Jornal do Friburgo - 1

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1 Jornal do Janeiro Fevereiro 2008

Os alunos Amanda, Gabriela, Arthur e Ana Carolina posam para a câmera de Fernanda Så com um dos modelos do novo uniforme do Friburgo.


A nova cara do Friburgo C omunicação e educação são palavras inseparáveis. Assim como a preocupação com a Natureza e o meio ambiente e o Friburgo. Pensando nisso, a escola está realizando uma completa reformulação em sua identidade visual e investindo em novos meios de comunicação. O desafio é montar um canal direto e eficiente de diálogo entre instituição, alunos, pais e sociedade. A nova fase teve início em julho de 2007, com a reestruturação do Departamento de Comunicação e Marketing e lançamento da campanha Qual é sua natureza?. Para realizar a empreitada, o colégio contratou o jornalista Francisco Ucha, que tem trabalhado intensamente ao lado da Direção e dos professores no projeto. “Queremos mostrar a filosofia adotada no diaa-dia do Friburgo, que trabalha com a diversidade, sem esquecer a individualidade”, explica ele. O primeiro passo foi a modernização do logotipo, que ganhou contornos atu-

Em apenas seis meses, o Departamento de Comunicação e Marketing mudou a imagem da escola, colocando a criatividade a serviço da educação

ais e dinamismo. Em seguida, o investimento foi na criação dos novos sites do Friburgo e da Casinha Pequenina, atualizados periodicamente e com notícias, fotos e informações sobre atividades estudantis, eventos, projeto pedagógico, cursos e tudo que acontece nas escolas. Além disso, novas peças publicitárias, folders, painéis e convites para os diversos eventos realizados durante o ano foram criados. O resultado já pode ser visto nos elogios de pais, alunos e professores. “A imagem da escola está mais leve e funcional com os novos materiais e

o logotipo reformulado. Mas a principal melhora foi o canal de comunicação que ganhamos com a Internet”, opina Jacqueline Sacon, mãe do aluno Pedro. Laura Abreu, mãe das estudantes Thaís e Júlia, começou a perceber as mudanças pelos convites dos eventos. “Antes vinha uma folha de papel muito simples, algo caseiro. Agora, cada convite é único e feito de forma bastante profissional”, analisa. Ela conta que o principal benefício foi na comunicação entre a instituição e os pais. “Eu sempre me empolguei com a área pedagógica da escola, mas reclamava muito dos problemas de comunicação. Os comunicados não chegavam ou chegavam atrasados. Os últimos mostraram que o problema foi completamente resolvido”, afirma. Apesar da importância do que já foi feito, a verdade é que muitas novidades estão sendo preparadas para 2008. “Pretendemos aprimorar ainda mais a comunicação interna e

Um dos banneres usados no lançamento do novo logotipo do Friburgo

externa, criando maior interatividade com a comunidade. Já contamos com o novo blog do Friburgo, que está no ar desde o final de outubro e possibilita uma comunicação mais ágil e informal. Também estamos abrindo um espaço no site You Tube. Nossa proposta é fazer com que os alunos produzam vídeos e organizem eventos que espelhem aquilo que aprendem na sala de aula”, confirma Ucha. Apenas uma prévia do que virá, claro. Mas o suficiente para perceber que no Friburgo não é apenas a educação que é levada a sério.

É hora de vestir a camisa. Aliás, o uniforme completo variações de tonalidade, que vão do cinza chumbo ao verde militar, com combinações e toques de laranja. “Para levantar o astral”, explica Rita. Mas não é apenas entre os alunos que surge o interesse. A beleza e a praticidade dos novos uniformes têm despertado o interesse até de pais e professores. A aposta é de que a moda vai pegar.

FOTOS FERNANDA SÁ

O Friburgo lançou no mês de novembro sua tão aguardada linha de uniformes escolares. Mas quem sente arrepios ao falar no assunto, por causa da lembrança que trazem os antigos camisões, folgados e pouco confortáveis, pode ficar descansado. As 18 novas peças têm tudo para cair no gosto dos alunos, por conta do visual jovem e moderno dos modelos. Desenhados pela estilista Rita Locatelli, que trabalha com moda há 25 anos e é especialista em confecção leve, os uniformes foram concebidos para serem usados nas mais diversas combinações, até fora do ambiente escolar. “Procurei fugir do tradicional e falar a linguagem dos jovens, de forma que eles possam usar uma roupa de seu tempo, porém fiquem bem vestidos e se sintam confortáveis”, diz ela. A inspiração para as peças foi variada, indo do chamado estilo college americano aos uniformes de re-

Os novos uniformes do Friburgo têm modelos diferentes e podem ser combinados de diversas formas.

nomadas grifes esportivas. Em quatro tecidos diferentes – tactel, moleton, cotton lycra/suplex e meia malha – os alunos poderão encontrar roupas esportivas e para viagem,

bermudas do tipo street wear, leggings, camisetas, blusões com capuz e outros, tanto para meninos quanto para meninas. As cores são variadas e baseadas nas da escola, com leves

EXPEDIENTE - JORNAL DO F RIBURGO é uma publicação editada pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Colégio Friburgo. Av. João Dias, 242. São Paulo/SP. Cep 04724-000. R EDAÇÃO Marcos Stefano COLABORAÇÃO Fernanda Sá ( Fotografia ), Maristela Martins ( Fotografia ), Iracy Rossi ( Revisão ).

EDIÇÃO Francisco Ucha (11)2148-0150. 2Telefone • JORNAL DO FRIBURGO


MARCOS STEFANO

•••entrevista C IRO R ODRIGUES F IGUEIREDO

Um apaixonado pela educação Muito mais do que um empreendimento ou uma necessidade, para ele, educação é uma vocação. O homem que dirige o Colégio Friburgo é um inovador, mas mantém os pés no chão quando fala em responsabilidade. E se 2007 trouxe muitas novidades à escola, 2008 trará mais ainda.

E

le se define como um poeta. Um amante das artes e da palavra. Simples assim, mas carregado de significados. Bem como sua personalidade, que é a principal responsável pela cor e pela forma dadas ao projeto pedagógico implantado no Colégio Friburgo. Aos 63 anos, o professor Ciro Rodrigues Figueiredo comanda uma escola que se tornou referência na educação infantil, fundamental e média na cidade de São Paulo. Mais do que receber um conteúdo que lhe permita apenas passar no vestibular, lá o aluno é estimulado a ter pensamento criativo, crítico e participativo. E a levá-lo para a sociedade. É a educação vista com excelência, como uma vocação. O gosto de Ciro pelos bancos escolares vem da década de 1950, quando iniciou seus estudos no interior paulista. “Naquele tempo, o ensino era dividido em Científico, Clássico e Normal, o que deixava o ambiente efervescente de novas idéias”, lembra ele, que desde a época já era engajado em projetos sociais do Grêmio Estudantil. Ainda assim, nem passava por sua cabeça um dia dirigir uma escola com a visão do Friburgo. “Minha vida é um acidente”, costuma brincar. Formado em Teologia e depois em Filosofia, construiu uma sólida carreira acadêmica especializando-se em

psicodrama voltado à educação. Na universidade, se tornou militante político e defendeu a democracia, uma luta que continuou quando assumiu a direção da Escola Estadual Vera Ataíde Pereira, na Lapa, um tradicional reduto do pensamento progressista na época da Ditadura. Foi também nos tempos de universidade que nasceu sua identificação com a arte de ensinar e começou a se delinear o sonho de trabalhar na construção de uma educação diferenciada. Algo que se tornaria realidade em 1978. Naquele tempo, ele fazia parte do grupo de educadores que administrava a Escola Planalto, cuja filosofia de ensino era muito parecida com a do Friburgo. Com a fusão das duas, deu início a um projeto que continua sendo aperfeiçoado até hoje. E mesmo não dando mais aulas atualmente, Ciro continua mergulhado no ambiente do colégio. Seu dia-a-dia é voltado para a administração da instituição, com a responsabilidade de ter uma visão ampla que passe por todos os setores, da concepção curricular aos aspectos funcionais e ao bem-estar das pessoas. Em meio à movimentada agenda ,ele tirou um tempo para falar um pouco sobre o ensino do Friburgo, avaliar como foi o ano de 2007 e aproveitou para deixar um recado: “Em 2008, teremos ainda mais investimentos e novas surpresas para todos”. JORNAL DO FRIBURGO • 3


Desde o início do Friburgo, o projeto educativo sempre teve a característica da inovação e da ousadia curricular. Não entendemos que o aluno deva estar voltado apenas ao tecnicismo e às áreas áridas da educação. Por isso, a escola se abre às questões das artes, do pensamento e à formação de outros valores, abrindo possibilidades de escolha e estimulando o aluno a descobrir sua vocação. Óbvio que ela não foge da sua natureza acadêmica, mas isso não quer dizer que deva ser voltada apenas a uma área das ciências, mas a todas as áreas da formação do ser humano. O estudante deve aprender a pensar, a criticar, a discutir e a participar; ter responsabilidade frente ao mundo em que vive e não somente ter como meta ingressar em uma universidade. É a educação vista como vocação? Como surgiu essa proposta?

O colégio foi fundado e estruturado no final dos anos 1950, começo da década de 1960, em um momento importante da educação brasileira com o surgimento das escolas vocacionais, iniciativa liderada pela educadora Maria Nilde Mascelani. Acho que nunca houve algo tão bom na educação brasileira quanto a educação vocacional e o fato de Mascelani trazer os mesmos princípios para o Friburgo foi algo decisivo. Por meio de disciplinas diferenciadas, elaboração de projetos acadêmicos interdisciplinares e interação com a sociedade, procuramos despertar nos alunos a atitude crítica e construtiva. O que o estudante vai ser quando sair daqui? Ator ou administrador de empresas? Médico ou advogado? Ele é quem vai decidir e compete a nós dar a ele verdadeira liberdade de escolha. Com que cabeça o aluno sai da escola? Que tipo de pessoa vocês procuram formar?

Depois que saem daqui, eles costumam falar do diferencial que o Friburgo fez na vida deles, porque despertou neles vocações diferenciadas, postura crítica diante do mundo e da vida, iniciativa e trato com a diversidade. A gente percebe que têm uma capacidade empreendedora, lidam com as diferenças com muito mais facilidade, coisa importante do mundo 4 • JORNAL DO FRIBURGO

FERNANDA SÁ

Muito se fala do diferencial e da proposta inovadora da Casinha Pequenina e do Friburgo na educação. Em que exatamente consiste esse projeto?

dação, no desrespeito à água, ao consumo, diante do impacto do aquecimento global, tanta violência. Diante de tudo isso, é preciso formar para construir um planeta que vem sendo destruído pela irresponsabilidade dos próprios homens. Há quem tenha medo de que tanta atenção a um projeto educacional diferenciado como esse torne fraco o currículo básico e prejudique o aluno no vestibular...

Não há qualquer motivo para esse temor. Ter disciplinas a mais não significa que o ensino das outras matérias seja frágil, pelo “O estudante deve aprender a pensar, contrário. A escola a criticar, a discutir e a participar; ter aprendeu cedo a ter disciplinas diferenciaresponsabilidade frente ao mundo das em seu currículo em que vive e não somente ter como em relação às disciplimeta ingressar em uma universidade” nas clássicas e tradicionais da Base Naciohoje. Na instituição, o coletivo é tão nal Comum. A BNC é essencial à forforte quanto o indivíduo, as ações po- mação acadêmica do aluno, pois isso sitivas são estimuladas, mas as ques- é currículo mundial, mas a escola não tões negativas são colocadas diante do pode se furtar a acrescentar ao aluno aluno também. Desde cedo, o aluno outro viés do conhecimento. Se ele deixa o seu gueto, fazendo a interlo- está estudando matemática, ele pode cução com o mundo das artes, da co- navegar também pela economia, pela municação, da ciência, do meio-am- estatística e outras. Se está na área da biente. Isto é escola: a capacidade do linguagem, pode enveredar pela cocorpo docente a ensinar os alunos a municação jornalística, pela publicise inter-relacionarem no mundo. O dade, pelo marketing, pela análise críacademicismo voltado ao cumprimen- tica da mídia. A formação é mais comto de tarefas, estimulação à competi- pleta e essas disciplinas ajudam nas tividade no mercado de trabalho ou mais tradicionais, que são tratadas na briga por vagas na universidade com muita seriedade e com a devida tem lugar, mas isso não é a missão prioridade. Mas é comum encontrarmaior de uma escola. A identidade do mos com ex-alunos nas melhores faaluno precisa ser colocada no campo culdades do país que dizem estar nessocial, não para ser consumista, mas ses lugares e ser quem são por conta da oportunidade que tiveram de solidário. aprender coisas que as outras escolas Por que a ênfase tão forte na preserva- não ensinam. ção ambiental e na Natureza?

Não há sentido na existência humana se a pessoa não tiver como âncora da sua prática formativa acadêmica, profissional, coletiva e política, a preservação do ambiente em que vive e a melhoria da sociedade e do mundo. O planeta está ameaçado pela degra-

Como foi o ano de 2007 para o Friburgo?

Em 2007, a escola adotou o lema “educar para a responsabilidade”. Não simplesmente ter responsabilidade, mas ser responsável, o que é muito diferente. Não é meramente cumprir expectativas de alguém ou ter uma

obrigação pontual, mas ser responsável como parte integrante do caráter, pela alegria de agir corretamente. E vejo que não se tornou um slogan vazio, mas tem sido vivido no dia-a-dia. A cada ano, o colégio tem um ganho no que diz respeito à organização e produção dos trabalhos dos alunos e, em 2007, tivemos trabalhos maravilhosos. Basta ver como foram os eventos que realizamos ultimamente como a Liverdade e a Mostra Cultural. As disciplinas diferenciadas, que muita gente acaba vendo apenas na universidade, como leitura crítica da mídia e metodologia de projetos, produziram ótimos resultados. O período integral está cada vez mais completo e com mais participação dos alunos. Foi um ótimo ano e parece que os alunos conseguiram absorver a filosofia passada pela escola. O senhor vem dizendo que 2008 reserva coisas ainda melhores...

De fato, essa é a nossa expectativa. Contamos com uma área muito boa: são 16 mil metros quadrados da antiga chácara na Granja Julieta, outros 6 mil da Casinha Pequenina e mais 400 mil da Estação Natureza do Ensino, na Serra do Japi. Temos vários projetos para melhorar as instalações e ampliá-las, oferecendo toda a infra-estrutura que os alunos precisam para a melhor educação. Outra parte que terá atenção especial é a área de tecnologia e comunicação. Queremos buscar novos horizontes por meio de parcerias e com o apoio e troca de experiências com profissionais conceitudados. Tudo com responsabilidade, sem ser traumático. Novas disciplinas, eventos e atividades devem ser criadas visando fortalecer o coletivo. Os canais de comunicação com a sociedade serão melhorados, pois aquilo que o aluno produz precisa ser socializado para a família e para a comunidade. Tudo isso faz parte da caminhada para se comemorar o cinqüentenário do Friburgo com ainda mais qualidade?

Não tenho dúvidas disso e ainda digo que caminhamos a passos firmes para atender a demanda que as famílias têm na formação acadêmica de seus filhos para que entrem nas melhores e mais conceituadas universidades. Mas não abriremos mão dos princípios formadores da cidadania e dos valores humanos para que o mundo possa ser lugar melhor para viver.


•••responsabilidade social FERNANDA SÁ

“O

A evolução do planeta Terra, trabalho exposto na Liverdade 2007 pelos alunos da Educação de Adultos, foi um dos destaques desse evento

Bem-vindo ao mundo real Projetos como a Educação de Adultos, o Escrever Cartas e o Mudando a História fazem sucesso e mostram que no Friburgo as questões sociais são levadas a sério Graças ao projeto, o Friburgo foi aprovado em 1999 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) a integrar seu Programa de Escolas Associadas, uma rede internacional de instituições de ensino que trabalham pela paz e combatem as diferenças sociais, buscam ampliar a consciência crítica de seus alunos em relação aos grandes problemas da humanidade e criam uma visão ecológica para a conservação do meio ambiente.

na leitura individual. Avanços e dificuldades são informadas em relatórios”, explica a professora Iracy. Neste ano, o Mudando a História teve a participação de oito alunos que trabalharam com a Ong Gotas de Flor com Amor, entidade que lida com crianças de cortiços e favelas na Zona Sul de São Paulo. A estudante Marília Silveira, 16, do 2º ano do Ensino Médio, trabalha tanto como mediadora quanto como multiplicadora, treinando outros alunos para fazer a mediação. Uma vez por semana, ela vai à Gotas de Flor com Amor para atender às crianças. “Muitas são desconfiadas e inseguras. Só conseguimos mudar isso conquistando a confiança delas”, diz a aluna do Friburgo. Marília não se esquece de uma vez que um dos meninos criou birra dela, por achar que tinha pegado algo dele escondido. “Tive que ter muita paciência e carinho para mostrar a ele que não faria isso e que só queria o bem dele”. Sua colega de turma, Carolina Siqueira, 16, também já enfrentou di-

FRANCISCO UCHA

mundo não é; ele ainda está sendo.” Uma das frases preferidas do educador brasileiro Paulo Freire (1921 – 1997) é também uma máxima levada muito a sério nas salas de aula e nos projetos desenvolvidos no Friburgo. Por meio da educação, o colégio não apenas apresenta o mundo real e sem disfarces a seus alunos, mas também mostra a responsabilidade que eles têm na sua transformação. Uma transformação que começa a cada dia dentro dos portões da própria escola com seus projetos sociais. Alguns deles, como a Educação de Adultos, o Escrever Cartas e o Mudando a História já mudaram a realidade de muita gente nos últimos anos. Em 2007, a Educação de Adultos completou dez anos de existência e cerca de mil alunos já foram atendidos. A idéia de iniciar o projeto surgiu em 1996, depois que a professora Iracy Garcia Rossi, Diretora de Assuntos Comunitários, participou de uma reunião com os promotores do Telecurso 2000. “Na ocasião”, conta ela, “fomos convidados a apadrinhar uma sala de aula do programa. Quando voltamos para o Friburgo, nos reunimos e pensamos: ‘Em vez de patrocinar, porque não montamos um projeto aqui?’. Sabíamos que o desafio seria grande, mas decidimos aceitá-lo”. Como não dispunham de recursos para pagar novos professores, buscaram voluntários entre ex-alunos, pais e professores. Alunos do Ensino Médio poderiam assumir a função de monitores. No final daquele ano e começo do seguinte, investiram no treinamento desse corpo docente. Logo, começaram as aulas com uma classe de telecurso e outra de alfabetização de adultos. Hoje, 78 alunos participam de três níveis de alfabetização ou continuam fazendo o telecurso. Todas as aulas são dadas no próprio Friburgo, no período da noite. A escola ajuda com livros e materiais didáticos e outras despesas são custeadas por eventos como a já tradicional Festa Junina do Friburgo, que tem uma parte de sua arrecadação destinada aos projetos sociais.

com adolescentes e crianças em situação de risco. “São crianças carentes que estão sendo alfabetizadas. Por algum motivo, não gostam ou têm dificuldade para ler e estudar. Então, fora dos horários de aula, nossos alunos levam bons livros para elas, fazem uma leitura geral, brincam e ajudam

Carolina fez de tudo para ganhar a confiança de uma das crianças; levou até um bolo.

C ARTAS E LEITURA PARA MUDAR VIDAS

O sucesso da Educação de Adultos levou ao surgimento de um novo projeto, o Mudando a História, em 2001. Realizado em parceria com a Fundação Abrinq, capacita alunos a partir do 8º ano do Ensino Fundamental para fazer a mediação de leitura em instituições que trabalham JORNAL DO FRIBURGO • 5


FRANCISCO UCHA

•••história

ficuldades. “Toda vez que ia lá, encontrava um menininho que só vivia chorando. Ele não queria nem saber de papo. Num Dia das Crianças, levei um bolo especialmente para ele e fiz amizade. Desde então, nos tornamos os melhores amigos e ele tem aprendido muito”. Anastásia Murphy, 16, acha que situações como essas fazem com que elas se identifiquem com o trabalho. “Quando terminar a escola quero continuar mediando”, diz, fazendo coro com as outras meninas. Para a diretora do Friburgo, a dedicação dos voluntários e os resultados colhidos mostram que estão no rumo certo: “Uma professora de lá me ligou para agradecer. Disse que o trabalho do pessoal de nossa escola este ano está sendo decisivo para o processo de alfabetização das crianças. Nesses momentos, você percebe o quanto esses projetos são importantes”. Iracy traz no rosto o mesmo sorriso quando fala de outro projeto social do Friburgo, o Escrever Carta. Todo ano é escolhida uma série para fazer um intercâmbio com alunos da mesma série de uma escola com realidade diferente. “Em 2007 parti-

Iracy: projetos sociais do Friburgo fazem a diferença para muitos.

Perto de completar seus 50 anos, o Friburgo tem muito o que comemorar ciparam os alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Durante todo o ano, eles trocaram cartas com os estudantes do Sesi 402, da Vila das Mercês. Dia 13 de novembro, passaram a manhã lá para conhecer os novos amigos”, diz a professora. Segundo ela, além da troca de experiências, os alunos aprendem a fazer e manter novos tipos de relacionamentos. O Escrever Carta também faz a troca de correspondências de alunos do Friburgo com idosos de casas de repouso. O trabalho é feito com a ajuda de voluntários do Poupatempo, que lêem as cartas para os velhinhos e os ajudam a escrever as respostas. Próximo ao Natal, os alunos fazem uma visita a seus correspondentes, levando presentes e um caloroso abraço. Mais que palavras, as cartas levam esperança e a certeza que a vale a pena continuar vivendo.

O projeto Mudando a História é desenvolvido através de uma parceria com a Fundação Abrinq

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Contagem regressiva D

oze de dezembro de 1969. Essa data ficará marcada para sempre na história da educação brasileira. No auge do Regime Militar, a repressão contra as idéias libertárias e o pensamento questionador ganhou seus contornos mais dramáticos, com tons aberrantes de abusos e violência. Um ano após o AI-5, pensar por conta própria tinha virado sinônimo de subversão. E foi com esse argumento que, naquele final de ano letivo, policiais militares invadiram os Ginásios Vocacionais em todo o Estado de São Paulo. Funcionários foram detidos em seus gabinetes e professores tirados à força de dentro das salas de aula. As escolas foram fechadas compulsoriamente pela prática de crimes contra a nação. Poucos dias depois, com base no mesmo AI-5, a educadora Maria Nilde Mascellani, principal idealizadora daquele projeto educacional, foi aposentada. Para muitos, era o fim do ensino vocacional, a mais promissora e brilhante experiência já feita no sistema educacional brasileiro. Mas não. Passadas quase quatro décadas daqueles nebulosos dias, a semente do ensino crítico, voltado à formação integral e que possa interferir na sociedade e no mundo que rodeia escola e estudante continua mais viva que nunca em escolas como o Colégio Friburgo, herdeiro direto da educação inovadora. “Desde seu nascimento, no final dos anos 50, o Friburgo já tinha essa vocação revolucionária.

Era o auge de movimentos inovadores na educação na Europa e na América do Norte. No Brasil, também despontavam muitas iniciativas fantásticas. Assim, o colégio já surge para ser experimental”, conta o professor Ciro Figueiredo, o atual Diretor-Geral da instituição. O local escolhido por seus fundadores, o casal Affonso Maurício e Jacy Vívolo, é o Campo Belo, bairro famoso por suas chácaras e pela forte presença de imigrantes alemães. Com isso, o nome Friburgo é escolhido como uma lembrança das pequenas cidades com autonomia administrativa e decisões coletivas da Alemanha, os Freiburgen. Projetada para ser uma escola com classes pequenas, uma por série e com atendimento personalizado, inicialmente o Friburgo mantinha o ensino Pré-escolar (hoje, Educação Infantil). Somente aos poucos se expande para o ensino Primário e Secundário (Fundamental e Médio). Chamada para dar os contornos do projeto educacional da escola, Maria Nilde Mascellani aceita o desafio. Com sua ajuda, é desenvolvida toda a proposta pedagógica do colégio. A professora Iracy Garcia Rossi conheceu Maria Nilde no final dos anos 60. A atual Diretora de Assuntos Comunitários terminara de se formar em letras na faculdade e foi convidada para trabalhar em um dos Ginásios Vocacionais em Rio Claro, interior paulista. Segundo Iracy, como coordenadora de todo o projeto, Maria Nilde viajava por todas as unidades, dirigindo e supervisionando o ensino. “Ela também prestava consultoria a escolas particulares. Mas no caso do Friburgo, fez ainda mais do que isso. A filosofia educacional é per-


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meada por suas propostas”, afirma. Desde então, a escola passou por diversas fases. Como a família tinha lugar de destaque, teve a adesão dos pais em sua administração, tornando-se uma sociedade anônima. Em 1978, o Friburgo foi assumido por um grupo de educadores da Escola Planalto, do qual fazia parte a própria Iracy, assim como Ciro, Neuza Girardi e outros professores. A fusão das duas escolas, que tinham projetos educacionais bastante semelhantes, trouxe o Friburgo para o endereço atual, na Avenida João Dias, 242, na Granja Julieta. Com o passar do tempo, o espaço físico da escola e sua estrutura foram sendo aperfeiçoados. “Mas aquele espírito de que o maior lucro deve ser o da cidadania e da responsabilidade ensinadas continuou”, salienta o professor Ciro Figueiredo. Q UASE MEIO SÉCULO

Agora, prestes a completar 50 anos – o que acontecerá no próximo ano –, o Friburgo tem muito a comemorar. Aliando a proposta inovadora de seu começo ao cuidado

com a preparação do aluno para o vestibular e para ser de fato um universitário, suas instalações já contam com 16 mil m² de área com árvores centenárias, pássaros e outros pequenos animais, nascente, lago e horta, sempre proporcionando atividades ao ar livre. Também está construindo a Estação Natureza do Ensino em uma área de 400 mil m2 na Serra do Japi, para ampliar seu projeto educativo. Em 1997, o colégio incorporou o Instituto Educional Jean Piaget, mantenedor da Escola de Educação Infantil Casinha Pequenina, na Rua Barão de Cotegipe, 251. Ali, em um espaço com pônei, vaca, coelhos, cabritos, patos, galinhas, pavões, tartarugas, ovelhas, horta, jardins e muito verde, funciona toda a educação dirigida a crianças de um ano e meio a seis do Friburgo. E, com tudo isso, a escola não deixa de inovar. Nos últimos anos, foi pioneira do debate sobre a preservação do meio-ambiente em tempos nos quais Aquecimento Global ainda era coisa de filme de ficção científica. Fazer revolução é isso: na prática e na teoria. Uma das quadras antes da reforma: esta área se transformou num teatro ARQUIVO

A pedagoga Maria Nilde Mascella- são de políticos descontentes com a ni é considerada como uma das maio- socialização das vagas, da emergente res educadoras que o país já teve. Nas- indústria dos cursinhos pré-vestibulares cida em São Paulo em 3 de abril de e dos militares, que viam o ensino sub1931, superou o traumatismo defor- versivo, por ensinar o aluno a ver a reamante que a acometeu já na adoles- lidade como ela era e não como eles cência para trabalhar nas Classes Ex- queriam, levaram a seu fim. Após seu perimentais da pequena cidade de So- fechamento, Maria Nilde tornou-se procorro (SP), onde foram treinados os primeiros professores para trabalhar com o Sistema de Ensino Vocacional. Após sua implantação definitiva em 1961, tornou-se a coordenadora até o ano de sua extinção, em 1969. Os Ginásios Vocacionais eram escolas comunitárias, instaladas a partir de sondagens das características culturais e socioeconômicas da localidade. A unidade do Brooklin, em São Paulo, por exemplo, chegou a ter 2 mil candidatos para 120 vagas. Pelo exame-geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% da população nos bairros do entorno, ficariam com mais de 30% delas, mas a proporção foi respeitada e vagas para filhos de operários e de outros trabalhadores da região eram garantidas. A área de maior peso no conteúdo ministrado era a de Es- A idéia dos Ginásios Vocacionais foi duramente perseguida durante a ditadura, acusada de tudos Sociais, que incluía no- subversiva, como mostra esta capa da revista ções de História, Geografia, Visão, de 31 de janeiro de 1972, com Maria Nilde Economia, Sociologia e Antropologia. Uma ou outra poderia ser ex- fessora da PUC-SP e, com outros coleplorada mais profundamente, depen- gas, criou a equipe Relações Educaciodendo do problema em estudo, que nais e do Trabalho (Renov), uma entipoderia tanto ser “a diversidade regi- dade de defesa dos direitos humanos, onal é compatível com o Brasil uni- que passou a assessorar a iniciativa prido”, “o ciclo do ouro em Minas Ge- vada e a formar novos educadores, jorais”, “as confederações e federações vens e grupos populares. Por causa disesportivas” ou “o folclore presente na so, chegou a ficar presa pelos militares música brasileira”. Mas também ha- por um mês em 1974. Seu último provia todo um currículo integrado, de- jeto foi em 1995, em parceria com a senvolvido a partir desse núcleo hu- Confederação Nacional dos Metalúrgimanista, que incluía Português, Ma- cos, ligada a CUT. Nele, aliou a propostemática, Ciências, Física, Biologia, ta pedagógica do ensino vocacional Artes e Educação Musical. A pesquisa com a capacitação profissional de traera livre e feita em parceria com ou- balhadores desempregados. tras escolas e na comunidade local. Maria Nilde não casou nem teve fiJá a avaliação também era considera- lhos. Em 19 de dezembro de 1999 em da inovadora para a época, feita tam- São Paulo, foi vítima de um infarto fulbém pelos alunos com base em con- minante, que interrompeu sua trajeceitos e não notas. tória. Morreu aos 68 anos, no mesmo Mesmo assim, o curso, que deveria mês em que defendeu sua tese de se estender por toda a rede pública de doutorado na USP, projeto que havia São Paulo, nunca passou de seis uni- adiado durante tanto tempo para ludades espalhadas pelo Estado. A pres- tar pela educação brasileira.

JORNAL DO FRIBURGO • 7

REPRODUÇÃO

Luto na fachada do Friburgo, quando ocorreu o covarde assassinato do índio Pataxó, Galdino Jesus dos Santos, no dia 21 abril de 1997, por jovens de classe média de Brasília. Na faixa, nossos alunos mandaram escrever uma frase do poeta Décio Bittencourt: Lobo mata e lobo come. Que tristeza de ser homem: matar para não comer

Visionária na educação


•••educação pg0 FOTOS FERNANDA SÁ

Na Liverdade, pais, alunos e convidados puderam colher muitas experiências: Na Trilha da Vida, Thiago (9° EF) apresenta algumas frutas em O que os olhos não vêem, o ambiente sente ; ao centro, Ana Carolina e Gabriela, ambas do 8° EF, explicam os Quilombos, do Projeto Petar ; à direita, Érika e Vivian (1°EM) na oficina de reciclagem do Projeto Santos/Cubatão .

Ver, ouvir e sentir O

moderno e o antigo. O científico e o romântico. A informação e a emoção. A Liverdade 2007 foi uma conjunção de tudo isso e muito mais. Evento cultural mais marcante do Friburgo, emocionou os visitantes e alcançou um dos objetivos mais desejados pela arte: liberar aquilo que o homem aprisiona em seu íntimo. A Liverdade foi realizada no sábado, 20 de outubro, e contou com a apresentação de trabalhos baseados em projetos realizados durante todo o ano pelos alunos das diversas séries e coordenados pelos professores da escola. Ao todo, foram 23 instalações, exposições e apresentações sobre os mais diversos assuntos e abrangendo diversas áreas do conhecimento. Ainda houve debates, mesas redondas e um sarau, promovi-

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A Liverdade foi o grande evento cultural do Friburgo em 2007. Nela, as pessoas puderam estimular todos os seus sentidos e conhecer o que é a arte do por alunos do Ensino Médio. Os trabalhos ainda chamaram a atenção pela relevância de seus temas, pela profundidade alcançada e pela forma criativa encontrada por muitos grupos para montá-los. Um desses foi o projeto “A música como instrumento de manifestação social”, desenvolvido pelos alunos do 1º e 3º anos do Ensino Médio e que procurava mostrar o papel da música popular brasileira durante a Ditadura

Amélia, coordenadora do Período Ampliado, observa os trabalhos de artes dos alunos da Professora Keka.

Militar. “Desde que começamos o trabalho, fiquei orgulhosa dos alunos. Muitos já conheciam – e bem – várias das composições que selecionamos para audição. A palestra da professora Arlete Diogo, torturada na Ditadura, reforçou em todos o sentimento de pavor pelo autoritarismo e também mostrou o interesse dos meninos pela história do nosso país. As paródias elaboradas pelas turmas do 3º ano fecharam o trabalho em

grande estilo por causa da criatividade, ousadia, humor e espírito crítico”, avalia a professora de Gramática e Redação, Silvana de Oliveira. Para os alunos, a experiência também foi marcante. André Perrone, do 4º ano do Ensino Fundamental, participou do projeto “Povos Pré-Colombianos”, que estudou as civilizações inca, maia e asteca. “Tinha muita curiosidade sobre esses povos. Fiquei feliz quando respondi as minhas


À esquerda, Matheus e Maria Fernanda (2° EF) dão informações sobre os Animais Marinhos.

Na saída da Trilha da Vida, os visitantes eram convidados a deixar registradas suas impressões sobre a experiência

Trilha da Vida, a história de um projeto Acima, Carolina (4° EF) explica o trabalho sobre os povos PréColombianos, cuja pirâmide foi produzida com grandes caixas e esculturas feitas pelos alunos nas aulas de artes. Ao lado, Fernanda Victoria, da Oficina Culinária, mostra uma receita de Bem-Casado.

próprias perguntas e ainda conseguimos trazer tudo para o trabalho”, conta ele. Como produto final, o 4º ano A desenvolveu um jogo de trilha com perguntas e respostas sobre os antigos povos e o 4º B elaborou uma pequena enciclopédia sobre o assunto. “Essa tem sido a diferença do Fri-

burgo. A Liverdade foi o maior exemplo de que não repassamos informação pela informação, mas em cima de uma nova metodologia, fazemos a boa pergunta, aquela que dá sentido ao conteúdo, para fazer o aluno pensar”, diz o professor José Carlos Martins, o Zé Carlos, Diretor Pedagógico.

Um dos trabalhos mais apreciados pelos visitantes da Liverdade 2007 foi O que os olhos não vêem, o ambiente sente, produzido por alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. Extremamente interativo, a pessoa entrava numa “Trilha da Vida” e com os olhos fechados e sem sapatos, caminhava primeiro por um ambiente com muita presença da natureza, depois passava para um ambiente urbanizado e terminava tendo o contato com um ambiente com muito lixo. O fundo musical, hora calmo, hora agitado, despertava sensações e emoções. “A pessoa que passava por ali se sentia em paz com a natureza, mas ficava sensibilizada com o lixo”, explica o professor Leandro Duarte, de Geografia. O que poucos sabem é que a idéia nasceu muito antes. Desde o começo do ano, as turmas de 9ª série já trabalham e discutem a responsabilidade pela preservação ambiental e o polêmico e temido aquecimento global. A inspiração para o projeto apresentado na Li-

verdade veio no dia 4 de outubro, em uma saída pedagógica. Naquele dia, os alunos visitaram um aterro sanitário em Embu das Artes e fizeram uma discussão sobre o consumismo na sociedade atual. Ali, ficaram sabendo como funciona uma Cooperativa de Lixo, em que cada pessoa ganha R$ 400 com o lixo reciclável. Também estiveram no Parque Ecológico Guarapiranga, onde tiveram uma verdadeira aula de educação ambiental: conheceram os rios da cidade de São Paulo, visitaram o Museu do Lixo, assistiram vídeos e participaram de debates. Puderam conhecer os diversos tipos de lixo, o tempo de degradação de cada um – alguns, como garrafas de plástico, podem levar uma centena de anos para desaparecer –, discutiram a falta de água no planeta e o porquê da proibição da caça e pesca de algumas espécies. Em maquetes, puderam ver o contraste de um ambiente preservado e outro destruído. Por fim, entraram na “Trilha da Vida” original, que os estimulou a fazer a sua própria, na Liverdade. “Tudo aquilo mexeu com eles. Por isso, procuraram transmitir a seu modo o que aprenderam e ficou marcado em suas vidas”, conclui Leandro Duarte. JORNAL DO FRIBURGO • 9


•••educação FOTOS MARISTELA MARTINS

Arte é coisa de criança N

o dia 27 de outubro, sábado, foi a vez dos alunos da Casinha Pequenina mostrarem que entendem de arte e cultura. Nessa data, eles promoveram a Mostra Cultural 2007 e apresentaram trabalhos que sintetizam o que estudaram e aprenderam durante todo o ano. Numa área de 6 mil metros quadrados de muitas árvores frutíferas, horta e vários animais, pais e familiares das 200 crianças da escola, que têm entre um ano e meio a seis anos de idade, puderam conferir pinturas, trabalhos com massinha, montagens, um CD e um catálogo com indicação de livros para leitura feito pela própria molecada. “A cada semestre, as turmas trabalham com dois artistas plásticos, de preferência, um brasileiro e um estrangeiro. Também fazemos algo parecido com a música. As crianças estudam um compositor de MPB e outro de música clássica. Além disso, fazem registros fotográficos e escritos sobre o andamento da horta que eles mesmo cultivam. Na Mostra, apresentam tudo isso”, diz Maria Beatriz Telles, 51, a Bia, Diretora da Educação Infantil. Entre os artistas e compositores estudados estiveram nomes de respeito como Picasso, Portinari, Bach e Braguinha. Primeiro, os professores contaram sobre a vida e obra de cada um aos pequenos. Depois, as crianças identificaram em suas obras objetos e figuras conhecidas. “O Picasso foi um caso muito interessan-

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Mostra Cultural apresenta trabalhos e projetos dos alunos da Casinha Pequenina te. Os mais novos viam árvores em sua fase cubista e contrastavam com a natureza, procurando descobrir o motivo daquela distorção. Já os mais velhos identificaram pelas cores as fases do artista, quando ele perdeu um amigo muito chegado, quando se apaixonou... As crianças aprenderam a vincular cores com conteúdos e ver quais servem melhor para transmitir tristeza, alegria, dor”, conta Bia. Na Mostra Cultural, as crianças pintaram painéis motivados pelas diversas fases do pintor. Também chamaram a atenção o projeto do livro “Reconto de lendas”, produzido pelos alunos de 5 anos, e o CD “Trava línguas”, gravados pelos de 4. No caso do livro, eles mesmo escolheram as lendas e recontaram com suas palavras para o professor. Depois era feita uma revisão com o aluno. “Os textos ficavam mais claros e algumas expressões como ‘aí’ eram trocadas por ‘era uma vez’”, explica Rosimari Ussifati, 43, Coordenadora de Educação Infantil no período da tarde. No CD, os alunos gravaram textos poéticos, para facilitar o aprimoramento da dicção. “Elas tiveram que aprender a falar frases como ‘o rato roeu a roupa do rei’ e ‘o melhor doce é o doce de batata doce’. Ficou uma experiência muito criativa”, completa Rosimari.

Além de experiências no laboratório de ciências ( ao lado ), a Mostra Cultural da Casinha Pequenina teve diversas exposições de arte e alguns ambientes criados nas salas de aula, como o habitat dos animais marinhos (acima).


Pesquisadores-mirins A garotada do Ensino Infantil realizou muitos passeios neste ano. Conheceram o Memorial da América Latina, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP e visitaram o Aquário do Guarujá, com seu Museu da Pesca. Mas nenhum marcou tanto como a excursão às nascentes do Rio Tietê, em Salesópolis (SP). Lá, o guia do parque ficou surpreendido com o interesse dos pesquisadoresmirins, que mesmo com a pouca idade fizeram muitas perguntas e mostraram interesse de gente grande. Entre outras coisas , as crianças foram ao local com a missão de identificar se havia lixo e poluição ali, fotografar tudo, analisar a água que sai das rochas, das nascentes, e coletar amostras do solo. Os pequenos cientistas fizeram tudo diligentemente e ganharam mais elogios dos administradores do espaço. O trabalho fez parte do projeto “A água do planeta”, que busca mostrar a importância do líquido para o ser humano e por que deve ser economizado e preservado.

Uma festa diferente No final de maio, as crianças da Casinha Pequenina receberam visitas ilustres na escola. Vovôs e Vovós foram tomar um gostoso lanchinho com seus netos em mais uma Festa dos Avós. Entre as muitas algazarras, a meninada de 5 anos preparou uma homenagem especial e começou a fazer a festa com brinquedos e brincadeiras do tempo dos avós. A proposta era ver se estavam brincando corretamente e seguindo as regras, mas, no final, muitos velhinhos acabaram entrando na diversão e voltaram a ser crianças. Difícil é saber quem aproveitou mais o dia.

Uma aula de mestre

Jogos de capoeira com entrega das cordas, um divertido espetáculo de mágica e a apresentação musical com repertório de Braguinha, dirigida pela professora Gláucia, deram à Mostra Cultural momentos inesquecíveis de alegria e beleza.

os assim quando crescerem”. O bate-papo foi animado e girou em torno de gostos e da vida de Mindlin, inclusive, sobre sua biblioteca que, com mais de 50 mil volumes e obras como a primeira edição de O Guarani, de José de Alencar, e o original de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Para o aluno Max Pinheiro de Aquino, a conversa trouxe muitos frutos. Criativo, ele diz que não gosta de copiar, prefere inventar histórias. “Gosto de ler e escrever. Agora mesmo estou fazendo uma historinha sobre um barco malassombrado por caveiras”, conta ele, com a mesma animação que impressionou um dos maiores nomes da literatura brasileira. ARQUIVO

Em outubro, os alunos de 1º ano do período da tarde da Casinha Pequenina tiveram uma aula bastante especial e exclusiva. Em uma tarde ensolarada de segunda-feira, 15 crianças com idade média de 6 anos tiveram um encontro com o bibliófilo José Mindlin, 93, membro da Academia Brasileira de Letras. A atividade aconteceu a pedido do próprio Mindlin na livraria Casa de Livros, na Chácara Santo Antônio e teve como objetivo criar nos jovens estudantes o gosto pela leitura. Antes do encontro, os meninos estudaram a biografia de Mindlin. “Cada aluno preparou uma pergunta e levou em um papel para fazer a ele. As professoras também orientaram sobre como deveriam se comportar”, diz Maria Beatriz Telles, 51, Diretora da Educação Infantil. O silêncio dos estudantes durante o encontro impressionou até o escritor, que chegou a dar um conselho que não deve agradar muito os pais: “Vocês estão muito quietos e comportados. Deixem para ser sériO fotógrafo do Estadão registrou nossas crianças numa pose para a posteridade ao lado de Mindlin.

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Santos? Volta Redonda? Brotas? Viagens e visitas são um instrumento poderoso no ensino e na transformação dos alunos

A viagem a Santos e Cubatão rendeu um elaborado projeto para a Liverdade

As cavernas do Petar (acima) e o Museu do Lixo (abaixo): viajando e aprendendo

Exploradores do mundo ARQUIVO

esistência. Essa é uma palavra que ganhou novo significado para os alunos do 8º. ano do Ensino Fundamental nos últimos meses. Especialmente, depois que estiveram no mês de setembro no Parque Ecológico Turístico do Alto Ribeira, o Petar, no interior de São Paulo, e puderam conhecer as cavernas e a luta do meio-ambiente para resistir ao avanço destrutivo da humanidade. Na mesma viagem, a turma também esteve no Quilombo Ivapurunduva e teve contato com os quilombolas locais, que resistem à uma grande empresa que quer construir ali uma barragem. Se antes resistir era sinônimo de ser rebelde sem causa, manter as panelinhas em sala de aula e desobedecer pais e professores, passou a simbolizar a necessidade de união para buscar ideais mais elevados. Essa descoberta feita na viagem não tem nada de acidental. Tudo faz parte do projeto de ensino do Colégio Friburgo, que tem nas saídas pedagógicas, um de seus pontos mais fortes para tirar o conhecimento do campo teórico e fazer com que o aluno não apenas assimile os conteúdos, mas os traga para o seu cotidiano. “No começo do ano, damos os temas e as turmas trabalham em cima deles. Algumas desenvolvem um projeto por semestre. Outras, um no ano. Eles vão a campo para coletar informações como pesquisadores, inclusive, in loco”, explica a professora Eni Spinpolo, Coordenadora do Ensino Fundamental do 2º. ao 6º. ano. No final do período letivo, os grupos de alunos entregam um produto pedagógico que pode ter os mais diversos formatos: monografia, DVD, Cd-Rom, livro, jogo de percurso ou álbum de figurinha. E ainda fazem apresentações especiais em eventos como a Liverdade. Mesmo os mais novos conheceram lugares como o Museu do Índio, em Embu, o Zoológico e o Centro Histórico da capital paulista. “Com essas saídas, que podem ser viagens ou mesmo visitas a lugares e instituições, consolidamos o aprendizado e encontramos formas melhores de atingir os alunos”, completa a professora Cíntia Siqueira, também Coordenadora do Ensino Fundamental, mas para o 7º, 8º e 9º anos. Em cima disso, por exemplo, os alunos do 6º

FERNANDA SÁ

ARQUIVO

•••educação

ano fizeram o projeto Preservar é Preciso, que envolveu as disciplinas de História, Português, Geografia e Matemática. O produto final foi um DVD que mostra cenas da visita dos alunos a Ilha do Cardoso, em Cananéia, litoral paulista e traz um texto didático sobre a preservação ambiental. Por sua vez, antes de apresentar a expressão corporal Origens (veja a reportagem na página 16), os alunos do 7º ano fizeram um projeto que envolveu as matérias de História, Geografia, Ciências, Educação Física e Educação Artística e foram em agosto para o Centro de Estudos do Universo (CEU), na cidade paulista de Brotas, para aprofundar seus conhecimentos. Já o 1º ano do Ensino Médio esteve em Santos e Cubatão. Lá estudaram o desenvolvimento e a industrialização da região e o impacto que tiveram para o meio-ambiente. Proposta parecida com a do 2º ano, que percorreu a Via Dutra, rodovia que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, para conhecer a realidade social e econômica das cidades do Vale do Paraíba e os problemas de sustentabilidade que atingem aquela região. “Com as saídas pedagógicas, unimos o útil ao agradável. Para crianças e adolescentes é sempre muito gostoso viajar. Mas é melhor quando se aprende alguma coisa, inclusive a respeitar nosso mundo e a valorizar o coletivo”, finaliza a professora Eni.


•••eventos

Contato com a realidade

A garotada veio a caráter, dançou, brincou e participou de várias atividades.

Alunos do 3º ano do Ensino Médio debatem temas polêmicos e atuais como a cultura de massa, namoro, religião e pirataria

Preocupadas com o preparo para o vestibu-

lar, as duas turmas de 3º ano do Ensino Médio não fizeram viagens pedagógicas em 2007. Como já estão de olho na universidade, apenas prepararam a tradicional viagem de formatura. Porém, chamaram a atenção os projetos que desenvolveram neste ano e que depois foram apresentados na Liverdade e na forma de monografias. Chamados de Contato, eles deveriam estudar temas atuais e relevantes na sociedade e suas implicações para o dia-a-dia. Divididos em grupos, sobrou criatividade e senso crítico para a moçada, que surpreendeu pela qualidade de seus trabalhos. “A arte de rua como expressão cultural de um povo”, “Namoro na adolescência”, “As séries de TV refletem a sociedade atual?”, “Aquecimento Global”, “Cultura de massa e as relações humanas” e “Jogos de videogame incentivam a violência?” foram alguns dos assuntos estudados pelos alunos. Alguns foram ainda mais ousados. Um dos grupos aproveitou o renovado interesse pela vida do físico Albert Einstein, conhecido por sua Teoria da Relatividade, e pela física quântica, para discutir uma questão um tanto quanto estranha e polêmica: viagens no tempo são possíveis? Já outro discutiu uma questão muito cara nos dias atuais: Deus existe? Mas não ficou apenas no subjetivo. Partindo daí, analisou a força da religião nos conflitos mundiais e o crescente materialismo na sociedade. “Conseguimos esse tipo de produção até por causa do modelo adotado pelo Friburgo, com classes pequenas de não mais que vinte e poucos alunos e fazendo um acompanhamento personalizado. Os temas desse ano ficaram realmente muito interessantes”, diz a professora Vera Barreto, Coordenadora do Ensino Médio. Caio Santanna e Souza, 17, foi um dos estudantes que fez o trabalho “Pirataria: consumidor ou consumido?”, discutindo a problemática da falsificação de produtos como CDs e DVDs. Elogiado sobretudo pelo embasamento teórico e pelas soluções que propõe, o trabalho para ele e seu grupo foi um grande aprendizado. “Escolhemos o assunto por curiosidade, porque nos interessava. Não sabíamos que iríamos tão fundo. Quando nos reunimos para fazer os ajustes finais, todos comentavam a mesma coisa: ‘Cara, não sabia que isso era tudo isso...’ Foi muito legal”.

Todas as cores da festa junina Danças, comidas típicas e muita animação marcaram as festividades do Friburgo e da Casinha Pequenina

M

ais de 3 mil pessoas participaram no dia 23 de junho da Festa Junina do Friburgo. Com o tema “Tradições Nordestinas – um recorte das festas juninas no Brasil”, o evento contou com danças, comidas típicas, touro mecânico, barracas de brincadeiras, pau de sebo, sorteio de prêmios e bingo. Tudo no melhor estilo caipira, claro. A começar pelo convite, feito com desenhos de alunos do próprio Friburgo, o que valeu na festa foi mesmo a criatividade. E quem participou, pôde se divertir e muito com as brincadeiras das barracas da pescaria, acertando a boca do palhaço, jogando roleta ou tentando subir no melado pau de sebo. No touro mecânico, as risadas não paravam Interação foi o primeiro grande evento do Colégio Friburgo em 2007. E, como o próprio nome diz, permitiu que pais, alunos e funcionários participassem juntos de diversas atividades e se inteirassem melhor da estrutura da escola. Para tanto, no sábado, 31 de março, houve durante toda a manhã atividades esportivas, oficinas de artes e até exercícios de ioga, que reuniram muita gente nas dependências do Friburgo. No final, muita comida para dar pique ao ano que começava.

diante das peripécias dos peões de final de semana. Sempre acompanhadas pelo forró do trio Malagueta, que animou a tarde e a noite. Já quem queria mais tranqüilidade, pôde assistir as apresentações de Quadrilha, Dança do coco, Bumba-meu-boi e Ciranda, dos alunos do Ensino Fundamental, Médio e da Educação de Adultos. E, de quebra, ainda saborear doces e salgados típicos, comer cachorro quente e tomar quentão. A renda da festa foi para o projeto de Educação de Adultos do Friburgo. Os alunos do 9º. ano do Ensino Fundamental e do 3º. ano do Médio também tiveram suas barraquinhas para ajudar nas despesas da formatura. Uma queima de fogos de artifício encerrou a noite. No domingo seguinte, foi a vez das crianças da Casinha Pequenina realizarem sua Festa Junina. Lá também, comidas típicas, muita dança de quadrilha, uma fogueira e brincadeiras fizeram a alegria dos pequeninos e de cerca de mil pessoas que estiveram presentes.

Igualmente marcante foi o Passeio Ciclístico 2007 do Friburgo, que aconteceu em outro sábado, dia 25 de agosto. Dezenas de pessoas pedalaram ou praticaram caminhada pelas arborizadas ruas do bairro da Granja Julieta. O trajeto começou e terminou na escola, mas quem decidiu ir de bicicleta, percorreu seis quilômetros contra três, de quem foi a pé. Além do sorteio de muitos prêmios, os participantes ainda puderam se refrescar com uma mesa repleta de frutas e sucos.

Coube às Expressões, evento do Período Ampliado, fechar as atividades culturais do ano. De 2 a 5 de dezembro, os alunos realizaram cerimônias e apresentaram um pouco do trabalho que foi realizado nos últimos meses. Os destaques foram o Encontro de Capoeira Mirim, com o cerimonial de troca das cordas, as apresentações de teatro, street dance, ginástica olímpica e do coral. Exposições de trabalhos e uma oficina de literária fecharam o tradicional evento de final de ano. JORNAL DO FRIBURGO • 13


•••eventos

Agitando a galera N

FRANCISCO UCHA

em a forte chuva que caiu Escalar paredes, dar sobre São Paulo no comepiruetas com o skate ço da manhã do sábado, 10 de novembro, conseguiu esfriar os e participar de um ânimos de alunos e familiares que disputadíssimo jogo de participaram de mais uma edição futebol? Sim, o evento do Frisportes. Das 10 às 14 horas, de esportes de 2007 teve houve apresentações, oficinas e competições nas quadras e cam- tudo isso e muito mais pos da escola, com o apoio da Tática Eventos Esportivos e supervisão dos próprios professores do “Apesar de serem atividades ráFriburgo. pidas, realizadas apenas no períEntre as modalidades estavam odo de uma manhã, estamos conalgumas tradicionais como vôlei, seguindo alcançar nossos objetibasquete e futsal. Mas o destaque vos. Novos talentos têm sido desficou com aquelas cobertos, aumennão tão conhecitamos o vínculo das, casos da caposocial entre os pareira, do skate e do ticipantes, proparkour. Este, por porcionamos uma sinal, atraiu a curitroca de experiênosidade de muita cias e desenvolvegente no evento. mos novas habiliNascido na França dades. Em eventos no final da década como o Frisporde 1990 e trazido tes, aprofundapara o Brasil há mos muita coisa apenas três anos, o que o regime reguPK ou “arte do deslar não permite”, locamento” em afirma a professobom português é ra Amélia Gaulez, inspirado no treiCoordenadora do Para Amélia, Coordenadora do namento militar e Período Ampliado, o Frisportes Período Ampliado exige de seu prati- abre espaço para novos talentos e organizadora do cante muita con- e promove troca de experiências dia de atividades centração, planeesportivas. jamento e resistência física para se No Período Ampliado, cerca de mover por entre árvores, paredes, 170 alunos do Friburgo realizaram pedras e os mais diversos obstácu- neste ano as mais diversas atividalos urbanos com o máximo de efi- des culturais, esportivas ou cursos. ciência e o menor tempo possível. Culinária, coral, aulas de línguas Também mobilizaram as aten- estrangeiras, artes, informática e ções as apresentações especiais de web design foram algumas das opskate, com suas manobras radicais ções oferecidas aos estudantes em em rampas montadas na quadra horários fora do período regular de coberta, e o amistoso de futebol de aulas. Além delas, eles puderam escampo entre as seleções de ex-alu- colher também pela prática de esnos e dos estudantes do Ensino portes. E, durante todo o ano, parMédio do Friburgo. A galera vi- ticiparam de eventos, apresentanbrou muito a cada lance e foi pos- do aquilo que aprenderam. Mas no sível identificar até pequenas tor- que se refere a esportes, o Frisporcidas organizadas formadas à bei- tes continua sendo a grande evenra do gramado. to do ano. Que venha o próximo!

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Antônio Barreto, Gabriela Fechter, Marina Endo e Caio Sant’Anna, do 3° A (acima) e Rafael Paschoal, Renata Morales, Bruna Pavone, Maiara Gaulez, Ian Ferreira e Maurício Cassiolato, do 3° B (página ao lado) se despedem do Friburgo “de cabeça aberta”. Eles levam “mais do que um histórico escolar na bagagem, levam muitos amigos no coração”.

Eles estão entrando em uma nova fase de suas vidas. Mas as marcas deixadas pelos tempos de Friburgo não serão esquecidas

E

les passaram da adolescência para a fase adulta e agora é hora desta turma sair para o mundo em busca de novas experiências. Uns querem cursar jornalismo, outros, engenharia, letras e psicologia. Há até quem sonhe em fazer parte do célebre Cirque du Soleil. Mas uma coisa todos concordam: embora estejam prestes a viver um novo capítulo de suas vidas, os tempos e experiências do Colégio Friburgo não serão esquecidos. Para saber o que pensam, quais são suas opiniões sobre aquilo que aprenderam na escola, quais os pontos fortes e os que precisam melhorar e o que ficará para sempre em suas memórias e corações, o Jornal do Friburgo conversou com aqueles que fazem o dia-a-dia e – sem qualquer exagero ou pieguismo – são a razão de ser da instituição de ensino: os alunos do 3º ano do Ensino Médio. Embora cada cabeça seja uma sen-

tença, como diz o adágio popular, todos eles apostam que a formação recebida na escola fará a diferença daqui para frente. “Sei que estou pronto e não apenas para o vestibular. Os temas atuais que discutimos e projetos que fizemos nos deram outra cabeça para encarar a vida”, acredita Caio Sant’Anna e Souza, 17. Aluno da turma A, neste ano ele fez um projeto sobre pirataria e consumismo, que recebeu muitos elogios dos professores e foi apresentado com destaque na Liverdade. Caio diz que começou o trabalho por curiosidade, mas ficou surpreso com a dimensão do assunto. Aluna da turma B, Renata Morales, 19, concorda com Caio sobre a consistência da formação dada pelo colégio. Ela, que começou no Friburgo e depois passou por outras escolas, diz que não se encaixou em nenhuma. “Não é só pelo fato daqui ter uma formação centrada na área de Humanas. As escolas em que estudei também tinham. Mas eram muito quadradas, tradicionais e não me encaixei. Aqui não, os alunos têm outra cabeça, não são preparados apenas para o mercado”, defende. Em parte, dizem eles, isso se deve ao ensino aberto e mais democrático do Friburgo. Com o livro “A menina que roubava livros” nas mãos e a alegria estampada no rosto, a alu-


MARCOS STEFANO

Rebeldes com causa na Gabriela Fechter, 17, explica ter ambições diferentes de seus colegas. Primeiro, quer estudar no Cefac, o Centro de Formação Profissional em Artes Circenses, na Vila Madalena, em São Paulo. Depois, sonha ingressar no francês Cirque du Soleil. “Acho que a formação que recebi aqui, me ajudou a definir melhor os caminhos que desejo seguir. No Friburgo temos espaço para falar e dar nossas opiniões. Liberdade de expressão que não existe em outras ins-

“Sei que estou pronto e não apenas para o vestibular. Os temas atuais que discutimos e projetos que fizemos nos deram outra cabeça para encarar a vida” Caio Sant’Anna e Souza, 3°A

tituições”, aponta ela, também agradecendo pela oportunidade de ter participado durante seis meses como monitora da Educação de Adultos. “É gratificante fazer algo bom para uma pessoa e ver que ela está crescendo, aprendendo”. “Em que outro lugar temos a liberdade de conversar com o diretor no

momento em que precisarmos? Até sobre problemas pessoais”, interrompe seu colega de classe Antonio Ruby Barreto, 18. Preparando-se para prestar vestibular para Engenharia Mecatrônica, Antonio fala sobre as viagens, as saídas pedagógicas e as festas de integração, que ficarão marcadas na memória dos alunos. Entre tantas, eles destacam as viagens pelo Vale do Paraíba e para Santos e Cubatão, na qual conheceram as dificuldades das populações locais, um lado até então desconhecido deles nessas regiões tão importantes do país. O clima fica mais descontraído quando começam a falar sobre sua viagem de formatura, realizada há poucos meses. A turma foi para as montanhas de Bariloche, na Argentina, onde aprendeu a esquiar em apenas uma semana. “Surreal”. “Dinossauro”. São apenas algumas das expressões que surgem para descrever a experiência, sempre narrada com a tradicional ironia adolescente. A classe de Maiara Gaulez, 17, não foi para lá. Preferiram um roteiro alternativo. Mas a estudante destaca outro ponto fundamental para o sucesso da educação no Friburgo. “O espaço aqui é diferenciado. As salas pequenas nos permitem receber mais atenção e tirar mais fácil as dúvidas”,

aponta a estudante, que quer fazer História. “Além disso, também tem as aulas diferenciadas, como cinema, teatro e até jornalismo”, completa Ian de Assis, 17. Ele não explica se essas aulas tiveram algo a ver com

“Acho que a formação que recebi aqui, me ajudou a definir melhor os caminhos que desejo seguir” Gabriela Fechter, 3°A

sua opção pelo curso de Jornalismo na faculdade, mas pelo menos uma paixão ele descobriu com elas: as peças teatrais e o palco. “Representamos uma, cujo texto era todo na forma de poesia e falava contra as drogas e o cigarro. Foi demais”, diz o garoto, um admirador da obra do poeta Federico Garcia Lorca, na qual o texto da peça se baseou. “Essa formação que foge da teoria e do que é apenas acadêmico é que torna o ensino aqui tão atrativo”, faz coro o amigo Rafael Paschoal, 17, outro que deseja cursar Jornalismo. Ainda assim, boa parte dos alunos acha que o último semestre deveria ser mais livre para que pudessem se dedicar mais aos últimos estudos antes do vestibular. Para uns, projetos

como o “Contato”, deveriam ser antecipados; já outros crêem que a escola deveria, mesmo primando pela formação mais diversificada, dar mais aulas de reforço e quem sabe um cursinho opcional para os alunos. Unanimidade mesmo são os professores do Friburgo. Apesar das brincadeiras com um e com outro, a identificação e a confiança nos mestres transparecem nas palavras de todos. “Ah, algumas aulas são ótimas e não é por causa do conteúdo. Professores como a Silvana são amigos, entendem a gente e dão aulas em que você não sente vontade de sair quando o sinal toca”, elogia o futuro sociólogo ou filósofo Maurício Ferraz Cassiolato, 17. “Aqui o professor antes de ser uma autoridade, é um amigo”, afirma Bruna Pavone, 17, que encontrou no corpo docente a força que precisava para tomar a decisão de investir na carreira de Designer de Interiores. Ainda em dúvida entre os cursos de Letras, Jornalismo e Economia, fica para Marina Kimie Endo, 17, a tarefa de sintetizar em poucas sentenças todo o bate-papo e expressar o que passa pela mente e pelos corações dos demais: “Saímos do Friburgo de cabeça aberta. Levando mais do que um histórico escolar na bagagem, muitos amigos no coração”. JORNAL DO FRIBURGO • 15


•••educação

S

16 • JORNAL DO FRIBURGO

Sucesso de público e de crítica Apresentações foram apenas o fechamento das atividades de um ano inteiro e mostraram o talento e o espírito do trabalho em grupo dos alunos tos foram colhidos dentre 12 textos dos próprios alunos e discutem questões como liberação, repressão policial e tráfico. O interessante é que a peça traz a impressão de uma repetição, que só termina quando alguém se levanta e manda parar, porque tudo está acontecendo novamente”, analisa Arilho. Mais humorada foi a peça O Belo e o Feio do 9º A. Baseada na música O Rap do Feio, de Gabriel Pensador, ela começa quando vários celulares espalhados pelo palco tocam ao mesmo tempo: é um convite para a balada da noite. Enquanto os meninos se preparam na academia, as garotas se embelezam. Porém, o que o protagonista não sabe é que toda a sua produção e ensaio só vão lhe ajudar a tomar fora das meninas. Apenas quando ele resolve ser autêntico é que consegue conquistar a moça mais bonita, ensinando que estar na moda não é tudo e que as pessoas não devem aparentar aquilo que não são. Igualmente emocionante foi Histórias Diver-

estrelas. Primeiro, definimos os grupos e vemos em que parte cada um quer se encaixar, seja na produção, na representação ou na direção. Depois, com o auxílio de outras disciplinas, mostramos a importância da ação coletiva e da impressão que a arte causa nas pessoas”, ensina Arilho, um professor que sabe como conquistar e cativar a confiança dos alunos. A recompensa pelas ousadas apresentações vem na forma de muitidas, representada pelo 9° B, e que tos elogios daqueles que as assistem. além do figurino, ainda trouxe texOrigens foi um desses sucessos de tos maiores e mais intimistas. Ins- crítica e de público. Apesar de se trapiradas nas crônicas de Luís Fernan- tar de expressão corporal e não teado Veríssimo, a peça é bastante in- tro em si, a representação mostrou terativa e coube à platéia sortear a muita complexidade e uma impresordem de suas 12 cenas. A última sionante relação entre conhecimendelas, em especial, arrancou muitas tos de História, Geografia, Ciêncisurpresas e até lágrimas, quando um as, Educação Física e Educação Armenino apareceu brincando de bem- tística. Ao som de músicas clássicas me-quer, mal-me-quer no palco. como Danúbio Azul e Cavalgada das Quando uma menina passa, ele lhe Valquírias, os alunos contaram a oridá uma flor, mas ela pisa e vira as cos- gem do Universo, dos planetas, da tas. Quando vê que ele está aos pran- vida e o desenvolvimento do ser hutos, ela dá meia-volta, pega a flor, leva mano em uma apresentação cheia de a ele e lhe dá um forte abraço. Sem poesia. A peça ainda falou sobre os falas, apenas ao som do violino. povos indígenas que habitavam o “Nosso objetivo não é garimpar Brasil antes da chegada dos portunovos talentos ou descobrir futuras gueses, a fundação e o desenvolvimento de São Paulo até se Marcos Arilho e sua aluna, industrializar e se transLetícia Morgado: Teatro formar em uma estressanpara dar segurança e mostrar a importância te metrópole. das ações coletivas. E para aliviar os problemas, nada melhor do que praticar esportes radicais, cuja apresentação fechou o espetáculo. Apesar de ainda não saber se dá ou não para seguir a carreira de atriz, Letícia, a nossa Terra do começo desta reportagem, garante que todo o trabalho foi fundamental para melhorar seus relacionamentos. Tímida por natureza, ela encontrou na arte uma forma de se sentir mais segura e se soltar mais. “Além de ser algo muito legal, ainda me ajudou a perder um pouco do medo de estar na frente de muita gente”, confessa ela, garantindo que, agora, não se trata de nenhuma representação. FERNANDA SÁ

ó faltou o tradicional “abramse as cortinas”. No mais, desde quando entrou no palco e sentiu o mesmo friozinho na barriga que qualquer grande ator que estréia uma nova peça sente, a estudante Letícia Morgado, 12, experimentou o que é de fato fazer teatro. Com gestos suaves, mas decididos, ela representou o planeta Terra na peça Origens, protagonizada por alunos do 7° ano do Ensino Fundamental em mais uma edição do Teatrando, a tradicional mostra de peças teatrais do Colégio Friburgo. Este ano, o evento reuniu os alunos de 7º, 8º e 9º anos nos dias 29 e 30 de outubro. A platéia, composta em sua maioria por familiares e amigos dos próprios estudantes, trouxe como ingresso alimentos não perecíveis que foram doados para a instituição Gotas de Flor com Amor e se deliciou com o talento da garotada que apresentou os mais diversos gêneros, da comédia ao drama. O 8° ano trouxe Acontecimentos, uma peça de estética arrojada que discute o problema das drogas. Mesmo sendo composta por alunos bastante jovens, a turma deu conta de um tema intrincado e que não tem o costumeiro final feliz, revelando planejamento e um trabalho desenvolvido durante todo o ano. “A adrenalina de entrar em cena é igual a da montanha-russa. O adolescente é inseguro, tem medo de pagar mico o tempo todo. Mas aprende a ter confiança e jogo de cintura, a saber lidar com situações inesperadas”, explica o professor Marcos Arilho, que dá as aulas de teatro e organiza o evento. A trama de Acontecimentos é inspirada na obra homônima de Ferreira Gullar. Em uma balada de skatistas onde há consumo de drogas, acontece um crime que abala a todos. Ninguém sabe bem o que fazer. Num momento, todos ficam no chão, revelando o desequilíbrio trazido pelos entorpecentes; noutro, ficam pendurados, sem ação, como se estivessem no ar. Em meio a tudo isso, depoimentos são apresentados ao público, usando um recurso muito comum da televisão quando não se deseja identificar o entrevistado: a deturpação da voz. “Esses depoimen-


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