L1 uncoimbra nomination

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A investigação, conduzida em França e concluída em Dezembro de 1549, mais não fazia, todavia, que confirmar, nos mais graves termos, as atoardas que, em Coimbra, circulavam em redor da idoneidade teológica e moral dos “bordaleses”. Situação que conduziria, finalmente, à detenção de João da Costa, Diogo de Teive e Jorge Buchanan e, com a prisão dos lentes do colégio, corria-se claramente o risco de vibrar um golpe fatal sobre o projecto pedagógico que D. João III por tanto tempo acalentara. Nesse contexto, o monarca entenderia ser chegada a hora de deslocar-se, uma vez mais, a Coimbra, o que faz em Novembro de 1550, vinte e três anos volvidos sobre a histórica visita de 1527. Em conformidade, nomearia novo director para o Colégio Real, na pessoa de Paio Rodrigues Vilarinho, cuja escolha representaria uma hábil solução de compromisso entre a corrente dos “ortodoxos” e a dos “bordaleses”. A ele caberia conduzir os destinos do colégio no lustro que haveria de seguirse: sem, todavia, conseguir deter a sua derrapagem ou superar o complexo de dificuldades em que haveria de debater-se até que, em 10 de Setembro de 1555, o Rei ordena a Diogo de Teive, que servia então de principal, a entrega do instituto ao padre Diogo Mirão, provincial da Companhia de Jesus em Portugal, uma “moderna” instituição eclesiástica, que em Coimbra inaugurara já o Colégio de Jesus em 1542 e que haveria de conduzir os seus destinos nos duzentos anos que iriam seguir-se. Apesar de tudo, lograra o monarca cumprir o essencial dos objectivos definidos mais de duas décadas atrás, promovendo a autonomização do ensino preparatório e renovando, em moldes humanistas, a escolaridade universitária. Por obra da sua tenacidade e do ambiente geral de acrisolamento espiritual que prepararia a “reforma católica”, fora possível debelar a grave crise das consciências e da vivência religiosa que herdara e a Igreja portuguesa povoara-se, de facto, pouco a pouco, como fruto do novo sistema de ensino, de “varões sábios e homens piedosos” — mesmo que as contingências dessa outra reforma viessem a breve trecho colidir com a sua e com o projecto que lhe subjazia de criação de “cavalheiros cristãos”. Entretanto, a Universidade havia-se convertido de “corporação privilegiada “numa instituição verdadeiramente régia, fazendo de Coimbra o “cérebro do País”: a “Lusa Atenas”, como ficaria conhecida. Mas tal não equivalia apenas a implantar nela a “capital do ensino” de todo o Império Português: representava, sobretudo, dotar o Império de uma “capital do ensino”. E Coimbra tornava-se, entretanto, a mais “visível” beneficiária desse esforço. Na verdade, com a “mudança” da Universidade, alterara-se a face da cidade, rasgavam-se ruas, erguiam-se colégios.

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an end to the educational project so long nurtured by the King. In this context, the monarch understood that the hour had come to come to Coimbra once more, which he did in November 1550, twenty-three years after the historic visit of 1527. He accordingly appointed a new director for the Royal College, namely Paio Rodrigues Vilarinho, who represented an astute compromise between the orthodox and Bordeaux currents. He would be responsible for leading the college to the glory that would follow. However, he was unable to halt the slide or overcome the complex difficulties that were shaking the establishment. So, on 10 September 1555, the King ordered Diogo de Teive, who was then acting as principal, to hand over the institute to the Jesuit priest Diogo Mirão. The Society of Jesus was at that time a modern ecclesiastical institution in Portugal, but it had already (in 1542) inaugurated the College of Jesus in Coimbra, and would control it for the next two hundred years. Despite everything, the monarch managed to fulfil most of the aims defined over two decades before, establishing an autonomous system of preparatory education and renewing the university system in accordance with the precepts of humanism. With his tenacity and the general atmosphere of spiritual purification that characterised the years leading up to the Catholic Reformation, it had been possible to overcome the serious crisis of conscience and religious experience that he had inherited. Gradually, the Portuguese Church had, indeed, been permeated by “wise and devout men”, the offspring of the new education system. However, the Catholic Reformation would soon come into conflict with the King’s reform and its underlying project of fashioning Christian gentlemen. Nevertheless, the University had been converted from a “privileged corporation” into a truly royal institution, and Coimbra (or the “Athens of Portugal”, as it was known) had indeed become the brain of the country. But it was not just a question of making it the education capital of Portugal; above all it meant endowing the Empire with an educational capital. The city of Coimbra had, meanwhile, become the most “visible” beneficiary of this effort. In fact, with the University’s move to Coimbra, the city’s appearance was completely altered; streets were razed and colleges built.


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