Reportagem - Infiltrados na Universidade

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Infiltrados na Universidade

Em 1964 os militares tomaram o poder com o apoio de setores conservadores da sociedade, sob o pretexto da ameaça do Brasil se tornar uma ditadura comunista comandada pelo então presidente João Goulart. Com o golpe, iniciou-se uma perseguição político- ideológica em nome da segurança nacional e da ordem social, visando eliminar qualquer possível oposição ao regime imposto. As universidades, tidas como espaços abertos e democráticos, não foram excluídas do sistema de vigilância da nova ditadura militar. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Operação Limpeza do governo resultou na expulsão de 18 professores, e , nos anos seguintes, outros foram afastados ou forçados a se aposentar. Estudantes e funcionários eram observados pelos olhos do governo, representados por agentes policiais, do Exército ou civis, que anotavam qualquer atitude suspeita. Escobar – codinome de um dos agentes do Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul ( Dops-RS) – era um desses olhos. Em serviço entre 1971 e 1979 como informante, infiltrou-se em aulas o Instituto de Filosofia e da Faculdade de Direito, participando de passeatas e comícios, à procura de líderes do movimento estudantil. Seu codinome foi escolhido por superiores. O agente explica que todos possuíam um apelido, combatentes de esquerda ou de direita. Por ser jovem quando entrou no Dops, poderia facilmente ser confundido com um estudante. Uma prevenção para ajudar no disfarce do agente eram as carteirinhas do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS, com nomes comuns, renovadas todos os anos. A confecção e o fornecimento desse material eram realizados pela Assessoria de Segurança e de Informação (ASI), formada por funcionários da universidade, que também contribuíam ao indicar suspeitos e passar informações de alunos, como moradia, hábitos e com quem andavam. A UFRGS era o principal alvo dos informantes da ditadura. Escobar explica que, para os seus colegas, enquanto na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – salvo algumas exceções – os estudantes iam para estudar, na UFRGS, eram profissionais que faziam vestibular para permanecerem vinculados ao movimento estudantil. O ex-agente afirma com segurança que o sistema de vigilância dentro UFRGS era de conhecimento – e consentimento- dos reitores da universidade. Afinal, a subversão dentro das instituições de ensino era de sua responsabilidade, norma respaldada pela Lei 477/69, criada após o decreto do Ato Institucional Número 5 (AI-5).


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