumbava o zumbido de explosões e de tiros. Então, o barulho ensurdecedor de uma Rapina abafou tudo. Sua corrente de ar jogou folhas e areia no rosto de Dom. Gettner gritou pelo rádio, mesmo que ela não precisasse: – Saiam daí! Delta! Deem o fora e deixem Barber regar os bichos! – Não dá – Marcus ofegou. – Tente não atingir a gente. – Merda, Marcus, há talvez uma centena de... – A voz de

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Gettner foi silenciada pelo barulho dos tiros da arma da Rapina sobre a cabeça de Dom. Esguichos dos pólipos e lama choveram sobre ele, salpicando seu rosto com fragmentos afiados. – Eles estão se separando. Estão rompendo a linha. – Sigam-nos – Marcus rebateu. – Vamos! Atrás deles! Gettner ignorou. – Você é sargento. Eu sou major. Vou ficar. Dom recarregou sem olhar. Se ele tirasse os olhos da linha de frente dos pólipos, eles em pouco tempo estariam em cima dele, que perderia as pernas, ou algo pior. Ele só tinha de continuar com o fuzilamento. Sabia que Baird e Cole estavam por perto, mas qualquer coisa além disso era um borrão, pois mantinha apenas as pernas irregulares e as presas dos pólipos em foco. Então, ele apontou e disparou e continuou atirando até esvaziar novamente o pente. Dom conseguia ouvir a própria respiração irregular. Parecia que a onda nunca acabaria. Toda vez que atingia um pólipo, mais dois apareciam. – Quantos? – ele gritou para Baird. – Quantos ela disse? – Estimo um número lá pela porra de umas toneladas – Baird trocou um pente de munição. – Não que esse seja o termo técnico. – De somente um talo? – Não se preocupe com a matemática agora, Dom. – Cole tirou uma granada do coldre e recuou o braço, pronto para lançála. – Só lance as granadas nesses putos. Dom acompanhou a trajetória da granada até ela atingir os pólipos e afundar no mar de pernas que se debatiam. Não houve nenhum som, apenas uma luz branca ofuscante que o envolveu, deixando em seguida uma espécie de mancha neon no céu.

Demorou alguns segundos para ele perceber que estava deitado de costas sob uma chuva de lama, sem fôlego e tossindo, ainda disparando sua Lancer para o ar. Tenho de me levantar. Pólipos. Tenho de me levantar. Se eu cair, estou morto. Ah, merda... Dom ficou de joelhos e cuspiu terra. Por um momento não havia nada, nenhum ruído, nenhum movimento, nenhuma dor, apenas a consciência de que ele estava coberto de lama e não era capaz de se levantar. Já acabou? É isso? Então, alguém agarrou a parte de trás de seu colarinho e puxou-o para cima. – Bem, talvez a granada não seja a melhor das ideias – disse Cole em seu ouvido. Ele soava como se estivesse debaixo d’água. – Sinto muito. Você está bem? Porque aqueles caranguejos babacas não estão. Baird apareceu do nada e olhou para o rosto de Dom, franzindo a testa. – Sim, Cole tem arremessado como uma menina, ultimamente. Quantos gênios você consegue ver? – Nenhum – disse Dom. Não era a primeira explosão que ocorria quando ele estava perto demais. E por saber que não seria a última, uma espécie de raiva trêmula tomou posse dele. – Só vejo um idiota. – Isso é fantástico. Dois significaria uma concussão. O que seria ruim. Dom conseguiu olhar para cima e inferir na situação. Não podia ver pólipo nenhum agora e, a julgar pela maneira como Marcus estava à procura de um lado para o outro na grama, ele também os tinha perdido de vista.

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