O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

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Sumário Proposta ..................................................................................................... 04 Introdução .................................................................................................. 05

1- Os primeiros movimentos emancipacionistas .................................. 06 1.1 Caracterizando a Origem ........................................................ 07 1.2 Uma Audácia para Época ....................................................... 10 1.3 Primeiros Passos Além da Origem ........................................ 11 1.4 Primeira Participação Popular e os Passos Seguintes ....... 11

2 - A emancipação triangulina na Constituinte de 1988 ...................... 21 2.1 Personagens emancipacionistas na Constituinte .............. 26 2.2 O sonho não vingou em 1.988.............................................. 29

3 - A Emancipação em Pauta na Imprensa entre 2006 e 2009 ............. 32 3.1- O ano de 2006 ........................................................................ 33 3.2- O ano de 2007 ........................................................................ 39 3.3- O ano de 2008 ....................................................................... 44 3.4- O ano de 2009 ........................................................................ 48

4- Rumos da emancipação ..................................................................... 52 4.1- Uma Nova Proposta ............................................................... 54

Bibliografia ............................................................................................... 57

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Proposta

O objetivo maior deste trabalho é contribuir com a memória de uma questão histórica geográfica que marca a região do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. Discutir a memória dos movimentos emancipacionistas destas regiões é sobre tudo um esforço em busca da compreensão do pensamento político de um segmento importante das lideranças regionais. A partir da utilização de técnicas de investigação jornalística e pesquisa documental, registramos e sistematizamos as idéias políticas dos emancipacionistas, tanto na contemporaneidade quanto no final do século XX. O que buscamos aqui foi a elaboração do discurso que animou os protagonistas nos períodos mais marcantes das lutas em torno do separatismo. Nota-se o envolvimento dos principais municípios ligados ao tema, como é o caso de Uberaba, Uberlândia e Araxá, em algumas épocas se concentrando mais em uns municípios que em outros. Por fim, ao mesmo tempo em que o trabalho exerce um papel de convite ao debate é também um retrato de como essa gente se molda e se constrói através de seus ideais.

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Introdução

Sempre que se fala no assunto, emancipação, não fica muito clara as intenções dos emancipacionistas. Seria meramente oportunismo político? Uma intenção de trazer um equilíbrio econômico e social? Ou para corrigir uma suposta distorção histórica? Muito se tem a pesquisar sobre o assunto. Mesmo não sendo uma intenção do centro político-administrativo de Minas Gerais a emancipação, tratar este assunto pode ajudar na compreensão de aspectos importantes da cultura política da região e de todo Estado. O objeto aqui não é levantar uma bandeira nem a favor, nem contra o ideal. Mas sim propor aos leitores um conhecimento maior sobre a região do Triângulo e as lutas em busca de uma nova fronteira.

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1- Os primeiros movimentos emancipacionistas

É cedo, bem cedinho. Por volta das 6h29 da manhã. O sol nasce e brilha com raios fortes sobre as regiões do Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, a oeste no estado de Minas Gerais. Uma região de mais de 133 mil km², maior que os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e o Distrito Federal. Ao sul faz divisa com o estado de São Paulo, ao norte com estado de Goiás e no pontal do Triângulo, divide-se com o estado de Mato Grosso do Sul, na confluência dos rios Grande e Paranaíba.

Região de clima ameno, onde prevalece a

vegetação típica do cerrado que recobre os planaltos e planícies dos campos triangulinos.

Dos

853

municípios

que

compõem

Minas

Gerais,

66

compreendem esta região. São mais de 2 milhões de habitantes, população maior que a dos estados de Rondônia, Roraima, Sergipe, Mato Grosso, Acre, Amapá, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Uma região privilegiada economicamente, e marcante pela diversidade na agricultura, pecuária, indústria e comércio.

Fig. 2

Fig. 1

Fig. 3

Fig.1 - Mapa que propõe a região e os municípios do novo Estado do Triângulo Fonte: http://estadodotrianguloexiste.blogspot.com Fig. 2 - Mapa do Brasil destacando Minas Gerais. Fonte: http://www.quetalviajar.com/images/mapas/mapa-minas-gerais.jpg Fig. 3 - Mapa de Minas destacando as regiões do Estado Fonte: http://www.bh1.com.br/empresas/mapa-bh.gif

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A produção agrícola chega a representar 12% da produção de grãos do Brasil, principalmente com o milho, a soja, e o café. O rebanho bovino é composto por mais de 7 milhões de cabeças, sendo assim cerca de 5% do rebanho de todo o país. As indústrias hoje instaladas no Triângulo já são maiores em números que as instaladas em outros 19 estados do Brasil. Um povo com características simples, de conhecida fama receptiva e acolhedora. De marco vibrante nas manifestações culturais e religiosas, através dos tradicionais grupos de folias de reis, de congado, do espiritismo e da fé católica. Manifestações folclóricas, como as danças, o catira, e histórias legendárias como a da famosa cortesã, Dona Beja. 1.1 Caracterizando a origem

É bem cedo também, ainda em séculos passados, que estas duas regiões, Triângulo e Alto Paranaíba, começam a apresentar os primeiros sinais das propostas de divisão territorial e criação de uma nova unidade da federação. A iniciativa não é recente, data de meados de 1835, um ideal que teve a bandeira levantada pela primeira vez por Fortunato Botelho, um fazendeiro, e líder político, na região de Araxá. Os poucos relatos históricos e documentais que se tem da época não elucidam bem os fundamentos que levaram o latifundiário a iniciar o processo de movimentação a favor de uma redivisão do espaço geográfico em questão. Nas pesquisas, não ficam claros os reais interesses de grupos que habitavam a região naquela época. O marcante se passava nas décadas em que o Julgado de Araxá, apresentava ainda pouca paisagem urbana, a não ser pelas vilas que se formavam naquela época dando origem as cidades, em 1831 o Julgado de Araxá já havia sido elevado a Vila. Vilas que durante a semana ficavam vazias, apresentando maior movimentação aos domingos quando os fazendeiros vinham de longe com suas famílias para assistirem a missa. O coronel Fortunato José da Silva Botelho veio de Oliveira (MG) para Araxá (MG) junto da família, logo nas primeiras décadas do século XIX. Os Familiares eram cessionários da Sesmaria das Mandiocas, uma importante área produtora na época, de onde davam origens os produtos derivados da mandioca. O O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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‘Grupo da Mandioca’ é o local onde também se morava as razões que fizeram com que a família Botelho firmasse raízes em Araxá. Fortunato nasceu em meados de 1.812 e era o quinto do total de 16 filhos. Além da audácia na proposta emancipacionista do jovem, nota-se que o Coronel Fortunato era um representante que sempre se envolvia no que tivesse ligação com o cenário político daquela época. Foi ele um dos responsáveis, junto ao Grupo da Mandioca, pelo levante do movimento para expulsar do governo o Gabinete Conservador de D. Pedro II, e expressar a contrariedade às reformas na constituição, que pretendiam tirar dos municípios a autoridade e autonomia já conquistadas até então. Na ocasião Fortunato era o presidente da Câmara Municipal, época em que tais fatos culminaram na Revolução de 20 de julho de 1.842, com batalha travada no Largo de São Sebastião, e hoje retratada em óleo sobre tela pelo artista plástico Calmon Barreto. A revolução chegou a reunir mais de 500 homens e a batalha permaneceu por 24 horas.

Fig. 5

Fig. 4

Fig. 6

Fig. 4 - Tela: A Revolução de 1842, de Calmon Barreto Fonte: Museu Calmon Barreto Fig. 5 - Tela: A Revolução de 1842, de Calmon Barreto, em cores. Fonte: Museu Calmon Barreto Fig. 6 - Foto do artista plástico Calmon Barreto Fonte: Fundação Cultural Calmon Barreto

O personagem em cena era um dos maiores latifundiários, conhecido por ser ambicioso e inteligente, era boticário e amigo próximo de Dona Beja. A influência da amiga próxima é um marco histórico. O mito na região de Araxá narra que Ana Jacinta de São José foi uma cortesã de Minas Gerais, que tem a O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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memória marcada pelo saudosismo de uma heroína. Um fato que mexe com o imaginário. Ainda na adolescência a personagem foi carinhosamente apelidada como Beja, pelo primeiro namorado, fazendo referência ao beija-flor, um pássaro muito comum na região e de beleza excepcional. Com a visita do ouvidor do rei (que vinha de Vila Boa, capital da província de Goiás, a São Domingos de Araxá no Sertão da Farinha Podre, hoje região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, também pertencente à província de Goiás na época) Beja foi raptada por tamanha era sua beleza e seus encantos. Levada para Vila de Paracatu do Príncipe junto ao ouvidor Beja recebeu finos tratos e instalações dignas de uma princesa. Narra à história que o ouvidor passava sobre o olhar atento da justiça de Goiás, pelo fato de ser o mandante do rapto da moça e do assassinato de seu avô, que tentara impedir o fato. Dando ouvido aos palpites de Beja, o ouvidor se empenhou em usar sua influência para voltar os alcances das terras do Sertão da Farinha Podre, a pertencerem novamente a Minas Gerais, de onde fora separado em meados de 1848, o que faria dele um homem livre dos olhos da justiça de Goiás. Assim a partir de 1816 o Triângulo volta a pertencer a Minas.

Fig. 8

Fig. 7

Fig. 9

Fig. 7 - Vista aérea do Complexo Hidrotermal do Barreiro em Araxá Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php Fig. 8 - Vitrais que cobrem o teto das Termas. Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php Fig. 9 - Mandala que decora o piso das Termas. Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php

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Hoje parte da história de Araxá de onde vem o primeiro ideal de emancipação é contada através dos famosos vitrais coloridos que retratam mapas do estado e os banhos nas águas energizantes e sulfurosas, e que decoram o teto das Termas, no Complexo Hidrotermal do Barreiro, inaugurado em abril de 1946. Nas paredes, afrescos com pinturas que retratam a história de Araxá desde a descoberta pelos bandeirantes, circulam o piso central, em um formato arredondado, cujo as pedras de mármore branco e preto formam no chão uma

grande mandala de oito pontos. A construção localizada na cratera de um vulcão extinto fica a aproximadamente cinco quilômetros da cidade, é dotada de grandes janelas de vidro, de onde se pode observar um grande lago que ao redor é marcado por belos parques e jardins projetados por Burle Marx, um dos maiores paisagistas do século, premiado internacionalmente, e falecido em 1994 no Rio de Janeiro, aos 84 anos. 1.2 Uma audácia para época

Quando em 1.835 Fortunato Botelho propôs a separação do Triângulo, o Brasil passava pelo Período Regencial (1831 a 1840), sendo que em 1835, foi eleito o regente paulista Diogo Antônio Feijó. Em 1831, a população do estado de Minas Gerais já chegava ao total de 412.977 habitantes, 66,81% eram livres e os outros 33,2% ainda eram escravos. A capital era Ouro Preto. Palco de um conflito que ficou conhecido como Levante de Ouro Preto em 1833, motivado por indignações como a cobrança de impostos sobre a cachaça e a proibição de enterros nas igrejas. Governou-se a partir da cidade de São João Del Rei nesta época. A revolta terminou em luta e envolveu outras cidades como Caeté e Mariana. Foi por volta da década de 1830, que começavam as crises na monarquia brasileira, e se espalhavam os conflitos e lutas civis, como a Guerra dos Farrapos no Sul e a Cabanagem no Pará, em 1835. A monarquia já não parecia ser a forma de governo mais adequada, pois não correspondiam às mudanças sociais e econômicas, era necessária a implantação de outra forma de governar, buscando o progresso e a independência. Tais movimentos e conflitos prosseguem até a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Em documentos e publicações da época não fica explícito os verdadeiros interesses das classes políticas de Araxá em relação a separação. O notável acontecimento deixa transparecer nas entrelinhas que os movimentos concentravam integrantes da elite social, portanto, envolvendo locais e cidadãos da região de maior notoriedade naqueles anos. Araxá era a primeira formação urbana e, portanto um símbolo de concentração da economia até então. 1.3 Primeiros passos além da origem

Posterior a Fortunato Botelho, o ideal da emancipação volta a ser encampado no município de Prata (MG). Na verdade, a maioria dos memorialistas consideram que essa foi a primeira campanha separatista importante na região. Prata é a terceira formação urbana do antigo Sertão da Farinha Podre, sendo as primeiras Araxá e Uberaba. O nome do local se originou devido ao achado de um machado de prata, recolhido do leito do Rio da Prata, um dos principais afluentes do Rio Tejuco, na Bacia do Rio Paranaíba. A cidade participa do marco histórico e até então utópico desejo de divisão territorial, registrando em 1857 os ideais de um movimento de emancipação do Triângulo.

Os fatos indicam que o pivô central desta campanha foram os argumentos de representantes políticos e autoridades, de que o governo de Minas tinha a região apenas como uma geradora de receita através dos impostos e que muito pouco se fazia em prol do desenvolvimento local, assim como qualquer tipo de benfeitorias e obras de infra-estrutura de água e esgoto que pudessem alavancar o crescimento. O lugar era carente de estradas, de recursos para a saúde, educação e outros. As principais alegações é que as terras longínquas eram esquecidas. 1.4 Primeira participação popular e os passos seguintes

Depois da cidade de Prata-MG, a emancipação volta a explodir anos depois na cidade de Uberaba, em 1875, sobre forte alegação que a região era de grande importância econômica, por que era uma grande produtora tanto na agricultura O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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quanto na agropecuária, alem da localização estratégica servindo como pólo de fácil acesso a outras localidades e ao litoral.

As boas condições geopolíticas deveriam garantir uma evolução mais acentuada, caso pudesse caminhar com maior autonomia, ou seja, separandose de Minas. Fatos que faziam deste um espaço privilegiado, mas, que por sua vez não recebia de volta os investimentos por parte dos governantes, pelo menos da maneira como julgavam que deveria. Estes eram os pontos fundamentais e de maior importância para o incentivo ao desenvolvimento e progresso.

O discurso muitas vezes empregado pelos defensores da região emancipanda se pautava no pouco que o governo de Minas destinava, diziam que eram, na maioria das vezes, insuficientes para as demandas da época. As principais alegações e justificativas identificadas dentro desta má distribuição dos recursos apareciam em prol da emancipação.

O representante que deu início a esta nova empreitada a favor da formação do Estado do Triangulo foi Dr. Henrique Raimundo de Genettes, um médico e jornalista francês, radicado no Brasil e que vivia em Uberaba desde 1853, atuando como médico do Batalhão de Guardas Nacionais. Um homem erudito e de representatividade que chegou a exercer vários cargos, além de ser o responsável por iniciativas como a edificação de um colégio onde eram ministrados cursos de português, francês, latim, retórica, geografia, geometria e aritmética, muito bem reconhecidos. Em Uberaba, De Genettes, foi prefeito, vereador, médico, professor, advogado e jornalista. Foi ele o comunicador responsável por fundar a imprensa nesta época no Triângulo Mineiro e dar seguimento a campanha separatista. No ano de 1874 nascia o primeiro jornal de Uberaba e do Triângulo, que recebeu os nomes de Eco do Sertão, O Uberabense, Monitor Uberabense, O Progresso e O Paranahíba. Com este recurso foi possível dar mais vida ao movimento. Dessa forma a campanha atingiu grande parte do território. Toda região passaria a fazer parte e a ficar esclarecida das condições O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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emancipacionistas e das alegações do movimento. Nos novos moldes da proposta, tiveram início as conferências públicas, como forma de mobilização de um número cada vez maior de interessados. As conferências passaram a ser divulgadas através da imprensa, múltiplas idéias e estudos foram surgindo a partir de então. Foram os estudos geográficos deste mesmo jornalista francês, que diante das formas desta região, e analisando o posicionamento das fronteiras estaduais, propôs a mudança do nome de Sertão da Farinha Podre para Triângulo Mineiro. Assim logo os jornais “O Paranaíba” e “Eco do Sertão” passaram a estampar o assunto cotidianamente, já nomeando o Sertão da Farinha Podre como Triângulo Mineiro. Mas, uma situação ainda intrigava os emancipacionistas conservadores. A proposta do médico e jornalista não era por uma divisão e independência, e sim para anexação do Triângulo ao estado de São Paulo.

As intenções que foram alegadas eram quanto ao fortalecimento das ligações comerciais e culturais que haviam se criado com São Paulo, considerando que os triangulinos mais tinham a ver com os paulistas do que com os mineiros, até mesmo pela distância que separava a região da capital. Enquanto isso a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro chegava a Uberaba, vinda do estado de São Paulo, anunciando a advento de uma nova era, e por sua vez trazendo um sistema de comunicação e de ligações cada vez mais fortes e consolidadas com os paulistas.

A concretização deste primeiro movimento, de maior alcance, perdeu força e ficou esquecido com a mudança de Dr. De Genettes para Goiás. O então médico e jornalista deixou a carreira para se dedicar a igreja naquele estado. de certa forma, isso indica a fragilidade de um movimento que se desmobilizou com o desaparecimento de uma única liderança. Os caminhos de acesso dos triangulinos à capital Belo Horizonte, que desde 1897 já era a sede do governo mineiro, eram dificultosos. Para sair do Triângulo e ir à capital se gastava em média quatro dias. O percurso incluía passagens por Ribeirão Preto, São Paulo e Barra do Piraí.

Um

descontentamento dos moradores da região do Triângulo com o governo O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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mineiro era iminente. O assunto rompe o século XIX e renasce com força maior no século XX, mais precisamente em Uberaba-MG, que daí por diante passa fazer parte maciçamente dos movimentos. Em 1906 representantes da administração do Governo de Minas efetuam a retirada do 2º Batalhão de Polícia de Uberaba e também da Escola Normal, que além de toda região servia também ao sul de Goiás e interior de São Paulo. Como não poderia ser diferente, uma reação gerou o ressurgimento do movimento separatista. Neste ano foi idealizado o Clube Separatista de Uberaba, momento em estava se criando, na cidade de Araguari, o Partido Separatista.

Pelo novo partido nomes de lideranças foram lançados a candidatura do cargo de deputado. Juntos, clube e partido separatistas, passaram a incentivar a independência da região e a pregar ao eleitorado o apoio e preferência a nomes políticos locais, e também que negassem os nomes e partidos da situação e aqueles que viessem de outras regiões de Minas. O medo de perder as terras ricas a oeste do estado causou a elaboração de planos, por parte do governo mineiro, que pudessem reascender o animo dos triangulinos com Minas. Decretos do Estado autorizaram construções e ampliações, como a aprovação do projeto que originou a ponte sobre o Rio Paranaíba, fazendo a ligação entre o Triângulo e o sul de Goiás, e a continuidade dos trilhos da estrada de ferro, que seguiram de Uberaba fazendo ligação com Araxá, e em outra parte, de Uberaba fazendo ligação com Araguari e Catalão-GO.

A iniciativa pública, na área da educação, criou escolas, e o Batalhão da Polícia do Estado reabrir em Uberaba. Nomes de políticos uberabenses estiveram entre os indicados para a Câmara Federal. Alguns memorialistas apontam que, na ocasião da famosa exposição de gado, o governador de minas se deslocou da capital, nesta época para assistir a abertura do evento, sendo assim registrada pela primeira vez a estada de um governador no município de Uberaba. A agilidade em formar laços com os triangulinos fizeram esfriar o ânimo dos separatistas. É importante reconhecer neste momento a tentativa, do governo do estado, de estreitar laços com as lideranças regionais no Triângulo.

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Fig. 11

Fig. 10

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Fig. 11 Fig. 10, 11 e 12 – Cidade de Uberaba, respectivamente em 1906, 1885 e 1890. Fonte: Arquivo Público de Uberaba

Estamos convencidos que o estreitamento de laços não seria duradouro, prova disso esta nas próximas empreitadas. Já em 1919 Boulanger Pucci, um conhecido médico e jornalista em Uberaba, lança o jornal A Separação, mais Fig. 12 uma tentativa de incitar o animo dos separatistas e unir forças a favor da causa. É mais uma retomada do ideal separatista que não traz aparentemente grandes novidades, a não ser algumas características de um sentimento de revolta, já identificada anteriormente em outros momentos, uma maneira de expressar o descontentamento com a política mineira que vinha sendo adotada no tratamento com o Triângulo e Alto Paranaíba. Daí em diante o movimento foi marcado por altos e baixos, sempre havendo a contrapartida de Minas em resposta

a

picos

maiores

de

argumentação

e

reivindicações

dos

emancipacionistas. Em 1934 o movimento ressurge. O fato motivador é que o Governo Mineiro havia cedido a algumas reivindicações, que até causara um esfriamento no movimento. Só que tais reivindicações, de acordo com lideranças do movimento em Uberaba naquela época, se valeram de argumentos contra o Estado, apontando que o mesmo não teria efetivado tudo o que havia prometido. Entre as várias promessas estava o fato de que a cidade de O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Uberaba seria beneficiada com melhorias no fornecimento de eletricidade e com a estruturação de serviços eficazes tanto no abastecimento de água quanto na estrutura de escoamento do esgoto, que não foram feitas na época. É

também

nesta

empreitada

dos

emancipacionistas

que

ocorreram

manifestações populares, sendo duas de maior significado. Em uma delas, articulado pelo jornalista Quintiliano Jardim do Jornal Lavoura e Comércio de Uberaba, o montante de pessoas chegou ao número de cinco mil. O episódio tem um desfecho inusitado: a empreitada foi desacelerada com os acontecimentos da revolução comunista, quando o governo de Minas enviou a Uberaba um delegado que representava a ordem política e social, o mesmo de olho nas práticas partidárias de Luiz Carlos Prestes, estava imbuído a destinar fortes advertências aos emancipacionistas. O desfecho de tal investida, ainda assim, resultou em conquistas. O historiador, Selmane Felipe de Oliveira, observa que "a campanha conquistou benefícios para a região, como a construção da rodovia Belo Horizonte - Araxá - Uberaba e da ponte do canal de São Simão, serviços de eletricidade e higienização em Uberaba, e a construção do Cassino Hotel em Araxá.”

O Jornal Gazeta de Uberaba foi o veículo chave, usado pelo jornalista Ari de Oliveira, para fomentar o ideal na década de 1940. A priori, a imprensa no interior era acessível somente entre a elite econômica, social e política.

No ano de 1949 uma nova iniciativa parte dos parlamentares da Câmara Municipal de Ituiutaba. Com a intenção de mobilizar os municípios da região, um dos vereadores ituiutabanos criou uma carta de conclamação enviada a todas as demais Câmaras Municipais das cidades do Triângulo. Desta forma o conteúdo foi destinado aos colegas parlamentares na esperança de uma adesão mais efetiva e a união dos representantes na finalidade do movimento emancipacionista. Nota-se uma resposta favorável a esta conclamação em alguns discursos. É, no caso, o que se pode identificar como sendo uma resposta favorável e partidária, a postura de Monte Carmelo (MG).

Vem

explícito o favoritismo e entusiasmo do município quando escreve que: “alastrase por todo o Triângulo a idéia separatista desta bela região de Minas num dos Movimentos mais simpáticos e populares registrados na história do povo O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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mineiro. A idéia, ao que parece, surgiu em Uberaba, pioneira dos grandes movimentos, de grande envergadura. Disseminou-se com a velocidade de um relâmpago, entusiasmou as massas e hoje, em cada coração triangulino, vicejam a aspiração de separar o torrão que nos viu nascer, para que seja como ele formada uma nova unidade federativa. O Triângulo que a sua independência." Percebemos na expressão ‘entusiasmou as massas’, mais uma tentativa de incluir no movimento e no estado a idéia de que a iniciativa seria de aprovação unânime entre todas as classes do Triângulo, incluindo a grande massa popular. Um fato que se nota em vários períodos ao longo do discurso das campanhas separatistas

Até a década de 1950, os movimentos tiveram maior concentração em Uberaba. Nessa época a cidade vizinha, Uberlândia, se posicionava de maneira contrária ao desejo dos separatistas. As razões deste posicionamento, segundo Selmane, podem estar ligadas a uma rivalidade que prevalecia entre os dois principais municípios do Triângulo. Uberaba, até então uma cidade maior e com maior significado econômico, era o mais provável local onde seria instalada a capital do futuro Estado, considerando também as razões históricas e o envolvimento do município com a causa emancipacionista. Já em Uberlândia, o que se notava eram argumentos que demonstram o mesmo anseio, apoiando-se em alegações sobre planos futuros, levando em conta o quanto a cidade vinha apresentando índices de crescimento. Contudo, de maneira gradual e lenta, muitos políticos uberlandenses passaram a apoiar a causa e manter a chama da emancipação acesa.

Nos anos de 1950 entre os principais personagens da política regional estavam os deputados de Uberlândia Rondon Pacheco (UDN) e Vasconcellos Costa (PSD). O primeiro pertencia ao partido do governador de Minas, Milton Campos, e tão logo se posicionava contra a emancipação, mas ainda assim reconhecia o pouco que o Estado fazia para a região. Ambos faziam oposição ao deputado Mário Palmério (PTB), de Uberaba. Palmério era o político de maior expressão na década de 1950, quando o assunto era a emancipação do Triângulo Mineiro. Na Câmara Federal, chegou a proferir vários discursos, tal como esse de 28 de junho de 1951 onde dizia: O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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“termino as minhas palavras fazendo novamente a minha profissão de fé em favor do movimento de emancipação do Triângulo Mineiro e pela criação de novo Estado na Federação Brasileira. Sou pela solução nacional, despida de regionalismo estreito e impatriótico. Sou, acima de tudo, brasileiro e progressista. Viso o progresso da região em que nasci e onde trabalho modestamente em benefício de seu desenvolvimento material e sobretudo cultural.” Mais uma vez, o governo Mineiro, representado por Juscelino Kubitschek, atendeu a algumas demandas e desmobilizou o movimento.

A forte representatividade de Palmério nos anos 1950 acabou fazendo com que a década de 60 se tornasse um momento ainda mais significativo. Uma progressão emancipacionista é identificada nestes anos, que podem ser considerados de ouro para apoiadores da causa. 1967 é um ano registrado nesta década por um dos principais momentos no sonho de independência. A cidade onde primeiro se ouviu falar em emancipação volta a entrar em cena. Araxá é o palco de uma convenção realizada em meados de outubro. Nesta ocasião decisões foram tomadas por representantes das principais cidades do Triângulo. Juntas, Uberlândia, Uberaba, Araxá, Patos de Minas, Ituiutaba, Araguari, Frutal, Patrocínio e Monte Carmelo reunidas criaram a União para o Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo – UDET. Ficou decidido neste mesmo encontro que a cidade de Araxá seria também a mais apropriada para abrigar a capital do novo Estado de maneira temporária. O sonho era a construção de uma estrutura administrativa com condições favoráveis e de alto nível para abrir os setores públicos da capital de um estado formado por terras de riquezas. Desde então esta entidade, a UDET, passou a ser a mola propulsora de acontecimentos como convenções, congressos, seminários promovidos para reunir os favoráveis a separação e traçar planos. Começa a nascer um discurso mais preocupado com a causa, e também com o fato de como os movimentos eram visto. Os integrantes da UDET procuravam traçar um discurso claro de que o movimento não era oportunista nem passageiro, que este não era um argumento usado como forma de ameaça para tentar conquistar do governo estadual mais investimentos para região. O O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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presidente da entidade era Ronan Tito de Almeida. Na busca de romper a ordem atual com que estavam sendo conduzidas as empreitadas separatistas houve uma tentativa de conclamar os cidadãos da região. Desta forma partiu do congresso de Araxá um manifesto, embasado pelo então presidente da UDET, com os dizeres:

“Nossa luta não é contra ninguém. Ela é a favor do Triângulo. Adquirimos a maturidade necessária para que o movimento de criação de um novo Estado possa ser feito sem revanchismo infantil, sem a exploração política ou outros vícios, que, porventura, tenha tido no passado. A criação do novo Estado do Triângulo se impõe pelo atual estágio de desenvolvimento sócio-econômico da região, pela tradição de trabalho e pioneirismo de seu povo, pela localização geo-econômica estratégica. Nossa campanha agora é bem estruturada, fundamentada e objetiva, e não um gesto incontido de protesto sem consistência.”

O discurso toma formas que apontavam uma viabilidade imensa na fundação do Estado do Triângulo, uma proposta para integração nacional, uma vez que a região ainda era considerada, pelos emancipacionistas, como um lugar esquecido. As buscas por autonomia passam a se fazer mais presente. Notase neste momento que os argumentos que embasam o motivo da luta emancipacionista reforçam repertórios além dos que apontam a disparidade econômica, as riquezas de cada região e o desfavorecimento do Triângulo pelo Estado de Minas. São apontados fatos que destacam as diferenças culturais. Logo a UDET passou a contar com apoio maciço de entidades como ACIU – Associação Comercial e Industrial de Uberaba, UESU – União dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia, UTES – União triangulina dos Estudantes Secundaristas, Câmara Municipal de Uberaba e outras. Prosseguindo com força menor, a chama do emancipacionismo volta a apresentar força maior em 1973. A Constituição dava margem para a possibilidade da redivisão territorial nos estados, assim como dava autonomia a regiões emancipandas para efetivar o desejo, caso este seja da maior parcela da coletividade local. O Ministério da Justiça chegou a indicar Severiano O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Marques Monteiro, sociólogo que atuava no Banco do Desenvolvimento Econômico, para estar a frente da análise de uma possível redivisão das terras a oeste de Minas. Uberaba é então apontada como a cidade eixo para instalação da capital transitória do novo Estado, e não mais Araxá, como se havia proposto antes. Os motivos estavam ligados a posição estratégica servindo de rota para outras localidades e estados. Contudo, mais uma vez, os emancipacionistas viram o movimento ser rapidamente desmobilizado.

Poucos anos depois, em 1978, a Comissão de Política Demográfica e Redivisão Territorial da Câmara dos Deputados articula a criação de oito novos estados no Brasil. A possibilidade esquentou o ânimo dos emancipacionistas do Triângulo Mineiro. Com o fracasso de mais esta tentativa, já que o relatoria da Comissão não foi posto em prática, os emancipacionistas perdem espaço.

Os grupos voltam a se mobilizar nos anos 1980. As principais cidades do Triângulo, bem como a imprensa local, têm participação e presença nestes períodos, que ficaram marcados como os principais na história dos movimentos emancipacionistas do Triângulo. Em 7 de outubro de 1987, o jornal Correio de Uberlândia, publicava o seguinte conteúdo.

“Nossas raízes não são mineiras, e sim o resultado da cultura de três estados que formaram o Triângulo: São Paulo, Goiás, Minas Gerais (...). O Triângulo nasceu em São Paulo, de onde recebeu a capacidade de trabalho e a determinação em abrir novas fronteiras; a infância foi passada em Goiás, de onde recebeu o sentimento de brasilidade. Finalmente, a adolescência foi passada em Minas Gerais, de quem herdou o espírito indomável da ‘liberdade’ de um povo que não admite ser escravo de ninguém. Agora atingimos a maioridade e, o que é mais importante, a maturidade. Queremos a emancipação igual a um filho que se torna maior e que deseja abandonar a segurança e o conforto do lar paterno, para se aventurar para o mundo, ganhar a vida a custa do próprio esforço, seguindo o preceito bíblico de ‘ganhar o pão com o suor do próprio rosto’. Queremos determinar o nosso próprio destino, ser donos do próprio nariz, não queremos ser escravos de ninguém”.

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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2- A Emancipação triangulina na Constituição de 1988

O ano de 1988 é talvez o mais importante momento na memória do movimento emancipacionista. Desde o primeiro passo separatista, foram 153 anos até que o movimento chegasse com força maior no planalto central, para ganhar os corredores das repartições do governo, e o plenário em Brasília. A Assembléia Nacional Constituinte realizada em 1988 ascendia nos triangulinos o sonho de ver o novo Estado efetivado. Era esta a chance de juntar as diversas frentes que buscavam independência para formar uma força maior em prol da emancipação. Por outro lado, as demais regiões do Estado, em especial na região central e na capital Belo Horizonte, não ficaram de braços cruzados assistindo as lutas dos triangulinos pela autonomia. A socióloga Rogata Soares Del Gaudio Longhi identificou que “tanto triangulinos quanto mineiros apresentaram aos Congressistas e à população justificativas ‘plausíveis’ para a criação de um novo Estado, e para a não efetivação deste processo”.

Fig. 14

Fig. 13

Fig. 15

Fig. 13 – Comissão da Assembléia Constituinte, em 1.988. Fig. 14 - Ulysses Guimarães presidente da Assembléia Constituinte e a Constituição apresentada em 05/10/1988. Fig. 15 – Detalhe de capa da Constituição. Fonte: Fonte: Arquivo / Centro de Documentação da Câmara dos Deputados

Aquele momento político que o país vivia favoreceu uma abertura para se fazer crescer um sentimento regionalista. Cada região que vislumbrava a possibilidade de se constituir como uma nova Unidade da Federação viu em

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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1988 a grande chance de alcançar este sonho. Foi esta Constituinte que fez da região norte de Goiás um novo Estado: Tocantins é a mais nova Unidade da Federação Brasileira, sendo criada em 5 de outubro de 1988, na promulgação da oitava Constituição Brasileira.

O embate traz a tona indagações que buscam caracterizar o Estado em várias questões, como no campo dos costumes e tradições. Nota-se que houve uma intenção clara para se comprovar uma identidade própria, dos mineiros como um todo, sem divisão. Historiadores, políticos, jornalistas e vários outros estudiosos eram os atores que compunham estas cenas. Os discursos de ambos os lados, mineiros e triangulinos, defendiam uma vontade que intitulavam como sendo uma vontade coletiva no discurso contra e a favor da criação de uma nova fronteira. Percebemos que os atores são constituídos por um grupo muito restrito de ‘atores sociais’. As falas são repletas de razões, onde todos querem provar ser verdade aquilo que afirmam. Grande parte do conteúdo apresentado para compor a argumentação é fundamentado em estudos e números, e sempre distante de argumentos que confirmem verdadeiramente a posicionamento e envolvimento das massas populares. O povo, que neste caso parece ser coadjuvante, tampouco se envolveu ao longo do processo de luta pela emancipação. Só identificamos esta gente no discurso de uma minoria elitizada e nunca de corpo presente, seja através de manifestações, congressos ou reuniões. As elites regionais se fizeram presentes e, em alguns casos, fazendo das propostas emancipacionistas motes de campanhas eleitorais. Estas elites se posicionaram como porta vozes do povo mineiro, como defensores da vontade coletiva de uma sociedade.

As tentativas de assinalar identidades próprias ocorreram de ambos os lados. Minas buscava apontar a identidade do Estado como um todo, narrando a Minas Gerais histórica, fazendo referência ao jargão de que ‘Minas são muitas’, e fonte de inspiração de muitos artistas, cenário de muitas poesias. A Minas das montanhas e de um povo hospitaleiro. Do outro lado triangulinos se fundamentavam em fatos históricos, nas heranças dos Estados de Goiás e de São Paulo que permaneceram após a separação, se opondo a submissão a montanha e brigando pela “alforria”. O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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É importante observar neste momento que, para muitos idealistas que se emprenhavam entre os defensores do movimento emancipacionista, não havia uma negação a montanha, como Minas apontara. Para muitos deles, a “montanha” nunca existiu para o Triangulo e Alto Paranaíba. Considerando que Minas são muitas, eles acreditavam que esta, situada a oeste do estado, não se faz com uma topografia acidentada, com um relevo caracterizado por montanhas como em outras regiões, como em outras Minas. Ou seja, o que se nota, é uma figura de linguagem que busca demonstrar uma região mais aberta, mais voltada a absorção de novas culturas, novos ideais. Ao contrário à idéia de um local cercado por montanhas e fechado para a entrada de novos ideais. Não podemos fugir os olhos ao que Rogata considera no movimento como problemas que são também intrínsecos à Federação Brasileira, como “a tensão entre propostas de centralização e descentralização administrativa; a luta por recursos econômicos e investimentos, que ocorrem tanto no plano nacional, quanto regional e intra-estadual”.

A intenção dos mineiros era vencer o discurso se fundamentando na ideologia da mineiridade, uma forma de contestar o discurso alheio pautado em questões econômicas inegáveis que afloravam o animo dos triangulinos. Por se tratar de uma identidade regional fortemente conhecida dentro do país, o fato usado para compor a argumentação contraria ao separatismo não poderia ser outro.

A disputa acirrada de 1988 para efetivar a divisão ou contrapor esta proposta, demonstra argumentos que outrora já foram massivamente usados. Em 2006 após participar do XV Encontro de História, realizado em São João Del ReyMG, o historiador André Azevedo da Fonseca critica a maneira como a história e a cultura da região do Triângulo Mineiro é tratada diante do restante do estado. Em uma resenha do livro (http://historiadeuberaba.blogspot.com), “História de Minas Gerais (Ed. Lê, 2005), de Helena Guimarães Campos e Ricardo de Moura Faria” cujo lançamento se deu no encontro de história, o historiador observa que o livro ao longo das suas 255 páginas cita apenas em O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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dois parágrafos o Triângulo Mineiro. E ainda considera estas curtas citações desta região como sendo os trechos “ambos equivocados e pitorescos, pois os autores confundem-se em datas e persistem naquela lenda boba que atribui a transferência da região à Minas Gerais a um caso de amor envolvendo Dona Beija”. Na resenha os argumentos ainda seguem apontando levantamentos feitos na obra e criticas que contestam o fato do Triângulo estar pouco em voga diante do estado, e até dos ‘produtores da história’, que neste cenário, é notório que se apresentaram com bastante esquecimento de uma região de grande importância em Minas Gerais. “O Triângulo aparece de relance quando se fala das populações mineiras (p.119) e quando é feita uma alusão a um caso pitoresco de um “carro blindado improvisado” na resistência aos paulistas na revolução de 30 (p.155). E só”. É notória a intenção do autor em provar que a região, neste caso, se tornou um local esquecido da história de Minas. Em alguns trechos é exposta uma análise de como são feitas as abordagens sobre a região, e citado os pontos de grande importância na memória do Triângulo e que deixaram de ser mencionados. Por último uma consideração que aponta com indignação o tratamento dado a região do Triângulo Mineiro no livro, “História de Minas Gerais”. “Juntando tudo, a história do Triângulo Mineiro, não preenche meia página de texto de História de Minas Gerais. É como se não existíssemos. É como se não tivéssemos história”. É oportuno notar que o livro se apresenta como defensor da diversidade regional, sendo anunciado como indispensável e que até trás criticas sobre o fato de que a diversidade regional no Estado nunca é contemplada pelas produções históricas e, assim, a obra é anunciada como “indispensável a todos aqueles que desejam conhecer a realidade mineira”.

No que diz respeito ao período da Constituinte de 1988, os personagens vão bem além em suas colocações buscando sempre resistir aos apontamentos do lado oposto. Os triangulinos, ao negar a participação na história mineira, de Tiradentes, Tancredo Neves, da Inconfidência, usaram de protestos e resistência como maneira de provar que a participação da região nos fatos históricos e culturais, foram insignificantes, ou seja, não fizeram parte, como outras regiões estiveram diretamente inseridas nos acontecimentos. Haviam naquele momento uma série de apresentações procurando moldar os conceitos O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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de identidade própria e procurando forjar uma identidade regional que supostamente já existia, por ter sido construída até mesmo pela riqueza das heranças deixadas na época em que o Triângulo pertenceu a Goiás e São Paulo.

A cultura triangulina vai ganhando cada vez mais espaço e se mostrando rica e pessoal ao olhar dos emancipacionistas. A negação a mineiridade vai se acentuando. A argumentação em torno de uma identidade própria não é a única ‘carta na manga’ dos separatistas. Floresce naquele momento, mais uma vez, as questões que envolvem o plano econômico. Ganha espaço nesta ocasião a prerrogativa de que o Triângulo tem uma significativa força econômica diante do Estado, além dos satisfatórios índices de investimentos realizados por empresas próprias da região e indicadores sociais que em alguns pontos superam os resultados de estados considerados de excelência em alguns patamares. O alto valor de recursos gerados na região e enviados à capital voltam a pontuar as discussões. O sonho de ver o Triângulo como uma nova Unidade da Federação é uma certeza entre os idealistas do movimento emancipacionista de que, com esta realização a riqueza local permaneceria mais concentrada nos interesses do Triângulo, promovendo assim maior desenvolvimento e progresso.

Entre

os

documentos

produzidos

pelo

movimento

emancipacionista

especialmente para o período da Constituinte, destaca-se uma Cartilha da Coordenação para Criação do Estado do Triângulo - CET. Ela aborda pontos onde os emancipacionistas se empenharam em ressaltar a região como um local de grande potencial econômico, um local de vocação promissora, um espaço capaz de se alavancar com grande facilidade. No que diz respeito às questões em que o Triângulo mostra seu potencial, o documento publica números que assinalam a região como sendo a responsável por 45% da produção de grãos de Minas Gerais. Na produção mineral, era apontado como uma região com as maiores riquezas no solo, por possuir grandes jazidas de minério, destacando que 90% de todo o nióbio produzido no mundo era de origem brasileira, sendo este 96% advindo de municípios do Triângulo, como é o caso de Araxá. E ainda no Triângulo 52% das reservas de fertilizantes O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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fosfatados naturais. Já a produção de energia elétrica era destacada naquela época pela existência de 14 usinas hidrelétricas nas bacias do Rio Grande e Paranaíba, com capacidade total para geração de 13.000 MW, número que contribuiria com o percentual de 37% de todo o consumo elétrico dos quatro Estados da região Sudeste. E ainda números comparativos sendo publicados, como a da arrecadação, que na cartilha apresenta a região como geradora de 17% da arrecadação fiscal no Estado e apenas 5% sendo redestinados ao Triângulo.

No que tange as indagações de potencialidades regionais ressaltadas pelo movimento, Rogata observa que os triangulinos procuraram “destacar que o novo Estado não representaria custos adicionais à Federação, pois os recursos locais seriam suficientes para implantação de nova máquina administrativa”. Desta forma é possível identificar na empreitada uma tentativa clara de suplantar a idéia da geração de gastos com a implantação de um novo Estado e o esforço contínuo para convencer políticos e oposicionistas da viabilidade do Estado do Triângulo, que por sua vez já nasceria forte e com grande chance de crescimento acentuado circulando melhor os recursos

regionais para

investimentos nos municípios da região geradora da receita. 2.1 Personagens emancipacionistas na constituinte

Um dos mais expressivos defensores da emancipação neste novo milênio, e que também fez parte do movimento na Constituinte de 1988, é o advogado Guido Luiz Mendonça Bilharinho (1938). Natural de Conquista-MG, cidade próxima a Uberaba-MG, estudou direito na antiga Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro e regressou a cidade em 1963 para atuar na profissão, desde então é um dos fortes defensores da causa emancipacionista. Guido é um dos articuladores do processo que não vê grandes gastos para instalação do novo Estado na região que compreende hoje o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. De acordo com o advogado, o Triângulo “não precisa de nenhum tostão federal para emancipar”, a região dispensa esta fonte de recurso por ser auto-suficiente. Durante uma entrevista sobre os ideais defendidos em 1988, concedida em seu próprio escritório O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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cercado por grandes prateleiras repletas de livros, ele usa um exemplo de como poderia ocorrer este processo de efetivação do novo Estado. E assim, cita que no caso de prédios pertencentes ao governo de Minas, como é o caso do Grande Hotel de Araxá e do Hotel da Previdência, também em Araxá, estes passariam automaticamente a pertencerem ao novo governo. A visão do idealista é que esses locais passassem a abrigar a capital do Estado do Triângulo provisoriamente até a construção de uma capital própria, que neste caso ele aponta como local ideal o município de Nova Ponte – MG, pelo fato de ser a cidade mais central. “Aplica-se um plano que já houve em Uberaba, desapropria uma área na periferia de Nova Ponte para ser o bairro administrativo: assembléia, as secretarias, o judiciário e outros órgãos estatais, onde se poderia estabelecer a capital, e loteia ao redor, e com o dinheiro gerado pelo loteamento se construiria a nova capital administrativa, que logo que estiver funcionando a capital passaria por uma grande valorização”.

As intenções de diferenciar o Triângulo do restante do Estado e de provar a viabilidade do ideal separatista, também se afixaram em 1988 na indagação das características geográficas e do posicionamento estratégico, servindo como zona de passagem. Neste sentido a cartilha da CET - Coordenação para Criação do Estado do Triângulo, em 1988, dizia que “esta região tem sido ponto de apoio estratégico das grandes rotas nacionais norte-sul, leste-oeste. Deste processo de acumulação gerado pelo permanente convívio, assimilamos um comportamento cosmopolita universal. Somos todos forasteiros bem-vindos e integrados”. É importante observar a intenção nas entrelinhas do processo, em se criar legitimidade no artifício de modernização de uma sociedade que neste momento, pelo discurso emancipacionista, se julga como cosmopolita, com grande capacidade eclética sendo assim o resultado da soma de muitas culturas que contribuíram para formação desta região. Nesse sentido, Guido Bilharinho, reconhece as vocações comerciais que o Triângulo mantinha com São Paulo. E principalmente as heranças deixadas pelo processo de contato, negociação e convívio com grupos de outras regiões, principalmente por se tratar de o Triângulo estar situado em terras de

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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passagem. Isso teria contribuído para que lugar fosse se fixando como um centro de ligação entre São Paulo, Brasília e outros grandes centros.

Quanto ao desenrolar da campanha de 1.988 entre os prefeitos das cidades do Triângulo e do Alto Paranaíba, o advogado lembra que o governo do Estado de Minas Gerais, na época Newton Cardoso (PMDB-MG), “usou de tudo para fazer pressão, fazer chantagem”. Com isso muitos prefeitos, mesmo sendo a favor do processo de emancipação acabaram se posicionando contra, o que, de acordo com Bilharinho, aconteceu devido ao medo dos prefeitos de perder verbas, de sofrer cortes drásticos nos repasses e investimentos que o Estado de Minas destinava aos municípios. “O prefeito ficava muito dependente do Estado. prefeitos que eram emancipacionistas históricos pararam de falar nesse assunto para não prejudicar a administração deles”.

Durante o período da Constituinte o envolvimento chegou a atingir várias classes. Viagens eram promovidas para levar parlamentares que faziam parte da Constituinte para visitar cidades do Triângulo. Os grandes empresários e grupos econômicos do Triângulo nesta época eram os responsáveis pela aplicação de receitas em prol de financiar esse movimento. “O grupo dos maiores empresários do comercio e da indústria de Uberlândia se reuniram e fez um comitê para apoiar o movimento, com uma efervescência muito grande. Todos se mobilizavam”.

Com muito entusiasmo o advogado relata um dos pontos de abordagem na campanha de 1988 que confrontavam os argumentos entre Minas e Triângulo, a respeito do passado histórico do Estado. Para ele o mineiro “trai o seu passado histórico”, por ele ser contra a emancipação, se justificando que “por coerência, se ele tiver honestidade intelectual e conhecimento histórico” o mesmo tem que ser contra a emancipação de Minas Gerais do Estado de São Paulo, como ocorreu no passado. Guido acredita que neste sentido não há argumento fundamentado que justifique o fato de o “Triângulo que não é mineiro permanecer jungido a Minas”. Bilharinho acrescenta que se a região passar a caminhar sozinha, sem obedecer à vontade de Minas, “em 10 ou 15

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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anos será o maior estado em renda per capita e IDH, o Triângulo vai ser o primeiro, ninguém vence o Triângulo”.

O jornalista e advogado Uberabense, Gleibe José Terra, também acompanhou o processo da proposta emancipacionista do Triângulo na Constituinte de 1.988. Ele também é um dos grandes defensores da causa e já publicou um livro-manifesto a respeito do tema. A política sempre esteve presente na vida do advogado, como ele relata no livro de sua autoria “Quem constrói um país descente é o povo”. No ponto de vista do jornalista o movimento separatista identificado na Constituinte, poderia ter contado com maior representatividade política por parte dos representantes e partidários da região interessada. Para ele muitos prefeitos poderiam ter tido uma presença mais efetiva, além da coragem de concretizar um incentivo ao movimento ao invés da neutralidade. Terra lembra que muitos até tiveram uma inversão na opinião e acabaram se posicionando contra a aprovação da emancipação.

Outro fato que ele defendeu é a participação de organizações e empresas. A defesa aqui é em prol de uma maior aparência das empresas e empresários em busca de um só resultado. De acordo com Gleibe, as empresas têm interesse na efetivação do novo Estado, tanto que durante a Constituinte, foram elas as responsáveis pelo custeio de viagens de deputados de outras localidades para conhecerem o Triângulo e Alto Paranaíba. “Essa falácia de que no Triângulo há movimento porque o Governo de Minas não dá assistência é verdadeira, mas o movimento não começou devido a isso, porque afinal Minas nunca deu valor que devia ao Triângulo, aqui só cresceu e se desenvolveu devido ao contato do comércio com outras regiões que não eram de Minas”. 2.2 O sonho não vingou em 1.988

O

espírito

empreendedor

se

mostrou

forte

dentro

do

movimento

emancipacionista em 1.988, negaram a mineiridade, se apresentaram como fortes e arrojados, propuseram números, apresentaram dados e evidências de uma região com identidade própria. Mas, nada disso foi suficiente para O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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convencer os parlamentares da Constituinte a apoiar e favorecer o movimento e a região que ele representava.

A negativa dos mineiros apontou preleções que impediram a concretização do que os triangulinos esperavam. Os rivais dos emancipacionistas no processo de luta pela integridade do território acreditaram que as propostas, caso fosse aprovada a criação do novo estado, estavam compostas por um sentimento de ufanismo, ou seja se atendo exageradamente da riquezas do Triângulo, fazendo desta região um eldorado.

Um sonho regional não realizado por fatos que Longhi identifica como sendo devido a “força da mineiridade, a importância numérica da bancada mineira no congresso e sua articulação, sob a liderança discreta do então governador Newton

Cardoso

derrotaram,

momentaneamente,

a

campanha

emancipacionista”. O sentido de derrota, aqui, aparece como uma batalha perdida, mas não uma guerra conquistada pelo oponente. Não seria exagero afirmar que os mineiros apontavam o movimento de separação como uma iniciativa que não levava em conta o restante do Estado e que, ao se opor a ele, estavam praticando injustiças devido a riqueza que possuem, não querendo compartilhá-la com outras regiões mais pobres de Minas.

O Estado de Minas, frente ao Legislativo Federal, levantou a idéia de risco para Federação em permitir o esfacelamento do território mineiro. Era apontado que a ação poderia gerar problemas em decorrência da divisão, como a possibilidade da iniciativa gerar ideais de separação da nação brasileira. Como não poderia ficar de fora, o custo para implantação de um novo Estado também foi apresentado como um das inviabilidades para aprovação da emancipação.

É possível observar na argumentação mineira o questionamento quanto à suposta homogeneidade do Triângulo apontada pelos emancipacionistas. Neste caso, os mineiros fazem questão de apontar, por exemplo, a existência de rivalidades regionais, como no caso dos municípios de Uberaba e Uberlândia, e até grandes desigualdades geopolíticas na divisão do poder local. O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Se por um lado a participação de elites regionais foi determinante na história desses movimentos, por outro, é praticamente inexistente a presença das massas populares nos debates sobre a emancipação. Ou seja, as associações da

sociedade

civil

ligadas

aos

trabalhadores,

sindicatos

e

demais

representantes de segmentos populares não se faziam presente naquele momento. Daí mais um motivo para o Estado buscar distinguir o movimento como uma luta separatista de classes dominantes, que poderiam no futuro destinar os cargos e altos salários do novo Estado, com a prática de nepotismo e favorecimentos para minoria. Ainda neste cenário econômico, que envolve as riquezas geradas pelo Triângulo e destino delas, Longhi identifica que ao longo da Constituinte houve até uma indagação, por parte dos mineiros, acusando o Triângulo de oportunista. “Acusavam os emancipacionistas de se aproveitarem da riqueza regional para exigirem a separação. E ainda, os acusavam de ‘egoístas’ por não quererem dividir esta riqueza com o resto do Estado, em especial com as áreas mais pobres”.

Como não poderia deixar de ser, a imprensa triangulina exerceu papel de divulgação, informando e fomentando o movimento emancipacionista. Neste processo se fez presente com maior fervor a imprensa escrita das principais cidades do Triângulo. Nos jornais se tornou intensa a publicação de reportagens, artigos, crônicas e até charges que acompanhavam o desenrolar da Constituinte de 1.988, focando os passos do processo que buscava a emancipação triangulina. Eles se encarregaram de reivindicar apoio das massas populares como maneira de fortalecer o movimento e “conferir legitimidade a campanha”. Longhi reconhece também que: “A imprensa triangulina não apenas referendou a luta emancipacionista, mas atuou intensamente como ‘formadora de opinião’ (...) utilizando-se da imprensa enquanto veículo privilegiado para defesa de suas teses, triangulinos e mineiros se apropriaram, quase inconscientemente, do simbolismo presente no espaço

através

de

características

diferenciadas

ou

através

de

sua

representação – os mapas”.

É importante avaliarmos a participação dos órgãos de comunicação regionais neste processo. Neste caso, nenhum deles, se posicionaram contra a O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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emancipação. Os veículos impressos, em especial, foram explicitantemente favoráveis ao movimento. Isso prova a ligação inequívoca dos detentores dos meios de comunicação jornalística com os articuladores do processo de busca pela emancipação. Os empresários argumentavam que eram os próprios leitores estavam “ligados” em defesa de tal processo, de modo que os jornais estavam, de certa forma, “obrigados” a se posicionar do lado favorável, ou seja, ao lado do leitor. Este posicionamento da imprensa local é algo que permanece. Ao verificarmos alguns veículos impressos nas cidades do Triângulo, em 2009 e em alguns anos que antecedem este período, é possível identificar este engajamento.

A Assembléia Nacional Constituinte era o momento considerado pelos emancipacionistas como privilegiado para que ocorresse a emancipação do Triângulo. No entanto, não houve argumentos capazes de vencer o embate dos triangulinos e contra os mineiros e a proposta de separação foi derrotada. O processo

ainda

apresentou

alguns

resultados

positivos

para

os

emancipacionistas, como é caso do dispositivo incluído no texto constitucional que estabelece a possibilidade de redivisão dentro do território nacional para formação de novas Unidades da Federação, desde que seja essa a vontade da região. E ainda, a solicitação foi enviada a Comissão de Estudos Territoriais, onde deve passar por avaliação da viabilidade ou não no processo de criação de um novo Estado no Triângulo. 3- A Emancipação em pauta na imprensa entre 2006 e 2009

Para analisar a abordagem da imprensa nos anos de 2006, 2007, 2008 e 2009, no que diz respeito ao assunto emancipação, foi realizada pesquisa tendo como fonte o arquivo do site do Jornal de Uberaba, usando como parâmetro somente o conteúdo disponibilizado na internet (www.jornaldeuberaba.com.br). O jornal tem versão impressa, de circulação diária (exceto nas segundas-feiras) na cidade de Uberaba e região. No site são mantidos conteúdos atuais e edições passadas. Através de uma breve análise, nota-se que o tema é abordado diversos em momentos e de variadas formas, como colunas, artigos e reportagens. A presença de nomes de pessoas representativas que se O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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declaram emancipacionistas é constantemente identificada nas abordagens do jornal.

Fig. 17

Fig. 18

Fig. 16

Fig. 16 – Pesquisa na página do Jornal de Uberaba. Fig. 17 – Detalhe de reportagem veiculada no site do Jornal de Uberaba. Fig. 18 - Detalhe de reportagem veiculada no site do Jornal de Uberaba. Fonte: www.jornaldeuberaba.com.br

No dia 22 de setembro de 2009, durante o período da tarde, foi realizada uma busca

avançada

pelos

termos

“emancipação”,

“separatismo”

e

“emancipacionista”. Algumas reportagens tratavam sobre a separação de Goiás e criação do Estado de Tocantins, outras páginas veiculavam artigos opinativos sobre a questão emancipacionista que envolve o Triângulo e alguns conteúdo, principalmente na editoria ‘política’, traziam estampadas entrevistas sobre o tema. O resultado apontou a soma de 148 ocorrências, a maior parte não se trata do tema em análise. No entanto, 33 ocorrências tratam diretamente do tema. 3.1 O ano de 2006

Em 23 de março de 2006, a editoria ‘Cidade’, publicou reportagem com o título “Lançado livro sobre movimento emancipacionista do Triângulo Mineiro”. O texto começa falando de um dia comum na Câmara Municipal de Vereadores quando “em dado momento, a sessão ordinária foi transformada em solene O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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para o lançamento do livro ‘O Estado do Triângulo Existe. Somos Nós’, de autoria do advogado Gleibe Terra. Na ocasião, além do autor, também esteve no plenário do Legislativo o presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Mário Salvador. Ele até chegou a chamar a entidade de Academia Triangulina de Letras, referindo-se à luta emancipacionista.”

O livro do Uberabense Gleibe Terra narra de forma rápida à história dos movimentos emancipacionistas, de maneira que se presta também a defender a separação do Triângulo nas suas poucas mais de 50 páginas. Logo de início o texto busca destacar o objetivo da obra, “registrar a memória de um movimento que completou (...), 168 anos.” E segue contextualizando os argumentos sobre a causa separatista. “A criação do Estado do Triângulo nos resgata o poder político (...). Portanto, a emancipação somente será alcançada no momento em que a população triangulina conscientizar que o movimento de separação é essencialmente POLÍTICO. E com esta conscientização começar a eleger somente homens da região e que tenham compromissos com o emergente Estado do Triângulo”. Em um encontro com o autor do livro, ele contou sobre a preocupação em ver um movimento que marca a história do Triângulo e Alto Paranaíba, sendo registrado com uma memória muito curta. Ele vai mais longe e considera que sempre que algum relato é publicado, a idéia é que este possa contribuir com o registro da memória, no entanto, Terra acredita que a exploração do tema sempre se identifica uma fala “com cunho de quem quer usufruir da luta em beneficio próprio”. Esta vigente preocupação do advogado é justificada pelas informações que são publicadas e que envolvem o tema. Terra acredita, se sustentando na experiência adquirida nos anos de apoio ao movimento, que o tema requer maior analise para ser veiculado. Terra conta que já viu muita gente, muito político, passar pelo movimento e por fim “galgar algum cargo no governo do Estado de Minas e deixar de defender a causa”. Sobre o motivo do lançamento da obra na Câmara Municipal de Vereadores de Uberaba, ele conta que a falta de apoio e incentivo a publicação de conteúdos sobre o movimento o motivou a procurar patrocínio para efetivar a edição do

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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conteúdo. “Eu procurei o presidente da Câmara, e ele apoiou a iniciativa e propôs o lançamento no plenário”.

O então presidente da Câmara Municipal de Vereadores, que abriu espaço para a sessão solene de lançamento do livro, aparece em diversas reportagens como defensor da emancipação. Antônio Carlos Silva Nunes (PMDB), politicamente conhecido como Tony Carlos, pode ser visto nas reportagens do Jornal de Uberaba no início de 2006 como pré-candidato ao cargo de deputado federal, nas eleições que seriam realizadas no segundo semestre. Em uma das entrevistas publicadas na coluna ‘Bastidores’, ele afirmou que sua campanha a deputado federal estaria alicerçada “na emancipação do Triângulo”, para a qual ele estaria “empunhando a bandeira”. No entanto no texto desta mesma coluna, vem exposta a opinião de dois leitores. Um deles se posiciona de modo favorável a emancipação, dizendo ser louvável e precisa a ação de voltar a mobilização em torno da criação do Estado do Triângulo. “Considero que é chegada a hora de desencadear o crescimento do nosso colégio eleitoral, para que possamos ser mais respeitados. Até quando ficaremos a espera de ações para que isso aconteça?”. No segundo caso, o leitor é contrário a plataforma do político. O texto argumenta que o leitor “leu com certa apreensão a reportagem com o presidente da Câmara, Tony Carlos, que está empunhando essa bandeira”, e que considera a iniciativa “puramente eleitoreira”. Neste segundo caso o jornal não dá voz ao leitor contrário a emancipação, se valendo apenas em dizer que o leitor se posiciona de maneira contrária. Seria esta uma maneira de não deixar de ouvir os dois lados de uma história, mas usar de artifícios para destacar com maior precisão o lado que lhe é favorável? Em entrevista com Fabiano Fidelis, diretor presidente do Jornal de Uberaba, ele defende que este não é um veículo de imprensa propriamente a serviço da emancipação do Triângulo, apenas se propõe a noticiar os fatos. Na análise do conteúdo publicado no início de 2006, logo no primeiro mês do ano, já é possível identificar constantemente as abordagens envolvendo o nome do vereador e então presidente da Câmara Municipal, Antônio Carlos Silva Nunes. Na maioria das vezes ele vem ligado a assuntos sobre a emancipação, sempre defendendo a causa de forma veemente. É possível O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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verificar

que

pelo

menos

um

dos

tradicionais

argumentos

dos

emancipacionistas persiste ao longo da história. Na coluna de ‘Carlos Paiva’, em 21 de janeiro de 2006, o colunista destaca a fala do vereador quando questionado sobre as justificativas do separatismo. “Somos a região do interior de Minas Gerais que mais arrecada impostos no Estado, somos a região que mais produz soja, milho, café e temos o maior rebanho de gado. Somos o maior produtor de fertilizantes da América Latina. Temos, em Araxá, o maior produtor de nióbio, temos potencial hidrelétrico de dar inveja a qualquer região do Brasil, sem falar no grande potencial de água potável que hoje é considerado uma das maiores riquezas do mundo, podemos dizer que somos a ‘caixa d’água do Brasil’. Se emanciparmos de Minas Gerais, estaremos entre os maiores Estados do País”. Motivos econômicos. Nas palavras da imprensa local, a região rica se sente “menos favorecida” pelo Estado, uma vez que o Estado é como um “parasita”, “sanguessuga”, ou um “líder passivo”, quando o assunto é valor econômico. Até em momentos de consagração de projetos implantados pelo Governo de Minas na cidade, o assunto ganha espaço nos palanques e nas páginas de jornal. Na segunda quinzena de junho de 2006, na oportunidade da inauguração de um projeto do Estado em Uberaba, conhecido como VitaSopa, o discurso ecoou. Estava presente como representante do projeto e do Estado a secretária de Desenvolvimento Social, Maria Coeli Simões. Em seu discurso a secretária ressaltou a “estima que Minas têm pelo Triângulo”. Não muito tardia a fala do presidente da Câmara Municipal logo procurou enfatizar o desejo de emancipação. Desta maneira a coluna ‘Ponto e Virgula’, do jornalismo Francisco Marcos Reis, considerou “meio fora da agenda do evento, de certa forma, remeteu para a história da emancipação do Triângulo, hoje, defendida de forma quase solitária, pelo vereador Tony Carlos”. Além de apontar a fala do vereador como uma maneira de ponderar o Triângulo como uma área onde prevalece um sonho de separação, o colunista, considerou esta luta, este sonho, como algo que perdeu força, estando presente de maneira apaixonada pelos adeptos, sem grandes contingentes de simpatizantes.

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Em uma entrevista a jornalista Giselda Campos, publicada em 11 de fevereiro de 2006, na editoria ‘Política’, sob o título: “Presidente da Câmara ergue a bandeira da emancipação”, assuntos como democracia e fortalecimentos do poder legislativo municipal são abordados de maneira a remeter ao ideal separatista como forma de democratizar o desejo de uma região, fazendo do Triângulo um novo Estado. O motivo da pauta neste momento era um projeto que tramitava na Câmara dos Deputados, com proposta na diminuição de repasse a Câmaras Municipais, através da redução do número de cadeiras das casas legislativas de todo país. O vereador Antônio Carlos Silva Nunes, sai em defesa e “retoma a bandeira emancipacionista, avaliando que o Triângulo não recebe de Minas Gerais o que realmente merece”. Quando questionado em uma pergunta direta do porquê de o vereador defender tanto a emancipação, as respostas se atêm, mais uma vez, ao argumento da disparidade econômica, muito mencionado pelos emancipacionistas. “É bom lembrar que a criação do Estado do Triângulo é um sonho antigo, que já acalentou os discursos de muita gente idealista (...). Motivos para a emancipação não faltam. Se analisarmos os índices econômicos e sociais do Triângulo, somarmos suas potencialidades e sua arrecadação, e compararmos com os investimentos realizados pelo governo de Minas Gerais na região, vamos perceber que existe um distanciamento do Estado, ou seja, o Triângulo recebe bem menos do que contribui. Além disso, entre os vários argumentos que sustentam a causa, há posicionamentos históricos, políticos e culturais (...). Só nós, os triangulinos, conhecemos a fundo nossas necessidades e vontades. Por isso, acho que o assunto deve ser levado à deliberação popular, através da realização de um plebiscito. Mas entendo que o plebiscito deve ouvir apenas os moradores da região”.

Outro destaque entre reportagens que abordaram o tema no ano de 2006 é quanto à publicação de uma entrevista com um idealista do tema na contemporaneidade, o advogado e escritor Guido Bilharinho. A publicação data de 28 de agosto de 2006 e não cita o nome do jornalista que produziu o conteúdo. Logo nos primeiros parágrafos é mencionado, como introdução, dizeres que comprovam o favoritismo desta reportagem ao processo do separatismo e tão logo a linha editorial deste órgão. “Com o passar do tempo, O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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com ‘forças ocultas’ atuando de maneira sistemática e eficaz, o desejo acabou ficando mais no campo dos sonhos. Mas, a população sabe que pragmaticamente viveria uma situação econômica, social e política muito melhor se ao invés de mandar as riquezas para Minas Gerais, elas ficassem concentradas no Triângulo”. É fácil constatar que as abordagens atribuem com frequência a luta emancipacionista, a um suposto desejo da população como um todo.

Nesse sentido Fabiano Fidelis analisa a situação como complexa e considera que os políticos do Triângulo Mineiro não contam com a independência necessária para que eles possam encabeçar o movimento com êxito, movimento este que depende acima de tudo de política. “Nossas associações, as nossas ONGs, elas poderiam perfeitamente incentivar o movimento”. O fato dos órgãos de impressa atribuir ao povo à vontade de emancipar pode ser identificado nos jornais como uma forma de expressar a vontade uma sociedade, que, apesar de não fazer parte dos movimentos, nunca se manifestou contra a iniciativa, segundo o jornal.

Na entrevista com Guido Bilharinho, o texto segue uma linha cronológica relatando fatos históricos que marcaram os movimentos emancipacionistas, bem como os altos e baixos deste ideal.

Ao final da reportagem, o entrevistador faz a seguinte pergunta: “JU - O senhor acha que hoje o Triângulo teria recursos para se formar como Estado? Guido - Melhor do que Minas Gerais, porque o Triângulo é a segunda região mais desenvolvida do país. Já está tudo equacionado pela CET (Comissão para Emancipação do Triângulo) que durante os congressos que realizou na época planejou todo o processo. Além do que, haveria a eleição de uma Assembléia Constituinte para fazer a nova Constituição e eleger o governador, vice, deputados. Os outros órgãos já têm seus servidores, deixariam de ser de Minas, para ser do Triângulo. Os recursos seriam oriundos da arrecadação dos impostos que já são da região, além da venda de lotes na nova capital, cujos imóveis tenderiam a valorizar-se. A máquina continuaria a funcionar, automaticamente como aconteceu com o Mato Grosso do Sul. O O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Triângulo manda para Minas mais do que o Estado aplica aqui, portanto, se autogeriria Já os deputados eleitos por MG não perderiam seus mandatos, mas tendo como domicílio o Triângulo poderiam se candidatar normalmente e caso não eleitos, terminar seus mandatos mineiros. Da mesma forma com a representatividade daqueles eleitos para o Congresso Nacional, fariam uma bancada triangulina.” 3.2 O ano de 2007

Toda busca efetuada no site do Jornal de Uberaba, referente ao tema emancipação, em publicações durante o ano de 2007, resultou na soma de dez arquivos encontrados. É fato, que todos eles estão datados a partir da segunda quinzena do mês de julho daquele ano. Teria o assunto, ficado um pouco esquecido no primeiro semestre? Este ano marcou o início de uma nova legislatura no cenário federal e estadual. Teria sido o momento político o fato do afastamento das constantes reportagens no Jornal de Uberaba, tratando sobre o separatismo? Para o diretor presidente do Jornal de Uberaba, o que há são situações que apresentam algum fato relevante dentro do movimento e o jornal busca focar a questão. A demanda de assuntos relacionados ao separatismo varia de uma época para outra e dessa maneira, podem sim se concentrar mais em determinadas épocas que outras.

Entre as primeiras publicações de 2007 estão as que vêm estampadas na editoria

‘Política’

e

que

trazem

críticas

aos

políticos,

tais

como

“Emancipacionista histórico critica ‘políticos omissos’” e outra que anuncia a visita do governador do Estado do Tocantins a Uberaba. Na entrevista com o governador daquele Estado, Marcelo de Carvalho Mirando, a jornalista Giselda Campos propõe que ele emita opinião aos emancipacionistas do Triângulo, considerando que o Tocantins já foi palco de movimentos pró-emancipação e se tornou, de fato, o mais recente Estado da Federação a ser criado. “O senhor governa um Estado ainda engatinhando, com apenas cerca de 17 anos de existência. Hoje, pesando prós e contra, o que o senhor teria a dizer para os defensores da emancipação do Triângulo Mineiro? Marcelo Miranda - Que não desistam. O sonho do Estado do Triângulo é tão secular quanto o sonho do O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Estado do Tocantins. Sem dúvida, a concretização do sonho de Tocantins só trouxe benefícios - inclusive porque aproximou o governo estadual da população. O Tocantins tem 139 municípios, e ainda assim, não é fácil administrar tudo isso. Imagine então, Minas Gerais, com 853 cidades! Acho que o Triângulo merece se tornar Estado.” Nesta reportagem a jornalista vai mais longe, instigando o governador a apontar possibilidades para resolver um problema local, entre duas cidades: “Como resolver uma rivalidade histórica entre as duas principais e maiores cidades da região - Uberaba e Uberlândia, na hora de se definir a capital? Marcelo Miranda - Não tem o que resolver nesse sentido. A capital tem que nascer do zero. Assim como aconteceu com Palmas, que é a mais nova cidade planejada do Brasil pra ser capital de Estado.” Em segundo momento, outra reportagem também tratando da visita do governador, registra que Marcelo Miranda “deu força explícita para os defensores da emancipação do Triângulo.” Por outro lado, o texto citou a presença de outros políticos nesta ocasião que se posicionam contra a emancipação. “O deputado federal Paulo Piau - colega de legenda de Marcelo Miranda, e o presidente do PSDB de Uberaba, Luiz Cláudio Campos - do partido

do

governador

Aécio

Neves,

reagiram

às

declarações,

coincidentemente pregando o mesmo discurso: que o assunto deve ser tratado de forma ampla - numa redivisão territorial genérica, e não de forma isolada.”

Outro personagem volta a entrar em cena. Desta vez Tony Carlos idealiza uma viagem a capital nacional. O título é claro: “Tony vai a Brasília tratar do Estado do Triângulo”. Na ocasião o jornal registra que o motivo da viagem do parlamentar é “para tratar com a bancada do Nordeste a agilização do processo de criação do Estado do Triângulo”. Como não conseguira o apoio dos deputados federais eleitos por Uberaba e região, dizia Tony que a alternativa era buscar em outras bancadas. Na sequência desta reportagem, uma segunda publicação sobre esta mesma viagem do vereador, anuncia que ele fez uma peregrinação em Brasília buscando apoio para o tema. “Tony Carlos diz que foi procurar especialmente a bancada de deputados nordestinos, que defendem a criação de seis Estados: Carajás e Tapajós no O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Pará; Mato Grosso do Norte no Mato Grosso; Rio São Francisco na Bahia; Maranhão do sul no Maranhão e Gurguéia no Piauí.” Ao final o vereador conclui: “vou de gabinete em gabinete com o Guido Bilharinho conversar com lideranças políticas”. Ele conta ainda que sempre que pedia para fotografar o grupo, registrando aquele momento de busca dos caminhos para a emancipação, sempre era surpreendido pois todos se negavam. Ele dizia que com isso ficava fácil perceber que o governador de Minas, Aécio Neves mantinha domínio sobre as lideranças.

Um novo argumento é concebido para criar caminhos que possam ser capazes de levar à emancipação. Em 10 de agosto, a matéria do caderno ‘Política’, diz que a “Batalha é Constitucional”. A idéia era usar a Constituição para fazer valer o direito da realização de plebiscito no Triângulo. O jornal apontava que uma lei complementar estabelecia que um plebiscito dessa natureza deveria ser realizado em todo território incluindo aquela região onde está a parte interessada na consulta e também todo o restante do estado de Minas Gerais. Desta forma, para os emancipacionistas, a causa se tornaria inviável. Observamos que os atores do separatismo sofrem um choque com a promulgação de que, se aprovada, a consulta deveria ser realizada em todo o território mineiro. A reportagem traz uma entrevista com o advogado Guido Bilharinho, argumentando que “o momento não é de pleitear somente o plebiscito, mas também conseguir uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal, para mudar este artigo. Neste capítulo da luta pela criação do Estado do Triângulo nasce uma nova estratégia, considerando o descontentamento notório das partes interessadas na separação com as decisões tomadas naquela época.

Na mesma semana desta publicação o Jornal de Uberaba abre espaço para um artigo. O articulista Adáuto Francisco do Amaral argumenta em seu texto que o Triângulo e Alto Paranaíba juntos formam “a Mesorregião mais expressiva de Minas e a sua taxa de urbanização alcança 86,84% - maior que a média de 77,40% das Mesorregionais em Minas”. Ele defende também que as cidades do Triângulo já foram as “cidades dos notáveis”, e que hoje são as “cidades econômicas”. O conteúdo se atém a comparações que envolve O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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números e valores econômicos gerados por regiões que buscam se emancipar de seus estados. É feita uma alusão a possibilidade de criação do Estado de Carajás, que seria localizado entre o Pará e Tocantins. Uma região produtora de minério e grande geradora de receitas, assim como acontece com o Triângulo. Dessa forma o autor aponta as justificativas assinaladas naquela região, e segue avaliando números, como a quantidade de cidades que poderiam compor o Estado de Carajás e do Estado do Triângulo, assim como a extensão, a população e outros. É interessante que ao final do conteúdo desta publicação fica um convite do articulista para se obter mais informações sobre o tema nas quintas-feiras no mesmo espaço do jornal. Desta forma em duas semanas seguintes, outros dois artigos do mesmo autor são publicados com os títulos “A emancipação do Tocantins” e “A emancipação do Tocantins2”.

No primeiro caso é levantada a história do processo de emancipação da região situada no Centro Oeste goiano, onde atualmente é o Estado do Tocantins. Mais uma vez a atenção do autor esteve voltada para algumas comparações daquela região com o Triângulo e Alto Paranaíba. Ele relata que a luta dos goianos prevaleceu por muito tempo, chegando a marca de três séculos. Quanto às comparações, neste momento elas deixam de ser de caráter físico, fazendo paralelos ao espaço geográfico e as fronteiras e cede espaço para o campo político. A figuração entre as regiões em questão agora abordadas no texto fica por conta das alegações em prol da emancipação tanto no outro estado quanto no Triângulo: “ os goianos do Norte reclamavam da situação de abandono, como os mineiros da Mesorregião do Triângulo e Alto Paranaíba reclamam; reclamavam da centralização governamental, como os mineiros do Triângulo e Alto Paranaíba reclamam; reclamavam da insuficiente identidade político-econômica da região com a Capital, como os mineiros do Triângulo e Alto Paranaíba, em menor escala, reclamam”. No segundo artigo, o autor criou um texto mais apaixonado, procurando glorificar o movimento. A importância que foi dada mostra que ele considera o movimento identificado em Goiás, e que resultou na criação de Tocantins como

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um dos mais “persistentes e bem-sucedidos pleitos pela criação de novas Unidades na Federação Brasileira”.

Passado pouco menos de um mês da publicação do último artigo, o jornal soltou uma reportagem com um tom de desgosto. “Câmara dos Deputados arquiva o “sonho” do Estado do Triângulo”. O conteúdo vem na editoria ‘Política’ da edição de terça-feira, 2 de outubro de 2007. O título faz referência a um anúncio emitido pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o qual chegou ao conhecimento dos parlamentares uberabenses e à redação do jornal local. O anúncio era a respeito do Projeto de Decreto Legislativo 149/91, com texto sobre a realização de uma consulta pública, para saber a opinião do cidadão do favoritismo ou não, sobre a redivisão territorial de Minas Gerais. Este projeto havia sido proposto pelo deputado uberlandense Zaire Rezende (PMDB). O que foi publicado nesta ocasião, já era de se esperar. Um lamento em uma simples frase. “O sonho acabou”.

A réplica vem logo na edição do dia seguinte, 3 de outubro de 2007, na editoria ‘Cidade’. “Advogado diz que Supremo pode ajudar na emancipação”. O advogado que o título menciona é Guido Bilharinho, o permanente entusiasta e grande defensor do tema. A reportagem busca fazer esclarecimentos das possibilidades de seguir adiante após o arquivamento do projeto que pedia a realização de plebiscito. No texto há explicações dizendo que não existe mais nesta época um real interesse em realizar consulta pública, uma vez que o poder legislativo tem entendido que a participação no plebiscito para decidir a divisão do Triângulo de Minas, teria efetivamente a participação dos dois lados, e não somente a parte promotora da consulta pública, sendo esta a parte interessada. O que o jornal diz, é que o pouco que resta de esperança, é fazer um apelo para o lado jurídico. “Há cerca de cinco anos os emancipacionistas ingressaram no Supremo Tribunal Federal – através da Assembléia Legislativa de Goiás, com uma ação direta de inconstitucionalidade, para fazer valer o plebiscito restrito à região do Triângulo. A matéria foi distribuída para o mineiro Sepúlveda Pertence, que decidiu engavetar o assunto para não se manifestar

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(...) a ação de inconstitucionalidade será redistribuída para outro membro do Supremo”. 3.3 O ano de 2008

Este ano tem uma particularidade, é ano de eleições municipais. Nos primeiros meses não se nota no jornal nenhum tipo de reportagem que faça referência ao movimento emancipacionista do Triângulo. Mas, em meados do mês de maio, elas começam a aparecer. Maio também é o mês em que a cidade de Uberaba sempre se volta para a realização da Expozebu, a maior feira internacional de gado zebuíno do Brasil. Certamente esta é uma oportunidade privilegiada para os políticos locais ganaharem maior visibilidade. Com a realização de um evento de grande magnitude seria oportuna a montagem dos palanques eleitorais. Com um momento apropriado para se acender os holofotes em torno do tema, os defensores se mostraram ágeis naquele ano para promover o separatismo. Portanto, não foi casual o fato de que no último dia deste mês, 31 de maio de 2008, voltam a ser publicadas as reportagens sobre o tema emancipação. O período adormecido desperta, e parece querer ser recuperado com fôlego total. De uma só vez são publicadas cinco reportagens, todas elas na editoria ‘Cidade’, sendo que ao todo foram identificadas na pesquisa a ocorrência de oito “reportagens emancipacionistas” publicadas neste ano. A primeira delas vem com uma afirmação no título, “Triângulo é o celeiro do Estado”. Neste momento reaparece o que para os triangulinos convencionouse atribuir a fama de ser a “galinha dos ovos de ouro”. E reaparece também através desta reportagem, um personagem já conhecido, o político e candidato a reeleição do legislativo municipal em Uberaba, Antônio Carlos Silva Nunes. A primeira reportagem procura traçar um perfil do Triângulo, com suas potencialidades, seu posicionamento geográfico privilegiado e mais uma vez ilustra a sua grande arrecadação fiscal. O texto é estruturado com base em entrevista concedia por Tony Carlos, como fica explicitamente mencionado no conteúdo.

“A

região

do

Triângulo

Mineiro,

lembra

Tony

Carlos,

é

estrategicamente colocada e possui o maior potencial hidrelétrico do mundo”. Após longas indagações das premissas que fazem do Triângulo um eldorado, o

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parágrafo conclusivo dá voz ao vereador que afirma que “motivos para a emancipação do Triângulo não faltam”.

Dentre estas cinco publicações realizadas de uma só vez, quatro tem como entrevistado, o vereador Antônio Carlos Silva Nunes. Neste ano o candidato a reeleição ao cargo de vereador é a fonte principal de informação sobre o movimento emancipacionista usada pelo Jornal de Uberaba. Rememorar os motivos históricos das lutas separatistas também fazem parte das matérias publicadas. Numa delas, com o título “Luta existe há 173 anos”, todo o percurso dos movimentos emancipacionistas é desenhado a partir do olhar do vereador Tony Carlos, que segundo o jornal “mostra que conhece bem a causa, que vem sendo defendida há 173 anos”. Mais adiante no mesmo texto, o jornal lembra que “desde 2005 Tony Carlos levanta a bandeira da emancipação”, e segue com um breve currículo do parlamentar, no que diz respeito à emancipação.

Na terceira reportagem, “Questões políticas redividiram Minas”, o Jornal de Uberaba abre espaço para o vereador em um conteúdo da editoria ‘Cidade’, que desta vez adota a construção de um texto comparativo da divisão territorial brasileira com a divisão territorial norte americana.

Deste

modo é

exemplificado, através de números, que nos Estados Unidos chegam a 50 a quantidade de estados, e que no Brasil somamos 27 unidades da federação, sendo que a área territorial do Brasil e Estados Unidos, em números de quilômetros quadrados, são próximas. O jornal aponta que “a redefinição territorial pode fazer a diferença para que o Estado esteja mais próximo da população e, portanto, seja mais eficiente (...)”. Esta, por sinal, seria uma chave de argumentação para os idealistas e defensores da emancipação triangulina. Os comparativos com outras situações dentro e fora do país são inevitáveis no desenrolar dos argumentos deste texto. Ao dar voz a fonte entrevistada, o mesmo, defende que “este é um momento importante para estas regiões, que devem lutar pelo seu desenvolvimento, por nossa identificação”.

Nas três últimas reportagens em análise a fonte exclusiva entrevistada para compor a matéria era uma só pessoa. Neste quarto caso, a publicação traz o O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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nome da fonte no próprio título. “Tony Carlos comemora retomada do sonho de emancipação do Triângulo”. A retomada do sonho a que o título se refere é o fato da criação de um projeto de lei que propunha autorização para a realização de um plebiscito, ou seja, uma consulta pública para saber se era, ou não da vontade de cada cidadão residente ou natural do Triângulo a transformação da região em um novo Estado. Outro projeto que tentou concretizar a realização do plebiscito é citado, assim como algumas empreitadas alçadas por incentivadores do tema.

No último registro, da série de cinco reportagens publicadas de uma só vez, apenas uma não menciona diretamente o nome de Tony Carlos. “Estado terá maior renda per capita do país”, é uma nota curta, de apenas um parágrafo. De cunho nitidamente opinativo, o texto começa afirmando que “quando o Triângulo for emancipado, a situação econômica, social e política da região será excelente, principalmente por não ter que mandar as riquezas para Minas Gerais”. É fácil notar o otimismo e entusiasmo presente no texto. O autor faz até previsões, que de acordo com ele estão fundamentadas em “especialistas”. Desta forma relata que “após a emancipação, de 10 a 15 anos, o novo Estado terá a maior renda per capita do país, porque é homogênea, sem bolsões de pobreza, sem contar que o Triângulo é a segunda região mais desenvolvida do Brasil”.

O ano de 2008, não fica somente nestas cinco publicações. A próxima notícia é publicada três dias depois daquela seqüência de reportagens. No dia 3 de junho, a editoria ‘Política’, estampa uma matéria com o título “MM contra a emancipação do Triângulo”. Como nas raras outras vezes em que o jornal cedeu espaço para conteúdos que apontem opiniões contrárias a da emancipação, neste caso o texto mais uma vez é conciso e se atém apenas a explicitar os fatos. As argumentações dos oponentes ao separatismo não aparecem com a mesma ênfase dos defensores. As iniciais “MM” no título estão se referindo ao deputado federal Marcos Montes (DEM-MG). O jornal aponta que o deputado “não assinou o protocolo de um projeto de decreto legislativo que prevê a convocação de plebiscito para a emancipação”. E segue argumentando que o parlamentar não seria favorável a medida pelo fato de seu O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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idealismo político estar alicerçado em uma luta pelo corte de gastos públicos e que emancipar esta região de Minas não seria a saída para tal.

De junho para dezembro. Após um hiato de todo o segundo semestre de 2008 as duas últimas notícias sobre o separatismo acontecem no final do ano, já nas últimas semanas de 2008. Uma no dia 15, “Federalistas vêem com cautela emancipação”, e outra no dia 22, “Plebiscito pode definir criação do Triângulo”. No primeiro caso há na matéria uma aglutinação de indagações que demonstram o apoio dos representantes do Partido Federalistas em Uberaba à causa do separatismo. É comentado no texto o projeto de lei que propõe a realização de plebiscito. São apontadas críticas de como este projeto vem tentando ser realizado que, “conforme o secretário-geral da legenda, Gabriel Mendes, a emancipação está conduzida de forma equivocada desde o projeto de lei”. Este representante analisa o projeto de lei com reprovação, pelo fato de uma cláusula apontar que a consulta seria realizada em todo o estado de Minas Gerais e não somente na região de interesse. O jornal dá voz ao secretário do partido que afirma que é “evidente que esta proposta não vai passar pelo crivo dos mineiros. Se ocorrer o plebiscito, será um gasto desnecessário. Para que haja outra votação, com regras justas, teremos de esperar muito tempo”. O apoio do partido ao separatismo é uma ferramenta que pode criar nos triangulinos uma simpatia por esta legenda, uma vez que a expressividade do mesmo ainda é pouco significante em toda a região. Já no segundo caso, o espaço é informativo e cede limites para uma suíte de outra reportagem, da qual já falamos que trata sobre o apoio do Partido Federalista, a causa separatista. O foco é no Projeto de Decreto Legislativo que prevê uma consulta através de plebiscito a ser realizada somente em 66 municípios do Triângulo e Alto Paranaíba. A autoria do projeto é do deputado federal Elismar Prado (PT-MG), contudo o jornal ressalta que “se o desmembramento do plebiscito for aprovado, ele confirma que irá apresentar um projeto de lei complementar no Congresso Nacional para a criação do Estado do Triângulo.

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3.4 O ano de 2009

Até o dia de realização da pesquisa no conteúdo do Jornal de Uberaba, em 22 de setembro de 2009, a qual originou este estudo de caso, foram identificadas cinco publicações sobre o tema, todas elas veiculadas nos dois primeiros meses do ano. Um fato interessante é que a primeira reportagem traz uma negativa no título, “Deputado é contra a emancipação”. O jornal diz que o deputado Adelmo Leão Carneiro (PT-MG), é contra a separação do Triângulo mas, que ele se dispõe a discutir e argumentar o seu posicionamento. Por outro lado o jornal ressalta ao longo da reportagem que o parlamentar analisa a situação de maneira a reconhecer que o governo de Minas não desprende a atenção necessária para a região do Triângulo e Alto Paranaíba. Nesta mesma reportagem já mencionada é dado ênfase no posicionamento do atual presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho (PP-MG). O destaque ao posicionamento do deputado é uma negativa ao separatismo. Coelho argumenta que, no caso da realização de uma consulta pública, todo o estado deve participar. Ele defende veemente tal prerrogativa e nega a consulta somente na região interessada. Por último é citada uma proposta do deputado federal Elismar Prado (PT-MG) que busca a realização do plebiscito. E como não poderia faltar nos conteúdos do Jornal de Uberaba, a reportagem se encerra com o argumento de que o Triângulo gera aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro, e o que recebe de volta é um repasse que giram em torno de apenas 7%, ou seja, gera muita receita e recebe tão pouco de volta de investimento.

Em 10 de janeiro de 2009, o jornal anuncia no título de uma reportagem: “Emancipação do Triângulo é vista como privilegiada”. Nesta publicação o conteúdo fala sobre a criação de novas unidades da federação em diversas regiões Brasil a fora. Tais propostas apresentadas no Congresso Nacional, na maioria das vezes são julgadas como inviáveis. No caso desta publicação é citado um estudo, realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). O estudo, Custos de Funcionamento das Unidades Federativas Brasileiras e suas Implicações sobre a Criação de Novos Estados, foi O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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encomendado pelo então pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Neste caso o jornal aponta que a intenção foi criar elementos para contribuir no momento de julgar as decisões, quanto a propostas de criação de novas Unidades Federativas. É apontado ainda que em alguns casos “os gastos originados pela criação do estado seriam maiores do que o Produto Interno Bruto (PIB) do próprio estado”.

O jornal elucidou nesta matéria uma parte do estudo realizado pelo Ipea onde é mencionada a estimativa de gasto para a então efetivação e o funcionamento do estado do Rio Negro, uma região localizada no estado de Amazonas. Neste exemplo, o estudo aponta que a demanda de custos com a criação deste novo Estado, seria aproximadamente 350% superior ao PIB daqueles municípios que se incluiriam na formação da nova Unidade da Federação. Esta proposta que tramita no Legislativo, é usada como um exemplo da inviabilidade e da falta de condição econômica para tornar este ideal uma realidade.

Por outro lado os argumentos quanto às propostas emancipacionistas em alguns estados Brasileiros segue. No parágrafo mais extenso é enfatizado o caso do Triângulo Mineiro. O texto começa fazendo uma consideração de que a criação dos estados de São Paulo do Leste e do Triângulo é vista como “privilegiada”. A análise do instituto, novamente destacada, diz que estes dois estados tem maiores condições de prosseguir normalmente com a redivisão. Pelo menos no que diz respeito a finanças públicas e viabilidade econômica. Ao final a reportagem faz considerações dando voz ao pesquisador e coordenador de Desenvolvimento Federativo do Ipea, Rogério Boueri, que diz que estas propostas precisam ser formuladas de forma mais “consistente no tocante ao conteúdo geográfico, econômico e financeiro, de forma a não onerar o já sobrecarregado Parlamento Brasileiro com propostas claramente inviáveis”.

A publicação seguinte que foca o tema da emancipação, vem de uma coluna. A jornalista, Giselda Campos, adverte sobre uma reportagem publicada no Jornal Diário do Comércio. Ela observa que este “é o primeiro com base em Belo O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Horizonte a sair do silêncio em relação ao projeto que prevê realização de plebiscito sobre o estado do Triângulo’. O texto ainda argumenta que o jornal de Belo Horizonte possui opinião desfavorável às propostas vigente no Triângulo. Em notas curtas que compõem a coluna, não se deixa de lado a chance de rebater os argumentos do jornal da capital. Uma das frases de efeito diz que “até agora, a imprensa de BH – a exemplo do Palácio da Liberdade, tem agido como se não estivesse acontecendo nada”.

Através de uma pesquisa realizada no dia 28 de outubro no site http://www.diariodocomercio.com.br, foi encontrada a reportagem do Jornal Diário do Comércio, mencionada pela coluna do Jornal de Uberaba. Logo no título já se pode notar o uma posição contrária a uma nova fronteira entre Minas e o Triângulo. “Fantasma do Separatismo”. E para notar tal posicionamento não é preciso sequer ir muito adiante na leitura do conteúdo. Logo nas primeiras linhas o jornal usa uma figura de linguagem dizendo que os ventos no Triângulo sopram em “políticos locais que enxergam na manobra, antes de mais nada, boa ocasião para ganhos próprios”. O Diário do Comércio é abrupto nas indagações, narra uma história de maneira rápida esclarecendo que as manifestações pro emancipação nasceram pelo fato da região se considerar isolada e menos favorecida pelo estado, diz que as “teses separatistas que, evidentemente, geram expectativas falsas para a população, mas nutrem as ambições dos políticos locais, mesmo que não obedeçam à lógica, à conveniência e à razão”. O texto trata a situação como “o ranço histórico”, e considera que este já perdeu todo o sentido, e os argumentos usados hoje não justificam a necessidade de redivisão. É considerado também insustentável o discurso sobre o percentual de recursos gerados no Triângulo e Alto Paranaíba, desfazendo na reportagem os argumentos de que estes recursos estariam sendo “drenados para outras regiões”.

Uma clara exposição de que o Diário do Comércio defende veemente a posição contrária a dos separatistas vem quando o texto diz que no Triângulo e Alto Paranaíba se alimenta algo irrealizável e que é “absolutamente ilusória a O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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idéia de que estaria melhor uma vez cortados estes laços que têm raízes profundas e não podem ser simplesmente amputados, muito menos para alimentar a vaidade - e o apetite - de quem já se imagina sentado na cadeira de governador”.

Para finalizar o jornal se atém a conclamar uma mobilização que se faça contrária ao emancipacionismo. “Não dá para sentar e esperar. O assunto é muito sério e tem implicações que justificam, como no passado, imediata mobilização de todas as lideranças mineiras, chamadas mais uma vez a defender a integridade territorial do Estado”.

As duas últimas publicações encontradas na pesquisa foram publicadas uma no final de janeiro e outra no final de fevereiro. Daí em diante cessaram as publicações pelo menos até a data de realização da pesquisa no site do jornal realizada em 22 de setembro de 2009. Nestes dois últimos casos, o conteúdo se atém primeiramente a publicar números e outras relações levantadas pelo estudo do Ipea. O destaque é para o valor que a União teria que gastar para concretizar o estado do Triângulo, sendo que o estudo do Ipea aponta que seria algo próximo a R$ 32 bilhões de reais. Este valor corresponde a 16,5% do produto interno bruto de Minas Gerais, um gasto destinado as contemplar os 66 municípios que deveriam compor o novo estado, 11% da população mineira e 15% do território do Estado de Minas, de acordo com os números apontados no estudo. Em fevereiro, um artigo publicado na editoria ‘Cultura’, volta a relatar dentro do Jornal de Uberaba a história dos movimentos e os principais argumentos que defendem o ideal. É importante observar que desta vez são apontados o contexto das indagações contrárias a emancipação. Um destes pontos abordados é a disparidade econômica, uma alegação que volta a entrar em cena. A reportagem considera que o consenso dos políticos mineiros que são contra o separatismo é um ato “meramente oportunista e interesseiro, além de demonstrar total desconhecimento e falta de consciência da identidade e autonomia regionais”. O artigo ainda considera que o tema não é um fato de momentâneo, e que as reivindicações que hora são atendidas são de direito do O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Triângulo, e desta forma a luta pela emancipação não deve ser vista como oportunista e sim como algo com “perspectiva histórica”.

Nas considerações finais desta última publicação do Jornal de Uberaba, é feito um relato defendendo uma identidade própria, como sendo uma característica da região, um motivo histórico e geográfico, fatos que favorecem o ideal de criação de uma nova fronteira e por último “o direito inalienável de autodirigirse, livrando-se de todo domínio, que, por sê-lo, é humilhante, antinatural e oposto à natureza humana, individual e coletivamente considerada”.

4- Rumos Contemporâneos da Emancipação

“Eu sou contra a emancipação do Triângulo Mineiro, afinal seria muito feio sermos chamados de Triangulinos”. Ouvir tal frase de um representante do povo, dentro da casa do poder legislativo municipal de uma das cidades mais antigas desta região, pode não soar bem aos ouvidos daqueles que defendem este ideal, ainda mais pelo fato de o assunto em discussão ser polêmico, e propulsor de muitos movimentos ao longo dos anos. Para alguns políticos e candidatos a vereador em Araxá, é fácil se posicionar, mesmo sem saber quais questões envolvem a proposta, e o porquê de tanta luta pela criação do vigésimo sétimo estado brasileiro. Se a idéia se efetivasse, chegaríamos a vinte e oito unidades da federação, incluindo junto o Distrito Federal. Um primeiro mandato é sempre o momento de novas experiências para um vereador recém chegado ao poder. Assuntos e discussões que envolvem anos de história e uma abrangência bem maior que a de uma única cidade, podem ainda não estar muito bem esclarecidos no início de um mandato. Mais ainda, quando voltamos o pensamento para um tema que tão pouco se faz presente no dia a dia de uma casa legislativa local. Diversos representantes podem estar cumprindo mandatos, nas várias Câmaras Municipais de Vereadores, sem ter opinião formada sobre o tema emancipação, que na verdade envolve a todos que estão, ou que fazem parte desta rica região. Realidade que poderia ser diferente, e envolver maior número de cidadãos conhecedores do processo O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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histórico do separatismo, para assim opinar sobre este sonho que vinga entre classes mais elitizadas.

Para quem traz no rosto as marcas de anos de representação política, os fatos são analisados sobre uma ótica mais abrangente. Talvez pela oportunidade do acompanhamento constante do assunto ao longo dos anos. De voz ofegante e fôlego cansado, um dos deputados federais, que representa Minas Gerais e a região do Triângulo, comenta com eloqüência o tema. Desde o início da carreira política foi a favor da emancipação. Ele, que já se aproxima dos 70 anos de idade, expressa o cansaço físico de grandes percursos, que o levaram a cinco mandatos como representante do legislativo federal. Antes disso acumulou a experiência de chefe do executivo municipal em Araxá, por duas vezes, além de passar por titular da pasta da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais, também por duas vezes. Aracely de Paula, do Partido da República (PR), em 2009, é um dos parlamentares em exercício na Câmara dos Deputados Federais. Ele, já foi um dos defensores da emancipação. Hoje o político acredita que “esta bandeira já esta um tanto quanto desgastada”. O desgaste a que se refere é quanto à falta de atenção que Minas praticava com a região do Triangulo. Situação que o parlamentar acredita ter existido em anos passados, que fazia sim, um grande sentido, daí então o fato dele ser um defensor da causa. “O Triângulo era esquecido, era discriminado, hoje não existe isso mais”. Há o entendimento de que hoje vigora uma integração de todo o estado, fato que Aracely, analisa como inegável, considerando que na atualidade o Triângulo é uma região muito privilegiada pelos governantes, e “até pela sua própria condição geográfica, pela própria condição no contexto do país, o Triângulo é a máquina que puxa Minas Gerais. Aqui se tem um tratamento especial, tanto do governo do estado, como do governo federal. Tem uma força política que advêm da grandeza do próprio estado de Minas”. Quanto à alegação de que o retorno dos recursos gerados pelo Triângulo e Alto Paranaíba, pouco representam diante da riqueza desta região, e que o estado pouco faz por esta ‘galinha dos ovos de ouro’, o parlamentar acredita que este não é um motivo para desencadear a tese do separatismo. Mas, esta é uma das alegações que perdurou por anos, foi à mola propulsora de muitos O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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defensores da emancipação, e questionamentos. Ainda assim, Aracely acredita que é bom continuar fazendo parte do Estado de Minas Gerais, isso é “poder dizer que Minas têm a segunda representação política do país, e junto com Minas o Triângulo, que tem força política. E essa força política, ela reflete em benefícios para o Triângulo e para o Estado. Sem dúvidas, que ninguém governa esse país, se não tiver realmente um respaldo político muito grande. E o Triângulo faz parte, aliás, o estado de Minas, é o segundo estado da federação em termos de força política. Agora se acontecer uma divisão, o Triângulo passará a ter oito representantes, então essa força de Minas cai aproximadamente 70%”.

Se a região vai bem da maneira que está hoje, porque tantos idealistas se movimentando para fazer do local uma realidade diferente da atual? O privilégio de sediar empresas que chegam a ser maiores, em números, que as instaladas em outros 19 estados do Brasil, são a fonte de abastecimento dos cofres públicos do Estado de Minas e do país? Um alerta sempre anunciado através dos discursos dos movimentos separatista é a maneira que o Estado procura se remediar dos fatos. Nos diversos momentos ao longo da história em que se falou com força maior em emancipação, investimentos em benfeitorias, novos projetos e atenções em diversos âmbitos, por parte do Estado, se voltaram para o Triângulo e Alto Paranaíba. Seria esta uma estratégia de arrefecimento dos ânimos dos emancipacionistas? Se há uma tensão no que diz respeito a estes momentos, o mais prático aos olhos dos emancipacionistas seria a obtenção de discussões abertas, gerando uma possibilidade de tornar mais conscientes os habitantes desta região. 4.1 Uma Nova Proposta

A proposta de tornar as duas regiões, Triângulo e Alto Paranaíba, um novo estado, com autonomia própria ganhou novos moldes no século 21. Em Brasília 16 propostas de novas unidades federativas apresentadas no Congresso Nacional, entre 1998 e 2008, foram analisadas pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Esta possibilidade de criação de novas unidades da federação, não é nova e também existe não só em Minas Gerais. O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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Já chegaram ao total 18 propostas em todo país. Cidades e regiões já foram o cenário de mobilizações na tentativa de sensibilizar representantes políticos e até a população, em uma força conjunta para efetivar a criação de novos Estados. As principais justificativas na maioria dos casos se dão pelo fato das potencialidades econômicas presente em cada região, e a insatisfação do local de origem dos manifestos com a maneira que se dá a distribuição da arrecadação fiscal. eTal como ocorre no discurso dos emancipacionistas triangulinos, em diversas regiões do Brasil, o que se evidencia é uma crença de que tais localidades são pouco favorecidas pelos governantes dos Estados a que pertencem. Há casos de lugares até mais pobres, em relação ao restante do Estado, e que ainda assim buscam por independência, acreditam que seriam mais bem administrados se viessem a tornarem autônomos do restante do estado.

No caso do Triângulo o fato é que, por se tratar de uma das regiões considerada entre as mais ricas de todo o Estado de Minas Gerais, isso traz inquietações nos representantes desta região. É no Triângulo que estão instaladas grandes indústrias do setor de processamento de alimentos, de açúcar e álcool, de fumo, de mineração, de atacadistas distribuidores, de mineração e de fertilizantes. Uma região de logística privilegiada, bem servida por rodovias, ferrovias e aeroportos, dando acesso facilitado a grandes centros do país e aos principais portos. O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2006, apontou que o PIB – Produto Interno Bruto, no Triângulo, chegou a R$ 25.389.280.000,00 reais. Fatos como este, e uma serie de outras alegações motivaram em 2008 a criação de um projeto de Decreto Legislativo (570/08), apresentado pelo deputado federal, Elismar Prado (PT-MG). Nele é proposto à realização de um plebiscito, ou seja, uma consulta popular por meio do voto. Em caso de aprovação, todas as 66 cidades, que fazem parte dos estudos que apontam o espaço de composição do Estado do Triângulo, participariam da consulta. Além do Triângulo, outros ideais desta natureza, percorrem os caminhos legais em Brasília, um deles é o projeto de lei em discussão no Congresso, que trata sobre a criação do Estado de São Francisco. 34 municípios do Estado da Bahia, seriam separados formando assim um novo estado. O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira

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A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional do Senado aprovou a proposta, do Deputado Mineiro, Elismar Prado em 2008. A polêmica que envolve o projeto em tramitação é quanto aos municípios que receberiam a consulta pública, quais as áreas que seriam abrangidas pela consulta pública, se só a de interesse nos fatos, neste caso o Triângulo, ou todo o Estado de Minas. A lei defende que o plebiscito seja realizado na área de interesse do assunto em questão. Sendo assim, representantes interpretam que o plebiscito seja realizado no Triângulo e no Alto Paranaíba. Por outro lado, os representantes de outras regiões de Minas, acreditam que a área interessada é todo o estado e não só Triângulo e Alto Paranaíba, passando a defender que consulta seja realizada nos 853 municípios. Tentando reverter tal situação, personagens do movimento emancipacionistas esperam a aprovação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que aguarda decisão em Brasília. Esta ação poderá extinguir a lei complementar que estabelece no caso a realização do plebiscito em todo estado, caso seja aprovado o projeto de lei que solicita a consulta popular.

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