Dark Anthony - Condenados

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Capítulo -1-

Eu andava por aquele mesmo beco nos últimos dezesseis meses, havia familiaridade ali em um dia qualquer, mas hoje não, hoje o dia já começou mal e parecia que acabaria pior ainda do que começara. Continuei seguindo em frente tentando evitar aquela sensação de urgência em sair correndo dali, gritando e procurando por algum local movimentado e com luz, mas já era quase meia noite e não havia uma alma viva em qualquer lugar. Mal havia atingido a metade do beco quando um grito soou ao longe, parecia um pássaro e ao mesmo tempo parecia humano, aquele som reverberou ao meu redor e me entregando a urgência eu corri. Quando pensei que o pior já havia passado e que fora apenas um ataque de pânico um clarão passou pelo céu de Holyhead, Reino Unido e por instinto levantei a cabeça, Deus! Como eu queria não ter feito isso! Parado em cima de um poste de luz havia a silhueta de uma pessoa agachada e ela tinha asas! Asas enormes! Eu pisquei várias vezes até que, o que quer que aquilo fosse, tivesse sumido. Quando já não havia mais nada ali em cima eu continuei seguindo meu caminho por aquele beco que já trazia uma atmosfera de mau agouro, e andei por mais uns três metros quando aquele grito veio outra vez e pensando bem agora, deveria ter percebido que ele veio detrás de mim. Ela surgiu por trás, apertando meu ombro e me virando para si, tive muito pouco tempo para sequer tentar alguma reação, quando percebi que ela estava flutuando na minha frente e mordeu a lateral do meu pescoço, não agüentei a dor e me entreguei à escuridão que tomava conta de meus olhos e me permiti pela primeira vez na vida a desmaiar.

Ao acordar, senti meu corpo rígido e totalmente dolorido. Droga! Eu estava uma caca! Não conseguia lembrar o que eu estava fazendo deitado no chão e bem em cima de uma poça d'água! Será que eu acabei dormindo no chão do restaurante enquanto eu terminava de limpá-lo? Essa duvida durou menos do que eu gostaria que tivesse durado, porque foi então que eu me lembrei do que aconteceu de tudo.

Quando senti que não havia mais nenhum perigo eu decidi abrir os olhos e verificar por mim mesmo que tudo não passou de uma alucinação causada pela falta de


sono e por excesso de trabalho. Levantei devagar como se um simples gesto pudesse trazer aquele pesadelo de volta, e isso meu querido amigo, eu não queria de jeito nenhum! Levantei a mão e encostei-a em meu pescoço, havia sangue coagulado ali, mas havia menos do que você poderia pensar e céus! Aquilo ardia mais que tudo! Caminhei a pouca distancia que faltava do beco e quando fui virar a esquina algo me puxou para trás, parecia uma força invisível, pois não senti nenhum braço nem um ruído sequer além do som de minha costa batendo contra a lateral de uma caixa de energia. Tentei me mover, mas meu corpo já não respondia aos meus comandos.

"Por favor, Deus, faça com que esse pesadelo acabe! Faça com que tudo fique bem, por favor," - Não adianta pedir nada a Deus garoto, ele já não ouve mais as suas súplicas. Involuntariamente virei a minha cabeça na direção daquela voz, eu senti raiva e uma súbita vontade de acabar com quem quer que seja que estivesse brincando comigo daquele jeito, não era normal e não era certo aquilo! Eu sentia o desejo de vingança, eu sentia que era certo fazer com que a pessoa pagasse com dor, a mais pura e agonizante dor. - Quem está ai? Vamos! Diga seu nome! - eu berrei para o vento. - Tudo em seu tempo garoto, tudo em seu tempo. - ele disse as quatro últimas palavras como se fosse uma centena de morte e quisesse que a pessoa gravasse para palavra do que era dito. Raiva. Sentir raiva não era normal, eu não era assim, não mesmo. O que está acontecendo comigo? - Você está seguindo seus novos instintos, Anthony. - Agora era outra voz, uma voz feminina. Nada que estava acontecendo fazia sentido algum, porque eu não despertava desse sonho de uma vez? Como aqueles pesadelos que acordamos repentinamente com falta de ar, mas bem e em segurança? Eu não fazia ideia da resposta. Lentamente meu corpo foi descendo, arranhando no cimento daquela caixa de energia, sentei no chão quando senti que meu corpo voltou a me obedecer e me encolhi, tudo o que eu queria era sair dali, ir para casa e poder jantar com a minha mãe, ela com certeza estaria me esperando para jantar como sempre fizera. Inferno, tudo o que eu

queria era a minha casa! - Você irá para casa, ah sim! Você irá. - Legal, agora havia uma terceira voz, esse pesadelo poderia ficar melhor? - Não há pesadelo algum garoto, o que está acontecendo é real, tudo é real. - Aquela primeira voz voltou a falar, era uma voz grave e calma, mas havia um timbre de aviso, do


tipo "não pergunte demais ou você irá se arrepender moleque" que os policias da cidade costumam usar com valentões e crianças que se metem em problemas e não querem que seus pais saibam o que fizeram. E então, assim que aquela primeira voz parou de falar eles apareceram, na verdade eu acho que eles sempre estiveram ali, mas meu medo bloqueou minha visão para tudo o que eu não havia visto antes, como se o medo limitasse minha visão.

- Q-quem são v-vocêis? - eu gaguejei. - Nós somos a Aliança das Trevas, nós somos os Escolhidos da Escuridão, e você, Anthony Gerard Simon será um de nós também. - Enquanto ele falava, ele dava pequenos passos em minha direção, parando próximo do halo de luz que o poste projetava do lado direito do beco. - Eu n-não quero ter n-nada a ver com isso! Tudo o que eu quero é ir embora! - eu exclamei, já estava ficando cansado dessa ladainha e aquela raiva continuava borbulhando dentro de mim, como se fosse um vulcão prestes a entrar em erupção. - Garoto ignorante. - Resmungou aquela segunda voz masculina. Em alguns milésimos de segundos eu fiquei de pé e estava parado em frente dele, com meu peito queimando e com o ar saindo de forma pesada e lenta de meus pulmões e narinas. Eu nunca fui um garoto que procurava por brigas e nem gostava de brigar, mas por algum motivo aquela situação estava me deixando irritado e havia algo se manifestando dentro de mim, algo maior, mais selvagem. Nada humano... Esse pensamento veio tão rápido e se foi mais rápido ainda, eu estava diferente, eu percebia isso, mas não estava fazendo nada para mudar, tudo o que eu queria era dar o fora dali, mas não antes de dar uma lição naquele cara parado bem na minha frente. - Anthony, controle-se, ou eu irei controlar você, por bem ou por mal. - Aquela primeira voz voltou a falar. - E acredite, eu consigo. - Acalme-se querido, nós não queremos machucá-lo, você precisa entender isso, e precisa entender que tudo isso já estava destinado a acontecer, você entende? - Mais uma vez a voz feminina surgiu tão leve como caricia de pluma e tão perto que parecia que ela estava falando próximo de meu ouvido. - E-eu não entendo! Não sei por quê vocês estão aqui! Não sei por quê eu estou com raiva e nem sei por que ainda falo com vocês, nada do que dizem faz sentido! Nada! - Eu berrei.

"Você ainda está aqui porque é para estar"


"Você estava destinado a isso Anthony" "Garoto fútil e esquentadinho" Vozes começaram a penetrar minha mente, a circular entre meus pensamentos e a me deixar tonto. Com certeza tudo isso não passava de um sonho, eu iria acordar em um piscar de olhos e estaria na minha cama ou estaria naquele quartinho nos fundos do Rood's onde eu trabalhava como garçom e seguia com a minha vida sem sentido e fútil, mas ainda assim era a minha vida. Eu trabalhava desde os quinze anos para ajudar minha mãe, e morava com ela desde o acidente em que perdi meu pai e a minha irmãzinha, eu ajudava minha mãe o tanto quanto podia, mas nunca parecia o suficiente. Ela me amava e apreciava meu esforço, disso eu sabia bem e batalhar para ver o sorriso da minha mãe valia a pena o esforço. De repente as cenas da minha infância foram passando bem em frente aos meus olhos, como se eu estivesse em um cinema 3D. Por que isso está acontecendo comigo? Eu perguntei novamente. Como se tivesse sido levado de um lugar para outro em questão de segundos, eu estava de volta naquele beco e quando olhei as horas pelo relógio de pulso tive o espanto em ver que já eram quase duas horas da manhã! Como posso ter ficado tanto tempo desmaiado? Colocando meus pensamentos em ordem eu olhei para aquelas três pessoas que agora estavam sob o halo de luz onde eu conseguia ver com clareza. O mais alto deles tinha cabelo curto e estava todo bagunçado, era encaracolado nas pontas e rebelde na parte de cima, mas de um jeito que combinava com o rosto quadrado e o nariz fino e sua estatura, ele era alto e tinha um ar de autoridade que se vê em poucas pessoas, estava vestido com um, sobretudo preto e capuz que lembrava muito a série Assassin's Creed, e seus olhos apesar de estarem encobertos brilhavam em um tom verde esmeralda. Ao seu lado esquerdo estava uma mulher de cabelo loiro quase branco, ela era magra e pequena, olhos azuis quase translúcidos e um rosto jovem, como se a cada minuto ela ficasse mais nova e...

Ela é a mulher que me mordeu! Minha mente disparou e como se lesse meus pensamentos ela sorriu e ficou um pouco vermelha, como quem pede desculpas de uma forma tímida. - Hãm Hãm - tossiu a terceira voz. Ele era da mesma estatura que ela, mas tinha os cabelos mais brancos e tirando pelos olhos ele era quase exatamente como ela, seus olhos eram negros, como dois buracos negros, eles captaram meu olhar e se fixaram sem dizer nada nem desviar o olhar e ficou, até que o outro falou: - Nós não estamos aqui para lhe machucar, estamos aqui apenas para guiá-lo Anthony, venha conosco, por favor.


- Não! Você ainda não entendeu? Vocês não vão me seqüestrar! Eu... Eu vou bater em vocês se necessário! Eu estou avisando! - Já chega dessa enrolação, não temos a noite inteira Safo! - Minha costa de repente estava contra a parede e as mãos do cara loiro estavam pressionadas contra a gola do meu pescoço, apertando e impedindo a entrada de ar em meus pulmões. - Ou o levamos ou o matamos, o que será feito? - Aahbran dá pra dar um tempo? O garoto nem sabe o que está acontecendo! - falou a mulher loira. - Você é bondosa demais às vezes sabia Accalia? - ele rebateu incisivamente. - Eu já estou ficando farto de vocês ficarem se bicando Accalia, Aahbran! Eu quero disciplina aqui, ou será que estou pedindo demais de vocês dois? - Safo disse, chegando mais perto de Aahbran e quanto mais perto ele estava, mais perto do chão eu ficava, até que Aahbran me soltou e estava sob meus pés outra vez encarando aquelas três pessoas. Assim que os dois ficaram quietos e voltaram para perto do poste de luz, Safo olhou para mim e ficou parado, como se eu devesse alguma explicação a eles, como se fosse uma criança que acabara de ser pega roubando biscoitos antes do almoço. - Posso ir agora? - perguntei. - Não, Anthony, você não irá voltar para a sua casa, nunca mais, você virá conosco, você vai para o Farol, para a sua nova casa. - Safo respondeu de um jeito calmo demais, como quem diz "Hoje eu acho que irá chover". Não fazia nenhum sentido o que ele estava falando, o Farol ficava quase do outro lado da cidade, eu morava próximo a estação de Holyhead na Rua Station, uma rua calma (se você tirar o fato de que pode acordar no meio da noite pelo barulho do trem se aproximando) e ir para o Farol a essa hora da noite era impossível! O que eles acham que vão fazer comigo? Eu não iria abaixar a cabeça para três estranhos e seguir eles para onde quer que fosse! Eu já tinha dezenove anos, era livre para fazer o que bem entendesse...

Raiva. Dessa vez ela surgiu gradualmente, mas houve um ponto em que já não dava mais para controlar, eu soquei a parede do meu lado e um circulo de rachaduras se formou, com força o suficiente eu peguei aquele pedaço de concreto que deveria ter pelo menos um metro e joguei no chão, entre eles, completamente dominado pela raiva, continuei cego perante o descontrole, mas Deus como era bom sentir essa adrenalina! Eu estava virando para fazer novamente o mesmo movimento e arremessei então o cara loiro, Aahbran, transformou o pedaço de pedra enorme que eu atirei em pó. Eu quis correr, mas havia algo prendendo meus pés no chão, como se alguém tivesse me segurando pela canela. - Você. Não. Irá. Fugir. De. Nós. Anthony. Entendeu? - Disse Aahbran de modo ameaçador.


- Accalia, você poderia tranqüilizar o nosso amigo aqui? - perguntou Safo. Tudo o que eu consegui fazer após isso foi gritar e gritar e gritar sem parar, mas parecia que estava gritando de dentro de uma caverna, pois meus gritos pareciam longe demais e meus sentidos começaram a desvanecer e pela segunda vez naquele dia eu desmaiei.

*** Quando eu acordei, consegui sentir a brisa do mar e o barulho das ondas quebrando nas rochas que estavam em algum lugar ali por perto, o som era claro demais para se enganar. Olhei para os lados e percebi que estava sozinho novamente, mas não estava mais no beco, estava deitado em uma das rochas da ilha de Holyhead e quando sentei pude enxergar o Farol que ficava em um espaço de rocha fora da ilha, para chegar até lá é preciso passar pela ponte Stack e seguir pelo corrimão. Olhando de onde estava à ilha até o Farol mais parecia com a Muralha da China do que com a pacata Holyhead, mas aquela atmosfera de mau agouro ainda estava presente. Eu estremeci. Estava frio demais e em algum momento eu perdi minha jaqueta, pois ela já não estava mais amarrada na minha cintura. Procurei por ela, mas não encontrei, acho que a perdi. - Está procurando por isso? - Me virei e vi que já não estava mais sozinho, aquela mulher, qual é mesmo o nome dela? Accalia? Acho que era. Ela estava tirando minha jaqueta de seus ombros e agora eu conseguia enxergar com mais nitidez, ela vestia uma regata preta com calça jeans da mesma cor, seus cabelos eram longos, bem longos mesmo, quase até o final da cintura e eram tão brancos quanto à luz do luar. - Eu há peguei um pouco depois que você, bem... Desmaiou. Percebi que ela estava diferente agora, beirando a insegurança. Eu aproveitei essa brecha e estiquei a mão, pegando minha jaqueta e levantando. Quando estava acabando de fechar ela (o vento ali nas rochas eram de gelar a espinha!) eu comecei a correr, não tinha certeza sequer de onde eu estava, mas mesmo assim corri como se minha vida dependesse disso, e dadas às circunstâncias, não dependia? Em um piscar de olhos Accalia estava na minha frente, segurando meus ombros, como que para me acalmar. Virei para a esquerda e consegui escapar de seu aperto, mas tão rápido quanto consegui me livrar dela já estava desviando novamente, pois ela corria tão rápido quanto eu! - Ventos que surgem, maré que arrebenta, crie para mim uma parede de proteção!


De repente dos dois lados da rocha em que eu estava surgiu ondas enormes, como se as ondas do oceano tivessem subido e não soubessem descer, água espirrava dos dois lados e, mesmo que eu não conseguisse mais correr e chegar perto eu sabia que a força com que a água subia seria capaz de jogar para longe qualquer um que ficasse perto demais dela. Foi então que percebi que já não tinha mais escolha, o jeito era seguir com aquele pesadelo e esperar que a qualquer instante eu acordasse, ou com o despertador de casa ou com alguém me chamando no Rood's, provavelmente porque eu dormira no chão ou enquanto fazia alguma tarefa. - Ok! Eu me rendo! - gritei para ela. No mesmo instante em que terminei de gritar as ondas desapareceram e a única evidência de que tudo aquilo tinha acontecido era porque a parte de cima das rochas onde ficava o corrimão que guiava as pessoas até o Farol estavam pingando com água do mar onde nunca nenhuma onda conseguia alcançar. Segui em direção a Accalia e me sentei ao seu lado, a essa altura já era de se esperar que qualquer pessoa visse o que aconteceu e viesse correndo para dar uma olhada, mas era de madrugada e toda a droga da cidade estava dormindo. Por um longo tempo permanecemos assim, parados, como se fôssemos amigos e estivéssemos contemplando o mar que se abria a nossa frente sem fim, até que ela resolveu falar: - Já passou pela sua mente garoto que tudo poderia ser mais fácil se você simplesmente decidisse nos ouvir e deixar de rebeldia? Eu não estava acreditando no que estava ouvindo, aquilo era realmente sério? Rebeldia? Três pessoas aparecem para você, uma delas te morde e outro te joga contra a parede e ela quer que eu fique como? Endireitei-me e antes que eu pudesse controlar minha boca eu já estava falando: - Não consigo imaginar uma única explicação para isso tudo estar acontecendo. Não consigo. - O que posso falar agora Anthony é que existe Destino, nada acontece por acaso, e você vai aprender isso. Não somos iguais aos humanos, nós comemos, nós dormimos, nós temos sentimentos, mas a maneira como isso ocorre é diferente. Você irá se acostumar, com o tempo você irá. - ela disse. - Nós? - eu perguntei. - Sim, nós. Agora você nos pertence Anthony. Destino lembra? Você foi escolhido pelo Destino, há planos para você assim como há planos para mim, para Safo e até para Aahbran. Há planos... - ela disse. - Por que você m-me mordeu? - decidi perguntar de uma vez, toda essa história de destino e de planos me deixou curioso, mas a forma como meu pescoço começara a latejar fez com que essa fosse minha prioridade, eu precisava entender tudo aquilo.


- É um Ritual de Iniciação Anthony, um dos Escolhidos precisa morder e extrair apenas uma parte da sua energia vital e trocar pela nossa, isso fará com que seu corpo, bem como seus órgãos passem por mutações e funcionem de forma diferente, é assim que você irá se tornar um de nós. - ela respondeu calmamente, mas percebi em seu olhar que ela estava tentando encontrar uma maneira de não falar demais. Ela era o elo mais fraco dos três, eu tinha certeza disso agora. - Você disse "nós" outra vez, mas o que seriam "nós"? - Nós somos A Legião. Nós somos os filhos que foram renegados por Deus. Nós que não tivemos a chance de escolher entre Céu e Inferno caímos do mesmo jeito. Após séculos, desenvolvemos algumas características humanas, mas nossa imortalidade sempre foi um ponto a nosso favor, até que Naarus, o líder da Legião descobriu algo que deveria ser secretado para todos o que não faziam mais parte do Céu, algo que hoje, podemos transformar em uma chance ao nosso favor. Você Anthony é o nosso Escolhido. Você irá...

Hãm Hãm... O som de tosse tirou totalmente o foco de Accalia, virei e notei que aqueles dois haviam voltado, Safo e Aahbran. Devagar demais eles seguiram em nossa direção como se estivessem caminhando por um campo minado, só quando eles chegaram perto o suficiente aquele que se parecia demais com Accalia começou a falar: - Irmã, você fala demais. Ele irá saber de tudo no tempo devido, lembre-se disso. - Eu não sou nenhuma garotinha Aahbran, não venha me repreender por isso, ele tem o direito de saber. - ela rebateu. - Ele terá o direito de saber quando for necessário que saiba, não antes que isso. Agora encerremos essa conversa desnecessária e vamos ao ponto de importância. - disse Safo encerrando o assunto. - Eu e Aahbran fomos até o Subterfúgio e está tudo pronto. Anthony, você virá conosco, as conseqüências serão inevitáveis se você não vier, qual a sua escolha? Novamente eu havia começado a perder o fio do raciocínio quando Safo começou a falar, mas tinha algo no tom de voz e naquele aviso que estava totalmente explicito que me fez decidir e essa escolha mudou completamente a minha vida, logo depois de ter falado aquelas palavras eu senti o ar mudando ao meu redor e senti que algo havia se encaixado, não sabia o que era, mas com certeza o sentimento de que algo foi concluído ficou se expandindo dentro de mim. - Eu irei com vocês e não irei mais questionar.



Capítulo -2-

Logo após eu ter concordado em ir com Accalia, Safo e Aahbran eles me guiaram até o Farol, não estávamos muito longe afinal, assim que chegamos perto, Safo tirou um canivete de lâmina brilhante do bolso do seu sobretudo e com um movimento lento e calculado ele cortou a palma da mão da Aahbran e de Accalia, seguindo para a sua própria mão, sangue começou a sair dos cortes, um sangue azul escuro. Em seguida veio até mim, parando na minha frente e olhando no fundo dos meus olhos, dizendo: - Estenda a palma da mão, não irá doer. - Eu não sei dizer o que aconteceu, mas quando dei conta a palma estava vazando sangue com o corte, Safo segurou com sua outra mão meu braço, e caminhou comigo até uma rocha que tinha o formato de um triângulo, como a ponta de uma lança de caça. Pressionando minha mão contra a rocha ele começou a dizer em voz alta contra a ventania que estava começando a formar ali no Farol. - Nós possuímos o Direito, abra nossa passagem para casa! - De repente um brilho começou a surgir e a desenhar um contorno de porta e quando menos pude esperar a parte interna do desenho de desintegrou e sumiu! Dando abertura para um prado bem aparado e cheio de árvores ao fundo. - Iremos atravessar este portal Anthony, nos acompanhe. Accalia, você segue na frente, Anthony você irá atrás dela, Aahbran siga ao meu lado, estamos voltando para o Subterfúgio.

*** Atravessar aquele portal foi uma experiência que eu jamais pensaria que pudesse sentir, foi como se eu tivesse passando por um cubo gigante de gelatina transparente! Quando meus pés tocaram o chão real, se é que se pode ainda chamar assim, eu caí de joelhos arfando em busca de ar, logo Accalia estava ao meu lado com as mãos em minha costa. - Respire fundo e com calma. - disse ela. - Vamos, não temos tempo a perder. - Safo parou mais uma vez em minha frente e olhou diretamente para mim, e então começou a caminhar.


Não demorou muito e já podia avistar um enorme castelo erguendo-se ao fundo, ele tinha enormes torres poligonais em todos os lados, sua construção era rochosa de cor cinza clara com muros tão gigantes quanto suas torres. De repente me dei conta de onde estávamos! Era o castelo O Poderoso Caernarfon que tinha sido demolido há décadas atrás! Isso era impossível, nas aulas de História o Sr. Gregory havia nos contado sobre esse castelo, ele foi construído por Edward I em 1283 na sua conquista de Gales, Caernarfon havia sido construída não só como uma fortaleza militar, mas também como sede do governo e palácio real, mas em 1892 o castelo veio subitamente abaixo, como se uma bomba nuclear tivesse atingido toda a área e a península onde se localizava foi inundada pelo mar de Gales e o que restou foi uma parte da ponte que ligava a terra até a uma parte da ilha, e era exatamente nesse local em que eu me encontrava, era assustador pensar que tudo estava acontecendo de uma forma tão rápida e mesmo assim eu ainda conseguia assimilar certas coisas. - Precisamos atravessar a ponte, você só precisa nos seguir e fazer o que fizermos certo? – Accalia pousou sua mão em meu ombro como um gesto de carinho, sorrindo ela se virou para Safo e disse: - Acredito que não iremos ter nenhum problema, vamos seguindo em frente. – Caminhei entre eles e quando já estávamos chegando ao fim da ponte comecei a ver que não era o fim! Ela continuava seguindo, mas agora, a sua forma era translúcida, como que só quisesse aparecer para nós e mais ninguém.

Continua...




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