Dificuldades frequentes da lingua portuguesa

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DIFICULDADES FREQUENTES DA LÍNGUA PORTUGUESA TANIA MARIA STEIGLEDER DA COSTA

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO DA AUTORA MÓDULO 1 - Palavras / expressões que provocam dúvida MÓDULO 2 2.1 Uma só forma correta 2.2 Redundância MÓDULO 3 - Outras questões QUESTÕES PARA AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO FINAL REFERÊNCIAS


APRESENTAÇÃO Em algum momento da sua vida, na fala ou na escrita, você já teve dúvida no emprego de uma palavra ou expressão? "Será desse modo? Ou será de outro? Eu falo (ou escrevo) assim, mas não tenho certeza se está correto..." Esses são questionamentos muito mais frequentes do que possamos imaginar, quando nos vemos frente a um texto falado ou escrito. Diante dessa realidade, apresentamos-lhe um material para orientação no emprego da língua portuguesa no padrão culto, ou seja, aquele exigido em situações mais formais de comunicação; desse modo, você poderá comunicar-se com segurança, clareza e elegância. No módulo 1, são analisadas palavras e expressões que, no cotidiano, podem deixar você, caro aluno, em situação difícil e, até mesmo, embaraçosa. Isso porque elas são muito parecidas, possibilitando uma troca inadequada no seu emprego, em textos orais ou escritos. Já o módulo 2 contempla casos de fala ou escrita de palavras / expressões que apresentam uma única forma correta, considerando-se o nível culto da língua, mas que, por haver forma correspondente no nível coloquial, podem deixar dúvida no momento da escolha. E o módulo 3 aborda outras questões da língua em uso que, igualmente, costumam provocar dificuldade no emprego. Esperamos que o presente trabalho possa levar a você muitas soluções e certezas, a fim de que sua comunicação seja aprimorada. Bom trabalho!

APRESENTAÇÃO DA AUTORA Tania Maria Steigleder da Costa é graduada em Letras Português pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (1980), especialista em Administração e Planejamento para Docentes pela Universidade Luterana do Brasil - ULBRA (1985) e doutoranda em Educação pela Universidad Pontifícia de Salamanca (Espanha). Atuou como docente de língua portuguesa em cursos de Graduação e, por mais de 20 anos, em curso de Licenciatura em Letras presencial e a distância, nas áreas de morfossintaxe, produção textual, redação técnica e supervisão de estágios. Foi membro da Banca de Avaliação das Redações do Processo Seletivo da ULBRA e membro da equipe de elaboração, aplicação e avaliação de provas de Proficiência Internacional em Língua


Portuguesa realizadas anualmente, por essa mesma Universidade, em Montevidéu (Uruguai). MÓDULO 1 Palavras/expressões que provocam dúvida Neste módulo, consideraremos expressões parecidas na fala ou na escrita, mas com significados diferentes. 1- acerca de / a cerca de / há cerca de Trata-se de expressões absolutamente iguais na fala, porém com significados muito diferentes. Se você grafar uma pela outra, poderá alterar significativamente seu texto ou, até mesmo, deixá-lo sem sentido. Se você quer dizer sobre, a respeito de, empregue acerca de, como em: Conversaremos acerca de seu caso no próximo encontro. ↓ sobre Já com o significado de tempo futuro aproximado ou de distância aproximada, deve empregar a cerca de. Veja os exemplos: Chegarei daqui a cerca de quinze minutos. (em aproximadamente quinze minutos) Estou a cerca de dois quilômetros de sua casa. (a aproximadamente dois quilômetros) Entretanto, se você está referindo tempo passado aproximado, deverá usar a forma há cerca de: Já estamos a sua espera há cerca de duas horas! (ou seja, faz aproximadamente) 2- tão pouco / tampouco Apesar de muito semelhantes na fala, essas expressões têm diferença na significação. Tão pouco corresponde a muito pouco, como podemos ver em: Temos tão pouco tempo para o lazer e tantas tarefas a realizar! Tampouco, entretanto, significa também não, conforme o exemplo: O professor não sabia isso, eu tampouco.


3- a fim / afim Na forma escrita, há significativa diferença de sentido. A fim empregamos em substituição a para, como vemos no exemplo: Todos estamos aqui a fim de estudar. (no intuito de estudar) A forma afim apresenta duas possibilidades; nesses casos, funciona como adjetivo e, portanto, pode variar em número, concordando com o substantivo ao qual se refere. Vejamos: a. no sentido de semelhança: Seu pensamento é afim ao meu. (semelhante ao meu) b. no sentido de parentesco não consanguíneo: Sogra e genro são parentes afins. 4- ao encontro de / de encontro a Preste atenção a essas expressões, caso contrário, você poderá expressar exatamente o inverso do que pretende! Ao encontro de significa a favor de. Veja: Votarei neste candidato, pois minhas idéias vão ao encontro das que ele apresenta. Se, todavia, você quer expressar desacordo, empregue de encontro a: Não apoio esse candidato, pois as idéias dele vão de encontro às minhas! Podemos, nessas expressões, apelar para a seguinte associação: - ao encontro= a favor - de encontro= desacordo 5- estada / estadia Embora grande parte dos falantes empregue indistintamente essas palavras, elas têm, em rigor, uma diferença bem significativa. Usamos estada quando queremos dizer tempo de permanência de pessoas ou de animais em determinado lugar. Assim: Minha estada nesta cidade foi muito gratificante! A estada de meu cão no hotel para animais foi de três dias.


Quando, porém, nos referimos a tempo de permanência de veículos em determinado lugar, usamos estadia. Exemplo: Ao viajar, paguei a estadia do meu carro no próprio aeroporto. 6- em vez de / ao invés de Também essas expressões são, frequentemente, empregadas como se fossem sinônimas, o que não é correto. Em vez de significa mera escolha, ou seja, troca de alguma coisa por outra qualquer. Assim: Devia ter ido à aula, mas, em vez disso, foi ao cinema. Ir à aula e ir ao cinema, é óbvio, não são ações contrárias! Já ao invés de significa ao contrário (invés lembra inverso): Para chegar ao local, ao invés de subir, desça a rua! Subir e descer são ações inversas. 7- a princípio / em princípio A simples mudança da preposição que antecede a palavra determina mudança de significado. A princípio quer dizer no começo, inicialmente: Você, a princípio, pensou como eu. Nesse caso, quer-se dizer que, inicialmente, houve pensamentos iguais. Em princípio tem o significado de em tese, teoricamente: Você, em princípio, é contra a pena de morte. Aqui, o que se afirma é que você tem um posicionamento teórico; na prática, ou seja, no caso real, talvez haja outra possibilidade. 8- proeminente / preeminente A simples troca de uma letra determina forte mudança no significado dessas palavras. Assim, veja: Proeminente significa saliente no aspecto físico: nariz proeminente, queixo proeminente, barriga proeminente... Com a idade, os homens tendem a adquirir uma barriguinha proeminente...


Trata-se da saliência de uma parte do corpo, visível para todos. Preeminente tem relação com saliência, igualmente, mas no sentido cultural ou profissional: Participará do debate preeminente autor de várias obras sobre o tema. Já esse destaque ou saliência, que não se refere a aspecto físico, não pode ser visto, mas sim percebido pelo aspecto cognitivo. 9- vultoso / vultuoso Muito confundidas na fala, essas palavras têm significativa diferença, na língua culta. Se você quer dizer que algo é enorme, de muito vulto, empregue vultoso: Foi investigado vultoso desvio de verbas públicas no município X. ↓ grande A palavra vultuoso significa inchado e tem relação com uma deformidade, sendo o resultado de uma doença. Veja: Após a cirurgia, a atriz ficou com os lábios vultuosos. ↓ inchados 10- em fim / enfim Mais uma dupla de expressões que não apresenta diferença na fala, porém na escrita sim. Em fim empregamos para significar no final, ao término. Veja: Após trinta anos de trabalho, está em fim de carreira. (ou seja: no final da carreira) Enfim significa finalmente; trata-se de um advérbio, como em: Estava ansioso pela formatura e, enfim, esse dia chegou! (ou seja: finalmente) 11- para eu / para mim Ambas as construções são legítimas, desde que observemos a peculiaridade da frase.


Empregamos para eu - pronome pessoal reto - sempre que, após essa expressão, houver um verbo no infinitivo. Vale lembrar o que é infinitivo: forma verbal que, comumente, se diz ser "aquela que dá nome ao verbo" e tem as terminações: ar (1ª cantar, expressar, lembrar), er (2ª- comer, entender, fazer) e ir (3ª- pedir, dormir, distinguir). Vamos ao exemplo: Pediram para eu fazer uma saudação aos visitantes. Esse emprego explica-se gramaticalmente: havendo verbo - fazer -, o pronome exerce a função de sujeito: quem fazer? Eu. Sabemos que, nessa função, somente o pronome pessoal reto pode ser empregado, jamais o oblíquo. Já nas demais situações, ou seja, em que o pronome pessoal exerce a função de complemento, empregamos para mim - pronome pessoal oblíquo: Para mim, essa situação já chegou ao limite! 12- se não / senão Em se não, com duas palavras, temos um se - condicional - e um não - negação. Nesse caso, uma condição negativa, equivalendo a caso não: Farei o que pedem, se não houver empecilho. (caso não haja empecilho) E senão, como uma só palavra, pode apresentar mais de um significado: a. caso contrário: Faça o que lhe pedem, senão haverá punição. b. a não ser: Nada disse, senão o que esperavam ouvir. c. sem que: Ele não faz uma afirmação senão esteja convencido dela. d. exceto: O acusado nunca se manifestou, senão naquele momento difícil. e. como substantivo, no lugar de problema, erro (nesse caso, sofre as flexões do substantivo e é precedido de um artigo ou de outro determinativo, como pronome ou numeral, por exemplo): Sua fala tem um senão: é muito prolixa. ↓ artigo Há dois senõezinhos nesse texto, deves corrigi-los! ↓ numeral


13- porventura / por ventura Em geral, essa é uma dificuldade que muitos usuários da língua nem percebem ter, pois desconhecem a existência das duas possibilidades com diferentes aplicações. Então, vejamos: Porventura pode ser substituída pela expressão por acaso. Ex.: Você, caro leitor, porventura conhece o autor desta obra? E a expressão por ventura corresponde a por sorte: Você, por ventura, já conhece este autor, pois participou de um encontro literário em que ele era palestrante. 14- abaixo-assinado / abaixo assinado De uso frequente em ambientes escolares, essas expressões comumente são confundidas. Veja como fazer para isso não acontecer com você. Um abaixo-assinado é um documento coletivo, que reúne certo número de assinaturas de pessoas que buscam apresentar um pedido a quem de direito possa realizá-lo. Ex.: Um abaixo-assinado com quinhentas assinaturas foi encaminhado ao Prefeito Municipal, solicitando que a rua X seja calçada. A expressão abaixo assinado designa cada uma das pessoas que assina o documento de solicitação coletiva, dirigido a alguma autoridade. Geralmente inicia o documento. Veja como empregá-la: Nós, abaixo assinados, solicitamos ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal que destine verba para o calçamento da rua X, a fim de ... 15- onde / aonde Por ambas essas palavras expressarem lugar, são facilmente confundidas quando empregadas, tanto na oralidade quanto na escrita. Gramaticalmente, entretanto, há diferença entre elas. Onde empregamos quando queremos dizer, simplesmente, em que lugar. Seu uso se restringe a verbos estáticos (que não indicam movimento): estar, ficar, permanecer, por exemplo) Assim:


Onde estão meus livros? ( ou seja: em que lugar) Aonde, por conter a preposição "a", indicativa de direção, significa para que lugar. Usamos com verbos dinâmicos, que expressam movimento, como ir, dirigir-se, chegar e outros. Vejamos o exemplo: Aonde você se dirige, sem a autorização dos responsáveis pelo local? Existe, ainda, a palavra donde, de emprego mais restrito; contém a preposição "de", que expressa origem, como em: Não sei donde ela vem... 16- conjetura / conjuntura Até mesmo nos meios mais cultos presenciamos equívocos no emprego dessas palavras que, em geral, são empregadas com um só significado. Conjetura (ou conjectura) quer dizer suposição, situação hipotética. Ex.: É bom não tomarmos decisões baseados em conjeturas; vamos aguardar a confirmação dos fatos. Conjuntura significa situação, circunstância. Ex.: Nossas decisões foram acertadas, pois a conjuntura confirmou-se propícia. 17- despercebido / desapercebido Essas duas palavras são muito empregadas como sinônimas; todavia, além dessa possibilidade, há alguma diferença. Então, vejamos: Despercebido significa não percebido, não notado, como em: Com uma vestimenta discreta, a atriz passou despercebida pela multidão. Desapercebido também significa não percebido, não notado; todavia, pode, ainda, ser usado como desaparelhado, desprevenido, descuidado. Isso significa que tem um sentido mais amplo. Observe os exemplos: Não pude adquirir a coleção que desejava, pois estava desapercebido (desprevenido) de verba ...


Como eu estava desapercebido (descuidado), puderam me surpreender em uma situação constrangedora... Alguns autores consideram essas últimas significações de "desapercebido" fora de uso, tendo permanecido apenas a primeira, como sinônima de despercebido. Os dicionários, de qualquer modo, registram a diferença. 18- genitor / progenitor Há grande confusão no emprego dessas duas palavras, como se uma só fossem a possibilidade e o respectivo emprego. Vejamos a diferença. Genitor quer dizer o pai, aquele que gera. Ex.: Não fui criado pelos meus genitores, mas por um casal de tios que considero como meus pais. Progenitor apresenta o prefixo "pro", designativo de anterioridade; portanto, progenitor é aquele que vem antes do genitor, ou seja, o avô. Ex.: É muito comum que os progenitores sejam mais condescendentes com seus netos do que o foram com seus filhos... 19- ótico / óptico Em rigor, são palavras que se referem a diferentes órgãos do corpo humano. Ótico vem de ouvido; daí a otite, ou seja, a inflamação do ouvido. Já óptico deriva de visão, originando, por exemplo, o nome da casa que trabalha com artigos para a visão: Óptica X, Óptica Y. Na prática, porém, as duas palavras são usadas indiscriminadamente, nessa última significação, sendo que a primeira - ótico - é mais difundida. Por essa razão, vê-se, também, a Ótica X, a Ótica Y... Já para ouvido, apenas a forma "ótico" é aceita. 20- desmitificar / desmistificar É bastante comum o emprego dessas duas palavras, especialmente em textos orais ou escritos na modalidade culta da língua; nem sempre, todavia, na forma correta! Vejamos a diferença. Desmitificar vem de mito, antecedido do prefixo "des", que significa ausência, falta. Desmitificar, então, quer dizer retirar de alguém a característica de mito (pessoa


considerada exemplar, em sua atividade, ou, como diz a sabedoria popular, um "monstro sagrado"), banalizar, como no exemplo: O famoso jogador, ao cometer gol contra, foi desmitificado pela imprensa especializada... Desmistificar vem de místico, igualmente precedido do prefixo "des". Mistificar é mascarar, enganar. Acrescido do prefixo, quer dizer desmascarar, revelar o caráter enganoso de alguém. Ex.: A publicação das falcatruas desmistificou a entidade que se dizia "caritativa". 21- as / ás/ az Pequenas diferenças originam grandes erros, no caso do emprego dessas palavras em textos escritos. A primeira delas, as, é um simples artigo definido; como tal, acompanha substantivos, determinando-lhes o gênero (feminino) e o número (plural). Ex.: As palavras proferidas dificilmente podem ser corrigidas. A segunda, ás, refere o nome de uma carta do baralho ou, ainda, uma pessoa que se destaca em sua atividade. Veja o emprego, nessas duas condições: Neste jogo, o ás tem o valor do um. (carta do baralho) O Brasil já teve um ás do volante... (um exímio profissional do volante) A terceira e última, az, significa ala de exército, fileira. Por ficar restrita à área militar, é menos empregada. Ex.: Aquele valoroso oficial comandou um az de dedicados soldados. 22- quantia / quantidade Pode não parecer, mas há um uso específico para cada uma dessas palavras. Quantia restringe-se a valores pecuniários (em dinheiro): Nem sempre a quantia que recebemos é a que necessitamos... Quantidade é empregada para qualquer outro contexto, como em: Qual a quantidade de pessoas que virão ao evento?


23- sobrescrever / subscrever Podemos fazer uma analogia, nessas duas palavras, com sobre e sub, que, significam, respectivamente, em cima e embaixo. Sobrescrever (escrever sobre) é endereçar, ou seja, escrever o endereço no envelope ou na folha que se usa para determinada correspondência. Veja o exemplo: Você já sobrescritou a carta que lhe entreguei para pôr no correio? Subscrever é assinar, escrever embaixo de algo escrito. Assim: Veja só, escrevi a carta e esqueci-me de subscrevê-la! 24- com nós / conosco Na língua coloquial, familiar, sobrevive apenas a primeira forma: com nós. Entretanto, há usos específicos para ambas as formas, que querem dizer a mesma coisa. Com nós empregamos quando, após essa expressão, houver uma palavra determinativa, do tipo todos, mesmos, próprios, outros, ou ainda uma expressão numérica. Veja os exemplos: A diretora já havia falado com nós todos sobre esse caso. Você gostaria de sair com nós três? Conosco empregamos em qualquer outra situação: Você gostaria de sair conosco? Conosco ninguém falou sobre isso! 25- todo / todo o Tanto no masculino como no feminino, há diferença de significado se empregarmos a palavra todo com ou sem o artigo. Todo (ou toda) é um termo generalizante, indicando a totalidade, e pode ser substituído por qualquer. Veja: Toda criança precisa de cuidados. ↓ qualquer Todo o (ou toda a) significa por inteiro, do início ao fim, dos pés à cabeça. Assim:


Todo o trabalho contém erros! ↓ o trabalho inteiro Já a mesma expressão, quando pluralizada, é empregada sempre com o artigo: todos os, todas as, indicando uma generalização. Assim: Todos os brasileiros sabem da importância da Educação. ↓ a totalidade 26- mais bom / melhor Por incrível que pareça, existe a possibilidade do uso de mais bom! Assim, de modo descontextualizado, essa expressão pode causar estranheza, pois tem o mesmo significado de melhor, que é mais empregado. Mais bom usamos em comparações, desde que se comparem duas qualidades referentes a um ser, sendo que uma delas é a da bondade. Ex.: Você me parece mais bom que esperto... Melhor usamos, igualmente em comparações, nos demais contextos. Ex.: Você me parece melhor que seu irmão. 27- mais bem / melhor A exemplo do item anterior, a expressão mais bem, equivalente a melhor, pode nos surpreender. É possível usá-la? Sim, em contexto específico. Mais bem devemos empregar quando, após, vier um verbo no particípio. Vale lembrar: particípio é a forma nominal do verbo que tem as terminações ado, na 1ª conjugação, e ido, na 2ª e na 3ª. Assim: falar - falado; contar - contado; comer - comido; dizer - dito (forma irregular); dormir - dormido; fugir - fugido. Ex.: Seu trabalho está mais bem feito que o meu! (feito: particípio irregular do verbo fazer) Melhor empregamos nas demais situações. Ex.: Seu trabalho de português está melhor que o de inglês. 28- a par / ao par


Como outras expressões com semelhança na pronúncia e na escrita, essa é empregada indistintamente, valendo uma pela outra. Isso porque o sentido de uma delas é mais comum, aparece mais no nosso cotidiano. A primeira delas, a par, significa estar ciente, ter conhecimento. Veja: Todos estamos a par dos fatos veiculados na imprensa. A outra, ao par, embora seja confundida com a primeira, tem outro sentido, restrito à área das finanças. Significa equiparação, igualdade. Ex.: Quando o real foi introduzido como moeda brasileira, estava ao par com o dólar. (ou seja: um real valia um dólar) 29- a moral / o moral Empregadas em contextos bem diferentes, a primeira no sentido científico e a segunda no popular, essas expressões têm seu uso, em geral, confundido. A moral é o conjunto de valores concernentes à conduta humana, em determinados grupos sociais. Assim: A moral dominante no Ocidente, em alguns aspectos, é diferente da do Oriente. O moral significa estado de espírito, ânimo. Ex.: Quando seu time perde um título, o brasileiro fica com o moral abalado... 30- bebedor / bebedouro Talvez você já tenha se deparado com esta dúvida: empregar uma ou outra das palavras acima. Será que ambas existem? Terão o mesmo valor? Serão empregadas em quais contextos? Bebedor, como outras palavras com essa terminação - dor -, remete a um agente, ou seja, a alguém que realiza uma ação; no caso, o ato de beber. Bebedor, então, é aquele que bebe. Assim também temos comprador - aquele que compra -; trabalhador aquele que trabalha; consumidor - aquele que consome, e assim por diante. Veja o exemplo: Meu amigo é um grande bebedor... de leite! Bebedouro, com a terminação - douro -, refere um lugar, no caso, o lugar onde se bebe. Podemos encontrar essa mesma derivação em paradouro - lugar onde se para; comedouro - lugar onde se come; matadouro - lugar onde se abate o gado. Exemplo:


A escola instalou vários bebedouros em suas dependências. 31- bimensal / bimestral Muito usadas em contextos escolares, essas palavras não devem ser confundidas, pois determinam espaços de tempo diferentes. Bimensal é aquilo que ocorre duas vezes no mês, ou seja, no decorrer de 30 dias. Encontramos também, com facilidade, essa palavra em referência a publicações escritas. Veja os exemplos: Você que é feliz, tem recebimento bimensal de salário! A revista que lhe indiquei tem publicação bimensal. Bimestral, igualmente com o prefixo bi, é o que ocorre a cada dois meses. Exemplo: Em suas avaliações bimestrais, a escola considera inúmeras formas de trabalhos realizados pelo aluno. 32- ante / anti Ambas são prefixos, quer dizer, precedem palavras, atribuindo a elas um significado diferente. Vejamos como isso ocorre. Ante, com o valor de prefixo, atribui à palavra o sentido de anterioridade, como em: Na citação, você deve antepor o sobrenome do autor e a data de publicação da obra. ↓ pôr antes Note bem: há, também a palavra ante, que é uma preposição e significa diante de: Todos ficaram maravilhados ante a obra apresentada pelo famoso artista. ↓ diante da Anti, prefixo, refere oposição, contrariedade, como em: Em caso de gripe, use um antigripal adequado. ↓ contra gripe


33- diferençar / diferenciar Tanto em um quanto em outro caso, a relação que fazemos é com o substantivo diferença. Entretanto, para os verbos, há um entendimento específico. Se você disser que deseja diferençar uma coisa de outra, está significando que vai distingui-las, ou seja, estabelecer a diferença entre elas. Assim: Vou diferençar para você um verbo regular de um irregular. Já se você disser que vai diferenciar algo, significa que vai mudar, alterar esse algo. Veja: O passar dos anos foi diferenciando as marcas no seu rosto... 34- mandato / mandado Trata-se de palavras muito parecidas, tanto na oralidade quanto na escrita e, por isso, são facilmente confundidas até mesmo por pessoas bem escolarizadas. Ouve-se, por exemplo: "Será que o juiz vai expedir este mandato de segurança?" Provavelmente não! Isso porque o magistrado pode expedir ou não um mandado, não um mandato. Vamos examiná-las. Um mandado é uma ordem escrita emanada de uma autoridade judicial. É o caso da frase acima. Portanto, o correto seria: Será que o juiz vai expedir este mandado de segurança? Mandato é o poder dado a alguém por outrem; delegação, incumbência. Seria o caso dos exemplos: Eu não tenho mandato (delegação) para falar em seu lugar, mas conheço sua opinião. O mandato (poder político conquistado em eleição) dos prefeitos e vereadores é de quatro anos. 35- a fora / afora Mais uma vez, a simples junção ou separação de uma partícula a um nome pode mudar todo o sentido do que se diz. A fora, com a separação do "a", é o oposto de a dentro; esse "a" corresponde a "para", como podemos ver em:


Estávamos na sala e, de dentro a fora, tivemos a impressão de que estava nevando. ↓ para fora Afora, como uma só palavra, é usada nos demais casos, podendo ser substituída simplesmente por fora (advérbio, oposto a "dentro"). Vejamos os exemplos: Podemos encontrar muita gente boa por este mundo afora. Afora a família, ele ainda se lembrou dos amigos no testamento. 36- apurado / acurado É uma interessante dupla, com várias observações a serem realizadas. Primeiramente: a segunda forma, acurado, é praticamente inexistente na língua coloquial. E, na culta, nem sempre é empregada de forma correta, sendo, facilmente, trocada pela outra forma. Vamos analisar esses casos. Acurado, como adjetivo que é, sofre flexões e tem o significado de cuidadoso. Podemos dizer, por exemplo: O professor realizou acurada revisão em meu trabalho. Apurado, igualmente, é adjetivo e sofre flexões. Há dois significados para essa palavra: o primeiro é refinado, como em: Percebe-se que você tem gosto apurado... Já o segundo é averiguado, estudado, como em: Na análise do caso, ficou apurado que não houve má-fé dos envolvidos. 37- vestuário / vestiário Parece fácil, e realmente é, mas provoca certa dúvida e algum emprego equivocado. Usamos vestuário significando vestimenta, conjunto de peças que compõem um traje. Assim: Aquela cantora se destaca pelo vestuário extravagante com que se apresenta... E vestiário é, nada mais, nada menos, que o local onde se troca de roupa. Ex.: Nossa loja tem um amplo vestiário, oferecendo mais conforto ao cliente. 38- aprender / apreender


Com significados muito similares, essas palavras são, muitas vezes, tomadas uma pela outra. Todavia, há diferença entre elas. Aprender significa instruir-se, adquirir conhecimento ou prática de algo que não se sabia anteriormente. Aprendemos a ler, a falar outro idioma, a cantar, a dançar, a respeitar as leis e assim por diante. Vejamos o exemplo: Consegui aprender o teu idioma em tão pouco tempo! Apreender significa compreender, assimilar com profundidade algo que se aprende. Portanto, precisamos apreender o que aprendemos... Assim: Apreendendo os conhecimentos, temos mais condições de repassá-los aos outros. 39- com quanto / conquanto A expressão com quanto compõe-se de um pronome - quanto - antecedido de uma preposição - com. Como pronome, o quanto é flexionado, de acordo com o nome que acompanha. Assim: quantos dias, quanto calor, quanta capacidade, quantas vezes. Nesse emprego, não há dúvida com relação ao seu significado. Vejamos os exemplos: Agora eles vão ver com quantos paus se faz uma canoa! Preciso saber com quanto dinheiro posso contar para a viagem. Já a forma conquanto não é muito empregada na fala usual, por isso, surge a dificuldade. Equivale a embora e se trata de uma conjunção, isto é, uma palavra invariável, com função relacional: faz a conexão entre orações do texto. Então, vamos aos exemplos: Conquanto esteja cansado, assim mesmo seguirei minha busca. Tudo sairá bem, conquanto haja grandes dificuldades. 40- com tudo / contudo Com tudo é uma expressão constituída pelo pronome "tudo", antecedido da preposição "com", significando com todas as coisas. De uso fácil, não é comum que provoque dúvidas, mas não podemos trocá-la pela outra forma. Ex.: Agora é fácil acertar, com tudo o que aprendemos.


A forma contudo é que pode deixar margem a erros no emprego. Trata-se de uma conjunção com sentido de oposição, que tem o mesmo significado de mas, porém, todavia, entretanto, no entanto. Ex.: Aprendemos muito, contudo podemos não acertar sempre. 41- discriminar / descriminar Típicas palavras parônimas, isto é, que apresentam semelhança na escrita e na pronúncia, mas que têm significados bem diferentes. Discriminar pode ter três significados: - distinguir, ou seja, notar a diferença entre dois elementos. Ex.: Você deverá discriminar o bom alimento daquele prejudicial à saúde. - relacionar os diversos itens de uma lista. Ex.: Há quem goste de que sejam discriminados seus gastos, nos restaurantes. - fazer diferença entre pessoas, credos, raças. Ex.: No Brasil, há uma lei que proíbe a discriminação racial. Descriminar é uma palavra derivada de crime, que recebe o prefixo "des"; significa retirar o caráter de crime, isentar de culpa. Assim: Há movimentos que pretendem descriminar essa substância. 42- história / estória Muito se tem lido e ouvido com relação a essas palavras, no que tange à existência da segunda forma. Os dicionários, porém, registram as duas, dando-lhes a devida distinção. História, de acordo com eles, é a evolução da humanidade ao longo do seu passado e do seu presente. Nesse caso, deve ser grafada com letra maiúscula. Admitese, ainda, que seja a designação de fato real, verídico. Ex.: A História nos traz muitos ensinamentos que nem sempre aproveitamos. A história que você me contou é reproduzida em muitos livros. Estória, sempre com letra minúscula, significa ficção, narrativa fantasiosa, lenda ou, até mesmo, mentira, conversa fiada. Ex.: Ainda hoje me lembro das estórias contadas por meu avô... Você acreditou nessa estória sem pé nem cabeça?


43- meio / meia Nessa palavra, há um emprego específico para cada significado que assume, no contexto. Assim, vejamos: - significando metade: usamos meio para o masculino e meia para o feminino, como em: Use meio quilo do produto, para obter o efeito desejado. A receita indica o uso do suco de meia laranja na massa. - significando uma peça do vestuário: trata-se de um substantivo, em que usamos apenas a forma meia (ou no plural, meias): Perdi uma meia deste par! - significando um tanto, um pouco: funciona como advérbio, que é uma palavra invariável; a única forma correta é meio, não apresentando flexão de gênero nem de número: Você hoje me parece meio cansada, cara amiga... O rapaz ficou meio indignado com a atitude do amigo...


MÓDULO 2 2.1 Uma só forma correta Neste item, abordaremos casos de palavras ou expressões que, na língua culta, apresentam uma única forma. 1- Existe uma grande diferença entre mim e ti. ou Existe uma grande diferença entre eu e tu. Está correta a primeira frase! A segunda opção não existe, pela norma culta de língua. Isso se explica porque, regra geral, após preposição, os pronomes pessoais de 1ª e de 2ª pessoa do singular (eu, tu) só podem ser usados na forma oblíqua: mim, ti. Nas demais pessoas verbais, usamos os pronomes pessoais retos após preposição. Vamos lembrar alguns casos: - sem mim (1ª pessoa do singular), sem ti (2ª pessoa do singular), pronomes oblíquos; mas sem ele (3ª pessoa), sem nós (1ª pessoa do plural), sem eles (3ª pessoa do plural), pronomes retos; - contra mim, contra ti, oblíquos; mas contra ele, contra nós, contra eles, retos; - em mim, em ti, oblíquos; mas em ele (ou melhor: nele, forma aglutinada), em nós, em eles (neles), retos. Essa mesma frase, com outros pronomes que não da 1ª e da 2ª pessoas, portanto, terão as formas retas: Existe uma grande diferença entre nós e eles. Mas, se um dos pronomes for de 1ª ou de 2ª pessoa, esse fica na forma oblíqua: Existe uma grande diferença entre ele e mim. (ou entre mim e ele, indiferentemente) ↓

3ª pes.

1ª pes.

(reto)

(oblíquo)

2- a nível ou em nível? Amanhã haverá uma reunião em nível de diretoria. Embora essa seja a única forma possível, para o caso, prefira-se simplificar: Amanhã haverá uma reunião de diretoria.


Note que a expressão é desnecessária, nada acrescenta ao sentido. Há , ainda, as expressões no nível, de nível e ao nível, também corretas, conforme o caso: Um dia hei de me encontrar no nível em que ele está! Trata-se de um imóvel de nível médio. Algumas cidades ficam ao nível do mar. A única forma inexistente, na língua culta, é a nível que, incrivelmente, é a mais empregada! 3- a cores ou em cores? A TV em cores foi uma bela invenção, à época. Podemos fazer uma analogia com: voto em branco, desenho em preto e branco. Você não diria voto a branco, desenho a preto e branco, não é mesmo? Então, por que usar TV a cores? 4- a domicílio ou em domicílio? Para seu conforto, fazemos entrega em domicílio. Você faz uma entrega em algum lugar, não a algum lugar! Esse emprego, na língua corrente, não tem sido observado... 5- grosso modo ou a grosso modo? Estavam presentes, grosso modo, umas trinta pessoas. Trata-se de uma expressão latina que veio para o português sem alteração. Significa por alto, de modo superficial, sem uma análise mais profunda. No exemplo citado, havia a presença de aproximadamente trinta pessoas, talvez um pouco menos, talvez um pouco mais. 6- alto e bom som ou em alto e bom som? Já lhe disse alto e bom som: não haverá represálias. Significa com clareza, com todas as letras. Ouve-se, também, às vezes, alto e bom tom. Trata-se de forma da língua coloquial. Nada tem a ver com altura do som, da fala, mas sim com a sua imediata compreensão.


7- haja vista ou haja visto? Tudo correu bem, haja vista o prêmio ter sido entregue pessoalmente. A expressão haja vista é invariável, significando tenha em vista, veja. Trata-se da junção de uma forma do verbo haver - haja - com a palavra vista - de visão -, que é invariável: a vista é a única forma. Há registro, em algumas referências bibliográficas, da possibilidade de o verbo variar em número, concordando com a expressão posposta: Tudo correu bem, hajam vista os prêmios entregues. Nesse caso, como a expressão posposta está no plural - os prêmios entregues, o verbo flexiona-se também no plural - hajam. 8- a presença ou as presenças? Registramos a presença dos professores homenageados neste ato. A palavra presença, como substantivo abstrato, não flexiona. Ocorre, porém, a possibilidade de flexionar, em outro emprego: Colega, já registrei as suas presenças no livro-ponto. 9- berruga ou verruga? Ela tem uma verruga na ponta do dedo! A forma berruga é de uso popular, gramaticalmente usamos verruga. 10- tinha chego ou tinha chegado? Não sabia que você tinha chegado tão cedo. A forma do particípio do verbo chegar é, unicamente, chegado. A outra é de nível coloquial, devendo ser evitada na língua culta. 11- face a ou em face de? Em face dos acontecimentos, os planos foram mudados. Essa construção é a adequada na nossa língua, embora se use muito a outra, que é uma forma afrancesada. 12- companhia ou compania? Sua companhia me agrada muito... A pronúncia da palavra é tal qual sua grafia, com nh, e não somente n.


13- isso me indigna ou isso me indiguina? Esse tipo de notícia me indigna. O verbo é indignar, indignar-se, logo, em todas as suas formas conjugadas, o g se mantém. Você talvez já tenha ouvido a forma indiguina, indiguinado, porém, trata-se de uso popular e não gramatical. 14- mal e porcamente ou mal e parcamente? Um bom número de brasileiros mal e parcamente assina o nome. A expressão significa de modo simples, elementar, podendo ser substituída por apenas, somente, unicamente. Parcamente vem de parco, ou seja, pouco, como em parcos recursos. 15- duzentos gramas ou duzentas gramas? Por favor, me dê duzentos gramas de queijo. A unidade de medida é um grama, o grama, portanto, o numeral deve concordar no masculino. Se você disser duzentas gramas, estará se referindo ao vegetal a grama. 16- aspiral ou espiral? Gosto de caderno espiral, é mais prático. Espiral vem de espiras, ou seja, volteado como a rosca de um parafuso. A outra forma não existe. 17- perante vocês ou perante a vocês? Fico à vontade perante vocês, haja vista nossa velha amizade. Trata-se de duas preposições empregadas juntas: perante e a, o que não se justifica. 18- uma mão de tinta ou uma demão de tinta? Esta parede está precisando de uma demão de tinta branca. Demão significa camada da cal, tinta ou verniz, por isso, está correta essa forma.


19- água saloba ou água salobra? Foi aberto um poço na região, mas a água era salobra. Apesar de a outra forma ser amplamente usada, gramaticalmente não existe. 20- meretíssimo ou meritíssimo? Essa forma de tratamento é dirigida unicamente a juízes e juízas de Direito. Supostamente, essas são pessoas de grande mérito, por isso, meritíssimo, que é o superlativo absoluto sintético do adjetivo. A outra forma é incorreta. 21- de repente ou derrepente? A palavra é repente, antecedida da preposição de; significa de súbito, repentinamente, subitamente. Portanto: O candidato chegou e, de repente, começou a falar. 22- repetir o ano ou repetir de ano? Estudante que não vai bem na escola repete o ano (escolar), e não de ano. Ocorre que se faz uma confusão entre o ano escolar e o ano civil. O ano escolar se pode repetir; já o ano civil não, pois o tempo não volta jamais... 23- namorar a pessoa ou namorar com a pessoa? O verbo namorar é transitivo direto, isto é, não pede preposição. Portanto, quem namora, namora alguém e não com alguém. Você realmente quer namorar a minha amiga? Essa confusão talvez aconteça por analogia com os verbos noivar e casar-se, que pedem a preposição "com": noivou com minha amiga; casou-se com a primeira namorada. 24- é de menor ou é menor? A pessoa é menor de idade ou é menor, nunca de menor. Os infratores são menores, por isso foram entregues ao Conselho Tutelar. 25- Todo ano cai geada?


Não! Isso porque a geada não cai de lugar algum, ela simplesmente se forma, pois é a condensação da umidade do solo (ou de outra superfície), chamada orvalho, quando a temperatura é muito baixa. Talvez essa construção tenha surgido por analogia com outros fenômenos atmosféricos, como a neve e a chuva que, realmente, caem... como empregar, então, o verbo gear? Todo ano geia em algumas cidades do sul, no inverno. Caso essa forma lhe pareça estranha, empregue a forma alternativa: Todo ano se forma geada em algumas cidades do sul, no inverno. 26- meio dia e meio ou meio dia e meia? Qual o significado dessa expressão? É a passagem de metade de um dia mais metade de uma hora, não é mesmo? Então: meio dia mais meia hora! Portanto: Você ficou de vir ao meio dia e meia e só chegou agora! 27- por isso ou porisso? O pronome isso, no texto, faz referência a algo já mencionado. Na expressão por isso, então, está subentendido por essa razão, por esse motivo, ou seja, a preposição "por" mais o pronome "isso" (que já foi dito). Veja o exemplo: Você está atrasado, por isso, apresse-se! 28- a longo prazo ou em longo prazo? O pagamento pode ser realizado em longo prazo. Podemos raciocinar da seguinte forma: o pagamento será realizado em que prazo (e não a que prazo)? Logo, a única expressão correta é a do exemplo acima: em longo prazo. 29- manicura ou manicure? Trata-se de uma palavra de origem francesa, manicure, que foi aportuguesada como manicura. A forma manicure, embora de uso mais amplo, é afrancesada. O seu masculino é manicuro, em português; já manicure não tem forma correspondente em nossa língua e designa tanto o profissional do sexo feminino como o do sexo masculino. No dicionário, encontramos ambas as palavras, consideradas como formas variantes, pois seu uso está disseminado. Assim, quem quer empregar a língua portuguesa ou aportuguesada, diz:


Esta manicura é uma excelente profissional! Quanto à forma pedicuro, segue o mesmo princípio. 30- maisena ou maizena? Conhecemos essa palavra pela famosa caixinha amarela, que contém um produto culinário muito usado. Entretanto, o nome registrado nessa caixinha não representa o nome do produto, e sim a marca registrada do fabricante. O produto é maisena; a marca é maizena. Atualmente, já existem outras marcas desse produto; você pode comprovar a grafia em todas elas: maisena (ou, como alguns preferem, amido de milho, para não lembrar a outra marca, mais famosa.). 31- perda ou perca? Ouve-se, muitas vezes, na mídia falada: "a perca do subsídio ..."; "com a perca desse incentivo...". trata-se de uma troca do substantivo pelo verbo, nessas falas. Observe o emprego correto: Em seu discurso, o candidato destacou que não deve acontecer a perda do incentivo à alfabetização de todos os brasileiros. Temos, aí, o substantivo perda, antecedido do artigo "a". a outra palavra, perca, é uma forma verbal, como em: "Desejo que ela não perca os pontos obtidos." 32- menas ou menos? Significando diminuição de algo, a única palavra gramaticalmente correta é menos, independentemente de estar se referindo ao masculino ou ao feminino. Ex.: Hoje ela está menos impressionada com os fatos divulgados. O professor ficou menos preocupado, ao comprovar o aproveitamento dos alunos. 33-cabelereiro ou cabeleireiro ? Como essa palavra se deriva de cabeleira, o correto é cabeleireiro, ou seja, a palavra primitiva acrescida do sufixo "eiro", que designa ocupação, profissão. A outra forma seria derivada de cabelo, essa sim, originando cabeleira. Portanto, emprega-se assim: Um famoso cabeleireiro brasileiro agora está fazendo sucesso no exterior. 34- a rigor ou em rigor?


Mais uma vez, estamos empregando mais a forma afrancesada do que a aportuguesada... Na nossa língua, o melhor é dizer em rigor, significando rigorosamente, de modo mais adequado. Neste momento, em rigor, a atitude mais racional seria apressar as modificações nos planos. 35-cujo ou cujo o? Este é um pronome relativo e tem tido seu uso bastante reduzido na língua, especialmente na coloquial. Mesmo na forma culta, entretanto, muitas vezes é empregada de modo incorreto. A única forma correta é sem o artigo: cujo. Veja o exemplo: O autor cuja obra estou analisando fará uma palestra no próximo sábado. 36- a meu ver ou ao meu ver? Entre as duas formas, devemos escolher a primeira! Também é aceita a expressão em meu ver, como no exemplo: Sua atitude é acertada, em meu ver. 37- se acaso ou se caso? A expressão se acaso significa se porventura, se por alguma circunstância. Portanto, está corretamente empregada em: Se acaso você não puder comparecer, por favor, envie uma justificativa. Já a expressão se caso não deve ser empregada, pois ambas as palavras se equivalem: correspondem a palavras que exprimem condição. Assim, devemos usar, na mesma construção, uma ou a outra. Veja: Se você não puder ir, avise-me! Caso você não possa ir, avise-me! 38- viva os noivos ou vivam os noivos? A palavra viva, nessa frase, é um verbo; expressa a ação realizada pelo sujeito os noivos, que está pluralizada. Portanto, o verbo deve concordar com o sujeito, sendo flexionado no plural: Vivam os noivos!


Ocorre, aqui, uma possível confusão de viva (verbo) com salve! (interjeição), como ensina Sacconi(1990). A interjeição é uma palavra invariável, mas o verbo não! Nesse caso, se usarmos a interjeição, assim fica a frase: Salve os noivos! 39- zero ponto ou zero pontos? Em numerais, somente aplicamos o plural quando a referência for a dois ou mais. Então, o certo, aqui, é: O meu time, antes do jogo de ontem, estava com zero ponto, mas agora, com a vitória, passou para três pontos! 40- viemos a sua presença ou vimos a sua presença? Ambas as formas verbais são do verbo vir; ocorre que a primeira - viemos - é do tempo passado e a outra - vimos - é do presente. Assim, deve ser observada a intenção do falante. Em correspondência comercial, é muito empregada a flexão desse verbo no presente: Vimos apresentar nossas desculpas pelo equívoco no envio da mercadoria. Note que a fórmula vimos apresentar pode ser facilmente substituída por apresentamos, mais reduzida. 41- talvez eu vou ou talvez eu vá? Talvez é uma palavra que denota dúvida; eu vou é uma forma do verbo ir no presente do modo indicativo. Ora, o modo indicativo designa certeza. Desse modo, há uma incoerência entre a dúvida e a certeza. O correto, nesse caso, é talvez eu vá, pois a construção do verbo passa a ser no presente do modo subjuntivo, designando incerteza. Passa a haver, então, uma concordância entre a dúvida de talvez com a incerteza do verbo vá. 42- no entanto ou no entretanto? Há uma confusão no emprego dessas duas conjunções: entanto e entretanto, ambas designando oposição, contrariedade. Apenas a primeira é que recebe a partícula "no", ficando, então, no entanto. A outra não pode receber essa partícula. Veja o exemplo: Eu gostaria de ir, no entanto, devo permanecer trabalhando.


Eu gostaria de ir, entretanto, devo permanecer trabalhando. 43- é 3 horas ou são 3 horas? O numeral 3, por indicar mais de um, leva o verbo para o plural. Assim: Vamos embora logo, pois já são dezessete horas! Vamos logo, pois já deram dezessete horas! 44- hoje é seis de setembro ou hoje são seis de setembro? Em expressões que designam data, o verbo ser vai para o plural com os algarismos dois ou mais: Hoje são cinco de setembro, véspera da Independência. 2.2 Redundância Veremos, a seguir, alguns casos de redundância: repetição desnecessária da mesma idéia, exagero. 1- acrescentar mais um O que significa a palavra acrescentar? É pôr mais um, ou seja, a própria palavra já subentende a ideia de "mais". Portanto, a redundância está na palavra mais. Dizemos, então: Vais acrescentar um detalhe no teu relatório? Ou, ainda: Vais pôr mais um detalhe no teu relatório? Veja que ambas as formas estão corretas, desde que não sejam usadas as palavras acrescentar e mais na mesma construção. 2- amanhece o dia Pode amanhecer algo que não seja o dia? Parece-nos que não... Dessa forma, empregamos apenas uma das duas palavras: Quando amanhece, saúdo a natureza... Ou, então: Quando chega o dia, saúdo a natureza...


3- breve alocução A palavra alocução já significa, por si mesma: discurso ou fala curta. Por isso, dizer breve alocução é a mesma coisa que afirmar breve discurso curto. A construção correta, nesse caso, é: Em sua alocução, o diretor saudou os visitantes. 4- cair um tombo Expressão amplamente empregada na língua coloquial, trata-se de exagero porque cair já significa tombar, ir ao chão. Escolhemos, então, uma das duas palavras para não ocorrer o exagero indesejado: Durante a brincadeira, a criança caiu e feriu o joelho. Durante a brincadeira, a criança levou um tombo e feriu o joelho. 5- canja de galinha Uma canja é uma sopa que se faz com caldo de galinha; logo, canja de galinha é uma repetição desnecessária do mesmo significado. Dizemos uma das duas formas: Uma canja não faz mal a ninguém. Um caldo de galinha não faz mal a ninguém. 6- chutar com o pé Mais uma vez, temos uma palavra que já contém o significado da outra: chutar já pressupõe uma ação realizada com o pé (ou os pés). Muitos dos comentaristas esportivos, portanto, cometem uma redundância quando se referem a essa ação. O correto seria: O jogador chutou a bola para fora. 7- comer com a boca Seria muito estranho alguém comer sem que fosse com a boca, não é mesmo? Assim sendo, a expressão com a boca está sobrando, é um exagero. Dizemos, apenas: Ele comeu tudo o que encontrou pela frente! 8- conviver junto O verbo conviver é a junção de viver + com; assim, a palavra junto torna-se redundante. Veja o exemplo correto:


Para conviver, é preciso uma boa dose de tolerância... 9- criar novos O ato da criação pressupõe a novidade: somente se cria algo novo. Então, criar novos regulamentos, por exemplo, é redundante. Por isso, dizemos apenas: O governo criou, nesse período, vinte mil empregos. 10- dar de graça Se você dá algo a alguém, vai cobrar por isso? Não! Isso porque, nesse caso, não seria um ato de doação. Quem dá, somente pode dar sem nada cobrar. Usamos, portanto, apenas o verbo, sem essa expressão redundante: O atleta deu a bola para o adversário! 11- elo de ligação Um elo é um elemento de ligação; isso significa que todo elo já contém o sentido de junção, união. Por esse motivo, dizer elo de ligação é um exagero sem propósito. Veja o exemplo: Você será o elo entre mim e os demais integrantes do grupo. 12- emulsão de óleo Ao usar uma emulsão, você já está usando um produto que contém óleo; nesse caso, não é necessário o reforço da expressão de óleo. Dizemos, simplesmente: Passei esta emulsão no ferimento e ele logo cicatrizou. 13- encarar de frente Pode-se encarar algo ou alguém sem que seja de frente? Não, pois o verbo encarar contém o significado de "cara", rosto. Podemos dizer, então: Você deve encarar seus problemas para poder resolvê-los. 14- é vontade geral de todos Se a vontade é geral, já está dito que é de todos! Portanto, não há necessidade de acrescentar essa expressão para ser entendido. Podemos escolher entre as seguintes construções, ambas corretas: Sabe-se que é vontade geral a realização de eleições democráticas.


Sabe-se que é vontade de todos realização de eleições democráticas. 15- há dois anos atrás O verbo haver já significa tempo decorrido, nessa expressão; desse modo, o acréscimo de atrás é redundante. Temos duas possibilidades, nesse caso: Há dois anos participei de um concurso para professor. Dois anos atrás participei de um concurso para professor. 16- individual para cada um Tudo o que é individual é para uma só pessoa. A expressão para cada um, então, é um exagero. Dizemos apenas: O uso de equipamentos de segurança é individual. 17- introduzir dentro Introduzir é pôr para dentro; introduzir dentro segue o mesmo princípio de sair para fora, entrar para dentro, subir para cima, descer para baixo, todas expressões sabidamente redundantes. Preferimos, então: Esta peça deverá ser introduzida no espaço indicado. 18- manter a mesma O verbo manter já pressupõe deixar como está; desse modo, é exagero dizer o restante da expressão: a mesma. Entretanto, muito ouvimos, por exemplo, manter a mesma equipe, manter o mesmo horário, e assim por diante. O correto é: O treinador decidiu manter a equipe que já estava escalada. 19- mensalmente a cada mês Quando dizemos mensalmente, estamos referindo que é no mês; então, o acréscimo de a cada mês deve ser evitado. Dizemos, por isso: O prêmio será oferecido mensalmente a quem cumprir todos os requisitos. 20- minha própria opinião Minha e própria, nessa expressão, têm o mesmo sentido. Para evitar tal redundância, o correto é: Minha opinião é que ele seja readmitido.


21- novidade inédita Inédito é tudo aquilo que nunca foi dito ou visto; e novidade é, igualmente, aquilo que é novo. Assim sendo, escolhemos apenas uma das duas palavras na mesma construção: Essa notícia é uma novidade! Essa notícia é inédita. 22- o mais absoluto silêncio A palavra absoluto significa uma totalidade; não pode haver uma totalidade a mais nem a menos, caso contrário, deixará de ser absoluta. Por isso, devemos dizer: Naquele momento, reinou absoluto silêncio na sala. 23- os mínimos detalhes Ao detalhar algo, estamos realizando uma descrição minuciosa desse algo, em todos os seus detalhes. É exagero acrescentar mínimos! Então, veja o exemplo: Vou lhe relatar o fato em detalhes. 24- outra alternativa A palavra alternativa contém o significado de outra (alter, em latim); seu sentido, originalmente, era de uma escolha entre um ou outro. Na língua popular, está sedimentado o emprego de alternativa por opção, palavra esta que significa escolha entre várias possibilidades. Se, entretanto, você quiser empregar a língua culta, prefira apenas alternativa, como em: Não tive alternativa, marquei a viagem para o dia em que havia passagem disponível. Mas você pode usar, também, a palavra opção, esta sim com o acréscimo de outra: Não tive outra opção, marquei a viagem para o dia em que havia passagem disponível. 25- plebiscito popular Um plebiscito - palavra derivada de plebe (povo) - é uma forma de consulta dirigida ao povo, portanto, já contém o significado de popular. Construímos, então, assim nossa frase: Aquele plebiscito teve como resultado a negação do que se pretendia realizar.


26- pomar de frutas Um pomar é um conjunto de árvores frutíferas. Desse modo, é desnecessário acrescentar de frutas, pois não há pomar que não seja de frutas. Veja o exemplo: Adquiri um sítio que tem um belo pomar! 27- reincidir de novo O prefixo re - indicativo de repetição - anteposto à palavra incidir - ocorrer -, significa incidir novamente. Assim sendo, devemos escolher entre as duas formas: O funcionário reincidiu no erro. O funcionário incidiu de novo no erro. 28- repetir outra vez Para dizer outra vez, basta repetir; não é necessário que se repita outra vez, trata-se de exagero. Veja: Vou lhe repetir as normas que a casa impõe. 29- todos são unânimes A unanimidade pressupõe a totalidade das ocorrências (de uma opinião, de votos, de indicações,...). Por isso, evitamos a palavra todos, já contida em unânimes: Os alunos foram unânimes: aquela havia sido a melhor aula do semestre!


MÓDULO 3 Outras questões Abordaremos, neste módulo, questões diversas que podemos rotular como dúvidas de sempre. 1- champanha: como se pronuncia? Essa palavra, de origem francesa (Champagne - uma região da França), designa um tipo de espumante muito apreciado para ocasiões especiais. Sua pronúncia, por influência da língua de origem, disseminou-se como champanhe; a forma aportuguesada, todavia, é champanha. Os dicionários registram ambas as formas como aceitáveis, tanto com o artigo "o" como com o artigo "a". 2- verbo haver: como se dá a concordância? O verbo haver costuma provocar muita dúvida, no momento do seu emprego na língua culta. Há algumas particularidades, como veremos a seguir. a. no sentido de existir, ter existência - é verbo impessoal, quer dizer, conjuga-se apenas na terceira pessoa do singular. Ex.: Havia pessoas que não concordavam com esse tipo de atitude. ↓ Existiam Note que, se for empregado o verbo existir, a concordância será no plural. b. no sentido de tempo já decorrido - é impessoal, assim como no item anterior. Nesse caso, pode ser substituído pelo verbo fazer, que também se torna impessoal: Há dois meses não chove nesta região. ↓ Faz c. no sentido de acontecer - é impessoal, conjugado, igualmente, apenas na terceira pessoa do singular: Houve diversos fatos que provocaram alta no custo de vida. ↓ aconteceram


Na substituição pelo verbo acontecer, este se flexiona no plural, de acordo com a expressão a que se refere: diversos fatos. d. nos demais empregos, é pessoal: conjuga-se em todas as pessoas: Eu hei de vencer esta prova! Eles hão de chegar a tempo. Nós havemos de fazer o melhor possível. 3- como é o plural de certas palavras? Muitas vezes paramos para pensar: esta palavra tem flexão de número? E a dúvida toma conta de nós. Vejamos, então, alguns desses casos. a. gravidez Nas duas gravidezes, ela teve gêmeos! b. arroz Alguns arrozes são mais nutritivos que outros. c. giz Traga-me cinco gizes coloridos, por favor! d. zíper Os zíperes funcionavam bem, mas com o uso estão emperrados. e. pôster Meus pôsteres de formatura ficaram muito bonitos... 4- palavras ou expressões que só existem no plural Há palavras, na nossa língua, que só existem no plural e com o artigo (ou outro determinativo) também pluralizado: a. as cócegas Sentia muitas cócegas nos joelhos. b. expensas Ele vivia a expensas da mulher... ↓ na dependência financeira Essa expressão admite duas formas: a expensas ou às expensas, mas sempre no plural.


c. a olhos vistos Aquela artista está emagrecendo a olhos vistos! Não existe o singular, nessa expressão que significa visivelmente. d. parabéns Dei-lhe os parabéns pela conquista do título. Essa palavra, em sua origem, existia no singular; todavia, com o uso, passou a haver apenas a forma do plural. 5- palavras que têm diferentes significados do singular para o plural Outras palavras, diferentemente das anteriores, existem nas duas formas - singular e plural, mas com significados diferentes. Vejamos algumas: a. féria e férias Após o expediente, os feirantes calcularam a féria. ↓ faturamento do dia Nas próximas férias, pretendo realizar uma viagem ao interior do Brasil. ↓ período de repouso b. gás e gases Houve um vazamento de gás, mas felizmente nada de grave resultou. ↓ tipo de combustível O acúmulo de gases no abdômen costuma provocar fortes dores. ↓ ar no tubo digestivo c. costa e costas A costa brasileira apresenta praias belíssimas! ↓ litoral Carregou muito peso, por isso ficou com dores nas costas. ↓ dorso, região posterior


6- palavras com dupla grafia Há, ainda, palavras que podem ser grafadas tanto no singular quanto no plural, sem alteração de sentido; o artigo (ou outro determinativo), entretanto, deve concordar com elas. a. ciúme / ciúmes Tenho muito ciúme de meus livros. Você deve controlar esses ciúmes exagerados. b. saudade / saudades Quem se afasta de sua terra natal sente saudade. As saudades da infância nos acompanham por toda a vida. 7- palavra que faz o plural no seu interior Há uma só palavra, na nossa língua, que traz a marca do plural em seu interior, e não no seu final: é a palavra qualquer: Quaisquer materiais, em suas mãos, viram obras de arte! 8- bodas de prata Essa expressão tem seu uso restrito a matrimônio, ou seja, apenas comemoram bodas de prata (vinte e cinco anos de casamento) pessoas casadas. Para outros eventos, empregamos jubileu de prata (vinte e cinco anos desde seu início). Organizamos uma festa surpresa para as bodas de prata de meus pais. A empresa em que trabalho comemora, neste ano, seu jubileu de prata. 9- quando empregar mau ou mal É fácil: mau (adjetivo) é o contrário de bom; mal (substantivo) é o contrário de bem. Se fizermos a substituição, na frase, e o sentido permanecer, estamos no caminho certo! Vejamos: Passava por um mau momento, mas assim mesmo ficou firme em seu propósito. Poderíamos dizer bom momento, e não bem momento. Aquele marginal fez muito mal a sua própria família. Poderíamos dizer fez muito bem, e não fez muito bom. 10- quando eu ver ou quando eu vir?


Essa é uma flexão do verbo ver, no futuro de modo subjuntivo. Facilmente nos confundimos, pois ela é exatamente igual à forma do verbo vir no infinitivo pessoal. Vejamos, então, os dois casos: Quando eu vir teu irmão, darei o recado. (verbo ver) É para eu vir amanhã à tarde ou posso vir à noite? (verbo vir) Note que a forma quando eu ver não existe! 11- aluga-se ou alugam-se casas? Esse tipo de construção é, comumente, visto na forma errada, sem que haja concordância entre o verbo e seu sujeito. Veja a construção correta: Aluga-se um apartamento na praia. Alugam-se apartamentos na praia. Explica-se, gramaticalmente, por ser uma voz passiva e corresponder às seguintes formas: um apartamento é alugado; apartamentos são alugados. Assim também outros verbos: Vende-se um cão de guarda. Vendem-se filhotes de cães de raça. Compra-se um carro velho. Compram-se carros usados. Dá-se uma cadeira de rodas. Dão-se aulas de português... 12- é proibido ou é proibida? Ambas as formas são adequadas, dependendo da construção da frase. Vejamos: É proibido entrada de menores. Observe que entrada não está determinada pelo artigo "a", portanto, a expressão fica invariável. É proibida a entrada de menores. Já nesta construção, entrada está determinada pelo artigo "a", por isso, a expressão varia no feminino. Assim também ocorre com as expressões: - é permitido / é permitida: Não é permitido permanência de pessoas estranhas ao serviço. Não é permitida a permanência de pessoas estranhas ao serviço.


- é vedado / é vedada: Neste recinto, é vedado consumo de bebidas alcoólicas. Neste recinto, é vedado o consumo de bebidas alcoólicas. - é bom / é boa: Frutas é bom para a saúde. As frutas são boas para a saúde. - é necessário / é necessária: Para ingressar na sala, é necessário uso de equipamento de segurança. Para ingressar na sala, é necessário o uso de equipamento de segurança. 13- emprego dos pronomes demonstrativos este e esse O pronome este (e suas flexões: esta, estes, estas) é usado para indicar proximidade do falante em relação ao objeto a que ele se refere. Assim: Esta caneta que tenho em mão foi um presente de formatura. Ou seja: a caneta está comigo, o falante. Já o pronome esse (e suas flexões: essa, esses, essas) é usado para indicar proximidade do objeto a que se refere em relação ao ouvinte. Assim: Essa caneta que você está usando é muito sofisticada! Observe que a caneta está próxima ao ouvinte: você. Além disso, esses pronomes também fazem referência a tempo: este, tempo próximo e esse, tempo mais distanciado no passado. Exemplos: Este ano pretendo concluir meus estudos. ↓ ano em curso Esse foi um período de muito trabalho em minha vida. ↓ período mais afastado Ocorre, ainda, a referência a algo já dito ou a ser dito. Muito empregados em textos, esses pronomes realizam uma função de substituição de algum nome ou ideia, da seguinte forma: - este (e suas flexões) antecipa o nome ou a idéia que se segue no texto: Estas são suas atividades: ler o texto, analisá-lo e apontar as ideias do autor. ↓


as atividades referidas - esse (e suas flexões) retoma o nome ou a ideia já mencionada: Ler o texto, analisá-lo e apontar as ideias do autor: essas são suas atividades. 14- casos de ortoepia - pronúncia correta de todos os fonemas da palavra Muitas palavras do nosso cotidiano causam-nos dúvida quanto à pronúncia; às vezes, acrescentam-se, omitem-se ou troca -se fonemas indevidamente.Vejamos alguns casos: - advocacia - e não advogacia -asterisco - e não asterístico - bandeja- e não bandeija - beneficente - e não beneficiente - bicarbonato - e não bicabornato ou bircabonato - caranguejo - e não carangueijo - disenteria - e não desinteria ou disinteria - empecilho - e não impecilho - entretela - e não intertela ou entertela - entreter - e não enterter ou interter - entretenimento - e não entertimento ou entreterimento - estupro - e não estrupo - frustrar - e não frustar - irrequieto - e não irriquieto - manteigueira - e não manteguera - meteorologia - e não metereologia - paralelepípedo - e não paralepípedo - prazeroso - e não prazeiroso - privilégio - e não previlégio - problema - e não poblema - próprio - e não própio - reivindicar - e não reinvindicar 15- casos de prosódia - adequada pronúncia da sílaba tônica das palavras É bastante comum a pronúncia equivocada de palavras, com relação a sua sílaba tônica. Então, vejamos alguns casos:


- ambroSIa - e não ambrósia - aVAro- e não avaro - baTAvo - e não bátavo - caracTEres - e não carácteres - cateTER - e não catéter - criSÂNtemo - e não crisântemo - filanTROpo - e não filântropo - FLUido - e não fluído - forTUito - e não fortuíto - graTUito - e não gratuíto - iBEro - e não íbero - inauDIto - e não ináudito - ÍNterim - e não interim - juniOres - e não juniores - liBIdo - e não líbido - MadagasCAR - e não Madagáscar - misTER - e não míster - NoBEL - e não Nóbel - PÓlipo - e não polipo - puDIco - e na púdico - reCORde - e não récorde - ruBRIca - e não rúbrica - ruIM- e não ruim - tuLIpa - e não túlipa - ureTER - e não ureter 16- palavras com dupla posição da sílaba tônica Diferentemente das palavras do item anterior, as que se seguem admitem mais de uma posição da sílaba tônica: - acróbata e acrobata - anídrido e anidrido - dúplex e duplex - estereótipo e estereotipo -hieróglifo e hieroglifo


- projétil e projetil - réptil e reptil - sóror e soror - zângão e zangão O emprego de uma ou de outra das formas é escolha do falante. 17 - a letra H Em rigor, a letra H não representa nenhum som na fala. É usada pelos seguintes motivos: - no início da palavra: a. por causa da sua origem (etimologia): haver, herói, horta, humano; b. nas interjeições: hein, hã, hum; - no interior da palavra: a. quando faz parte de um dígrafo: ch, lh, nh. Nesses casos, a presença do H altera a pronúncia da palavra. Veja a diferença entre canha e cana; ralhar e ralar; minha e mina. b. em palavras compostas, escritas com hífen, quando o segundo elemento se inicia por H: sobre-humano, anti-higiênico. Note que a palavra Bahia, nome de um estado brasileiro, mantém o H por tradição. Seus derivados, no entanto, não são escritos com H: baiano, bainista, baianismo e outros. - no final da palavra: seu uso é restrito às interjeições: ah!, oh!, bah! 18- feminino de alguns nomes Há palavras que, anteriormente, só existiam como comuns de dois gêneros e, hoje, existem com diferentes formas para o masculino e o feminino. Lembrando: comum de dois gêneros - que tem uma única forma para os dois gêneros, mudando apenas o artigo: o chefe, a chefe; o dentista, a dentista. Vejamos algumas das palavras que, antes, eram apenas comuns de dois mas que agora admitem o feminino, já registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, edição de 2009: - o ajudante - a ajudanta: Uma grande empresa está contratando ajudantas de pedreiro.


- o almirante - a almiranta: Conheci uma almiranta, pessoa muito enérgica e correta. - o comediante - a comedianta: No espetáculo, havia dois comediantes e quatro comediantas. - o hóspede - a hóspeda: Neste hotel, a hóspeda tem seus direitos garantidos. - o parente - a parenta: Descobri que ela é minha parenta por parte de pai. - o presidente - a presidenta: São duas as candidatas a presidenta da empresa. 19- verbos defectivos Há muitos verbos que se classificam como defectivos, isto é, não são conjugados em todas as pessoas, como os demais. Isso por motivos diversos, como cacofonias, absurdos ou impossibilidade. Vejamos alguns: - verbos que expressam fenômenos da natureza: chover, ventar, amanhecer e outros são impessoais, pois conjugam-se apenas na 3ª pessoa do singular: chove, choveu, chovia, choverá, ... - verbos que expressam vozes de animais: latir, cacarejar, miar e outros - são unipessoais, pois conjugam-se apenas na 3ª pessoa, singular e plural: late, latem; cacarejou, cacarejaram; miava, miavam; ... - outros verbos: abolir, banir, colorir, delinquir, demolir, emergir, exaurir, explodir, falir, polir, ressequir e outros, da 3ª conjugação. Esses verbos não são conjugados nas pessoas em que ao radical se seguem as terminações A ou O, o que corresponde à primeira pessoa do singular do presente do indicativo, em todas as pessoas do presente do subjuntivo e em todas as formas do imperativo. Ex. de formas absurdas: Eu abolo a gordura do meu cardápio. Eu demolo uma parte da casa. O que fazer, nesses casos em que não se pode empregar o verbo defectivo? Simples: substituí-lo por outro de sentido equivalente: Eu elimino a gordura do meu cardápio. Eu destruo uma parte da casa. 20- formas variantes


Muitas vezes nos vemos em dificuldade para descobrir se a palavra que queremos empregar é de uma ou de outra forma. Ocorre que existem, na língua portuguesa, o que se denomina formas variantes. É a possibilidade de mais de uma grafia para a mesma palavra, mantendo o significado inalterado. Algumas delas são até conhecidas, porque usadas no dia a dia. Vejamos os casos: amídalas e amígdalas assoalho e soalho carroceria e carroçaria catorze e quatorze cociente e quociente germe e gérmen loura e loira porcentagem e percentagem Outras, entretanto, causam-nos surpresa quando descobrimos sua variante. Apresentaremos algumas que julgamos mais surpreendentes ou que mais costumam provocar dúvida: abdome e abdômen afeminado e efeminado alarme e alarma alevantar e levantar aluguel e aluguer apalpar e palpar assobio e assovio assoprar e soprar barbaria e barbárie bêbado e bêbedo bile e bílis bilhão e bilião bilheteria e bilhetaria biscoito e biscouto cãibra e câimbra


calouro e caloiro coisa e cousa cosmo e cosmos crina e clina covarde e cobarde dependurar e pendurar derme e derma despertar e espertar dourar e doirar espécime e espécimen flauta e frauta flecha e frecha garagem e garage hierarquia e jerarquia imundície e imundícia labareda e lavareda laje, lajem e lájea lavanderia e lavandaria macela e marcela marimbondo e maribondo miríada e miríade mobiliar, mobilhar e mobilar parênteses e parêntesis presépio e presepe ramalhete e ramilhete rubi e rubim taberna e taverna sobressalente e sobresselente taramela e tramela tesoura e tesoira transladar e trasladar transpassar e traspassar E, para finalizar, uma variação que chega a oito palavras:


relampadar, relampadear, relampadejar, relampaguear, relampaguejar, relampar, relampear, relampejar.

21- uso da crase Dificuldade recorrente na nossa língua, o estudo da crase é assunto obrigatório em qualquer material. Podemos simplificar essa abordagem com algumas breves considerações, nem sempre presentes nos manuais de língua portuguesa. Então, vejamos: a. crase não é o acento que usamos no "a" (acento grave). É, sim, a indicação de que naquela palavra houve a fusão de dois "a": uma preposição e um artigo, nessa ordem. Isso pode ocorrer para evitar a repetição do mesmo fonema: à ↓

preposição a + artigo a No próximo feriado, iremos à praia. No próximo feriado, iremos a (=para, preposição) a (artigo feminino) praia. b. somente aceitam a anteposição do "à", nesse caso, palavras que aceitam o artigo "a"; excluem-se, então, palavras masculinas porque, se aceitarem artigo, esse será "o" e não "a": Foi entregue o prêmio

à

atleta

vencedora.

a (preposição exigida pelo verbo entregar)+a(artigo aceito pelo nome feminino atleta) Foi entregue o prêmio

ao

atleta

vencedor.

a(preposição exigida pelo verbo entregar)+o(artigo aceito pelo nome masculino atleta) c. por consequência do item anterior, somente aceitam anteposição do "à" palavras femininas (nem todas, porém, necessitarão dessa anteposição):


Já encaminhei à professora o material solicitado. ↓ a(preposição exigida pelo verbo encaminhar)+a(artigo aceito pelo nome feminino professora) Já entreguei a prova solicitada. ↓ a (artigo aceito pelo nome feminino prova) d. ainda por consequência do item (b) acima, não aceitam a anteposição do "à" palavras como: verbos, artigos indefinidos, a maioria dos pronomes: Convidei-o

a

fazer um trabalho comigo.

preposição

verbo

Entreguei o trabalho

a

uma

preposição Já contei

a

ela

preposição Daqui

a

alguns

preposição e.

não

aceitam

crase

colega.

artigo indefinido

acerca do nosso projeto.

pronome pessoal dias teremos o resultado do concurso.

pronome indefinido as

expressões

formadas

por

palavras

repetidas,

independentemente de serem elas femininas ou masculinas: dia a dia, hora a hora, corpo a corpo, sol a sol. f. com nomes locativos (que indicam lugar), aplica-se o mesmo princípio: se esse nome aceitar o artigo "a", haverá crase; caso contrário, não haverá. Vejamos: - a Argentina: Iremos à Argentina domingo. - a África: Todos que foram à África foram bem recebidos. - São Paulo: Quando for a São Paulo, visite o Parque Ibirapuera.


- Roma: Quero ir a Roma e ver o Papa. - a praça: Para ir à praça, basta atravessar esta rua. - a avenida: Se você for à Avenida Brasil, procure esta amiga. Há um expediente prático que alguns manuais utilizam para facilitar o entendimento e a aplicação da crase em nomes locativos: Quem vai A e volta DA, crase HÁ; Quem vai A e volta DE, crase PRA QUÊ? Os casos apresentados não esgotam as explicações acerca do emprego da crase. O que abordamos, foi uma tentativa de esclarecer pontos de fácil assimilação, deixando os mais complexos para você pesquisar e entender por outros meios.


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