Tentando entender

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TENTANDO ENTENDER DE CRISTIANO TETTÉ

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Tentando entender uma obra singular Edmar Costa Barros Professor de Literatura Portuguesa e Africanas de Língua Portuguesa, formado pela UFRJ. Ao escrever ´´Tentando entender``, o escritor Cristiano Tetté toca em assuntos que formaram o grande labirinto finissecular: o fim do mundo e o destino da humanidade. Mas de uma forma irônica e muito divertida. Sob a ótica do charlatanismo e da ingenuidade, os personagens se revezam em um jogo de sobrevivência do ego e da ascensão do panis et circis. Seres burlescos e alquebrados como madame Adlian, uma cartomante velha e ressecada pelas seis décadas que carrega em um corpo castigado pela metade da sua vida enrolando seus clientes. Vivem no ambiente tão mágico quanto foi a sua carreira advinhatória: um beco imundo e fedido onde os ratos passeiam com tanta tranquilidade e sem receio durante a luz do sol como se fosse o silêncio escuro da madrugada. Mas a estória não se resume ao burlesco que se aproveita da sensibilidade humana para obter frutos próprios. Juntando-se a essa formula, surge a renovação das esperanças para homens e mulheres de todo. Mas para a charlatã essa renovação da esperança resume-se na gana do vil metal com a exploração da crença e fé de populares que sofrem com a ideia de não conhecer o derradeiro destino. A união dessas pontas se faz através do apocalipse anunciado por gu rus que se arriscaram durante séculos. O anuncio do dia derradeiro nunca fora revelado pessoas iluminadas como Jacinta, a menina que viu a Virgem de Fátima ou pelo filosofo Nostradamus. E como imaginar que uma reles cartomante o faria com perfeição?

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Esse ingrediente torna a receita da obra literária muito mais intrigante, na medida em que as suas necessidades carnais vão substituindo à lógica e a razão tão desejada, expondo falhas, defeitos, ganancias, misérias e mazelas sócias e da alma. Que amarras são essas que prendem o desgraçado leitor a uma leitura profunda da própria alma como da própria obra? O leitor vê-se na angustia de seus personagens e toma partido dessa miséria. Vê se o fã das artes advinhatórias, esquecendose de que quem rege nosso destino descansa no Altíssimo e nos dá o livre arbítrio. Vê-se naquele que morre de fome como o próprio esfomeado do maná que vem Dele. Sente-se na pele dos homens cuja vã cobiça e o mal desejo de mandar caiem de joelhos e os ombros a se inclinam diante do poder maior. Vimos a beleza que está no olhar é ao mesmo tempo duro e gélido pela dureza humana e a batalha pelo pão nosso de cada dia não substitui o olhar doce e piedoso Daquele que nos vigia diariamente, nos desvia do mal e zela nosso sono porque tivemos a honra de chama-lo de Pai. Identifica-se com o próximo a ponto de elegê-lo como seu companheiro, mesmo que esse seja do mesmo sexo, mas esquecendo de que os seres nasceram para o oposto porque essa é a sua vontade. E o que for diferente disso, não vem Dele. Mas pode-se malhar o mais destemperado metal para criar a mais nobre aliança. Pode-se transformar o elemento químico bruto no remédio que te salva. Muda-se o curso do caudaloso rio para alimentar a nação do semiárido ou derrubar-se a montanha mais íngreme para criar o caminho mais curto. Mas o pior material de trabalho é o humano, porque é destemperado, bruto, caudaloso e íngreme. E transformá-lo torna-se um desafio constante e instigante, porém com grandes riscos de fracasso e frustações.

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A obra aponta para populares o dedo da denuncia e mostra um universo do desencanto, mas muito diferente das obras de autoajuda que lotam as prateleiras das maiores livrarias e sebos do Brasil e que se tornou alvo de estudo acadêmico. Mostra-nos um novo gênero de literatura que está longe do anarco-surrealismo da poesia de Vergílio de Lemos ou modernismo regionalista de Graciliano Ramos. Não veremos homens Sem medo ou Teorias que se lançam em uma cruzada louca para libertar uma nação ou ver do outro lado um colonizador que luta a qualquer custo para manter-se de pé onde Judas perdeu as botas. Não deixaremos escorrer uma lágrima porque um grande cetáceo de coração maior ainda encontrar a morte depois de acolher as necessidades dos seres de boa maldade. O que tentamos entender é que existem homens e mulheres que lutam no dia-a-dia contra a miséria que escraviza e verdade que liberta e que se aproximam de um neo-decadentismo, pois a única certeza tabular está no auto penitencial de salvação do ser humano diante do fim iminente. Mas que a própria morte não se resume na carnal. Mas sim na espiritual que endurece o coração e que faz vender a alma, não ao impronunciável ser das profundezas, mas sim aos bens matérias que os tornam cambiantes e não deixa certezas sobre de que lado realmente estão: do bem ou do mal.

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1º Capítulo

A RAIZ

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m estranho lugar, úmido e obscuro, onde ratos passeiam em pleno dia ensolarado. Um beco muito imundo, sem saneamento básico decente. É onde mora a estranha Madame Adlian: uma mulher de aparência nada boa, pele seca e áspera, pesando cerca de noventa quilos, com apenas um metro e sessenta de altura, parecendo ser uma rolha encardida de uma antiga garrafa de vinho. Com 63 anos, faz tremendas consultas com suas cartas, que a mesma diz serem mágicas, já há trinta anos, pura enrolação! Com todo esse tempo enganando as pessoas, não conseguiu nada, nem ao menos um lugar decente para morar. Até que... Alguns anos atrás, o povo botou na cabeça que o mundo acabaria no ano 2000. A partir dessa época, ela começou a se programar para dar um dos maiores golpes de sua vida. Dizia a todos que a consultavam a seguinte frase: “Eu tenho a salvação”, cobrando, é claro, uma quantia absurda por isso. O tempo foi passando, a notícia da salvação foi se espalhando. Certo dia, em sua casa... Madame Adlian está atendendo um empresário bemsucedido, com quarenta e poucos anos, que está muito assustado e bastante ansioso, e não para de se lamentar. – O mundo vai acabar exatamente à meia-noite! Deus nos proteja! Faltam apenas cinco dias para o ano 2000... Esse é o fim, está escrito! O que será que está por vir? O que será? Madame Adlian, com a cabeça baixa, acompanhada de um olhar frio e atravessado, responde: – Aeaeraiááá, aeaeraiááá... Dizem que agora há de vir

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fogo, muito fogo! Aeaeraiááá, aeaeraiááá... O empresário abaixa a cabeça, balançando-a de um lado para outro, como quem não aceita tal resposta. Madame Adlian o observa muito impaciente e, sem perder tempo, aproveita a ocasião para dizer: – Aeaeraiááá, aeaeraiááá... Ninguém está preparado... e... Antes que a mulher complete a frase, o empresário pergunta, muito alvoroçado e nervoso: – Madame Adlian, irei conseguir sobreviver até o fim? Ela aproveita mais uma vez o nervosismo do rapaz e responde: – Aeaeraiááá, aeaeraiááá... Você tem de me dar mais R$ 339,00, pois as cartas não mentem. Aeaeraiááá, aeaeraiááá... O empresário se levanta, retira o dinheiro do bolso e em seguida volta a sentar-se, dizendo: – Tome, Madame Adlian, tudo que tenho. Ande, pegue meus R$ 790,00 mais este relógio de ouro. Agora me fale: o que as cartas estão dizendo? Com um dos mais lindos sorrisos falsos, a mulher responde: – Aeaeraiááá, aeaeraiááá... Vamos ver, meu rapaz! Em seguida, ela se levanta da cadeira e logo se senta novamente, dando três tapas na ponta da mesa. Com os olhos fechados, diz: – Muito bem! Você será salvo do fim... Agora pode ir embora. Por hoje, a consulta já acabou. O empresário pergunta novamente se será salvo e ela confirma, dessa vez com os olhos totalmente abertos e um falso sorriso. – Obrigado, Madame Adlian! Muito obrigado! Irei viajar amanhã mesmo para Fortaleza! Eufórico, o empresário se levanta, corre em direção à porta, abre-a com delicadeza, mas fecha-a com violência, e segue seu caminho. A pancada é tão forte que um pequeno 6


quadro até cai da parede. Madame Adlian, ao presenciar aquilo, fica bastante furiosa e começa a resmungar, dando uma forte pancada na mesa: – Ouu! Não tem geladeira, não?! Seu coisaaaa! Logo ela se levanta e começa a sorrir e falar para si mesma: – Que povo mais imbecil! Se falar que vai chover canivetes, todos acreditam... Hoje deu para lucrar bastante. Deixa ver... – e se põe a contar o dinheiro. – Que beleza! Nem mais, nem menos: estou com o bolso cheio, R$ 13.047,00! Ui, ui, ui! Eu vou é embora, sumirei logo daqui, falta pouco... O golpe dos golpes! Não tão perto dali... Uma família com muitas crianças necessitava de apenas R$ 4,00 para comer algo. O pai era um homem de pele negra, com uma aparência muito ruim, pois há dias não fazia a barba nem cortava o cabelo. Reclama muito: – Já não aguento mais essa vida! Necessidade sempre.. Será que isso nunca irá mudar? Porra, não dá mais para aguentar! A esposa, cujos lindos olhos azuis naquele momento pareciam dois icebergs de tão frios que estavam, olha para ele com tristeza e responde seriamente: – Calma, tudo irá ser resolvido, Deus está conosco... Ao ouvir a resposta da esposa, o homem se exalta, muito furioso, e dá vários socos na mesa, dizendo: – Irá ser resolvido! Uma ova que vai ser resolvido! Todos estão preocupados porque o mundo vai acabar, e eu não aguento mais essa ladainha! Preste atenção, sempre a mesma frase: “Falta pouco para o ano 2000”, e assim vai... Sempre falo: o mundo só acaba para quem morre, porra! A esposa se aproxima para lhe dar um forte abraço e dizer bem baixinho em seu ouvido: – É, meu querido, mas Deus estará voltando daqui a uns 7


tempos e vai ser nada mais e nada menos que o fim dos tempos.. – O que você achou dessa pequena história que acabei de te contar. Estou indo pelo caminho certo? Será que consigo escrever um bom livro, Grayce? – Creio que sim! Tem de acreditar em você. – Pois é, minha amiga: como diz papai e mamãe, a força tem de vir da própria família. Sei que tentar entender o comportamento das pessoas é bastante complicado, mas irei pesquisar um pouco. Até mais ver, minha querida. Seguirei em busca de novas aventuras. – Até mais, meu amigo. Alexssander é um rapaz de 22 anos que cursa Comunicação. Sonha em ser um bom jornalista e um belo escritor. Procura entender o comportamento das pessoas. A partir desse dia, ele começa a buscar novas mudanças. A primeira mudança que faz é sair de sua pequena cidade, chamada Onolulu, para ir morar em um pequeno conjugado, na grande cidade do Rio de Janeiro, no bairro nobre da bela Ipanema. Conhece muita gente nova, sempre seguindo e estudando cada uma. Nesse período conhece uma menina chamada Ana Rud, simplesmente uma das mais lindas lésbicas que já conhecera, pele morena, olhos puxadinhos, de cor castanho bem clarinho, quase mel, com apenas 21 anos. Após um tempo, os dois resolveram dividir um apartamento maior. Alexssander percebeu que ela não falava nem via seu pai. Então perguntou o motivo de tanto ódio dentro do coração, e ela respondeu com um olhar bastante triste e distante.

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Lançamento previsto para o ano de 2012 O que será que está por vir? O que será?

No meado do mês de Fevereiro ou no inicio do mês de Abril. Vocês desfrutaram desse belo romance, carregado com muito drama e com um simples toque de Ficção e Realismo. Não deixem de ler. ´´ TENTANDO ENTENDER ``

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