Telessaúde Informa Abril

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Entrevista sobre o Provab: o programa garante a fixação de profissionais?

Reportagem: desafios para a Saúde Indígena e a Atenção Básica

páginas 4 e 5

páginas 8 e 9

Teleconsultoria: apoio para a inclusão do NASF no PMAQ página 10


destaques

Novo ciclo do PMAQ-AB: o que muda em 2013?

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adesão ao 2º ciclo do Programa Nacional para a Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) terminou no dia 31 de março. A novidade principal para esse ano é que todas as equipes podem aderir. Além disso, o programa passou a incluir o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e o Centro de Especialidade Odontológica (CEO). A próximas etapas agora são de Desenvolvimento, Avaliação Externa e Re-contratualização, que devem ter os prazos confirmados em breve pelo Ministério da Saúde (MS) e que garantem o repasse de recursos às equipes. O PMAQ voltado para o NASF e para o CEO acontece em um processo paralelo. Para o CEO, haverá uma duplicação dos recursos, sempre vinculada ao objetivo de aumentar o acesso e a qualidade dos serviços odontológicos. A inclusão do Centro no PMAQ decorreu do maior investi-

mento no programa Brasil Sorridente, proposta apresentada pela presidenta Dilma Rousseff em setembro do ano passado. Segundo Gilberto Pucca, coordenador de Saúde Bucal do MS, os pontos que serão avaliados no PMAQ, especificamente para o CEO serão: equipamentos, acesso facilitado, autoavaliação dos trabalhadores do Centro e satisfação do usuário. Todos os tipos de CEO - I, II e III - podem aderir, e mesmo aqueles que não se inscreverem serão avaliados. A importância do PMAQ está em vincular, pela primeira vez, o repasse de recursos à implantação e alcance de padrões de acesso e de qualidade pelas equipes de Atenção Básica. Acompanhe nos próximos Telessaúde Informa mais novidades sobre o programa e suas etapas. Para entender melhor o PMAQ, assista ao workshop do dia 28/03, disponível no site telessaude.sc.gov.br.

Destaques do mês!

Abril

O Telessaúde SC começa abril destacando a participação de quatro municípios em nossos serviços de Webconferência e de Segunda Opinião Formativa. São eles: - Luiz Alves; - Vargem Bonita; - Videira; - Benedito Novo. Parabéns! Vocês investem em educação permanente e colaboram para a melhoria dos serviços oferecidos na Atenção Básica!

Revista Radis, nº 126 — Autora: Marina Cotrim / Disponível pelo link: http://www.ensp.fiocruz.br/radis/sites/default/files/radis_126.pdf

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cotidiano

Ministério lança e-SUS para qualificar a informação na APS Fonte: MS / DAB

Criada em março de 2013, a estratégia pretende substituir o SIAB em até dois anos

Há cerca de um mês, a assistente social Irma Remor recebeu a ligação de uma conselheira tutelar, que relatou avistar uma senhora desorientada ser abordada por um policial num terminal de ônibus em Florianópolis. Irma, que trabalha na Secretaria de Assistência Social da cidade, orientou a conselheira a conversar e descobrir o número de identidade da mulher. De posse dessa informação, Irma ligou para uma Unidade de Pronto Atendimento e descobriu que aquela senhora já havia sido atendida numa unidade de saúde da ilha, conseguindo, assim, o endereço e o telefone da família dela. Situações como essa acontecem com frequência em Florianópolis e ilustram a importância da integração dos registros da APS. Para isso, em 2013, o Ministério da Saúde lança o e-SUS AB, estratégia para reestruturar as informações da Atenção Básica em nível nacional. Esse sistema vai possibilitar também o cadastro de equipes que antes não tinham registro, como o NASF, os Consultórios na Rua, o Programa Saúde na Escola e a Academia da Saúde. Além disso, permite o registro de abril 2012 edição 20

atividades coletivas na APS, das reuniões de equipes às reuniões com a comunidade. De acordo com Thaís Alessa, integrante do Grupo de Trabalho do e-SUS do Departamento de Atenção Básica (DAB), a principal mudança é que os dados, que com o SIAB já estavam consolidados, agora são individualizados, permitindo identificar todos os procedimentos realizados pelo usuário na rede. “Uma equipe fez 30 consultas para hipertensos, mas essas consultas foram para uma pessoa ou para pessoas diferentes? Qual o risco cardiovascular delas? O detalhamento de informações possibilita melhor

O e-SUS permite identificar os procedimentos feitos na APS gestão dos processos de trabalho, tanto municipal, quanto da própria equipe”, complementa Adriana Kitajima, também integrante do GT do e-SUS. O MS pretende atualizar novas versões do e-SUS ao longo do ano, de acordo com as necessi-

dades identificadas na prática. A versão de uso do e-SUS deve ser disponibilizada em abril e as equipes podem baixar no site do DAB (http://dab.saude.gov.br/portaldab/esus.php) e preencher os dados, pois nessa versão a base de dados nacional já deve estar completa. O gestor vai cadastrar um profissional de referência em cada equipe, que terá uma senha para registrar e enviar os dados. Para adaptar-se às mais diferentes realidades locais, o e-SUS se apresenta em duas versões: o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) e a Coleta de Dados Simplificada (CDS). Na primeira opção, é necessário que a equipe possua pelo menos um computador no consultório, com acesso à internet constante ou limitado, já que o sistema também funciona offline. Já na CDS, são sete fichas manuais e a equipe não precisa ter computador, os dados podem ser digitados e transferidos em um lugar com internet, como uma lan house, a secretaria municipal de saúde ou outro local. “O e-SUS é de adesão voluntária e é gratuito, mas haverá uma transição, e o SIAB ficará obsoleto em até dois anos”, completa Adriana. telessaúde informa

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entrevista

O Provab e a Residência competem pelo recém-formado? Thiago Trindade, médico de família e comunidade e vice-presidente da SBMFC, fala sobre os objetivos e as falhas do Provab, programa criado em 2011 pelo governo para levar médicos a cidades com dificuldade de provimento, e dá ideias de como melhorá-lo TI - Provab significa Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica. Qual o objetivo dele, exatamente? Thiago Trindade - O Provab é uma estratégia para levar profissionais a cidades de difícil acesso e para equipes onde faltam principalmente médicos. Isso porque existem muitas regiões no país em que os médicos simplesmente não chegam. Regiões como a Amazônia, o Sertão Nordestino e até algumas cidades do Sul e Sudeste. Essa era a estratégia inicial, o grande objetivo do programa. Para isso, foram criados incentivos para o profissional: o princi- tariam de trabalhar. Em seguida, pal é uma bonificação. o Ministério da Saúde cruza esses dados e aloca os médicos nas ciTI - Em que consiste esse incen- dades que solicitaram, conforme tivo principal? a necessidade. Neste ano, os proThiago Trindade - Basicamente, fissionais foram distribuídos e coé uma bonificação voltada para meçaram a trabalhar em março. captar o recém-formado, que ainda vai fazer a residência médica, TI - Qual a importância do Proe essa é a nossa primeira crítica. vab enquanto estratégia de Ele se coloca como Programa de prover profissionais para as ciValorização da Atenção Básica, dades que necessitam? mas, para valorizá-la, outras estra- Thiago Trindade - É uma estratégias seriam melhor usadas: in- tégia de importância do ponto vestimento no serviço, em infra- de vista das necessidades sociais, estrutura, melhora da formação mas deve ser de curto prazo, não dos profissionais, garantia de um deve substituir as formações de bom campo de trabalho e carrei- qualificação através da residência ra profissional. profissional. Desse jeito que está, não qualifica a Atenção Básica. TI - E como o Provab funciona? Ela simplesmente traz um médiThiago Trindade - Os municípios co a uma população que está dese cadastram conforme o edital sassistida, mas este pode não ser que o Ministério lança e depois os o melhor médico que essa popuprofissionais se inscrevem indi- lação pode ter. O melhor médico cando os municípios em que gos- é o que foi formado para traba-

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lhar em Atenção Primária, que fez uma residência em medicina de família e que vai ficar naquela comunidade. TI - E o programa consegue realmente fixar esses profissionais? Thiago Trindade - Não. A maioria dos profissionais que estão indo para o Provab vão com o objetivo de ficar um ou dois anos, serem bonificados e sair para fazer uma residência de outra especialidade. Obviamente, existe uma parcela que são médicos que querem trabalhar na AB e aproveitaram esse espaço para conseguir esse emprego, mas isso é minoria. A maioria vai sair, e isso não é bom. TI - Você acha que será criada alguma maneira de educação permanente para ajudar a fixar e qualificar esse profissional? Thiago Trindade - Com certeza. Uma das estratégias essenciais é que este profissional tenha um suporte muito grande. A maioria deles são recém-formados, falta experiência clínica, então entra o apoio através de cursos de especialização e eu acho que o suporte, por exemplo, do Telessaúde é essencial. Toda equipe do Provab precisaria de um suporte desses, porque esses profissionais precisam de apoio. Embora o programa preveja uma supervisão presencial e exista um médico supervisor, isso só acontece a cada semana ou a cada 15 dias, o que não garante o dia a dia de trabalho desse profisedição 20 abril 2012


entrevista

sional. Então, a ferramenta do Telessaúde pode ser uma garantia de melhora da qualidade assistencial. A gente espera que esses profissionais passem também por um processo de educação na prática, porque é isso que qualifica.

grama que deveria ser prioritário é a residência, porque você está, afinal, formando um profissional de melhor qualidade para o futuro da APS no país. A gente acredita que o Provab seja mais importante neste momento, em que há carência de médicos no Brasil em áreas TI - Pode-se dizer que exis- de difícil acesso. Mas no futuro, te uma certa competição nas nós precisaremos de médicos grandes cidades e centros entre que vão ficar nas equipes, e não o Provab e a residência? de médicos que vão ficar por um Thiago Trindade - Isso apareceu ano e vão embora. muito mais intensamente neste ano, já que no ano passado a quantidade de pessoas que adeVamos precisar de riram ao programa foi baixa. Em médicos que fiquem 2013, mais de quatro mil médicos já optaram pelo Provab. No Branas equipes e que sil, formam-se por ano em torno não partam após de 12 ou 13 mil médicos, então é um ano uma parcela muito grande. Já para a residência, existem quase mil vagas e só 30 ou 40% delas são ocupadas. A residênTI - O que explica essa difecia é pouco atrativa ao recém- rença de adesão do ano passa-formado. Primeiro por existir um do para 2013? desprestígio do graduando em Thiago Trindade - No começo, as relação à modalidade [de medi- pessoas não estavam acreditancina de família e comunidade], do que era um programa que iria e depois pela própria questão fi- vingar, mesmo dentro das univernanceira. Hoje, a bolsa de um mé- sidades e sindicatos. Existia um dico residente é de R$ 2.338,06. E, movimento da medicina contra se você for trabalhar no Provab, a isso. bolsa será de R$8.000. As pessoas Basicamente, a nossa sociese formam querendo um mínimo dade [de medicina de família e de condições de trabalho e ren- comunidade] foi uma das pouda. Então essa competição existe, cas que apoiaram este programa sim, nesse sentido. desde o início, por entendermos Óbvio que isso não é só culpa que ele tem um objetivo social do Provab. Eu acho que há uma muito forte, de querer atender falsa crença desses médicos de necessidades dessa população que trabalhar na Atenção Primá- desassistida por médicos. Mas ria sem fazer uma residência é o outros tiveram uma crítica muito suficiente. Nós defendemos que forte e não foi surpresa a taxa de não, que para trabalhar na APS, o adesão muito baixa. profissional precisa ser qualificaEm 2013, como as pessoas endo pela residência. Então o pro- tenderam que é um programa abril 2012 edição 20

que vai realmente para frente, muitos médicos recém-formados resolveram aderir. O Provab hoje é composto basicamente por profissionais que se formaram nos últimos três anos, o que deve equivaler a 90%. TI - E quais são as desvantagens para o médico que trabalha nas cidades menos providas, que gera essa não -fixação e falta de profissionais? Thiago Trindade - Hoje, os médicos são contratados pelos municípios sem concurso público, seleção pública, e diante de diversas dificuldades. Então, o Ministério da Saúde, juntamente com outros Ministérios, precisa criar estratégias de fixação destes profissionais, precisa olhar para esses municípios com um projeto de estrada para eles: melhorar a saúde, a educação, o lazer e a renda. Os profissionais querem ir, mas querem constituir família e morar em uma cidade em que tenha qualidade de vida. Então temos que pensar em um país onde qualquer cidade venha a oferecer esta qualidade, para que esses médicos fiquem por lá. TI - E quais propostas estão sendo pensadas para mudar essa realidade? Thiago Trindade - A gente quer que o Ministério apresente também projetos para fixar o profissional, com planos de carreira, com seleção pública e que os profissionais fiquem de verdade nesse serviço. Inclusive com gratificação, para que, quanto mais tempo o profissional ficar no município e naquela unidade de saúde, mais ele possa receber. telessaúde informa

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click

Retrados da Saúde Indígena na região de Florianópolis Acompanhamos o trabalho da equipe de saúde na aldeia M´Biguaçu, no litoral de Santa Catarina, onde vivem 33 famílias indígenas

Uma das funções da equipe de saúde é o acompanhamento do crescimento das 68 crianças da aldeia

A rotina dos profissionais de saúde indígena envolve pesagem, verificação da pressão e tratamento das doenças mais comuns - Infecção das Vias Aéreas Superiores (IVAS), verminoses, doenças de pele e diarreia. Uma particularidade é a função da agente indígena da aldeia (correspondente à do agente comunitário de saúde). Ela conhece a comunidade, vive ali, e faz a interlocução com a equipe de saúde. Também tem papel importante no diálogo sobre questões culturais.

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click

Helena Moreira (sendo atendida) é a agente indígena,importante no contato com a aldeia

Equipe orienta as mães sobre cuidados com a criança

Política Indigenista no Brasil As instituições públicas começaram a atuar na política indigenista no Brasil com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que foi substituído, em 1967, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), entidade estatal criada pela ditadura militar. Com a Constituição, e a criação do SUS, ambos em 1988, foi reconhecido o direito dos povos originários às suas terras e a premissa de um tratamento diferenciado a eles. Em 1999, criou-se o subsistema de saúde indígena do SUS Já em 2010, a recém-criada Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) - que substituiu a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) - assume a gestão do subsistema. Nessa estrutura, o modelo de assistência está baseado nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Estes formam uma rede interconectada de serviços de saúde, que oferecem cuidados de atenção primária à saúde. Hoje, são 34 DSEIs distribuídos pelo Brasil, cada qual responsável pelos serviço de Atenção Básica dentro de sua área de cobertura. Para isso, contam com equipes de saúde que devem ser compostas por médicos, enfermeiros, médicos, odontólogos e outros profissionais. Confira mais informações na reportagem a seguir. (Fonte: Publicação do Ministério da Educação, em 2012, Saúde Indígena: uma introdução)

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reportagem

O papel da Atenção Básica no atendimento aos povos indígenas Quais as principais dificuldades e singularidades da atenção à saúde indígena no Brasil? Em Santa Catarina, 17 municípios possuem aldeias e lidam diariamente com essas situações

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s mulheres chegavam trazendo as crianças que tinham, em média, de três a cinco anos. A enfermeira e a técnica em enfermagem recepcionavam os grupos que apareciam, perguntavam quem havia trazido a caderneta de saúde e encaminhavam os pequenos para serem pesados, procedimento que é parte dos registros de acompanhamento do crescimento de cada um. O atendimento feito pela equipe de saúde indígena à aldeia M’Biguaçu acontece quinzenalmente. A comunidade se localiza em Biguaçu, na grande Florianópolis, e lá vivem 33 famílias, sendo que, do total de moradores, 68 são crianças de 0 a 12 anos. Adriana Santana, coordenadora da equipe, relata que, nas visitas que realizam, procuram sempre respeitar o pajé de cada aldeia, pois muitas vezes os indígenas preferem se dirigir a ele antes e depois serem atendidos pelo médico. Um dos maiores desafios para as equipes que trabalham com a saúde indígena é conciliar o respeito e a preservação das culturas tradicionais desses povos com a atuação nas questões que interferem na saúde deles. “Cada cultura tem um compilado de práticas e já tem até alguém que desempenha uma prática de saúde, que em geral é o pajé”, explica Mariana Alencar, coordenadora de Atenção Primária à Saúde Indígena. Por outro lado, em Biguaçu, muitos saberes tradicionais indígenas se perderam. Segundo Adriana, eles

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preferem o remédio alopático, “que já vem pronto dentro do vidrinho”, alimentam-se de maneira muito parecida com a do “homem branco” (arroz, feijão e carne), têm como base da renda o artesanato, vivem em casas de alvenaria e

A Saúde Indígena segue todos os princípios do SUS e da Atenção Básica

rampo, a varíola e a tuberculose. A redução populacional dos indígenas foi tão expressiva (...) que, por algum tempo, chegou-se a aceitar a ideia de extinção gradual desses povos.” Tal previsão não se concretizou e houve uma recuperação dos povos indígenas ao longo do século XX. Hoje, o dado epidemiológico de maior relevância para a saúde indígena é a mortalidade materno-infantil. Para se ter uma noção, em 2011, o Brasil registrava 16 mortes (de menores de cinco anos de idade) a cada mil crianças nascidas, com base em dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Esse número é 73% menor do que a taxa da mortalidade infantil em 1990. Por outro lado, segundo Mariana, quando se trata especificamente das populações indígenas, vemos que

possuem celulares, por exemplo. O que restou da cultura dos antepassados é a língua, o guarani - ainda falada por eles e ensinada aos mais jovens -, e a religião, o Opy, pelo que conta Helena Rosa Moreira, agente indígena da aldeia. Essa é a forma singular de a aldeia M’Biguaçu se organizar, mas existem várias realidades diferentes, que, de maneira geral, decorrem do contato dos povos indígenas com outros grupos populacionais no Brasil. Desse contato, além da influência cultural, decorreram repercussões também sobre os perfis de adoecimento e morte. De acordo com o disponibilizado na publicação do Ministério da Educação, em 2012, Saúde Indígena: uma introdução ao tema, “entre as principais causas de morte relatadas (...) podemos destacar as relacionadas à violência externa (decorrentes de guerras, genocídios, descimentos, entre outros) e à disseminação de doenças infecciosas como a gripe, o sa- Caderneta de saúde da criança é essencial edição 20 abril 2012


reportagem

Inflamações por picadas de insetos são comuns na aldeia de Biguaçu, principalmente em crianças

“as taxas de mortalidade infantil são, em média 2,5 vezes maiores”. Ainda de acordo com Mariana, criar estratégias para melhorar os indicadores de mortalidade materno-infantil entre os indígenas é prioridade para o Ministério da Saúde (MS). O primeiro impasse é a dificuldade de notificação, já que devido às distâncias físicas e às práticas culturais nas aldeias indígenas, muitas vezes esses óbitos não são informados. Ações estão sendo criadas para mudar essa situação, como garantir a presença do médico nas comunidades, pois ele é o profissional autorizado a fazer registro de óbitos. Há uma dificuldade de contratação e de manutenção dos médicos na saúde indígena. Em Florianópolis, por exemplo, a equipe estava realizando visitas parciais no momento do nosso contato, pois o médico havia pedido demissão recentemente. Segundo Aparecido Geraldo da Costa, coordenador do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI) Interior Sul, é complicado encontrar médicos com perfil para trabalhar com a saúde indígena, mesmo porque há uma diferença salarial. “É complicado concorrer com o salário de alguns municíabril 2012 edição 20

pios, que é maior que o da saúde indígena, de R$ 12.460,00”. Mariana explica que existe uma concorrência com outros municípios, mas a falta de médicos acontece em todo território nacional. “Não é o salário que segura o médico, são as condições de trabalho, o plano de cargos e carreiras e o plano de educação permanente, por exemplo”, completa. Ações como o Provab (ver entrevista na pág. 4) vêm para mudar essa situação. Neste ano, pelo menos 40 médicos se inscreveram no programa para trabalhar especificamente com a saúde indígena. Atenção Básica? Em Santa Catarina, 17 municípios possuem aldeias indígenas, com um total de 8.813 pessoas. A maior parte desses povos é da etnia Kaingang, porém existem também Guaranis e Xokleng. No estado, são quatro os polos de referência (Florianópolis, Araquari, José Boiteux e Chapecó) que supervisionam as atividades das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena. Hoje, nove dessas equipes atendem a população indígena de todo o estado. O DSEI Interior Sul gerencia os polos base em Santa Catarina. O

DSEI, por sua vez, está vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde. Apesar de possuir uma secretaria especial, a base do atendimento à saúde indígena segue todos os princípios do SUS e da Atenção Básica. “O trabalho que fazemos é de Atenção Básica, e prestamos um atendimento integral nos municípios que acompanhamos”, afirma o coordenador Aparecido. Isso fica claro na organização do trabalho da equipe do polo base de Florianópolis, por exemplo, onde ficam os prontuários, os medicamentos, as cestas básicas, etc. As 10 aldeias atendidas pela equipe recebem visita a cada 15 dias, além de outros acompanhamentos eventuais, como para vacinação e as urgências - picada de cobra, partos, dentre outros. Hoje, cada DSEI implementa um modelo de APS diferente. Fazer um diagnóstico, pelos planos distritais e visitas de apoiadores institucionais, para criação de um modelo único, é prioridade para o MS. “Não será igual, pois a diversidade é grande, mas será importante, pois a intenção não é criar um SUS paralelo para a saúde indígena”, completa Mariana. telessaúde informa

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teleconsultoria

TeleNASF: apoio à inclusão do NASF no PMAQ solicitação para telenasf.telessaude@gmail.com. O profissional receberá, em até 24 horas úteis, o formulário de descrição da problemática que, após reencaminhado devidamente preenchido, será respondido em até 72 horas úteis à equipe ou gestor de saúde.

Integração entre teleconsultores e equipes/gestores, incluindo ações das teleconsultorias

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Núcleo Telessaúde-SC está com novidades! Em 2013, serão ampliadas as teleconsultorias para esclarecimento de dúvidas e dificuldades relacionadas ao processo de trabalho dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). As teleconsultorias de processo de trabalho do NASF (TeleNASF) fazem parte do serviço de teleconsultorias do Telessaúde SC e têm como objetivo disparar movimentos de mudanças de práticas em saúde a partir da realidade de cada NASF. A interação entre equipes, gestores e teleconsultores envolvidos ocorre por meio de instrumentos de telecomunicação bidirecionais, sendo possível o acesso a duas modalidades de TeleNASF: - Teleconsultoria em tempo real (síncrona) através de discussão realizada por skype com as teleconsultoras Inajara, Gisele ou Thaís;

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- Teleconsultoria assíncrona, com dúvidas ou dificuldades no processo de trabalho encaminhadas por e-mail e respondidas em até 72 horas úteis pela teleconsultora Thaís. TeleNASF Síncrona As equipes ou gestores que desejem realizar uma teleconsultoria síncrona (em tempo real) devem encaminhar sua solicitação através do e-mail telenasf.telessaude@gmail. com ou ligar para o telefone (48) 3212-3505. O profissional deverá informar o melhor dia da semana e horário a ser agendada a TeleNASF síncrona. TeleNASF Assíncrona Para as teleconsultorias assíncronas (por e-mail), deve-se, também, enviar

PMAQ – NASF Com o objetivo de induzir a melhoria da qualidade e o aumento da resolubilidade das equipes, neste ano os NASF também puderam aderir ao 2º Ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). As adesões foram feitas até o dia 31 de março e a contratualização deve ser realizada entre 15/04 e 30/06. O Núcleo Telessaúde SC disponibiliza as TeleNASF como instrumento de apoio para o processo de mudança de práticas das equipes a fim de alcançar os objetivos do PMAQ, como disposto na figura acima. Esperamos que os serviços ofertados aos municípios catarinenses contribuam com a qualidade de suas equipes, melhorando sua avaliação e certificação pelo Ministério da Saúde.

Equipe NASF e Gestores! Estamos à disposição para apoiálos na melhoria do processo de trabalho e da qualidade dos serviços oferecidos pelo NASF. Portanto, acessem o TeleNASF! edição 20 abril 2012


minicursos

Novo serviço: cursos a distância de curta e longa duração

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o mês de abril, o Telessaúde SC lançará o Moodle Telessaúde, um ambiente virtual de aprendizagem onde serão disponibilizados minicursos e cursos de maior carga horária, a distância, para os profissionais da Atenção Básica. Inicialmente, serão disponibilizados os minicursos de curta duração, elaborados a partir dos referenciais da educação permanente. A cada mês, novos minicursos serão lançados com foco no processo de trabalho e também em questões clínicas. Em abril, você poderá se inscrever nos seguintes minicursos: 1. Sistema Único de Saúde e sua legislação; 2. Atenção Primária em Saúde – Princípios e Diretrizes; 3. Reconhecimento do Território; 4. Acolhimento. Metodologia O modelo adotado para os minicursos é autoinstrucional, ou seja, não há turmas fechadas, nem períodos fixos de inscrição, você pode começar seu curso quando quiser. O tempo de conclusão dependerá do seu planejamento pessoal, mas prevemos carga horária de 10h. Então, com 1 hora de dedicação diária, de 2ª a 6ª feira, é possível a conclusão em duas semanas. O material didático é multimídia. Um livro digital orienta seus estudos e disponibiliza materiais como webconferências, sites, artigos, vídeos, entre outros. A cada etapa, o aluno faz uma pequena autoavaliação, para anali-

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sar o seu nível de aprendizagem. as inscrições são permanentes, Ao final dos estudos, haverá mas as vagas, limitadas. uma avaliação geral da aprendiVocê pode se inscrever nos zagem para a certificação. minicursos pelo acesso restrito do portal Telessaúde (telessauInteração de.sc.gov.br) com seu login e Cada minicurso dispõe de senha. Também está disponível dois tutores, um pedagógico na página inicial do portal um (para dúvidas de metodologia e passo a passo de como acessar o de ferramentas, ou recursos do Moodle Telessaúde. Moodle), e outro especializado Você pode visualizar os mini(que ajuda com relação ao con- cursos como visitante para avateúdo temático do curso e ana- liar se o conteúdo lhe interessa lisa sua avaliação final). Todos os antes de fazer sua inscrição detutores darão retorno às solicita- finitiva. ções de ajuda no prazo de 24h. Para maiores informações Apesar dos minicursos serem entre em contato com conosco realizados individualmente, pelo e-mail cursos.telessaude@ sugerimos que você incentive gmail.com ou pelo telefone (48) os demais profissionais de sua 3212-3505. equipe a participar, ampliando o debate. As atividades de avaliação final têm potencial para serem utilizadas como um importante instrumento de promoção da Educação Permanente para profissionais da Atenção Básica, podendo ser realizadas em conjunto durante as reuniões de equipe. Essas atividades contribuirão para que você tenha informações, avalie e proponha ações de transformação da sua realidade de trabalho. Como acessar Lembramos que telessaúde informa

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abril/2013 Eventos

O 12º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade só ocorre em maio de 2013, mas as inscrições já estão abertas. O evento será realizado em Belém do Pará e a tabela de preços de inscrições tem valores diferenciados para quem o fizer até dia 16 de maio. Quando? De 30/05 a 02/06 de 2013 Mais informações: www.facebook.com/cbmfc2013

Filmes

Xingu (2012)

Uma Prova de Amor (2009)

O filme conta a saga dos irmãos Villas-Bôas, Orlando, Cláudio e Leonardo pelo Brasil Central através da Expedição Roncador-Xingu, em 1943. Durante a viagem, eles se envolvem na defesa dos povos indígenas e de suas diferentes culturas e em 1961, fundam o Parque Nacional do Xingu. Ao recontar a história, Xingu mostra a luta pela criação do parque e pela salvação de tribos, os quais transformaram os VillasBôas em heróis brasileiros.

A pequena Anna foi concebida para que sua medula óssea prorrogasse os anos de vida de sua irmã mais velha, Kate, que desde a infância luta contra a leucemia. Anna nunca questionou seu papel, mas agora, ao chegar a adolescência, ela começa a se perguntar quem ela realmente é. Impulsionada por uma crise de identidade, Anna toma uma decisão que irá abalar sua família e talvez tenha terríveis conseqüências para a irmã que ela tanto ama.

Livros Quais São Nossos Deveres para com os outros como pessoas de uma sociedade livre? O governo deve taxar o rico para ajudar o pobre? O livre mercado é justo? Pode ser errado, às vezes, falar a verdade? Matar pode ser moralmente necessário? É possível, ou desejável, legislar sobre a moral? Os direitos individuais e o bem comum conflitam entre si? O curso Justiça de Michael J.Sandel é um dos mais populares e influentes na Universidade de Harvard. Quase mil alunos aglomeram-se no anfiteatro do campus para ouvir Sandel relacionar as grandes questões da filosofia política aos mais prosaicos assuntos do dia. Baseado neste curso, o livro Justiça oferece aos leitores a mesma jornada empolgante que atrai os alunos de Harvard. O autor, Michael J. Sandel, dramatiza o desafio de meditar sobre esses conflitos e mostra como uma abordagem mais firme da filosofia pode nos ajudar a entender a política, a moralidade e também nossas próprias convicções. Você pode descobrir mais sobre o livro e o curso no link: http://youtu.be/ZV76V-C0_BE

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agenda

Programação de webs de Abril

03/04

10/04

Rede de Atenção Psicossocial - 15h Palestrante: Maria Cecília Heckrath/ Coordenadora Estadual de Saúde Mental Resumo: Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do sistema Único de Saúde - SUS, com referência das Regiões de Saúde e seus componentes e pontos de atenção.

17/04

Competências da APS sobre Saúde do Trabalhador -15h Palestrante: Igor Tavares Chaves/ Médico de Família e Comunidade Resumo: Aborda o tema “saúde do trabalhador” e o papel da equipe de saúde da família na prevenção de doenças relacionadas ao trabalho e em sua abordagem terapêutica, bem como os encaminhamentos legais e responsabilidades.

24/04

Plantas Medicinais e Saúde Mental - 15h

Dor Crônica - 15h

Palestrante: César Simionato/ Médico de Família e Comunidade Resumo: Aborda as plantas medicinais empregadas no cuidado de problemas emocionais com base na melhor evidência científica e etnobotânica disponível, adequada e pertinente ao contexto da Atenção Primária em Saúde.

Palestrante: Igor Tavares Chaves/ Médico de Família e Comunidade Resumo: Nessa webconferência trataremos das possibilidades de abordagem da dor crônica e os recursos no âmbito da Atenção Primária à Saúde.

04/04

WORKSHOP

Problemas Ginecológicos mais comuns - 16h Palestrante: Camila Boff/ Médica de Família e Comunidade Público Alvo: médicos da APS Resumo: Serão abordadas algumas das queixas ginecológicas mais frequentes na Atenção Básica à Saúde como leucorréia, amenorréia e fogachos a partir da abordagem do médico de família comunidade.

18/04

WORKSHOP

Registro de dados em Saúde Bucal nos sistemas de informação (SAI/SIAB) - 15h Palestrante: Ana Christina D. R. Guimarães/Técnica da Coordenação de Saúde Bucal da GEABS/SES/SC Resumo: Aborda aspectos técnicos, legais, éticos, epidemiológicos e administrativo-financeiros em relação ao preenchimento dos sistemas de informação de forma completa e fidedigna para o acompanhamento dos serviços de saúde bucal.

Expediente: Jornalista Responsável: Marina Veshagem Texto, redação e edição: Marina Veshagem Design e Iustração: Vanessa de Luca Orientação: Luise Lüdke, Igor Tavares da Silva Chaves, Gisele Damian, Luana Gabriele Nilson Reportagem fotográfica e revisão: Thaine Machado Colaboração: Camila Peixer

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