Autorretrato

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TARCIANA RIBEIRO AUTOR RETRATO

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POEMAS


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Tarciana Ribeiro


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Tarciana Ribeiro

Este livro impõe uma ordem: após seu uso, ou desuso, decreta-se como sua obrigação repassá-lo a quem tem interesse ou precisa dos textos contidos nele. Compartilhe o link! Ficha Técnica: Capa e edição da Editora Publique Já! Todos os textos são de autoria e publicados por Tarciana Ribeiro. É proibida a venda e veiculação deste conteúdo sem a autorização da autora Tarciana Ribeiro. ©Autorretrato - Junho de 2014 ©Tarciana Ribeiro

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ÍNDICE: - Ao Leitor --- Assinado eu --- Auto-retrato ---Amável mente --- Anda sem nada --- Das ideias que eu sublinho -- Ampulheta --- As sinapses vagarosas de um homem quase perfeito - Mal dita retórica ---Domingo ---Claustrofobianicamente ---Quando você respira ---Alface --- Poesia, corpos e outros ciclos --Dó, mimo. ---Constante, pra você : não vicioso. -- Oração ---Trancada ---Eu na mão, você voando --- Avesso exposto ---A menina que se borra ---O mal amado --- O que mulher não diz --- Borbulêta ---Mundos imundos ---Conselho de outro plano ---Pra morrer na praia ---Te verticalizando ---Destinória ---Primeiro ---Cordão umbilical ---Over Dose --04

07 11 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42


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-Quiproquós prematuros ---Qual o codinome do pseudo amor? --O copo ---O homem que não tocava dó --Será o fim, Serafim ? --A vida daquele lugar ---Esquina ---Há Marias que vão x Amarias --Quarto de fingir --- O calvário do homem que se acomodou no tempo - Aos acomodados --- Inconsequente --- Inconsequente II --- Seduz --- O tapete e a vontade --- A fé por grama e prestação, presta atenção! - Quando o lápis da vida acabar -- A noite não troca de roupa -- Bilhete à Camilo --- Lembrança --- Por te ter --- O passeio do escrivão da meia noite -- Estrada ---A cachaça, a barba e o nada -- Visão de açúcar --- O abusado --- O homem que quebrou seus ponteiros -- O figurante coroado --- Travessia da rotina de um moço -- O cego que não sonha mais -- Dei bandeira --- Horário de inverno --- Instante --- Obrigação --- O peso --05

43 45 47 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81


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-Eu fui feita pra acabar --- Esclarecimentos sobre direito autoral de imagens - Sobre a Autora ---

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Ao Leitor: Este livro que chega aos teus olhos raro leitor, nada mais é que o espelho de minha alma diagramado em versos onde exponho as entranhas e os nervos lisérgicos de uma mulher. Estou desnuda a cada página, a despir-me verás várias fêmeas e quiçá ouvirá vários gritos. Este livro tem como base mostrar o lado imperceptível que esquecemos toda noite pra superar pequenas dores, dores de uma saudade pequena, dores de uma lembrança pequena, de tudo que se torna minúsculo quando pensamos no futuro, mas acredite : Este não existe! Escrevo sobre o que sinto e o que vejo, é da minha lei que não permita que alguém consiga sucumbir teus pensamentos, por que a mente é livre, explore-a! Aos quatorze me via nos bancos das praças com papel e caneta falha a descrever o que acontecia, vomitando rebeldia, pensamentos dobrados, disritmia da adolescência. Cheguei a rasgá-los, um por um . Mas os demônios me atormentaram tanto que voltei pras gavetas, exorcizei-os como de prache pra um bom poeta . Sou a mais comum de todas, e por isso ando perdida num mundo onde ninguém vê, mas todos estão ... Convidada para fazer parte do um blog "sociedade dos poetas por vir " de minha cidade, voltei a escrever. Reuni algumas poesias sobre paixão, Deus, desejo de liberdade e todos os clichês perdidos nas esquinas dessa geração. Não escrevo o conveniente pra se sentir bem, defendo o destino! O papel é meu espelho quando a tinta derrama a alma. Que fazer se somos piamente iguais? Formada em publicidade e sem manejo em tecnologia, recebi diploma e voltei pro papel - de onde nunca deveria ter saído-a poesia é minha sarjeta, e dessa esquina sou a melhor vadia. 07


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Sinta-se à vontade para me ler quando quiser, e ao sair não esqueça de fechar o quarto.

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"Escrevo por que não toco Tropeço por que não penso Quero Nada posso, Sou fêmea, nada efêmera E do meu lado uma escrivaninha"

Assinado eu.

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Auto retrato Se eu fosse objeto Era polaroid Cuspiria poemas

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Amável Mente Não são dois mais dois é um coração bebendo o mar O amor idealizado é o mal do século de quem não sabe amar.

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Anda sem nada Nem na contramĂŁo, nem no meio; Abeirando o abismo encharcado Da tinta de todos os cĂŠus Alheios, cheios, nas horas revigorados.

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Das ideias que eu sublinho As ideias frágeis As ideias fogem Asfixiando passados tempos Abrindo os braços pro próximo poste Pro próximo encarte Que as ideias voltem As idéias graves .

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Ampulheta Suspiro por que o pensamento que respira cansa Em decair do degrau da enorme discrepância Que Ê lembrar do que se quer novamente sentir .

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As sinapses vagarosas de um homem quase perfeito Meus olhos estão sem roupa Isso é ruin! Você está à solta.

Minha alma está nua Você é cego, dobra a esquina Continua.

Eu tô até sem óculos E disse no telefone que o amor é cego Daí vem você suspiro E passa direto.

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Mal dita retórica Não importa o quanto você se pergunte Ninguém nunca vai ter a resposta Todo mundo sempre se pergunta Por que as paralelas andam tão tortas?

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Domingo É o primeiro dia da semana. O descanso dos outros Mas Ê o que alastra a semana inteira Mesmo se nada acontece.

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Claustrofobianicamente Ela mexe muito bem com desilus茫o Especialidade: Alheia. Da pr贸pria vida n茫o sabe nada Se perde na pr贸pria teia.

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Quando vocĂŞ respira

NĂŁo adianta chegar aos cinquenta reclamando de tudo se a vida toda vocĂŞ guardou os ratos mais barulhentos debaixo do travesseiro.

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Alface Se quer saber como me sinto Pare tudo que estiver fazendo Vรก pra casa e continue dormindo.

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Poesia, corpos e outros ciclos Mas tem sempre o que sobra todo dia é cheio de noite Toda noite é cheia de copos E todo copo acaba vazio E quando a cachaça se põe No constante querer Se refaz outro ciclo em outra sexta que vem a nascer.

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D贸, mimo Me acabo como acaba a semana No domingo acaba o saco, a coragem e a grana E nasce outra de novas ressacas Antigas ressalvas contempor芒neas.

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Constante, pra você: não vicioso Você me inspira, acaricia e depois ri você é bobo, tolo e já vai partir é injustiça presenciar. Eu vou lá, fico sorrindo e depois volto Eu fico aqui, me desmedindo E depois volto previsível . Eu te ligo, vou aí e começo a rir E você calmo diz: morena, eu já vou ter que partir.

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Oração É melhor diminuir as porteiras da minha mente e alastrar o fio de alarme do meu coração.

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Trancada Você tá nas ruas tá em casa, na viola. Você toca, compõe você enfeita e revigora Você me vê e me chama mais nunca se demora Você me tem do lado e desmedidamente ainda perde a hora.

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Eu na mão, você voando Temos a boemia A poesia o violão e o seu João Todos a nosso favor Os nossos signos combinam Nossos gostos se cruzam Nós já nos beijamos, e você gostou! Mas você se recolhe você não é um homem é um desejo que some, um pavor!

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Avesso Exposto Era do tipo popular Todo mundo via, ninguém conhecia Era do tipo singular Falava tudo ,pouco dizia Era do tipo vivido Via o final do filme sem mesmo ter assistido Era tranquilo Os temores dentro , escondidos Era da noite Cantando sempre os diferentes açoites Era meio calado Muito escrevia ,o mundo anotado Era do mundo falado Virtualmente quase nunca conectado Era marcante Do portão até a última estante Era vago, mas não apenas vagamente lembrado.

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A menina que se borra Menina boba! Você que está em todo lugar Não pense que longe assim você vai chegar Dando patadas, sendo mimada a berrar Menina tola ! Você que caminha só por caminhar Que fala dos outros pra não se enxergar Tentando os próprios defeitos não consertar Querendo o brilho alheio todo tempo ofuscar Menina inocente! Não vê que sendo assim indecente Você se faz chata Mas mesmo assim tem gente que mente Por ficar tão nítido esse teu pensar Menina má! Cuide da própria mente Essa futilidade se sente Esse desespero de embelezar o espelho Dificilmente vai te levar pra frente Menina boa! Suas críticas destrutivas só diminuem você Tem um mundo maravilhoso dentro de si Mas infelizmente nunca vai perceber.

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O mal amado Era engraçado vê-los juntos Separados são únicos Juntos são independentes Tanto ele dela, tanto ela dele. Só sabem sambar de uma forma Ele agarra e ela vai Ela pisa no pé dele e ele nada faz Joga a dama pro alto e nem assim ela cai Os carinhos meramente notórios Voz alta ,empurrão simplório Ele apressa o passo Ela ri do acaso Ele até repertório já tem De tanto se afogar em desprezo Ela nem se amedronta do tom Precisa ir cuidar dos cabelos Ele boemiamente diz juízo criar Ela está dormindo pra não se stressar Ele chora de raiva por não aguentar Ela odeia drama, foi dançar! Ele jura não deixar Ela diz que falta não vai sentir Ele dobra 2 semanas de esquina Ela liga ele volta a cair.

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O que mulher não diz Desde que não se perca tempo Feche os olhos, nada é triste, sinta o vento Desde que largue de mão esse lamento Se levante e caminhe mais atento Desde que não deixe a vontade passar Não espere dormir , acordar, cessar Desde que ninguém complique nada ''disse que me disse '' ou por zanga não fale nada Desde que no começo haja sinceridade Sem segredo ou falta de verdade Desde que você saiba encerrar E não pausar, continuar ,encerrar ,perdurar. . . Desde que você tenha foco Sendo assim eu não me importo Desde que haja tempo .

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Borbulêta Toda batida de asa aguda no estômago deixa grave a cabeça

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Mundos, imundos. Minha mentira deixa de ser culpa quando vejo que ĂŠ teu conforto.

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Conselho de outro plano Não me pergunte por que gosto de mato Cheiro de flor e arte com capim dourado Não me pergunte por que eu vivo distraída contando nos dedos sabe-se lá o que dessa vida Não me pergunte o que eu tenho nos olhos Se queima, se arde ou se é só pra retrato Não repare se eu tô rindo demais Apenas ria tambem que já me satisfaz Não me fale mais de política De manda ou desmanda do estado Da cotação do dólar por William Ou que todos do senado são iguais Não julgue os outros . Não se julgue perfeito Não invente pretextos ou argumentos perfeitos Acenda um aí que a gente ganha mais.

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Pra morrer na praia Estou ótima Não espero mais nada Fico roendo as unhas Caminho de lá pra cá Mais olha eu sou paciente Sou sensata e decente A não ser quanto estou meio quente Meio dependente dos teus dentes Não confundo passado com presente Mais sou madura o suficiente Pra saber que o que some é inalcançável Mais o que se espera é insuportável Bem , eu tô ótima Passei o dia ajeitando as coisas Não me desocupei um só minuto Mas quando me sentei na ponta do sofá Peguei o telefone , ele estava mudo .

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Te verticalizando Teu vento me trouxe algo notório Havia uma intenção subeentendida Incomum em outras avenidas Ao mesmo tempo dúvidas na tua vida Gostei confesso! da tua decisão . . Ora pois ,nunca pensei que fosse em vão Bem ou mal entrei no meio de uma confusão Entre a cruz e a espada eu sei que você se sentiu Mas tomou coragem e até se decidiu Veio até mim e não soltou a mão Indo contigo eu ja tava contente Nada atrapalharia a não ser a contramão Da mesma estrada só lembro a ida O jeito de voltar foi torto demais Venho agora mais devagar Estando certa que posso voltar Largando até esse tempo meio louco Ociosa não penso mais tanto Sabes bem onde moro e canto: Onde verticalmente não mais te encanto.

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Destinória Quando chega o dia de alguém se despedir Quem vai querer ficar sozinho, chorar, sentir? Quem vai abarcar a falta com sorriso Quem vai abraçar a vida sem juízo? Tem gente que passa a vida procurando um sentido Tem gente que se pergunta o por que de ter vivido Tem gente resolvendo tudo com suicídio Tem gente que se esvai só por não ter amor de amigo Eu fico aqui me perguntando se é um ciclo Vicioso ou não , isso eu nem ligo Só queria saber se já tava escrito Sem aviso prévio e retorno garantido A gente tem que se conformar por que a vida só tá indo? Tem que viver intensamente, mas com cautela ir seguindo... E mesmo assim ninguém quer perder um sonho dormindo! Quem vai ser o próximo pra eu ir me despedindo? Todo mundo se anestesia mis depois tá aí sorrindo Não acho certo a vida perder sem antes cantar o hino Mas não me engano, querer prever é até um desatino Como se fosse doer menos ao ver tua imagem se despedindo. Como se fosse fácil ver a linha tênue que separa minha vida do teu destino. - Em memória de Lídice Couto Mirla Gomes do Monte e Pedro Melo (avô) 39


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Primeiro Com o estômago embrulhado de presente pra fome Demaquilando os olhos de ressaca Perdida no labirinto da embriaguez Foi assim que começou o primeiro dia do mês .

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Cordão Umbilical Você nasce nu e morre só E o que dói não é a solidão É morrer afogado no amor Que o outro derramou .

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Quiproquós Prematuros

trim triim não toca voz? cala silencio? agudo falta? muito vinte e quatro? chances o problema ? não é campainha é ausência. é perigo. quanto tempo... será que essa poesia aguenta sem seu sentido despedaçar? não é à tinta não é à prazo 43


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Over Dose

Pura ilusão pra luz do sol ! Diga que é tudo mentira Quando alguem lá daquelas bandas Disse que ninguem tava só Que a lua tá pro sol Como ressaca pra maré Que tudo nessa vida Só é assim por quê Deus quer O homem corre pro beijo O diabo no final pra cruz A mulher corre do desejo Culpa da mente intranquila que a seduz De que serviriam as quedas noturnas Sem a leveza dos vôos ? Vamos tirar o diabo da garrafa e beber tudo de uma vez ?

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não é à pressa, fique pra fazer o que tem vontade, ou me deixe à vontade pro acaso imprevisível não desperdiçar .

A cama

perfumada Ou Rosinha, eu te amo.

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Qual o codinome do Pseudo- amor?

A cama

Por onde ele aparece? coisas pequenas puras limpas ou nos acordos ? entre os dedos cabelos, pentelhos romã, romance ímpar Eu não sei . Desconheço quem se lembre do minuto exato em que tal sinônimo se abuleta na gente Desconheço qualquer detector que não seja o da aprumação dentro de alguns minutos alguem vem te levar Tu te acha imune até ver acordando entre aqueles planos o único corpo nu que vai preencher as tuas madrugadas que vai morar no teu espírito cru Desconheço qualquer por quê ou termômetro

perfumada Ou Rosinha, eu te amo.

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Só sei que se sente e ponto! troca o "duvido" pelo " comigo" as hesitações falham Entre olhos claros mãos grandes guardando seios fartos aparece falta que difere de saudade day by day os laços Sem nós, no entanto entre Firmando talvez seja possível saber se isso é o tal do estar amando.

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O copo O copo não engana faz a festa, liquida a grana. O copo tem sede, até parar no tapete nunca é ingrato faz casal contigo trai o próprio prato O copo deixa a língua solta relampejando na madrugada do céu da boca Não tem "treta" por causa de roupa não solta da tua mão nunca, é fiel tá nas vistas . Purifica a timidez, como entortava Raul Controla a maluquez O copo aceita nunca pestaneja copo bandido um copo pra dois corpos amigos Pra cada som um gole No jazz ele costuma chacoalhar gotas que te melam - não se sente, segue a dança. Quando a música materializa um tempo O copo borbulha só sentimento Não há mais belo que o copo cilindrico, infinito molhado, largado na tua janela O copo era o retrato da vida 47


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da roda da pupila dilata o close Do nada comeรงa, Do nada termina O copo era o melhor amante daquela noite pr'aquela menina.

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O homem que não tocava dó Qual o quê! fico pasma com as vistas Quando vira as costas arrisca deita, sonha, nunca acorda A cor do batom revigora No boteco da esquina se mata a viver De gole em gole morde o querer Ânsia quando amanhece Choro sem vela Culpa sem prece e só a minha madrugada a padecer Dê-me a mão, o grão de paz Dê-me as costas, largas e corajosas Sem medo dos homens quietos Protegido pelo sereno Pelo gesto pequeno é assim que eu te gostei, Corrói a música e os meus versos Só é lúcido quando diz : Perdoe moça, mas eu te venero. Fingi rir, espero.

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Será o fim, Serafim? O rodapé da cidade o banco que acolhe a "bike" que foge Neblina quente amor quente , mormaço. De dia maltrata, de noite ingrata te beija, te estraga. Engarrafada sem mapa Depois da meia noite cobra o preço com navalha A rua dos amantes, foco norte encontrando o sul do asfalto infame do prazer de todos os olhos nus

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A vida daquele lugar Alguns chamam de força superior Outros de dono mundo Eu me basto dizendo : -Doutor! E a mãe do Raimundo? Preze por essa vida cansada que já muito de ajoelhou Mas que mesmo de tapete no ventre fez-se presente se abuletou Passagem tranquila se não vigorar Benditos dias ao acordar É preciso pouco È preciso paz Dói de ver a mulher nadando contra o cais Dos filhos da esquina já deu de comer A voz ficou falha da água com sal corroer O espaço que fica entre a pupila e o querer Da vitória divina e o pousar do acontecer Bom se curasse Bom sem doer.

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Esquina O vermelho tortura Belo, branco vapor Es么fago barato, absurdo e intrat谩vel Ondas espalhadas nas esquinas de calor.

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Há Marias x Amarias Como machuca respeitar tuas preces Ai de mim, se eu soubesse contar Marias Fala pras elas que eu nunca faltei na retina De quando agarras toda menina que sonhando esquece Confessa que não tem alfazema Nem lavanda Nem mulher prenda que te faça esquecer o cheiro que fica no travesseiro depois de eu desaparecer E que trocar oas lençóis é um símbolo de que Ana logo vem vindo Pros braços e já desinibida tirar todo o peso do compromisso das desquitadas de Vinícius que se entregaram ao modernismo de te prender ... Diz que os dentes delas não passaram de travas fáceis de se dissolver no tédio Debaixo do prédio deixa a fulana esperando condução No meio do caminho, na multidão Nem precisa eu levantar a mão pra reconhecer A mulher sem hora, a sem candura, de alma quente e nua A primeira imagem da tua aurora já sabe o caminho, só de viver.. Tomar o café, imitar teu bocejo, advinhar teus desejos E ainda assim, entre tantas certidões de destinos que cruzam com os teus Quando a euforia da juventude desopilar do teu fogo Vai dizer que eu sempre fui a mulher que tu pediste a Deus E a tua sorte veio em dobro!

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Quarto de fingir Dos tantos quartos que passaste, imaginaste, confabulaste. Dos tantos cheiros que purificaram os quatro cantos da tua vontade Tu, apenas tu, sem mais ninguem, e por querer sem mim... Mal imaginava que o meu remĂŠdio pra nĂŁo viver teus sonhos Era engolir fio a fio o sono de absinto que tua boca me tragava na madrugada sem fim.

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O calvário do homem que se acomodou no tempo Teus lápis, tuas cores Teu tumulto nos papéis Teu copo cheio de dores Vão se as moças sem anéis Nem "pelo menos" com as flores Tuas falas meio falhas Teus murmúrios de embriaguez Teu sol de dia escuro Neblinando minha lucidez Teus olhos abastecidos Pela beleza da moça da vez Do século entristecido Ora, pois a feição nunca se desfez Faz que acorda mas vive a sonhar Diz que é melhor viver pra não desabar Ingênuo mal sabe que nem vive nem sonha No limbo do balcão vive a espera da moça tão risonha.

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Aos acomodados Quero o ser lisĂŠrgico Por letĂĄrgica estar Quero ser de forma Plena, pluma, puta! Te abro o girassol Gira o olho .

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Inconsequente Evadida De ida De sopro Me sobra Saliva Sal Ida Volto por que posso! Vim por que chamou.

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Inconsequente II Por que tudo que é sujo é belo e eu preciso me sujar pra saber o valor da fonte por que a água purifica o inferno estou no inferno, não por querer só por ser quente e é bom de beber .

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Seduz Vivo por que Sem pressa Sempre essa Essa virtude extinta Mulher que se pinta Nada mais ĂŠ Que o espelho dos homens Gozando tinta .

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O tapete e a vontade N達o me culpa do desatino que te faz desviar -me ironicamente do teu destino N達o me troques pra tocar por tocar-te se ignorar-te sem pudor. N達o me chegue , n達o me cheque, me erga .

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A fé por grama e prestação, presta atenção! O comércio ungido A benção só com dízimo O fiado pelos finados Nem com reza é negócio fechado O agiota do destino certo O sucesso pra não ir pro inferno Os enviados de carro e belos ternos O milagre, o grito, na bandeja seu cérebro. Apologia, alguém esse nome dará. Mas eu não me importo, meu mestre não precisa de cifrão pra me encontrar. Caminhe na estrada do bem, dessa não precisa voltar. -Aquele não é teu pastor e ainda assim pode tudo te tirar.

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Quando o lápis da vida acabar Eu quero me eternizar Vou espalhar poesias pelo ar E o mundo todo eu vou com minhas palavras manchar Se ainda assim não der Minha voz apenas ecoar O mundo tá estranho e não avisa o fim Qualquer hora há vida sem mim.

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A noite nรฃo troca de roupa E a sujeira da roupa da noite eu lavo em casa Na minha ...Na sua ou em qualquer รกgua de estrada . Talvez outra noite possa usar a mesma roupa que ainda tรก limpa Pura ligeiramente amarrotada. Talvez a noite nem se importe em despir o dia E talvez o dia queira ser cru, sรณ por saber que รก tarde a vida fica seminua . E que tem gente na esquina da noite Fazendo o peito se afoitar em qualquer muro nu.

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Bilhete Ă Camilo a paz que tinha nos olhos dele deslumbrava cada gota de insanidade dela .

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Lembranรงa Mas ainda guardo sua foto 3x4 na minha carteira.

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Por te ter

Dois estranhos até pouco. Até que os olhos ficaram rindo Até que você chegasse aqui pra mim cantando Até que o tempo quente não te evapore Me despeço -é certeza que tu volta ! Meus dedos esperam teus fios na tarde Me aprumo com o melhor dos sorrisos Abro a porta logo penso : Lá vem ele! O menino dos meus olhos Me sela os cílios com beijinhos Me aperta bem devagarinho E me segura quando nos botequins eu to caindo Cambaleavelmente amável . . . Pra não haver colapso Resolvi tomar só dose diária É forte, no outro dia abstinência bate Me lembro das tuas poesias Do tempo que eu não te conhecia Tempo ocioso, mal previa o tempo de agora Tempo de fluxos, da noite, das tuas falas Dos teus olhos me encarando 66


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na horizontal Tentando quiçá decifrar meu pensamento Que logo reluz, tu Somente tu , que fez meu coração tomar tento E ver na tua retina o amor que eu, menina Posso dar cada vez que nos teus braços Um tanto quanto embriagada De rum, vinho e felicidade acordar .

[Baseado no romance descrito pela amiga F. S]

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O passeio do escrivão da meia noite Quanto tempo deixei passar ... Esqueci de lavar minhas letras pra pendurar Deixei boca a boca pra cada um saber Que de volta em volta ela se perde sem rimar Dos quartetos tantos que espalhei Dobrados, altas horas falados Deixei que estourasse o tempo capitalista tão esgotado O prazer e o foco ainda não são os mesmos Nem é fácil conciliar O amigo escrito imaginário começa a gritar Se de dia me exponho e faço suar a pele normal À noite me guardo, me mordo, me trago Mas levo minha poesia pra passear.

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Estrada Casa, alma, no meu trilho Boca cheia e sorriso de plĂĄstico no Ăşltimo vagĂŁo.

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A cachaça, a barba e o nada A gente se perde se acha Se pergunta o que há o que falta Mas tem gente que não completa a mesma fase Que desconsidera todas as tuas frases Que perde o tempo em não passar o tempo por assim passar Nada é natural, nada é tão natural, não é possível! É uma dose que desce ardente à noite E no outro dia é só "e aí, boa noite" Nada fica Tudo fica igual Desmedidamente igual E tudo volta a ser imune e seco Dá pena só de pensar Nos coitados que vão o tempo calejar O mundo anda muito precisado... de alguém pra o descascar!

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Visão de açúcar (Fragmentos de acasos na Frei Serafim)

Já não bastasse pagar caro Sem carro , mesmo assim eu não paguei Não paguei , fui gritar De grito em grito todo mundo apanhou Apanhei condução Dispensei a previsão Não previ a condição Mas ainda tive a visão.

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O abusado Talvez pudesse ser só flerte Me encarreguei do encontro Talvez eu já esteja tão acostumada Que não sinta mais a tortura do nada

Não aguento mais tuas histórias São tristes, com essas senhoras Mas você não vê o futuro Não sente que eu tô aqui, agora.

Você quer viver só Eu quero só você Você quer me ter só Pra as vezes ir te ver .

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O homem que quebrou seus ponteiros

A mulher andava na linha De tanto andar suicidou-se enforcada Assassinou lembranças bonitas Reencarnou com outra mágoa O homem só acordava De tanto acordar ficou cansado Recordou os mesmos fatos Porém viveu sempre calado A mulher falava do tempo Das coisas que estão por vir Queria apego no cotidiano Expôs rimas e cantos O homem achava bonito Mas já cansara de tanto pranto O cotidiano o corrompeu E via amor assim de canto Muito lhe cabia sabedoria Mas a flexibilidade não lhe favorecia De olhar pra frente mais sem cuidado De pegar a mão da menina e sorri de lado.

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O figurante coroado Tem gente que de tão grande ocupa todo o espaço Tem gente que normalmente se contenta com um pedaço Tem gente pequena que tem habilidade de dar laços Tem gente que grita tanto mas sempre fica no vácuo Tem gente que se adapta ligeiramente aos fatos Tem gente tão gentil que já no seu chegar se vê anunciado Tem gente que briga por assim brigar Tem gente que assiste a luta pra meditar Tem gente tão sábia que não precisa nem falar Tem gente que desperdiça por desperdiçar Tem gente que que nem se importa se dispersa ficar Tem gente que anda devagar pra não se atrasar .

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Travessia da rotina de um moço Ela passa todo dia pelo mesmo lugar Imaginando quem possa encontrar Pois é Em qualquer avenida não se atira . Ela olha o mesmo moço Imperceptivelmente Ele corresponde ela Naturalmente Depois de avistar tantas senhorinhas Vindo de outras avenidas Teve a certeza de que sabia a diferença No caminhado de cada uma delas Sentenciou atenção a todas Acenou pra todas elas Mais só sorria naturalmente Pra única que achava bela .

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O cego que não sonha mais Ah não é tão fácil Resto, gosto e farrapos Durmo e acordo com o corpo cansado Me mexo, me levo Nunca me trago . As palavras quase sempre repetidas Os sentidos você nunca há de entender Eu não acho tão difícil de perceber Você me entende, você conversa e você não vê Você é só seu . Eu não sei mais por onde anda Nem o que vai fazer Dos seus planos não faço mais parte Da sua vida eu não vou viver Nem pagar pra ver Eu exagero e despejo palavras Palavras que você nem sonha Sonha, sonha com nada Com nada se desperta pra ser . E nada continua a perceber !

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Dei bandeira Eu to escrevendo quase todo dia na mesma avenida Tô tentando não te ver em qualquer alegria Passo pela praça e tento não dar bandeira Subo, vou pra Frei onde lembro do fim .

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Horário de Inverno Eu preciso de tempo Preciso de espaço. Garanto, tá pensando tudo errado. Acelera e diminui o tempo enforca esse espaço. Eu não preciso mais Eu não sinto falta de nada Tô falando a verdade . . Eu não preciso mais que você chegue tarde Eu não sinto falta de nada ,só de você. Não venha. Não fique. idiota! Não venha só me acordar Não fique só aqui pra tarde passar Me carrega logo não deixa o ponteiro parar.

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Instante A vida não é um plano. É plena! Paire.

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Obrigação Levanto Escovo os dentes A me despir, penso no que farei Visto-me Entre a bolsa e o sapato, coerencia Vou pra rua O ladrão me deixa incomunicável Devia satisfações a ele Por não ter saído mais cedo?

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O peso Mas ainda ĂŠ mais preciso nĂŁo ter medo que ter liberdade A liberdade encapuzada de nada te serve .

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Autorretrato

Tarciana Ribeiro

Eu fui feita pra acabar

E não há de ter fim Mesmo que alguém diga que acabou Ainda assim há um resto de mim Na esquina que ele dobrou

Qualquer tom que eu escutar A nota seguinte eu vou saber Quem me diz que é perigoso se dá Eu digo que cabe tudo no querer

Eu sigo assim , feita pra acabar Tem muita gente surda pra saber Que o vento é um dono tonto De todos os destinos impossíveis

Quem me diz que é bom se limitar Eu digo que se até a maré pode encher É falta de amor com o tempo Que vive pra sempre com a alguém que vai o perder!

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Autorretrato

Tarciana Ribeiro

Esclarecimentos sobre direito autoral de imagens As imagens usadas para alguns poemas não são de direito autoria da poeta Tarciana Ribeiro. Todas às imagens foram retiradas aleatoriamente do site de busca Google, com intenção lúdica de ilustrar a obra Autorretrato.

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Sobre a Autora: Tarciana Ribeiro é Teresinense e poeta na essência bruta de sua liberdade. Autorretrato é o livro de estreia de sua carreira como escritora. Leia mais poemas de sua autoria na página 'Escarros Poéticos' do Facebook.



TARCIANA RIBEIRO AUTOR RETRATO

©AUTORRETRATO

POEMAS


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