8ºa por trás daquela foto

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O Projeto Partindo da leitura do livro Por trás daquela foto, feita pelos alunos do 8º ano, nasceu o projeto interdisciplinar Por trás daquela foto: um olhar sobre Sorocaba, envolvendo as áreas de Português, História e Geografia. Em Por trás daquela foto, os alunos se defrontaram com oito textos produzidos com base em fotografias, escolhidas pelos diversos autores. Neles, ganham espaço questões históricas, geográficas, autobiográficas e literárias, trazidas pela fotografia e traduzidas por meio da escrita de ensaios e contos. No Estudo do Meio Roteiro Histórico-Cultural de Sorocaba, realizado com os professores de História e Geografia, os alunos fotografaram os locais visitados e aprenderam sobre a história da cidade e a geografia de sua região central. Nas aulas de Português, conheceram o gênero conto e foram motivados a escrever textos ficcionais a partir de uma fotografia tirada durante o Estudo do Meio. O resultado, um livro de contos, considera a fotografia como texto visual que, aliada ao texto verbal, desperta memórias, provoca paixões, registra fatos, conta, explica, revela, constrói e desconstrói. Professores Rafael Bochini, Ana Luíza Bastos e Patrícia Souza.



Sumário O viajante....................................................................06 A História de um sonho em Sorocaba...........................09 Estórias.......................................................................14 Baltazar Fernades.......................................................18 A Lenda da estátua.....................................................22 Baltazar e o monstro...................................................25 A aventura de Rafael..................................................29 A expedição à Terra Rasgada......................................33 O neto, a avô e a Catedral...........................................42 O Coronel...................................................................45 Uma relíquia magnífica...............................................49 A fundação de Sorocaba.............................................56 Os canhões de Sorocaba..............................................59 Anastácia...................................................................62 Baltazar Fernandes....................................................65 O Fundador de Sorocaba...........................................68 Um sonho real...........................................................72 Anexo: Fotos e mapas de Sorocaba.............................76


“Quem teve sorte fugiu...” A

Ana Laura Camargo

O VIAJANTE

Em um lugar chamado Chegou um momento em que

Ninguém

Sorocaba, vivia Antônio Pires a água já não era suficiente, e Alguns Matarazzo. Ele era simples, seu

cavalo

não

cavalo como ninguém.

depois,

o

aguentava Antônio sentiu um arrepio. Ao

trabalhava em sua horta e era mais. comerciante, mas andava a

minutos

respondeu.

olhar para trás, viu uma onça Avistaram uma mata,

seguiram e pararam por lá.

Muito bem, na verdade, Como

ele

tinha

ele tinha um dom, só podia conhecimento em frutos por

enorme, pronta para atacá-los! Ele, muito assustado, começou

a gritar: — Meu Senhor do céu!

ser, pois ninguém ganhava causa da horta, conseguiu Por favor, eu consegui fugir dele em nenhuma modalidade escolher as melhores frutas, daquela tragédia para isso? do tipo. Mas um dia, algo reconhecer as venenosas e Morrer aqui? Tenha piedade terrível

aconteceu

na

sua achou um lago para poder deste pobre homem que pede

cidade! Uma grande seca os beber água. Após guardar a sua intercessão, perdoe atingiu. Nisso, uma tropa reserva de comida, foi seguir meus pecados!!!! Ave

desconhecida invadiu a cidade. viagem, Quem

teve

sorte

mas,

de

repente,

fugiu... escutou um barulho:

Antônio teve sorte de ser um dos fugitivos. Montado em seu cavalo árabe, seguiu com

pouca água e comida.

Maria cheia de graça... Pai nosso...

— Olá! Tem alguém aí? — exclamou

o

viajante,

assustado — Alguém?!

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6


A onça parou e ficou encarando-o, chegou mais perto, mais calma. Ao esticar o braço com os olhos fechados, sentiu uma coisa macia, ao abrir os olhos percebeu algo inacreditável: estava acariciando uma onça! Era um milagre. No momento, agradeceu a Deus, conseguiu fazê-la dormir, e saiu voltando ao seu rumo. Continuou uma longa viagem, no meio do nada, sol, chuva, tudo que se pode imaginar. Parou em uma aldeia, conseguiu conquistar a amizade dos nativos, arrumando comida, água e lugar para descansar. Antônio ficou amigo de todos. Inclusive das crianças, que todo dia pediam para ele contar a história do dia que domara a onça. Muita festa e alegria, em meio disso tudo ele acabou decidindo ficar na aldeia, passando todo seu conhecimento sobre frutos, plantas e usando de seu dom de domar animais. Infelizmente, em meio de toda alegria, existe sempre um ponto de tristeza. Anos depois, os mesmos que atacaram Sorocaba, invadiram a aldeia. Em todos aqueles anos, Antônio aprendera a lutar e produzir armas, com isso conseguiu lutar, mas não aguentou muito. Sendo assim, voltou à sua viagem. Muito cansado, faminto e morrendo de sede, estando a ponto de desmaiar, avistou uma mata. Ficou lá por alguns dias, familiarizando-se com animais, mas voltou ao seu rumo logo. Meses se passaram dessa forma, parando em matas, descansando embaixo de árvores, familiarizando-se com animais. Um certo dia, por incrível que pareça, enxergou uma cidade. No galope, chegou à cidade, sentindo reconhecer, parou para perguntar: — Oi, licença, gostaria de saber em que cidade estamos. — É Sorocaba — respondeu a mulher desconfiada de algo — Moço, por nada, mas como é seu nome? — Antônio — disse ele. De repente, berrou — Maria? É você?! Conversaram por horas. Maria era amiga de Antônio, muito amiga. Nossa, quanta conversa! Meu Deus do céu, eles não pararam mais, mas então ele decidiu perguntar: — Como você sobreviveu? Como Sorocaba ainda existe? — Bem, depois do que aconteceu... 7


Ela contou tudo, mas Antônio não gostou nada do que ouviu. Indignado, perguntou como ela conseguia continuar sob a liderança de pessoas que tiraram tudo deles, que mataram gentes queridas. Ela retrucou dizendo que não era nada daquilo e que cobravam impostos, mas que viviam. Não aguentando o que escutava, levantou com apenas uma certeza: de que tudo aquilo devia mudar, então encontrou abrigo e descansou. No dia seguinte, foi até a praça central e começou um protesto, dizendo para não se deixarem levar, que nascemos com boca para falar, para não ficar mudos: — Não fiquem calados, como vocês podem se deixar levar? Vamos! Vocês não têm ideia do que eu passei... Contou toda sua história, ficou conhecido como louco. Logo isso chegou aos ouvidos do rei. Declararam que ele devia ser condenado a morte, pois muitas já haviam se juntado a ele, mesmo sendo a minoria. No dia seguinte, chegaram para prender os protestantes. Conseguiram segurar um tempo os guardas, mas eram muitos e acabaram cedendo. Na chegada hora de sacrificar, para a surpresa do rei, houve outro protesto, mas dessa vez, foi contra a morte de Antônio: — Como ousam? — perguntou o rei irritado — Silêncio! Todos se calaram, hora do sacrifício... Quando estavam a ponto de matá-lo, alguém gritou: — Cuidado! Corram!!! Era uma onça! Mas ela tinha um alvo, o rei. Depois de um tempo, Antônio reconheceu, era ela, certeza. Mas ela não machucou o rei, apenas o encarou. Logo após, foi até Antônio e sentou ao seu lado, permitindo um carinho. Agora todos acreditavam, uniram-se e protestaram contra o rei, que acabou indo embora. Anos se passaram, Antônio ficou com Maria, mais algum tempo e Antônio faleceu. Como homenagem, fizeram uma estátua de Antônio em cima de seu cavalo. Ele ficou conhecido como: O VIAJANTE.

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Uma História de um Sonho em Sorocaba

Beatriz Cairo Duarte Nunca vou me esquecer de uma vez em que tudo estava prestes a dar errado, mas no fim... tudo deu errado mesmo, mas mesmo dando tudo errado, foi o melhor dia de minha vida, agora, conto o que aconteceu para não deixá—los curiosos: O ano era 2003, eu deveria ter... Ah... Sei lá... Uns 21 anos... Mas enfim, eu estava andando no centro do Rio de Janeiro, onde eu trabalhava como atriz. Desde pequena, eu tinha muitos problemas por ser atriz. Era paparazzi pra lá, problema pra cá, era muita coisa para a cabeça de uma criança. Mesmo assim, minha mãe insistiu em que eu fosse atriz, porque quando ela era jovem, o meu avô não a deixava seguir o sonho dela, que era ser atriz, então, ela me fazia passar por ela quando jovem. E por isso, comecei a ir para o lado das drogas e das bebidas. Até que um dia, quando estava na rua, jogada, meio dormindo, descobri que tinha

passado a noite na rua. Passaram duas mulheres, apontaram pra mim, começaram a rir e saíram andando. Depois disso, estava segurando as lágrimas para não chorar, então pensei "Melhor voltar para casa" e lembrei que, da última vez em que voltei para casa, minha mãe ficou muito brava comigo e me bateu. Pensei em contar à polícia, mas eu não podia, mesmo ela sendo uma bruxa, ela é minha mãe, e eu não tive coragem. Então, me levantei e saí andando. Quando cheguei perto de um farol e vi um pai brigando com o filho "... você tem que fazer isso, porque se não...", vi aquele menino, e me identifiquei com ele. Ele deveria ter uns 8 anos, todo machucado, pobre e com vontade de chorar também. Então o filho pegou o pote da mão do pai, e quando o farol ficou vermelho, ele começou a pedir dinheiro, e o pai sumiu. Comecei a me aproximar calmamente, e quando o farol abriu, fui falar com ele: 9


— Menino, por que está fazendo isso?— perguntei. Ele me respondeu com uma cara de assustado:

— Mãe, por favor, eu estava namorando com ele às escondidas, mas ele terminou comigo porque ele achou que não tava dando certo!! Ele vai negar se perguntarem!! E fui para o meu quarto, e ela não me falou mais nada.

— Porque eu quero. — Por que está aqui na rua, não deveria estar na escola? — perguntei novamente. — Não!! Ou vou à escola ou como. — esclareceu o menino.

No dia seguinte, estava andando por aquele mesmo lugar onde o garotinho ficava, e o vi, e perguntei:

Fiquei olhando para ele, sem palavras, e

— Você não quer mesmo aquele lanche que te falei?

— Vem, eu te pago um lanche.

Ele olhou para mim, abriu a boca e interrogou:

disse:

Então ele saiu correndo. Não entendi por que ele saiu correndo naquele momento, mas depois lembrei que eu estava parecendo drogada. Então fui para casa, minha mãe estava lá na sala, e começou a me perguntar onde eu estava, então respondi: — Eu fui na casa do meu... namorado. Ela olhou para mim boquiaberta, e perguntou: — Então, quem é seu namorado? Tem que ser alguém famoso!

— Mãe, por favor, meu namorado é o... é o... — bem nessa hora, lembrei o primeiro nome que veio a minha cabeça de algum ator famoso — ... meu namorado é o Caio Castro! Minha mãe, mais boquiaberta, olhou pra mim e indagou: sei...

duvido!

Eu, sem saber o que dizer, proclamei:

Daí, eu fiquei, tipo: — Não!! Não sou um ladrão!! Mas me deixa pagar um lanche para você? Ele olhou para mim, e ele ia responder, até que o pai dele chegou. — Filho, o que você está fazendo? Não disse para você me arrumar dinheiro!! — gritou o pai com muita raiva. Enquanto isso, saí correndo como uma covarde.

Eu ri sarcasticamente e declarei:

— Caio Castro, perguntar para ele então!

— Você tá tentando me assaltar? Porque eu não tenho muito dinheiro...

Vou

Depois de uns 15 minutos, vi o menino sentado num banco, comendo algo que com certeza estava no lixo. Cheguei perto dele, sentei e disse: — Aqui está!! Ele olhou e perguntou: — O que é isso? — É aquele lanche que eu queria te dar! 10


— Não quero, você fugiu quando meu pai estava vindo e ele brigou muito comigo! — Eu sei que fiz errado, mas, se você deixar, eu quero pagar sua escola, sua casa, sua comida. — Nossa! Mas não... Obrigada!

atriz!! E saiu correndo, e minha confiança também, será que fiz certo de confiar nele? Será que ele vai contar para o pai dele? Ou ainda pior, para alguma revista? E essa palavra ficou na minha cabeça o resto do dia. Será?

— Como assim, não? Então, o que você quer? Qual é seu sonho?

No dia seguinte, eu sei, esses dias seguintes enchem, mas enfim, eu o vi lá na praça, e perguntei:

Ele me olhou e me disse com a maior sinceridade:

— Você contou pra alguém da minha

— Quero conhecer o monumento que fizeram lá em Sorocaba, dos tropeiros. Olhei pra ele e falei: — Nossa, pensei que você ia querer algo, tipo, um celular... — Não, eu não ligo pra isso, mas, uma vez eu vi este monumento, e gostei muito dele... E você?

mãe? Ele me olhou, e não disse nada. — O que foi? Eu te trouxe outro sanduíche!! Ele olhou para o chão, e ainda, sem dizer nada. Do nada, o pai dele apareceu e me disse: — Então, é você? E pulei para trás e perguntei:

— O que tem eu?

— Eu o quê?

— Qual é seu sonho?

Ele me olhou cara a cara e me respondeu:

— Que a minha mãe pare de me obrigar a fazer algo que eu não quero! — O que ela te obriga a fazer? Eu respirei bem fundo, e pensei que podia confiar nele: — Ela me obriga a atuar! Ele olhou para mim com espanto e interrogou: — Você é uma atriz?

— Você que fica dando comida para o meu filho, quem você pensa que é? Eu com muita raiva, gritando, respondi: — Eu penso que eu trato seu filho melhor do que você!! Ele cruzou os braços e foi embora. Enquanto ele ia, todos começaram a olhar para mim, e veio um paparazzi e começou a tirar foto, eu peguei a mão do menino e saí correndo para meu carro. Ele perguntou assustado:

— Sim!

— Para onde estamos indo?

— Nossa, eu tô conversando com uma

Eu respondi, trocando a marcha: 11


— Realizar seu sonho! E começamos a ir para Sorocaba sem olhar para trás. Quando chegamos ao monumento, ele começou a chorar de emoção, muito feliz. — Gostou? — perguntei-lhe muito feliz. — Sim!! — disse ele, gritando de felicidade. Pensei um pouco e falei a ele: — Por que um menino da sua idade gostaria de conhecer um monumento histórico de uma cidadezinha? Ele virou a cara e desabafou toda história da vida dele: — Quando eu tinha uns 5 anos, minha mãe ainda estava viva, e eu ia na escola todos os dias como uma criança normal, mas era numa escola pública, é claro... Um dia, cheguei da escola, e meu pai me disse que minha mãe tinha batido as botas, pensei que esse era o meu fim, mas meu pai me ajudou nessas horas, depois de algumas horas percebi que ele estava meio estressado, mas pensei que ele iria melhorar. No dia seguinte, fui para escola, na aula de história, nunca gostei muito de história, mas assim que eu vi aquele monumento, me lembrei do meu pai, que meu pai é muito forte, e comecei a estudar muito esse monumento. Enfim, quando cheguei em casa, meu pai tinha ficado louco, me disse que ia me tirar da escola, e que eu ia ajudar ele, e que eu deveria trabalhar, aí meu pai foi demitido e tivemos que pedir esmola nos faróis!! Eu, com espanto, perguntei: — Nossa, eu lamento, mas você sabe a história deste monumento?

Ele sorriu e me afirmou: — Mas é claro, é assim, os tropeiros sucedem aos bandeirantes, eles negociavam e guiavam tropas de muares não domesticados. Em 1750, o governador de São Paulo criou o Registro de Animais de Sorocaba... — E o que esse Registro fazia? — Eles colocaram um administrador que morava próximo a ponte do rio Sorocaba... — E por que era o rio Sorocaba? — Porque a ponte era bem grande, e dava pra passar várias tropas, e o administrador confiscava os animais não declarados. Devido à feira, os animais começaram a engordar e esperar os negócios, então a feira incentivou o artesanato, e forneciam montarias de lã. Aluísio de Almeida afirma que o tropeirismo em Sorocaba envolveu uma exportação de tecidos grosseiros. — Nossa, cê sabe mais disso do que eu nas minhas falas!! Sentamos em um banco lá perto e me dei conta de uma coisa, não sabia o nome deste forte menino, então perguntei: — Eu deixei você feliz? Ele olhou e respondeu: — Sim. Eu então prossegui: — Então, qual é seu nome? Ele olhou e disse: — Caio. Eu olhei surpresa, pensando que deve ser por isso que eu tinha lembrado o nome Caio 12


Castro naquela hora. Eu deveria ter ouvido o nome Caio saindo da boca do pai dele. Quando retornamos para o Rio de Janeiro, levei-o para minha casa, mas quando me dei conta, vi várias viaturas da polícia lá. E pensei: Estou com "alguns pequenos" problemas. Entrei em casa com as mãos para cima, dizendo: — Eu não fiz nada com o garoto, só realizei o sonho dele! O pai começou a rir ironicamente e declarou: — Claro, você sequestrou meu filho! Vocês ladrões sempre são inocentes! — Eu não fiz nada com ele! Caio veio correndo para dentro de casa e negou: — Pai, ela tá certa, ela não me sequestrou, ela me levou para ver o monumento, lembra, aquele dos Tropeiros de que eu tanto falo!

Eu virei e disse: — Viu, eu não fiz nada com seu filho! Você brigava com ele por coisa boba, obrigava-o a trabalhar em vez de deixá-lo estudar... — É isso aí, filha! — disse minha mãe. Eu chorando respondi: — Você também, mãe, você me obrigou a ser atriz, e eu nem queria ser, por que você acha que eu volto à noite toda bêbada para casa? Porque eu não aguento mais isso! — sentei e comecei a chorar no sofá. Depois disso tudo, minha mãe e o pai de Caio foram para uma clínica para aprenderem a lição deles. Quanto a mim, "adotei" o Caio, eu não diria adotei porque, enquanto o pai dele estava na clínica, era minha obrigação tomar conta dele. Já em 2004, começamos a morar lá em Sorocaba, Caio começou a estudar numa escola particular chamada Uirapuru e eu comecei a trabalhar como cozinheira, que sempre foi meu grande sonho. Agora em 2013, Caio está com 18 anos, fazendo uma ótima faculdade de arquitetura, enquanto eu virei uma grande chefe de cozinha.

13


Estórias H

Bruno Melaré

á um bom tempo, na cidade de Sorocaba, eram muito comuns os grupos

de tropeiros passando pela cidade e por diferentes regiões do antigo Brasil, com suas mulas e cavalos com grandes cargas de comida e mercadorias. Estes tropeiros atravessavam grandes distâncias e muitas dificuldades em seu caminho. Dentre tantos tropeiros, existia um em especial chamado Manuel F. de Abreu, este era um homem inteligente, que adorava contar estórias, ligeiramente jovem e muito saudável e que tinha sempre ao seu lado seu fiel cavalo chamado Roram, que havia acompanhado Manuel desde sua infância, por isso os dois eram muito íntimos e havia muito afeto entre os dois. E os dois, o cavalo e seu humano tinham feitos enormes trilhas com suas tropas levando cargas e suprimentos para outras cidades. Nessas trilhas, Manuel adorava contar estórias a seus companheiros de tropas. Estas estórias envolviam muitas aventuras fantasiosas de seres e lugares fantásticos, com calabouços e 14


dragões inimagináveis. Os homens de sua tropa se fantasiavam em noites de bebedeira, festas e as estórias de Manuel. Certo dia, Manuel estava em um estaleiro quando tinha acabado de voltar de uma viagem onde levava cargas para outras cidades. Neste estaleiro, ouviu um grupo em uma mesa dizendo: — Vocês souberam sobre a grande recompensa? — perguntou um homem da mesa — dizem por aí que um rico nobre está oferecendo uma enorme recompensa para quem leve uma carga para sua casa, e dizem também que o caminho é tortuoso e cruel. Manuel que estava escutando tudo da mesa ao lado, logo ficou interessado, pois além de contador de estórias, era orgulhoso e ambicioso e quis logo aceitar este desafio para si e para seu fiel cavalo. Somente eles iriam entregar a carga e ganhar a grande recompensa e reconhecimento pelas cidades. No próximo dia, ele já estava arrumando suas coisas mais importantes para a perigosa viagem e aprontando Roram para sua jornada, que seria muito cansativa para o pobre cavalo. Os dois partiram logo pela manhã em direção ao local que fora combinado a coleta da carga. Chegando ao local, eles se depararam com um sujeito estranho meio quieto e introvertido, que explica qual era e onde deveria ser entregue a estranha e valiosa carga. Manuel ouvia apreensivamente o decrépito homem falar, o homem lhe disse o seguinte: — Vocês deverão passar primeiramente pelo deserto de Savhanii, que é famosa pela grande quantidade de bandidos brutos e violentos, sem um pingo de piedade — murmurou penosamente o triste homem – depois disto... – o homem começou a gaguejar – nossos homens infelizmente não conseguiram fazer o reconhecimento desta área – sussurrou o homem, sem confiança em suas palavras. Mesmo assim, Manuel assentiu com desconfiança, montou em seu cavalo, e saiu cavalgando para seu destino misterioso.

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Ele cavalgou até que a noite caiu, fria e impiedosa, e ele teve de parar para dormir. Então ele começou a lembrar das estórias que contava para suas tropas com coisas incríveis e extraordinárias e adormeceu. Pela manhã, ele seguiu cavalgando e em seu caminho viu uma pequena floresta que exalava maldade e de longe podiam se ver as malévolas criaturas da maldita floresta. Manuel rapidamente se virou de costas para a floresta e decidiu seguir por outro caminho para seu destino. Neste outro caminho, ele se deparou com um enorme e feroz animal, que era completamente incompreensível para a pequena e limitada mente daquele pobre tropeiro, uma criatura enorme e amedrontadora.

Manuel

ficou

completamente

paralisado,

e

então

ele

simplesmente... ...Acordou

de

seus

profundos

sonhos

Quando

acordou,

sentiu-se

extremamente mal, com muito frio, e não conseguiu se levantar. Percebeu que o local ao seu redor estava muito frio e sujo, e seu cavalo estava batendo com o focinho em seu ombro, como se tentasse fazer com que o humano levantasse, mas de nada adiantava. Manuel estava completamente hipotérmico e doente, mas o pobre e fiel cavalo não desistia de seu humano. Enquanto isso, o interior do corpo de Manuel queimava em febre e ele já começava a ter alucinações. Ele pensava no bar, nas festas, na cantoria e no calor de sua casa, mas então ele voltava à realidade e a única coisa que sentiu foi um pequeno puxão em seu ombro esquerdo, e a claridade tomou conta de suas pupilas. De repente, Manuel acordou em uma cama com seus membros doloridos, porém quentes, ele percebeu que estava em um quarto da cidade principal, olhou pela janela e viu seu belo cavalo na rua fora da estalagem. Então, entrou pelo quarto uma mulher de vestes brancas e limpas e explicou o que havia acontecido: — Era tarde da noite e vi seu cavalo andando em direção à cidade com seu corpo inerte em cima, percebi que estava gravemente doente, então resolvi tratá-lo,

16


mas todos da cidade viram e admiraram seu fiel cavalo e criaram estórias e canções sobre sua lealdade. Depois de um tempo em repouso, Manuel F. de Abreu já estava bem e saía pela cidade frequentemente com seu cavalo, as pessoas da cidade os admiravam tanto, que construíram uma estátua em sua homenagem, uma bela e lustrosa estátua esculpida no alto de um pequeno e nobre morro onde os dois, o cavalo e seu humano adoravam repousar depois de suas grandes e difíceis trilhas. Morreram os dois, anos após isto, juntos, o cavalo e seu humano...

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Baltazar Fernandes

Caio Morelli

O capitão Baltazar Fernandes foi fundador e dos primeiros povoadores de Sorocaba. Seu pai foi rei de Portugal colonizar

e o

quando novo

nasceu, território

estava

conquistado,

predestinado o

Brasil,

a em

parceria com quatro outros membros da alta sociedade portuguesa:

André Contreras, que ficou responsável pela

área norte da colônia, Bartolomeu de Zúnega, responsável pelo nordeste, Diogo

Mendonça, responsável pelo centro-

oeste, e D. Gabriel Ponce de León, responsável pelo sul. Baltazar Fernandes ficou responsável pela parte sudeste do território conquistado. Mas Baltazar Fernandes e

18


seus companheiros enviados à nova colônia não estavam interessados em apenas colonizá-la e torná-la apenas uma fonte de lucro para a metrópole Portugal. Eles queriam juntos transformá-la numa potência mundial e sabiam que teriam condições pois a quantia de dinheiro que Portugal investia na colônia era muito alta. Juntos eles criaram rotas de

comércio,

um

mercado

interno

que

gerava

muito

dinheiro, meios de transporte muito desenvolvidos, além de condições de vida para a população, que nos padrões da época, eram muito boas. Baltazar Fernandes fundou a cidade de Sorocaba em 1654, e ela se tornou uma das mais importantes cidades da então colônia de Portugal. Por ela passavam linhas férreas e rotas comerciais. Mas eles organizavam tudo em conjunto e escondiam isso de Portugal. Planejavam declarar independência a Portugal e controlar as navegações pelo mundo, contar com um exército bem armado e expandir o território. Quando eles viram que tinham potencial para isso, declararam independência, venceram Portugal na guerra, já que tinham montado um exército pesado para isso. O

"Brasil",

que

assim

foi

denominado

após

a

independência, se tornou umas das maiores potências econômicas mundiais da época, e um dos países mais 19


desenvolvidos

também.

Era

dividido

em

regiões

comandadas por cada um dos enviados de Portugal para colonizar a colônia. O problema é que todo esse poder subiu à cabeça dos governantes. Começaram

conflitos

entre

os

governantes

principalmente pelo território, e também envolvendo as rotas internas de comércio. Isso começou a ficar claro quando começaram a haver leis diferentes em algumas regiões, o que anteriormente não acontecia. Depois

de

muitas

brigas

por

território,

os

governantes do Norte (André Contreras) e do Nordeste (Bartolomeu de Zúnega) entraram em guerra e André Contreras foi morto. Bartolomeu de Zúnega passou a governar toda a parte Norte e Nordeste da colônia, e isso não agradou os outros governantes. Ele passou a cobrar impostos abusivos e esquecer-se dos direitos do povo. Os outros governantes resolveram se juntar e depôr Bartolomeu, houve uma intensa guerra que durou dois anos, ele foi deposto e os outros governantes resolveram criar outra forma de governo, com apenas um governante e conselheiros. Baltazar Fernandes passou a governar todo o Brasil,

e

contava

com

uma

série

de

conselheiros,

especializados com uma determinada região eleitos pelo povo. O seu cargo foi sendo passado de geração em 20


geração e os seus netos e bisnetos, sempre contaram com ótimos conselheiros e isso ajudou o Brasil a ser uma das maiores

potências

econômicas

do

mundo

e

ser

considerado um dos melhores lugares para se viver.

21


A LENDA DA ESTÁTUA

ffggg

David Vecina

Esta é a história de uma estátua feita na metade do século XIX por Jean, um artista francês. Quando ele veio para Sorocaba, ficou muito famoso, não por causa de suas obras, mas sim porque ele conseguia ver fantasmas. Jean era um homem católico e muito religioso. Então, um dia, ele resolveu ir até o Mosteiro de São Bento, a primeira igreja de Sorocaba, assistir a uma missa do Padre José, que era o padre mais importante da cidade. No meio da missa, ele escutou alguém chamando seu nome. Procurou... procurou... procurou, mas não achou ninguém. Continuou assistindo à missa como se nada tivesse acontecido.

22


Quando estava indo embora, escutou de novo alguém chamando por ele. Olhou para trás e viu um homem bem vestido, barbudo e alto, mas parecia que só ele podia vê-lo. Ninguém mais via ou ouvia aquele homem... Os dois começaram a conversar e o homem pediu para que o artista fizesse uma estátua exatamente igual a ele. E se houvesse algum erro, Jean seria morto. Chegando em casa, Jean se deu conta de que aquele era o fantasma de Baltazar Fernandes. No dia seguinte, começou a fazer a escultura de bronze do fundador de Sorocaba. Quando terminou a escultura, doou para o governo de Sorocaba e pediu para que eles a colocassem em frente ao Mosteiro de São Bento, para homenagear o dia em que Jean vira o fantasma de Baltazar. Alguns domingos depois, Jean foi para a missa, esperando ver novamente o fantasma. Ele assistiu à missa tranquilamente, pois achou que a estátua havia ficado perfeita, mas não se lembrou de um detalhe muito importante, as luvas que Baltazar estava usando. Ao sair da igreja, Jean se encontrou com o fantasma e afirmou: - Eu fiz a estátua do jeito que você pediu. - Não, você se resmungou Baltazar.

esqueceu

das

minhas

luvas

-

- Me desculpe, senhor – respondeu Jean. - Eu avisei!!! Baltazar pegou sua espada e cortou a cabeça do jovem artista. 23


A polícia da época investigou o caso, mas ninguém conseguiu imaginar quem teria tirado a vida de Jean. O prefeito mandou uma carta para todos os familiares de Jean na França, comunicando a morte dele. Quando seus familiares souberam do que houve, pegaram o primeiro navio que vinha para o Brasil. Quando chegaram em Sorocaba, mandaram enterrar o corpo de Jean embaixo da escultura de Baltazar Fernandes. Ainda hoje, as pessoas que frequentam as missas do Mosteiro de São Bento falam que conseguem escutar Baltazar Fernandes e Jean conversando.

24


S

E

Q

U

O

I

A

C

L

U

Baltazar e o Monstro

B

Felipe Pessato

Entre os fundadores de Sorocaba, havia

um

Baltazar

já haviam terminado suas tarefas e estavam

Fernandez, que fora junto aos outros para

prestes a cair no sono, Baltazar, que era o

ganhar fama e se aventurar em terras

vigia

desconhecidas. Baltazar era um homem

Assustado,

sábio e inteligente, usava sempre um grande

descobrir o que estava fazendo o barulho na

chapéu de couro claro com uma pena de

mata. Um dos membros era um caçador, ele

gavião, suas roupas eram leves com poucos

foi adentrando na escuridão da mata, pouco

enfeites.

a pouco sumia na mata, até que um barulho

Quando

jovem

chamado

instalando seu acampamento. Quando todos

chegaram

a

Sorocaba,

avistaram uma mata densa, e por ali foram

desta

noite,

ouviu

acordou

todo

um

barulho.

mundo

para

arrepiante veio de lá: — Haaaaaaaaaaaaaa......... — um som 25


S

E

Q

U

O

I

A

C

estivesse sendo atacado.

explicaram que aquela criatura era uma

proposta de ir para aquele lugar, exceto

segui-los.

B

que

assustados e com angústia de ter aceitado a

a

U

grande e alto se propagou, como se alguém

Depois daquela noite, todos ficaram

estava

L

Os

indígenas

espécie de deus que tinha vindo do céu, seu nome era Sorocaba e que trazia muita sorte a eles.

Baltazar, que ficou extremamente curioso

— O monstro é enorme, tem garras

com o que havia matado seu companheiro.

afiadas, pelos vermelhos como o sangue, e

Na noite seguinte, eles fizeram uma fogueira

quando está com fome, tem um apetite

bem grande para espantar os animais dali.

voraz por humanos — explicou o explorador

Em volta do acampamento, Baltazar fez uma

Pedro, que já vivia entre os índios há um

armadilha com alguns restos de animais, que

tempo.

eles haviam matado para se alimentar. Todos dormiram em volta da fogueira com medo dos barulhos que estavam a cercar o acampamento, os barulhos eram muito

— Então, quer dizer que ele está com fome? Pois ele está atrás de nós — exclamou angustiado um dos exploradores, com as mãos trêmulas.

semelhantes a uivos e a um facão cortando a casca das árvores. Para a maioria, aquilo fazia

— Na verdade, ele pode estar apenas

quase todos desistirem de continuar, mas

conhecendo vocês que estão como intrusos

apenas empolgava Baltazar a descobrir que

em suas terras — acrescentou Pedro.

fera era aquela.

— Mas em que ele traz sorte, se vocês

De barco, Baltazar e seus parceiros desceram o rio e avistaram uma tribo indígena, onde foram tentar se comunicar.

podem ser devorados a qualquer momento? — questionou Baltazar. Pedro

explicou

que

o

monstro

Quando chegaram perto, viram alguns

espantava animais selvagens e em troca, a

homens

de

cada ano ele matava algumas pessoas, da

Baltazar

tribo ou não. E cada vez que Pedro falava

aproveitou para perguntar sobre a criatura

mais do monstro Sorocaba, mais Baltazar

brancos

conversarem

por

na um

tribo.

Depois

tempo,

26


S

E

Q

U

O

I

A

ficava ansioso para vê-lo.

C

L

U

B

ficaria para eles, assim poderiam fazer uma

À noite, ele foi sozinho para a floresta,

cidade naquele lugar, como a da sua visão.

longe da tribo, e fez uma armadilha usando

Ninguém ligou muito para o que ele

algumas de suas roupas e de seu sangue,

disse, mas pelo interesse em ficarem

junto a alguns pedaços de animais. Voltando

famosos, resolveram aceitar a oferta de

à tribo, ele começou a ter ilusões porque

Baltazar. À noite, todos se armaram e se

perdeu muito sangue fazendo a armadilha.

posicionaram em alguns lugares, enquanto

Por estar muito tempo longe de casa, suas

Baltazar e Pedro ficaram na floresta mais

primeiras ilusões foram com sua família,

expostos ao monstro. Nesta noite, a lua

depois suas ilusões chegaram a um ponto

estava azul e grande. De repente, uma luz

onde a própria floresta era uma cidade, ao

vermelha cercou toda a floresta, Baltazar

invés de ver as árvores, ele via pessoas, e ele

olhou para onde a luz estava mais forte e

seguiu as ruas até chegar a um lugar que era

percebeu que a lua tinha ficado vermelha.

similar ao centro da cidade. De repente, tudo

Esse foi o sinal de que a caçada atrás deles

começou a escurecer pouco a pouco,

iria começar. Baltazar pegou sua arma, se

primeiro as pessoas, depois as construções,

camuflou dentro da mata, já Pedro ficou ali

até que só sobrou ele, depois ele não via

paralisado de medo. Algumas horas se

mais nada. Subitamente, começou a surgir

passaram e nada, todos se cansaram de ficar

uma luz, uma imagem de seus companheiros,

ali escondidos e foram procurar o monstro.

que foram levando-o para a tribo.

Quando chegaram ao acampamento,

Quando despertou, ele viu o massacre

diante deles havia uma terrível criatura,

que o monstro revoltado tinha causado.

grande, com pelos vermelhos e olhos

Apenas

amarelos. Baltazar, ao contrário dos outros

estavam

alguns vivos

de

seus

junto

a

companheiros Pedro.

Os

que ficaram imóveis, deu vários tiros no

sobreviventes resolveram não arriscar ficar

monstro, mas isso apenas diminuía a sua

nestas terras e queriam ir embora, mas

velocidade. Todos ficaram perto uns dos

Baltazar convenceu todos a ficar, falando que

outros para dar mais tiros, mas só o fez parar

se eles matassem o animal, a terra dele

de andar. O monstro imóvel na frente deles 27


S

E

Q

U

O

I

A

C

L

U

B

continuou, Baltazar angustiado pela calma do animal, resolveu chegar perto para verificar se o monstro não havia morrido, ele chegou bem perto e tocou-lhe, e uma visão veio a ele, novamente a da cidade. Ele cutucou o monstro algumas vezes, mas nada adiantou, ele continuava imóvel. Um dos exploradores resolveu checar se a criatura tinha batimento cardíaco, mas não havia nenhum, então ele falou: — A criatura morreu — declarou com um ar de alívio. Baltazar, diante daquela fera, ficou alguns dias sem dormir, apenas admirando a fera, e veio em sua cabeça que sua visão de quando tinha tocado na fera era um aviso para criar uma cidade ali. Algum tempo depois, a cidade foi fundada, e o nome foi em homenagem ao monstro que proporcionou a ideia a Baltazar. No local em que o monstro Sorocaba fora morto foi criada uma estátua de Baltazar Fernandes.

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29 de agosto de 2013

A AVENTURA DE RAFAEL

FELIPE TANAKA

Há muito tempo, um país atualmente chamado Brasil foi colonizado pelos Africanos do Sul, como outras colônias (Europa e parte da América do Norte); na época, os negros estavam colonizando tudo, pois suas frotas eram muito boas e faziam muito comércio com as Índias, o que os enriqueceu ainda mais. Então, na região da colônia do Brasil, por ser muito grande e difícil de administrar, os Africanos decidiram dividir a colônia em partes, o que na época era chamada de Tratado de

Tordesilhas. Mesmo com a “separação” das regiões, ainda era difícil governar, pois muitas vezes os senhores de terra, geralmente amigos do rei, pegavam partes dos impostos para si; muitos não sabiam de seus territórios, pois eram imensos e não podiam caminhar livremente, pois tinham chance de serem atacados por homens brancos do mato. Com o passar do tempo, o Tratado de Tordesilhas foi dando errado e sobraram somente dois territórios. Ao passar o tempo, a área 29


brasileira foi se expandindo principalmente por causa dos bandeirantes, que iam à procura de índios brancos e pedras preciosas, pois os paulistas estavam com escassez de escravos nas lavouras, e plantações. Junto com esta expedição, tiveram outras três, como as monções e as entradas, que também contribuíram para expansão colonial. O trabalho indígena escravo não estava dando certo, por isso começaram a enviar para a Europa navios branqueiros, com o objetivo de capturar escravos brancos para trazer como mão de obra para o Brasil. Ao chegar ao Brasil, iam para a região do Sul, que por esses motivos atualmente há muitos brancos. Junto com os bandeirantes, os negros começaram a encontrar ouro na região do interior do país (região de Minas Gerais), então, muitas pessoas começaram a se mudar para região. Por haver um crescimento demográfico de modo desenfreado, as “cidades de minas” não puderam ser feitas com planejamento. Muitas pessoas começaram a se enriquecer com o ouro, com isso a coroa africana sulense mandou fiscais para cobrar impostos nas regiões. Os impostos eram cobrados em um lugar chamado casa de fundição, onde requeriam o ouro e punham o selo da coroa em cada barra de ouro.

Junto com esse imposto, outros foram cobrados em cima do ouro como, por exemplo, certa quantia de cada mina. Nas minas, a comida era escassa, motivo do aumento absurdo do preço da comida. Também muitas pessoas das regiões das minas faziam o comércio de mulas com a região do sul. Por ser uma grande distância, encontrava-se na localidade da atual cidade de Sorocaba, cidade que teve um grande herói. Rafael Tobias Aguiar nasceu em Sorocaba, no dia 4 de outubro de 1794. Era filho de escravo branco, seu pai se chamava Antonio Francisco de Aguiar. Por ser branco, Rafael era muito pobre, e seu pai um escravo. Quando Rafael era jovem, chorava muito, pois os filhos do senhor de terra murmuravam: — Seu incompetente, quando crescer será um escravo como seu pai, você não faz nada direito!!! Então ele afirmava: — Eu não serei escravo coisa nenhuma! Vocês vão ver!!! Mas depois que falava, ia para a senzala e ficava chorando por horas. Até que um dia, ele ficou tão bravo que foi bater nos

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filhos do senhor de terras, mas o pai deles mandou uns quatro brutamontes que acorrentaram o garoto. A partir dali, ele achava que não tinha mais chance de ajudar sua raça, então teve que se tornar escravo como seu pai. Mas um dia tudo mudou. O senhor de terras iria receber visitas em sua casa, por isso mandou que o jovem trabalhasse em dobro; ele estava exausto quando as visitas chegaram. Era o coronel Hauss Stropowiski, junto com sua esposa e filha. Quando Tobias viu a filha do coronel Hauss, todo seu cansaço foi embora. A menina também gostou de Rafael, mas eles não podiam sequer conversar, então ficavam mandando bilhetinhos. Até que Marry, filha do coronel, decidiu perguntar ao pai se eles podiam comprar aquele escravo. O senhor de terras não gostava do garoto, pois só se metia muito em brigas com seus filhos, então o vendeu por um preço muito baixo para seu amigo Hauss. O garoto estava muito feliz, pois ele veria todo dia sua amada, mas em compensação estava triste, pois acreditava que nunca mais veria seu pai. Quando chegou à casa do coronel, viu que era uma coisa maravilhosa, era uma

mansão. O garoto ficou trabalhando pesado por aproximadamente três meses. Então um dia, o coronel o chamou em um canto: — Garoto, eu comprei você para ser escravo, mas com o passar do tempo descobri que tem potencial, agora você aprenderá sobre a nobreza, pois quero que você seja um dos meus assistentes de guerra. Ao ouvir isso, Rafael começou a chorar de alegria e contou que na outra casa tinha perdido a esperança de ser liberto. Antes de dormir, Stropowiski o chamou e explicou que deveria acordar cedo, pois teria aulas com um professor particular. No dia seguinte, acordou cedinho, pois estava ansioso para ter aulas. Assim foi passando o tempo. Quando Rafael tinha 25 anos, casou-se com sua amada Marry. E até então a vida de Rafael estava perfeita, pois podia fazer tudo o que queria. Até que um dia, ele se lembrou do pai que era um escravo, falou ao coronel e enviou tropas com o pedido de Hauss para libertar o pai de Rafael. O senhor de terra ficou muito furioso, pois o pai de Tobias era seu melhor escravo, e então mandou uma carta com as seguintes palavras: 31


Meu amigo Hauss, Não estou enviando o escravo Antonio Francisco de Aguiar por ser meu melhor escravo. Espero que você entenda, pois você sabe como é difícil encontrar um bom escravo hoje em dia. Abraços, de seu amigo Fernando. Ao receber isto, Rafael ficou ao mesmo tempo muito furioso e também muito triste, pois tinha grandes chances de nunca mais ver seu pai. Imediatamente saiu correndo para avisar seu “chefe”, que também ficou muito furioso, pois já havia feito muitos favores a seu amigo Fernando. Novamente mandou outro batalhão de soldados para resgatar o escravo. E novamente o senhor de terras negou o pedido do coronel Hauss. Desta vez, Rafael ficou tão furioso que ele mesmo foi com as tropas falar com Fernando. O senhor de terras explicou o motivo de um modo mais claro e mesmo Rafael brigando muito, ele não libertou seu pai. Então, ao chegar a sua casa, imediatamente mandou seus servos fazerem canhões para o ataque da imensa fazenda de Fernando. Os

canhões eram da melhor qualidade, com tiro a longa distância. Junto com a tropa e o coronel, eles marcaram uma hora para realizar o ataque que iria acontecer, bem cedinho, para pegá-los desprevenidos. Na noite anterior ao ataque, todos se prepararam ajustando os canhões, dando água aos cavalos, levando pólvora reserva para pôr nos canhões. Naquela noite mesmo, partiram para a guerra. Caminharam em torno de 15 km até chegarem ao casarão de Fernando. Prepararam-se para o ataque e berraram: — Guerra!! Liberdade aos escravos!!! Então Rafael, junto com toda a tropa, prendeu Fernando. Libertaram o pai de Tobias e mais três mil escravos que trabalhavam naquela mansão. Ao chegar em casa, Rafael apresentou seu pai à sua esposa. O coronel deu um banquete em resposta à vitória que haviam obtido e no dia seguinte, o coronel Hauss mandou que construíssem uma estátua de Rafael Tobias Aguiar, para que todos se lembrassem do herói. 32


E

XPEDIÇÃO À

T R ERRA

ASGADA

“Puxe o gatilho; mire; não perca tempo e atire até acertar.”

Flávia Lenz Bannitz Guimarães 33


Passando pelo calor mais intenso que poderia haver em qualquer canto do mundo, estávamos nós, bandeirantes, capitão B. Fernandes e cerca de dez mulas carregando armas, mantimentos, roupas e tudo que é pesado. Esgotando nossas forças, fôlego e energias para continuar andando sem desmaiar ou morrer de insolação. Não me lembro bem das pessoas que me cercavam, mas não eram, em maior parte, pessoas más. Eram apenas pessoas normais carregando um peso maior que o seu próprio, a fim de descobrir, fundar, descontar a raiva em algo que fosse vantajoso para o capitão, e um pouco para si, ou não. Na verdade, nem sabia o porquê de estar no meio de toda aquela gente, acho que fui selecionado por algum homem interessado em se divertir com um mocinho novo, retirado da família para a morte e, ainda por cima, com conhecimentos muito básicos como: Puxe o gatilho; Mire; Não perca tempo e atire até acertar. Ou: Não retire o capacete – um chapéu duro chamado de capacete; Erga o escudo na altura do rosto; Saia correndo o mais rápido que puder em meio aos tiros. Não sou muito do tipo que gosta de machucar os outros, por isso ainda não entendi, não entendo e nunca entenderei porque fui chamado para talvez machucar ou ser ferido. Mas tudo bem, continuávamos andando passos infinitos, porém cada vez mais arrastados e pesados, como camelos cansados. Até que o capitão levantou os dois braços indicando para que parássemos de caminhar. Em seguida anunciou aos gritos para que todos ouvissem ao menos duas palavras inteiras: — Atenção, todos! Pararemos numa clareira com sombra suficiente para cobri-la por inteiro, ou quase o seu tamanho! Andaremos mais 24 km e meio ao leste para chegar até lá! Aviso desde já, tentaremos ao máximo chegar ao local esperado antes do sol nascente de amanhã! Sei que estão exaustos, mas se olharem em volta, não há nada que possamos fazer. Adiante!

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Essa parada foi uma sensação mágica e curta, pude sentir meu coração e quase vomitá-lo, realmente sentir o poder fervente do sol em meu couro cabeludo e meus pés quase se derreteram e passaram pelos furos das botas. Horas depois, passamos por alguns sinais de vida, como umas plantinhas, alguns pássaros planejando nos jantar e uma brisa arenosa. Agora, o tempo estava virando ao contrário, o frio chegava cada vez com mais força, mais vento, mais aquele rigor gelado característico do frio. Eu ouvia os dentes dos meus colegas batendo, e algumas das enfermeiras tiritando e às vezes gemendo de tão forte que o frio batia em seus rostos. Por mais que todos nós achássemos que era mentira, tínhamos conseguido. Estávamos ali. Na clareira, cercada pela sombra invisível do dia, coberta pela noite, porém acompanhada de poucos raios solares. Cada um que entrava ia até a “ponta” da clareira – arredondada – e se jogava como um morto, com todo o peso, apenas poupando a cabeça do impacto com o solo duro e impiedosamente mais gelado que nossas mãos. Os que tiveram força para se manterem em pé, auxiliaram o capitão, e a eles mesmos a erguerem algumas tendas, mais especificamente destinadas às enfermeiras e uma maior para as mulas mancas. Tudo o que eu mais queria era estar na minha casa, pequena, apertada, mas com as minhas coisas, meus materiais, minha cama, meu tudo, até mesmo minha mãe. Mas estava passando frio, dormindo no chão, vendo meus amigos mais moles levarem algumas palmadas nas costas sem dó e ainda por cima sem nenhum meio de comunicação com a cidade. A manhã surgiu cedo demais para o meu gosto. Mal tinha entrado no sono profundo, e as cornetas já soavam nos acordando do devaneio leve. Quem não conseguisse levantar seria levantado à força. Tinha uma fila enorme para pegar alguma coisa para comer antes de sair para a próxima parada e eu estava com muita fome. Para ser sincero, não fiquei na fila. Fui ali na cabana das mulheres, interessado por elas e para ver se se fingisse um mal estar, subnutrição, elas me dariam algo para comer sem ter que ficar na fila. — Oi... – anunciei que estava em seu território. — Bom dia, você está se sentindo bem? – uma delas me perguntou até que simpática para o seu estado físico. 35


— Na verdade, não. Estou um pouco enjoado, mas não sei se comi algo ontem que não me fez bem, ou se é o meu estômago se autodigerindo de fome. — Sente ali, por favor. Sentei-me na palha. Ela ergueu um pouquinho da minha camiseta esfarrapada para ver o que acontecia dentro de mim. Me esquivei de primeira por causa do toque repleto do frio da noite passada em minha pele. — Você precisa ingerir algo ou ficará com um problema maior. Espere um minuto. Assenti com um movimento da cabeça. Inspecionei o lugarzinho delas de rabo a rabo de olho sem fazer muito alarde demonstrando curiosidade. Deparei-me com dois olhos castanhos claros para mel me olhando com uma sobrancelha erguida. Na hora, eu tive um pouco de vergonha instantânea, mas então no lugar veio uma onda de uma adrenalina estranha que não deveria ter sido expelida no meu sangue. Era uma delas. Linda, por trás da poeira e roupas grossas para afastar o frio. Era muito bonita, só conseguia ver o seu pescoço, rosto e cabelos enrolados. Mas tinha uma feição delicada e sincera, como se me perguntasse o que estava fazendo. Como resposta, levantei a sobrancelha também. Ela revirou os olhos e pude vê-la morder o lábio ao virar de costas para se deslocar da repartição de tenda em que eu estava. — Aqui está, coma essa maçã e essas uvas, você se sentirá muito melhor. — M-muito obrigado. – eu desviei os olhos da Moça e olhei para a que estava me atendendo. Saí um pouco atordoado da tenda, pelo fato de estar me remoendo de fome e por ter sido chocado por tal olhar. Não me aguentei e segui as pegadas da linda moça. Ela ouviu o barulho da sola das botas e se virou, com a expressão curiosa de antes. — Desculpe incomodar... – eu ia me virando, covarde. — Não incomoda. – ela disse com uma voz delicada e suave. Me virei novamente. — Só queria lhe dizer que fiquei maravilhado com sua beleza. — Ah, obrigada, nobre bandeirante. – ela corou. 36


— Não me chame de nobre. De nobre chame ao senhor que nos trouxe até aqui. Sou apenas um a mais aqui nessa tropa. — Não se diminua, você é um a mais, então faz a diferença, entende? — Entendi a lógica, mas na prática, isso não vale. — Entendo a sua prática. Somos ambos um-a-mais. – ela riu lindamente. — Você é uma a mais. Então faz a diferença, entende? — Entendi a sua lógica. Mas na prática não vale. Carrego caixas de curativos e substancias fétidas. Que diferença. — Substancias fétidas não são para qualquer um, oras. – eu dissertei e ela concordou com um movimento de aprovação ao meu pensamento. Ela fez um gesto indicando para que sentasse mais perto. Gesticulado e feito. Conversamos sobre muitas coisas. Como a falsa simpatia do senhor B. Fernandes; as mulas mancas; as roupas sujas e escassez de higiene. Até que me chamaram para ajudar a desmanchar as barracas, juntar as panelas, conduzir as mulas a outro lugar. Não queria sair dali, mas tive de fazê-lo. Em um período pequeno de tempo, tudo foi desmontado e seguimos novamente em frente. ... Sim, minha primeira expedição cujo motivo agora eu sabia – o capitão ficou sabendo de uma terra que havia índios e mais umas coisas que lhe interessaram, então ele iria “fundar” uma nova cidade. – foi, num primeiro momento, um desastre. Mas, num segundo, terceiro e mais momentos, melhorou de pouco em pouco. Fui conhecendo melhor as pessoas que estavam o tempo todo comigo, digo, ao meu lado literalmente: Ângelo, Xavier, Pedro Z., Pedro e João C. e a calorosa Moça, cujo nome não tive pressa de perguntar. Os dias se passavam e em cada um deles, conversávamos sobre um assunto diferente, que se concluía em outro completamente oposto. Claro que sob o cuidado de olhar repetidamente ao redor para que não vissem um homem e uma mulher sozinhos. O capitão alcançou seu destino, porém nos deparamos com muitos indígenas fortes e com flechas muito pontudas. 37


Pelo meu relógio rústico de bolso, às 3 horas e 47 minutos mais precisamente, enfrentamos a cambada de indígenas que tampava nossa entrada. Eles traziam muitas armas pesadas também, como... Não sei, não consegui identificar tais. Então ficamos face a face com uma situação esquisita de vai-não-vai, como se estivessem e estivéssemos em dúvida de atacar. Mas é claro que nós atacamos primeiro, o capitão sempre começa uma batalha, ficamos em vantagem por isso, na maioria das vezes. Aí já viu, eram flechas em maioria e menos balas, mas não digo que não havia muitas delas voando perdidamente pelos ares, procurando a quem matar ou ferir gravemente. Meu querido amigo Pedro foi morto à bala. Que Deus o tenha. Fiz o que me ensinaram no primeiro momento: fixei mais o “capacete”, ergui o escudo até a altura dos olhos e saí correndo, porém, adicionei um passo: Não se esqueça de pegar a faca dentro da bota esquerda. Berravam-se palavras ininteligíveis, o sangue espirrava no solo e a multidão se odiava cada vez mais. Saquei a faca afiada e corri com ela à frente, para acertar em quem estivesse no caminho em meio à luta acirrada. De nada adiantou. Segui os passos pensando que sairia ileso. Que tolice a minha. Fui ferido, não por um, por dois, na perna e embaixo do braço. Nunca havia sentido tamanha dor, não sei dizer se ardia, se doía, se coçava, se fazia cócegas ou se era tudo junto. Só sei que perdia sangue. Disso tenho certeza, porque eu conseguia sentir algo meio pastoso ou líquido, escorregando pela minha canela e pelo meu tronco, sujando meu traje de bandeirante-que-não-serve-para-nada e me deixando tonto e manco como as mulas. Caí de joelhos, e depois de cara na areia, que já tinha mais vegetação. Só disso que eu me lembro da pequena – enorme - troca de desrespeito entre dois grupos diferentes. E das ocas e montagens indígenas. ... Acordei desorientado numa cama de palha com uns curativos branco-acinzentados, limitando meus movimentos. — Que bom que você acordou. — Anh? – não entendi algumas palavras.

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— Pensei que tivesse sido muito machucado. Você está inconsciente há algumas horas. Pensei que não fosse acordar. – ouvi uma voz doce. Logo imaginei que fosse a Moça. — Ah, eu posso me sentar? – perguntei, respeitando o trabalho da enfermeira de me enfaixar com dedicação. — Pode sim. Me sentei com muito esforço e cuidado. Abri os olhos direito, agora. Mas me decepcionei. Não era quem eu esperava. Era uma enfermeira baixinha e gordinha, talvez a mais velha de todas, com uns 45 anos. Olhei em volta, nada da Moça. — Nós ganhamos? — É incrível, mas ganhamos. – respondeu com um brilho nos olhos. — Como o capitão chamou sua nova aquisição? — O capitão chamou de Sorocaba. Em tupi, a língua dos índios, quer dizer Terra Rasgada. Olhe ali. Consegue ver aquele rio? Ele que rasga a terra, entendeu? — Entendi. Ela deu uma risadinha. — Como se chama aquela enfermeira que sempre fica em pé ali? – apontei. — Ah, se chamava Margarete. — Chamava? — Sim, é uma pena, ela disse que um moço pelo qual se apaixonara fora ferido — havia muitos feridos no “cômodo” — e pensava que estivesse morto, com o rosto no chão, sangrando. Então queria morrer também, já que não o teria mais neste plano. Aquela coisa de amor da vida inteira e etecetera. — Onde ela está? Ela está em alguma dessas camas? – eu esticava o pescoço desesperado. — Não, ela já está naquele outro plano, meu filho. Ela disparou a tempo para que não conseguíssemos segurá-la e impedi-la. Foi uma lança. Foi atingida no pescoço, suas vértebras cervicais foram danificadas.

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Eu não respondi. Entrei novamente em choque extremo. Queria morrer. Queria morrer. Foi o que desejei. Em qualquer lugar, situação, na frente de qualquer um, eu queria morrer. Margarete tinha morrido por minha causa! Arranquei meus curativos com força para que as feridas sangrassem. Pulei da cama, dolorido demais, mas comecei a correr nos espinhos que havia no chão. De um minuto para o outro, eu estava louco, a dor era tanta que eu nem a sentia mais. A linda mulher era o motivo pelo qual eu acordava todas as manhãs. Agora que não tinha mais motivo para acordar, não queria acordar. E agora também já tinha missão cumprida, já “fundamos” Sorocaba, de que servirei aqui nessa terra estranha? Fiz de tudo para morrer. Estava com os pés furados, os ferimentos escorrendo novamente, estava cansado, tinha pouca energia, pouco fôlego, precisava de uma pancada no estômago ou de uma cabeçada no chão. Dei ré, peguei impulso. Corri o mais rápido que pude, mesmo não sendo rápido para uma pessoa fisicamente saudável. As enfermeiras nem me tocaram de medo de mim. Via seus rostos em pânico pela visão do inconsciente. Corri, corri, até meus pés não aguentarem mais. Estava decidido, se ela se fora, eu a encontraria no céu, mesmo que suicídio não seja uma coisa bonita, nós dois estaremos no mesmo lugar por cometê-lo, ou para cima ou para baixo, não importa. Me soltei, me joguei, não sei o que fiz, mas demorou um século para acontecer. ... Acordei mais tonto que barata tonta. Num lugar diferente, não sei descrever. — Você tem uma resistência inexplicável, mocinho. — Ah, não! – eu gritei. Comecei a chorar, soluçar e tentei espernear por não ter morrido. Mas não conseguia. – mas eu queria morrer! Quero morrer, enfermeira! — Você não vai morrer! — Por que eu não consigo mexer minhas pernas? Eu quero chacoalhar minhas pernas! — Querido, isso é difícil. Mas quando bateu a cabeça, não a quebrou. Ficou paralítico. — O que isso quer dizer? — Que da cintura para baixo, você não poderá mais mover. — Por quanto tempo? 40


— O quanto você durar. – ela estava me dizendo que eu nunca mais mexeria minhas duas pernas. Agora aqui ficarei até morrer. Perdi minha família porque estou aqui. Perdi Margarete. Perdi meus movimentos. Não perdi a vida, a única coisa que eu mais desejei não ter a partir de então, eu tinha. O capitão ganhou uma estátua dele mesmo. Eu ganhei paralisia. Agora minha vida gira em torno disso. A paralisia. Sou um dependente. Não sou quem eu poderia ser. Tudo isso começou com o guarda idiota que me escolheu contra a minha vontade. E demora a terminar.

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O NETO, O AVÔ E A CATEDRAL

Giulia Diniz de Melo – Vovô – o garoto esboçou um sorriso antes de perguntar: – Aonde a gente vai agora? – Ué, pra casa. Eu só vim aqui para comprar um remédio e... – Ele se interrompeu antes de

terminar a frase, ao virar os olhos e encontrar a expressão de decepção no rosto do neto. – Mas, vovô, você disse que a gente ia passear! – Disse? – Ficou em silêncio por alguns

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segundos, tentando lembrar-se se realmente havia dito algo do tipo. E apesar de concluir o contrário, sabia que o neto ficaria desapontado se ele não o levasse a algum lugar. Caminharam por mais alguns minutos, enquanto o avô tentava se lembrar de algum lugar onde poderia levar o garoto para ao menos apaziguá-lo. Por fim, um local lhe veio à mente – A Catedral da cidade, que ficava algumas ruas à frente. – Certo, vamos à Catedral! – Exclamou o homem, sorrindo. Os olhos do neto emitiram um brilho entusiasmado, e em uma fração de segundos, o avô foi atacado por uma enxurrada de perguntas. – O que é isso? Onde fica? É legal? O que tem lá? – questionava o neto, praticamente pulando de alegria. – Fique calmo, você verá quando chegar lá – O sorriso do avô se alargou ao observar o neto tentar controlar a empolgação. Percorreram o caminho não muito longo até a Catedral e, em pouco tempo, já estavam em frente ao local.

– Pronto. É aqui – informou o avô, esperando a reação do garoto. – Onde? – o neto olhou à sua volta, claramente em busca de um lugar diferente do que realmente era. Como resposta, o avô apontou para frente com o dedo indicador, enfim fazendo a atenção do menino voltar-se à construção imponente à frente dos dois. Ele examinou-a de alto a baixo, o que levou alguns minutos. – Ah, eu não sabia que isso aí chamava Catedral! – o garoto comentou, ainda olhando para cima. O avô tentou conter o riso, mas não conseguiu. Soltou uma boa gargalhada, que de início assustou o neto. – Do que está rindo? – protestou ele. – O nome é Catedral – respondeu o avô, ainda entre risos. – Ah, é... É, isso. – o neto assentiu com a cabeça – Mas por que essa igreja chama Catedral? – ele ainda apresentou certa dificuldade para pronunciar o nome, falando a palavra lentamente. – Catedral quer dizer cátedra, ou seja, sede, cadeira do bispo.

– Ah, que legal! – o menino sorriu novamente, sem entender bem o real significado da palavra. O avô, ao perceber o ar de curiosidade do neto, decidiu explicar um pouco sobre a história da Catedral – Ou ao menos, explicar o que ele ainda se lembrava das histórias contadas pelo pai quando ainda era menino. – Ela foi construída há mais de duzentos anos, por operários vindos da cidade de Santos. E essa arquitetura é em estilo barroco. O garoto talvez não conhecesse todas as palavras usadas, mas ainda assim ouviu com atenção. – Nossa, é velha! – exclamou ele – Duzentos anos são mais do que a sua idade, vovô! O avô não respondeu – não gostava de ser chamado de velho. Em vez disso, continuou a explicação: – Mas ela nem sempre foi uma construção grande e bonita assim. Na época em que foi construída era apenas uma igrejinha simples. Ela ainda passou por muitas reformas por vários anos antes de se tornar o que é hoje – o avô

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fez uma breve pausa, tentando lembrarse de alguma informação que havia ficado para trás – Ah, e ela foi a primeira obra de pedra de Sorocaba. As outras construções da época eram feitas de taipa. Sabe o que é taipa? Construção feita de barro e ripas. O menino voltou o olhar para cima mais uma vez, evidentemente impressionado com alguma coisa lá. O avô, notando a curiosidade do garoto, dirigiu o olhar para a mesma direção, em busca do que o neto observava. – O que foi? – interrogou ele. – O que tem lá em cima? – indagou o menino. – Ah, é a torre. Lá ficam o relógio, que veio do Rio de Janeiro, e o sino bem grande, feito aqui mesmo em Sorocaba com cinquenta quilos de ouro para que o som das badaladas soasse melhor. O garoto, satisfeito com a informação que acabara de receber, estava prestes a baixar a cabeça para olhar melhor o lado de baixo da Catedral, no entanto, detevese nos dois anjos no centro, em cima. – E o que são aquelas estátuas ali, vovô? – São dois anjos: o da Salvação e o do Silêncio. – Anjo do Silêncio? Esse eu não conheço! O neto sequer aguardou a resposta do avô, e logo partiu para outra descoberta. – Mateus... Marcos... Lucas... João... – o menino leu em voz alta os nomes escritos em pequenas placas – Quem são esses, vovô? – São quatro apóstolos de Jesus. Lembra-se daquela história da vida de

Jesus que eu te contei? – Ah, sim. E essas estátuas acima dos nomes são deles? – O menino questionou, visivelmente impressionado com o tamanho delas. – Sim. O avô desviou o olhar para o relógio da Catedral, que lhe chamou a atenção para as horas – ele ficara tão absorvido com o passeio, que se esquecera de que estava ficando tarde. – Está na hora... Precisamos ir – avisou ele, já dando alguns passos para ir embora. – Espere aí, vovô! Já vamos. O que é aquilo ali? – apontou o menino, ainda curioso. – Aquele é o Brasão da igreja, não é bonito? – Ô se é! – o menino exclamou, sorrindo, antes de acompanhar o avô – Puxa, vovô, como você é sabido! O avô achou graça, e respondeu: – É, ainda bem que meu pai me contou tudo isso, né? E depois, você também é muito sabido, meu neto, muito sabido...

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O CORONEL

JULIA PRINZ SORGER

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Em Sorocaba, em uma região mais pobre no século XVIII, um garoto sofria muito com sua família de baixa renda Seu nome era Raimundo Peiraz. Ele tinha quatro irmãos chamados Maria, Antonio, Francisco, e Gilberto o mais novo, A casa deles era de barro, pois não tinham dinheiro para comprar outros materiais mais fortes e resistentes Perto dali havia um mercado onde mercadores vendiam suas mercadorias, como animais, comidas e artesanato. O garoto gostava de poder olhar do alto de um morro o mercado muito movimentado. No dia seguinte, ele acordou e viu todos seus irmãos sumidos, Correu até o mercado e estava tudo devastado. Raimundo não sabia o que fazer, sentou-se em uma pedra e tudo que podia fazer era chorar pela sua família desaparecida. Começou a chover e de repente, apareceu um homem de roupa verde montado em um cavalo, o homem desceu do cavalo e perguntou:

nome dele era General Akolani, mas podia chamá-lo Kolo. Kolo subiu no seu cavalo e puxou o menino para a garupa. O menino não sabia para onde ir, nem como iria sobreviver, mas Kolo disse que podia ficar com ele até achar os pais. Então começou a aventura de Kolo e Raimundo até a cidade natal de Kolo, onde Raimundo ficaria até saber o que fazer. Raimundo esperou e nada dos pais aparecerem. Raimundo cresceu sendo criado por Kolo, Raimundo virou um forte coronel, ganhou um bom cavalo e armas. Um dia, passava pela estrada e viu uma bela moça acompanhada de dois rapazes. Percebeu que eram seus irmãos. Eles também perceberam que era Raimundo e correram para a direção dele. Deram um grande abraço em Raimundo e Raimundo disse:

O garoto respondeu:

— Olá, irmãos! Vocês cresceram muito desde a última vez em que nos vimos. O que aconteceu?

— É Raimundo Peiraz, senhor!

A irmã mais velha disse:

— Qual é o seu nome garotinho?

O garoto perguntou o porquê de a cidade estar deserta, e o general disse : — Houve uma revolta entre militares e manifestantes e as pessoas foram levadas para um lugar mais seguro. O garoto perguntou se ele era o general e o general disse que sim e que o

— Houve uma revolta, então nós fugimos, mas tínhamos nos esquecido de você e, quando voltamos para te buscar, você tinha sumido, nós choramos muito! Infelizmente, Raimundo não podia conversar. Kolo o chamava urgentemente. Houve outra revolta e estava acontecendo na praça, que estava

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muito movimentada mercado.

por

causa

do

Raimundo foi até a praça o mais rápido possível. Chegando lá viu pessoas atacando outras pessoas e brigando Raimundo decidiu reagir e apontou a arma a um mercador que estava brigando e o jogou no chão , então Raimundo deu um berro que todos que estavam brigando pararam imediatamente para ver o que estava acontecendo, foi aí que a vida de Raimundo mudou para sempre. Ele ficou conhecido como o poderoso chefe. Mais tarde, naquele mesmo dia, Kolo ficou muito orgulhoso de Raimundo pela sua coragem e bravura, mas na verdade Raimundo tinha um sonho que era ser homenageado com uma estátua na praça onde houve a revolta, esse sonho surgiu enquanto ele berrava na praça e todas as pessoas pararam para ver o que houve, mas percebeu que precisava de muito mais que um berro para ter uma estátua ele precisava de força, coragem, bravura, inteligência e principalmente não temer a morte. Isso era o que Kolo dizia. Mas Raimundo sabia que estava faltando o amor e a dedicação e que só assim chegaria onde queria isso era o que seu pai dizia a ele quando era criança. Então Raimundo decidiu treinar para caso houvesse alguma outra revolta ou até mesmo uma guerra.

Um mês depois... Raimundo já estava bem treinado e sabia o que fazer em uma revolta. Kolo disse que ia acontecer uma grande revolta e que dois canhões tinham sido colocados na praça e que a revolta estava prestes a acontecer Raimundo, Kolo e outros militares se reuniram na praça e esperaram que os manifestantes aparecessem. Quando eles apareceram, Raimundo atacou um dos manifestantes que caiu no chão morto. Os outros manifestantes atacaram Raimundo enfurecidos, mas ele foi rápido e desviou com seu cavalo. Então, Kolo e os outros militares atacaram os manifestantes que acabaram fugindo, os militares saíram vitoriosos e levantaram Raimundo no ar gritando: — Raimundo!

Raimundo!

Raimundo!

Então fizeram uma estátua de Raimundo em sua homenagem e seu sonho se realizou. Sua família se juntou a ele. Raimundo decidiu que voltaria a morar com sua família e se despediu de Kolo e agradeceu pela hospitalidade. Ele se aposentou, se apaixonou por uma mulher chamada Mariana Lopez e tiveram sete filhos chamados Akolani, Frederico, Maria, Edmundo, Lucia, Pedro e Romeu Seu primeiro filho teve homenagem ao seu ´´Segundo`` pai chamado Akolani. Raimundo e Mariana viveram bem, nem com muito nem com

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pouco dinheiro. Eles moraram em uma fazenda cheia de animais e plantações. Raimundo nunca mais ouviu falar de outras manifestações e todos os dias recebia cartas de Akolani e sua esposa Miranda, dizendo que sentiam a falta dele e que quando ele quisesse, podia sempre visitá-lo e levar seus sete filhos para que Akolani pudesse conhecer e também conhecer sua esposa Mariana. Akolani queria contar muitas coisas, mas, infelizmente, depois de dois anos, morreu em uma batalha. Raimundo nunca superou a morte de Akolani e a morte de seu pai, que morrera dois meses antes. Depois de dez anos, Mariana morreu e Raimundo ficou viúvo com mais cinco crianças para cuidar, porque os outros já eram adultos. Raimundo morreu cinco anos depois da morte de sua esposa, e os filhos ficaram com a herança do pai, com o dinheiro, a casa, o terreno, e tudo mais. A maioria seguiu os passos do pai e viraram soldados. Outros viraram camponeses, mas sempre moraram juntos.

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Uma relíquia magnífica

Lívia Mathilde Ruiz Cruz

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Acho que o nada é algo que existe, mas poucas pessoas o podem sentir, e o chamamos de nada porque é impossível de descrever. Não tentarei descrever, porque acabei de falar que é impossível, mas quando você o sentir, irá saber o que eu estou falando. Estou parecendo um pouco louco com esta bermuda de três dias e o cabelo emporcalhado. Meus pais foram viajar e o feriado ainda está no começo; somando tudo que eu já escrevi, você irá perceber que o meu estado é de tédio. Faltam mais seis meses para o fim dos meus anos escolares; não sei bem o que vou fazer, provavelmente meu pai vai querer que eu vá para exatas, pois eu sou bom nisso e porque, um dia, quando eu resolvi compartilhar algo de que eu gosto com eles, falei que estava indo bem em álgebra. Ele enfiou isso na cabeça e se recusa a tirar; por esse motivo, tornou-se raro eu falar algo que está em minha cabeça. E eu te dou esse conselho: se você é uma dessas pessoas que pensa muito e alguém perguntar o que você acha sobre algo, fique quieto, pois um simples comentário irá te assombrar por toda a sua vida. Um descomplicado ''ah, eu concordo com você'' é bem melhor. Eu gostaria de fazer arquitetura e desenhar meu próprio restaurante, ou talvez, só um pequeno café com livros e em alguns anos, poderia acrescentar uma padaria; e, se tudo der bem, um pequeno hotel também. Depois de tantos pensamentos, esse pequeno papel branco com linhas azuis se tronou um grande oceano de vozes. Eu estava pensando, enquanto olhava para a parede branca, que uma única palavra pode ser tão grande em uma frase e tão pequena em outra. Se você pensar bem, eu sou um grande filósofo com essa frase, e ela pode fazer tanto sentido para alguns e nenhum para outros. Quando eu for famoso e velho, resolverei fazer um livro e, depois que ele for um best-seller, essas frases serão pichadas nas paredes de Sorocaba, de onde sou, e serei considerado uma das maiores mentes que existiu. E esse mísero papel em que estou escrevendo está sendo privilegiado por eu escolher para ser o papel em que eu vou escrever e esse infeliz lápis se tornará feliz, porque será leiloado, já que este filósofo o usou para escrever uma de suas primeiras filosofias. Agora te pergunto: e se eu for morto amanhã por uma bala perdida, e esses pensamentos no papel virarem reciclado e ninguém nunca ouvir meus pedidos? Eu serei esquecido simplesmente porque eu não fui algo grande. Será que tudo isso já aconteceu, mas nós só estamos percebendo agora? Será que tudo já foi programado para acontecer e nada vai fazer mudar? Não estou falando de destino, estou falando de Deus: eu mesmo 50


sou uma pessoa muito religiosa, não vou à igreja nem nada, mas em Deus eu acredito sim, e acho que você devia também, não por medo, mas por puro autoesclarecimento. Tudo não faz mais sentido quando colocamos Deus? No começo do Universo, na morte do homem, na cura da doença, na flor nascendo, no rio descendo? Não, na verdade não faz, não. Mas se não faz sentido para nós, para alguém tem que fazer sentido, e eu tenho certeza que esse alguém é Deus. Não pense que estou tentando te fazer acreditar, não me entenda mal. Só estou no meu quarto com o rádio alto demais e sem nada para fazer. Você tem também seus momentos de pensamento. Estava passando um filme qualquer na televisão, foi quando meu telefone tocou e foi uma sequência de ''sim, eu tô comendo'', ''não, eu não estou usando drogas ou dando uma festa em casa'', ''tá, vou tomar banho'' para minha mãe, até que ela se contentou, me mandou um beijou e desligou o telefone. Não foi nem um segundo e ele tocou de novo; dessa vez era a Gina e ela disse bem animada para eu encontrá-la no Campolim. Então eu tomei um banho e fui. A história por trás da história minha e da Gina é bem diferente, na verdade, não é, não. Nós nos conhecemos porque ela era nova no colégio e meus amigos deduziram que gosto dela porque eu, tentando ser uma boa pessoa, falei ''a menina nova é essa ruiva?'' e eles me empurraram até ela e foi assim que começamos a nos falar. Por isso, eu digo novamente, fique quieto e você não terá que ouvir ''Tom e a ruivinha'' mesmo após três anos. Mas uma coisa eu asseguro: não me arrependo de ter falado com ela. Gina chegou correndo, com o cabelo todo desordenado, falando: — Você vai me amar mais do que você me ama quando eu te contar o que eu pensei! Não se preocupe, senhor Tom, pois seus planos do futuro estão planejados. Você irá desenhar o meu restaurante e nós teremos o maior e melhor e mais famoso restaurante que existiu! — ela exclamou com o maior sorriso que eu já tinha visto. Eu gostei bastante dessa ideia, e falei para ela isso, mas também a lembrei que meu pai não iria gostar muito dessa ideia, e ela disse que eu não precisava me preocupar com isso agora, porque ela ia comprar um sorvete para mim, o que foi bom, mas não tirou minha preocupação. Agora é diferente, tudo é liberdade, é autonomia, é ousadia para todos. Menos para mim, porque a liberdade e a autonomia e a ousadia são nulas quando seu pai quer que você vire engenheiro. Essa luta vem durando seis meses, e ele não quer nem ouvir meus argumentos.

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— Parabéns aos formados de 1984! — a diretora clamou e todos levantaram e aplaudiram. Todos se sentindo como pássaros dentro de uma gaiola, que estava sendo aberta pela primeira vez, e na minha, sendo colocada mais um cadeado. Avistei Gina vindo correndo até mim, depois que toda a cerimônia acabou. — Que o nosso futuro comece! — ela bradou. — E que a tentativa de convencimento do meu pai também! — imitei ela. — Você é meio pessimista, sabia? Desde então, só o que eu ouço é ''estou tão orgulhoso que meu filhão vai prestar engenharia'' e ''a cor da frente do nosso restaurante será bege ou de tijolos?''. Estou meio indeciso porque não sei direito o que fazer, se eu prestar engenharia, posso trabalhar em um lugar onde os engenheiros trabalham e minha vida estará pronta, mas se eu começar o restaurante, posso falir e ouvir tantos sermões do meu pai que vou estourar. Sinto saudades de quando o meu problema do momento era saber o que comer, e eu só ficava entediado, mas resolvia escrever em um pequeno papel rabiscos. Agora tudo é tão real. Como tudo se concretizou tão rápido? — O que você está fazendo? Devia estar arrumando suas malas para a faculdade, filho! — comentou meu pai, abrindo a porta. — Eu só estou lendo uns papéis que achei aqui pai, já vou. — respondi, sentado no chão do meu quarto. — Tenho muito orgulho de você. Se eu tinha medo de tudo ser tão real? Eu tenho medo de saber como eu ficaria se eu soubesse como está tudo agora, Gina e eu não nos falamos há um ano, desde quando eu falei para ela que iria fazer engenharia. Esse é meu segundo ano de faculdade, ela está cursando gastronomia e, pelos boatos da cidade, está indo muito bem. Não posso falar que odeio a faculdade, é interessante e eu vou bem, mas também não posso falar que é o meu sonho, porque quase toda aula o professor me ataca por eu estar fazendo desenhos no livro. Ainda tenho três anos dessa guerra. O mais duro é não falar com a Gina ou saber notícias dela. Ela ficou bem chateada por eu não seguir ''o plano'', mas ela era sempre a que me falava que eu tinha que perdoar as pessoas. Eu não entendo como as pessoas ficam bravas com você por ter feito algo que a deixou mal, mas que 52


essa não era nem um pouco a sua intenção e elas te culpam porque você não teve escolha. Como? Eu juro que não entendo as pessoas, talvez um dia eu entenda, e, se eu conseguir, não vou falar para vocês, porque vocês têm que descobrir sozinhos e sofrer o que eu sofrerei tentando descobrir. Sabe o que é pior? Depois de a pessoa ficar brava com você por algo que você nem percebeu que fez, você se sente culpado! Todos os erros ao seu redor foram por sua causa! E no final de tudo, você é o único que se preocupou, mas ninguém percebe. Eu devia me excluir dessa bolha de egoísmo que as pessoas moram, fazer um vídeo de cada uma delas, e depois, mostrar o que elas fazem, assim, talvez, elas pensem e percebam o quanto são ridículas. E eu sei que a Gina não gostaria que eu pensasse assim dela, eu me odeio por pensar assim dela; mas eu não consigo evitar. Ela não podia ter me visitado? Ou me ligado e perguntado com eu estava? Mesmo depois de todo esse pensamento concluído, eu me pergunto: será que eu também não estou sendo egoísta, pensando que só eu me preocupo e ela não? Por que eu não liguei para ela? Porque eu sempre tento entender a mente das pessoas antes de falar algo sobre ela, uma coisa que eu amaria que as pessoas fizessem. As pessoas se preocupam. Ela só ficou mal porque eu estraguei toda fantasia que ela passou horas criando. Ela provavelmente devia estar num dia difícil e queria me contar algo delicado e eu fui lá e assassinei todas as suas ilusões. Porém, eu não tenho direito de ter meus dias difíceis e coisas delicadas para falar? Parece que eu aceito que as pessoas tenham seus dias difíceis e coisas delicadas, mas elas não aceitam os meus. E o conceito de que as pessoas talvez também aceitem meus dias difíceis e que elas, na verdade, não são esses terríveis seres humanos que eu penso e eu que sou um cego e não enxergo estraga toda essa minha teoria. Aí chega o conceito de que todos os erros são meus. E tudo volta ao começo, e esse ciclo fica na minha cabeça o tempo todo, e eu daria tudo para saber como fazer parar. Tudo já estava arrumado para o meu último ano de faculdade. Esse é meu último dia em casa e as coisas não mudaram muito, tive uma namorada, mas nada muito importante. Tenho tentado ser uma boa pessoa, e, às vezes, consigo, mas todos nós temos as nossas recaídas, e bom, estou em uma. Ainda não falei com a Gina, isso me deixa triste. Mas o fato de depois de três anos sem nos falarmos eu ainda pensar nela, isso me assusta. Meu amigo Lucas, que é desenhista, está aqui em casa. Ele veio me visitar nas férias. — Você desenha muito bem. – elogiei-o, enquanto folheava o seu caderno. 53


— Eu sei. — Esse leão tá bem legal, e... Você desenhou a Gina. — Ah, sim, velhos tempos. — Ela estava linda. — Você a fez parecer bonita. — Mas ela é bonita. — ele afirmou — Vamos jantar fora? — Vamos – confirmei, meio confuso. Entramos no restaurante e tudo me fez lembrar mais ainda da Gina. Alguém a tire da minha cabeça, por favor? Ficamos conversando, até que uma voz conhecida me chama. — Tom? — Era ela, depois de três anos, ela continuava a mesma, como isso pode acontecer? — É você mesmo? — ela disse sorrindo e veio até a minha mesa; eu me levantei e nós nos abraçamos. — eu não acredito que é você. — ela murmurou em meu ouvido. — Quanto tempo... — eu me arrependi de ter dito aquilo na hora. Não tenho algo melhor na minha cabeça? — Muito! Como está a faculdade? — ela perguntou, puxando uma cadeira e se sentando na nossa mesa. — Ótima! E a sua? — perguntei. — Eu preciso ir ao banheiro. — Lucas falou, percebendo meus sinais para ele sair. — Foi ótima, eu acabei faz alguns meses e foi maravilhoso, eu vim aqui para comemorar com minha amiga, nós conseguimos fechar o contrato com o imóvel e vamos abrir nosso restaurante! — ela exclamou. — Nós vamos comprar aquela velha construção de esquina que nós falávamos que era assombrada. Teremos que restaurá-la, ela é uma relíquia. — Então você conseguiu o que queria. – articulei, meio desapontado. — É, mais ou menos, não será bem um restaurante, será um café meio falido, mas é um começo! Tom, não fique feliz com a decepção dos outros! — É um bom começo. Onde está sua amiga? — Ela já foi, eu estava indo também, mas eu te vi e vim falar com você. Me desculpa por eu não ter falado com você, ou te ligado, ou te visitado, eu não devia ter sumido, eu era muito ingênua e estava assustada. — ela explicou muito rápido. Nós ficamos lá até o restaurante fechar, e toda aquela raiva que eu sentia dela sumiu no momento em que ela falou ''Tom'', tudo está bem agora. Ela ainda brincou que ela quer que eu restaure o seu restaurante/café e que ela quer me ver todos os dias comendo bolo lá. 54


— Está lindo! – Gina anunciou, olhando para o nosso restaurante quase pronto. Depois do seu café ter virado um pequeno sucesso, ela resolveu investir para transformá-lo em um restaurante e como eu já tinha me formado em engenharia e realizado o sonho do meu pai, fui realizar o meu e resolvi entrar para a faculdade de arquitetura, me especializei em restauração, foi quando comecei a restaurar, de novo, o café nem tão falido da Gina, e transformá-lo em um restaurante. Em alguns meses ele já estará aberto. — Está mesmo. – afirmei. — Tom, você é o melhor restaurador que existe. — Obrigado. — Caramba, como eu amo Baltazar Fernandes por doar essa igreja. — Sim, eu ouvi que ela foi construída com a força dos escravos do Baltazar, e Sorocaba se desenvolveu ao seu redor. — As paredes de taipa vão continuar de taipa, certo? Elas vão combinar muito com as mesas que eu vi outro dia na vitrine de uma loja. — Sim, algumas características não podem ser mexidas por conta de seu valor histórico. — Ela será magnífica.

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A fundação de Sorocaba Lorenzo Casana Agelune

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Baltazar Fernandes foi o fundador de Sorocaba, uma cidade no interior de São Paulo. Como todos, ele tinha uma vida normal e quase ninguém o respeitava, pois ele era muito feio e até comparavam-no com o patinho feio. Mas ele nem ligava para sua aparência, se tinha uma coisa que ele ligava era a higiene. Ele era bem higiênico a ponto de escovar os dentes seis vezes por dia e tomar banho três vezes por dia. Ele era lunático com a higiene. Um dia, Baltazar estava brincando nas ruas de Itu, cidade em que seus pais viviam. Ele era pequeno, por isso ele não tinha muitos amigos, até que um dia uma menina chamada Vitoria apareceu naquela cidade. Ele ficou apaixonado. Ele nunca tinha se apaixonado antes de Vitoria aparecer. Ele ainda achava as meninas nojentas, mas depois do momento da chegada de Vitoria à cidade, ele se apaixonou pela primeira vez. O único problema de Baltazar era que Vitoria tinha um irmão mais velho e superprotetor, então Baltazar criou um plano, que era o seguinte. Baltazar viraria amigo do irmão de Vitoria para poder se aproximar dela. Iria colher várias informações dela para tentar namorá-la, mas teria que correr atrás dela, pois ela não o achava nem bonitinho, então seria uma missão difícil para ele. Um dia, Baltazar estava no único parquinho de Itu e deu de cara com Vitoria no escorregador. Ela estava desacompanhada, então Baltazar não perdeu a oportunidade: foi falar com ela e não parou. Perguntou até o que não devia. De tão empolgado, pediu se ele poderia acompanhá-la para a casa dela. Ela disse que poderia, então eles partiram para a casa dela e foram conversando. Dali a pouco, estavam virando melhores amigos. Perto da casa dela, estava seu irmão jogando futebol. Ele se virou e viu Baltazar com Vitoria, ficou furioso, chamou o garoto e ameaçou-o: — Cara, é isso que eu tô vendo mesmo? Você é louco, fica a dica, se você falar, encostar ou pensar nela, você vai apanhar de mim. Sentindo-se ameaçado, Baltazar começou a se encontrar com Vitoria escondido. Um dia, ele estava cansado de sempre conversarem como amigos, então nesse dia, ele pediu-a em namoro por papel, onde estava escrito: “Vitoria, desde o dia que eu te conheci, eu estive apaixonado por ti, você foi a primeira e a última menina por quem eu vou me apaixonar, por isso estou te pedindo em namoro, eu sei que seu irmão atrapalhou nosso relacionamento como amigo, mas não é por isso que vou parar de te amar e nem de te ver. Se for por você, fale para seu irmão vir aqui me enfrentar, pois por você, eu faço tudo, se você quiser namorar comigo, marque no

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papel: Sim ou Não”. Depois de ela receber aquele papel, ela marcou com Baltazar no parquinho para dizer a resposta. Lá estava Vitoria e seu irmão. Ela gritou para Baltazar: — Sim, eu aceito. Então, Baltazar saiu correndo em direção a ela, mas nessa hora, o irmão de Vitoria tomou a frente dela e saiu correndo em direção a Baltazar. Seria uma pancadaria para cima de Baltazar, mas não foi bem assim, não, pois Baltazar tinha a habilidade de lutar que ninguém sabia. Então, ele deu um saco de porrada pra cima do irmão da Vitoria. Com isso, as pessoas ficaram sabendo que o irmão de Vitoria tinha uma arma. Depois de apanhar, o irmão de Vitoria foi pegar sua arma em casa. Quando Baltazar ficou sabendo, ele pegou Vitoria pelo braço e fugiu com ela para outro lugar. Então ele correu sem direção com ela para não levar o tiro. Ele correu tanto que chegou a um lugar que não era habitado por ninguém e decidiu fundar aquela cidade e chamá-la de Sorocaba. Esse nome surgiu, pois esse seria o nome do filho de Baltazar e Vitoria, se eles tivessem um filho. Mas eles não tiveram, pois depois de 15 anos do descobrimento de Sorocaba, o irmão de Vitoria encontrou a cidade, procurou e matou Baltazar. Depois de um tempinho, Vitoria voltou em sua antiga casa, pegou a arma de seu irmão, matou-o e se matou em seguida. Diz a lenda que eles foram enterrados todos juntos.

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LUCIANO VETORAZZO

Os canh천es de Sor ocaba

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Há muito tempo, na cidade de Sorocaba, bandeirantes construíram canhões em uma praça, que hoje é chamada de Praça do Canhão. O motivo do canhão nesta praça era de se defender dos ataques de índios de uma aldeia vizinha. Sorocaba, como estava crescendo, acabou ocupando muito espaço da aldeia desses índios. No começo, os nativos foram para a cidade sem violência e falaram para o bandeirante Baltazar Fernandes que queriam que parassem de invadir suas áreas. Como Baltazar não queria sair perdendo, falou para os índios que não ia parar. Com isso, os nativos voltaram a sua aldeia e ficaram lá por mais de um ano discutindo para fazer uma ataque à cidade de Sorocaba. Enquanto isso a cidade ia crescendo cada vez mais, Baltazar nem pensava que os índios pudessem atacar. Então, em uma noite, quando todos já estavam dormindo, a aldeia inteira foi para a cidade para fazer um ataque. À uma hora da madrugada, os nativos botaram fogo nas casas e fugiram rapidamente. Havia um homem que não conseguira dormir, ele estava totalmente acordado, lendo um livro, então, em um momento, olhou para a janela e não conseguiu ver o fogo, mas viu uma luz distante que cada vez mais estava aumentando. Desconfiado, abriu a janela e colocou a cabeça para fora para ver o que estava acontecendo. Nisso, ele sentiu um cheiro de queimado e decidiu sair na

rua. Quando saiu, viu que a cidade estava começando a pegar fogo, então saiu gritando na rua para acordar todos e apagar o fogo. Quando todos os sorocabanos viram, cada um pegou um pouco de água de sua casa e com isso tentaram apagar o fogo. Depois de uma hora e meia tentando apagar o fogo, conseguiram, e não tinham dúvida que foram os nativos. Nessa hora, Baltazar Fernandes pensou que se os índios descobrissem que eles não conseguiram destruir Sorocaba, iriam atacar de novo. Então, o bandeirante teve um plano, ele pensou em construir algo para se defender antes do ataque dos índios. Decidiu construir um lugar onde houvesse canhões, e como o terreno era inclinado, quando os selvagens viessem subir para a cidade, seriam atacados e mortos no mesmo instante. Com um grupo de bandeirantes, Baltazar avisou a cidade sobre seu plano e com todos reunidos, começaram a construir o lugar. Naquela época, o lugar onde eles queriam construir os canhões estava coberto por árvores, por isso demoraram para fazer o local. Depois de retirar as árvores e deixar o terreno limpo, começaram a fazer os canhões. Enquanto isso, realmente os índios estavam armando um plano para atacar, mas dessa vez não seria secreto, eles iriam simplesmente reunir todo mundo e atacar de uma vez a cidade de Sorocaba, mas eles iriam esperar ter armas 60 suficientes para todos.

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Depois de poucos dias de limpar o local, os bandeirantes já tinham terminado de construir os canhões e estavam prontos para o ataque esperado. Como não iriam ficar muitos dias esperando o ataque, decidiram mandar um homem para espionar os nativos e ver quando seria o dia da Guerra. Assim que o homem se aproximava da aldeia, viu os índios armados já saindo do local, então ele foi correndo para Sorocaba avisar que eles estavam vindo. Quando chegou, mandou prepararem os canhões, que os índios estavam chegando. Em seguida, obedeceram às suas ordens e ficaram esperando. Logo depois, os selvagens chegaram e foram bombardeados pelos canhões de Sorocaba, Quando todos já estavam mortos, os cidadãos puderam comemorar que estavam a salvo. Depois de dias, perceberam que deviam nomear o local dos canhões, pois esse acontecimento foi muito importante, então decidiram dar o nome de Praça do Canhão.

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ANASTÁCIA “O céu era limpo, as árvores eram delicadas e havia várias esculturas de anjos...”

Maria Júlia M. Bernardes – 8º A

Anastácia era uma menina de nove anos. Seu cabelo era ondulado, castanho, assim como seus olhos. Sua pele era morena medrosa e não saía das pequena casa, sentindo as e cheia de machucados, pois orientações que sua mãe gotas de chuva caírem de ajudava sua mãe a cuidar da dava.

Apesar

de

tudo, uma a uma no rosto. Esta

casa e de seus sete irmãos Anastácia ainda era feliz. era uma de suas distrações. desde... bem, desde sempre. Herdara de seu avô a sua De repente, escutou a sua Além disso, possuía inesgotável criatividade, e mãe chamar: problemas na família: o pai era isso que a fazia olhar o era machista, a mãe já mundo com outros olhos, de estava cansada de cuidar da um jeito mais bonito. casa

e,

recentemente,

Certa

- Filha, você tem que cuidar de seus irmãozinhos

tarde, e preparar o jantar de seu

perdera o avô, sua paixão de Anastácia estava deitada na pai. Estou indo na igreja me infância. Por isso, era muito grama do quintal de sua confessar.

vou ficar lá para assistir a missa.

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— Claro, mãe. Hoje é o dia

Enquanto descia a rua, Mas agora já era tarde para voltar.

em que eu levo meus irmãos a Anastácia

berrava:

“Augusto!

igreja também? – disse Anastácia, Silvério! Onde estão vocês?!” saindo da grama e tirando as gotas de água com a mão. —

Passou-se

Passaram-se duas horas.

bosque fechado. Ela não queria

Passaram se três horas.

É. O bilhete que eu entrar nele, pois havia muitas

escrevi para seu pai avisando que lendas falando sobre o bosque, que

ele

é

mal-

cama. Não se esqueça de deixar assombrado. Alguns até alegavam num lugar visível para que seu pai que alguns fantasmas lá dentro leia.

entravam em seu corpo e te Depois do aviso dado, as

faziam cometer suicídio.

algum

tempo

depois de que Anastácia cozinhara o jantar de seu pai e então a menina ouviu o sino da igreja soar. Faltavam trinta minutos para a missa começar. Tomás,

algumas luzes, provavelmente os vagalumes que viviam no bosque. Sentia um pouco de dor, já que

encheu de pensamentos negativos. isso que aconteceu: a menina Tudo o que ela queria era ter desmaiou de exaustão no meio do algum sinal dos irmãos dela bosque. naquele momento. Desesperada, ela não teve outra alternativa a não ser entrar no local e correr o

Nicolau, maior risco de sua vida.

estão os outros dois?”, pensou.

Mas

a

eterna

à missa! – bradou Anastácia, atordoada. Já tinha perdido 10 minutos procurando os outros. Anastácia mandou Tomás, Nicolau, Joaquim, José e Antônio irem se arrumando, enquanto ia dois.

No

pensamento dela, eles deveriam estar brincando na rua.

num lugar diferente. O céu era limpo, as árvores eram delicadas e

dúvida todas esculpidas em pedra sabão.

pairava sobre sua cabeça: ela

outros dois irmãos? Precisamos ir

outros

Quando acordou, estava

havia várias esculturas de anjos,

– Meninos, onde estão seus deveria estar fazendo aquilo?

os

As coisas começavam a girar. Via

pequena floresta, sua cabeça se mais ficar em pé, e foi exatamente

Joaquim, José, Antônio... – “onde

procurar

de sono. A sua visão estava turva.

ao final da rua e começou a ver a havia lhe picado. Já não aguentava

cozinhar o jantar.

Anastácia estava delirando

Quando Anastácia chegou estava com fome e uma cobra

duas se despediram e Anastácia foi

Passou-se

hora

procurando seus irmãos, e nada.

No final da rua, havia um

iremos à missa está embaixo da dizendo

uma

Então, viu uma mulher passar. Perguntou a ela onde

Apesar de sentir não estar estava,

que

esculturas

eram

fazendo a coisa certa, Anastácia aquelas, por que ela estava ali. A mulher sorriu e disse:

entrou. Depois

de

um

tempo

caminhando no assustador local (quando já tinha o adentrado o suficiente), começou a gritar de novo o nome de seus irmãos... até que se deu conta de que já era noite, e havia perdido a missa.

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- Você não reconhece este lugar? Nunca ouviu falar? Logo você, que pensei que tanto queria conhecer aqui... não reconhece as obras do barroco? As cores fortes e alegres, os vitrais com a imagem Dele, os anjos esculpidos em pedra-sabão... Que decepção, Anastácia. Esperava mais de uma pessoa tão inteligente como você. De repente, a mulher abriu um grande par de asas de trás de suas costas e voou para longe. E, a cada momento em que ela se distanciava, tudo parecia escurecer. Cada vez mais. Escuro. Escuro. Então,

Anastácia

ficou

deitada no bosque pra sempre, no sono profundo que a morte proporcionou à pequena jovem de nove anos.

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Murilo Pedrão

BALTAZAR FERNANDES

Baltazar Fernandes era um garoto frágil e pequeno, contrariado por seu pai e o resto da colônia. Uma vez, teve que fazer um tipo de um exercício que era com um ovo de codorna dentro da boca. Teria que levar até o outro lado do bosque. Mas todos os meninos que faziam o teste, não sabiam que teriam que lutar contra índios canibais que viviam no bosque. Assim, todos os meninos estavam valentemente correndo. Do nada, apareceram cinco índios canibais. Todos saíram correndo, menos o Baltazar. O garoto, cercado pelos cinco índios, pegou uma pedra afiada que chutara quando um dos índios chegava perto dele. Com golpes incríveis Baltazar derrotou os índios e, por ordem de valentia, arrancou a cabeça dos cinco índios e levou-as para seu pai. Aproximando-se da linha de chegada, Baltazar apresentou as cabeças ao povo e cuspiu o ovo de codorna que, enfim se quebrara. Seu pai, muito orgulhoso do filho, resolveu fazer uma espada para ele, dando vários

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conselhos de como uma verdadeira espada era feita. Passou-se uma semana e sua colônia foi atacada pelos soldados do rei Juan. Toda sua colônia fora destruída e seu pai capturado e acorrentado em um balde de lava. O filho tentou salvar o pai, mas não conseguiu e viu a morte do pai cara a cara. Após essa guerra, Baltazar pegou seu cavalo, que ficara escondido no meio da guerra, e seguiu sua vida nas ruas, bebendo, roubando e principalmente crescendo. Após uns dez anos, Baltazar começou a ter sonhos com essa guerra... Toda noite Baltazar sonhava e lembrava-se da face do homem que amarrara seu pai, da filha do rei (uma bruxa) e da face do rei, uma face monstruosamente cortada. Baltazar, na sua longa jornada para a vingança de seu pai e de sua colônia, partiu para capturar e matar a filha do rei, o homem que acorrentara seu pai e o próprio rei. Quando estava passando por uma rua suspeita, enxergou um homem negro e forte andando com um exército que fora destruído. Muito esperto, foi conversar com o "general" dos homens. — O senhor é o general PJ? — Sou eu mesmo... e quem seria o senhor? — Sou Baltazar Fernandes, filho de Afonso. — Ah, sim, Afonso foi um grande companheiro de guerra. O que o senhor gostaria? Daí Baltazar contou a história da guerra, da morte de seu pai, falou que sabia que o general e o pai lutaram em uma guerra contra o rei Juan e que também perderam a colônia. Após a longa conversa, Baltazar fez seu plano dar certo e fez os guerreiros e seu general juntarem-se a ele. Baltazar e agora seu exército marcharam para a cidade de Cachi, onde o exército repousava após uma guerra. Seu pequeno exército de homens muito habilidosos iria supostamente atacar o exército do rei enquanto dormiam. Primeiro pegavam os vigias e depois pegavam o restante com dinamites. Ocorrido o ataque com sucesso, Baltazar viajou para a cidade de Cluchi, onde ficavam o reino e o palácio do rei Juan. Com sua grande esperteza, Baltazar bolou o plano de capturar a filha do rei, passando-se por um de seus súditos. Primeiro o ex-general do exército passou por aqueles comerciantes do rei que provam a comida. Quando o rei foi para o quarto, ele pegou todos os seguranças e abriu os portões para alguns do exército entrarem. Matou a filha do rei para ver o sentimento que o garotinho há dez anos teria sofrido. 66


O plano estava correndo certo, até que chegaram na frente do quarto do rei. O rei, sofrendo muito, pediu piedade ao Baltazar. Mas estava só fingindo, pois chamara seu outro exército. O exército do rei chegou e ocorreu uma grande luta no castelo, armas, capacetes, muitas coisas ao ar. Os homens de Baltazar estavam morrendo e sendo capturados, o ex-general tinha morrido. Então, Baltazar começou a destruir os guerreiros do exército inimigo. A guerra começou virar para o lado de Baltazar. A guerra acabou e Baltazar, vitorioso, fundou uma cidade, chamada Sorocaba, aberta para várias colônias e o mais importante, aberta a todo o povo, mas claro, com ele governando.

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O Fundador de Sorocaba Victor Guazzelli

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Muito tempo atrás, esse homem, Baltazar Fernandes, que está representado nessa estátua, fundou Sorocaba, e vou contar como foi. Numa expedição de bandeirantes, que ia do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, Baltazar Fernandes era o líder, com ele partiram para essa viagem vários tropeiros, deixando suas casas, seus familiares e amigos, e partiram para essa aventura. Após vários dias de viagem, cansados, pararam para descansar numa floresta. O líder dos tropeiros resolveu então ficar naquele lugar por mais tempo, e avisou os outros tropeiros: — Vamos ficar aqui até recuperarmos nossas forças para continuarmos a viagem, e tentem achar coisas para usarmos como abrigo. Após muito trabalho, eles conseguiram terminar de construir o acampamento com espaço para todos. Depois desse grande esforço, foram dormir. — Acho que devemos dormir em turnos, pois algum bicho ou alguma tribo indígena pode nos atacar — argumentou seriamente um dos tropeiros. — Bem pensado – concordaram todos. — Então, vamos nos dividir em três turnos – ordenou Baltazar – Cada turno durará três horas. O primeiro turno ficou com Baltazar e outros cinco tropeiros, foi tranquilo. No segundo, ficaram outros seis tropeiros, nesse também não aconteceu nada. No terceiro e último turno, em que estavam cinco tropeiros, parecia que também ia ser tranquilo, mas, após passar uma hora, uma onça atacou-os, deixando três homens feridos. No dia seguinte, eles decidiram permanecer mais tempo naquele acampamento no meio da floresta, até os três feridos melhorarem. 69


Passando quatro dias, os feridos já estavam bem melhor, mas teve um outro imprevisto: uma tribo de índios os atacaram, capturando dois tropeiros. Baltazar indignado, exclamou: — Eu só saio daqui com os dois! Todos concordaram, e começaram a arquitetar planos para resgatar os dois homens capturados. A primeira coisa que fizeram foi formar dois grupos. Quando um grupo ficava na base, o outro tentava achá-los. Depois de dois dias, acharam a tribo onde estavam os capturados, então conseguiram salvar os dois. Além disso, saquearam a tribo e pegaram todas as armas e toda comida. Voltaram ao acampamento, e ficaram mais alguns dias. Certo dia, perceberam movimentos perto do acampamento. Quando foram investigar, ficaram surpresos ao ver que um grupo de amigos, preocupados com a demora da expedição, resolveram seguir os rastros deixados pelos bandeirantes para resgatá-los. Curiosos, os amigos que vieram resgatá-los perguntaram: — Por que vocês não voltaram na data combinada? — Várias coisas impediram o prosseguimento da viagem — respondeu Baltazar — No primeiro dia, fomos atacados por uma onça, tivemos que esperar uns dias para prosseguir a viagem. Quando fomos sair, uma tribo indígena nos atacou e capturaram dois de nossos homens, então decidimos só sair daqui quando após salvá-los. — Mas está tudo bem com todos os homens? — perguntou um dos amigos que vieram à procura dos tropeiros.

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— Mais ou menos, os que foram atacados pela onça estão bem, já os que foram capturados pelos índios estão bastante feridos e um pouco assustados, acharam que os índios iam matá-los – disse Baltazar. Com as notícias de que os familiares estavam bem, ficaram mais tranquilos. E então acharam que era melhor ficar mais um tempo por ali, até todos se recuperarem. Construíram mais abrigos e cada vez aquele acampamento ficava maior, começaram a plantar as sementes que estavam levando para vender em Minas. Acabaram ficando no local mais tempo do que pretendiam, até que um dia avistaram uma multidão vindo em direção ao acampamento. Mais uma vez ficaram surpresos ao perceber que agora eram seus familiares e amigos, estes contaram que índios invadiram as casas, destruindo tudo, então, resolveram também seguir as trilhas deixadas pelos tropeiros para encontrá-los. Assim nesse acampamento, Baltazar fundou uma pequena vila que aos poucos foi crescendo, mais tarde tornou-se uma grande cidade, Sorocaba.

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UM SONHO REAL

Luiza Nestori Chiozzotto

12 de agosto de 2013

“(...) quando ele olhou para seus pés viu que estava de pé e todo ensanguentado.”

No sudeste do Brasil, localizado exatamente na cidade de Sorocaba, um homem muito rico tinha planos para construir uma bela igreja. John morava em uma bela mansão onde, além dele, moravam apenas seus criados. Ele era muito perfeccionista e metódico. Fazia

sempre as mesmas coisas todos os dias. Em um de seus metódicos dias, algo inesperado ocorreu, todos os operários da obra de sua igreja foram mortos. Do lado de fora da obra, havia um homem todo ensanguentado, o qual 72


ninguém sabia quem era e nem nunca tinham visto antes. Depois disso, suas obras ficaram paradas e John focou em descobrir quem era aquele homem. John, antes de se tornar rico, era um policial. Com isso, ele pôde pesquisar mais profundamente sobre aquele homem. Ele foi visto apenas naquele dia, mesmo tendo chamado a polícia, o homem simplesmente sumiu. Durante suas pesquisas, John achou uma foto, onde tinha um homem ao fundo. Depois de várias pesquisas, ele descobriu que aquele homem da foto era o mesmo do dia do ocorrido em sua obra. Depois de muitos meses sem notícias sobre o homem misterioso, quando John já tinha terminado a obra de sua igreja, outro acidente ocorreu. Na mesma igreja em que John construíra e onde todos os operários foram mortos, aquele homem foi visto novamente em frente à igreja, onde segurava uma tocha com fogo. No dia seguinte, o homem já havia sumido e durante uma busca pela cidade, os policiais encontraram essa mesma tocha em uma casa, a qual pertencia a John. Ele foi levado a delegacia à força, já que negava. — Eu não fiz nada! – dizia John, enquanto os policias o seguravam pelo braço.

Quando chegaram na delegacia, John já foi logo interrogado. — Me diga então, John, como você explica essa tocha em sua casa? – perguntou o policial intrigado. — Todos podem ter uma tocha em casa, não podem? – disse John com ironia. — Sim, mas é muita coincidência você ter uma tocha idêntica a que foi vista na mão daquele homem de ontem e bem em frente de sua igreja. — Vocês realmente acham que eu iria matar todos os meus operários e atrasar minha obra? – respondeu John revoltado. Após várias perguntas, os policiais não o prenderam, pois não tinham provas o suficiente para prender John. John ficou intrigado, pois depois de pensar no que ele estava fazendo no dia em que todas essas coisas aconteceram, percebeu que ele não lembrava o que exatamente estava fazendo nesses momentos. Com isso, ele decidiu ir à casa de seu amigo para conversar e ver se ele o tinha visto nesses dias. Quando ele chegou à casa de seu amigo, tocou a campainha. Stefan, seu amigo, não atendeu da primeira vez, mas quando John tocou de novo um homem estranho atendeu. 73 — Quem é você? – perguntou

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John assustado, pois não conseguia enxergar muito bem, já que as luzes da entrada estavam apagadas. — Eu? Sou apenas um amigo do Stefan. – respondeu o homem ainda na porta. — Onde está ele? Posso entrar? – questionou John. — Ele está lá dentro, entre. Quando entrou na casa de seu amigo, John o viu sentado na cadeira da sala. Stefan não parecia acordado ou pelo menos prestando atenção no que estava acontecendo. Depois de um tempo, John percebeu que seu amigo não estava respirando, então olhou para trás e avisou aquele homem que estava com Stefan antes de ele chegar, mas ao olhar para trás, não tinha ninguém. No fim, eram somente John e Stefan dentro da sala. Após chegar em sua casa, lembrou que deixara Stefan na casa, mas percebeu que assim era a melhor, pois ao encontrarem-no, acham-no que foi um acidente. Dias se passaram, quando acharam o amigo dele, disseram que tinha acontecido exatamente aquilo que John pensara, ele começou a perceber que estava ficando louco, mas não fez nada a respeito. John passou anos nessa mesma situação, vários acidentes ocorreram

durante esse tempo todo e ele sempre encontrava provas contra ele em sua casa. Mesmo assim, ele não se lembrava de nada que poderia ter acontecido nos dias dos acidentes. Um dia, ele estava descendo as escadas de sua grande mansão e quando ele ia cair da escada, ele acordou. Então, ele percebeu que tudo fora um terrível pesadelo, mas quando ele olhou para seus pés viu que estava de pé e todo ensanguentado. Em vez de estar na sua casa, estava na casa de seu amigo. John foi preso e ficou na cadeia por dez anos. Quando saiu da cadeia, nada mais aconteceu depois de tudo isso. Sua igreja foi realmente construída e sua mansão foi cuidada pelos seus criados. Depois que ele voltou da cadeia, todos seus criados se demitiram por medo do que podia acontecer com eles. Quando ele percebeu que todos estavam contra e com medo dele, John saiu de casa, nem se trocou e foi direto para sua igreja. Ao chegar lá, encontrou o amigo estranho de Stefan. — O que está fazendo aqui, ...? Qual é o seu nome mesmo? – perguntou John. — Eu vim aqui porque sabia que você estaria aqui, e eu não te disse meu nome ainda, meu nome é Jack. – falou e olhou para John com um olhar maligno. — Mas eu não entendo, o que 74 72


você está fazendo aqui? Por que veio atrás de mim? E essas foram as últimas palavras de John. Depois disso, Jack o matou e ninguém nunca mais viu os dois. Ao prenderem John, o examinaram e viram que ele era louco e que isso influenciava em seus pesadelos. Durante os dez anos que ele ficou lá viram que sempre que ele tinha um pesadelo, ele ficava sonâmbulo e o que ele sonhava, ele fazia. Após a morte de dele, sua cidade ficou em paz.

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Anexo

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http://helga15.blogspot.com.br/2011/08/cidade-desorocaba.html Acesso em: 25/09/2013

POR: AMANDA LOPES

PRAÇA DO CANHÃO

Praça do Canhão, Sorocaba-SP

Praça Dr. Artur Farjado, Centro – Sorocaba- SP – Brasil

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão


POR: BEATRIZ PINHO ORTIZ

CATEDRAL

CATEDRAL METROPOLINA DE SOROCABA-SP

Praça Coronel Fernando Prestes Centro- Sorocaba/SP

Trajeto do Colégio Uirapuru à Catedral


Celso Henrique Diniz

MOSTEIRO DE SÃO BENTO

Mosteiro de São Bento,Sorocaba - SP

Largo São Bento, 62 - Centro Sorocaba (SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Mosteiro de São Bento


POR: Diego Lopes Ponce

CATEDRAL

Foto da Catedral Metropolina de Sorocaba, São Paulo.

Largo São Bento, 62 - Centro Sorocaba - SP

Trajeto do Colégio Uirapuru à Catedral


Gabriel Macedo Montano

Mosteiro de S達o Bento

Baltazar Fernandes

Largo S達o Bento, 62 - Centro Sorocaba (SP)

Trajeto do Col辿gio Uirapuru ao Mosteiro de S達o Bento


Por: Gabriel Rodrigues Rego

CATEDRAL

Foto da Catedral de Sorocaba - São Paulo

coinha

Localização da Catedral

Trajeto do Colégio Uirapuru à Catedral


POR: GUSTAVO CAMPOS

CATEDRAL

Entrada da Catedral de Sorocaba

Praça Coronel Fernando Prestes Sorocaba(SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru à Catedral


GUSTAVO DIAS

MOSTEIRO DE SÃO BENTO

.

Mosteiro de São Bento em Sorocaba

Largo São Bento, 62 - Centro Sorocaba (SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Mosteiro de São Bento


POR: JÚLIA LORETTI

MOSTEIRO DE SÃO BENTO

Fachada do Mosteiro de São Bento em Sorocaba-SP

Largo São Bento, 62 - Centro Sorocaba (SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Mosteiro de São Bento


POR: Juliana Paes de Oliveira Chriguer

MONUMENTO AO TROPEIRO

Praça Jardim do Tropeiro

Endereço: Av.São Paulo, Centro Sorocaba - SP

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Monumento ao Tropeiro


POR: LEONARDO RUAS

MONUMENTO AO TROPEIRO

Monumento ao Tropeiro

Praça Jardim do Tropeiro Sorocaba (SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Monumento ao Tropeiro


Caio Nader

PRAÇA DO CANHÃO

Canhões da praça

Praça Dr. Artur Farjado

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão



Créditos Coordenadora Geral: Maura Maria Morais de Oliveira Bolfer Coordenadora do 8º ano: Flávia Juliana Frasseto Siqueira de Proença Professora de Português: Patrícia Souza da Silva Professor de Geografia: Rafael Bochini Professora de História: Ana Luiza Marques Bastos Edição e finalização: Equipe de Tecnologia Educacional Geografia Alunos do 8º ano: Amanda Serra Lopes, Ana Laura Camargo, Beatriz Cairo Duarte, Beatriz Pinho Ortiz, Bruno Fernando de Jesus Melaré, Caio Fabregat Morelli, Caio Nader Almeida, Celso Henrique Alcalai Diniz, David Furtado Cavalcante Vecina, Diego Lopes Ponce, Felipe Pessato Hungria, Felipe Tanaka Leite, Flávia Lenz Bannitz Guimarães, Gabriel Macedo Montano, Giulia Diniz de Melo, Gustavo de Campos Barros, Gustavo Ribas Sanches Dias, Julia Prinz Sorger, Juliana Paes de Oliveira Chriguer, Júlia Loretti Britto Silva, Leonardo Coelho Ruas, Lorenzo Casana Agelune, Luciano Aguiar Vettorazzo, Luiza Nestori Chiozzotto, Lívia Mathilde Ruiz Cruz, Maria Júlia Militão Bernardes, Murilo Henrique Pedrão Ferreira, Victor Monteiro Guazzelli, Gabriel Rodrigues Rego, Ana Carolina Muñoz Blaitt, Ana Julia Buso Piccinalli Marietto, Arthur Brito Oliveira Camis, Bruno Fernandez Scatuzzi, Bruno Lomonaco Cabral, Daniel Preciado Espitia, Eduardo Magalhães Oliveira, Gabriela Lemos Monteiro, Gabriela Rampim de Freitas Dias, Giovanna Buffo, Guilherme Comparotto Moreira Goes, Hugo Machado Chaves, Isabela Ferreira Viliotti, Laura Moraes Scaranci Fernandes, Letícia Santana Rodrigues, Lucas Monteiro Guazzelli, Lucas Roberto dos Santos, Luís Felipe Akio Amamura, Maria Atalla Belloti, Maria Carolina Silveira Franco, Maria Júlia de Freitas Vantroba, Mateus Seiffert Mattos, Murilo Oséas Crisp, Patrick Esben Lerdrup Olsen, Pedro Pamplona, Pedro Otávio Passos Rapace, Sofia de Figueiredo Galante, Victor Hoefling Padula, Victor Hugo Pumarino, Allana Friedrich, Ana Carolina Silva Mariano, Ana Clara Mendes Prado, Artur de Mattos Anacleto, Camila Isabela Gimenes Seleguim, Dominyk Zampier Vieira de Souza, Eduardo Ancona Mateus, Felipe Roberto Trinco da Silva, Filipe Valente Faria, Frederico Simões Strangis Cumino, Giovana Tidei de Marco, Guilherme de Almeida do Carmo, Gustavo Franco Pinto Carriel Antonio, Gustavo Peres Pereira Hildebrand Garcia, Hana Lukic Mrgan, Isabella Cristina Bisca Escanhoela, José Rodrigues Leite Neto, Júlia Beltran Fanti, Lara Diana Miguel, Leo Boa Sorte Gonzales, Lígia Andrade Ribeiro, Marina Souza Pinto Camanho, Matheus Florio, Pedro Ernesto Provasi Bazzo, Rafael Augusto Alcalai Diniz, Rafael Ferreira Bruzon, Thiago Coelho Guastini, Victor Gabriel Bassan Battaglini, Victória Fernandes Ranchin.



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