Edicao 487

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Jardim é “cópia” de Mao Tse Tung 18 e 19

1,50 €

SEMANÁRIO | ANO 10 | Nº 487 Sábado | 14 de Fevereiro de 2009

Câmaras vão cancelar licenças de táxis 21

Cartão de Cidadão com atrasos de até 3 meses

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Infantário no Funchal alvo de inspecção

Mais de 1.000 colheitas para salvar o rodrigo 22 e 23

DIRECTOR: EDGAR R. AGUIAR tribunadamadeira.pt

Padre madeirense na Venezuela diz-se atemorizado com violência religiosa 28

“Ser presidente de câmara dá um monte de chatices” 14 a 16

“Muitas pessoas dizem que só vai para presidente de câmara quem é louco. Há duas razões para isso: não se justifica em termos financeiros e dá um monte de chatices”. A afirmação é de Emanuel Gomes, presidente da Câmara Municipal de Machico. Mas apesar das “chatices”, o autarca do PSD/Madeira não esconde o desejo de se recandidatar ao cargo. Emanuel Gomes alerta ain-

da: é necessário criar mais emprego em Machico. Embora admita que o contexto financeiro não é favorável, o autarca apela ao sector privado no sentido de investir e dinamizar a economia do concelho.

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Sindicalista diz que Losomecânica prepara despedimento colectivo 26

Hoje é Dia dos Namorados

O segredo de um casamento duradouro

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2 editorial Capas da semana

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

O aviso de Mário Soares

O ex-Presidente da República Mário Soares advertiu terça-feira à noite que sem transparência no País, particularmente no sector da banca, Portugal poderá conhecer a prazo um clima de revolta e acontecimentos de gravidade. A advertência do ex-chefe de Estado foi feita na primeira conferência promovida pela Fundação INATEL, que decorreu no Teatro da Trindade, subordinada ao tema “Novas respostas e novos desafios”. Após uma intervenção inicial, Mário Soares respondeu a questões da plateia sobre a saúde dos partidos, apoios concedidos à banca pelo Estado e sobre a situação do Banco Privado Português (BPP) e Banco Português de Negócios (BPN). “Espero que se saiba o que se passou no BPP e no BPN. Tudo tem de ser esclarecido. É preciso transparência no País, se não é impossível haver confiança. Isso gera revolta - e não estamos imunes que isso aconteça em Portugal”, declarou o

fundador do PS, que também fez alusão aos recentes protestos violentos ocorridos na Grécia e em outros países europeus. Já em resposta a perguntas dos jornalistas, Mário Soares acrescentou que “é preciso que o País saiba o que se passou” com aqueles dois bancos, “porque, no fundo, o dinheiro dos contribuintes está ali”. “É preciso que digam porque razão gastaram nisso (no BPN e BPP) e não em outras coisas. É preciso que digam o que esperam daquilo (BPN e BPP) e quem dirige aquilo. Eu não sei nada disso e ninguém sabe”, disse. Mário Soares afirmou depois estranhar “o clima de silêncio” existente a propósito destes casos com o BPP e BPN. “Espero que não haja opacidade. As pessoas têm de saber o que se passou”, insistiu. O ex-Presidente da República falou também sobre necessidade de transparência a propósito dos partidos, fazendo depois neste contexto críticas à comunicação social, sobretudo “aos jovens jornalistas”. “Os partidos têm de se abrir. Têm que se tornar transparentes e tem de se perceber de onde vem o dinheiro”, sustentou. Antes, Mário Soares tinha advertido que era “totalmente favorável ao sistema de partidos, embora sabendo que os partidos não esgotam a democracia” e que o seu único cargo político era ser membro do Conselho de Estado por inerência

- órgão que, “por sinal, não se tem reunido muito ultimamente”. Sobre a comunicação social em Portugal, o ex-Presidente da República começou por dizer que, “em geral, há excelentes jornalistas, embora alguns deles estejam já na prateleira”. “Mas há muitos jovens jornalistas que chegam com a pergunta estúpida, para depois tirarem dali ilações e arranjarem sarilhos. Estão convencidos que é preciso ganhar dinheiro e fazer vender mais os jornais. Isso é o que eu chamo a pequena política”, atacou. l

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Estatuto editorial • Tribuna da Madeira é a consumação de um projecto eminentemente jornalístico. • Tribuna da Madeira é um jornal madeirense. • De periodicidade semanal, Tribuna da Madeira tem por segmentos-alvo a população residente na Região e as comunidades portuguesas residentes no estrangeiro. • O semanário propõe-se criar uma empatia afectiva com os madeirenses, maiorias e minorias, de todos os credos políticos, sociais, religiosos, culturais e clubistas, fomentando a união indispensável a uma Região ultraperiférica e tradicionalmente abandonada pelas grandes metrópoles. • Tribuna da Madeira será definitivamente um jornal equidistante e sem dependências em relação aos poderes político, económico, religioso e desportivo. • Em conformidade, Tribuna da Madeira tem apenas uma dependência: em relação ao leitor. • O semanário propõe-se reflectir e difundir, com firmeza, os anseios e as preocupações de um povo finalmente consciente de que a Autonomia regional é um processo dinâmico sem margem para períodos de letargia.

• A defesa dos valores regionais será ininterrupta e vigorosa, mesmo considerando os quadros nacional e europeu onde a Madeira se situa. • Tribuna da Madeira tentará oferecer aos madeirenses a possibilidade do reencontro com o gosto pela leitura, levando em conta os novos e aliciantes caminhos do jornalismo electrónico. • Rigor, credibilidade e objectividade são ideias-chave com inabalável prioridade sobre as novas necessidades impostas pelas peripécias que dominam o mercado concorrencial. • O critério determinante da cobertura jornalística contemplará exclusivamente o interesse da notícia, de harmonia com o dever de formar e informar imposto pela lei aos órgãos de comunicação social. • O campo de acção de Tribuna da Madeira será marcado por uma estratégia de informação generalista, com o necessário aprofundamento de cada matéria tratada. • Tribuna da Madeira adoptará um estilo de informação firme e invulnerável que dignifique a Madeira, o jornalismo e o próprio jornal. • O semanário leva para o terreno a vivacidade, o vigor interventivo e a irre-

verência que definem o jornalismo de qualidade. Mas proíbe-se a si próprio de promover ou colaborar em julgamentos na praça pública, bem como de ceder à tentação do sensacionalismo, devassa da vida privada e do achincalhamento ou humilhação de qualquer cidadão. • Sempre de acordo com a Lei de Imprensa e com a deontologia do jornalismo, Tribuna da Madeira tentará apoiar entusiasticamente a totalidade dos sectores da vida regional – classes populares e agentes do desenvolvimento de todos os patamares da economia. • A responsabilidade editorial é a determinada por lei. • Tribuna da Madeira terá opinião própria, crítica e absolutamente desprendida da administração pública e das diversas forças políticas, estejam elas no governo ou na oposição. • O direito de resposta está garantido e com amplas facilidades. • O semanário assume-se como mais um factor do movimento democrático e autonómico da Madeira. • Tribuna da Madeira actuará de acordo com as presentes linhas editoriais e pugnará pelos princípios que garantem a liberdade de imprensa dos seus jornalistas e dos cidadãos em geral. l


opinião

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009 JUAN FERNANDEZ jfernandez@tribunadamadeira.pt

Um jantar romântico A propósito do “Dia dos Namorados”, o amoroso “Jornal da Madeira” ejaculou a seguinte iniciativa: “Ouça o seu coração! Escreva uma declaração de amor e ganhe um jantar romântico”. Em tempo de “vacas magras” um jantar gratuito vem mesmo a calhar. Cogitei e enviei, via correio, uma “declaração de amor” para o respectivo concurso. Tratando-se do “Jornal do Governo” estou convicto que com esta “declaração de amor” serei o “big” vencedor. Eis a declaração: “Como o macaco gosta de banana eu gosto do Alberto João Jardim. Se eu pudesse amarrá-lo na cadeira para não nos deixar, amarraria. Se alguém tem um bom marido, não troca. É assim que nos sentimos com este lindo homem”. É bela, não é? São Valentim da Fernão Ornelas, venha lá esse jantar romântico, Que, curiosamente, vai ser pago com o dinheiro do erário. Ou seja, dos impostos de todos os madeirenses. Afinal, no “JM” não há jantares gratuitos. Nem mesmo no “Dia dos Namorados”.

A festa de anos Jardim fez aninhos e o “Jornal da Madeira” pôs a foto da festinha de aniversário na primeira página. Lambe-botismo dos chefões ou uma sincera prenda de anos? Sinto-me inclinado para a segunda opção. Diz quem sabe que uma situação semelhante só ocorreu em Cuba, na Líbia e no Zimbabué. Consta que a imprensa livre, isenta e plural destes regimes também põe os seus líderes nas primeiras páginas quando eles fazem anos. Parabéns ao “Querido Líder”! Só faltou na festa uma Marilyn Monroe a cantar os parabéns e a soprar a vela. É de realçar que da geração de Jardim apenas duas pessoas ainda estão no activo: ele, Alberto João, e a Tina Turner. A avó do rock!

O caniche

O caniche vai para onde o Chefe for. O Chefe diz rebola e o caniche rebola. O Chefe diz faz o morto e o caniche faz o morto. O Chefe diz ladra e o caniche ladra. O Chefe diz morde e o caniche morde. O peste do caniche, gordo de tanta carne que come, mete o dente até naqueles que o acolheram e alimentaram durante anos. Mas o mais curioso é que,

segundo consta, este caniche já foi, na juventude, um rottweiler que espumava de raiva mal ouvia o nome do Chefe. Mas que bela mutação! Só espero e desejo que, desta vez, não morda a mão do novo dono. Caso contrário, despacham-no para a SPAD. Para abate! Lindo menino!

A seta de Marcelo No Rectângulo, os “poderes ocultos” arrasam Sócrates por causa do caso Freeport. Mas a jornalista e namorada defende-o. Se tal ocorresse cá “caía o Carmo e a Trindade”. Amor a quanto obrigas! Marcelo, armado em São Valentão, lança uma seta envenenada contra a líder do PSD. Afirma que a imagem de Manuela Ferreira Leite não ajuda o partido. Manuela é feia, está velha, tem rugas e um ar carrancudo que até parece um Salazar de saia. Mas será que não é esta a imagem do estado de espírito do Portugal actual e da maioria dos portugueses? Portanto, talvez a Manuela Ferreira Leite seja o primeiroministro com a imagem ideal para o país real.

O PS/M e a eutanásia Sócrates, também conhecido como “Pinócrates”, mandou o Lacão para a Madeira apresentar a moção. É o desprezo total para um PS/M em estado vegetativo. Alguém que faça o favor de desligar o ventilador que mantém este partido vivo. E que viva a eutanásia!

“Comportamentos desviantes” Durante uma “visita real” ao Continente para encontros com Cavaco, Jaime Gama e com o “malvado Sócrates”, Miguel Mendonça falou sobre “comportamentos desviantes”. Numa alusão ao ex-deputado José Manuel Coelho do PND. Ó caro doutor Miguel Mendonça, o termo “comportamentos desviantes” não se aplica aos actos protagonizados pelo exdeputado Coelho. O termo “comportamentos desviantes” aplica-se, por exemplo, em relação aos indivíduos que tenham delapidado o erário, recebido “luvas” ou cometido actos como pederastia. Esses é que são, caro doutor, “comportamentos desviantes”. O acto de exibir uma bandeira nazi no plenário da Assembleia da Madeira é apenas um “comportamento insinuante”. Heil Hitler!

A “guerra das bandeiras” Anda por aí a classe política regional a discutir se este ou aquele organismo deve içar a bandeira da Madeira juntamente com a portuguesa. Em tempo de crise e de tantas outras graves preocupações e problemas, o povo, cada vez mais farto das mariquices desta política e destes políticos, mando-os enfiar a “guerra das bandeiras” no sítio mais estreito que possam encontrar. E no cais do Funchal há gente a gritar: Às ARMAS, Às ARMAS contra os chupistas marchar, marchar...

Estou na “lista negra”? Em vésperas do “Dia dos Namorados” e do referendo na Venezuela, marcado para domingo dia 15 e que visa perpetuar Chávez no poder, recebi mais uma “carta de amor”, em versão e-mail, aconselhando-me a nunca mais pôr as minhas “patas anarquistas” na Venezuela. Deduzo que tal missiva, que continha outras ameaças e referência sobre uma suposta “lista negra” na qual o meu nome constava, me terá sido enviada por um “fanático do Chávez” a residir na “Madeira Nova”. Mas o que é que eu fiz de mau para ter merecido tão bela “carta de amor”? Eu até li todos os livros-propaganda que o cônsul da Venezuela no Funchal nos ofereceu durante uma visita ao Tribuna da Madeira. Será que os chavistas a residir na Madeira ficaram ofendidos pelo facto de eu ter escrito que o actual caudilho da Venezuela é um cacique/populista/demagogo/ com tiques ditatoriais e cuja retórica faz lembrar um papagaio munido com um martelo pneumático? Será que é mentira dizer que Chávez não é um perigo só para a democracia, mas um perigo para a sanidade mental de qualquer sociedade? Será que foi excessivo da minha parte ter desejado que o tipo seja engolido por uma anaconda? OK! Peço perdão! Viva Chávez! Ele vai vencer o referendo de domingo. Mas por favor retirem o meu nome dessa suposta “lista negra”. Já não consigo comer, dormir nem respirar de tanto medo. Vão-me partir a sinagoga?!

Heróis /aldrabões Ainda a propósito da Venezuela, um senhor que dá pelo nome de Juan Barreto, exalcalde de Caracas, e o luso-descendente Tobias Nóbrega, ex-

ministo das Finanças do governo de Chávez, foram duas das “pérolas” achadas e apaparicadas pelo Diário do Faqueiro e os seus sócios cá e na Venezuela durante alguns tempos. Só que agora estas duas “pérolas” estão envolvidas em graves casos de corrupção. E ambos fugiram da Venezuela. O Juan Barreto, agora prófugo em Madrid, assinou, durante uma visita à Madeira, o livro de honra da Câmara do Funchal. Tobias Nóbrega, agora prófugo em Nova Iorque, foi convidado de honra do “Encontro de Gerações”, uma organização do Correio, Diário do Faqueiro e Banco do Roque. Qual será o querubim que se segue?

A desVentura do venturoso Apesar de papar páginas inteiras de publicidade da secretaria do Plano e Finanças, o Diário do Faqueiro fez uma “campanha negra” contra a “viagem oficial” à Austrália realizada por Ventura Garcês. Ó senhor secretário regional, então vossa excelência não sabe que a organização de viagens, encontros e outros eventos nas comunidades madeirenses é da única e exclusiva responsabilidade do Diário do Faqueiro? Se não sabe passa a saber. Sempre que um membro do Governo Regional queira efectuar uma viagem à Austrália, África do Sul e Venezuela deverá pedir permissão ao Diário do Faqueiro. E só depois é que poderá partir. Só lhes faltou dizer que foi o Garcês quem pegou lume no “mato australiano”. E já agora, ele está cá ou ainda continua lá? Onde pára o “Crocodile Dundee” do Governo Regional? Está na hora do Diário do Faqueiro investigar.

Venenosos

“Temos um sistema político desprezível, incompetente e ávido de poder, sem uma visão de futuro. Há um gritante défice democrático. A autonomia fez desta terra uma Terra de Medrosos. O problema não está na autonomia, mas nas personalidades que a defendem”. Este “beijinho” foi publicado no semanário Sermitsiaq e visa denunciar o que se passa na... Gronelândia. Mas “encaixa como uma luva” noutras regiões autónomas menos frias. “Não temos uma literatura contemporânea propriamente dita. Os nossos escritores não denunciam nada, não desmistificam, não decifram nada. Limitam-se a proferir verdades eter-

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nas e a reescrever a História, seguindo as directrizes orwellianas do poder instalado”. Esta outra ideia foi proferida pelo escritor Alex Bukarski e tem como alvo a... Macedónia. Mas “encaixa como uma luva” na denominada “literatura madeirense”. Se é que “isto” existe.

As madames Há dias estava numa esplanada a ler o “Madeira Livre” quando subitamente surgiram duas madames espampanantes. Uma saiu de um Mercedes topo de gama, a outra de um Audi também topo de gama. Cada uma com carteiras Louis Vuitton e roupas e calçado no equivalente a centenas de euros. As madames louras sentaramse, lançaram as beatas dos cigarros para a estrada, pediram cafés e iniciaram, em alto som, uma “tertúlia” que se veio (é mesmo este o termo adequado!) a revelar um recital de palavrões. Palavrões que fariam corar alguns “peixeiros” da Assembleia Regional. Todos aqueles que vêem estas duas aperaltadas madames nas ruas do Funchal não fazem ideia da “fossa linguística” e a “cloaca moral e intelectual” que cada uma possui e detém. E que viva o novo-riquismo! É o “Povo Superior” no seu melhor!

Trocar uma de 60 por duas de 30 E já que estamos numa de “Povo Superior”, anciãos ou semi-novos, que caso não fosse o poder do Viagra estariam em estado vegetativo, trocam as esposas de 60 por duas de 30 ou por uma de 20 que sabe mais de cama do que três de 60. E é vê-los depois à rasca quando os olhares penetrantes da sociedade caem como punhais sobre eles e sobre as suas novas conquistas. Por vezes dá a impressão que se sentem como se fossem nódoas. Não tenham medo, meus rapazes! Há actualmente no mercado excelentes tira-nódoas. Podem festejar com pujança o São Valentim. Depois do “Dia dos Namorados” vem o Carnaval. E consta que a grande novidade será a “Trupe dos Ilibados”. Saiba mais na edição da próxima semana. Sábado! Porque agora saímos Sábado. Adeus, sexta-feira! A nossa relação durou 10 anos e acabou precisamente numa sexta-feira 13, um dia antes do “Dia dos Namorados”. É a vida! E vêm aí mais surpresas! l


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opinião

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

Entregar a carta a Garcia JOSÉ CARVALHO

Os meus cumprimentos a Carlos Nogueira Fino, pelo seu artigo no Tribuna da semana passada, “Queridos CTT”, pela oportunidade e actualidade. Como padeço dos mesmos males e já tinha decidido que iria escrever sobre este tema, tentarei não ser repetitivo, pois há pano para mangas no que respeita ao modo como os correios tratam aqueles que são a razão da sua existência e que lhes pagam os ordenados, ou seja, o respeitável público. A origem do título pode ser consultada na Internet, mas não é demais salientar aquilo que os correios desejavam ser e eram e, que levou os decisores da altura a aceitarem-na como a definição da excelência que se impunha aos correios e que se manteve por inúmeros anos: a saga da entrega da carta a Garcia. Estive para usar o título “A Ascensão e Queda dos CTT”. Preferi ir pela positiva. Lembro-me perfeitamente, que durante as primeiras décadas da minha vida, a ideia que se tinha dos CTT era a do respeito por um serviço do Estado, que primava pela rapidez, eficiência, honestidade e sentido do dever, valores que os seus profissionais punham na execução das suas tarefas. É certo, que houve casos de desonestidade, pois em todas as actividades existem as ovelhas ranhosas, raras felizmente, mas tratadas com a autoridade que as leis de então permitiam. Eram a excepção, que sempre confirmam a regra! Lembro-me de ver os carteiros que serviam as zonas onde vivi, envelhecerem ao longo dos anos em que se mantinham ao serviço, o que

lhes permitia conhecerem todos os habitantes do seu giro, ao contrário do que agora acontece, pois vivendo no Garajau há 5 anos, já conheci perto de 10 carteiros. Antes de prosseguir, esta situação denota que, ao invés do que o governo diz que tenta a todo o custo evitar que as empresas façam, uso e abuso dos contractos a prazo, essa é a política oficial dos Correios de Portugal, provando assim, que do governo só vem conversa da treta. Assim, os carteiros são contratados por períodos de seis meses, sendo que, ao fim desse tempo, sejam bons ou maus profissionais e normalmente são bons, não lhes renovam o contracto, o que, na prática, significa despedi-los e contratar nova leva de pessoal, que tem que começar tudo de novo. Quando um carteiro conhece perfeitamente a sua área, quando não troca os nomes dos apartamentos e até das ruas, quando começa a ter uma relação personalizada com os destinatários...é “despedido”. Recomeça o ciclo. Os horários de distribuição alteram-se substancialmente, pois os novos, levam mais do dobro do tempo a fazer aquilo que os despedidos faziam. As trocas de correspondência são às centenas e, quando no meu prédio encontro dezenas de cartas dirigidas a outros edifícios, logicamente pergunto, por onde andarão as minhas? Pessoalmente, já alterei toda a facturação que recebia para facturação electrónica e, a que ainda não pode ser, encarreguei o banco de pagá-las, correndo o risco de pagar sem ver, contas que poderão não estar certas. Tenho a certeza de tudo o que afirmo e vou dar alguns exemplos: Correspondência de Natal, com vetustos carimbos de expedição, chegaram Janeiro adentro; uma apólice de seguro do carro, emitida em 5/12 chegou a 12/1 o que poderia ter trazido incómodos com a PSP; recebi um cartão de crédito há mais de uma semana, mas o da minha mulher, posto no correio no mesmo dia, nem sombras dele. Queixas semelhantes de amigos, são aos montes! Na semana passada, deparei-me,

só num dia, com 10 correspondências que não eram para o meu prédio. Como se deve malhar no ferro enquanto está quente, de imediato, e antes das 17.00 horas, telefonei para a estação do Caniço. Não tive a graça de ter sido atendido e tentei durante mais de 15 minutos. Telefone existe, pois embora se veja mal na lista, consta dela e chama. Só que não há ninguém, que queira ou possa atender. Aproveitei a embalagem e telefonei para o edifício sede. Não ia incomodar o Director, pela insignificância de umas cartas tresmalhadas e pedi para falar com a sua secretária, dizendo que queria expor anomalias. Por 3 vezes o telefone tocou e por 3 vezes se desligou, por si, findo o tempo estipulado. A senhora devia estar a despacho. A partir daí, já nem a central telefónica me atendeu. Falei com os meus botões, que me aconselharam a que escrevesse nesta página, escape de tanta raiva provocada por atentados contra a Natureza, incompetência, desleixo e deixa andar e, assim o estou a fazer, porque, embora tendo um cunho pessoal, é um grave problema de todos os que têm que utilizar os CTT. E para terminar, Senhor Carlos Rodrigues, sei que a culpa não é sua. É antes o tipo de gestão que lhe é imposta, mas poupem nas obras de fachada, como há pouco aconteceu no Caniço e tratem do serviço, que é o importante! Aja em vez de falar! Por isso mesmo, está dispensado de desdramatizar a situação e invocar situações pontuais, no que é mestre, porque se o fizer...eu repondo-lhe.

Polícia Judiciária apreende droga e armas na Madeira Três homens e duas mulheres foram detidos, no âmbito de seis buscas domiciliárias realizadas em três concelhos da Madeira, e presentes às autoridades para interrogatório. A novidade nesta operação foi a apreensão de armas de fogo durante as buscas domiciliárias que tiveram lugar nos Concelhos do Funchal, Câmara de Lobos e Ribeira Brava. No entanto, a Polícia Judiciária não encontra relação com a criminalidade violenta. O coordenador de investigação criminal da PJ na Madeira, Carlos Farinha, confirma que “não é normal” a existência de armas na Madeira, adiantando que a apreensão está apenas relacionada com a “posse ilícita”, não havendo, de momento, relação com o tráfico de estupefacientes. No decorrer das diligências foram apreendidas cerca de 10 mil doses de heroína e haxixe, bem como diverso material relacionado com a actividade ilícita. As autoridades acreditam que com esta operação foi desmantelada mais uma rede que se dedicava a introduzir droga na Madeira. A investigação iniciou-se em meados do ano passado e contou com a colaboração da PSP-Madeira. Entretanto, a PSP na Madeira anunciou que deteve 46 pessoas desde o início do ano por fuga à Justiça, numa operação de larga envergadura destinada a encontrar suspeitos sobre quem pendiam mandados de detenção. Em comunicado, a PSP-Madeira explica que se trata de pessoas que não se apresentaram voluntariamente no tribunal em audiências de julgamento. Na lista constam também indivíduos que deveriam ter pago multas estipuladas pelos tribunais. Sete pessoas foram encarceradas no Estabelecimento Prisional do Funchal para cumprimento de pena efectiva de prisão.

Autarquias vão começar a pagar aos fornecedores até Março As empresas que têm dívidas a receber das câmaras municipais deverão começar a receber os primeiros pagamentos de dívidas até Março, garantiu hoje o Ministério das Finanças. Em comunicado, o Ministério indica que a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças “recebeu 79 candidaturas de municípios, no valor de 485 milhões de euros”, e que as candidaturas aprovadas e os respectivos montantes serão publicados até à próxima segunda-feira, “esperando-se que os primeiros pagamentos ocorram ainda durante o primeiro trimestre deste ano”. No total, o Estado já pagou 1.400,8 milhões de euros de dívidas a fornecedores, no âmbito dos programas de Regularização Extraordinária de Dívidas do Estado e Pagar a Tempo e Horas, lançados pelo Governo.


opinião

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009 MADEIRA D’ANTANHO

DIVAGANDO...

ANTÓNIO RODRIGUES

VIRGÍLIO PEREIRA

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Professor na UMa

Os Portos da Madeira e os transportes marítimos

Postais como este, nos finais do século XIX e princípios do século XX, eram enviados no dia dos namorados à pessoa amada. O dia 14 de Fevereiro é considerado «dia dos namorados» ou de São Valentim, porque segundo alguns, este bispo romano do século III, terá sido decapitado nesse dia do ano de 269 d.c., depois de preso e condenado à morte por celebrar casamentos em sigilo. Esta teoria defende que durante o reinado do imperador romano de Claudius II, entre os anos 268 e 270 d.c., este terá proibido os casamentos com o propósito de aliciar mais mancebos para formar um exército grande e poderoso, por acreditar que os jovens livres de compromissos se deixavam recrutar facilmente. Outra teoria defende que, “na Antiga Roma, Fevereiro era o mês oficial do início da Primavera e era considerado um tempo de purificação. O dia 14 de Fevereiro era dedicado à Deusa Juno que, para além de rainha de todos os Deuses, era também, para os romanos, a deusa das mulheres e do casamento. No dia seguinte, 15 de Fevereiro, iniciava-se assim a Lupercalia (festival pastoril romano),

que celebrava o amor e a juventude. No decorrer desta festa, sorteavam-se os nomes dos apaixonados que teriam de ficar juntos enquanto durasse o festival. Muitas vezes, estes casais apaixonavam-se e casavam. (…). Numa tentativa de fazer uma transição entre paganismo e cristianismo, os primeiros cristãos substituíram os nomes dos enamorados dos jogos da Lupercalia por nomes de santos e mártires. (…). São Valentim não foi excepção e, como tinha sido morto a 14 de Fevereiro, nada melhor para fazer uma adaptação da Lupercalia ao cristianismo, tornando-o como patrono dos enamorados.” (www.cupido.aeiou.pt/dn/ valentim.html) “O nome da festa supõe-se derivar de lupus (lobo). (…). Realizavam-na na gruta de Lupercal (caverna sagrada para os antigos romanos), no monte Palatino (uma das Sete Colinas de Roma).” “Em 494, o Papa Gelásio I proibiu e condenou oficialmente essa festa pagã. Numa tentativa de cristianizála, substituiu-a pelo 14 de Fevereiro, dia dedicado a São Valentim.” (Wikipédia).

Porque a nossa Região importa cerca de oitenta por cento daquilo que consome, tanto os seus Portos (Caniçal, Funchal e Porto Santo), como os transportes marítimos têm uma importância fundamental nas nossas vidas de ilhéus e, obviamente, na economia do Arquipélago. Por último tivemos a boa notícia de que os Portos da Madeira tinham sido certificados pelo Instituto Portuário e de Transportes Marítimos (IPTM) e por um período de cinco anos. Entretanto, seguem normalmente as obras de construção da nova gare e de outros melhoramentos, de forma a respeitarem actuais normas de comodidade e de segurança dos passageiros e tripulantes dos paquetes que nos visitam, incluindo a destes, sem esquecer a acessibilidade da população à zona portuária, tudo em ordem a respeitar o IPTM. Estamos, por isso, de parabéns e faço votos para que tudo esteja concluído, dentro dos prazos previstos. É claro que quando falamos dos Portos, vem a talho de foice, o assunto recente da polémica gerada quanto à concorrência leal ou desleal que o navio da Naviera Armas está a fazer aos navios porta-contentores que atracam no porto do Caniçal. A Associação dos Armadores que operam com os seus navios porta-contentores nas rotas entre o Continente Português e esta Região Autónoma levantou essa questão. Como se impunha, o IPTM analisou-a, na qualidade de Entidade licenciadora dos serviços que o “ferry” espanhol pode prestar e informou que tudo estava conforme essa licença. Por outro lado, como os tipos de navios são diferentes, bem como são diferentes os serviços que prestam e ainda a capacidade ínfima de transporte de carga que o “ferry” tem, parece estar esclarecido que no caso vertente não há concorrência desleal, na certeza de que a carga rodada não deve estacionar no Porto do Funchal, e que é o caso. Constataram-se logo especulações diversas sobre este tema e, como de costume, surgiram algumas almas maldosas que culpavam o único armador Madeirense de tudo o que estava a acontecer e até de querer impedir a continuidade da operação da Naviera Armas. Só a inveja ou a informação incorrecta podem levar as pessoas a essa postura. É que esse armador detém apenas 20% do volume de cargas em causa.

Chega-se a invocar favores do Governo Regional, quanto à linha do Porto Santo, o que é ilógico, visto ter havido uma concessão, e bem, para essa rota, já que, penso eu, o movimento de passageiros é sazonal e interessava assegurar um serviço de transporte marítimo regular para essa ilha que uma concorrência aberta não possibilitaria. Premente, quanto a mim, é a necessidade de reequacionar o problema dos custos das operações portuárias no Caniçal e, já agora, o transporte de mercadorias, desde esse porto até aos diversos portos da Região. O modelo de exploração que está a ser utilizado e as taxas de serviço em vigor devem ser repensados, com o fim de se adoptarem as medidas necessárias à melhoria da economia regional. As ligações marítimas estão, como se sabe, liberalizadas há anos, mas não há grande efeito prático disso, porque não existe concorrência significativa entre as cinco empresas que prestam esse serviço. A rentabilidade da exploração é difícil, já que os navios regressam vazios à procedência. Então, que se reequacione também esse problema e, porque os custos de insularidade devem ser suportados pelo Estado, procure-se que este comparticipe os custos de transporte marítimo (de cargas e passageiros), tal qual paga um subsídio de mobilidade nas viagens aéreas. A reposição de uma linha de passageiros ente o Continente e a Madeira, ao fim de trinta anos, é qualquer coisa de assinalável. É um facto acarinhado por muita gente. Ainda por cima, ela possibilita a redução dos custos de transporte de alguns produtos de Portimão para o Funchal e vice-versa, o que é muito desejável prosseguir. Talvez os armadores dos navios porta-contentores que servem esta Região deveriam estudar a viabilidade de criar um serviço idêntico ao do “ferry” espanhol, que contemplasse outra região do Continente Português, os Açores e as Canárias. Não sou especialista nestas matérias, mas estou somente a veicular uma opinião que se vai constatando por aí. Estão já feitos estudos de viabilidade económica dessa hipótese? Já agora, será possível a esses armadores avançar com serviços de transporte de cargas pelo Mediterrâneo e até pelo Norte da Europa? Haverá a possibilidade de retirar algum desse negócio, aos nossos parceiros Europeus?


opinião

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

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ROSAS E ESPINHOS DA NOVA AUTONOMIA GREGÓRIO GOUVEIA

Governo Regional e as obras de calendário eleitoral

www.tribunadamadeira.pt

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“Os membros do Governo Regional devem estar todos no mesmo barco, sujeitos às orientações políticas e partidárias globais”. Da intervenção de Jaime Ramos no IV Congresso do PSD-M, 06/11/1983.

larem os olhos e, ao mesmo tempo, servissem para programar inaugurações ao ritmo dos actos eleitorais. Por isto é que as obras foram executadas de dia e de noite, aos Domingos e feriados, sempre a correr porque o dia da inauguração estava prestes a chegar, e o dono da obra tinha de Da teoria financeira ressaltam as cumprir o périplo à volta da ilha. Traopções políticas quanto à natureza balhos a mais não faltaram, cansaço das despesas em que são aplicadas as dos trabalhadores a rodos, sem desverbas recebidas. canso para fazer tudo à pressa porque A autonomia da Madeira determi- o “Senhor” ia chegar! na isso mesmo: coube e cabe ao ExeResultado: obras e mais obras, cutivo regional ter as opções, onde muitas obras, cujo custo foi muito aplicou, aplica e aplicará o dinheiro superior ao que seria se o ritmo fosse que entra no Orçamento regional e normal. no Orçamento do Centro Regional de É difícil calcular, mas provavelSegurança Social, cujas fontes finan- mente as obras teriam custado, no ciadoras foram e são os impostos mínimo, mais 30 por cento. Foi um pagos pelos madeirenses, as trans- sugar de fundos financeiros. Houve ferências do Orçamento do Estado muito trabalho, mesmo muito. Agora, e da Segurança Social, bem como as as empresas despediram trabalhaverbas transferidas da União Euro- dores porque as obras (as grandes) peia (dos Fundos Estruturais e das estão a findar. Ainda assim, hoje, Iniciativas Comunitárias). o Governo Regional planeia túneis excedentários para haver trabalho! É bom ter em conta que, desde o ano de 1977 (o primeiro ano em que Quem lucrou com o boom deseno Orçamento foi da Região Autóno- freado de obras públicas foi o grupo ma e não da Junta Geral) até 2008, do PSD-M que tem como actividade os diversos Governos regionais tive- principal os subsectores da construram à sua disposição cerca de 3.733 ção. Grupo que tentou, a todo o custo, milhões de contos de receitas (falan- controlar os Secretários Regionais do do da moeda antiga e sem ter em con- Equipamento Social, como revelam ta as receitas do Centro de Segurança as declarações de Jaime Ramos, proSocial, que é um mundo à parte do feridas há 26 anos, acima transcritas. Orçamento Regional). Na altura, o Secretário do Equipamento Social era o Eng. Caldas de As tais opções políticas levaram a Oliveira, que foi bastante criticado que fossem aplicados em Investimen- por Jaime Ramos. Daquelas críticas to, nos diferentes sectores, apenas resultou que, poucos dias depois, Cal1.106 milhões de contos, correspon- das de Oliveira colocou o seu lugar à dendo a 29,6 por cento do total rece- disposição do Presidente do Governo bido. que não aceitou o pedido. Só que, Mas também fizeram parte das no executivo saído das eleições de mesmas opções políticas o Gover- Outubro de 1984, o Engº Caldas de no Regional atribuir, desde 1978 até Oliveira não fez parte do Executivo. 2006, cerca de 363 milhões de contos No fundo, há sempre influências que em subsídios (9,7 por cento do total acabam por nortear a escolha dos das receitas já referidas) para os mais governantes… requintados paladares políticos. Não foi por mero acaso que o líder Falta calcular a repartição, por sec- do PSD-M, num discurso no VII Contores, dos 1.106 milhões de contos gresso Regional, realizado nos dias 14 aplicados no Investimento público, e15/12/1991, afirmou: sem contar as obras que ainda não “Queria ainda saudar o «bulldoestão pagas. Mas pela imagem que, zer» da nossa bancada parlamentar, ao longo dos anos, foi dando o Plano Jaime Ramos. Podemos ser diferende Investimentos Regionais, a fatia tes mas sou totalmente solidário com de leão foi para a construção de obras ele”. públicas, com prevalência da rede viária. Ou seja, para obras públicas que Antão hôme nan é assim que fundessem para os madeirenses arrega- ciona?


opinião

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linha a baixo… RICARDO FREITAS

ANTÓNIO JORGE PINTO

Dirigente sindical

Convergências num jogo de espelhos Para um qualquer cidadão que ande algo distraído da vida política, mas que por esteja interessado em compreender os conteúdos das propostas políticas, que lhe são apresentadas e deseje reflectir sobre os respectivos argumentos, surpreender-se-á, provávelmente, ao constatar que o discurso económico do PSD Nacional, é na sua essência, curiosamente idêntico ao produzido pelo PS-Madeira.(ou vice-versa) Cuidado com o investimento público..., com os limites de endividamento (Nacional/Regional)..., Diminuição de impostos..., novo modelo económico...,e poderíamos continuar por muitas das propostas (ou ausência delas) que retrataríamos bem o comportamento e a atitude política destes dois ramos de partidos políticos, distintos e concorrentes, candidatos naturais ao exercício alternativo do poder e que por circunstâncias várias se encontram no momento na oposição. (um a nível nacional e outro a nível regional). A convergência, estou convicto, é acima de tudo, produto de uma imaginação pobre, de uma falta de coerência ideológica e em especial fruto de uma necessidade de dizer algo diferente do poder actual. Será que assim se credebiliza um qualquer projecto? Creio que não, mas parece existir uma grande dificuldade em concordar com aquilo (as políticas) que é necessário, quando se presume o risco da perda de votos ou se imagina tal, por não ser as políticas que o povo num certo momento, ou algumas corporações desejariam de ouvir. Será que o PS/ Madeira passou para a direita liberal a julgar pela suas propostas de política económica ou será que quando na oposição os partidos esquecem a cartilha económica social e apresentam sempre é o oposto das propostas do Governo? Curiosamente mais próximos estão o Governo da República (PS de Sócrates) e Governo Regional da Madeira (PSD de Alberto João), o entendimento em matéria de plano económico é coincidente, só divergem quanto ao papel principal reservado aos seus protagonistas e em razão do seu estilo próprio. Neste jogo de espelhos e de muitos reflexos, o cidadão definha no processo de escolha. Ainda neste jogo de espelhos, o cidadão é agora mimado com outro reflexo, muito propagado pela comunicação social, (já falei várias vezes da força deste poder sem controlo de qualidade) sem que a objectividade seja a norma. A suspeita em torno de José Sócrates. Um conjunto de interesses, de ori-

gem desconhecida, aparentando uma sucessão de coincidências, vão divulgando ditos segredos de justiça, que de uma estranha forma nos arrastam para uma insidiosa campanha negra que visa atacar o bom nome do Primeiro Ministro e Secretário Geral do PS. Sem que pelo menos até à data, exista qualquer facto que o torne suspeito de algo menos próprio a propaganda difamatória abunda e parece evidente para qualquer pessoa de bem, que não existe o mesmo empenho em tornar transparente a seriedade e lisura do citado, e defender aquilo que qualquer de nós deveríamos reclamar que é o direito à presunção de inocência. Mesmo com declarações esclarecedoras de quem de direito como foram as produzidas pela Procuradoria Geral da República e em particular pela Procuradora Geral Adjunta, Cândida Almeida, o ambiente não mudou. Será que isso é aceitável? A única entidade abalizada em esclarecer os factos, informa e esclarece e parece que ninguém ouviu nada. Recordo que o estilo de Sócrates é por vezes confundido com arrogância, com uma convicção, à Mourinho e uma auto-estima do tamanho do Ronaldo, o que irrita muita gente, mas quer queiramos quer não este primeiro ministro é o melhor primeiro ministro que tivemos até hoje. Numa situação de crise como aquela que atravessamos é com gente de fibra, como José Sócrates, que podemos esperar ultrapassar as dificuldades com que nos defrontamos. Ninguém como ele tem passado por uma sucessão de calunias. Ninguém está acima da Lei, mas deveria ao menos estar protegido do boato e da difamação. Nem sempre Sócrates é politicamente correcto, por vezes erra. Lembro-me, como exemplo, o último debate parlamentar onde atacou, o Senhor Guilherme Silva, por declarações por este produzidas na qualidade de Vice-Presidente da Assembleia da República e que seriam contraditórias face ao PSD. Errou. A conduta política de Guilherme Silva foi irrepreensível e o José Sócrates deveria ter pedido desculpa, tanto mais que José Sócrates reclamava nesse debate, uma desculpa por parte do PSD face acusações infundadas sobre o controlo dos media. Teria ganho mais apresentando as desculpas e dado um bom exemplo ao país. Mas não merece o tratamento a que está a ser alvo. No Jogo de espelhos, não pode valer tudo e acima de tudo ainda que distraídos nós cidadãos não somos tão ignorantes.

“Ensinar” por decreto o que devia vir do berço As pessoas tendem a reagir de forma negativa mesmo sabendo que não têm razão. É uma questão cultural, mas essencialmente um problema de civismo e educação. A CMF decidiu – e do meu ponto de vista bem - “limpar” a pequena mas simbólica Praça do Município dos carros que a enchiam literalmente aos domingos. As reacções de algumas pessoas são reveladoras de como há uma longa estrada por construir em relação ao que deve ser um comportamento individual responsável para uma vivência democrática colectiva. Estacionar na Praça do Município é, como todos sabemos, uma violação grosseira do Código de Estrada, que só vinha a ser tolerada – e mal pela PSP, que nisso de subir passeios e estacionar não perdoa nada a ninguém – pelo facto de os ocupantes dos veículos irem supostamente assistir à missa na igreja do Colégio. A tolerância seria porventura aceitável se não existissem outras alternativas ao estacionamento na Praça. Todos os funchalenses sabem que aos domingos não há cobrança nos parquímetros (logo, a primeira opção) e que a maioria dos parques de estacionamento (Anadia, Dolce Vita, Edifício 2000 e Almirante Reis) praticam tarifas promocionais. Portanto, o que estava a acontecer ali todos os domingos, é um velho e desadequado hábito madeirense de querer levar o carro para onde vai, no caso concreto até dentro da igreja. O que até é uma contradição para quem se assume católico praticante. A missa não é apenas um momento de fé, de encontro com Deus, mas é também uma reflexão sobre a nossa condição humana – “eu” só sou “eu” se souber reconhecer os “outros”. E desse ponto de vista, uma das coisas que os próprios católicos aprendem desde muito cedo é “respeitar o próximo como a nós mesmo”, o que pressupõe não soltar palavras raivosas contra quem decidiu acabar com uma enorme falta de respeito para com todos os funchalenses e repor a lei em relação à proibição de estacionar na Praça.

Claro que esta “pequena” questão não é nada se compararmos com a grandeza dos problemas regionais e globais que nos afectam, mas é um sinal muito emblemático, esse sim preocupante, do muito que nos falta fazer e percorrer em matéria de cidadania e educação – para então sermos um “povo superior”. Aliás, atitudes deste jaez não surgem isoladas, são antes o resultado de mensagens assentes em linguagens brejeiras, agressivas e destituídas de quaisquer valores que todos os dias são passadas para a opinião pública, para as famílias e jovens por altos representantes das classes políticas dominantes. Outro exemplo, que por mim já foi descrito inúmeras vezes e que heide continuar a fazê-lo sempre que se aprouver, porque também significativo da falta de educação: pegou moda alguns pais transformar as passadeiras em estacionamento para deixar os filhos nas escolas. A “operação” não revela apenas falta de educação e abuso, como nos deixa a pensar no que andam aqueles pais a ensinar aos filhos em matéria de valores e cidadania. É tudo feito com insolência. Esses pais-condutores chegam-se à passadeira, não há ninguém para passar mas param, alguns acendem os quatro piscas, a criança(s) ou adolescente(s) sai, fecha a porta do carro, dirige-se para a parte da frente, atravessa sobre a passadeira e só depois disto tudo é que o papá “liberta” o funil de trânsito que ele entretanto causou, depois arranca acelerado, põe-se a milhas com toda a naturalidade, como se aquela atitude não merecesse qualquer reprovação social ou policial. Não tenhamos dúvidas: com este nível de ensinamento e transmissão de valores aos filhos, é de prever que as crianças ensinadas neste ambiente sejam os futuros “ocupantes” da Praça do Município, as quais tenderão a achar “normal” a violação das regras mais elementares de respeito e convivência cívica. Depois obrigam a impor por decreto o que não trazem do berço.

Não é um problema regional grave, mas é muito emblemático daquilo que somos e do muito que nos falta fazer e percorrer para atingirmos a tal condição de “povo superior”


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semana em revista

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Segunda - 9 de Fevereiro

Frase do dia - “O que está a puxar o PSD para baixo – mostram as sondagens – é a imagem da líder”, Marcelo Rebelo de Sousa, comentador político, referindo-se a Manuela Ferreira Leite l O governo francês vai emprestar 3 mil milhões de euros a cada um dos dois principais construtores de automóveis do país, Renault e PSA PeugeotCitröen, no âmbito de um plano de ajuda ao sector. l A Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, que prevê a introdução da carta por pontos, novos sinais, aumento de radares e alterações aos exames de condução, esteve em discussão na Assembleia da República. l O Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) retoma a discussão sobre a proposta do advogado e vogal João Correia para que seja averiguada a forma e o “timing” como foi feita a investigação do “caso Freeport”. l O ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, confirmou a morte do refém polaco no Paquistão e a autencidade do vídeo que mostra a decapitação pelos talibãs. l As autoridades iemenitas decidiram libertar

176 reclusos suspeitos de ligação à Al-Qaeda e 95 saíram já dos estabelecimentos prisionais, informaram os serviços de segurança, sem dar mais explicações. l A ministra da Defesa de Madagascar, Cécile Manorohanta, anunciou a sua demissão, depois da repressão de uma manifestação, sábado, por guardas presidenciais, que resultou na morte de 28 pessoas, segundo um comunicado. l Um último balanço dos incêndios no sul da Austrália dá conta de 130 mortos. O número de vítimas mortais continua a crescer, naquela que é a maior tragédia de sempre deste género no país. O sudeste montanhoso de Melbourne está transformado num “inferno”, relatou à SIC Notícias um português atingido pela tragédia. l Pelo menos 17 pessoas foram mortas no Sri Lanka e 45 ficaram feridas num atentado suicida cometido por uma mulher contra um campo de refugiados tamil, na zona de

guerra do norte do país, informou o ministério da Defesa. l Uma carrinha armadilhada explodiu na região do Campo das Nações, em Madrid, sem provocar vítimas, depois de ter sido lançado um aviso em nome da organização terrorista ETA, confirmaram fontes policiais.

tamento ser responsável por 27 mil mortes acidentais e dez mil suicídios todos os anos na Europa. l Os 11 distritos mais a norte de Portugal continental estão com aviso devido à previsão de vento forte e chuva, segundo o Instituto de Meteorologia

l A construtora automóvel Nissan anunciou que vai despedir 20 mil trabalhadores entre Abril de 2009 e Março de 2010, para restaurar a sua rentabilidade fortemente afectada pela crise mundial.

l As taxas Euribor, praticadas pelos bancos nos empréstimos de dinheiro entre si, continuaram a cair, situando-se no mínimo em quase cinco anos, de acordo com a Federação Europeia dos Bancos.

l Uma proteína produzida por uma parte do córtex cerebral tem “poderosos” efeitos em ratinhos com Alzheimer. Para os cientistas norte-americanos que conduziram esta investigação, estamos perante uma nova abordagem de tratamento da doença.

l A Bolsa de Valores de Tóquio fechou a sessão com uma perda de 107,59 pontos (1,33 por cento) no índice Nikkei, que se situou nos 7.969,03 pontos.

l O consumo de várias doses de bebida numa única ocasião (binge drinking) preocupa especialistas que alertam para o facto de este compor-

l O Produto Interno Bruto (PIB) francês deverá cair 0,6 por cento no primeiro trimestre deste ano, no que será o segundo trimestral consecutivo indiciando o início de uma recessão há muito esperada, de acordo com estimativas divulgadas.

Breves Regionais l A secretária regional do Turismo e Transportes, Conceição Estudante, esteve presente no 30º aniversário do Restaurante Típico “O Madeirense”, em Lisboa. l O Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, IP marcou presença na Feira SISAB – Salão Internacional do Vinho, Pescado e do Agro-Alimentar, com o intuito de promover o Vinho Madeira. l A CDU/Madeira promoveu uma iniciativa política para abordar os problemas de poluição ambiental gerados pela actividade da Central Térmica da Vitória, e as situações de incumprimento dos normativos ambientais naquela infraestrutura do sector público da RAM.

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Foi lançada, no mercado regional, uma gama de perfumes para homem inspirada no Vinho Madeira.


semana em revista

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

l Realizou-se uma conferência para abordar as razões da anunciada greve geral dos trabalhadores da empresa “Lusomecânica Canicence, SA.”, que foi cancelada pelo facto de a empresa ter pago dois dos quatro salário9s em atraso e se comprometer de pagar o restante em falta aos trabalhadores. l Foi inaugurado o caminho agrícola de acesso à Achada dos Judeus, na Freguesia e Concelho de São Vicente. A obra, da responsabilidade da autarquia de S. Vicente, tem uma extensão de 560 metros. l O Partido da Nova Democracia realizou uma acção política junto das Urgências do Centro Hospitalar do Funchal. l Realizou-se o Debate Regional da RAM sobre alteração Estatutária e revisão da Carreira de Enfermagem.

Terça - 10 de Fevereiro

Frase do dia - “Já existia uma crise antes da actual crise económica e financeira”, José Sócrates. l Em ano e meio as queixas à linha alerta Internet Segura, criada para bloquear conteúdos e fazer a acusação criminal de quem os publica, deram origem a 46 inquéritos policiais relacionados com pornografia infantil. Os dados foram divulgados pela PJ no Dia Europeu da Internet Segura. l Seis troços de estradas em cinco distritos estiveram cortados devido à neve, inundação ou deslizamento de terras, segundo a Autoridade Nacional de Protecção Civil. l O pai do ex-primeiroministro António Guterres, Virgílio Dias Guterres, morreu aos 95 anos. l O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, anunciou a admissão, ao longo deste ano, de dois mil elementos para as forças de segurança e a distribuição de sete mil novas armas para a PSP e GNR. l A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, anunciou o lançamento do “Fórum Portugal de Verdade”, a realizar entre Fevereiro e Maio, com ses-

sões nas capitais de distrito sobre temas como empresas, saúde e desemprego.

va perante dezenas de milhares de pessoas reunidas para celebrar o aniversário do triunfo da Revolução Islâmica iraniana.

l Membros do corpo de manutenção da paz da União Europeia (EUFOR) na Sérvia fizeram buscas em casas de familiares do general bósnio sérvio Ratko Mladic. O militar é procurado por genocídio, crimes contra a humanidade e violação das leis da guerra.

l O Presidente francês, que efectuou uma visita surpresa ao Iraque, propôs ao Governo iraquiano uma “colaboração sem limites” para a reconstrução do país, nomeadamente nos domínios económico e da segurança.

l O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, acusou o Presidente Giorgio Napolitano de conivência com o que considera ser o homicídio de Eluana Englaro. A mulher estava em coma há 17 anos e morreu, segunda-feira, após três dias sem ser alimentada. O procedimento foi autorizado pelo tribunal, mas o Parlamento queria contrariá-lo através de um novo diploma sobre eutanásia.

l Dois soldados da NATO foram mortos e um ficou ferido na explosão de uma bomba, numa província do leste do Afeganistão, onde os militares das forças internacionais são essencialmente norte-americanos, segundo uma porta-voz do exército.

l O Presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou que o Irão está pronto para o diálogo com os Estados Unidos, mas que este deve ser baseado no respeito mútuo. Ahmadinejad discursa-

l A União dos Bancos Suíços (UBS), primeira instituição bancária suíça, anunciou ter perdido 19.697 milhões de francos suíços (13.045 milhões de euros) em 2008 e a supressão de mais 2.000 empregos. l A produção na construção e obras públicas desceu 3,8 por cento em Dezembro de 2008 face a igual período do ano

anterior, a mesma queda apresentada pelo emprego neste sector, divulgou o INE. l As taxas Euribor, praticadas pelos bancos nos empréstimos de dinheiro entre si, continuaram a cair, com a Euribor a três meses novamente abaixo dos 2 por cento, de acordo com a Federação Europeia dos Bancos. l A norte-americana Nike, ligada à venda de roupa e material desportivo, anunciou a eliminação de 4% dos seus postos de trabalho mundialmente, medida que deverá afectar cerca de 1400 pessoas. l O ministro das Finanças defendeu que o Estado tem legitimidade para impor “algumas condições” para evitar as remunerações consideradas elevadas dos gestores de bancos privados, caso o Governo seja chamado a executar as garantias bancárias postas à disposição. Teixeira dos Santos reafirmou ainda que o défice orçamental vai ser corrigido depois de ultrapassada a actual circunstância excepcional.

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Breves Regionais

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l A CDU/Madeira desenvolveu uma iniciativa política regional sobre a problemática do aumento do Custo de Vida.

Realizou-se, na Universidade da Madeira (UMa), a apresentação do XI Congresso IBERCOM, que se realiza em Abril de 2009, no Funchal.


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Quarta - 11 de Fevereiro

Frase do dia - “É preciso transparência no País, se não é impossível haver confiança”, Mário Soares. l No final da reunião do executivo municipal da Guarda, os três vereadores do PSD confirmaram que iriam enviar o relatório sobre projectos licenciados por Sócrates nos anos 80 para a Polícia Judiciária e para o Ministério Público por considerarem que o documento não apresenta “conclusões satisfatórias”. O presidente da Câmara (PS), por seu lado, recusa enviar o documento para a Inspecção-geral de Administração do Território por considerar que “está tudo esclarecido”. l O primeiro-ministro congratulou-se no Parlamento, com o esclarecimento da Igreja Católica de que não interferirá nas próximas eleições, penalizando alegadamente o PS, por causa da questão dos casamentos homossexuais. l O surto de leptospirose que tem estado a matar dezenas de vacas no Alto Alentejo tem riscos para a saúde pública. Também as pessoas podem contrair esta bactéria que está a atingir várias explorações agrícolas de Nisa, Castelo de Vide, Avis e Portalegre.

l O primeiro-ministro, José Sócrates, acusou o PSD de desenvolver uma campanha contra si, após ser questionado sobre a eventual actuação ilegal dos serviços de informações em relação aos magistrados que investigam o caso Freeport. l Um café foi assaltado duas vezes em dois dias, no Cacém, arredores de Lisboa. Os assaltantes entraram armados e ameaçaram o proprietário quando havia clientes no estabelecimento. l Um ano depois do atentado a Ramos Horta ainda não há cabal explicação para o atentado. O resultado dos exames balísticos ainda não bate certo, admite o procurador-geral da República de Timor-Leste, que anunciou mais testes e garantiu que a acusação será feita dentro do prazo legal, que termina a 4 de Março próximo. l O Ministério Público francês pediu penas de prisão efectiva de seis anos para cada um de dois alegados cabecilhas do tráfico de armas para Angola nos anos 1990, Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak, nas alegações finais do caso “Angolagate”.

l A Presidente do Chile, Michelle Bachelet, iniciou em Cuba uma visita de Estado, a primeira desde a de Salvador Allende há 37 anos, para aprofundar o “diálogo político” com o país. l A Lituânia vai iniciar conversações com os Estados Unidos para acolher prisioneiros de Guantanamo, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Vygaudas Usackas. l O dirigente do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, oposição), Morgan Tsvangirai, tomou posse como primeiro-ministro do Governo do Zimbabué, que dirigirá juntamente com o Presidente Robert Mugabe. l No debate quinzenal com o primeiro-ministro, o caso BPN foi novamente suscitado pelo PSD, PCP, BE e CDS-PP, que criticaram os montantes já injectados pelo Estado no banco. José Sócrates afirmou ser impossível a qualquer Estado impedir a recessão, considerando que o dever do Governo deve ser limitar as consequências da crise. l As negociações entre democratas e republicanos

do Congresso dos EUA ditaram que o plano de estímulo à economia deverá ser de 789 mil milhões de dólares (cerca de 610 mil milhões de euros). O Senado e a Câmara dos Representantes tinham aprovado planos com valores acima dos 800 mil milhões de dólares, mas a administração de Barack Obama deverá contar com um pouco menos para a estratégia de incentivos fiscais, investimentos em infra-estruturas e apoios sociais. l O número de despedimentos colectivos em Portugal subiu cerca 45% no ano passado. São mais de 3.300 trabalhadores despedidos num processo que é sempre complicado. De acordo com os dados da Direcção-geral do Emprego e das Relações de Trabalho, foram iniciados no ano passado 211 processos de despedimento colectivo, a maior parte no norte do país. l Há mais uma empresa têxtil em dificuldades. Desta vez é a Prafil, em Gouveia. Os trabalhadores têm salários em atraso e decidiram entrar em greve por tempo indeterminado.

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Breves Regionais l O PND foi à autarquia de Câmara de Lobos promover uma acção política. l No âmbito do Dia Mundial do Doente, o Bloco de Esquerda denunciou os preços praticados pela nova empresa de transporte de doentes, além de criticar as listas de espera para as cirurgias nalgumas especialidades e a “deficiente” resposta dada em algumas consultas. l A Câmara do Funchal assinou protocolos de apoio financeiro com as juntas de freguesia, através dos quais deu 1,5 milhões de euros. l João Cunha e Silva presidiu à sessão de apresentação de projectos de investigação e desenvolvimento tecnológico a serem realizados entre o Madeira Tecnopólo, o Programa Carnegie Mellon University – Human Computer Interaction e a Zon Multimédia. l O auditório do Museu de Electricidade acolheu a primeira das três conferências que fazem parte do ciclo de fóruns “Boas Práticas Artísticas na Madeira”, promovida pelo Gabinete Coordenador de Educação Artística. l O coordenador autárquico do PS abordou, em conferência de imprensa, o papel das autarquias na promoção e valorização das questões culturais. l O vereador da CDU na Câmara do Funchal insurgiuse contra o que disse serem as irregularidades do Plano de Urbanização Vilagiorgi e as suas implicações na cidade.

A autarquia de São Vicente assinou protocolos de cooperação com as instituições sócio-culturais e desportivas do concelho.


semana em revista

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

l O Grupo Parlamentar da CDU fez uma visita à Ponta do Sol para abordar com os produtores agrícolas a dimensão dos estragos e prejuízos reclamados no concelho. l O PND promoveu uma acção política junto das instalações da RTP/M. l O Conselho de Governo reuniu, sob a presidência de João Cunha e Silva. l O representante da República na Madeira recebeu uma delegação do CDS para analisar questões relacionadas com os poderes e competências legislativas das autonomias e as relações entre a Região e a República. l Miguel Albuquerque visitou o Centro Comunitário da Quinta Josefina para se inteirar dos projectos desenvolvidos pela entidade. Na ocasião foi apresentada ainda a criação de um Clube de Emprego para a freguesia de Santo António.

Quinta - 12 de Fevereiro

Frase do dia - “Estou a preparar uma visita a Israel, Terra Santa tanto para os cristãos como para os judeus”, Bento XVI. l As empresas que têm dívidas a receber das câmaras municipais deverão começar a receber os primeiros pagamentos de dívidas até Março, garantiu o Ministério das Finanças. l O Tribunal da Relação do Porto negou provimento a um recurso de Maria José Morgado relativo ao caso que envolve o FC Porto-E. Amadora, de 2003/04. O “caso da fruta”, como é conhecido, envolvia o FC Porto, Pinto da Costa e o árbitro Jacinto Paixão, entre outros. l A produção industrial registou em Dezembro uma quebra recorde na Zona Euro, recuando 2,6% face a Novembro e 12% face a igual mês do ano anterior, segundo os dados publicados pelo Eurostat. l Os líderes do Likud, Benjamin Netanyahu, e do Kadi-

ma, Tzipi Livni, aceleraram os contactos para conseguirem ser convocados pelo chefe de Estado para formar Governo, à espera dos resultados oficiais das eleições. l A polícia australiana deteve duas pessoas por suspeita de fogo posto. As autoridades já tinham anunciado a criação de uma unidade especial para investigar alegados incendiários. O último balanço é de 181 mortos e mais de cinco mil desalojados. l Uma réplica de magnitude 6,3 foi registada após o sismo de magnitude 7,2 que atingiu a ponta nordeste da ilha indonésia de Sulawesi, próximo das Filipinas, anunciou o instituto norte-americano de geofísica. l Portugal é um dos sete países europeus que aumentou a área de cultivo de produtos geneticamente modificados em

2008, num ano em que as culturas destes alimentos representam cerca de 125 milhões de hectares em todo o mundo. A informação faz parte do relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Biotecnologia Agrícola. l O governador da Saxónia, Stanislav Tillich, disse à televisão pública alemã ZDF que “há de facto um interessado” na aquisição da Qimonda, e que já foi elaborado um plano para salvar a empresa. l O director da PJ admitiu que os 129 casos de tráfico de seres humanos detectados nos últimos cinco anos em Portugal são inferiores à realidade. Almeida Rodrigues sublinhou que é necessário olhar mais de perto para este problema. l José María Aznar foi despedido do conselho de assessoria de uma empresa britâ-

nica. Devido a cortes no orçamento, o fundo de gestão Centaurus Capital decidiu dispensar o antigo chefe do Governo espanhol. l Os atentados em Mumbai, na Índia, no final de Novembro, foram “em parte planeados no Paquistão”, admitiu, pela primeira vez, o ministro interino do Interior paquistanês, Rehman Malik. l Dois satélites de comunicação colidiram pela primeira vez em órbita, lançando grandes nuvens de detritos para o Espaço, anunciou hoje a NASA, sublinhando, porém, que o risco para a Estação Espacial Internacional é baixo. l A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima anunciou ter contabilizado nos seus atendimentos no ano passado 18.669 crimes, dos quais 90% referem-se a casos de violência doméstica.

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Breves Regionais

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A Universidade da Madeira assinou um protocolo de cooperação com a Associação de Andebol da Madeira. O objectivo é a formação dos quadros dirigentes, técnicos e de arbitragem da modalidade, para além da realização de investigação científica em vários campos.


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Sexta - 13 de Fevereiro

Frase do dia - “As instituições e as empresas têm de ter mecanismos adequados para lidar com o risco da ganância”, Fernando Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, l Quarenta e nove pessoas morreram, nos Estados Unidos, na queda de um avião, na localidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, perto da fronteira com o Canadá. A bordo iam 48 pessoas, 4 tripulantes e 44 passageiros. Morreram todos. O avião comercial despenhou-se sobre uma casa perto do aeroporto de Buffalo, provocando a morte de um dos 3 habitantes da casa. O aparelho ia de Newark, New Jersey, perto de Nova Iorque e procurava aterrar em Buffalo quando se despenhou a cerca de oito quilómetros da pista. Há informações não confirmadas de que duas pessoas teriam sido levadas para o hospital. Avião e casa incendiaramse após o choque, que ocorreu às 22:10 locais de quintafeira (03:10 de sexta-feira em Lisboa). Minutos antes da queda, o piloto terá comunicado problemas mecânicos, quando se aproximava do aeroporto de Buffalo. As famílias das vítimas estão já a ser acompanhadas por equipas especializadas, nos respectivos aeroportos de Nova Iorque e Buffalo. Até ao momento, não é conhecida a lista de passageiros deste voo e não se sabe se

havia portugueses a bordo. O relato de uma das testemunhas: “Eu estava no meu quarto, sossegado, quando ouvi um avião a aproximar-se, baixinho. Soava como se estivesse a voar baixinho. Ouvi sons parecidos com estalos. Olhei pela janela e o céu ficou iluminado, com chamas alaranjadas. Vi que as chamas subiam alto, no céu, desci as escadas e chamei os meus pais. Saímos e fomos até ao local da queda.” l A guerrilheira colombiana Elda Neyis Mosquera, conhecida por “Karina”, que se entregou às autoridades de Bogotá em Maio de 2008 foi condenada a 33 anos de prisão em Manizales, no centro oeste do país. l Milhares de armas de fogo e lança-granadas norteamericanas podem estar nas mãos dos talibãs devido à falta de controlo no Afeganistão, segundo um relatório apresentado a uma comissão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. l Uma mulher bomba matou 32 pessoas e feriu 84 quando se fez explodir numa das principais rotas de peregrinação xiita, a sul de Bagdade.

l Vinte e uma mulheres tiveram até ao momento reacções adversas à vacina do cancro colo do útero, em Portugal. Incluída recentemente no plano nacional de vacinação, a Gardasil já provocou efeitos secundários graves em 14 jovens. l A Microsoft, grupo de software norte-americano, comprometeu-se a pagar 250 mil dólares de recompensa a quem identificar os responsáveis por um vírus informático que tem afectado computadores por todo o mundo conhecido como Conficker ou Downadup. l A economia portuguesa recuou dois por cento no quarto trimestre de 2008, face aos três meses anteriores, completando dois trimestres de quedas, segundo dados dos Instituto Nacional de Estatística (INE), terminando o ano em recessão técnica. l A construtora automóvel japonesa Toyota anunciou que irá promover rescisões amigáveis com 18 mil trabalhadores das suas fábricas norte-americanas, reduzir a produção, eliminar bónus para executivos

para combater a pior crise do sector em décadas. l O grupo franco-holandês Air France/KLM anunciou que tenciona suprimir entre 1.000 a 1.200 postos de trabalho este ano, não fazendo admissões e não substituindo os que vão sair para a reforma. l O voo 273 da Southwest Airlines aterrou em segurança, em Las Vegas (EUA), depois de ter sido detectado um incêndio no motor direito, disseram fontes oficiais à BNO News. O avião transportava 118 pessoas e dirigia-se a Nova Iorque. l O procurador-geral da República (PGR) recebeu o presidente do Eurojust, organismo de cooperação judiciária europeia apontado como um dos elos de ligação entre investigadores britânicos e portugueses que tentam desvendar o “caso Freeport”. l O Benfica é o clube mais popular em Portugal, com 2,2 milhões de adeptos, segundo um estudo da SPORT+MARKT, que reduz a menos de metade o número de simpatizantes contabilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

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Imagem do dia

Breves Regionais l O Grupo Parlamentar da CDU foi ao Hospital dos Marmeleiros abordar os problemas da saúde e da exclusão social na Madeira. O Governo Regional perante a indicação de que os deputados da CDU planeavam esta iniciativa parlamentar, quis proibi-la. Neste âmbito, a CDU desenvolveu uma acção de protesto contra o impedimento do exercício dos direitos fiscalizadores dos deputados. l Foi apresentado o livro de educação patrimonial “Uma Viagem pela Madeira”, da autoria de Lígia Gonçalves, Nivalda Gomes e Zélia Encarnação. A obra insere-se no projecto “Brincar com o Património para Gente de Palmo e Meio”, apoiado pelo programa Juventude em Acção. l O Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários foi às instalações da Sociedade de Automóveis da Madeira divulgar alguns problemas relacionados com a situação da empresa. Segundo a entidade, a SAM está a violar o Contrato Colectivo de Trabalho do sector e o Código de Trabalho. l A Câmara de Santa Cruz assinou protocolos de cooperação financeira com entidades culturais e desportivas da Camacha. l A Secretaria do Turismo apresentou o programa das Festas do Carnaval.

Os alunos que concluíram o mestrado em Políticas Regionais da União Europeia receberam, na Câmara do Funchal, os diploxxe certificados. O curso foi organizado pela Casa da Europa da Madeira e leccionado pela Secção Departamental de Filosofia mas do Direito Moral e Política da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid.

l A Marinha realizou um exercício ao largo da cidade do Funchal para aumentar a coordenação e interoperabilidade das entidades envolvidas em acções de socorro, busca e salvamento marítimo costeiro.


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ART FORUM APRESENTA

EXPOSIÇÃO

DE FOTOGRAFIA

FRAGMENTOS FX ‘08 Filipa Freitas

“Stop for a moment and look around”. Esta frase traduz bem o objectivo da exposição: que os visitantes parem e apreciem as obras expostas, que percebam o conceito que a artista quer transmitir, a dualidade entre uma cidade moderna e as paisagens magníficas que o Funchal oferece. A não perder, no Forum Madeira.

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Emanuel Gomes alerta: é necessário criar mais emprego em Machico Embora admita que o contexto financeiro não é favorável, o autarca apela ao sector privado no sentido de investir e dinamizar a economia do concelho Apesar de tudo, o presidente da Câmara de Machico defende que, se for feita uma avaliação global, o concelho que lidera é o segundo pólo de desenvolvimento da Madeira. CARMEN VIEIRA cvieira@tribunadamadeira.pt

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ribuna – Que balanço faz deste mandato? E m a n u e l Gomes – Este mandato vem na sequência de um primeiro com a mesma equipa, que foi muito ambicioso em termos de resolução de muitos problemas que Machico – cidade e concelho – tinha. Tínhamos problemas ao nível de infra-estruturas básicas e por isso foi preciso fazer um vasto conjunto de obras, sobretudo ao nível rodoviário. No primeiro mandato fizeram-se a via rápida, a via expresso e várias estradas municipais que transfiguraram a realidade de Machico. Este trabalho manteve-se no actual mandato que é, no fundo, de continuidade. Não podemos fazer um corte entre o primeiro e o segundo. Neste momento temos muitas obras no terreno em várias áreas. Tribuna – Há quatro anos, no dia em que venceu as eleições autárquicas, disse que trabalharia no sentido de tornar Machico o segundo pólo de desenvolvimento da Madeira. Conseguiu concretizar esse objectivo? EG – Ainda não completamente, mas demos passos muito grandes nesse sentido. Machico é hoje o segundo pólo urbano mais desenvolvido da Madeira. Em termos de actividade económica, julgo que não. Com o crescimento dos dois concelhos limítro-

fes do Funchal – Câmara de Lobos e Santa Cruz – Machico ficou com dois adversários de peso. É preciso não esquecer que Machico tem ganho ultimamente grandes infra-estruturas, como o porto comercial do Caniçal e a Zona Franca Industrial, que trouxeram mais-valias no sentido de transformar o concelho no segundo grande pólo de desenvolvimento. Outra realidade que dinamizará muito a cidade de Machico é a nova praia de areia. Muito trabalho foi feito para tirar Machico da situação desagradável em que estava, aproximando-o dos concelhos de vanguarda da Região. Se fizermos uma avaliação global, podemos dizer que Machico é o segundo pólo de desenvolvimento da Madeira.

“Sector público já fez tudo o que era possível” Tribuna – O que falta fazer para dinamizar o desenvolvimento económico do concelho? EG – É necessário criar mais emprego. Machico desenvolveu-se muito ao nível das infra-estruturas, mas ainda precisamos de criar mais postos de trabalho nas mais

variadas áreas. Felizmente, o sector das pescas – que é importante no concelho – está mais ou menos estabilizado e o mesmo acontece com a Zona Franca Industrial. Preocupa-nos que com o enfraquecimento da construção, que absorvia muito trabalho, um sector da população tenha visto diminuído o seu emprego. São necessários, sobretudo, investimentos privados. Felizmente temos o resort da Quinta do Lorde, que está em estado avançado de construção, que empregará pelo menos 100 pessoas. O Governo e a Câmara já fizeram quase tudo o que era possível em prol da economia. Agora é preciso que o sector privado aproveite as condições que existem. Sabemos que, neste momento, o investimento em muito sectores está estagnado devido à crise financeira, mas temos consciência que Machico tem potencialidade para receber investimentos nas áreas do turismo, do comércio e dos serviços. São estes que queremos dinamizar. Tribuna – Também há quatro anos disse que tentaria ter mais voz junto do Governo Regional para conseguir mais obras para o concelho. Isso foi atingido? EG – Penso que Machico conseguiu do Governo Regional um apoio extraordinário

nos últimos anos. Inclusive é apontado várias vezes como tendo sido especialmente beneficiado. Discordo dessa ideia, penso que isso aconteceu para compensar o atraso ao qual o concelho tinha sido votado durante muitos anos. Temos tido uma voz muito activa junto do governo, que não tem de ser mediática. Discutimos os assuntos nos momentos apropriados e temos tido do governo uma enorme solidariedade manifestada em todas as áreas.

“Temos uma legislação de países ricos” Tribuna – As equipas autárquicas do PS queixavam-se da falta de apoio do governo em relação a Machico pelo facto de ser governado pelo PS. A actual solidariedade é consequência do facto de a Câmara ter passado a ser governada pelo PSD? EG – Facilita quando as pessoas são do mesmo partido e se entendem, mas não é obrigatório. O problema de Machico não era só a questão partidária. As câmaras do PS, de propósito, para alcançar objectivos políticos, “guerreavam” com o Governo Regional e essa não pode ser uma realidade quotidiana entre órgãos de administração.

Podemos criticar de vez em quando algo que não está bem, mas as equipas do PS tinham uma atitude muito pouco cordial com o governo e não conseguiam reunir o mínimo de consenso para estabelecer plataformas de entendimento para fazer obras. Para além de serem de partidos diferentes, as pessoas incompatibilizavam-se de forma muito radical. A Câmara do Porto Santo também foi do PS, mas não tinha esses problemas. Tribuna – Quais foram as principais dificuldades que encontrou nestes últimos quatro anos? EG – Para além das limitações financeiras, foi o problema da legislação autárquica que, em todos os sectores, é feita sem ter em conta a realidade. Uma coisa é o mundo legislativo, onde tudo parece perfeito, outra o mundo real, onde as coisas são totalmente diferentes. Muitas vezes a própria população não está preparada nem tem uma cultura de cumprimento da lei. Isso faz com que, sobretudo na área do urbanismo, tenhamos de entrar em conflito com as pessoas constantemente. Todos os dias somos confrontados com os interesses e problemas das pessoas, para os quais nem sempre há enquadramento legal. Em Portugal temos uma legislação de países ricos, onde todas as pessoas podem fazer uma casa apresentando 10 projectos de especialidade. Mas a uma pessoa que viva num morro com 60 degraus e precise de fazer um quarto isso não lhe é permitido pela lei. A legislação é muito complicada e, muitas vezes, causa-nos embaraços, obstáculos e confusões.

“Só vai para presidente de câmara quem é louco” Tribuna – O Governo Central tem sido apontado como o culpado de todas as dificuldades que as autarquias enfrentam. Isso corresponde à rea-


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lidade ou haverá problemas que já existiam antes? EG – O Governo Central estrangulou as câmaras com a Lei das Finanças Locais. Havia uma expectativa de crescimento das finanças locais, tendo em conta o aumento das receitas do Estado. Mas essas verbas foram desviadas para o Governo Central, não tendo sido dada às autarquias a oportunidade de acompanhar esse crescimento. O governo só permite um crescimento anual de 5% da receita que nos envia, o que é condenável. Impediu que algumas obras fossem mais rapidamente para o terreno porque criou dificuldades financeiras que ainda hoje se sentem. No caso de Machico, tivemos de recorrer à banca para executar um conjunto de obras que tínhamos previstas. Tribuna – Estas dificuldades tornam a actividade autárquica menos aliciante? EG – Com certeza. Os autarcas são profissionais de várias áreas – no meu caso a docência – e a compensação pela actividade autárquica não é muito grande, porque as diferenças entre

os salários das nossas profissões e os de autarca não são significativas. É preciso ter algum espírito de missão e ser um pouco embalado pelo ambiente político-partidário e por um conjunto de amigos que nos leva a abraçar este tipo de acções. Muitas pessoas dizem que só vai para presidente de câmara quem é louco. Há duas razões para isso: não se justifica em termos financeiros e dá um monte de chatices. Um exemplo são os processos em tribunal: agora há uma lei segundo a qual cada vez que cometemos um acto financeiro mal feito somos obrigados a reintegrar na câmara o dinheiro mal gasto e a pagar multas pesadíssimas, que deixam os autarcas totalmente abismados. Como se pode pedir a um autarca que ganha pouco mais de dois mil euros que pague multas de mais de dez mil? E tudo por ter dado despachos por falta de conhecimento ou por não ter sido bem informado. Estas leis, que funcionam como uma espécie de represália, são desgastantes. Parece que são feitas para afugentar as pessoas da vida autárquica. Tribuna – Este tipo de leis não poderá ter surgi-

do na sequência de casos de corrupção ao nível autárquico que têm ocorrido no país no sentido de os evitar? EG – Com certeza. Só que em Portugal é sempre assim: casa roubada, trancas à porta. As leis fazem-se em função de situações mediáticas. Se houver um caso de corrupção, parte-se do princípio que são todos corruptos e são feitas leis para que ninguém se possa mexer. Há, de facto, corrupção nas câmaras, como em todos os sectores, incluindo o privado. Os serviços do Estado sempre foram conhecidos por casos de favorecimento. Mas estas situações têm melhorado, as pessoas estão cada vez mais conscientes. Não se pode legislar para todos por causa de alguns. Isso dificulta muito a acção diária e atrasa as coisas. Temos uma lei criada há quase um ano para o lançamento de concursos públicos que até hoje poucas câmaras aplicaram devido à sua complexidade. De resto já foi alterada e será mudada outra vez. O nosso mal em Portugal é o exagero de pensar que é através da legislação que se resolvem os problemas de falta de honestidade, mas não é.

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Tribuna – Não poderá ser uma forma de ajudar os autarcas a lidar com a pressão a quem são sujeitos no dia-a-dia? EG – Se estivermos a falar da área urbanística, acredito que sim. Serve e serviu que as pessoas ficassem conscientes que existem leis que têm de ser cumpridas. Muitas vezes os investidores julgavam que tudo dependia dos autarcas e muitas vezes não compreendiam, e ainda hoje acontece, quando dizemos que não pode ser porque a lei não deixa. Muitos casos que aconteceram, com o tribunal pelo meio, ajudaram os autarcas a explicar aos investidores que devem estar em consonância com a lei. A introdução de regras ajuda a disciplinar, quer os autarcas, quer as pessoas que querem fazer obras. As intervenções judiciais também ajudaram a criar uma sensibilidade nesse sentido. Mas, por outro lado, caiu-se no exagero de por tudo e por nada haver queixas e embargos que, no fim, resultavam de alguma maldade ou desentendimento entre as pessoas. Também não se podem aproveitar algumas aberturas que a lei dá para prejudicar a economia. l PUB

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“Durante mais quatro anos poderia concluir este grande ciclo do concelho” Embora admita já ter “tempo suficiente de autarca”, Emanuel Gomes não esconde a vontade de se manter no cargo O presidente da Câmara de Machico alerta, contudo, que as dificuldades financeiras e legislativas que as autarquias enfrentam retiram alguma vontade. “É lógico que as pessoas se sintam pouco motivadas”, afirma. CARMEN VIEIRA cvieira@tribunadamadeira.pt

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ribuna – Nestes últimos quatro anos ficaram objectivos importantes por concretizar? Emanuel Gomes – Do que nos propusemos fazer, quase não temos nada por concretizar. Estamos inclusive a lançar uma obra que não fazia parte do programa, o cemitério do Caniçal, cuja urgência obrigou à sua construção. Temos várias obras em curso, sendo que algumas do Governo tiveram de ser adiadas pelas dificuldades financeiras da Região. Posso considerar-me um presidente feliz porque conseguimos durante estes dois mandatos fazer quase tudo o que era expectável em termos de investimentos públicos. Estou sempre ansioso para ver mais investimento privado e mais dinamismo comercial. Mas há situações que fogem ao controlo da Câmara. Criámos as infra-estruturas necessárias para dinamizar o concelho, mas isto depois ainda leva algum tempo, não acontece no imediato. Sentimos que há muitas melhorias, mas queremos ver Machico com mais gente a se fixar. Estamos preparados para acolher uma população maior. O concelho não cresceu muito em termos demográficos e gostávamos que

isso acontecesse para o dinamizar. Tribuna – Esses são os desafios para o futuro? EG – O futuro será criar as condições para atrair mais investimentos e mais população, embora isso não dependa só da Câmara. Da nossa parte, além de algumas obras que vamos continuar a fazer, apostaremos mais no ambiente: cuidar a paisagem e ter uma melhor recolha selectiva dos resíduos sólidos. Temos de apostar também na cultura, com mais actividades sobretudo na cultura erudita: temos uma extensão do Conservatório e temos dado condições para que os grupos exerçam a sua actividade com qualidade.

Revisão do PDM a bom ritmo Tribuna – Os protocolos assinados recentemente entre a Câmara e as entidades culturais contemplaram mais uma colectividade. Isso significa que as dificuldades financeiras conseguiram ser ultrapassadas ao nível cultural? EG – Mantivemos mais ou menos ao mesmo nível o valor dos subsídios atribuídos e estes foram dados a mais uma entidade, um novo grupo de dança de salão que tem feito um trabalho extraordiná-

rio, já que considerámos que este merecia ser apoiado. Sempre que surja um grupo que entendamos que tem qualidade e está a desenvolver uma boa actividade, será apoiado. Para além dos subsídios que atribui à cultura, a Câmara faz um esforço para desenvolver as suas próprias actividades nos diferentes espaços existentes. Na área da cultura gastamos algum dinheiro, que é sempre pouco. No desporto também fazemos um esforço, mas são sobretudo os clubes que desenvolvem as actividades nesta área. A Câmara apenas tem um programa para a terceira idade. Tribuna – Qual tem sido o acompanhamento feito às restantes freguesias do concelho, tendo em conta que a desertificação da Madeira rural tem sido várias vezes apontada como um problema? EG – Não temos esse problema no concelho de Machico, podendo talvez colocar apenas uma reticência no Porto da Cruz. Com as novas acessibilidades, os concelhos passaram a ficar muito mais homogéneos. Actualmente, em Machico tudo se faz em cinco minutos de uma ponta a outra. A via rápida atravessa três freguesias (Água de Pena, Machico e Caniçal), a via expresso vai para o Porto da Cruz e passa perto do Santo da Serra. Em termos do trabalho que foi desenvolvido pela Câmara não houve qualquer diferença entre Machico e as restantes freguesias. O Caniçal tem praticamente todos os equipamentos públicos que necessita, o mesmo acontece no Porto da Cruz. Água de Pena pode não ter tudo, mas isso acontece pelo facto de ficar muito perto de Machico. O Santo da Serra é mais pequeno, mas também tem os equipamentos necessários para a população. Tribuna – Qual é o ponto de situação relativamente ao processo de revisão do actual PDM? EG – Os serviços técnicos da Câmara fizeram o relató-

rio, cuja elaboração é um passo para iniciar o processo de revisão. O documento foi presente a discussão de Câmara, que o aprovou e autorizou o início do procedimento de revisão do PDM. O início de procedimento de revisão foi comunicado ao Governo Regional e já houve uma primeira reunião para a escolha da comissão de acompanhamento, que agora está a ser formada. Estamos também a fazer o concurso para a elaboração do PDM. A Câmara vai fazer uma proposta de revisão que será seguida pela comissão de acompanhamento, serão pedidos os pareceres necessários e depois virá a fase de discussão pública e a subsequente aprovação pela Câmara, pela Assembleia Municipal e pelo Governo Regional. Recentemente foi aprovada na Assembleia Legislativa da Madeira uma adaptação à Região da Lei do Ordenamento do Território. Também por isso todas as câmaras fizeram um compasso de espera para fazer a revisão do PDM já em conformidade com a adaptação à Região da referida lei nacional.

“Imagem dos autarcas é negativa” Tribuna – Tendo em conta as explicações que foram dadas para a necessidade de rever o PDM de Machico, não teria sido melhor, na sua opinião, que este processo tivesse sido antecipado? EG – Não, porque o prazo de revisão do PDM não pode ser antecipado para a data que queremos. A lei diz que o mesmo deve ter três anos e o nosso tinha pouco mais do que isso. Quando estávamos em condições de poder iniciar o processo apercebemonos que era melhor esperar pela nova legislação. Tribuna – Tendo em conta todas as dificuldades que referiu sobre a actividade autárquica, sente-se motivado para mais um mandato à fren-

te da Câmara de Machico? EG – Já manifestei a intenção de poder vir a ser o candidato, mas essa é uma questão que não depende apenas de mim. A Comissão Política do partido elege os candidatos, portanto vamos lá ver. Já tenho o tempo de autarca que considero suficiente, se não vier a ser o candidato acho que a minha missão já está cumprida. Mas penso que durante mais quatro anos poderia concluir este grande ciclo do concelho. Logo se verá. Tribuna – Em todo o caso, as dificuldades não o desmotivam? EG – Não me desmotivam completamente, mas pode acreditar que retiram alguma vontade. Perante as dificuldades financeiras e legislativas que as câmaras enfrentam actualmente, é lógico que as pessoas se sintam pouco motivadas. Qualquer pessoa fica apreensiva perante a possibilidade de poder vir a pagar multas por exercer as suas funções. Cada vez que os magistrados dão mal uma sentença podem depois ser obrigados a pagar indemnizações à vítima da mesma, mas têm um seguro. Essa ideia também poderia ser aplicada aos autarcas porque cada vez que tomamos uma decisão que mais tarde, por uma razão ou por outra, é contestada em tribunal, somos penalizados com uma multa. Quem vai querer ser autarca se não tiver uma protecção do seu ordenado? Pode-se alegar que os autarcas devem ter cuidado nos procedimentos que fazem. Mas a legislação existente é tão complexa que nem sequer com muito cuidado é possível evitar todas as situações. Concordo que é bom que estas se evitem e que as coisas sejam feitas conforme a legislação. Mas isto é complicado e cria dificuldades. Por outro lado, existe na opinião pública uma imagem muito negativa em relação aos autarcas. Esta situação também faz com que, aos poucos, muita gente se vá querendo afastar desta área. l


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Machico foi o primeiro na alternância pago a facturação do seu atrevimento, do seu direito à diferença…” Por esta razão, o PSD ganhou a Câmara de Machico, em Dezembro de 2001, não pelos seus candidatos, mas pela ameaça e pela chantagem. A população ficou perante o seguinte dilema: “ou uma câmara PS ou as obras do Governo Regional”. Venceu a chantagem. O PSD, com o dinheiro vindo da Europa e do Continente, lançou obras que havia atrasado nos mandatos do PS, mas que, na nossa opinião, deveriam ser realizadas se a câmara continuasse PS, como a Via Rápida Machico–Porto do Caniçal, as estradas obrigatórias de acesso à mesma ou o arranjo da Frente Mar. O PSD ainda beneficiou de vários projectos e obras lançadas pelas câmaras da Oposição, que não foram possíveis concretizar por atropelos diversos e limitações financeiras. Entretanto, esse movimen-

to diminuiu, pois, estando ganha a câmara de Machico, a única que faltava ao PSD, este baixou os braços. Se houvesse uma edilidade PS, tal obrigaria o Governo Regional a fazer mais acção. Mas feitas as obras, os resultados não são sustentáveis. E não são de agora, nem da crise presente, nem por culpa do Sócrates. Basta dar um exemplo: o PSD disse que o PS não queria investimento hoteleiro, e logo que chegasse ao poder, iam nascer hotéis por todo o lado do concelho. Passados oito anos, não há nem um aberto. Desde 2002, o desemprego subiu, fecharam estabelecimentos comerciais e empresas, os taxistas desesperam pela promessa de há 8 anos, para irem para o Aeroporto. No âmbito social, têm-se agravado a pobreza, a toxicodependência e a insegurança. A câmara lava as mãos e nada faz. Recentemente, o PS apresentou uma proposta para

haver um estudo social do concelho e o elencar de medidas para acudir a estas situações, mas o PSD rejeitou a ideia. Quanto ao urbanismo, vêse o próprio PSD (que aprovou o Plano Director Municipal, com o voto contra do PS) a cometer violações, o que já motivou vários processos e embargos judiciais. Às ordens do Funchal e do poder económico, o PSD está a transformar Machico num novo Caniço, permitindo a destruição do património, como sucedeu com a chaminé do antigo engenho. Em ternos de reivindicação, autonomia e defesa da terra, temos uma câmara como uma marionete nas mãos do Governo do Funchal. Machico perdeu força e presença no mapa regional e nacional. Os autarcas do PS na Câmara, na Assembleia Municipal e nas Assembleias de Freguesia têm contribuído para um concelho melhor, com inúmeras propostas válidas, sempre

rejeitadas pela maioria. Por seu turno, a Junta de Freguesia de Água de Pena (PS), presidida por Avelino Conceição, tem desempenhado um trabalho positivo em prol da população. O futuro pertence aos cidadãos de Machico. O PS está confiante num amadurecimento do seu pensamento, vendo-se uma cada vez maior consciência dos residentes de que a “revolução” prometida pelo PSD foi efémera e os resultados são insuficientes a nível económico-social. Cremos que, brevemente, será banida a forma chantagista de actuar do PSD, por ser o pior exemplo de democracia, ao limitar o direito à diferença e à autonomia de um povo. Machico foi o primeiro na alternância democrática. A esperança que tal voltará a acontecer é real. l Bernardo Martins, deputado do PS-M na Assembleia Regional PUB

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nquanto não conquistaram a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia de Machico, o PSD e o Governo Regional tiveram um comportamento escandaloso e discriminatório. A ordem foi a frase célebre do Presidente do Governo: “Nem um tostão para Machico!”. Denegriam a nossa terra, apelidando-a de “Marrocos”, “África” e “Terceiro Mundo”. Aliás, o actual Presidente da Câmara, Emanuel Gomes, agora PSD, e então, Presidente da Comissão Política do PSMachico e Vice-presidente da câmara socialista, fez a melhor declaração sobre esta verdade, num artigo publicado no “Jornal do PS-Madeira”, em Setembro de 1995: “(Há) uma terra, um povo, uma autarquia (que) é humilhada, maltratada, votada ao ostracismo por uma classe política de baixo nível (referia-se, obviamente, ao Presidente do Governo Regional) e por isso tem


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Coelho bravo

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Ex-deputado do PND garante guerra nas autárquicas José Manuel Coelho deixou a ALM, mas não abandonou a luta política. O polémico exdeputado do PND já começou a fazer o levantamento dos problemas em Câmara de Lobos, concelho pelo qual vai concorrer nas próximas eleições autárquicas. E segue uma linha de intervenção que dispara em vários sentidos. É um “revolucionário profissional” e não tem “nada a perder”. ricardo soares rsoares@tribunadamadeira.pt

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ntes deputado, agora desempregado, José Manuel Coelho ocupa a maior parte dos seus dias dedicado à “agricultura de subsistência”. Sempre foi operário da construção civil, mas as perspectivas de arranjar trabalho nesta área são “quase nulas”. A construção na Madeira está numa fase de “recessão” e o ex-deputado/pintor não tem grandes expectativas, mesmo estando inscrito no Instituto Regional de Emprego. “As obras fizeram-se demasiado rápido, com recurso ao pessoal da imigração. Construiu-se tudo com muita celeridade e agora o mercado entrou em colapso, atingiu um nível demasiado alto e estagnou. Isto é normal no sistema capitalista”, justifica o polémico ex-deputado do PND na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM). Desde que deixou as bancadas do hemiciclo madeirense, lidar com plantas e trabalhar na agricultura passaram a fazer parte da rotina. José

Manuel Coelho sente necessidade da “ligação magnética” à terra, é assim que ganha “estabilidade emocional e psicológica”, tal como a “objectividade e clareza mental” para continuar “a combater o regime jardinista”, Esteve na ALM durante oito meses. A seu pedido, foi substituído por Baltasar Aguiar que, no início deste ano, retomou o lugar no Parlamento madeirense. Coelho nunca sentiu que tivesse uma nova profissão. “Estive lá por acidente. Procurei, apenas, atendendo a que aquilo é um trabalho bem pago, fazer alguma coisa pelos meus conterrâneos”, garante.” Pedi para ser substituído para descansar. O meu trabalho na ALM foi muito desigual: eu contra os deputados da maioria e os próprios deputados da oposição. E quando a luta é desigual, causa grande desgaste psicológico. A pessoa tem que sair para recarregar baterias. Por altura das autárquicas já estarei completamente restabelecido.” Agora sem a visibilidade que lhe garantia a presença na ALM, Coelho está relegado para “um plano secundário”. Eram as acções espectaculares que suscitavam o interesse mediático sobre o deputado e o próprio PND. Agora aparece de vez em quando, em certas e determinadas acções políticas. As diferenças para o actual representante do PND no

hemiciclo são explicadas pelo próprio. “Baltasar Aguiar está a fazer um trabalho positivo, um pouco diferente daquele que eu tinha vindo a fazer. Ele é advogado, não pode ser muito voluntarioso ou terá à perna a Ordem dos Advogados. Basta existirem atitudes que considerem menos próprias para um advogado e são capazes de mover-lhe uma perseguição”, explica. “Eu não tenho nada a perder, a não ser o cão e umas avezinhas que eles podem penhorar. É evidente que, se eu tivesse uma família que dependesse dos meus bens, eu não podia fazer esta luta. Porque o sistema burguês é um rolo compressor que não resiste a esmagar os críticos com multas pesadas e indemnizações.” Voltar à ALM não é algo que ocupe o pensamento de José Manuel Coelho. Regressa se Baltasar Aguiar e o PND precisarem dos seus serviços. O ex-deputado assume-se como um “revolucionário profissional” que luta em várias frentes. E segue as palavras de Bertold Brecht, um dramaturgo e filósofo alemão contemporâneo de Adolf Hitler, o ditador nazi: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam um ano e são muito bons. Há homens que lutam vários anos e são excelentes. Mas há homens que lutam toda a vida e são imprescindíveis”, cita o antigo deputado. Coelho luta “sem-

pre”. A próxima guerra são as eleições autárquicas.

Jardim é “cópia” de Mao Tse Tung Ganhou visibilidade mediática, a maior parte das vezes devido a “acções espectaculares” que causaram celeuma no meio político regional e nacional. Hoje diz que recolhe os frutos desse trabalho, através do “reconhecimento” que as pessoas lhe manifestam na rua. Há madeirenses “imensamente satisfeitos” com as denúncias que tem feito aos “abusos do regime jardinista”. Inclusivamente, aponta, militantes e deputados do próprio PSD. “Há deputados que dentro da ALM têm medo do Jaime Ramos, mas cá fora dão-me o seu apoio”, afiança, preferindo não apontar identidades. “Não as posso pôr em causa. Não fazem parte do núcleo duro do PSD, são deputados eleitos pelos concelhos rurais. Não podem falar, porque depois são perseguidos. Aquilo é uma ditadura camuflada e eu até compreendo a situação.” José Manuel Coelho está afastado da ALM, mas não da vida política activa. As iniciativas partidárias ao serviço do PND continuam, o ex-deputado não dá tréguas ao “principal opositor”, o líder do PSD e presidente do Governo Regio-

nal (GR). A guerra contra um regime que “há 30 anos engana os madeirenses” é “titânica”. Coelho afiança mesmo que Alberto João Jardim é um “demagogo”, especialista em tácticas de “guerra psicológica” que pretendem apenas deixar o povo “mobilizado contra inimigos externos”. Técnicas que sabe “decalcadas de outras ditaduras”. O polémico ex-deputado do PND vê em Jardim uma “cópia” de Mao Tse Tung, o chamado «grande líder», igualmente antigo grande ditador chinês. “Ele [Mao] também tinha um inimigo externo, o imperialismo americano, e assim desviava as atenções dos problemas internos, das dificuldades económicas que os chineses sentiam. É um sistema que dá votos e funciona, porque a criação de um inimigo externo mantém o povo mobilizado. Tal como acontece na Madeira, onde Jardim culpa José Sócrates pelos insucessos do regime a que preside”, recorda José Manuel Coelho. “Não é uma táctica nova, tem acontecido nos últimos 30 anos.” Apesar de reconhecer o presidente do GR como especialista em “técnicas subversivas”, aprendidas na “acção psicológica” do serviço militar, Coelho também diz conhecer “algumas”. “Ele faz contra informação e vai enganando as pessoas com tácticas cientificamente estudadas e decalcadas de


“A palavra, quando bem aplicada, no momento certo, na hora certa, contra as pessoas certas, tem um efeito demolidor. Com estes processos, estão a dar-me argumentos para atacar o MP e os tribunais.” De acordo com José Manuel Coelho, não faltam casos de “dualidade de critérios” que exemplificam uma Justiça “vergada ao poder” e aos “grandes interesses económicos”. “A Polícia Judiciária prepara processos e investigações, canaliza para o MP e o que acontece? Arquivamento. O Tribunal Administrativo retirou o mandato autárquico a Carlos Pereira e ao arquitecto Vilhena por não terem apresentado atempadamente a sua declaração de rendimentos ao Tribunal de Contas. Mas a lei diz também que o desrespeito e violação do Plano Director Municipal faz perder os mandatos aos autarcas. Miguel Albuquerque foi afastado da Câmara do Funchal, ele que está fartíssimo de violar o PDM? O poder do dinheiro tem muita força e os tribunais vão sempre contra a parte mais fraca.”

Câmara de Lobos sem oposição Passado o desafio da ALM, Coelho prepara-se para nova batalha. Desta vez, as eleições autárquicas deste ano, onde vai concorrer por Câmara de Lobos. O ex-parlamentar do PND anda a conhecer o terreno e já fez um “levantamento” de diversos problemas. A caracterização do concelho é rápida e simples. De acordo com José Manuel Coelho, Câmara de Lobos destaca-se pela existência de “senhores que, aproveitando os cargos públicos que exercem, fazem os seus negócios”. “Compraram empresas falidas e transformaram em sociedades anónimas onde são accionistas. Acontece que as obras municipais e do GR são feitas por eles. Secaram a concorrência. As empresas pequenas que existem trabalham de subempreitada ou morrem. Há concorrência desleal e um aproveitamento de cargos públicos para enriquecer”, aponta. “A maioria das pessoas do concelho sabe, muitos comentam, só o MP desconhece. A corrupção é difícil de provar, mas não faltam sinais de enriquecimento do dia para a noite.” A campanha eleitoral ainda está longe de acontecer, mas o antigo deputado promete, desde já, que vai desmontar todas as ligações familiares

perigosas existentes no concelho. As denúncias serão feitas em tempo oportuno. Quanto mais não seja, porque não há quem o faça, uma vez que a oposição política no concelho é “inexistente”. “O polvo jardinista é tão forte que acabou com a oposição em Câmara de Lobos, diz José Manuel Coelho, apontando o dedo ao MPT, o “submarino amarelo de João Isidoro que “apenas pretende enfraquecer” o PS. “A oposição que existia foi comprada pelo regime. As pessoas estão indignadas, há muitas que estão dispostas a integrar a nossa lista e apoiar o PND.” Manifestadas as intenções, o agora candidato à autarquia camaralobense garante que, ao contrário de outros partidos, não anda “atrás de votos” . A meta principal a atingir nas próximas autárquicas é “passar a mensagem” e, no limite, eleger um vereador que possa denunciar os “vícios existentes” no concelho”. “O cidadão é soberano. Se quer continuar a ser enganado, deixa as coisas como estão. Se quer mudar para melhor, vai alterar este estado de coisas a pouco e pouco, mudando o seu sentido de voto”, salienta Coelho. O ex-deputado é natural de Gaula, no concelho de Santa Cruz. O facto de não ser natural do concelho pelo qual irá apresentar-se a eleições não é visto como uma desvantagem. “Nenhum profeta é acreditado na sua terra. Se eu concorresse em Santa Cruz, não tinha grandes hipóteses. As pessoas já têm ideias pré-concebidas, é mais difícil passar a mensagem”, justifica o candidato. A grande vantagem do PND, garante Coelho, é que faz o que os outros partidos da oposição “já não se não dão ao trabalho”. E o PND “cresce a olhos vistos”, porque não alinha pelo discurso dos “velhinhos e reformados” que, apesar de válido, não deixa de ser “sempre a mesma coisa”. “A oposição não combate a corrupção porque tem medo do sistema e de processos nos tribunais. Nós somos mais ousados. Quem se atreve a criticar o MP e os juízes feitos com o regime? Ninguém, nem o PCP”, assinala o ex-deputado. “Estão no Parlamento como oposição conveniente, que vive do regime, do «jackpot», caso contrário fecham as portas. E o líder do Governo fica assim com uma fachada democrática, tem oposição para legitimar os seus abusos e desmandos. Nós já provámos que não estamos ali pelo dinheiro.” l

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Mao Tse Tung. Eu, por outro lado, tento desmitificar e desmontar esses estratagemas de enganar os madeirenses.” Coelho deixou de usufruir de imunidade parlamentar, as denúncias e “acções espectaculares” que protagonizou ameaçam levá-lo aos tribunais. Mas os processos judiciais contra ele são algo a que o antigo deputado já se vai acostumando. Os mais recentes foram intentados pela juíza Joana Dias e Savino Correia, actual deputado do PSD e ex-presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz. “Eu apoiei os democratas de Gaula na distribuição de um jornal clandestino, que esteve na origem do afastamento de Savino Correia da autarquia. É claro que ele me tem ódio. A senhora - que eu não conheço - talvez por solidariedade, também fez queixa contra mim”, considera José Manuel Coelho, apontando para “perseguições”. “Fui condenado uma primeira vez e deixei de distribuir o referido panfleto, mas continuam a atribuir-me responsabilidades nessa matéria. Vão com as mesmas testemunhas, fazem a prova e sou sempre condenado. Estou a ser acusado e sucessivamente condenado por outras edições que foram feitas e eu já não distribui. A Constituição Portuguesa não permite que o cidadão seja julgado duas vezes pelo mesmo crime, mas eu já fui julgado cinco vezes, condenado em três e absolvido em duas.” São motivos suficientes para fazer o ex-deputado apontar o dedo aos tribunais e aos magistrados do Ministério Público. Considera que a Justiça não é independente na Madeira, que não passa de uma “muleta” do poder político regional. “Não são independentes como querem fazer parecer. São comissários políticos do PSD, apenas querem defender o regime, mais nada. Agora viram-se contra mim, para me perseguir. Não querem combater a corrupção e defender o Estado de Direito. Quem se opõe à ditadura jardinista, tem vários adversários: primeiro as pessoas do regime, que se aproveitam da ignorância dos madeirenses para fazerem os seus negócios e enriquecerem; depois o MP e os tribunais que os protegem; por último, alguma comunicação social subserviente e dominada.” Coelho não está preocupado com os processos judiciais. Tal como no 25 de Abril, quando ajudou a derrubar a ditadura de Salazar, está disposto a “pegar em armas”. Desta vez, as munições são a “palavra” e o “verbo”.

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Defeitos corrigidos Código do Trabalho é documento conseguido pela concertação O novo Código do Trabalho traz melhorias e garante maior participação dos trabalhadores. É a opinião de Ricardo Freitas, o representante do Sintap na Madeira. O documento foi promulgado por Cavaco Silva, mas continua a merecer resistência. A oposição ao Governo da República quer a fiscalização sucessiva pelo Tribunal Constitucional.

gação regional do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública (Sintap). De acordo com Ricardo Freitas, entre as mais-valias do novo código está o facto de não ser o documento desejado por uma qualquer estrutura sindical, isoladamente, mas o fruto de uma concertação bastante mais vasta. “Este código resulta do desejo em criar para o futuro a protecção de um modelo social. Este não é um código da UGT ou da CGTP, é um documento que corrige alguns defeitos do código anterior, mantendo garantias de participação aos trabalhadores que corriam o risco de desaparecer”, afiança o sindicalista.

Oposição e sindicatos resistem

ricardo soares

U

rsoares@tribunadamadeira.pt

m “melhoramento” em relação ao que até agora estava em vigor. É assim que Ricardo Freitas considera o novo Código do Trabalho, promulgado a 6 de Fevereiro

pelo Presidente da República. “Isso será demonstrado a partir do momento em que um conjunto de normas passem a ser aplicadas, concedendo aos trabalhadores

melhores condições de participação na negociação colectiva, assim como melhores disposições no combate à precariedade e ao trabalho ilegal”, sublinha o presidente da dele-

O novo Código do Trabalho foi promulgado por Cavaco Silva a 6 de Fevereiro. Entra em vigor cinco dias após a sua publicação em Diário da República. A decisão não agradou a organizações sindicais e partidos políticos da oposição na Assembleia da República (AR). A CGTP como o Bloco de Esquerda prometeram que, depois da lei entrar em vigor, iriam requerer ao Tribunal Constitucional (TC) uma nova apreciação do docu-

mento, desta vez na forma de fiscalização sucessiva. Também o PCP entrou na luta e tenta reunir o apoios para pedir a fiscalização do diploma promulgado por Cavaco. São necessários 10 por cento dos deputados (23) da AR para que o objectivo seja atingido. Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, considera que a nova lei é um “retrocesso social” delineado “ao arrepio das promessas eleitorais” do PS e do Governo da República. A ser considerada inconstitucional, será a terceira vez que o novo Código do Trabalho será remetido para a AR para nova apreciação parlamentar. Previsto entrar em vigor no início de Janeiro, o veto de Cavaco Silva à norma que previa um período experimental de 180 dias levou o documento para o TC, onde o artigo foi declarado inconstitucional. O TC alegou que a mesma representava uma “restrição acrescida” ao direito à segurança no emprego. Voltou à Assembleia da República, sendo novamente aprovado a 21 de Janeiro, com os votos da maioria socialista, mantendo os 90 dias de período experimental para a generalidade dos trabalhadores constantes do anterior Código do Trabalho. l

As principais mudanças Despedimentos À partida, tornam-se mais simples, porque são eliminados alguns passos do processo disciplinar, tornando-o mais rápido. O trabalhador, depois de notificado, passa a ter dois meses para contestar o despedimento em tribunal, através de requerimento, ficando as provas a cargo da empresa. A mudança é significativa, uma vez que, até agora, o prazo para impugnação era de um ano e exigia a entrega de uma acção pelo trabalhador, o que obrigava à constituição de advogado. O prazo continua a ser de seis meses no caso de despedimento colectivo, contados a partir da cessação do contrato. Outra alteração prende-se

com os erros processuais. Se provada a justa causa, perdem relevância e deixam de obrigar à reintegração do trabalhador. A simplificação dos despedimentos está, por enquanto, dependente da revisão do Código do Processo do Trabalho, ainda por concluir.

Polivalência A lei abre a porta à flexibilidade, desde que sejam respeitados alguns limites. Aumentos até às dez ou reduções para as seis horas de trabalho diárias podem ser acordadas entre a entidade empregadora e os trabalhadores. Outra novidade é o surgimento dos horários concen-

trados, que prevê aumentos até quatro horas diárias no horário de trabalho e concentração da semana em três ou quatro dias. Desde que acordadas previamente as situações aplicáveis, empresas continuam a poder transferir o trabalhador de local de trabalho e de funções. Sempre que seja do interesse da empresa – e isso não implique prejuízo sério para o trabalhador – a entidade patronal pode transferi-lo para outro local ou mudar as suas funções por um período máximo de seis meses.

Precariedade O novo Código do Trabalho prevê mais restrições aos

contratos a prazo e aos recibos verdes. O combate à precariedade é uma das alterações ao documento mais elogiadas. Este tipo de vínculos ficam restringidos apenas às situações previstas na lei, evitando o uso abusivo desta forma de contratação que saía mais barata às empresas. A lei vem apertar as condições em que se considera existir um contrato de trabalho e não mero trabalho independente. Os contratos a prazo passam a ter uma duração máxima de três anos e terão custos agravados ao nível das contribuições para a Segurança Social.

Apoio à parentalidade Mais tempo para a famí-

lia. Essa parece ter sido uma das intenções do Governo da República na alteração ao Código do Trabalho. O número de faltas justificadas do trabalhador é aumentado, assim como as situações em que isso pode acontecer. Após o nascimento de uma criança, os pais têm direito a uma licença parental inicial de cinco meses, pagos a 100%. Se houver partilha da licença, esta poderá estenderse até aos seis meses, mas reduzindo o vencimento a 83%. Podem usufruir de mais três meses de licença parental, se assim o decidirem, mas recebem apenas 25% da remuneração bruta.


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Denúncia é palavra de ordem

sociedade

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Concorrência desleal nos táxis são uma preocupação constante A crise é para todos, mas os taxistas estão especialmente preocupados. Os profissionais do sector queixamse de vários problemas, enquanto a associação da classe garante estar a trabalhar e com resultados visíveis. Mas a concorrência desleal, mesmo entre associados da AITRAM, parece não dar tréguas. Há licenças em vias de cancelamento. ricardo soares rsoares@tribunadamadeira.pt

N

ão têm faltado sinais de inconformismo entre os taxistas madeirenses. O cenário actual é de crise e os profissionais de táxi deixam transparecer os seus receios. O recurso a concentrações, marchas lentas e buzinões pelas ruas do Funchal, têm marcado os últimos meses. A associação que representa o sector não escapou a críticas durante uma concentração realizada na praia Formosa, em finais de Janeiro. “Estamos a trabalhar em prol de todos os motoristas de táxi, como sempre fizemos no passado, tentando conseguir avanços no desenvolvimento da nossa actividade”, garante António Loreto, presidente da Associação dos Industriais de Táxi da Região Autónoma da Madeira (AITRAM). “Não apoiamos manifestações de rua. Não é assim que resolvemos os nossos problemas e não é essa a política desta direcção. Até porque, após as manifestações de rua, temos sempre que reunir com as entidades com competência no nosso sector. Julgamos ser

um método mais eficaz.” O presidente da AITRAM rebate as críticas de “comodismo” e “medo de represálias”, lançadas recentemente à sua direcção. António Loreto apresenta “trabalho e empenho em prol dos taxistas”, que só não conhece “quem não participa na vida interna da associação”. “O mal de alguns dos nossos associados é que não estão presentes em momentos onde os problemas estão a ser discutidos. A AITRAM só funciona com os associados. Quando não participam, não sabem o que se está a passar” lamenta o responsável associativo. “Esta direcção não se reúne com partidos políticos, reúne com as entidades próprias que tutelam este sector”, afiança António Loreto. O presidente da AITRAM lembra que a resolução de alguns problemas que afligiam os taxistas não foram conseguidos com “concentrações e manifestações avulsas”. Quer no que respeita às paragens para os autocarros de turismo no porto do Funchal, quer as dificuldades colocadas à praça situada nas imediações de Centro Comercial Dolce Vita, as questões foram resolvidas com “negociação” junto da Câmara Municipal do Funchal e do promotor do empreendimento. A decisão de retirá-las foi tomada a 19 de Dezembro pela autarquia, depois de preocupações manifestadas pela AITRAM. O mesmo aconteceu com a

melhoria de condições para os taxistas, na praça situada nas imediações do centro comercial Dolce Vita, após negociações com o promotor do empreendimento. “São negociações que já têm alguns meses, não é trabalho feito num dia. As pessoas têm que se mentalizar que nada é feito de um momento para o outro, as coisas têm uma sequência, a cada reunião que temos segue-se a análise das propostas apresentadas. Nada é decidido espontâneamente”, assinala António Loreto. O presidente da AITRAM não tem dúvidas em afirmar que a resolução dos problemas dos taxistas, através do recurso aos locais próprios, tem feito com que os resultados estejam à vista. A concorrência desleal continua, no entanto, a ser bastante preocupante. “Temos vindo a intensificar os pedidos de fiscalização às entidades competentes, denunciando as irregularidades de que temos conhecimento. Mas é preciso apresentar provas, não podemos acusar sem estarmos munidos de documentação e dados concretos”, destaca o presidente da AITRAM. “Não podemos estar em todo o lado, dependemos da ajuda dos nossos associados. Acontece, muitas vezes, que às queixas apresentadas não se segue a disponibilidade dos próprios para serem testemunhas.” Apesar do mau momento económico e financeiro global, António Loreto não tem dúvidas de que ainda vale a pena ser taxista. É uma profissão que, tal como outras, passa por dificuldades, apanhada por uma crise para a qual “não estávamos preparados”. “Temos de arranjar formas de ultrapassá-la. Os táxis têm pouca actividade porque as pessoas não têm dinheiro, o turismo está em queda, os hotéis e os restaurantes têm menos clientes e não há pessoas em movimentação nas ruas”, salienta. Por agora, as grandes expectativas da AITRAM estão colocadas na negociação dos novos tarifários, iniciadas em Dezembro, com a Direcção Regional de Comércio, Indústria e Energia. As propostas estão em análise e os resultados devem ser conhecidos nas próximas semanas. l

Os casos… Resolvidos: Acabaram-se as confusões das paragens e angariação de clientes na via pública, feitas por autocarros de turismo, nas imediações do porto do Funchal. A autarquia tinha licenciado a actividade, mas seguiu os procedimentos legais e resolveu um problema que ameaçava o trânsito, os taxistas e o comércio na baixa funchalense. Foi uma questão que havia gerado protestos. Não é um caso resolvido, mas há boas perspectivas para os taxistas. A criação da Empresa de Serviço de Bombeiros (ESB) ameaçou tornar-se um rude golpe para a classe. Os serviços prestados no transporte de doentes chegaram a estar em causa, mas a AITRAM tem indicações das entidades competentes de que manterá o transporte de doentes não urgentes. É um serviço considerado essencial para os taxistas.

Por resolver: Concorrência de ex-taxistas, através de carros particulares, servindo-se de antigos contactos e angariação de clientes na via pública. As denúncias existem, mas há dificuldades em recolher provas. A fiscalização também actua, mas muitos infractores encontram formas de ludibriar a lei. Há denunciantes que optam por esquivar-se a conflitos, levando a dificuldades na recolha de provas. Há associados da própria AITRAM que fazem concorrência a colegas em diferentes concelhos daqueles para os quais estão licenciados. Existem, por exemplo, táxis do Curral das Freiras, do Porto Moniz, de Santana, de S. Vicente, da Ribeira Brava e do Porto Moniz a trabalharem no Funchal. As queixas têm chegado às autarquias, cujos departamentos jurídicos estão a estudar os casos. Algumas licenças estão em vias de cancelamento, uma vez que os profissionais envolvidos não cumprem a lei que regulamenta o sector. Acontece porque alguns profissionais vendem as licenças do Funchal para comprar outras em concelhos rurais, a preços inferiores, em total desrespeito pelas regras estabelecidas. A resolução do problema depende de provas das irregularidades. Não é um problema de resolução imediata. Os clientes solicitam serviços de táxi e algumas agências de viagem apresentam-lhes carrinhas. São casos que têm vindo a ser denunciados pela AITRAM e obrigaram a Secretaria Regional de Turismo e Transportes a actuar através de despacho que regulamenta a actividade. É considerado transporte ilegal. Todos os casos conhecidos têm sido acompanhados pela AITRAM e devidamente denunciados.


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“Aproveitamos cada minuto para estar com o Rodrigo” O desabafo é do pai do Rodrigo, o menino que precisa urgentemente de um transplante de medula óssea O Serviço de Imuno-hemoterapia do Hospital Central do Funchal já regista mais de 1000 colheitas de sangue. O Centro de Histocompatibilidade do Sul registava 705 inscritos e 400 convocados para fazer a inscrição nos próximos dias. É a resposta ao apelo para salvar a vida do bebé Rodrigo, com apenas sete meses de vida. SARA SILVINO

R

ssilvino@tribunadamadeira.pt

odrigo tem apenas sete meses e luta pela vida. Ao seu lado, os pais fazem tudo para conseguir salvá-lo. Uma mensagem via e-mail foi o passo para lançar o apelo para procurar um dador compatível para que o pequenito Rodrigo possa lutar contra a sua doença. Ás seis semanas de vida, foi diagnosticada ao Rodrigo uma leucemia linfoblástica aguda, uma doença oncológica comum nas crianças. O Rodrigo iniciou os tratamentos mas teve uma recaída e a leucemia voltou a atacar. A única solução é o transplante de medula óssea. O pai do Rodrigo, Pedro Sousa, disse ao Tribuna que, neste momento, o Rodrigo está a repousar de um tratamento que iniciou em Janeiro, com dois ciclos obrigatórios em que cada ciclo necessita de um descanso de quinze dias. Se houver estabilização, inicia em breve o segundo ciclo. Se houver uma

recaída, terá de avançar para o transplante. “É a única solução”, apontou o pai. O tempo escassa e ainda não há informação oficial de que tenha sido encontrado um dador potencial para salvar a vida deste bebé de sete meses de idade. Pedro Sousa explicou: “Por definição de protocolo nacional, a partir do momento em que há uma recaída obrigatoriamente avançam logo para o transplante. No caso do Rodrigo, a leucemia já deu provas de que pode voltar e, por isso, não vale a pena estarmos aqui a perder tempo.” Os pais do pequeno Rodrigo estão satisfeitos com a resposta das pessoas ao apelo feito. “Sinceramente, quando iniciei esta medida estava a pensar nas pessoas mais próximas, a família e os meus amigos que já vinham a acompanhar esta situação connosco desde Agosto passado quando foi detectada a doença”, disse. “A Internet também tem uma parte boa em que as pessoas vão passando a informação aos seus contactos, foram atestando a veracidade da informação que o mail inicial continha. Depois foi avançando e hoje os números já indicam alguma coisa”, adiantou. Pedro Sousa acredita que o dador compatível com o seu filho seja madeirense. “Para um doente madeirense que necessite de um transplante é muito mais fácil encontrar um dador compatível entre os madeirenses do que entre qualquer outra população”, disse. “Tínhamos uma escassez de dadores madeirenses na base de dados nacional e na internacional. Em 140.000 dadores portugueses termos cerca de 197 dadores madeirenses, era um número muito irrisório”, acrescentou ainda. Os pais do Rodrigo mostram-se muito satisfeitos com o apoio e o trabalho que os serviços regionais têm dedicado a esta causa. “O serviço de Histocompatibilidade começou a receber os questionários numa sexta-feira. E, na segunda-feira seguinte quando fomos fazer a nossa análise, ou seja, no passado dia

IPO - Instituto Português de Oncologia de Lisboa, local onde o pequeno Rodrigo está internado dois, o serviço já tinha as cartas todas prontas, tudo para começar a contactar os potencias dadores para começar a fazer as colheitas. Estiveram a trabalhar no fim-de-semana todo. O Serviço de Imuno-hemoterapia do HCF também tem feito todos os esforços”, apontou. O Serviço de Imuno-hemoterapia do Hospital Central do Funchal já regista mais de 1000 colheitas de sangue. A informação foi-nos dada, nesta quarta-feira, pela responsável pelo Banco de Sangue, Ana Mafalda. Segundo informação facultada pelo Centro de Histocompatibilidade do Sul, Registo Português de Dadores de Medula Óssea, em Lisboa, nesta quarta-feira, havia o registo de 705 inscritos e 400 convocados para fazer a inscrição nos próximos dias.

“A esperança dá-nos força” O tempo escassa e a realidade é crua. O Rodrigo precisa urgentemente do transplante de medula óssea para viver. Os pais desesperam e anseiam por uma resposta breve, para poderem continuar a ver o filho crescer.

O segredo: “É viver numa constante incógnita. É não saber o dia de amanhã como será”, revelou-nos o pai do Rodrigo. “Aqui no IPO (Instituto Português de Oncologia de Lisboa) há uma frase muito comum, e quer os médicos quer os enfermeiros diariamente a dizem, que é vamos viver um dia de cada vez. Porque este tipo de patologia é complicado, os doentes estão bem agora mas daqui a pouco podem não estar”, adiantou. Pedro Sousa acredita que onde há esperança, há uma solução. “Aproveitamos cada minuto que estamos com o Rodrigo, aproveitamos cada sorriso que ele nos dá, a boa disposição dele. É isso que vamos aproveitando o máximo possível. A esperança é o que nos vai mantendo com força para continuar. Porque, neste momento, o Rodrigo precisa muito de nós, do nosso apoio, do nosso sorriso. Temos de lhe transmitir que está tudo bem. É o melhor que podemos fazer. Muitas das vezes, é muito difícil esconder as emoções, mas temos de ser fortes”, afirmou. Porque este assunto aborda uma matéria que tem de ser transmitida ao máximo de pessoas possíveis, Pedro Sou-

sa aproveitou a ocasião para deixar a seguinte mensagem: “O que eu peço é que ajudem o Rodrigo. Penso que se houver um dador será mais fácil encontrá-lo dentro da população madeirense. Pedimos por isso que os madeirenses se juntem e continuem a demonstrar toda a sua solidariedade, que se inscrevam como dador de medula. Sei que a própria designação de transplante de medula causa algumas dúvidas nas pessoas, mas podem estar perfeitamente descansados porque o processo é muito simples. Hoje em dia, o processo não implica picadas, não implica qualquer tipo de dor nem de tratamento, é um processo simples e que pode salvar uma vida. Pode salvar a vida do Rodrigo e de muitos outros Rodrigos que, infelizmente, padecem desta doença.” Pedro Sousa realçou que, nos últimos dias, os rumores que surgiram de que terá sido encontrado um dador compatível com o seu filho não são certos. Oficialmente não foi encontrado ainda um dador compatível. O próprio pai disse-nos que ainda nem sabe se ele é compatível porque ainda não recebeu os resultados. l


sociedade

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

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“A leucemia na criança tem cerca de 80% de hipóteses de cura” A afirmação é da médica-pediatra Maria João Teixeira, responsável pelo tratamento de crianças com doença oncológica Esta especialista sublinha que o transplante de medula óssea não é doloroso e é feito sob anestesia. Após o transplante, os primeiros meses são decisivos para ver se houve rejeição da medula. Como tal, o paciente é isolado e rigorosamente vigiado. Se houver uma rejeição da medula, terá de ser procurado outro dador. SARA SILVINO

O

ssilvino@tribunadamadeira.pt

Tribuna falou com a médicapediatra Maria João Teixeira, responsável pelo tratamento de crianças com doença oncológica, no Hospital Central do Funchal (HCF) para saber alguns pormenores da leucemia linfoblástica aguda, a doença de que o pequeno Rodrigo padece. Maria João Teixeira começou por explicar: “A leucemia é uma doença que pode dar em crianças e em adultos. São as células sanguíneas malignas que invadem o tecido normal sanguíneo e deixa de haver células normais, passando a haver células anormais e isso é incompatível com a vida. É preciso fazer tratamento e um desses tratamentos é o transplante.” A médica salientou que, no caso do Rodrigo, os médicos optaram nesta fase por fazer o transplante. “É uma corrida contra o tempo”, disse. “Há hipóteses de cura nos leucemios, depende de vários factores, da agressividade da

Continuam as colheitas de sangue à procura do dador compatível com o Rodrigo doença e de outros factores de prognóstico. Na generalidade, a leucemia na criança tem cerca de 80% a 90% de hipóteses de cura. Há situações mais agressivas do que outras”, adiantou. “A leucemia a avançar para um transplante de medula são formas mais agressivas, porque geralmente fazem-se quimioterapia”, acrescentou ainda. Quanto ao transplante da medula óssea, esta médicapediatra afirma que não é doloroso. “Não é doloroso. É como se fosse uma transfusão de sangue. É a infusão de células da medula de um dador num organismo como se fosse uma sementeira. O transplante de medula é feito no bloco sob anestesia local”, afirmou a especialista. Após o transplante de medula óssea, é preciso controlar alguns pontos principais de modo a verificar se houve uma evolução. Maria João Teixeira explicou: “Os primeiros meses são decisivos de ver se o transplante pega, se não há remissão da doen-

ça, se a medula começa a produzir células normais e se não há rejeição. Estes são os pontos principais que se precisa de controlar.” Disse ainda: “É preciso aplicar medicação contra a rejeição e isso torna os doentes muito vulneráveis às infecções. Por isso, têm de ficar completamente isolados durante algum período até as células normais começarem a crescer.” Maria João Teixeira referiu que esta situação acontece de doente para doente. “Tem de ser visto no dia-a-dia o crescimento celular e a sua evolução. Pode ser mais rápido ou mais lento, dependendo da rejeição que possa aparecer ou não. Por isso, tentamos o dador o mais semelhante com o doente, no ponto de vista de compatibilidade de células gerais no organismo”, sublinhou. Maria João Teixeira disse que é preciso um número muito grande de dadores porque, às vezes, é muito difícil encontrar um dador compatível.

“Quanto mais dadores, mais hipóteses há de se encontrar um dador compatível. Estatisticamente, é preciso encontrar entre milhares de dadores um que seja compatível com o doente”, explicou. A médica-pediatra referiu que se após o transplante houver rejeição da medula terá de ser procurado outro dador. “Uma rejeição é sempre um problema grande, mas às vezes acontece.”

“Não custa nada” “Ana Maria”, nome fictício a pedido da nossa interlocutora, foi uma das muitas pessoas que já aderiram a este apelo para salvar o Rodrigo, inscrevendo-se para dadora de sangue. Disse-nos que foi a primeira vez que fez este tipo de colaboração, dar sangue para ajudar alguém. A razão porque Ana Maria decidiu aderir a esta causa é simples: “Coloquei-me no lugar de uma mãe e, como tal, faria todos os possíveis para tentar salvar o meu filho. Quem sabe, pode ser que consiga ajudar alguém para além do Rodrigo que também venha a necessitar de ajuda. E também achei que realmente não custa nada!”, explicou. Esta dadora afirmou que é fácil preencher a documentação para ajudar no caso do Rodrigo. “Apenas tive de responder a algumas questões relativamente aos meus antecedentes clínicos”, disse. l

O mail que começou a circular “Chamo a vossa atenção para um assunto delicado, por favor leiam este meu e-mail até ao fim!!!: O rodrigo, nasceu em julho de 2008, é filho dos meus amigos orvídia e pedro. um mês depois de nascer, foi detectado que o rodrigo possuia leucemia! foi o segundo caso detectado em todo o mundo com apenas um mês de vida. actualmente, e desde agosto 2008, o rodrigo encontra-se internado no Ipo, em lisboa, efectuou já várias sessões de “quimio”, recuperando parcialmente. no entanto, durante o natal, o rodrigo contraiu pneumonia, situação que veio a agravar o seu estado clínico. por esta razão vos escrevo, pois o rodrigo necessita de uma transplante de medula óssea na maior brevidade. O processo é muito simples, mas temos muita urgência porque o rodrigo só tem 2 meses (a contar desde ontem 26/01/2009) para conseguir identificar um dador compatível. a ideia é conseguir chegar ao máximo de pessoas possível no mínimo tempo que conseguirmos, por isso toda a ajuda que conseguires arranjar é pouca...por favor divulga pelos amigos, conhecidos, etc.”

As várias etapas até à doação Se o doente não tiver um dador familiar compatível é iniciada uma pesquisa aos registos de dadores. Assim que é identificado um potencial dador compatível, este é informado e, caso aceite, vai prosseguir o processo. Nessa altura o dador vai ser chamado para fazer testes adicionais de compatibilidade, bem como uma nova avaliação para doenças virais que possa ter tido no espaço de tempo entre a inscrição e a chamada. É este o passo a que chamamos a activação do dador. Se a avaliação de todos os resultados laboratoriais continuar a considerar o potencial dador como o mais indicado, este vai ser submetido a um exame médico completo e no qual onde pode ainda esclarecer quaisquer dúvidas que tenha sobre o processo de dádiva. Nesta fase o dador deve estar absolutamente certo da sua decisão de fazer a doação e é-lhe então pedido para assinar um impresso de consentimento informado. A partir desse momento o doente começará a fazer a preparação para a dádiva de células de medula. Os interessados em ajudar nesta causa, e também noutras semelhantes, podem preencher o inquérito preliminar que pode ser impresso através do site do CHS www. chsul.pt Depois deve ser enviado por correio para o CHS. Para ser dador basta ter entre 18 e 45 anos de idade.


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TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

O segredo de um casamento duradouro Nos tempos de hoje, é cada vez mais comum se ouvir falar em números de divórcios do que anos de casados Ouvimos três casais para saber o segredo de um casamento duradouro. Os ingredientes apontados foram: uma paixão inicial, o respeito pela liberdade de cada um e o espírito de uma discussão calma, muita compreensão e autonomia pessoal. SARA SILVINO

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ssilvino@tribunadamadeira.pt

oje comemora-se o Dia dos Namorados, dedicado ao Santo Valentim, o padroeiro dos namorados. As lojas enchem-se de

prendas atractivas, alusivas à data. A maioria são peluches que exibem a frase “Amo-te”. Porém, há quem defenda que a data hoje é assinalada mais pelo sentido comercial do que pelo afectivo. No entanto, ainda existem casais que celebram as “Bodas de Ouro” que assinalam os 50 anos de casamento. O que aos olhos dos mais novos é uma raridade. O Tribuna ouviu três casais conhecidos no meio social, na Região, para saber qual o segredo de um casamento duradouro numa época de brigas e divórcios. As respostas foram espontâneas, demonstrando que o amor fala mais alto. Judite e Constantino Palma estão casados há 43 anos. O segredo: “Uma paixão inicial, uma condescendência e um respeito mútuo ao longo dos anos”. Filomena e Virgílio Pereira estão casados há 39 anos e conheceram-se há 41 anos. O segredo: “Julgo que não há uma receita única para muitos casais. Depende muito dos perfis das pessoas que se juntem para viver uma vida. E de outros factores também externos à própria vontade

deles. Há uma coisa que não tenho dúvida, duas pessoas onde possam estar têm sempre pontos de vista diferentes em qualquer coisa. E a liberdade de cada um deve ser respeitada pelo outro. O espírito de discussão calma, as diferenças de pontos de vista, dos gostos, dos projectos de vida comuns, etc., essa discussão tem de ser vista com toda a postura com base nesse respeito mútuo. Julgo que deve haver sempre a preocupação de quando houver diferenças seja resolvido com o diálogo. E eu tive sorte.” Guida Vieira e Paulo Martins estão casados há 31 anos, a celebrar este ano. O segredo: “Muita compreensão, muito amor, muito debate, muita divergência e muita autonomia pessoal de cada um. Acho que duas pessoas para conseguirem viver juntas durante muito tempo, têm de ter estes factores sempre para não cair na monotonia, para não se anularem um ao outro. Acho que é fundamental a questão da autonomia pessoal, para além de muito amor e compreensão.” l


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Madeira regista atrasos nas entregas do Cartão de Cidadão O problema tem a ver com a base de dados nacional

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az precisamente dois anos que o Cartão de Cidadão foi lançado. No entanto, tem havido registo de meses de atraso, no Continente, na entrega do cartão depois de ter sido requerido. A situação foi denunciada recentemente pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e do Notariado, José Mota, que realçou também a falta de equipamentos e de funcionários, nomeadamente no “back-office”. O Governo Central diz que os problemas serão resolvidos. A Madeira também não é excepção sobre esta matéria e regista também atrasos na emissão do Cartão de Cidadão. A afirmação foi dada ao Tribuna pelo Presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e do Notariado do Sul e Ilhas, Sérgio Barros. “Tem havido anomalias nas entregas dos Cartões de Cidadão na

Madeira. Mas não é uma situação que tenha a ver com a área regional. Tem a ver mais precisamente com a base de dados nacional e não com a base de dados regional. As falhas não se devem ao governo regional, devem-se às aplicações informáticas do governo central”, começou por afirmar. E explicou: “Existem problemas com o cruzamento de dados com a aplicação informática dos serviços que trabalham com o Cartão de Cidadão, nomeadamente, a segurança social, as finanças, etc.” Sérgio Barros referiu que como o Cartão de Cidadão contém cinco documentos obedece a uma base de dados que estão em organismos diferentes. A troca de informações nos diversos serviços possibilita a uma demora para procurar os dados necessários. “É preciso pedir informações aos diversos serviços, nomeadamente, segurança social, finanças, registo criminal, etc.”, disse.

Cartão de Cidadão solicitado por mais de 800 mil pessoas O Cartão de Cidadão já foi solicitado por mais de 800 mil pessoas em todo o país, registando maior procura nos Açores, Porto e Lisboa. Segundo dados da Agência para a Modernização Administrativa (AMA), até ao dia um de Fevereiro foram solicitados 885.556 Cartões de Cidadão, dos quais foram emitidos 741.750. Quanto à procura do Cartão de Cidadão nos diferentes distritos do Continente e nas Regiões Autónomas, em valores absolutos destacamse a Região Autónoma dos Açores (64.832) e os Distritos do Porto (63.125) e de Lisboa (53.750). Em relação à percentagem da população residente, os dados da AMA destacam a Região Autónoma dos Açores com 26,8 por cento da popu-

lação com o Cartão de Cidadão e os Distritos de Portalegre (13,7 por cento), Bragança (13,0 por cento), Vila Real (11,7 por cento), Évora (11,5 por cento) e Beja (10,7 por cento). O Cartão de Cidadão integra-se na estratégia de modernização e simplificação administrativa e enquadra-se na política comunitária de identificação electrónica e de protecção de dados pessoais. Com um formato semelhante ao dos cartões de crédito e Multibanco, o novo documento de identificação inclui na frente a fotografia, assi-

natura, sexo, altura, data de nascimento e nacionalidade do titular. No verso consta a filiação, os vários números de identificação e uma zona de leitura óptica, que permitirá o seu uso como documento de viagem no espaço Schengen. O cartão é dotado ainda de um “chip” com dois certificados digitais que permitem a autenticação electrónica segura do cidadão e a assinatura digital qualificada sobre documentos electrónicos. l ss

“Losomecânica” prepara despedimento colectivo dos trabalhadores Continua a polémica na empresa “Losomecânica Canicense, SA”. Nesta terça-feira estava prevista uma greve geral dos trabalhadores da referida empresa, por tempo indeterminado. Em causa, a falta do pagamento de quatro meses de ordenados dos trabalhadores conforme a notícia avançada há duas semanas

pelo Tribuna. No entanto, e após um acordo com a empresa, a greve foi suspensa porque a empresa assumiu o pagamento dos salários. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários da RAM, António Gouveia, já foi pago o mês de Novembro e o subsídio de

Natal. Faltando ainda o salário do mês de Dezembro passado, o de Janeiro e o do mês corrente. António Gouveia disse: “Estamos atentos e vamos aguardar até ao dia cinco de Março, que é a data estipulada para a empresa efectuar o restante pagamento do dinheiro dos trabalhadores.”

O sindicalista não tem dúvidas de que a união fez a força e foi determinante para resolver esta situação, ou pelo menos uma parte dela. “Se não fosse os trabalhadores a anunciar o pré-aviso de greve não lhes tinha sido pagos os salários. Isso é certo”, apontou. António Gouveia afirmou ainda ao Tribuna: “O sindi-

cato teve conhecimento hoje (quinta-feira) de que a empresa Losomecânica Canicense está a dar início ao despedimento colectivo dos trabalhadores de algumas secções da empresa que vão fechar.” O sindicato garantiu que continua atento a este caso. l ss

Infantário no Funchal alvo de inspecção Em causa estará uma reclamação sobre a alimentação e higiene Um conhecido infantário, localizado no Funchal, terá sido alvo de reclamações por parte de alguns pais e encarregados de educação. As reclamações terão sido transmitidas à Secretaria Regional de Educação e Cultura (SREC). O descontentamento em

causa estaria relacionado com a alimentação e higiene do referido infantário. O Tribuna falou com a direcção do Infantário. A responsável disse-nos não ter conhecimento de qualquer tipo de reclamação feita. “Não sei de nada. Nunca ninguém me disse nada”,

apontou. “A alimentação é feita cá. Já tivemos a inspecção porque fizemos três salas novas e viram a cozinha e está tudo fresquinho. Todos os dias é feita a limpeza no refeitório depois das refeições. Não estou a perceber qual o problema”, disse. “Mas se é alguma coisa

que não esteja bem que me digam, que eu estou disponível para falar com os pais, em qualquer momento, e melhorar o que eles acharem que não está bem”, apontou. Ainda em relação a este assunto, a Secretaria Regional da Educação e Culturta respondeu o seguinte: “Gos-

taríamos de confirmar que foi formulada uma reclamação, a qual se encontra em fase de investigação através da Inspecção Regional de Educação. Como tal, não é possível prestar qualquer outro esclarecimento, nem facultar os termos da reclamação.” l

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TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

Vitória de Chávez seria trágica para o futuro da Venezuela Ismael García mostra-se convencido em relação à reprovação da emenda constitucional proposta por Hugo Chávez no referendo de amanhã na Venezuela O deputado do partido Podemos e antigo apoiante do presidente venezuelano critica o que diz ser a tentativa de instauração de um capitalismo de Estado na Venezuela e afirma que o que está em jogo é o futuro do país. “Temos de seguir em frente aconteça o que acontecer, o país é mais importante que nós próprios”, alerta. CARMEN VIEIRA cvieira@tribunadamadeira.pt

É

com uma pausa silenciosa que Ismael García, deputado do partido Podemos e antigo apoiante de Hugo Chávez, reage à pergunta sobre como será o futuro da Venezuela caso o actual presidente do país vença o referendo

de amanhã. “O ‘não’ está obrigado a ganhar, senão poderão surgir situações altamente indesejáveis no tempo” prevê. O acto eleitoral tem como objectivo votar uma emenda constitucional proposta por Chávez que permite a reeleição indefinida para os cargos de presidente da Repú-

blica, deputados, governadores e alcaides. A mesma medida já tinha feito parte de uma reforma constitucional proposta pelo governante, que foi rejeitada também em referendo em 2007. “Mais do que discordar da possibilidade de uma reeleição indefinida, estamos a defender a actual Constituição, que é o projecto político mais sólido que se construiu no país ao longo dos últimos 50 anos, com a participação do povo”, explica o parlamentar. Nas previsões de García, uma vitória de Hugo Chávez neste referendo levará o presidente a tentar controlar e fechar cada dia mais os caminhos democráticos no país. “Na Venezuela quando um governante tem a possibilidade de vencer ao governo num determinado espaço, de imediato é inabilitado e isso continuará a acontecer cada vez mais”, diz. Acusa ainda o governo de ter cometido muitos erros. “Há muita violência no país, originada e apoiada pelo próprio governo através de grupos

armados”, lamenta. “A Venezuela é um dos países mais violentos do mundo. Como se pode combater a delinquência se as polícias e o próprio governo a apoiam para tentar intimidar a dissidência política?” O parlamentar garante que a oposição está preparada para respeitar democraticamente a escolha do povo, seja qual for, mas mostra-se convicto na derrota do “sim”. “Não se trata da questão do povo decidir a reeleição dos governantes”, alerta. “Isso é a teoria, mas estamos perante um governo que usa todas as instituições do Estado ao seu favor.” “O presidente controla tudo e assim não há democracia, equilíbrio nem garantia de que os actores que participam no processo estão em igualdade de condições”, acrescenta ainda. “Discordamos do abuso do governo com esta alteração, que violenta a Constituição através de procedimentos incorrectos, graças ao controlo sobre todas as instituições.” Para Ismael García, a

Padre madeirense preocupado com violência religiosa no país É com preocupação que o pároco da Missão Católica Portuguesa em Caracas encara os recentes ataques a templos religiosos verificados na Venezuela. Depois da Sinagoga de Maripérez, em Caracas, no passado dia 30 de Janeiro, foi a vez da Igreja São José de Chacao ter sido alvo, no passado fimde-semana, de uma tentativa de incêndio. Ainda na semana passada, a sede da Nunciatura Apostólica em Caracas voltou a ser atacada com três granadas de gás lacrimogéneo. O local foi alvo de um ataque semelhante a 19 de Janeiro. Ali foram encontrados panfletos com críticas ao asilo concedido pela sede diplomática do Vaticano há quase dois anos ao líder estudantil

Nixon Moreno. “Infelizmente são factos que não podemos ignorar e que nos entristecem e preocupam muito, em especial porque vemos que não existem respostas positivas”, começa por afirmar Alexandre Mendonça. “Se houvesse maior segurança no país, certamente não teriam ocorrido estes actos lamentáveis.” O sacerdote madeirense espera que sejam encontrados os culpados e que a estes lhes seja aplicado “o peso da lei”. “Se o país não tiver a capacidade de deter esta situação, poderão vir a surgir casos muito mais difíceis”, receia. Foram detidas 11 pessoas suspeitas dos actos de violência ocorridos na sinagoga: oito funcionários poli-

ciais, dois membros de um grupo criminoso e o vigilante que se encontrava de turno no templo. Outros quatro suspeitos estão a ser procurados. A polícia considera que o objectivo do ataque poderá ter sido o roubo, mas não descarta outras hipóteses. Para o pároco da Missão Católica é difícil explicar uma realidade que nunca se tinha vivido no país, mas suspeita que os actos de vandalismo possam ter a ver com a situação política. “A agitação que se vive não favorece à criação de um clima de paz”, considera. “Esperamos que depois de amanhã a Venezuela retome a calma de que tanto necessita.” As mais recentes declarações do presidente da

República e de vários ministros, nas quais manifestaram a preocupação e o desejo de esclarecer o sucedido, dão ao sacerdote esperança de que este tipo de actos não venham a tornar-se uma nova realidade no país. Relativamente à participação da comunidade portuguesa no referendo de amanhã, Alexandre Mendonça mostra-se algo pessimista. “Ultimamente temos tido muito trabalho nessa área e isso provoca algum desgaste e apatia nas pessoas”, justifica. “Oxalá esteja enganado, mas penso que a abstenção voltará a ser uma realidade. As eleições têm sido uma situação permanente no país e, embora façam parte da democracia, também esgotam.” l


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“O povo tem limites na sua paciência” Perante o que denuncia ser o domínio do governo sobre o aparelho do Estado, o deputado afirma que os apoiantes do “não” estão a fazer um esforço, não só para ganhar o referendo, como para evitar que a vantagem do governo nas instituições prospere. “Se o ‘não’ ganhar o presidente terá de reconhecer a derrota, não permitiremos que nos tirem a vitória e usaremos todas as nossas forças para defender democraticamente a vontade do povo.” Apesar do desgaste provocado pela intensa luta política dos últimos 10 anos no país, Ismael García garante que o povo encontrará “forças na alma” para enfrentar o que seja necessário. “A opinião que se sente nas ruas é a de que o ‘não’ vai ganhar com muita força. O que está em jogo amanhã é o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos”, realça. “Não podemos entregar às futuras gerações um país de joelhos, refém do capricho de alguém que teve a ideia de substituir Fidel Castro na América Latina para passar à história como herói de uma revolução que há muito deixou de o ser”, diz ainda. “A Venezuela não tem uma revolução, mas sim um governo corrupto, que se separou do povo.” Por isso, afirma pedir a Deus que “ilumine o presidente e o faça baixar o tom da soberba” no caso de perder o referendo. “O povo tem limites na sua paciência e os dirigentes políticos devemos

estar à altura dos momentos históricos que o país vive”, explica.

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emenda constitucional visa ajudar Chávez na instauração de um capitalismo de Estado na Venezuela “que fracassou na União Soviética e em Cuba”. “Os que o fizeram em nome do socialismo científico - Estaline, Mao Tse Tung, Ho Chi Minh - morreram no poder”, lembra. “Não queremos esse modelo de país: leva ao maior controlo das instituições e ao ataque a todos os espaços democráticos na sociedade.”

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“Poderia estar acomodado no governo” García salienta ter lutado toda a vida contra os males provocados pelos sucessivos governos venezuelanos e lembra as razões que levaram à sua dissidência do actual partido no poder. “Hoje poderia estar acomodado no governo como ministro ou noutro cargo qualquer, mas para mim é muito mais importante lutar pelos princípios e pela história do país do que defender algo que é indefensável e viver de costas para a realidade”, critica. Nesse sentido, o parlamentar evoca um dos homens que diz mais admirar, além de Nelson Mandela e Mahatma Ghandi. “Às vezes Martin Luther King dizia ter medo de morrer antes das pessoas estarem suficientemente maduras para enfrentar a realidade, mas quando morreu disse não ter medo porque acreditava ter conseguido esse objectivo.” García faz um paralelismo com a situação da Venezuela. “Acredito que o povo hoje não tem medo: percebeu que é muito mais grave o que lhe possa acontecer como consequência do medo do que devido ao esforço que tem de fazer para enfrentar a realidade. Temos de seguir em frente aconteça o que acontecer, o país é mais importante que nós próprios.” Talvez por isso, diz-se convencido que amanhã haverá um grande mobilização do país. “Haverá uma rebelião no silêncio das pessoas através do voto, não é preciso usar armas e violência, como o governo”, destaca. “A força do silêncio é mais poderosa que todos os mísseis, aviões e kalashnikovs que possam existir. É uma visão colectiva do país que se expressa perante uma decisão de autocracia e hegemonia que nos querem impor.” l

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o semeador Cromo nacional da semana I Para a tentativa do PS/governo de menorizar Portugal, retirando o voto por correspondência aos emigrantes. Quem seguiu as eleições americanas, teve ocasião de ver a democracia em movimento. A sua argumentação era o epítome da baixa política, felizmente travado pelo PR. É ridículo argumentar com os votos (milhares), que se perdiam pelo caminho e, à boa maneira portuguesa, em vez de meter os correios na ordem, retiravam o voto a um significativo número de cidadãos, que entretanto, deram pelo golpe baixo e sem dúvida, na altura certa terão uma palavra a dizer.

Cromo nacional da semana II Para o profeta Louçã, que no discurso ao seu povo, tão bem soube ilustrar os malefícios do capitalismo, contando a fábula do casal de coelhinhos (um macho e uma fêmea e não, 2 simpáticos homossexuais) que postos juntos imediatamente se reproduzem, e de que maneira, ao invés de 2 notas de 100 euros, que mesmo acasaladas nada dão. E pensar que 10% dos eleitores portugueses já são seguidores do profeta!!! Pobre país e pobres restantes 90%.

Cromo regional da semana Para Roberto Almada, pelo discurso patriótico que fez na mostra do BE, em que demonstrou a confiança nos chefes e na sua capacidade de, em plena AR, tramarem os madeirenses e o seu offshore. Não há piores cegos do que aqueles que não querem ver! Volta UDP que estás perdoada.

A lógica é uma semilha Sondagens fidedignas apontam para a possibilidade de nas próximas eleições para a AR, os 6 deputados madeirenses serem assim distribuídos: PSD-5, PS-1. Uma sondagem mandada fazer pelo Semeador divergia desta, pois dava os 6 deputados ao PSD, mas não é fiável, pois o técnico era parcial e abusou da poncha. 5 a 1 tem lógica, pois não é mais do que o reconhecimento e merecida paga, pelo que os actuais deputados fizeram contra a sua terra, que obrigatoriamente deveriam defender. Trocaram a naturalidade pela obediência cega, mesmo votando muitas vezes ao arrepio das votações do seu partido, na ALR. O Semeador aconselha o Dr. Gouveia a concorrer, pois, se for o único eleito, a distância sempre atenua a vergonha e, o deserto sempre está mais perto. Segundo Mário (Ota) Lino, está ali mesmo, logo à saída da ponte Salazar.

O aterro O Semeador tremeu de pavor, pois ao ouvir as promessas eleitorais de Sócrates, reparou que este promete à classe média (aos restos) a diminuição do esforço fiscal, pondo os ricos (se ainda houver?) a contribuir mais. E tremeu, porque ainda se lembra de todas as promessas do primeiro-sinistro, integralmente cumpridas e, da felicidade que o seu governo trouxe aos portugueses!

Um passo para criar emprego Foi anunciado pelo governo a abertura de 400 novos postos de apoio ao emprego. Num pequeno exercício de matemática, se cada posto tiver 3 meninas para atendimento público, 1 chefe, 1 secretária, 1 adjunto, 1 acessor, 1 segurança, 1 porteiro e 1 motorista para a viatura do chefe, teremos 10 trabalhadores que, multiplicados por 400 asilos, perfazem o interessante número de 4 mil novos postos de trabalho, o que é significativo!

Perfil de um democrata Pode-se apreciar o carácter de um homem pelas suas afirmações. Um sinistro de destaque, Santos Silva, democrata de fino recorte e pilar do PS disse, que se divertia a “malhar nesses sujeitos e sujeitas da direita portuguesa”!!! Tentou depois redimir-se por também ter desrespeitado Manuel Alegre e, considerou-se um pigmeu. Não se o pode acusar desta vez de falta de realidade! P.S. Esta personagem já foi sinistro da educação, só que, não deixou obra. Apesar de tudo não tem a estatura da D. Maria de Lurdes Rodrigues, ou então, faltou o Pedreira e o Walter.

Onde pára o gato? A Naviera Armas actua com lisura e ao abrigo do contracto. Será que nunca vão acabar os jogos de bastidores, mesmo em se tratando de melhorias para uma população sacrificada?


neo-surrealismo

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

maré alta

Darwin tinha razão

Mário Soares

Nestes últimos tempos, a nível regional, nacional e mundial, ficou mais do que comprovado que o homem, de facto, descende do macaco, incluindo o bispo católico inglês a quem o Papa levantou a excomunhão, e que afirma não ter havido Holocausto, nem câmaras de gás. Mas o pior é que se nota que muito poucos, deixaram de dizer ou fazer, macaquices!

O ex-Presidente da República Mário Soares advertiu terça-feira à noite que sem transparência no País, particularmente no sector da banca, Portugal poderá conhecer a prazo um clima de revolta e acontecimentos de gravidade. Um aviso sério e feito num momento crucial.

Centenas de falências

José Sócrates

Vêem comprovar que toda a economia estava assente em pés de barro e que a alegoria que diz, que o bater de asas de uma borboleta, na China, causa um tufão do outro lado do mundo, está certa. Convinha que isto, nunca mais fosse esquecido.

O primeiro-ministro condenou as vias do proteccionismo ou da desregulação social como resposta à actual crise, defendendo em contrapartida os valores do modelo social europeu na construção da nova ordem mundial económica e financeira. É a solução.

Um crescimento notável O BE, que vai comemorar os seus 10 anitos, já conta com 10% de promessas de voto, descobertas na última sondagem. Um crescimento de 1% ao ano é uma verdadeira proeza, digna de um sábio com a estatura de Louçã. Pequenos atritos e diferenças de opinião, não deslustram este marco da política portuguesa!

As grandes frases Alqueva (que se espera fique pronta em 2011) “pode ajudar a ultrapassar a crise”! Sócrates o disse, em plena planície alentejana. O Semeador concorda, pois “meter água”, é uma especialidade deste governo.

Nomeação de trauliteiros O PS nomeou os seus trauliteiros de serviço e os galardões foram para: Jorge Coelho, pela magistral afirmação de que, quem se meter com o PS, leva e, Santos Silva, este pela diversão em malhar, já citada.

Augusto Santos Silva O ministro dos Assuntos Parlamentares diz que José Sócrates está a ser vítima de uma “tentativa de assassinato político e moral” com as notícias sobre o caso Freeport. E provavelmente tem razão.

maré baixa Marcelo Rebelo de Sousa Marcelo Rebelo de Sousa receia que o PSD concorra às próximas eleições legislativas não para ganhar, mas para perder por poucos pontos para o PS. No programa semanal que tem na RTP, o comentador disse também que a imagem de Manuela Ferreira Leite tem prejudicado o partido. O ex-líder do PSD deveria ter tido este posicionamento na altura em que Ferreira Leite se candidatou.

Jerónimo de Sousa O secretário-geral do PCP está a recolher assinaturas entre os deputados para pedir ao Tribunal Constitucional que fiscalize o Código de Trabalho. Jerónimo de Sousa reactivo.

A verdade começa a aparecer Para aqueles que queriam resultados da emancipação que representou a liberalização dos voos de e para a Madeira em 24 horas, existem já números, que foram publicados na imprensa diária, e que demonstram a exploração vergonhosa a que estivemos sujeitos. Era muito bom que mostrassem alguma gratidão premiando o benfeitor e, que nunca se esquecessem da forma como foram tratados ao longo de anos. Isto só em relação às tarifas. Quanto ao serviço e atrasos, é melhor perdoar, mas repito, nunca esquecer.

Francisco Louçã Francisco Louçã encerrou a VI Convenção do Bloco de Esquerda com um desafio à convergência para “uma esquerda grande” que obrigue o poder a avançar com políticas “socialistas e anti-capitalistas” de combate à desigualdade. O disco de sempre.

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Céu geralmente muito nublado. Vento fraco (inferior a 15 km/h) de norte. Aguaceiros.

TRIBUNA DA MADEIRA Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

PJ apreende droga e armas Três homens e duas mulheres entre os 22 e os 30 anos foram detidos pela Polícia Judiciária por suspeita de tráfico de estupefacientes após seis buscas domiciliárias feitas no Funchal, Câmara de Lobos e Ribeira Brava, no âmbito da operação “Espada Preta”. Três dos cinco indivíduos ficaram em prisão preventiva e os restantes (um homem e uma mulher) deverão apresentar-se periodicamente na PJ. Além das detenções efectuadas, foram apreendidas duas armas de fogo, sete mil doses de haxixe e pólen de haxixe e 1.050 doses de heroína. Por seu lado, a PSP anunciou a detenção de 46 pessoas desde o início do ano por fuga à justiça, no âmbito de uma operação destinada a encontrar suspeitos alvo de mandados de detenção. Trata-se de pessoas que não se apresentaram voluntariamente em tribunal nas audiências de julgamento, para além de indivíduos que não pagaram multas estipuladas pelos tribunais. Sete dessas pessoas já se encontram a cumprir pena efectiva de prisão.

Rastreio de doenças cardiovasculares

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Para assinalar o Dia Nacional do Doente Coronário, o núcleo regional da Fundação Portuguesa de Cardiologia e a Secretaria dos Assuntos Sociais promovem hoje, entre as 10 e 17 horas, no MadeiraShopping, uma acção de rastreio de doenças cardiovasculares para toda a população. Recorde-se que estas continuam a ser a principal causa de morte no país.

O Tribuna não pára 24 O Tribuna avança

O Tribuna da Madeira passa a partir de agora a sair aos Sábados No ano do nosso 10º aniversário, oferecemos aos nossos leitores e assinantes mais um dia de informação verdadeiramente independente, isenta e plural. www.tribunadamadeira.pt

Sá, Modelo e Pingo Doce

Saiba onde é mais barato comprar O Tribuna da Madeira retoma, a partir de hoje, na nossa revista semanal, uma rubrica iniciada por nós há alguns anos e que tem como objectivo comparar os preços de alguns produtos dos três principais hipermercados a operar na Região: Sá, Modelo e Pingo Doce. Em tempo de crise, indicamos aos nossos leitores e assinantes onde podem comprar mais barato.

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