O Convento da Penha

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O CONVENTO DA PENHA fé e religiosidade do povo capixaba texto: francisco aurelio ribeiro fotografias: jorge luiz sagrilo Companhia Siderúrgica de Tubarão 2006 Q R

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CST * 00 EQUIPE COORDENADORA DA CST

Divisão de Comunicação e Imagem Divisão de Meio Ambiente COORDENAÇÃO DO PROJETO

MP Publicidade PROJETO GRÁFICO

Studio Ronaldo Barbosa Ronaldo Barbosa Jarbas Gomes Rodrigo Resende

GESTÃO DO CONVENTO

Frei Geraldo Freiberger, O.F.M. PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO CONVENTO DA PENHA

Tereza Cecília Brunelli REVISÃO

Nilcéa Moraes Costa IMPRESSÃO

Grafitusa

Dados Internacionais de classificação na publicação (CIP) (Companhia Siderúrgica de Tubarão-CST, ES, Brasil) RIBEIRO, Francisco Aurelio. O Convento da Penha: fé e religiosidade do povo capixaba./ Francisco Aurelio Ribeiro. – Vitória: Companhia Siderúrgica de Tubarão-CST, 00 . p. . Convento da Penha-ES . Religião . Fé I. RIBEIRO, Francisco Aurelio II. Companhia Siderúrgica de Tubarão-CST III. Título. ISBN - 0 -

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O CONVENTO DA PENHA fé e religiosidade do povo capixaba texto: francisco aurelio ribeiro fotografias: jorge luiz sagrilo Companhia Siderúrgica de Tubarão 2006Q R

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O Convento da Penha Alcandorado e belo, exposto ao raio e ao vento, sentinela da barra, em perfil singular, destaca-se, no espaço, o lendário Convento, o trono de Maria entre a planície e o mar. Peregrino, contempla o augusto monumento da terra capixaba. Ali, vive a rezar, em hosanas de glória ou rudez do tormento, o coração de um povo. Oh! sim, vem meditar – O sonho de Frei Pedro, – o monge do painel, perdido na montanha, à sombra das palmeiras, inspira um florilégio, em poemas e prosa. O artista o registrou, num primor de pincel, e a Fé, superior aos cumes e às trincheiras, conduz as multidões à Virgem Poderosa!… (Maria Stella de Novaes, 1953)

O Convento da Penha Nossa Senhora da Penha É quem por nós mais se empenha Junto de Nosso Senhor! Ouve, pois, Senhora minha, Ouve, pois, doce Rainha, Meu poema em teu louvor. Uns versos que, embora pobres, Desejo ouvidos por nobres, Por gente simples também. - Mas, com lira tão pequena, Não sei bem se vale a pena Deste começo ir além… Dá-me, assim, tua proteção Para que minha canção Se vista de algum valor. Conheço tua bondade, Sei da tua caridade, Ó meiga Mãe do Senhor! Q R

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(Elmo Elton, 6 de maio de 1976)

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Este livro surgiu como desejo da CST de preencher duas lacunas em relação ao maior patrimônio histórico do Espírito Santo, o Convento de Nossa Senhora da Penha, edificado nos fins do século XVI, em Vila Velha – ES. A primeira é propor uma história atualizada, graficamente bem produzida, do maior símbolo da religiosidade e da fé do povo capixaba; a segunda, divulgar um estudo técnico realizado pelo CETEC (Centro Tecnológico de Minas Gerais), em 2001, em que se procedeu à “Avaliação das Condições do Patrimônio Histórico do Convento de Nossa Senhora da Penha”. Esse projeto foi financiado pela CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) e CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão), com a participação técnica do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Contrato n° P0125/99, de 27/04/2000.

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SUMÁRIO 19

INTRODUÇÃO

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I. A origem da crença numa divindade feminina

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II. As origens da devoção à Virgem Maria

37

III. Frei Pedro Palácios e o Convento da Penha

61

IV. Lendas e crenças no culto a Nossa Senhora da Penha

77

V. Percursos e Percalços do Convento da Penha: do século XVII ao XIX

87

VI. O Convento da Penha: do século XX aos dias atuais

97

VII. Visitantes ilustres do Convento da Penha

111

VIII. A Mata do Convento e a Questão Ambiental

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IX. Desfecho

126

Cronologia

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Referências Bibliográficas ANEXOS

140

I. ESCRITURA DE DOAÇÃO DE TERRENOS À ORDEM DOS FRADES MENORES CAPUCHOS (1591)

143

II. DESCRIÇÃO DO CONVENTO DA PENHA NO ANO DE 1786

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III. ESCRITURA PÚBLICA DE DOAÇÃO DA VERBA PARA CONSTRUÇÃO DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA PENHA FEITA PELO GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO, GENERAL SALVADOR CORREIA DE SÁ E BENEVIDES

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IV. AS MARAVILHAS DA PENHA

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INTRODUÇÃO “Iaiá, você vai à Penha? Me leva, ô, me leva. Iaiá, você vai à Penha? Me leva, ô, me leva. Eu vou tomar capricho, Meu bem, vou trabalhar. Eu tenho uma promessa a pagar. Essa promessa Que eu tenho a pagar É pra Santa Padroeira, Ela vai me ajudar”. (Cantiga de bandas de congo do Folclore Capixaba)

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M 1954, SEU PEDRO, comerciante, e Dona Maria, do lar, carregaram a pequena Maria da Penha, recém-nascida, e, juntamente com as duas avós, Florcinda e Maria, saíram de Santa Bárbara do Caparaó, hoje, município de Ibitirama, e, numa viagem de jipe até Alegre, pegaram o trem que os levou até Cachoeiro de Itapemirim. Lá, fizeram uma baldeação e tomaram o trem noturno da Leopoldina, que os trouxe a Vila Velha, estação de Argolas, em Paul. Daí, usaram o bonde Paul–Prainha, linha construída pelo pai da escritora Haydée Nicolussi, o imigrante italiano João Nicolussi, em 1912, no governo de Jerônimo Monteiro, e saltaram aos pés do Convento da Penha. Ali, depois de dois dias de viagem, alugaram um carro de praça que os conduziu ao destino final: Nossa Senhora da Penha, no altar-mor do Convento, escolhida para madrinha da pequena Maria da Penha, se ela vingasse, ou seja, nascesse viva, visto que o primeiro filho tinha nascido prematuro. Assim como eles, milhares de famílias capixabas realizam um percurso semelhante, deslocando-se de vários rincões capixabas, para pagar uma promessa à Virgem da Penha, devoção esta iniciada por Frei Pedro Palácios desde 1558, quando aqui chegou, vindo da Europa. Trazia consigo um quadro representando Nossa Senhora das Alegrias, de quem os frades franciscanos eram devotos. Mais tarde, com a construção do Convento e a vinda de uma imagem trazida de Portugal, intensificou-se, no Espírito Santo, o culto a Nossa Senhora da Penha, tornando-se, hoje “a maior demonstração de fé do povo capixaba” e a “terceira maior festa mariana do país”, só perdendo para a “Festa de Nossa Senhora Aparecida”, a padroeira do Brasil, e a “Festa do Círio de Nazaré”, em Belém (PA). A festa da Penha

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que se realiza, anualmente, no Espírito Santo, oito dias após a Páscoa, “conta com a expressiva participação de mais de 500 mil devotos da Virgem da Penha”. “Durante os nove dias de festividade serão realizadas 58 celebrações eucarísticas e oito romarias: Romaria dos Corredores; dos Cavaleiros; dos Ciclistas; dos Motociclistas; da Juventude; das Pessoas com Deficiência; das Mulheres e dos Homens” (Fôlder de divulgação da “Festa da Penha 2006”. 16 a 24 de Abril. Vila Velha – ES). Pela quantidade e diversidade de devotos das romarias, pode-se observar a generalização do culto a Nossa Senhora da Penha em todos os segmentos e classes sociais. Segundo a escritora Maria Stella de Novaes, até mesmo um Presidente da República, Arthur Bernardes, chegou ao Espírito Santo em 1926 sem aviso prévio, para pagar promessa feita a N. Sra. da Penha, no Convento (NOVAES, História do Espírito Santo). No entanto, a origem do culto e a maior intensidade da devoção a Nossa Senhora da Penha podem ser observadas no público feminino. É entre as mulheres que se pode constatar, com maior freqüência, o culto e a devoção à Maria, mãe de Deus e dos Homens, que as faz cantar, com fé e devoção, nas procissões: “Virgem da Penha, Minha alegria, Senhora nossa, Ave Maria!” (Alfredo Setaro, letra, e João Lírio Tagliarico, música).

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Matéria publicada em A Gazeta, de 26/03/2006, intitulada “A força da crença em Nossa Senhora da Penha”, relata a história de pessoas que tiveram graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora da Penha. Dentre essas, está a de Maria Dália Finco, 58 anos, que prometeu a Nossa Senhora da Penha levar sua mãe, de 70 anos, ao Convento, se ela ficasse curada de um coágulo no cérebro. Depois de 30 dias internada, com a filha rezando o tempo todo, o tumor regrediu e a mãe se recuperou, sem cirurgia. A mesma devota, Maria Dália, conta que, há 15 anos, teve um câncer no colo do útero. Em pânico, encontrou na fé e na devoção a Nossa Senhora da Penha, a força para se livrar do mal. Fez o tratamento quimioterápico, depositou sua esperança de cura na Virgem da Penha e ficou curada. Também a escritora e teatróloga Vera Vianna, 48 anos, relata que, em julho de 2005, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que a deixou em coma durante 21 dias. Ela conseguiu sair sem maiores seqüelas e, mudada, acredita ter sido curada por Nossa Senhora da Penha. “Tenho uma dívida de gratidão com Nossa Senhora”, afirma, e, por isso, escreveu um “Auto de Nossa Senhora da Penha, que muito me valeu” (A Gazeta, 27/3/2006, p. 2. Caderno Dois). Da mesma forma que as mulheres citadas, muitas outras vão ao convento, para agradecer, pedir, aconselhar-se. Rosana Reis, 33 anos, estava desempregada e, após sair de uma missa no convento, em que pediu a graça de arranjar um emprego, encontrou um amigo que lhe sugeriu trabalhar em uma lanchonete. Há dois anos, abriu seu próprio negócio e “sempre que posso venho ao convento agradecer à Santa” (A Gazeta. 26/3/2006, p. 4). Até 1999-2000, quando foi feita a última grande reforma no Convento da Penha, havia uma grande “Sala dos Milagres”, uma extraordinária instalação de exvotos, voluntária e repleta de energia, de pessoas agradecidas por milagres e graças que afirmam ter recebido. Pés, braços, cabeças, muletas, retratos, gessos e velas de todos os tamanhos, objetos diversos, pinturas naïve, tudo se amontoava numa demonstração gigantesca e espontânea da fé do povo capixaba e da crença em Nossa Senhora da Penha. Também, no corredor da sacristia, placas de épocas e formatos diversos, presas às paredes, do chão ao teto, agradecem a Nossa Senhora da Penha as “graças recebidas”; contudo, de onde teriam vindo tal crença e tanta devoção? .

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A ORIGEM DA CRENÇA NUMA DIVINDADE FEMININA

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UITO ANTES DE jesuítas ou franciscanos, dentre outros tantos religiosos terem difundido pelo mundo a devoção mariana, o culto à “mãe de Deus”, já existia, em povos primitivos, a adoração pelo elemento feminino. Pesquisadores-arqueólogos afirmam que dentre as mais antigas manifestações artísticas do período paleolítico (4.000 a.C para diante), estão estatuetas possuidoras de evidentes caracteres femininos, em que se punha em evidência a mãe e o processo de criação (PISCHEL, G. História Universal da Arte. p. 10). Nas antigas civilizações, acreditava-se em divindades femininas. Ísis, da mitologia egípcia, era filha do céu e da terra, saída do deus-sol e, dentre as suas atribuições, estava a de curar os enfermos. Era, também, a deusa agrária da fertilidade e, doadora da fecundidade, ela se torna parelha de Min, deus procriador, atributo que se acha ligado a sua função maternal. O culto a Ísis, no antigo Egito, associava-a à figura da mãe universal, herdeira do mito primitivo da Terra-mãe (BRUNEL. Dicionário de Mitos Literários. 1997, p. 498–9). Na civilização grega, o culto egípcio a Ísis toma a forma de várias deusas – Astartéia, Ártemis, Hera, Afrodite, Héstia, Réia, Deméter –, dentre outras, e, no século I a.C, atribui-se a ela a invenção, juntamente com Hermes, da escrita e das línguas, fazendo dela a criadora do universo, a soberana dos três mundos – terrestre, celeste e subterrâneo –, uma potência cósmica que reina sobre os elementos e os astros (Id., p. 500). Em Roma, o culto a Ísis é um dos mais vivos do paganismo em declínio, e ela é nomeada Vênus, Fária (protetora dos marinheiros), Pelágia (deusa das ondas) ou Fortuna, providência toda-poderosa, que suplanta as forças do destino.

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Segundo BRUNEL, o culto a Ísis só perde em prestígio com a ascensão do cristianismo, e “o mito de Ísis parece ter preparado o terreno para esse novo monoteísmo em que uma Providência promete também, à custa de purificações, a sobrevivência no além. Tal como Ísis, a Virgem é representada carregando um filho, e as duas mães criam seus filhos às escondidas de um assassino” (BRUNEL, P. Id., p. 500). Entre os Babilônios, acreditava-se em Inana, deusa-terra e deusa-mãe sumeriana, e Istar, deusa semítica dos combates e da estrela-da-manhã. No correr dos séculos, Istar adquiriu uma importância crescente para os povos babilônicos, fundindo-se nela outras divindades femininas: a Istar babilônica é transformada de deusa em rainha pela Bíblia, na figura de Ester. Em Cartago, Istar é Astart, a Grande Deusa, protetora da cidade. Entre os gregos, Astartéia, a deusa do amor (BRUNEL, p. 505-508). Entre as culturas meso-americanas, havia o mito de Coatlicue (“serpente de saia”), a deusa-mãe, também chamada coração-da-terra, mãe-dos-deuses, deusa da vegetação, das colheitas e da caça (Id., p. 176-7). Tanto entre os povos da América quanto entre os povos da África havia crenças diversas em deidades femininas, sejam como auxiliares ou rivais de deuses masculinos. Os padres que vieram catequizar esses povos e torná-los cristãos procuraram fazer uma correspondência entre esses cultos primitivos e as crenças da religião católica, dentre as quais a da Virgem Maria, a mãe de Deus e dos Homens. Havia um terreno fértil para a proliferação do culto à Virgem Maria, em todas as suas variações, e que se estendeu do México, com a Virgem de Guadalupe, ao Brasil, com Nossa Senhora da Penha, Aparecida, de Nazaré, dentre outras. .

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AS ORIGENS DA DEVOÇÃO à VIRGEM MARIA “Fui no Convento da Penha, Visitar a Mãe querida. Agora eu posso dizer Que já fui no Céu em vida” (Folclore capixaba)

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CULTO À VIRGEM MARIA desenvolveu-se durante a Idade Média. Segundo Jacques Le Goff, no século XI, a Virgem começa a perfilar-se como a grande intercessora no além, “nesse espaço intermediário de purgação e penitência, que também nascerá no século XII” (GOFF. O nascimento do purgatório. Madrid: Taurus, 1989). Conforme PALÁCIOS, no século XII, surge, na Europa, o culto à dama, a devoção pela senhora. Se o ano 1000 conheceu o terror, e o século XI, as cruzadas, o século XII trouxe um novo amanhecer, uma nova primavera. Surgiu, então, o culto à Mulher e, conseqüentemente, as Cortes de Amor, através das cantigas. “Se no século XI o livro mais lido e comentado foi o Apocalipse de São João, no devir destes primeiros cem anos de mudanças ele será o Cântico dos Cânticos (de Salomão)” (PALÁCIOS, 1995, p. 84). Paralelamente ao culto do amor cortês, desenvolve-se a devoção à Virgem Maria. “São tempos fundacionais, tempos de explosão de luz: começo da construção das grandes catedrais góticas” que são erguidas, em sua maioria, a Nossa Senhora, como a Notre Dame, de Paris (Id., p. 85). Joaquim de Fiore, abade cisterciense, que viveu entre 1130 a 1202, afirmou que, no século XII, começava a III Idade Cristã, a do Espírito Santo. Na mesma época, Santa Hildegarde de Bingen (1098–1179) divulgava a doutrina da divina Sofia ou Santa Sabedoria, tendo a Virgem Maria como a primeira imagem, ícone ou expressão viva do Espírito Santo” (PALÁCIOS, 1995, p. 85). A Santa Sofia, ou seja, a Sabedoria Divina, e o culto à Virgem coincidem neste momento. Na França, todas as catedrais góticas construídas, nesse período, são dedicadas à “Nossa Senhora”. Nesse mesmo século XII, o do Amor, nascia em Assis, na Itália, em 1181 ou 1182, Francisco Bernardone, o futuro “Santo de Assis”, criador da ordem dos franciscanos. Dentre as obras lírico-poéticas de Francisco de Assis, encontra-se a

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“Saudação à bem-aventurada Virgem”. Segundo LE GOFF, os centros da devoção de S. Francisco foram: “o Senhor como Criador todo-poderoso, o Cristo como Crucificado, a Virgem como Dama do Senhor, seu palácio, sua serva e sua mãe, as virtudes como as Santas Damas da religião: santa Sabedoria, pura e santa Simplicidade, santa Pobreza, santa Caridade, santa Humildade, santa Obediência” (LE GOFF. São Francisco de Assis. 2001, p. 100). Foram os franciscanos, juntamente com os jesuítas, os maiores cultuadores e divulgadores da devoção mariana no continente americano e em outras partes. A Companhia de Jesus é uma instituição de clérigos regulares fundada por Santo Inácio de Loyola, em Roma, em 1539. “Tratava-se de uma sociedade missionária que se coloca à disposição do papa, ao qual os professos se ligavam por um voto especial de obediência” (Grande Enciclopédia Larousse Cultural. 1998. Vol. 7, p. 1521). Vindos para o Brasil, em 1549, como o primeiro Governador-Geral, Tomé de Souza, os jesuítas exerceram um intenso apostolado nos dois primeiros séculos de colonização portuguesa no Brasil, fundando igrejas, colégios, povoações e catequizando os nativos. No Espírito Santo, fundaram o Colégio dos Jesuítas, cerca de 1550, no local onde hoje é o Palácio Anchieta, e tiveram intensa atuação. José de Anchieta, um de seus mais ilustres membros, viveu seus últimos anos no Espírito Santo, escrevendo peças de teatro e poemas à Virgem, tendo falecido em Reritiba, hoje Anchieta, em 1597. O amor cortês, surgido no século XII, vai-se transformando no amor místico, de Francisco e Clara de Assis, no século XIII, consagrado, posteriormente, no século XVI, por João da Cruz (1542–1591) e Teresa de Ávila (1515–1582), os maiores místicos da lírica espanhola, contemporâneos de Inácio de Loyola, Nóbrega e Anchieta, esses dois últimos os maiores evangelizadores do Novo Mundo, dentre os tantos que vieram exercer seu apostolado: implantar a fé católica, converter os nativos e evangelizar os colonos. Todos ardorosos cultuadores da devoção à Mãe de Deus . .

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FREI PEDRO PALáCIOS E O CONVENTO DA PENHA

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“Nossa Senhora da Penha Em que altura foi morar! Em cima daquela pedra Colocou o seu altar!” (Folclore capixaba)

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M 1535, QUANDO Vasco Fernandes Coutinho chegou ao Espírito Santo, para colonizar e tomar posse das terras que lhe foram doadas por D. João III, Rei de Portugal, trouxe consigo sessenta homens, em sua caravela “Glória”, e não consta dessa relação nenhum religioso. Segundo Maria Stella de Novaes, os mais antigos registros históricos encontrados sobre a presença de sacerdotes, no Espírito Santo, referem-se a João Dormundo, nomeado a 13 de janeiro de 1541, “com o ordenado, em cada ano, com a dita vigararia (de) quinze mil réis e duas peças de escravos resgatadas de sua roupa”. “O Alvará Régio dessa nomeação, com a referida data, é o primeiro documento sobre a paróquia do Espírito Santo e o seu primeiro vigário” (NOVAES, História do Espírito Santo, p. 20). Registra-se a presença do Padre Leonardo Nunes em Vila Velha, em 1549, recebido pelo vigário e Padre Francisco da Luz. Era a primeira presença dos jesuítas na capitania do Espírito Santo. Em 1551, o Padre Afonso Brás e o irmão Simão Gonçalves fundaram um pequeno seminário no alto da Vila Nova de Vitória do Espírito Santo, recém-fundada por Vasco F. Coutinho, anexo à igreja de São Tiago, cuja construção iniciaram. Em Vila Velha, os mesmos jesuítas levantaram a igreja de Nossa Senhora do Rosário, iniciando, aí, o seu apostolado e a devoção Mariana no Espírito Santo (NOVAES. id., p. 23-4). Em dezembro de 1553, em viagem para São Vicente, chegou a Vitória o Padre José de Anchieta, acompanhado de outros jesuítas, dentre os quais o Padre Brás Lourenço, que substituiu a Afonso Brás, permanecendo como provincial de 1553 a 1564 (NOVAES. id., ibid.). Foram os jesuítas incansáveis na sua missão de catequizar índios, levantar templos, criar escolas, apaziguar disputas entre colonos,

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enfim, os responsáveis pela implantação de uma cultura portuguesa, de base católica, e com toda a ideologia fortalecida na Europa, na Era Medieval, em terras capixabas. Carta de Anchieta, datada de 1572, dirigida ao Colégio de Coimbra já fala da devoção a Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, no Espírito Santo, “numa ermida de abóboda que se vê longe do mar e é grande refrigério e devoção dos navegantes, e quase todos vêm a ela em romaria cumprindo as promessas que fazem nas tormentas” (Apud WILLEKE. 1974, p. 15) Serafim Leite afirma que, ao visitar a Vila de Vitória em 1552, o Padre Manuel da Nóbrega, superior dos jesuítas, que estava acompanhado do GovernadorGeral, Tomé de Souza, já encontrou o Colégio de Santiago, grande casa e igreja. Nela, Nóbrega entoou o “Veni Creator Spiritus”, alusão ao nome da terra em que pisavam. Afirma, no entanto, que a igreja era pobríssima, “desprovida de retábulos, ornamentos, galhetas”. Urgia edificar outra. E a ocasião surgiu quando, em 1573, um naufrágio ia vitimando os padres Tolosa (provincial), Luiz de Grã, Antônio da Rocha, Vicente Rodrigues, Fernão Luiz e os Irmãos Bento de Lima e João de Souza. Eles tinham saído do Espírito Santo no dia 28 de abril, “quando sobreveio um terrível naufrágio, nesse mesmo dia, à noite, na foz do Rio Doce. Perdeu-se o navio e tudo quanto levaram. Grã livrou-se a custo da morte. Retrocedendo, foram agasalhados com amor por toda a população. Depois de terem feito uma romaria, por terem escapado com vida, a Nossa Senhora da Penha, ermida que se vê ao longe, no mar, e é refrigério e devoção dos mareantes, resolveram os padres aproveitar esta demora forçada, de 5 meses, para construir a nova igreja” (LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I. 1938, p. 221-2).

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Portanto, em 1573, já se praticavam romarias a Nossa Senhora da Penha, cuja ermida se avistava do mar. Serafim Leite afirma que se trata da mesma devoção a Nossa Senhora da Pena, equivalente à de Sintra, Portugal. Segundo ele, quem a introduziu no Espírito Santo foi o Frei Pedro Palácios, leigo por profissão, espanhol do Rio Seco, perto de Salamanca, que foi para Portugal, serviu de enfermeiro no Real Hospital de Lisboa, foi da Província de Arrábida, Portugal, passando ao Brasil com licença. Confessava-se com os jesuítas e comungava com freqüência. Como não tinha letras e ignorava a língua brasílica (Tupi), deram-lhe os jesuítas um formulário para se guiar. Frei Pedro Palácios chegou ao Espírito Santo, em 1558, e apareceu morto na sua ermida, em 2 de maio de 1570 (LEITE. Op. cit., p. 222). Fernão Cardim, que visitou o Espírito Santo em 1583, assim descreveu o Convento da Penha: “Na barra deste porto está uma ermida de Nossa Senhora, chamada da Pena, e certo que representa a Senhora da Pena de Sintra, por estar fundada sobre uma altíssima rocha de grande vista para o mar e para a terra. A capela é de abóbada pequena, mas de obra graciosa e bem acabada. Aqui fomos em romaria dia de S. André, e todos dissemos missa com muita consolação, e V. R.ª foi bem encomendada à Senhora com toda essa província, o que também fazíamos em as mais romarias e continuamente em nossos sacrifícios (...)” (CARDIM. Fernão. Narrativa Epistolar de uma viagem e missão jesuítica. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980, p. 168). Maria Stella de Novaes, a notável historiadora do Espírito Santo, tem uma outra posição sobre a devoção a Nossa Senhora da Penha, no Espírito Santo. Segundo ela, trata-se da mesma devoção a Nossa Senhora da Penha de França, iniciada no Puy, “no antiqüíssimo templo da Notre Dame de France, a quem Luís XIII consagrou sua Pátria”. Afirma que “Puy” significa montanha, lugar elevado; “Penha” vem do céltico “Pen”, penhasco, que se tornou “Peña” em castelhano e “Penha”, em português, e não “Pena”, sinônimo de “amargura”, “mágoa”, “sofrimento”. E deve estar certa, pois o quadro trazido por Frei Pedro Palácios é o de Nossa Senhora das Alegrias, equivalente ao de Nossa Senhora da Penha, como cantam os seus devotos, até hoje: “Mãe da Penha e das Alegrias, Mãe de todos os nomes és, ó Maria, A esperança, porto sempre seguro, um amor verdadeiro e tão puro. Tens, ó mãe, no olhar um brilho divino, conheces a fé dos teus peregrinos. Mãe do amor, tão sensível mulher, a ti meu canto de amor, louvor e fé”. (Egnalda Rocha Pereira, Letra, e Clelione M. da Silva, música).

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Frei Venâncio Willeke, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, organizador de uma Antologia do Convento da Penha, tem uma outra posição. Segundo ele, o título de Nossa Senhora da Penha era aplicado todas as vezes que se construía uma capela ou igreja sobre uma rocha, daí existirem santuários de Nossa Senhora da Penha em diversos países europeus e também no Brasil. Baseando-se no escritor português Ernesto Soares, colecionador de estampas de N. Sra. da Penha de França, hoje pertencente à Biblioteca Nacional de Lisboa, afirma que em todas essas representações aparecem um crocodilo e um homem postados aos pés da Virgem Maria, o que não ocorre na Penha do Espírito Santo. Assegura, portanto, que “sem receio de errar, tiramos, pois, a conclusão de que a invocação de nossa imagem milagrosa em Vila Velha não é nem jamais foi a de França por lhe faltarem os dois distintivos” (WILLEKE. 1974, p. 70-7l). Frei Geraldo Antônio Freiberger, OFM, atual guardião do Convento de Nossa Senhora da Penha, de Vila Velha, Espírito Santo, baseados em dados históricos, diz que o Convento de Nossa Senhora da Penha é um dos santuários mais antigos do Brasil, data de 1558. Foi fundado por Frei Pedro Palácios, frade franciscano espanhol que veio para o Brasil com os portugueses e estabeleceu-se na capitania do Espírito Santo, em Vila Velha. Frei Pedro, no início, morava numa gruta, ao pé do morro, onde existe hoje uma placa indicando o local. Pouco tempo depois, edificou uma ermida dedicada a São Francisco de Assis, no largo, em cima do morro, ao pé da grande rocha, onde colocou um painel de Nossa Senhora das Alegrias, que trouxe de Portugal (painel que se encontra no Santuário). Em 1568, Frei Pedro mandou vir de Portugal uma imagem de Nossa Senhora da Penha e a colocou no altar da capela que mandou edificar no cume da rocha, em 1570, com uma festa para entronizar a imagem. Depois dessa festa, Frei Pedro Palácios veio a falecer, junto ao altar da capelinha de São Francisco de Assis. Em 1644, foi construída a nova igreja, transformando a capela existente em capela-mor. Em 1651, anexo à capela, no topo da rocha, foi iniciada a construção do convento. Era pequeno, servindo apenas para alguns moradores. Em 1750, o convento foi remodelado e completado, ficando como o encontramos hoje. E o convento está aí, altaneiro, sendo luz na montanha, acolhendo os romeiros, especialmente durante a festa de Nossa Senhora da Penha, que se celebra na semana da páscoa. O convento também é chamado de Santuário do Perdão e da Graça, porque nesta casa muitos se encontram com Deus e consigo mesmos. O CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA PENHA recebeu este nome porque está situado no topo de um penhasco-rocha (FREIBERGER. In: CD de Hinos e Cantos a Nossa Senhora da Penha. Vila Velha, ES, 2006).

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Como não poderia deixar de ser, é o povo, com sua inabalável fé, que consagrou a devoção a Nossa Senhora da Penha, e a ela recorre, em seus momentos de dores e alegrias, buscando a “Grande Mãe”, aquela que se eleva do alto da montanha e que está ali, sempre no alto, para melhor o avistar e amparar. É o que se pode depreender desta “Loa a Nossa Senhora da Penha”, de origem popular, e que, agora, é cantada com arranjo de José Acácio Santana: “Devotos corramos à Mãe de Jesus Ao seu Santuário, que é graça, que é luz! Mãe Santa de Deus, e nossa também, protege-nos sempre e na morte. Amém! Frei Pedro Palácios à Vila chegou. E ao bem dessas almas com fé se entregou. O humilde eremita, em santa porfia, modesto oratório consagra a Maria. Da rude capela subia oração, Do trono Divino descia o perdão. Aos pobres, aos ricos, a lei do Senhor O apóstolo santo pregava com ardor. E as tribos dos índios, com grande alegria, adoram a Cristo, amando a Maria. Compreende Frei Pedro da Virgem o querer, e seu Santuário vai lá no alto erguer. É dos peregrinos materno solar, o templo onde alcançam favores sem par! Anchieta querido do nosso Brasil, da Virgem recebe ali bênçãos mil. Senhora da Penha, desdobra teu manto, guardando este povo do Espírito Santo”. (In: Hinos e Cantos a Nossa Senhora da Penha. CD. Prod. Executiva Ir. Custódia M. Cardoso. CIIC. Vila Velha. 2006).

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Uma verdadeira história popular da devoção a Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo se pode depreender dessas loas à Nossa Senhora da Penha, de domínio público. São dez dísticos, a que se sucede o refrão, escritos em versos decassílabos ou dodecassílabos, com rimas oxítonas ou paroxítonas, e que recontam, em linguagem poética, a história da fundação do Convento da Penha e da sua devoção iniciada, no Espírito Santo, por Frei Pedro Palácios, em 1558. Em Relicário de um Povo, O Santuário de Nossa Senhora da Penha, Maria Stella de Novaes relata que a devoção a Nossa Senhora da Penha, iniciada na França (Puy), foi levada para a Espanha por cavaleiros franceses que lutaram contra os mouros, ao lado de Carlos Magno, devoto de Nossa Senhora do PUY. Mais tarde, um monge franciscano nascido em Paris, chamado Simón Vela, indo em peregrinação a Santiago de Compostela, recebeu uma visão da Virgem Maria, com um menino nos braços, que o mandou construir uma igreja, no alto da montanha. Isso ocorreu em 19 de maio de 1434. Conforme Maria Stella, “assim como Pedro Palácios, no Espírito Santo, Simón Vela foi o iniciador do Santuário da Virgem da Penha, na Espanha. Faleceu em 1437, cinco meses após o estabelecimento canônico da Ordem Dominicana, com sete religiosos, na Penha da França” (NOVAES. Relicário de um povo. 2 ed. 1958, p. 28-9). Pedro Palácios foi irmão leigo franciscano natural de Medina do Rio Seco, perto de Salamanca, onde surgiu a devoção a Nossa Senhora da Penha, levada por Simón Vela. De origem nobre, estudou no mosteiro de São José dos Reformados, em Castela, e no de Arrábida, em Portugal. Serviu de enfermeiro no Real Hospital de Lisboa, antes de vir para o Brasil. Em As Maravilhas da Penha, obra de J. J. Gomes da Silva Neto, publicada em 1888, conta-se que o religioso tivera um sonho místico. Ao chegar à Vila do Espírito Santo, em 1558, dirigiu-se à igreja do Rosário, na Prainha, e, ao ver o desregramento dos colonos, compreendeu por que viera de tão longe. Trazia, nas mãos, um quadro de Nossa Senhora das Alegrias e se abrigou numa caverna, aos pés do morro, junto à praia. Lá vivia com um gato, um cão e um preto velho, escravo de Melchior de Azeredo, seu companheiro até a morte. Mais tarde, construiu uma cabana, no campinho, ao pé do penhasco, onde planejava construir uma ermida para Nossa Senhora. Foi o primeiro eremita do Brasil, segundo Machado de Oliveira, e o primeiro franciscano (NOVAES. Op. cit., p. 36). Silva Neto relata, também, que Pedro Palácios, ainda na Europa, tivera a notícia de um lugar belíssimo, na capitania do Espírito Santo, no cimo de um monte, em que duas palmeiras marcavam o lugar ideal para se construir um Santuário a Nossa Senhora. Veio atrás do seu sonho e o edificou, confirmando o verso do poeta português Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” (In: PESSOA. Mensagem).

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Antes de iniciar a ermida a Nossa Senhora, Frei Pedro Palácios construiu, ao pé do rochedo, uma capelinha dedicada a São Francisco de Assis, provavelmente onde ainda está uma nova, no Campinho. Vivia de esmolas, rezava e ensinava a doutrina cristã. Dormia no chão da capela, acompanhado de seus animais e de seu amigo. Trabalhou na evangelização dos nativos, confessava-se e comungava com os jesuítas da Vila. Auxiliado pelos moradores, por escravos e por índios, já devotos de Nossa Senhora, iniciou a construção da ermida, em 1566. Dois anos depois, em 1568, mandou vir de Portugal uma imagem de Nossa Senhora. Segundo Maria Stella, a primeira imagem era de roca, ou seja, a cabeça e os braços, além do Menino Jesus, vieram de Portugal, mas o corpo foi talhado na madeira pelo próprio Pedro Palácios. É ainda Maria Stella de Novaes que conta ter sido realizada, a 30 de abril de 1570, pela primeira vez, no Espírito Santo, a festa de Nossa Senhora da Penha, numa segunda-feira de Páscoa, ou seja, oitava de Páscoa. Dois dias depois, no dia 2 de maio de 1570, falecia Pedro Palácios, na capelinha de São Francisco. Foi encontrado morto, ajoelhado, rezando, encostado ao altar. Seu companheiro negro desceu, para avisar aos moradores, que logo fizeram uma romaria, para saudar o “santo ermitão”, provavelmente, o primeiro “capixaba” a merecer tal honra da Igreja Católica, ainda não concretizada. A festa a Nossa Senhora da Penha, iniciada por Frei Pedro Palácios em 1570, chega, em 2006, à sua 436ª realização, revelando números grandiosos da cada vez maior fé e devoção do povo capixaba a sua Santa Padroeira. No dia 16/4, a 4ª Romaria dos Corredores e a 19ª Romaria dos Cavaleiros e Amazonas abriram as homenagens à padroeira do Estado, no Domingo de Páscoa (A Gazeta, 16/4/2006, p. 6). Três imagens de Nossa Senhora da Penha existem, atualmente, para atender a seus milhares de devotos: uma, a que sai nas procissões, é chamada a “Santa Peregrina”, fica na Sala dos Milagres, foi esculpida em 1958 por Carlo Crepaz, escultor italiano, professor do Centro de Artes da UFES, que deixou vários monumentos em Vitória; a outra é a original, trazida de Portugal e que fica no altar-mor (A Gazeta, 16/4/2006, p.06). A terceira é recente, feita por um santeiro de Minas, e está na Capela de São Francisco, no Campinho. Neste ano de 2006, um representante do Vaticano e do Papa Bento XVI, o arcebispo Dom Lorenzo Baldisseri, Núncio Apostólico no Brasil, veio participar das homenagens a Nossa Senhora da Penha e abrir a comemoração do cinqüentenário da Arquidiocese de Vitória, São Mateus e Cachoeiro de Itapemirim. Dom Lorenzo celebrou a missa, na Catedral de Vitória, no dia 22/4, que dá início à festejada “Romaria dos Homens”, uma tradição iniciada pelo bispo D. João Batista Mota e Albuquerque, em 1958, para incentivar a participação masculina na devoção a Nossa Senhora da Penha. Os romeiros chegam ao Convento por volta de 23 h, quando é celebrada missa festiva.

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No dia seguinte, é a Romaria dos Motociclistas, pela manhã, e a Romaria das Mulheres, à tarde, essa feita num percurso menor, do Santuário Divino Espírito Santo, em Vila Velha, ao Convento da Penha. Na sexta-feira, um dia antes da tradicional Romaria dos Homens, ocorre a da Juventude e, no sábado, ocorreram, neste ano, a 1ª Corrida da Penha e a 1ª Romaria das Pessoas com Deficiência. Para terminar, no último dia, a segunda-feira, houve, pela manhã, a Romaria dos Ciclistas e, à tarde, missa de encerramento no Parque da Prainha, com a subida da imagem da Virgem da Penha ao convento, em procissão luminosa (A Tribuna. Vitória, 16/4/2006, p. 4). Toda a população capixaba, em sua maioria católica, participa da Festa da Penha: Bandas de Congo, comunidades, jovens com coreografias ensaiadas, deficientes físicos. Os joalheiros Oswaldo e Elza Moscon doaram coroas com pedras preciosas para coroar a Santa. Aprendizes-marinheiros carregaram o andor com a imagem, precedidos por dezenas de crianças vestidas de anjo, cantando o hino oficial “Virgem da Penha, minha Alegria, Senhora Nossa, Ave Maria!”. Certamente, o sonho de Frei Pedro Palácios foi realizado, tornando-se a devoção mariana realizada no Convento da Penha a mais antiga do Brasil, logo após a da ermida de Nossa Senhora da Graça, de Salvador-BA (A Gazeta. 4/11/2006, p. 8). Genilda Martins Miranda é católica fervorosa e devota de Nossa Senhora da Penha. Cursou Ciências da Religião, na Faesa, e seu Trabalho de Conclusão do Curso foi “Catolicismo do povo: Estudo da Devoção Mariana no Convento da Penha do Estado do Espírito Santo”, defendida em agosto de 2005. Seu trabalho foi premiado com uma bolsa de pós-graduação e, dentre as conclusões a que chegou, foi a de que “a festa da Penha é uma forma de reunir os fiéis e educar as pessoas para colocarem em prática as virtudes do cristianismo” (A Gazeta. Campus. 18/4/2006. p. 5. Caderno Dois). .

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LENDAS E CRENÇAS NO CULTO A NOSSA SENHORA DA PENHA

IV

Canção do Náufrago “Da Penha, ó mãe milagrosa! Livrai-me desta tormenta! Tomba o mastro, voa a vela, O mar meu barco arrebenta! Com rumo ao mar inclemente, Fez-se de vela o Espadarte; Adeus ao nauta que parte, Diz da praia toda gente, Vendo-o postado silente, Junto à amura perigosa, Onde põe a mão calosa, Ronda o vento e do fraguedo, Sobe a onda no rochedo, Da Penha, ó mãe milagrosa! (...)

Colhido pelo revés, Que o ameaça tragar O marinheiro a rezar De joelhos no convés Se lança. Da cruz o sinal fez E enquanto a alma adormenta, Amaina e cessa a tormenta. Então, os olhos, erguendo aos céus, Exclama: – Entrego-me às mãos de Deus! O mar meu barco arrebenta! (CLAUDIO, Afonso. Trovas e Cantares Capixabas. p. 37-38. Glosa literária de autoria provável do Padre Fraga Loureiro.)

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ALVEZ PELA FREQÜÊNCIA das viagens marítimas, na época, e pela fragilidade das embarcações, o culto a Nossa Senhora da Penha se confunda, em alguns momentos, com o de Nossa Senhora dos Navegantes, uma Fária ou Pelágia adaptada ao cristianismo, uma Iemanjá católica. Dentre as várias lendas sobre a proteção de Nossa Senhora aos navegantes, conta-se a do “mantéu milagroso”, que teria ocorrido durante a viagem de Frei Pedro Palácios ao Espírito Santo, em 1558. Conforme Frei Jaboatão, o navio que trouxe o devoto sofreu forte tempestade. Os navegantes que o acompanhavam, cientes de sua fé na Virgem Maria, tomaram-lhe o manto e o jogaram ao mar que, imediatamente, se acalmou, as ondas abaixaram, ausentaram-se os ventos, sendo conduzidos o barco e seus ocupantes ao porto seguro de Vila Velha, no Espírito Santo (Crônica, in Correio da Vitória, nº. 72, 28/6/1872). Outro que narra um episódio semelhante é Serafim Leite, sobre o naufrágio ocorrido em 1573, na foz do rio Doce, com os padres Tolosa, o principal, Luiz da Grã e mais cinco companheiros. Esses se salvaram, mas perdeu-se o navio e tudo quanto levavam. Após o naufrágio, foram em romaria ao Convento agradecer a Nossa Senhora da Penha ter-lhes salvado a vida e, durante os cinco meses que tiveram que ficar em Vitória, aproveitaram para construir a nova igreja de São Tiago (LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I, 1938, p. 221-2). Outro fato relatado por todos os cronistas é o de que Frei Pedro Palácios buscava, no litoral capixaba, uma montanha com duas palmeiras. Essas foram o seu guia para localizar o sítio correto em que se deveria situar o Convento. Ao encontrálas, estava certo de que ali começaria e terminaria sua missão. Hoje, em 2006, as

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duas palmeiras estão lá, altaneiras, certamente não as mesmas de 498 anos atrás, mas indissociáveis da imagem do Convento da Penha, fazendo parte do seu cartão postal. Há nove anos, um terço gigante liga as duas palmeiras nas festividades da Penha e pode ser avistado por todos que passam na terceira ponte. O terço é feito pelo médico Osmar Sales, de 50 anos, com a ajuda da família e dos amigos. Pesa 15 quilos e tem 21 metros de altura. Em 2006, as contas ganharam um brilho especial com a utilização de um papel holográfico que reflete a luz, e rosas de alumínio, usadas pela primeira vez. Conforme Osmar, “as contas mudam de cor e refletem o sol, representando Jesus Cristo, que é a luz do mundo. O globo na cruz é a humanidade. Na medalha, não usamos nada colorido porque a luz não é Maria, é Jesus. Ela nos indica o caminho”. Segundo ele, ainda, o efeito do terço que reflete a luz solar remete ao Papa João Paulo II, falecido em 2005, que divulgou o mistério da luz de Cristo, refletida para todos os lados (A Tribuna. Vitória, 16/4/2006, p. 4). No sábado de Aleluia de 2006, a banda de congo Mestre Honório, da Barra do Jucu, foi ao Convento da Penha, para se apresentar a Nossa Senhora da Penha, a padroeira dos capixabas. Levaram uma casaca pintada com o tema da Festa da Penha, instrumento típico da banda de congo capixaba, e cantaram no santuário do Convento e no Campinho. Conforme Maria do Carmo M. Schneider, “as bandas de congo são o mais típico e curioso conjunto musical do folclore capixaba. Elas estão presentes em grande parte do litoral capixaba (...) marcam sua presença nas festas de santos: São Pedro, São Sebastião e São Benedito” (SCHNEIDER. A música folclórica brasileira. 1999, p. 50). Ela não cita a presença da banda de congo na Festa da Penha,

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exceto no caso da banda de congo Santa Isabel, de Roda D’Água, Cariacica, existente há mais de cem anos. Eliomar Mazoco, que estudou, em sua monografia, O Congo de Máscaras de Roda D’água, em Cariacica, afirma que “a festa se dá três vezes ao ano, uma no Domingo de Ramos, outra no domingo seguinte e a última no dia de Nossa Senhora da Penha”. Ela se difere de todas as outras bandas de congo pelo uso das máscaras. Segundo ele, “Nossa Senhora da Penha – ou o Convento da Penha – é tema muito comum nas tramas e nos cantos de várias Bandas de Congo do Estado” (MAZOCO. O congo de máscaras. Vitória: SPDC/UFES, 1993). A maioria é uma variação do “Iaiá, você vai à Penha?”, como esta: “Mamãe, eu vou à Penha, me leva ô... me leva! Eu devo uma promessa à Santa padroeira. Eu vou pagááá”. (MAZOCO, 1993, p. 52)

Renato Pacheco e Luiz Guilherme Santos Neves citam outras toadas de bandas de congo relativas a Nossa Senhora da Penha, como: “Ô viva a Penha, Ô viva a Penha, Ô viva a Penha, Nossa mãe tão poderosa” (In: Banda de congo. Índice do Folclore capixaba. Vitória.: Banestes, 1994, p. 22-3).

Menciona-a, também, uma cantiga de roda típica do folclore capixaba chamada “Meu amor é marinheiro”: “Meu amor é marinheiro, ó marinheiro! Mora nas ondas do mar, Ó marinheiro!

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Tomara que a maré seque, Ó marinheiro! Para o meu amor saltar, Ó marinheiro! Nossa Senhora da Penha, Ó marinheiro! Onde ela foi morar? Ó marinheiro! Lá no alto da pedreira, Ó marinheiro! Toda cercada do mar, Ó marinheiro!” (PACHECO E SANTOS NEVES, id., 1994, p. 82-3)

Mais uma vez se fundem as imagens de Nossa Senhora da Penha como auxílio ao marinheiro ou aos navegantes, incorporadas ao folclore, às crenças e às tradições populares. São os mesmos folcloristas que afirmam no verbete sobre “Nossa Senhora”: “Mas é, sem dúvida, Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado, a que leva a palma no coração do povo capixaba. Nos cultos afro-brasileiros, Nossa Senhora acha-se sincretizada em Iemanjá, a rainha do mar” (PACHECO E SANTOS NEVES. op. cit., p. 94). Voltando-se ao início da devoção a Nossa Senhora da Penha, o certo é que foi a ação e o exemplo do Frei Pedro Palácios os estopins que acenderam a fé do povo. Era um autêntico místico, o primeiro anacoreta do Brasil, um devoto de Francisco de Assis e de seus ensinamentos. Conta-se que o escravo que lhe fora dado arranjava-lhe a cama, mas que ele a recusava, dormindo no chão e pondo a cabeça em qualquer tronco ou pedra. Outra lenda bastante conhecida é a de, quando saía em apostolado, deixava pequenos montinhos de comida para seus animais de estimação, o gato e o cachorro, em quantidade relativa aos dias em que se ausentasse. Chamava os animais de irmãos, como S. Francisco, e eles lhe obedeciam (Crônica. Correio da Vitória. 28/6/1872). Logo após a sua morte e devido à sua fama de santidade em vida, iniciouse o Processo de Beatificação do Frei Palácios. Colheram-se vários depoimentos de moradores que testemunharam sua vida santa e temente a Deus. Amador de Freitas, capitão da aldeia de Reritiba, morador de Vila Velha, testemunhou, afirmando que era “varão Santo e de muito exemplar vida, andando pelas aldeias desta capitania,

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onde ainda então não residia padre da Companhia, e batizava e doutrinava aos índios, ensinando, outrossim, a doutrina Cristã pelas ruas” (SANTOS NEVES. História Popular do Convento da Penha. 1958, p. 17-8). Outro que o conheceu e que depôs no Processo de Beatificação do Frei Pedro Palácios, em 1616, e que contava 102 anos, foi Nuno Rodrigues, morador na Vila do Espírito Santo. Disse que Pedro Palácios andava pelas ruas, ensinando a doutrina cristã aos meninos e a todos, batizava os índios, que se convertiam à Fé Católica, era mui zeloso da salvação das almas (“Crônicas” de Frei Jaboatão apud NEVES, 1958, p. 18-9). Frei Pedro Palácios foi sepultado no Convento da Penha e, após sua morte, a capela foi administrada por uma “Confraria de Nossa Senhora da Penha”, criada pelo segundo donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho Filho, que faleceu em 1589. Sua viúva e substituta no governo, Luíza Grimaldi (ou Grinalda), que viria tornar-se freira, religiosíssima, solicitou à Bahia que se enviassem religiosos para o Espírito Santo. Assim foi feito. Em janeiro de 1591, eles se estabeleceram, definitivamente, na Vila de Vitória, e a eles foi entregue, em escritura assinada pela governadora Luíza Grinalda, em 20/12/1591, com a posse e guarda definitiva da “Ermida de Palmeiras”, o célebre “Convento da Penha” (NOVAES. Relicário de um povo. p. 49-50). Passados trinta e nove anos da morte de Frei Pedro Palácios, o Irmão Fr. Leonardo de Jesus ordenou a remoção dos restos mortais de Pedro Palácios para o Convento de S. Francisco, em Vitória. Os habitantes de Vila Velha não ficaram satisfeitos com o fato, mas foram convencidos de que seria melhor para a veneração das relíquias daquele santo homem. Essas foram depositadas em uma urna de madeira e trasladadas, em procissão, por quatro religiosos franciscanos, com cânticos e rezas. Enfermos saíram à rua para tocar as relíquias e muitos se diziam curados (GOMES NETO. As Maravilhas da Penha, 1888). Frei Vicente do Salvador, um dos primeiros historiadores do Brasil Colônia, foi o Custódio da abertura do processo de inquirição da vida e dos costumes do Frei Pedro Palácios, para futura beatificação e canonização. Instaurado o processo, em 27/7/1616, nele testemunharam Amador de Freitas, Nuno Lima, Nicolau Afonso, Gomes d’Ávila, André Gomes, tendo como escrivão Gonçalo Mendes da Costa. Sobre os milagres ocorridos por intercessão de Frei Pedro Palácios, fala-se da cura do Ir. Fr. João dos Anjos, de Duarte Albuquerque, de João Gonçalves, da mulher de Lourenço Afonso e sua filha e de muitos outros. Textualmente, é o que nos diz Frei Vicente do Salvador: “... na trasladação de seus ossos desta igreja (Penha) para o nosso convento (S. Francisco, em Vitória), fez muitos milagres, e poucos enfermos os tocam com devoção que não saram logo, principalmente de febres, como consta do instrumento

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de testemunhas que está no arquivo do Convento” (História do Brasil. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, p. 97). O poeta cachoeirense Solimar de Oliveira retratou, em seus versos, o senso comum capixaba sobre o notável primeiro “santo” capixaba em seu poema: Pedro Palácios Ave, condor da fé, que aos píncaros supremos Elevastes, a arder na religiosidade unção, A igreja espiritual que aos homens diz - amemos! E o símbolo maior de nossa Religião! Turíbulo do amor todo ideal aí temos, Circundado da luz de santa emanação, Marco eterno apontando a todos os extremos Os caminhos da paz, do amor, da redenção... Suprema encarnação de um gênio de bondade, Que a tantos corações dando luz e piedade, Como a um povo de Deus o seu povo conduz... Frei Pedro, o bom, o santo, o taumaturgo ousado Foi de fato entre nós o mais iluminado, Porque o servo mais pobre e humilde de Jesus! (Cachoeiro, 21/01/1953)

Frei Pedro Palácios, inexplicavelmente, ainda não foi canonizado pela igreja católica, o que o faria, de fato, o primeiro santo do Brasil, uma vez que faleceu antes de Anchieta, já beatificado. .

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PERCURSOS E PERCALÇOS DO CONVENTO DA PENHA: DO SéCULO XVII AO XIX

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A Capela Palácios concebeu um plano: deveria Perseverante e calmo um culto iniciar No cume da montanha… E, logo, foi rezar Curvado, ante o painel da Virgem-Mãe, Maria! O povo, curioso, ouvindo o que dizia O frei; e vendo-o, após, as pedras carregar Ao ombro já crestado... o bom exemplo dar... Se aproximava, humilde e o braço oferecia Batendo a mata - a fim de preparar caminho No monte – transformado em singular cadinho – Primava cada qual em bem servir. Só Ela, Co’a proteção de Deus podia conceder Tal graça, tal favor... e, muito mais, prover O que preciso foi... Assim, fez a Capela. (GOMES, Orminda E. Lendas e Milagres no Espírito Santo. Vitória, 1951, p. 28. Prêmio Cidade de Vitória)

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CERTO É QUE FREI Pedro Palácios construiu, inicialmente, uma ermida, a “Ermida das Palmeiras”, com a ajuda de todos. Seus sucessores, como seu amigo Nicolau Afonso, coadjuvado por Amador Gomes e Brás Pires, ampliaram e transformaram a ermida em capela de maiores proporções. Com a posse do morro do Convento pelos franciscanos, a partir de 1591, e a fundação do Convento de S. Francisco, em Vitória, pelos mesmos frades, o Convento da Penha só passará a existir, mesmo, como Convento, a partir de 1652, com o lançamento da pedra fundamental. Machado de Oliveira afirma que a construção do Convento de São Francisco, em Vitória, e até mesmo a trasladação dos restos mortais de Pedro Palácios tinha a “intenção capciosa de prevalecer sobre a instituição primitiva” (OLIVEIRA, 1843). No entanto, a fé e a devoção populares foram mais fortes que a intenção dos franciscanos de fazer de Vitória e não de Vila Velha o centro do culto mariano no Espírito Santo. Desde o século XVI, era contínua a romaria ao Convento da Penha, então, uma ermida; e Maria Stella de Novaes relata que o primeiro milagre acontecido lá foi o de um cego que voltou a enxergar, isso ainda no início da devoção a Nossa Senhora da Penha e da colonização (NOVAES, Op. cit., 1958, p. 53). É a mesma historiadora que afirma ter sido concedido, em 1630, por intermédio de Bula do Papa Urbano VIII, o título a Nossa Senhora da Penha de Protetora da Capitania do Espírito Santo (NOVAES, Id, p. 206). O nome Maria da Penha passou a ser o mais comum das meninas capixabas, que eram batizadas no Convento e tinham a Virgem Maria como Madrinha. Essa prática durou até os dias atuais, estando, no entanto, arrefecida. A maior nadadora capixaba da atualidade é Maria da Penha Cruz, uma bela morena, campeã de natação de longa distância (“Outro banho de Pepenha”. Supl. Esportes. A Gazeta. 1/5/2006, p. 10).

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Conforme Basílio Röwer, até 1639, o Santuário da Penha era capela, mas existiam casas para romeiros e um parapeito em volta do cimo da rocha para resguardar os devotos e as procissões ali realizadas. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de guardião do convento de Vitória Frei Paulo de Santo Antônio (1639-1643), que reformou a capela, transformando-a em capela-mor, levantou o corpo da igreja, guarnecendo a barra de azulejos e ampliando a pequena sacristia. A histórica ladeira de acesso ao convento, a chamada Ladeira da Penitência, que se inicia nas proximidades da gruta do Frei Pedro Palácios, foi calçada. O Santuário Nossa Senhora da Penha tomou o feitio atual, ou seja, um corpo de 72 x 23 palmos e a capela-mor com 23 x 19 palmos (RÖWER, 1984, p. 43). Nesse mesmo século, em 1625 e em 1640, os holandeses atacaram o Espírito Santo. Na primeira investida, os holandeses, sob o comando de Pieter Pieterson, depois de um ataque a Salvador, entraram no Porto de Vitória e atacaram a Vila, no dia 10 de março de 1625. Os moradores da Vila de Vitória, associados a índios flecheiros, conseguiram expulsar os invasores. Nesse episódio, teve destaque a primeira heroína capixaba, Maria Ortiz. Na segunda investida, em 1643, os holandeses tinham uma esquadra de 11 navios, fundearam fora da barra e enviaram cerca de 600 homens para assaltar a Vila de Vitória, sem o conseguir. Derrotados, aportaram em Vila Velha, onde, também, foram batidos. Desse episódio surgiu a lenda da defesa do Santuário da Penha pela Legião Tebana, conforme retratado no quadro de Benedito Calixto, de 1927. Conta-se que os holandeses tentaram subir o morro da Penha, mas recuaram diante de extraordinária visão: o Santuário transformava-se em poderoso castelo defendido por esquadrão de soldados, a pé e a cavalo. No entanto, o Convento estava deserto e a própria imagem de Nossa Senhora da Penha tinha sido removida para o

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Convento de São Francisco, em Vitória (NOVAES. 1958, p. 67). O povo atribuiu o fato a um milagre, dizendo que S. Maurício e sua Legião Tebana, cultuados em Vitória, citado por Anchieta em seus autos, tinham vindo defender o Convento. Maria Stella de Novaes cita quadras populares que evocam o acontecimento, dentre as quais: “Nossa Senhora da Penha tem um manto de alegria; Deus lhe deu os seus soldados pra defender a baía. Nossa Senhora da Penha tem soldados a valer; que lhe deu Nosso Senhor, pro seu povo defender”. (NOVAES, op. cit., p. 67)

Em sua terceira investida ao Espírito Santo, em 1654, os holandeses, cientes das riquezas doadas ao Convento da Penha, desembarcaram em Vila Velha e surpreenderam Frei Francisco da Madre de Deus, obrigando-o a entregar-lhes as jóias e os bens preciosos do Convento. Saquearam tudo, inclusive a coroa e o manto da Virgem, levando a imagem do Menino Jesus para Recife. Conta Stellinha que Frei Francisco lhes disse: “– Vai-te embora e lá verás os brincos que te hão de custar caro; e este será o último atrevimento dos teus companheiros no Brasil. Porque isto bastava por teus pecados, para castigo teu e dos mais” (NOVAES. Op. cit., p. 69-70 ). Dito e feito. Eles levaram todas as preciosidades e escravos do Convento, mas tiveram várias baixas por flechadas dos índios e regressaram a Pernambuco, onde foram batidos e expulsos pelos portugueses, poucos dias depois, em 27 de janeiro de 1654. Os escravos, as alfaias e os ornamentos foram recuperados, exceto o Menino Jesus que, supõe-se, ficou em Olinda (NOVAES. Op. cit., p. 70). E, como sempre, o povo registra o fato, em sua literatura: “Nossa Senhora da Penha tem janelas para o mar, para ver seu bento Filho que, de certo, há de voltar”. (NOVAES, id., p. 71)

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Outra lenda da época é a de que, certa vez, os moradores da Vila Velha avistaram poderosa armada de inimigos dos portugueses, que pretendiam atacar a Capitania. Puseram a rezar a Nossa Senhora da Penha, a Protetora do Espírito Santo, e uma densa neblina cobriu toda a entrada da baía, impedindo os invasores de atracar e de saquear o Convento e a Vila. O certo é que foram infrutíferas as tentativas de invasões de ingleses, em 1592, dos holandeses, em 1625 e 1640, e de outros, graças ao povo e à proteção de Nossa Senhora da Penha. Conforme NOVAES, a construção da nave foi iniciada em 03 de maio de 1643, tendo sido concluída em 1645, colocando-se a imagem de Nossa Senhora da Penha no altar, no dia 25 de abril, para as festividades da Santa. Durante uma viagem, em 1649, em visita às residências dos franciscanos, o Custódio Frei João Batista pôde observar a intensa devoção a Nossa Senhora da Penha, no Espírito Santo, autorizando as providências para a construção do Convento. Devido ao seu falecimento, no ano seguinte, seu substituto, Frei Sebastião do Espírito Santo, passou pela Capitania do Espírito Santo, em 1650. Em Salvador, em 21 de novembro do mesmo ano, a Congregação aprovou a planta do Convento Nossa Senhora da Penha, com nove quartos para os religiosos, dois para hóspedes, corredores, cozinha, despensa, conforme a possibilidade da topografia. Também nomeou superior do novo Convento Frei Francisco da Madre de Deus que, dois anos depois, em 1653, assistiu ao saque dos holandeses, tendo falecido em 1654 (NOVAES. Op. cit., p. 75). Para as obras do Convento, cujos alicerces deveriam ser firmados sobre a rocha como os de um castelo ou de uma fortaleza, o novo Custódio foi ao Rio de Janeiro pedir ao governador Salvador Corrêa de Sá e Benevides uma subvenção. Esse fez a doação de cem mil réis por ano, apurada em vinte cabeças de gado, tiradas dos currais, em Campos da Paraíba. Seus descendentes aumentaram a doação para trinta, e mais duas “a título de esmola”, quando Martim Francisco Vasques Anes visitou o convento da Penha, em 1664 (NOVAES. Op. cit., p. 77). Em gratidão a esse benefício, a Ordem Franciscana do Brasil conferiu a Salvador Corrêa de Sá e Benevides e seus descendentes, em 10 de setembro de 1653, o título de “Padroeiros Venturosos daquele Santo Lugar”, além de “participantes de todos os sacrifícios e cada um dos sufrágios e prerrogativas dos religiosos ali assistentes” (RÖWER, p. 61-62). Para abrigar e conservar os animais, os franciscanos compraram o campo de Piratininga, por 5$000, à D.ª Catarina de Vide, viúva de Manuel de Vide, compadre e amigo de Anchieta. Tal benefício perdurou até 1849, mesmo após a Independência (NOVAES. Id., p. 77). Nesse período, segundo Frei Basílio Röwer, os jesuítas tentaram assumir a posse do Santuário de Nossa Senhora da Penha, pleiteando em juízo sua pretensão, alegando o voto de pobreza dos franciscanos. Tal demanda terminou em 1651, sendo

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os jesuítas obrigados a se submeterem à Carta Régia de 3 de março daquele ano, que deu ganho de causa aos franciscanos, cuja defesa foi baseada na escritura de 20 de dezembro de 1591 assinada por D.ª Luíza Grinalda, que cedeu aos franciscanos a posse do terreno e a propriedade à Santa Sé. Ainda no tempo de Frei Sebastião do Espírito Santo, foi o Convento da Penha agraciado, em 6 de novembro de 1653, com uma doação anual do rei de Portugal D. João IV de “uma pipa de vinho, um quarto de azeite, uma quarta de farinha do reino para hóstias e duas arrobas de cera lavrada, tudo no valor de 90$000” (NOVAES. 1958, p. 77-78). O sucessor de Frei Sebastião no cargo de Superior do Convento foi Frei Nicolau de São Tomé, que incrementou as obras iniciadas por seu antecessor e permaneceu no cargo por quatro anos. Sucedeu-lhe, em 1657, Frei Antônio dos Santos, cuja atividade concorreu para que, terminada a construção do Convento, o Capítulo de 1659 elevasse a Guardião o cargo de Superior da Penha, conferindo-o a Frei Manuel Mártires (NOVAES. Id., ibid.). A construção do Convento foi concluída em 4 de dezembro de 1660, 102 anos após a chegada do Frei Pedro Palácios. Frei Antônio das Neves assumiu o cargo de guardião, passando-o, em 1662, a Frei Francisco, o Fundão. Em 1730, viviam, na Penha, quinze religiosos, segundo Maria Stella de Novaes. Machado de Oliveira afirma que, em 1774, “sem atenção às regras da arquitetura, e ignorando-se que tais localidades estão mais que outras sujeitas à ação dos fenômenos da natureza (...) deu-se à igreja mais amplas dimensões do que convinha, sotopondo-se a peça principal a uma arcaria desproporcionada e sem justeza com o resto do edifício” (OLIVEIRA. 1856, p. 140). É o mesmo autor que afirma ter o Convento, em 1765, 23 frades residentes e receber, além da ordinária real de 90$000 e da esmola anual dos descendentes do governador Benevides, a franquia de passagens no mar e nos rios entre o Rio de Janeiro e Vitória. Dessa forma, no período de 1774 a 1777, calçou-se novamente a ladeira dos Penitentes, construíram-se os muros de acesso, reconstruiu-se a casa dos romeiros e fez-se a capela do Bom Jesus, hoje, inexistente. O desembargador Luiz Thomaz de Navarro que, por aqui passou, em 1808, afirmou ser o Convento da Penha “um dos santuários mais ricos do Brasil, tendo havido um Guardião que em ano e meio teve de esmolas 14 mil cruzados, tendo de 40 a 50 escravos, e 90 mil réis da real fazenda (RIHGB, nº. 28, 1846, p. 417-436). Tal era o fluxo de romeiros ao Convento, que foi necessária a construção de casas para abrigá-los no cume do morro, como descreve Machado de Oliveira: “Da orla do mar, e onde esta começa a bela curvatura reentrante, que aformoseia o assento da Vila Velha, chega-se ao sítio do Morro em que se edificara a primeira

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ermida de Palácios, e ora é ocupada por uma linha angular de pequenas casas, em que se aposentam os devotos que, por haverem contribuído com oferendas para a festividade ânua da Virgem da Penha, têm ali mais decente tratamento e tomam os primeiros lugares no jantar festivo; essas habitações chamam-se casas dos romeiros. No extremo ocidental desta linha, vê-se com frente a sudoeste, a capelinha do Bom Jesus” (OLIVEIRA. 1843, p. 140-141). Hoje, restam somente ruínas das casas dos romeiros e nenhum resquício da antiga capelinha. Várias reformas ocorreram em todas as épocas, no Convento da Penha. Em 1770, a parte conventual sofreu reconstrução parcial sob a administração do Guardião Frei Tomás de Santa Catarina. Em 1853, era guardião Frei João Nepomuceno, natural de Vitória e de ascendência aristocrática, que arrecadou fundos e iniciou a restauração das senzalas e a construção de casas para romeiros. Em 1854, promoveu a restauração do Santuário e a pintura dourada das talhas, na expectativa de ver “uma obra de tanta magnitude e a primeira obra brasileira conservada para outros duzentos anos” (RÖWER, p. 82). Frei Nepomuceno ficou na guardiania do Convento até 1857 e foi reconduzido de 1859 a 1862, deixando o Convento reedificado e a Virgem Santíssima ornada de todos os seus vestuários mais ricos possíveis. Maior foi seu empenho motivado pela visita de S. M. o imperador Pedro II, esposa e comitiva, ao Convento, em 1860. Em 1862, Frei Teotônio de Santa Humiliana, ao propor a venda de algumas jóias de ouro e prata para aplicar nas alfaias necessárias ao Santuário, fez o seguinte inventário das peças existentes: “... túnica de seda branca, bordada a ouro, manto de veludo azul claro, bordado de ouro, tudo rendado, com um par de brincos de pedras e adereços de pedra, cordão de pérolas, no pescoço, com seis voltas, três voltas de colar de ouro, doze pedras nos peitos, um laço também no peito com vinte e duas pedras de diversas cores, seis anéis nos dedos, de diferentes pedras, coroa de prata, com o Menino Deus no braço, com resplendor de ouro com dezesseis pedras de diversas pedras encravadas, e mais uma que parece brilhante, sendo o resplendor enleado de cordão fino, com uma cruz de ouro esmaltada, pendente ao pescoço, com oito voltas de cordão de ouro, tendo na mão esquerda o globo com uma cruz de ouro, pendente o Espírito Santo de ouro, com diversas voltas de cordão de ouro” (RÖWER, p. 92-93). O costume de as famílias ricas doarem jóias para adornar as imagens de Nossa Senhora da Penha e do Menino Jesus vem até os dias de hoje, como se pode ler, em páginas dos jornais de Vitória, sobre a doação de coroas de ouro e pedras preciosas para a Virgem da Penha e o Menino Jesus feita pelos tradicionais relojoeiros de Vitória, os Moscon, no dia 17 de abril de 2006. Essas coroas adornam, atualmente, a imagem que está na capela de São Francisco, segundo informou Tereza Cecília Brunelli, Presidente da Associação de Amigos do Convento da Penha.

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A Festa de Nossa Senhora da Penha é a maior realizada no Espírito Santo e a terceira no Brasil. Em 2006, só no dia 24 de abril, estiveram no Convento cerca de 120 mil pessoas, conforme divulgado pela imprensa local. Tal festa, iniciada em 1570, por Frei Pedro Palácios, foi oficializada pelo Governo Provincial pela Lei nº. 7 de 1844, sendo declarado feriado para todas as repartições públicas. Ao lado da festa religiosa, ocorre toda uma festa profana, que devido aos abusos cometidos, foi proibida pelo bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, pela Carta Pastoral de 14 de abril de 1879. Segundo Norbertino Bahiense, para evitar a presença de “elementos nocivos, jogadores profissionais, que se instalavam nas redondezas do Santuário e armavam suas arapucas ou formavam as suas mesas de cartas às quais atraíam os fracos” (BAHIENSE, 1952, p. 144). Também em 1879 o Frei João do Amor Divino Costa, no intuito de aumentar a devoção a Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo, obteve do Papa Leão III a concessão de inúmeras indulgências para incentivar o fluxo de fiéis, tais como “40 dias em qualquer dia do ano, 60 dias aos sábados e 100 dias para o dia de festa, na segunda-feira depois do Domingo de Pascoela”. O último guardião do Convento da Penha, no século XIX, foi Frei Teotônio de Santa Humiliana, ex- provincial da Ordem Franciscana, que dirigiu o Santuário e viveu no Convento da Penha até agosto de 1867, quando se exonerou do cargo, aos 84 anos, e foi para o Rio de Janeiro, onde faleceu no Convento de Santo Antônio. Ele foi o responsável pela instalação de uma lápide comemorativa aos 300 anos da morte de Frei Pedro Palácios na “Gruta de Frei Pedro Palácios”, na Prainha, com os dizeres em latim, mas com o erro histórico da data de falecimento, 1875, em vez de 1870.

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Ao final de seu mandato, o Santuário e o Convento foram bastante danificados pelos raios e tempestades de 29 de janeiro e 14 de fevereiro de 1867. Frei João do Amor Divino Costa presidiu a restauração das partes danificadas, porém não permaneceu no Espírito Santo. Trouxe do Rio de Janeiro um hábil escultor, Frei Fernandes Pereira, que começou, em 1874, as obras de restauração, só as terminando em 1879. Foi ele o responsável pela escultura do zimbório, retábulos, cornijas, capitéis e arcadas, pelo aprontamento do assoalho da igreja em estilo mosaico e pela contratação da pintura de novos retábulos. Esses foram pintados por Vítor Meireles, em número de dez, dos quais só restam quatro. Frei João também defendeu o interesse dos franciscanos na questão da Ilha dos Bentos ou dos Frades (1868 e 1874), e da propriedade do cais da Prainha, em 1889. Esse, situado nos arredores da gruta de Frei Pedro Palácios, era de propriedade dos franciscanos e servia para abrigar canoas e depósito de materiais, além de ser local estratégico próximo à fortaleza de São Francisco Xavier. Com a criação, em 1895, da Diocese do Espírito Santo, com sede em Vitória, a ela ficaram subordinadas todas as paróquias estaduais, incluindo os conventos da Penha, de Vila Velha, e o de São Francisco, de Vitória, confiados à Mitra Diocesana, em 1898. O primeiro bispo do Espírito Santo, D. João Batista Corrêa Néri, de posse do Santuário de Nossa Senhora da Penha, logo restabeleceu o culto religioso e as festas solenes da Penha. Nesse período, funcionou, por algum tempo, o seminário diocesano no Convento. Deve-se, também, ao primeiro bispo do Espírito Santo a declaração, aprovada pelo Papa Pio X, de Nossa Senhora da Penha como Padroeira do Espírito Santo (BITTENCOURT. Frei Pedro Palácios. 2006). .

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O CONVENTO DA PENHA: DO SéCULO XX AOS DIAS ATUAIS

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“Fui no Convento da Penha, Todos subiram, eu fiquei. Dai-me a mão, Nossa Senhora, Que eu também subirei”. (do Folclore Capixaba)

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PARTIR DE 1899 E ATÉ 1942, o Convento da Penha foi administrado pela mitra diocesana de Vitória. Monsenhor João André Casella foi o primeiro capelão da Penha, segundo NOVAES, mas Norbertino Bahiense afirma que o primeiro capelão desse período foi o Padre Joaquim Mamede da Silva Leite, que retomou os serviços religiosos no Convento, sendo o responsável pela instalação de três páraraios no mesmo, já que, na noite de 7 para 8 de janeiro de 1900, caíram raios sobre o Convento, durante uma tempestade, danificando-o. Temporais ocorridos em 1769, 1864 e 1867 provocaram, também, estragos, conforme relatos da época. Segundo bispo do Espírito Santo e primeiro capixaba, Dom Fernando de Sousa Monteiro, dedicou sua Pastoral de saudação aos seus diocesanos à Devoção ao Espírito Santo e a Nossa Senhora da Penha. Assumindo em 1902, incentivou as romarias, contratou o artista francês Augusto Roner, para raspar, envernizar e dourar os altares, que assim o fez durante 4 anos. Em 1909, o Cônego João Maria Cochard substituiu o monsenhor Casella na capelania do Convento. O marceneiro Pinin consertou o piso e algumas peças do Santuário e do Convento, além de fazer reparos nos alpendres. Em 1910, o comendador Cícero Bastos doou o mármore para completar o altar-mor. Veio de São Paulo Rigon Umberto, hábil marmorista, para realizar a obra (NOVAES. 1958, p. 108109). Também foi instalada a luz elétrica no Convento e na ladeira pelo engenheiro Joaquim Carrão, em 1917, e, em 08 de setembro de 1910, nas festas de Vitória e da natividade de Nossa Senhora, foi bento o altar restaurado, ao som da orquestra regida por Lavínia Veloso, que assim cantava:

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“Nossa Senhora da Penha poderosa intercessora, diante do vosso filho, patrocinai-nos, Senhora. Nossa Senhora da Penha, livrai-nos de todo o mal, assim como fostes livre do pecado original. Nossa Senhora da Penha, atendei nossos clamores; consolai todos os que sofrem, socorrei os pecadores”. (Apud NOVAES. Op. cit., p. 106 e 110)

Em 27 de novembro de 1912, chegou de Roma o despacho nº. 117 s, c, 1912, do papa Pio X, constituindo Nossa Senhora da Penha Padroeira do Espírito Santo, confirmando o decreto de 23 de março de 1630, de Urbano VIII. A partir de 1913, ainda na época de D. Fernandes, são produzidas lembranças, cruzes, terços, medalhas, para serem vendidos aos romeiros. Com a morte de D.

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Fernando, em 1916, sucedeu-lhe D. Benedito Alves de Sousa, em 1918, que criou a Associação de Nossa Senhora da Penha e deu ao Convento o título de “Episcopal Santuário de Nossa Senhora da Penha”. Capelão do convento da Penha, desde 1916, o Padre José Lidwin reconstruiu a Casa dos Romeiros, em 1920. No mesmo ano, o prefeito de Vila Velha, Dr. Antônio Ataíde, levantou a questão de pertencer ao município o morro do Convento; entretanto, venceu a causa da Igreja, em 1922, baseando-se na escritura de doação de D.ª Luíza Grinalda, de 1591. Em 1925, fundou-se “O Santuário da Penha”, jornal católico impresso nas oficinas do orfanato Cristo Rei e, nesse mesmo ano, ocorreu o roubo das jóias de Nossa Senhora da Penha. “No dia 4 de outubro, mãos criminosas tiraram a preciosa coroa de ouro e pedras raras, oferta do Condestável Torquarto de Araújo Malta, em troca da que veio da Europa, com a imagem, e era de prata. Além da coroa, jóias valiosas e o manto da Virgem foram sacrilegamente retirados. Anéis de platina, brilhantes e ouro!... Broches raríssimos, estilo antigo... E, na fúria de arrancarem anéis, pulseiras e cordões de ouro, os assaltantes quebraram o braço da imagem!” (NOVAES. Op. cit., 1958, p. 116). Nada foi encontrado. Por iniciativa de Maria Vieira, uma comissão de pessoas piedosas de Cachoeiro de Itapemirim doou outra coroa de ouro maciço a Nossa Senhora da Penha, em 1925, que também foi roubada, em 2 de abril de 1947, por ladrões, dentre os quais se encontrava um ex-zelador do Convento. Dessa vez, os criminosos foram presos e a coroa encontrada, em pedaços, além dos cordões de ouro e outras jóias, que foram restaurados. O quarto bispo do Espírito Santo, D. Luiz Scortegagna, que sucedeu a D. Sebastião, foi o responsável pela devolução do Convento da Penha aos franciscanos, em 2 de fevereiro de 1942, por determinação da Santa Sé, sendo seu primeiro guardião o Frei Luiz Wamd. O Convento da Penha foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pelo Processo nº. 232-T, inscrição nº. 224, livro histórico, fls. 37, e inscrição nº. 290-A, livro Belas Artes, fls. 61, em 21 de setembro de 1943. Em junho de 1945, o sr. André Carloni iniciou a sua restauração, trabalho concluído em julho de 1946, a um custo de Cr$129.924,10 (NOVAES. Op. cit., p. 118). Também em 1945, celebraram-se as bodas de ouro da Diocese do Espírito Santo. O ponto alto das comemorações foi o Congresso Eucarístico Nacional, ocorrido em Vitória, reunindo uma assistência jamais registrada em Vitória, segundo Stellinha. O quadro de Nossa Senhora das Alegrias, trazido por Frei Pedro Palácios, foi levado para Vitória e colocado no altar construído na maior avenida da Capital, para a missa solene.

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Em 1951, comemorou-se o Quarto Centenário da fundação da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, levando-se a imagem da Virgem da Penha à Capital, pela terceira vez. A segunda ocorrência foi em 1769, quando houve uma grande seca no Espírito Santo e a primeira em 1699, segundo NOVAES. Na época da seca, organizou-se uma procissão marítima, com embarcações enfeitadas e levou-se a imagem até a capital. O principal documento literário daquele período escrito no Espírito Santo, O Poema Mariano, de Caldas Barbosa, de 1800, publicado em 1854, assim narra a ida da imagem em 1769: XLVIII “Chega a Senhora à terra e recebida, em rico pálio de ouro marchetado, da turba acompanhada é conduzida à Santa Casa de Francisco amado; inda não bem ao templo é recolhida já todo o céu de nuvens carregado, encobrindo do sol a formosura, transforma o claro dia em noite escura. XLIX Apenas entra a Virgem, quando os ares as nuvens vomitando sobre a terra, parece um dilúvio, que nos mares quer a água vincar do fogo a guerra. Os verdes papagaios, nos pomares, os barbados bugios, pela serra, e, nos charcos, as rãs, cheias de glória, estão cantando os vivas da vitória”.

Contam os fatos que, mal entrara a Santa no Convento de São Francisco, em Vitória, a chuva tão esperada caía em abundância. Benedito Calixto registrou em um de seus célebres quadros pintados, em 1927, “O milagre da seca”. Maria Stella de Novaes, baseando-se em Serafim Leite, afirma que, em 1699, a imagem de Nossa Senhora da Penha fora levada a Vitória, pela primeira vez. O certo é que a ida de Nossa Senhora da Penha a Vitória foi o ponto alto dos festejos religiosos do IV Centenário de Vitória, em 1951, e que “as senhoras capixabas promoveram uma subscrição popular para a solene coroação de Nossa Senhora da Penha. Valiosas coroas de ouro e pedras preciosas foram adquiridas para Nossa Senhora da Penha e o

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Menino Jesus”, conforme Maria Stella de Novaes (Op. cit., p. 116). Nesse mesmo ano, a imagem de Nossa Senhora da Penha foi restaurada por Giovanni Tomaselli. Em 1952, inaugurou-se a Sala dos Milagres, no segundo piso da Casa dos Romeiros, onde, hoje, está a Secretaria do Convento e a sede da Associação de Amigos do Convento da Penha. Na mesma época, foi criado o Museu do Convento por Frei Alfredo Setaro, falecido em 1971. Desativado por alguns anos, foi reinaugurado pelo atual guardião do Convento, Frei Geraldo Freiberger, em 1999. No pequeno museu, além de detalhes da antiga construção, encontram-se 109 peças, dentre alguns santosde-roca, imagens em madeira policromada do século XVIII e a antiga pia batismal, de pedra, que foi usada de 1952 a 1970, além de ex-votos pintados, trajes e jóias que adornavam o Menino Jesus e Nossa Senhora da Penha (MEDEIROS, 2005, p. 34-36). Contígua ao Museu do Convento está a Sala dos Milagres, uma pequena réplica dos milhares de ex-votos, fotos, roupas, pernas e braços de louça, cera ou gesso, cabeças, óculos, muletas, que registram, concretamente, a fé do povo e a devoção a Nossa Senhora da Penha, desde que essa crença foi trazida ao Espírito Santo, por Frei Pedro Palácios, em 1558. Em torno de uma réplica da imagem de Nossa Senhora da Penha, a Virgem Peregrina, feita pelo artista italiano e professor Carlo Crepaz, em 1958, e de um quadro do artista plástico e professor Attílio Colnago, pintado em 1999, os ex-votos são, diariamente, acrescidos de novas mostras, trazidas pelo povo que jamais deixou de acreditar nos milagres e na intercessão de Nossa Senhora da Penha, conforme cantam os romeiros, contritos, em seus cantos: “És a estrela do mar que nos guia A mais bela de todas as criaturas És o hino que todos cantamos Glória a Deus, glória a Deus nas alturas”. (Frei Fabreti).

Ou, ainda, como registra Afonso Cláudio, em um “Desafio em trabalho entre ferreiros de Mangaraí”: Nossa Senhora da Penha, Santa de minha devoção, Há de abrandá as ira Cum que vinhé o patrão”. (CLAUDIO. Trovas e cantares capixabas. 1980, p. 63-64).

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Em 1º de maio de 1953, foi realizada a Sagração do Santuário da Penha, pelo bispo Dom José Joaquim Gonçalves, com a depositação no altar-mor das relíquias das Santas Vitória, Águeda, Fausta, Maria Goretti e de S. Pio X. Em 1955, o Convento é oficialmente entregue à Ordem Franciscana, representada pelo Frei Heliodoro Müller. Em 1956, foi erigida a primeira Via Sacra do Convento. Foi o Bispo Dom João Batista Mota e Albuquerque, logo depois, primeiro Arcebispo do Espírito Santo, que instituiu a Romaria Noturna dos Homens, em 1958, derivada da romaria mista criada pelo bispo Dom José Joaquim Gonçalves, em 1955. Ela percorre 14 km, saindo da Catedral de Vitória até o Convento, sábado à noite, dura cerca de 4 horas e reúne em torno de 70 mil participantes. Quadro da artista Marian Rabelo, doado ao Convento em 4 de abril de 1975, retrata essa romaria. As mulheres começaram a fazer sua romaria em 1970, no domingo à tarde (MEDEIROS. Op. cit., p. 30-31). A capela de São Francisco de Assis, no Campinho do Convento, foi reerguida, em 1958, provavelmente no mesmo local onde se encontrava a primitiva erigida por Frei Pedro Palácios e onde ele foi encontrado morto, em 1570. Frei Alfredo Setaro foi o responsável pela reconstrução da Capela, no ano em que se comemoravam os 400 anos da chegada de Frei Pedro Palácios ao Espírito Santo. Ele, também, instalou a Sala dos Milagres e organizou o primeiro Museu do Convento. Em 1966, foi restaurada a imagem de Nossa Senhora da Penha por frades franciscanos e, em 1968, foi roubada a imagem de Nossa Senhora Menina do altar de Sant’Ana. Em 1975, foi feita outra imagem bem semelhante à primeira, para substituí-la. Em 1969, houve a substituição do assoalho do corredor do santuário; em 1971, a substituição do assoalho do Convento e, em 1980, a substituição do assoalho da igreja. Nesse mesmo ano, a porta do sacrário foi trabalhada em ouro pelo artesão litúrgico Luís Carrara, de São Paulo, antigo aprendiz dos franciscanos. Foram construídos os sanitários atrás da casa dos romeiros em 1972 e, em 1973, houve a ampliação do Campinho, para aumentar o estacionamento e construir o palanque. Na época, foram encontradas, nas escavações, pedras da antiga capela do Bom Jesus. Em 1979, houve a substituição dos fios de iluminação externa por canos subterrâneos. Em 1974, construiu-se a casa do encarregado da chácara do Convento (Convento de Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo. 3ª ed. Petrópolis, 1984). De 1957 a 1958, foram feitas três cópias das imagens de Nossa Senhora da Penha, que percorreram todo o Estado, nas comemorações do 4º Centenário da chegada de Frei Pedro Palácios ao Espírito Santo; por isso, foram chamadas de as Santas Peregrinas. Posteriormente, uma ficou no Convento, outra foi enviada para o Paraná e a terceira para Monza, na Itália. A que foi para o Paraná, hoje, encontra-se no Museu do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, SP, segundo informa Tereza C. Brunelli.

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O Convento da Penha foi homenageado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em 1951, com o selo comemorativo do 4º Centenário da fundação de Vitória e, em 1969, no Natal, com uma reprodução da imagem de Nossa Senhora das Alegrias, o quadro trazido por Frei Pedro Palácios e considerado a tela a óleo mais antiga do Brasil. Também em 1970, por ocasião do 4º Centenário da construção da Ermida das Palmeiras e da morte do Frei Pedro Palácios, a EBCT lançou um selo comemorativo. No mesmo ano, na gestão do Prefeito de Vila Velha, Gotfrio Alberto Anders, construiu-se um busto de Frei Pedro Palácios, que, no ano seguinte, foi substituído por uma estátua de corpo inteiro e o busto doado ao Convento. Nele, foi afixada a seguinte placa: “Gratidão do povo capixaba a Frei Pedro Palácios que legou ao Espírito Santo o mais glorioso monumento de fé e de cultura – 1570-1970”. .

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VISITANTES ILUSTRES DO CONVENTO DA PENHA

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“Penha, Penha, Eu vim aqui me ajoelhar. Penha, Penha, Trazei paz para o meu lar!” (NEVES. História popular do Convento da Penha. 1999, p. 85).

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ESDE O INÍCIO DA DEVOÇÃO a Nossa Senhora da Penha, iniciada em 1558 por Frei Pedro Palácios e até hoje, são constantes as romarias ao Convento da Penha de Vila Velha do Espírito Santo, em todas as classes sociais. A primeira romaria de que se tem notícia é a dos jesuítas Inácio de Tolosa, Luiz da Grã e outros, que sofreram naufrágio na foz do rio Doce, em 1573. A segunda é a dos jesuítas que acompanhavam o Padre Visitador Cristóvão de Gouveia e que aportaram ao Espírito Santo, em 21 de novembro de 1584. Fernão Cardim, o célebre jesuíta autor do Tratados da Terra e da Gente do Brasil, foi o narrador dessa visita. Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas foram os primeiros franciscanos a visitar o Convento, em 1589, a convite da governadora Luíza Grinalda, para examinar as condições que a viúva de Vasco Fernandes Coutinho Filho lhes oferecia para exercer, aí, seu apostolado. Anchieta também fazia suas preces na ermida das palmeiras. No século seguinte, o XVII, registra-se a presença de Dom Luís de Céspedes Xeria, nomeado Governador do Paraguai e que, ao vir da Europa, sofreu naufrágio, na segunda quinzena de janeiro de 1628. Tendo sido salvo, foi ao Convento, descalço, agradecer à Virgem Maria, antes de prosseguir a viagem. Em 1664, visitou o Convento Martim Francisco Vasques Anes, filho do general Salvador Corrêa de Sá e Benevides, um dos maiores benfeitores do Santuário, que doou cem mil réis por ano, a partir de 1652, quantia elevada, posteriormente, por seus descendentes.

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Em 1818, o Convento da Penha foi visitado pelo ilustre botânico Augusto de Saint Hilaire, que assim o descreveu: “A pouca distância de Vila Velha, do lado leste, acha-se a Montanha da Penha, que termina por um rochedo enorme sobre o qual se construíram o convento e a igreja consagrados à Virgem, sob o nome de Nossa Senhora da Penha. Vista dos arredores, essa montanha apresenta pitoresco aspecto. O rochedo nu, o mosteiro e a igreja que a encimam parecem, de longe, uma fortaleza e contrastam com as espessas matas que cobrem os flancos da montanha” (SAINT-HILAIRE. Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce. 1974, p. 114). Também o ilustre orador sacro Frei Francisco do Monte Alverne foi, não exatamente um visitante, mas o próprio guardião do Convento, de 1819 a 1821, onde proferiu alguns de seus famosos sermões. Outro renomado visitante estrangeiro foi o príncipe Maximiliano Von Wied – Neuwied, naturalista, que assim descreveu o Convento, em 1815: “Numa alta colina coberta de vegetação, ergue-se o famoso Convento de Nossa Senhora da Penha, um dos mais ricos do Brasil, dependente de abadia de São Bento do Rio de Janeiro. Dizem que possui uma milagrosa imagem de Maria, razão por que o procuram numerosos peregrinos (WIED-NEUWIED. Viagem ao Brasil. 1940, p. 158). De julho a dezembro de 1842, o Padre Diogo Antônio Feijó e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro estiveram cumprindo pena de degredo, em Vitória. Em carta enviada à irmã Justina, datada de 20/10/1842, o Padre Feijó assim escreve: “Há aqui um convento no pináculo de um morro de pedras, beira mar, onde vou passar

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semanas, e donde vim agora, tendo ido lá rezar o dia das Dores e onde fui cantar Missa a Nossa Senhora” (Apud BAHIENSE. 1952, p. 61-62). Do livro de registro de visitas ao Convento da Penha, consta uma infinidade de nomes de pessoas ilustres do século XIX citados por Norbertino Bahiense, como o Presidente da Província do Espírito Santo, Felipe José Pereira Leal e esposa, em 1849, o deputado José Ferreira Souto e esposa, em 1851, militares, médicos, engenheiros, o Barão de Itapemirim, em 1851, sempre acompanhados. Cita, ainda, a vinda de um jovem aspirante a oficial da marinha de guerra da Grã-Bretanha, Eduardo Wilberforce, que escreveu um livro Impressões de Vitória e seus arredores, traduzido por Afonso de E. Taunay e publicado no Jornal do Comércio de 26/8/1945. A edição original é de 1856. Assim o jovem marinheiro inglês descreve o Convento da Penha: “Ali, no cume, entre rochedos erectos Ergue-se velho edifício Que deve ter desafiado os mais violentos embates da tempestade Ou as mãos presunçosas do inimigo”. (Op. cit., p. 66).

Outros navegantes ingleses como o comandante Eduardo Tatham e o Primeiro Tenente John H. Crang estiveram no Convento, em 1851, na época em que os ingleses fiscalizavam os portos brasileiros em busca de navios negreiros. O escritor capixaba Dr. José Marcelino Pereira de Vasconcelos visitou o Convento em 1858, janeiro, e em novembro, quando levou a mãe e irmãs. Voltou em janeiro do ano seguinte, acompanhando a comitiva do Imperador D. Pedro II, ao lado do Barão de Itapemirim, Joaquim Marcelino da Silva Lima, e outras autoridades. Sem dúvida, a mais importante visita ao Convento da Penha foi a de D. Pedro II e esposa, a imperatriz D. Tereza Cristina, em 28/1/1860. Além dos oficiais da fragata Amazonas, da galeota a vapor Pirajá, muitas outras pessoas da corte acompanharam os ilustres visitantes. Em seus registros, D. Pedro escreveu que o Convento “possui 40 e tantos escravos e recebe muitíssimas esmolas, havendo bastantes ex-votos” (ROCHA, 1960). Outros visitantes ilustres citados por Nobertino Bahiense foram o Dr. José Fernandes da Costa Pereira Júnior, Presidente da Província do ES, em 1861, por duas vezes; romeiros ricos de Campos dos Goitacases; o célebre pintor Vitor Meireles, em 1871, que pintou dez preciosas telas em óleo, das quais, seis desapareceram. Mais

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tarde, as quatro restantes foram restauradas por técnicos do SPHAN, na gestão do Dr. Rodrigo de Melo Franco. O escritor Basílio Carvalho Daemon, célebre autor da História da Província do Espírito Santo, lá esteve em 1/9/1872, bem como outro ilustre historiador capixaba, Misael Ferreira Pena, em 25/10/1874, que voltou ao Convento, após dois meses, levando a esposa, em 22 de dezembro. Três anos depois, em 1877, novamente se registra a visita de Misael Ferreira Pena. O Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, visitou o Convento, em 3 de julho de 1880, cantou as ladainhas de N. Senhora, fez um sermão sobre o amor da Virgem Maria aos homens e pediu a ela sua salvação, literalmente: “Salvame eu, que o mais menos importa” (Apud Bahiense. 1951, p. 74). O Presidente da Província Dr. Henrique de Ataíde Lobo Moscoso, acompanhado de outras autoridades, visitou o Convento, em 02/10/1888, tendo falecido meses depois. Em 15/6/1889, o novo Presidente da Província, José Caetano Rodrigues Horta, acompanhado do futuro governador Dr. José de Melo Carvalho Muniz Freire e do Dr. Cleto Nunes Pereira, Secretário de Governo, dentre outros, foram ao Convento, talvez, pedir graças para a República que se avizinhava. No dia da Proclamação da República, 15/11/1889, lá compareceram representantes da Marinha Brasileira. Lá estiveram, também, o Dr. Afonso Augusto Moreira Pena, então Governador de Minas Gerais e futuro Presidente da República, acompanhado de seu filho, do senador Joaquim de C. Sena, do Governador do Espírito Santo, Dr. José de Melo Carvalho Muniz Freire e o filho, além de outras autoridades, em 29/08/1893. Afonso Pena foi recebido com festa pelos capixabas, com desfile de banda de música, declamações, dentre as quais a da jovem Arlinda Quitiba: “Vieste, egrégio varão, Nossas plagas visitar? Colher a alegre impressão Nos risos deste lugar? (...) Soou a hora ditosa Do nosso engrandecimento. Vitória, és venturosa, Com Minas, tens incremento!”

E a homenagem do Padre e poeta capixaba Antunes de Siqueira, que fez o seguinte “Soneto”:

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“Era rijo Nordeste; o mar irado as crespas ondas suas alvejava, D’encontro aos cachopos aljofrava A espuma, que ali tinha arrojado! Da noite o astro já cursado Tinha parte do céu, que prateava, E eu a sós comigo cogitava Em fatais pensamentos engolfado. Em vésperas de festa momentosa, Que o povo aguarda impaciente, Haverá alguma cousa lastimosa?... Não! (me disse a Penha) a fé do crente Eu sempre protejo dadivosa De Minas tu verás o Presidente”.

Estava certa a profecia do ilustre poeta. Afonso Pena (1847-1909) foi Presidente da República de 1906 a 1909, o primeiro mineiro a ocupar tal cargo e só não veio ao Espírito Santo inaugurar a estrada de ferro Cachoeiro a Vitória, em 1910, por ter falecido em 1909. Certamente, por sua religiosidade, teria retornado ao Convento, para agradecer a Nossa Senhora da Penha, de quem era devoto. No século XX, a escritora Júlia Lopes de Almeida e seu filho, Afonso de Almeida, estiveram no Convento, no dia 16/5/1911. Em 23/7/1911, o Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República, esteve na escola de Aprendizes-marinheiros, ao pé do Convento. Não se sabe se subiu o morro. Houve a visita do Núncio Apostólico, Dom Henrique Gasparri, em 06/04/1922, que esteve no Espírito Santo em visita às colônias italianas, e em 27/06/1926, o Presidente Artur Bernardes e grande comitiva assistiram à missa no Convento. Em 5/7/1526, foi a vez do Presidente eleito, Washington Luiz Pereira de Souza. Em 23/08/1933, visitou o Convento o Presidente Getúlio Vargas e em 10/9/1949, o general Eurico Gaspar Dutra, acompanhado de ministros, vez uma visita ao Santuário da Penha. Acompanhou-os o Governador Carlos Fernando Monteiro Lindemberg. Por ocasião do 8º Congresso Brasileiro de Geografia, seus membros, dentre os quais o general Cândido Rondon, acompanhado dos bispos Dom Benedito Alves de Souza e Dom Emanuel Gomes de Oliveira, visitaram o Convento, em 28 de novembro de 1926.

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Artistas plásticos como Levino Fânzeres, Álvaro Conde, Benedito Calixto, com suas quatro telas pintadas em 1927, Vítor Meireles, Marian Rabelo, Attílio Colnago, Kátia Bobbio, dentre muitos outros, retrataram o Convento da Penha em suas telas, em diferentes estilos e épocas. A estrada para o Convento foi inaugurada em 28 de junho de 1928, com a presença do Governador do Estado, Florentino Avidos, e sua pavimentação ocorreu no Governo de Jones dos Santos Nunes, quando passou a se chamar Alameda D. Luís Scortegagna, o 4º bispo do Espírito Santo, falecido em 1951. O portão da entrada tem o ano de 1952 e a placa, inaugurada na ocasião, é de 15/03/1952. Estiveram no Convento, em 08/09/1932, os escritores e acadêmicos Fernando de Magalhães, Carlos de Laet, Gustavo Barroso e Laudelino Freire. Em setembro de 1945, por ocasião do Congresso Eucarístico em Vitória, D. Jayme de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro, visitou o Convento, pouco antes de se tornar cardeal. Conheceram o Convento, também, o Ministro da Justiça, Laudo de Camargo e comitiva, acompanhado do Governador Jones dos Santos Neves e esposa, em 15/4/1951. No 4º Centenário de Vitória, o Núncio Apostólico D. Carlos Chiarlo, legado do Papa Pio XII, coroou, solenemente, a imagem de Nossa Senhora da Penha, em 8 de setembro de 1951. Outras visitas importantes foram a do Frei Constantino Koser, ministro-geral da O.F.M (Ordem dos Frades Menores), em 12/08/1974; a dos Núncios Apostólicos D. Armando Lombardi, em 1959, D. Sebastião Baggio, em 1965, D. Carmine Rocco, em 1975 e D. Lorenzo Baldisseri, em 2006; a dos cardeais D. Dino Staffa (Cúria), em 1971; D. Paulo Evaristo Arns (São Paulo), em 1991, quando presidiu as festas da Penha, D. Avelar Brandão Vilela (Salvador), em 1980, e, a mais importante de todas, a de D. Albino Luciani, patriarca de Veneza, em 1975, que se tornou o Papa João Paulo I, de 26/8 a 29/9 de 1978. Também estiveram em visita ao Convento os presidentes Jânio Quadros, João Goulart com a esposa e filhos, em 1963, e Artur da Costa e Silva (Apud Convento de Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo. 3ª ed, Vozes, 1984). .

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A MATA DO CONVENTO E A QUESTテグ AMBIENTAL

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“A

POSIÇÃO TOPOGRÁFICA DO Convento da Penha lembra os vetustos e soberbos castelos medievais da Europa. Esse arrojado conjunto arquitetônico, único no Brasil, vem fascinando os visitantes desde séculos; e mesmo na atual era atômica, os romeiros não deixam de extasiar-se perante o empolgante aspecto do Santuário Mariano de Vila Velha” (Frei Venâncio Willeke, OFM. A Gazeta, 19/3/1978). Como se pode observar nas imagens da década de 1950, a mata atlântica do Morro do Convento da Penha estava bastante devastada na segunda metade do século XX. Pode-se observar, em foto aérea da série Wessel, a estrada que dá acesso ao Convento, construída em 1928, no governo de Florentino Avidos, e pavimentada em 1951, no de Jones Santos Neves. Nem as palmeiras que deram nome à primeira ermida existiam mais. As fotos mostram algumas bromélias sobre a rocha, no lado direito, e algumas bananeiras e restos de vegetação, no lado esquerdo, onde havia uma horta em que o Padre Lidwin cultivava verduras e frutas (área sudeste). Foi a partir da década de 1970 que começou a preocupação com o reflorestamento do morro, com o plantio de árvores nativas, um trabalho realizado pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e pelo Governo Estadual, em que milhares de mudas de árvores nativas e madeira de lei foram plantadas, permitindo a volta de elementos da fauna nativa como aves e pequenos mamíferos. Estudo realizado por Renato Moraes de Jesus, intitulado “Recuperação de Fragmentos na Mata Atlântica: um estudo de caso” registra o trabalho desenvolvido por técnicos da CVRD na restauração dos 50 hectares da Mata do Convento, em Vila Velha, ES, cujo principal objetivo era “fazer a restauração florestal, ou seja, voltar à

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originalidade do ecossistema”. No “Histórico da Degradação” da Mata do Convento, Jesus afirma: “A degradação do fragmento (vegetal), certamente, se iniciou com a construção do Convento, na qual a abertura da estrada para se chegar ao topo da montanha foi fator determinante. Com a sua implantação, um aumento de luminosidade e, provavelmente, a quebra de árvores nas suas margens, fragilizaram o ecossistema, permitindo um acréscimo na população de lianas. Paulatinamente e, mais recentemente, com a desordenada ocupação urbana ao redor do Convento e a conseqüente eliminação das formações florestais, os efeitos da fragmentação foram incrementados. Por volta de 1960 se tem notícia dos primeiros registros de deslizamentos. Tal fato induziu aos padres responsáveis por ele, naquela época, no afã de corrigir esses impactos, ao plantio de uma determinada espécie de bambu. Progressivamente, ela promoveu a colonização do sub-bosque, diminuindo consideravelmente a área de regeneração natural. Assim, com esses efeitos e o decorrente daquela população de lianas, já se tornava, pelo menos, aparente, o alto nível de decrepitude do fragmento” (JESUS. Op. Cit., p. 06). O efetivo reflorestamento da Mata do Convento ocorreu de janeiro de 1990 a dezembro de 1993 e foi realizado pela Florestas Rio Doce S/A. Para o trabalho de recuperação florestal, foram feitos tratamentos silviculturais (implantação e manutenção), com auxílio do herbário da Reserva Florestal de Linhares, combate às formigas cortadeiras, roçada manual seletiva, destoca do bambu, corte de cipós, coveamento, adubação, replantio. Foram utilizadas 2.500 mudas/ha, sendo 60% de espécies pioneiras, 15% de secundárias iniciais, 15% de secundárias tardias e 10% de climáticas. As espécies

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escolhidas, do viveiro da Reserva Florestal de Linhares, “foram aquelas de ocorrência natural do ecossistema Atlântico de tabuleiro do Espírito Santo, ou seja, as que provavelmente existiam nas encostas do Convento” (JESUS. Op. Cit., p. 8-9). Certamente, o trabalho de restauração da mata do Convento foi excelente, como se pode observar, hoje, na exuberância da cobertura vegetal, inexistente há 50 anos, e, possivelmente, muito próxima à de 500 anos atrás, fruto, sobretudo, das ações conjuntas desenvolvidas pela CVRD e pela CST. Outro trabalho publicado pela CVRD, provavelmente do mesmo autor do anterior, faz um “Diagnóstico Florestal da Mata do Convento da Penha”, nove anos após o início dos trabalhos de recuperação, constatando que “houve êxito no plantio e, conseqüentemente, na recuperação do fragmento em todas as classes de tamanho e para todos os parâmetros analisados”. Para o autor, ainda, “os resultados encontrados são promissores, indicando que numa situação onde o nível de degradação não esteja tão acentuado, há a possibilidade de se dispensar o enriquecimento e conseguir a recuperação da diversidade do fragmento apenas com determinados tratamentos silviculturais e posterior condução da regeneração natural” (Op. Cit., p. 2). Dando seqüência ao trabalho realizado de 1990 a 1993, de setembro a dezembro de 2000, a CVRD, juntamente com a CST, declarou “guerra” ao lixo jogado na mata e às plantas invasoras, combatendo formigas e enriquecendo a área com o plantio de mais de 15 mil mudas de espécies da Mata Atlântica. Numa segunda fase, de junho a dezembro de 2001, realizou-se uma nova etapa de limpeza na mata, retirando-se latas, garrafas, papéis jogados por motoristas que passam na terceira ponte e por visitantes do Convento; continuou-se a retirada de cipós, o controle de formigas e o plantio de mais 30 mil mudas, um investimento R$150 mil reais, programa estendido até 2003 (CVRD. ValeNotícias. Julho 2001). De 2001 a 2003, CST e CVRD trabalharam, continuamente, na limpeza e conservação da Mata do Convento, tarefa que ainda realizam, esporadicamente. O Relatório semestral de março a agosto de 2001 da Divisão de Meio Ambiente da CST detalha os serviços de tratos culturais executados na mata do Convento da Penha, tais como: controle de cipós; destoca de capim colonião; destoca de bambu; roçada manual seletiva; controle de formigas cortadeiras e recolhimento de resíduos inertes, num total de 700kg por mês, excetuando os meses de férias ou de comemorações religiosas,

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quando essa quantidade subiu para 2000kg. Além desses serviços, executou-se todo um trabalho de enriquecimento florestal que consistiu no coveamento, adubação e plantio de espécies da Mata Atlântica, num total de seis mil covas (CST. Relatório nº. da Divisão de Meio Ambiente. Março a Agosto de 2001). Outro importante estudo realizado pela CST, em parceria com a CVRD e a participação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), resultou no trabalho intitulado “Avaliação das Condições de Conservação do Patrimônio Histórico do Convento de Nossa Senhora da Penha – Vila Velha - ES”, publicado em junho de 2001. O trabalho foi realizado por uma equipe de biólogos, geólogos, engenheiros químicos e fotógrafos da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), que passou um ano no Convento da Penha, para avaliar as condições de sua conservação. O principal objetivo da pesquisa foi descobrir como o meio ambiente poderia estar contribuindo para a deterioração da estrutura física e do acervo aí existente. Para executar a tarefa, uma unidade móvel equipada com medidores contínuos de poluição atmosférica foi instalada no local, para coletar material particulado e outros elementos presentes no ar, tais como ozônio, dióxido de enxofre e outros. Peças de granito e mármore, materiais empregados na arquitetura e na decoração do Convento também foram expostos ao tempo, a fim de se observar a reação que poderiam sofrer. Os resultados dessa pesquisa revelaram que o meio ambiente não é o principal responsável pela degradação nas obras de arte e muito menos influi diretamente na estrutura física do patrimônio histórico, cujo estado foi considerado bom pelos especialistas. O estudo, feito por recomendação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEAMA), poderia ter sido finalizado nesse ponto, mas, por sugestão dos técnicos da CVRD e da CST, fez-se uma verdadeira radiografia das condições do Convento da Penha, o principal monumento turístico e religioso do Espírito Santo. Dentre as curiosidades apontadas pelos técnicos é que, no altar, existem mais de 200 peças de 19 tipos diferentes de mármore. Existem imperfeições, como remendos de argamassa feitos em peças de granito. Em uma das faces da fachada, encontram-se canos de água aparente, atrapalhando a estética e causando umidade. Também foram detectadas fissuras, esfarelamento do reboco e infiltrações. A pesquisa custou R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil reais). (CVRD. ValeNotícias. Julho 2001). .

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DESFECHO

IX

Subindo o Santuário da Penha Chegas. E a natureza toda te recebe Numa estranha expansão que nos enche de ciúme... E em tudo, seja o ninho, a flor, a seara ou a sebe, Ou esplende a luz do sol ou a ebriez do perfume. Cantas. E, ao rosicler, acordas, no alto, Febe. E o nobre acento que há nos teus versos, resume A terra virginal que, num êxtase, bebe Da vida outra expressão, da beleza outro lume. Tu, hóspede e cantor, tu, poeta e peregrino, Não resistes, do povo, à comoção veemente Que, cultuando o passado, antecipa o destino. E lá, no alto, onde a ermida os prodígios consente, Sabes ligar um verso, um canto, um poema, um hino À poesia da terra e à religião da gente... (LINS, Augusto Emílio E. Presença de Nossa Senhora. Vitória. 1959, p. 84. Coletânea em comemoração ao IV Centenário da chegada de Frei Pedro Palácios ao Espírito Santo e do início da devoção a Nossa Senhora da Penha na então Capitania.)

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UANDO O POETA Augusto Lins fez esse poema, em 4/5/1945, ele pretendeu homenagear o também escritor Marcondes Verçoza, que se juntava aos milhares de peregrinos e visitantes que, diariamente, sobem a ladeira do Convento da Penha para admirar o mais extraordinário monumento histórico-religioso do Espírito Santo e um dos mais significativos símbolos da fé e da religiosidade do povo capixaba. Desde o povo mais humilde aos mais poderosos governantes, como o próprio Imperador D. Pedro II, em 1860, os fiéis, ao visitarem o Espírito Santo, percorrem os mesmos caminhos trilhados por Frei Pedro Palácios e pelo Padre José de Anchieta, para glorificar Jesus e agradecer a sua Mãe, a Virgem Maria, aqui consagrada com o nome de Nossa Senhora da Penha. Chegamos ao final deste trabalho, que pretende somar-se a tantos outros que contam a história do Convento da Penha em diferentes épocas. Muitas pessoas tornaram possível a realização desta obra: historiadores, cronistas, poetas, religiosos contribuíram com depoimentos, textos de diferentes épocas, mas com a mesma devoção que os faz irmãos, filhos do mesmo Pai e da mesma Mãe. É a fraternidade que nos une, nesta época em que, mais uma vez, se acirram as diferenças religiosas. Nós, realizadores deste projeto idealizado pela CST, pretendemos, com este livro, contribuir para a valorização da cultura capixaba e com a preservação da memória nacional, trazendo ao leitor um pouco da fé e da religiosidade do povo capixaba, a partir da história de um de seus maiores símbolos: o CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA PENHA, de Vila Velha, Espírito Santo. .

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CRONOLOGIA

Fundação da Ordem Jesuítica ou Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loiola. Adoção do Sistema de Capitanias Hereditárias para o Brasil.

Chegada de Vasco Fernandes Coutinho ao Espírito Santo (23/5).

Alvará Régio de nomeação do vigário João Dormundo (13/1). 1º registro de nomeação de sacerdote para o Espírito Santo.

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Criação da Alfândega de Vitória devido ao estabelecimento do comércio triangular direto com Portugal e Angola.

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Notícia da existência de culto na Capela de Santa Luzia, em Vitória.

Construção da Igreja do Rosário em Vila Velha pelo jesuíta Afonso Brás.

Implantação da Companhia de Jesus no Espírito Santo, com a fundação do Colégio dos Jesuítas de Vitória e da Igreja de São Tiago (25/7).

Visita do Governador-geral do Brasil a Vitória, acompanhado pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e Antônio Pires.

Chegada do jesuíta Brás Lourenço a Vitória para substituir a Afonso Brás e dar continuidade à construção do Colégio dos Jesuítas.

Primeiro registro da presença do Padre José de Anchieta no Espírito Santo, quando passou em viagem para São Vicente, acompanhado pelo Padre Brás Lourenço e outros jesuítas.

Fundação das primeiras aldeias jesuíticas no Espírito Santo (Conceição da Serra e Aldeia Velha de Santa Cruz).

“Batalha do Cricaré” – Confronto entre os indígenas do Cricaré e as forças comandadas por Fernão de Sá, morto no conflito, filho do GovernadorGeral Mem de Sá.

Chega à Capitania do Espírito Santo o irmão leigo franciscano, Frei Pedro Palácios, fundador do santuário de Nossa Senhora da Penha.

Falecimento do 1º Donatário do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.

Construção da Capela dedicada a São Francisco por Frei Pedro Palácios.

Fundação da Aldeia de Reritiba, pelo Padre José de Anchieta.

Início da construção da ermida de Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo por Frei Pedro Palácios.

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Chega de Lisboa a imagem de Nossa Senhora da Penha encomendada por Frei Pedro Palácios.

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Conclusão da construção da ermida de Nossa Senhora.

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Primeira festa da Penha, realizada a 1º de maio desse ano.

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Falece Frei Pedro Palácios na capela de São Francisco, no dia seguinte aos festejos da Penha. Seu corpo foi sepultado na ermida de Nossa Senhora da Penha.

Notícia da primeira romaria ao alto do Morro da Penha realizada pelos jesuítas Luís da Grã e Inácio de Tolosa, em agradecimento por terem sobrevivido a um naufrágio.

Conclusão da obra do Colégio dos Jesuítas de Vitória pelo Padre Provincial José de Anchieta.

O primeiro Custódio franciscano, Frei Melchior de Santa Catarina, a pedido dos governantes espírito-santenses, determina a vinda de dois religiosos de Olinda, Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas, para fundarem o Convento de Vitória.

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Entrega da administração da capela de Nossa Senhora da Penha aos religiosos franciscanos.

Chegam ao Espírito Santo Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas para fundarem o convento dos franciscanos de Vitória, quando receberam, por carta de doação de 5 de dezembro, o terreno em que o construíram.

D.ª Luíza Grimaldi, Governadora do Espírito Santo, faz aos franciscanos a escritura de doação do Morro da Penha (6/12).

Iniciativa dos beneditinos para tratar da fundação de um mosteiro, “perto da Fonte do Conselho e do Reguinho, na Vila da Vitória” (antiga Ladeira de São Bento).

Os franciscanos de Vitória assumem a assistência espiritual aos romeiros da Penha e o culto divino dominical.

Tentativa de tomada de assalto da Vila de Vitória pelo pirata inglês Thomas Cavendish.

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Doação da Ilha dos Frades aos beneditinos.

Falece, na aldeia de Reritiba (atual Anchieta), o Padre José de Anchieta (9/6).

Colocação da pedra fundamental da Igreja de São Francisco por Frei Antônio das Chagas, então superior da comunidade no Espírito Santo (21/3).

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Alvará de Felipe II, da Espanha, concede os privilégios da Santa Casa de Lisboa à Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Vitória (1/7).

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Traslado dos restos mortais de Pedro Palácios para o Convento de São Francisco de Vitória, por determinação de Frei Lourenço de Jesus (18/2).

Início do processo regular para canonização de Frei Pedro Palácios, instaurando-se em Vitória o processo de beatificação pelo Custódio Frei Vicente do Salvador (27/7).

Início do processo de beatificação e canonização do Padre José de Anchieta.

Tentativa frustrada de invasão holandesa no Espírito Santo sob o comando do almirante Peter Pieterszoon Heyn, no governo de Aguiar Coutinho, em 1625. Foi nesse episódio que a heroína capixaba Maria Ortiz liderou a população na luta contra os holandeses.

Lançamento da pedra fundamental da Construção do Convento da Penha.

Doação do Governador do Rio de Janeiro, Salvador de Sá e Benevides, para a construção do Convento da Penha (escritura pública passada aos 17 de junho de 1652).

Saque dos holandeses ao Convento da Penha, às vésperas do término do domínio holandês no Brasil.

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Terminam as obras de construção do Convento da Penha.

Criada a Província Franciscana da Imaculada Conceição, com sede no Rio de Janeiro, a que fica subordinado o Convento da Penha.

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O Provincial Frei Agostinho de São José manda ampliar o prédio do Convento da Penha.

O Convento aumentado conta com 23 franciscanos (12 sacerdotes, 6 coristas e 5 irmãos).

Durante grande seca, a imagem de Nossa Senhora da Penha segue em procissão marítima para Vitória, dando ensejo ao “Milagre da Chuva”.

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Tem início no Convento da Penha um curso de língua indígena para os missionários franciscanos do Espírito Santo e de São Paulo.

Viagem de Saint-Hilaire ao Espírito Santo e visita ao Convento da Penha.

D. Pedro I determina a manutenção em vigor da doação anual de 30 novilhos feita à Penha pelo governador Sá e Benevides.

Presença do Padre Feijó na Penha.

Oficialização da Festa da Penha pelo Governo Provincial. Lei nº. 7 declara, pela Assembléia Provincial, a data do evento como feriado para todas as repartições públicas.

Instalação do Liceu de Vitória no Convento de São Francisco.

Frei João Nepomuceno Valadares levanta oito casas de romeiros e restaura boa parte da Penha.

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Viagem do Imperador D. Pedro II ao Espírito Santo e visita ao Convento de Nossa Senhora da Penha, sendo o guardião Frei João Valadares nomeado pregador imperial (28/1).

Frei Teotônio de Santa Humiliana, último guardião canonicamente eleito, entrega o cargo, tendo, em 1864, colocado a lousa comemorativa na Gruta de Frei Pedro Palácios.

O administrador da Penha, Frei João do Amor Divino, contrata o escultor José Fernandes Pereira para as obras da escultura do zimbório, retábulos, cornijas, capitéis e arcadas, enquanto o pintor Vítor Meireles é incumbido das pinturas dos retábulos.

D. Pedro Maria Lacerda, bispo do Rio de Janeiro, decreta a celebração de festas de N. Senhora da Penha fora do Santuário (14/4).

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Visita do bispo Pedro Maria Lacerda ao Santuário da Penha.

O papa Leão XIII concede indulgência aos romeiros da Penha.

Criação da Diocese do Espírito Santo.

O Convento da Penha e o de São Francisco passam a ser confiados à Mitra Diocesana de Vitória na pessoa do 1º bispo, D. João Batista Correia Néri.

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O 2º bispo, D. Fernando de Souza Monteiro, incentiva as romarias e reforma o interior do Santuário.

A Santa Sé declara e proclama Nossa Senhora da Penha Padroeira da diocese do Espírito Santo.

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Inauguração da luz elétrica no Santuário de Nossa Senhora da Penha.

O 3º bispo, D. Benedito Alves de Souza, adapta o Convento da Penha para retiros do clero.

Inauguração das quatro valiosas telas de Benedito Calixto que evocam a história da Penha.

Início do processo de devolução do Santuário de Nossa Senhora da Penha aos franciscanos, sendo o primeiro superior Frei Luís de Wand, cuja posse como superior do Convento foi em 1/2/1942.

Tombamento do Convento da Penha pelo SPHAN (Proc. 232-T, insc. 224, 21/9)

Restauração do Convento por André Carloni.

Solene coroação de Nossa Senhora da Penha pelo Núncio Apostólico, D. Carlos Chiarlo, legado do papa Pio XII (8/9).

4º Centenário da fundação de Vitória. Ida da imagem para as comemorações. Lançamento de selo comemorativo ao evento.

Construção do portão da entrada principal e pavimento da estrada até o Campinho.

D. José Joaquim Gonçalves, bispo do Espírito Santo, procede à sagração do Santuário da Penha, incluindo no altar-mor relíquias de S. Pio X, Maria Goretti, Vitória, Águida e Fausta, santos e mártires (1/5).

Entrega definitiva do Santuário e do Convento de Nossa Senhora da Penha aos franciscanos (5/7).

Sob a presidência do 1º arcebispo do Espírito Santo, D. João Batista da Mota e Albuquerque, comemora-se o IV Centenário da chegada de Frei Pedro Palácios a Vila Velha. Início da romaria dos homens.

Viagem em romaria das três imagens da “Santa Peregrina”, construídas por Carlo Crepaz.

Restauração da imagem de Nossa Senhora da Penha pelo franciscanos.

Roubo da imagem de Nossa Senhora Menina do altar de Sant’Ana.

Substituição do assoalho do corredor.

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Comemorações do IV Centenário da morte de Frei Pedro Palácios, com atos religiosos e lançamento de um selo postal alusivo ao evento.

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Inauguração de um busto do Frei Pedro Palácios na Prainha de Vila Velha.

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Início da romaria das mulheres.

Substituição do busto de Frei Pedro Palácios por uma estátua em bronze. O busto é doado ao Convento.

Substituição dos fios de energia elétrica externos por canos subterrrâneos.

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Beatificação do Padre José de Anchieta.

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Reforma do piso da igreja. A porta do sacrário é trabalhada em ouro por Luís Carrara, de São Paulo.

Posse de D. Silvestre Luís Scandian, 2º Arcebispo de Vitória, que celebra a eucaristia no Convento (3/9).

Reforma do assoalho do Santuário.

Visita do Papa João Paulo II ao Espírito Santo. Ida da imagem de Nossa Senhora da Penha a Vitória.

Instalação de uma luneta no Convento, depois retirada.

Lançamento do vídeo “Templo de fé e de esperança”, de Evandro Demuner. 25 min.

Discussão do projeto do arquiteto Antônio Chalhub de construção de um teleférico do Morro do Moreno ao Convento.

Inauguração do Museu reformado e da Sala dos Milagres.

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Restauração da imagem de Nossa Senhora da Penha pelo artista plástico Attílio Colnago.

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Etapa final de recuperação e conservação da mata do Convento por técnicos da CVRD e CST.

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Avaliação das condições de conservação do Convento da Penha por técnicos do CETEC, patrocinado pela CVRD e CST.

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Visita do Núncio Apostólico, D. Lorenzo Baldisseri, que, como representante do Papa Bento XVI, presidiu as festividades da Penha, usando vestes pertencentes ao Papa João Paulo II, na missa de 24/4. Estima-se em 380 mil o número de pessoas presentes ao Convento nas comemorações deste ano.

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A Arquidiocese de Vitória firma Convênio com a Rede Gazeta para divulgar, com exclusividade, até 2010, os eventos ligados à Festa da Penha, com o objetivo de preparar as comemorações dos 450 anos de fundação do Convento da Penha (2008). ***

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ANEXOS I. ESCRITURA DE DOAÇÃO DE TERRENOS À ORDEM DOS FRADES MENORES CAPUCHOS (1591) “A Governadora Luísa Grinalda e seu Adjunto o Capitão Miguel de Azeredo, desta Capitania do Espírito Santo, e oficiais da Vila de Vitória, e assim os da Câmara desta Vila do Espírito Santo da dita Capitania que este ano de noventa e um servimos, etc. – Fazemos saber aos que esta Carta de doação virem, que vindo os Muito Reverendos em Cristo Padres Capuchos da Sagrada Religião dos Frades Menores do Seráfico Padre São Francisco da Província de Santo Antônio de Portugal, mandados do Irmão Padre Geral Frei Francisco Gonzaga, e por ordem de Sua Majestade a estas partes do Brasil a edificar casas e Mosteiros para glória e serviço do Nosso Senhor, e da salvação das almas, e aumento de nossa Santa Fé Católica, com título de Custódia de Santo Antônio do Brasil, sujeita à mesma Província de Santo Antônio do Reino de Portugal, confirmada por um Breve Apostólico do Papa Sisto V de boa memória; sabendo isto Vasco Fernandes Coutinho, que Deus tenha na sua glória, Capitão e Governador, que então era desta Capitania, movido com santo Zelo do Serviço do Senhor, e bem comum e aumento espiritual, que com os ditos Religiosos receberia esta Capitania; considerando o fruto que faziam em outras partes, onde já estavam, com sua vida, exemplo e doutrina, oração e sacrifícios, mandou pedir ao R. P. Frei Melquior de Santa Catarina, Custódio da sobredita Custódia, e Comissário destas partes, pelo Irmão Padre Geral, que lhe mandasse Religiosos a esta Capitania para nela fazerem casa, e habitarem, para que nós tão bem recebêssemos deles a mesma doutrina e exemplo, pela muita devoção, que todos temos a esta mesma Sagrada Religião, oferecendolhe para a sua morada a casa de Nossa Senhora da Penha, sita no termo da Vila do Espírito Santo, por respeito de haver fundado um religioso da sua Ordem, chamado Fr. Pedro, que ali veio com licença de seus Prelados muitos anos, com muito exemplo de vida, e edificação do Povo, e ali acabou virtuosa e santamente, e foi sepultado em uma Ermida e Capela, que a esse tempo tinha feito, e por sua morte os moradores desta Capitania, por sua devoção, e por respeito do lugar reformaram e aumentaram, e sustentaram no estado em que hoje está, e sempre com o intento e desejo de a entregar aos Religiosos da dita Ordem para nela habitarem, e assim o mandaram pedir ao dito Padre Comissário; e posto que ele não pôde mandar Religiosos, para arribarem às Índias, os que vinham do Reino em Companhia do Governador-Geral Francisco Giraldes; ordenou Nosso Senhor, como depois mandasse outros para esta Capitania para satisfazer nossos desejos e edificar casa nela, aos quais recebemos com

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a devoção, e caridade, que a tal Religião devemos; e para melhor nos aproveitarmos de sua Santa conversão, e doutrina, Sacrifícios, ofícios, Orações e mais exercícios, e recebermos proveito espiritual, que deles pretendemos, lhe damos sítio nesta Vila da Vitória, onde ora estão, e nós com eles não menos edificados, que satisfeitos, e consolados; e desejando nós corresponder da nossa parte, e manifestar a gratificação, que devemos, e a razão que temos de louvar a Nosso Senhor Jesus Cristo pela mercê, que nos fez em trazer os ditos religiosos a esta terra, e nos satisfazendo de todo os nossos desejos, e devoção com os termos somente nesta Vila da Vitória, mas tão bem em a casa de N. Senhora da Penha, já dita, por seu lugar mui acomodado, e disposto para fazerem ali muitos serviços a Nosso Senhor, e para consolação dos devotos, que ali concorrem por devoção da Senhora, e Navegantes, que a ela se vão encomendar, pelo qual, juntos nós com o muito R. Francisco Pinto, Vigário desta Vila da Vitória, e ouvidor da vara nesta capitania, nos fomos ao mosteiro do glorioso P. S. Francisco, e com muita instância pedimos aos Muito Religiosos em Cristo Padres Fr. Antônio dos Mártires, e Fr. Antônio das Chagas, seu companheiro, quisessem receber a dita casa de Nossa Senhora da Penha, e fazerem nela um oratório, pois lhe era tão devida, e pertencente pelas razões atrás declaradas, os quais nos responderam, que eles aceitariam a dita casa por autoridade, que para isso tinham do dito Padre Comissário seu Prelado, da maneira e forma, que eles podiam e segundo sua Regra, e declarações dela, feitas pelos Sumos Pontífices, especialmente Nicolau III e Clemente V, convém saber, uso simples que eles podem ter das coisas oferecidas, e dadas à sua Ordem. Pelo que, de consentimento dos moradores da dita casa de Nossa Senhora que nisto intervieram e procuraram com os ditos Religiosos a tal aceitação, e de comum voto, e parecer de todo o Povo desta Vila da Vitória, que para isso foi junto em câmara, todos os sobreditos juntos, e cada um per si, com todo o direito, jurisdição, e ação, com que fazer o podemos, de hoje para sempre damos, e doamos à sobredita Ordem a Custódia dos Frades Menores Capuchos de S. Antônio do Brasil da obediência da Província de S. Antônio do Reino de Portugal da Ordem do Seráfico Padre São Francisco a dita casa, a igreja de Nossa Senhora da Penha. E assim e da maneira, que a eles podem receber, segundo por eles nos foi declarado, com toda a fábrica do edifício, que nela está feito, assim de casa, como de outra qualquer obra de pedra, cal, tijolo, madeira; e assim também para mais recolhimento seu, e para que ao diante

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não sejam molestados, e devassados com lhe fazerem roças ao redor daquele monte, ou com gados, lhe damos todo o chão, e terra desde o pé do dito monte até o cume, que outra pessoa não fosse primeiro dado. E assim mais todas as águas, e fontes que nele há, e todos os mais bens e coisas à dita Igreja anexas, obrigadas, e pertencentes. Mas, porque os ditos Frades não são capazes por sua Regra da propriedade e domínio de coisa alguma, havemos por bem, e queremos que tal propriedade, e domínio de todas elas, logo seja traspassado e de feito traspassamos ao Sumo Pontífice da Santa Igreja Romana, como tal está declarado pelos Papas acima ditos, e na forma que dito é, houvemos esta doação por feita, firme, fixa, e valiosa de hoje para sempre, e mandamos deitar, e registrar no livro das doações da Câmara desta Vila da Vitória para em todo o tempo se saber de como lhe foi feito por nós, a qual vai por nós assinada e selada com os selos que entre nós servem. Dada na dita Vila da Vitória, aos seis dias do mês de dezembro. Gaspar Carvalho, Tabelião na dita Vila da Vitória, e que ora serve de escrivão da Câmara em ausência do proprietário, a fez por nosso mandado, ano de mil e quinhentos e noventa e um anos. Sobredito tabelião o escrevi. D. Luísa Grinalda, Miguel de Azeredo, Marcos de Azeredo. Marcos Veloso. Domingos Luís. Francisco Pinto. Gaspar de Paiva. Domingos Rodrigues. Fica registrada esta doação no livro dos Registros desta Câmara da Vila da Vitória a folhas vinte e quatro e vinte e cinco do dito livro por mim Gaspar Carvalho tabelião, que serve na dita Câmara, e por verdade assinei hoje vinte de dezembro de mil e quinhentos e noventa e um anos. Gaspar Carvalho”. (Fonte: Convento de Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 38-40) ***

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II. DESCRIÇÃO DO CONVENTO DA PENHA NO ANO DE 1786 A capela redonda com porta pequena; da sua circunferência partiam quatro arcos para o exterior que formavam o corpo da igreja e no meio deles estava o púlpito. Em um dos dois arcos do lado da epístola, havia a capela de S. Maurício que, segundo a tradição, foi ereta pelos moradores de Vila Velha em reconhecimento da vitória que no dia deste santo ganharam sobre os holandeses. Fronteiro a este arco estava outro que servia de passagem para o terraço que circunda a parte exterior do corpo da igreja que vai de N. a S. Acima da capela de S. Maurício, havia outro arco sobre o qual estava o coro; e descendo deste 4 ou 5 degraus se dava em uma varanda comprida com janelas para o mar e porta para o terraço. Na sua extremidade de lado de L. estava a cela do sacristão, o relógio e a casa dos sinos, e pela extremidade oposta passava-se para uma sala espaçosa e dois quartos com janelas para O. e S., onde se agasalhavam alguns religiosos e hóspedes de distinção. Por este lado comunicava-se com as celas debaixo por meio de uma escada. A capela faz frente a S. Do lado do evangelho tinha uma porta que ia dar à sacristia. Quase defronte à porta da sacristia estava uma escada de 25 degraus, pela qual se descia para as celas debaixo em número de 8: no fim destas havia uma varanda com 3 janelas, duas para o N. e uma para S. O. Antes de entrar-se na varanda, eram as latrinas. Do lado oposto à varanda, era a portaria a modo de uma pequena sala com uma janela ao S. Vindo-se da varanda para a porteira e, depois de passar duas celas, havia uma escada de 12 degraus que descia para o refeitório, e mais oficinas de baixo, estando defronte à casa da adega, cujo maior espaço é ocupado por um flanco do penedo sobre o qual se elevou o edifício, e que conserva permanente umidade na casa. A cozinha era assobradada, e com um revestimento de tijolo sobre o pavimento de madeira. Da porta chamada do de profundis que fecha a clausura, desce uma escada de pedra de 15 degraus, que vai dar a uma casa inferior à cozinha, e à mão esquerda de quem desce é o lugar de depósito de lenha. Desta casa desce outra escada de pedra estreita, de 12 degraus que, pendendo-se para a mão direita, vai-se por aí para a cisterna, que fica pouco distante e debaixo da janela da portaria, e também para as senzalas dos escravos, que ficam fronteiras à porteira. Da cisterna inclinandose para baixo vai-se para a horta e fonte, que fica bem distante, e cujo trânsito é bem difícil de fazer por ser bastante íngreme. Descendo-se a última escada descrita, e que vem da casa da lenha, enxergase em frente a penha que serve de base ao convento; e olhando-se para a direita,

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caminho da horta, ainda ela se divisa em maior prospecto. Em todo o terreno, que fica a um e outro lado do caminho que vai para a horta, há plantação de bananeiras. Do fim da escada pendendo-se para a esquerda, desce-se por outra de 47 degraus para uma planície chamada vulgarmente o jogo, onde se fizeram 6 casas pequenas para os romeiros, rematando estas pelo O. a pequena capelinha do Senhor Bom Jesus, e pelo L. a de S. Francisco, obra de fr. Palácios. O penedo de granito, em toda sua nudez em que está fundado o convento, tem 120 braças de circunferência. O terreno que vai da raiz do penedo até as casas dos romeiros tem 20 braças de largura; todo ele é cultivável: a pouca distância dos fundos das casas torna-se a surgir o penedo, que se forma em plano horizontal até a distância de 18 braças e terminado por uma cruz alta; dali para diante cai o terreno em rápido declive até as abas do morro que estão em contato com a bela campina de Piratininga bordada pelo mar, e que tem do lado esquerdo a fortaleza da barra, e do direito o rio da costa que, depois de circundar o morro da penha, banha a base ocidental do famoso Moreno. A galeria das 6 casas dos romeiros tem 16 braças de comprimento. Em baixo, na praia, há um cais com frente para o Noroeste e com 18 braças de comprimento, 9 cobertas e 9 descobertas, e 6 de larguras divididas em 2 repartimentos. É obra muito antiga. No princípio da ladeira há um pórtico com frontispício sobre arco com ornatos e um nicho onde estava uma imagem de S. Francisco. A ladeira é toda calçada e flanqueada de muros até acima. O 1º ramal da ladeira, ou o mais baixo, e que pega com o frontispício tem 51 braças de comprido, e é de N. a S.; o 2º, que se dirige para N. e E., tem 102; o 3º, que faz frente a L., tem 24; e o 4º, que segue a N. E. tem 72. – Neste ponto sobe-se por uma escada de 5 degraus em cima da qual está a pequena capela do Senhor Bom Jesus, com fundo para o mesmo N. E. Daí para cima a ladeira toma o rumo do S. O., e tem 18 braças de comprimento. No fim delas está um portão ao lado esquerdo por onde se entra para o sítio das hospedarias dos romeiros. Prosseguindo-se pela ladeira a rumo de S., depois de andar-se 9 braças, depara-se à mão esquerda com o princípio do penedo sobre que está fundado o convento; andando-se mais 36 braças pelas abas do penedo se termina a ladeira e se encontra uma escada de 8 degraus, e logo um portão, que dá entrada para as casas onde residiram, segundo é notícia, os primeiros religiosos na edificação do convento. Estas casas têm de comprido 7 ½ braças, e estão repartidas em 3 lanços. Da sua porta ao penedo há braça e meia. Tem a ladeira ao todo 314 braças de comprido, medindose pela linha do meio; e de largura quase duas braças.

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Deixando as casas ao lado direito, e com frente a S., sobe-se uma escada de 14 degraus chegando-se a uma pequena área ou patamar com duas braças de comprido, por onde desce por uma escada de 36 degraus, para a senzala dos escravos, que ficam a S. Também por este patamar sobe-se para o convento com frente a N. E., por uma escada de 11 degraus, no fim dos quais há um plano, ou outro patamar, com uma braça de largo, ao qual segue-se outra escada de 10 degraus. Se se quer ir para a igreja, volta-se para N., e sobe-se uma escada de 21 degraus, e depois de passar uma pequena área ou plano, ainda encontram-se 3 degraus, que se sobem, com cara a Sudoeste, e se dá com o alpendre da igreja, e voltando a N., entra-se à igreja, depois de subir na porta ainda 2 degraus. Depois de subir-se a última escada de 10 degraus, inclinando-se para a direita, vai-se por uma área de 9 braças de comprido e 3 de largo, cercada de um muro alto e largo, para a portaria do convento, já acima descrita, e que tem janela que olha para o Nascente. O campo da várzea de Piratininga foi vendida ao convento da Penha por Catarina da Vida pelo preço de 5$000! A 1ª pedra para a nova capela do morro da Penha foi lançada em 3 de maio de 1474 (sic); e em abril de 1745 já estava esta concluída, de maneira que em 25 deste mês foi nela colocada a Senhora. Em 12 de março de 1625, dia de S. Gregório, doutor da Igreja, foi a vitória que se alcançou contra os holandeses, que em 8 naus vieram atacar esta província. Em 14 do dito mês houve outra vitória alcançada por Salvador de Sá e Benavides, em que foram mortos 40 e tantos holandeses, e prisioneiros dois, e tomou-se uma lancha e 4 roqueiras. Era então capitão e governador desta província Francisco de Aguiar Coutinho. (Fonte: OLIVEIRA, José Joaquim M. de. “Extratos do Livro de Tombo do Convento da Penha feito no ano de 1786”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XIX. 2º trimestre de 1856. nº. 22 p. 266-269.) ***

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III. ESCRITURA PÚBLICA DE DOAÇÃO DA VERBA PARA CONSTRUÇÃO DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA PENHA FEITA PELO GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO, GENERAL SALVADOR CORREIA DE SÁ E BENEVIDES. Saibam quantos este público instrumento de escritura de doação, de hoje para todo sempre, virem que, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil seiscentos e cinqüenta e dois anos, aos dezessete dias de junho do dito ano, nesta cidade do Rio de Janeiro, fui eu tabelião ao diante nomeado às pousadas do general Salvador Correia de Sá e Benevides, e sendo lá logo aí por ele me foi dito que o Padre Custódio Frei Sebastião do Espírito Santo, da Ordem de Santo Antônio desta Província do Brasil, lhe representou as muitas obras de que carecia a Casa, que determinava fazer, e dar-lhe fim, que está em Nossa Senhora da Pena, Capitania do Espírito Santo, onde se principia um convento da Ordem de Santo Antônio; e que ele dito general Salvador Correia por particular devoto da dita Ordem disse que para as ditas obras, e mais coisas necessárias ao dito Convento dava, e doava cem mil réis cada ano, os quais nomeava o pagamento deles nos gados, que vierem dos Campos da Paraíba dos seus currais, enquanto ele doador os gozar, ou seus herdeiros, e que sendo caso, que ele algum dia por algum acontecimento os queira vender, ou alheiar então se acabará a dita doação dos cem mil réis: e logo dito Padre Custódio Frei Sebastião foi dito que, porquanto eram incapazes por sua Regra de poderem possuir coisa alguma, logo traspassava, como de feito traspassou, a dita doação dos ditos cem mil réis ao Sumo Pontífice, e Igreja de Roma, e pelo dito Custódio foi dito, que ele em remuneração da esmola era contente, e nomeava por Padroeiro da dita Casa, e Convento ao dito Salvador Correia de Sá e Benevides, e a sua mulher, e filhos ascendentes (sic), e descendentes, que após eles vierem, e que de sua família, descendência não sairia nunca o dito Padroeiro e declarou ele dito doador que sendo caso, que os ditos currais, e fazendas se vendam, ou passem a outra pessoa, que não sejam os seus herdeiros passarão a mesma pensão, ou eles seus ditos herdeiros a farão em outra qualquer dos bens do doador; e consignarão os ditos cem mil réis aos frades moradores de Nossa Senhora da Pena para que tenham aí perpétuos ministros, e roguem por mim, e meus descendentes. Em fé do que assim outorgou, mandou fazer esta escritura de doação nesta nota, a qual todos aceitaram, e eu tabelião em nome dos ausentes, a que tocar, como pessoa pública, e estipulante, sendo a todo por testemunhas presentes o capitão Alexandre de Castro; André de Bairros de Miranda; e Gonçalo Rodrigues Novo, pessoas reconhecidas de mim tabelião Gaspar de Carvalho, tabelião, o escrevi. – Salvador Correia de Sá e Benevides. Alexandre de Castro. Gonçalo Roiz Novo. André de Bairros de Miranda. Frei Sebastião do Espírito Santo. – O qual traslado de escritura de doação eu, Gaspar

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de Carvalho, tabelião do público judicial e notas nesta dita cidade, o fiz trasladar do próprio livro, a que me reporto, e o corri, e consertei, e sobre escrevi, e assinei de meu público sinal no dito dia, mês e ano ut supra. Gaspar de Carvalho. Consertado por mim, Gaspar de Carvalho. O qual traslado de escritura de doação eu, Diogo Vaz de Araújo, tabelião do público judicial, e notas, e escrivão da Câmara nesta Vila do Espírito Santo da Vitória trasladei de meu livro de notas, a que me reporto, e vai na verdade sem coisa que dúvida faça: em os vinte e quatro dias do mês de janeiro da era de mil seiscentos e cinqüenta e quatro anos, e me assinei de meu sinal público, que é o seguinte, e razo tão bem na mesma era, e dia cima etc. Diogo Vaz de Araújo. Pag. Nada. (Fonte: RÖWER, Basílio. Convento de Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo. 3 ed. Petrópolis: Vozes, p. 53-59.) ***

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IV. AS MARAVILHAS DA PENHA O Convento “Quase encostado à rocha, em baixo, no primeiro andar, fica o alpendre da portaria, em cujo texto lê-se o trecho da história sacra: BENE FUNDATA EST DOMUS DOMINI SUPER HANC PETRAM. Entrando nela tem-se à direita uma janela para o nascente; à esquerda uns degraus, para o pavimento superior. Na parede fronteira, no nicho com portas de tábuas pintadas, como as de um armário, está encerrado o painel com o seu tosco altar. À esquerda fica a porta para o corredor deste pavimento. No teto transcreveram-se palavras em latim da oração Salve Rainha etc. Pela escada chega-se a um extenso e largo corredor, ou galerias estreitas, em cujas paredes de um e outro lado estão suspensos quadros rememorativos de alguns milagres da Senhora da Penha, uns bem, outros mal pintados. Na do lado esquerdo expõem-se os ex-votos. No princípio do corredor, ou galeria, à esquerda de quem sobe, fica o cubículo que servia para o sacristão ou sineiro, a casa do sino e do relógio da torre. Na parede que aí faz ângulo, a qual até certa parte é a da igreja, há quatro portas, sendo a primeira para o púlpito quase de fronte do topo da escada, a segunda para a capelamor, a terceira para a sacristia e a última para o terraço. No fundo há uma janela com vista para o mar. Na parede do ângulo oposto há uma porta para as duas celas comunicando-se no interior. Antigamente eram aqui aposentados os visitantes clérigos ou regulares e, na ausência destes, hóspedes de distinção, até que por fim serviram para os últimos guardiões. Saindo das celas para o corredor vê-se uma escada estreita: era a dos frades, defesas às mulheres. Descida esta escada, chega-se ao corredor de baixo menos espaçoso que o de cima. Abrem-se nele três janelas, sendo duas para o norte e uma para o sudeste. Há aqui oito celas e as privadas, que ficam antes destas: no fim está aquela porta que se viu na portaria. Seguindo-se para aqui, passadas duas celas, há uma escada com 12 degraus para o refeitório, suficiente para 13 conventuais. No princípio foi o dormitório, o qual em 1652, sob a administração de Frei Sebastião do Espírito Santo foi convertido em refeitório, - ou sala de jantar dos convidados mais grados concorrentes às festas da Penha.

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Cada uma das escadas do primeiro andar para o segundo, e daquele para os cômodos inferiores esconde escapadeiras mais ou menos extensas, pelas quais custa a acreditar-se que homens tivessem ânimo de subir até ao ápice do rochedo quase pontiagudo. Ao pé do refeitório ficam as oficinas e depois, embaixo, a adega, cujo maior espaço é ocupado por um flanco da rocha, o que é causa da permanente umidade neste lugar. A cozinha é assobradada e com revestimento de tijolos sobre o assoalho. Tão providentes eram os frades que para as portadas exteriores mandaram assentar pedras d’amolar. Da porta da clausura chamada – de profundis – desce-se por uma escada de pedra de 15 degraus para outra casa. Nesta, à esquerda, há uma escada estreita de pedra, com 12 degraus. Depois entra-se no depósito da lenha. Tomando-se da direita vai-se ter à cisterna pouco distante, abaixo da janela da portaria, ou passa-se para o sítio das senzalas. Da cisterna desce-se para a antiga horta, ou para a fonte um pouco longe do lugar escabroso. Em baixo, descida a última escada procedente da casa de lenha, dando-se-lhe a frente, observa-se a penha em toda a sua nudez servindo de pedestal à igreja, No fim da mesma escada, inclinando-se para a esquerda, por outra de pedra com 47 degraus sobre a escarpa, baixa-se à planura, ou campinho, onde ficam as casas dos romeiros ou do jogo. Neste sítio a pouca distância dos fundos das casinhas, o penedo até ali oculto debaixo da terra reaparece em pleno horizontal a escorregar na testa, na qual levantase uma cruz alta de pau, sinal da vizinhança da capelinha de São Francisco. Ali foi que o ermitão ergueu o primeiro troféu da sua perseverante vontade e insigne devoção. Também foi nesta ermida que ele teve o último sono da terra. A Igreja Pode-se entrar no templo por aquela porta no corredor, ou na galeria passando pela capela-mor. É esta constituída sobre quatro arcos, tendo por fecho a cúpula ou zimbório. Tem de cada lado uma janela fingindo tribuna. A da parte do terraço ultimamente foi desmurada para dar mais claridade.

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À direita do evangelho há uma portinha para o terraço, que vem circulando a sacristia, e fecha no ângulo externo da capela da Senhora das Dores. O altar-mor, retábulo e colunas são de mármore, verde e cor-de-rosa, e lazulite; o pavimento e degraus do presbitério de mármore branco e preto, cada coisa segundo a cor, a matéria exigida. No fundo fica a sacristia pequena, mas convenientemente ornada e clareada pelas duas janelas para o terraço. Do arco do cruzeiro para fora figuram-se dois arcos de cada lado, os quais fazem ângulo no coro. Depois do primeiro, à direita, está a capela há pouco mencionada. Quase defronte, o púlpito com uma janela figurada de cada lado. Hábeis artistas, escultores, pintores e douradores esmeraram-se em ostentar aqui todo o luxo das ornamentações, entalhamentos e desenhos. Quatro retábulos ovais recordam os labores do fundador da primitiva ermida, subindo a escarpada penha com uma pedra às costas acompanhado do inseparável cãozinho. Em cima os pilares com os andaimes e os obreiros; em baixo, na baía, o navio ancorado, rememorando a chegada da imagem vinda de Lisboa por encomenda de Frei Pedro Palácios. No teto há pinturas, em quadros comemorativos do embarque deste no Tejo, e do desembarque no Porto desta capitania. O Entorno Sobre o mar, com a entrada para o noroeste, existe o antigo cais dos frades, ou da Penha, construído sobre pilares de pedra e cal com 435 metros de comprimento e 15 de largura, repartido em dois lanços, um fechado até certa parte por paredes de tijolos, outro não. Na pedra mais vizinha, do lado da povoação, está fixada uma cruz de pau e, na correspondência linear, o pavilhão descrito. Quase defronte do cais, na raiz do monte, ergue-se o pórtico, cujo frontispício, mais largo do que alto, tem a entrada em arco, havendo em cima um nicho em que por muito tempo morou a imagem de São Francisco. Na parede aos lados há em relevo figuras grotescas com adagas como guardando o ádito. Junto ao muro, à esquerda, estaciona a célebre gruta, primeira habitação estreita de Frei Pedro Palácios com os melhoramentos e inscrição latina. À direita, encostada à pedra, vê-se uma casinha de pedra e cal servindo para depósito de certos materiais ou objetos de cuidados.

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Uma abertura arqueada sobre o caminho do forte de Piratininga, à esquerda de quem entra, no muro da ladeira denota a prioridade do mesmo fortim. Aqui começa a ladeira com parapeito na extensão de 785 m, 2 com a largura de 10 metros. À direita no fim de cada volta ficou aberto no muro de encosto um espaço destinado para estações ou sete passos, nunca preenchidos. Houve aí cruzes de madeira. Atualmente existem algumas como que indicando as veredas contorneando o morro. A ladeira vai fazendo ângulos desiguais ou ziguezagues por baixo de uma abóbada de ramos das árvores da floresta virgem. A primeira volta de norte a sul tem 127,2 m; a segunda em direção ao nordeste, 255 m e a terceira, 60 m a rumo de leste. No fim da quarta linha de ziguezagues, que tem 180 m, procurando o nordeste, mostra-se a capelinha de S. Bom Jesus com o fundo para o campinho na direção das casas dos romeiros. É uma estação de descanso para os ascensionistas. Sobe-se para ela primeiramente por cinco degraus e, depois, por três. Tem dois repartimentos. O anterior aberto, e o posterior resguardado por paredes e portas na frente com dois postigos de grades. Está muito arruinada, principalmente no arco. Caminhando-se mais 90 m, alcança-se o limite da ladeira, sobre o granito, tendo no fim oito degraus. Pouco acima está o portão entre o penhasco e a casa, que aí houve para a festa dos estômagos. Dando-se a frente ao sul, há uma escada de 14 degraus e em cima uma pequena rampa de 5 m de comprimento. Daqui começa a série das escadas duas para cima para quem quer ir à Igreja ou ao Convento, uma que desce na direção das senzalas. Na rampa há uma escada subindo ao nordeste, com 11 degraus e outra com 21. Se o fim é unicamente ir ao Convento, chega-se à rampa superior e entrase no alpendre da portaria; se prefere-se entrar diretamente no templo, voltada a face para o norte, sobe-se pela escada da frente, passa-se o pequeno patamar, onde há três degraus e lá está o alpendre todo envidraçado por causa dos ventos que aí sopram constantemente com extraordinária força e, às vezes, com a violência do tufão. Revestido de secular e espessa mata virgem, o morro tem um depressão pouco extensa, ou planura, em cuja extremidade ergue-se um penhasco irregular, pontudo, quase a prumo com trezentos metros de roda, na base e pouco mais ou menos seis de elevação”. (Fonte: NETO, Joaquim J. Gomes da S. As Maravilhas da Penha. 1888. Apud DEL MAESTRO, Maria Lúcia K. DEC, abril de 1988). ***

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ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS

Pedras que compõem o piso da subida antiga do Convento.

Entardecer visto da Praia da Costa, Vila Velha.

Nascer da Lua, visto do Morro de Nazareth, Vitória.

Convento ao Luar, visto do píer da Enseada do Suá, Vitória.

Anoitecer visto da Av. Champagnat, Vila Velha.

Amanhecer visto da Av. Champagnat, Vila Velha.

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Amanhecer visto do píer da Enseada do Suá, Vitória.

Lua Cheia vista da Enseada do Suá, Vitória.

Anoitecer visto da Praia da Costa, Vila Velha.

Anoitecer visto da Praia da Costa, Vila Velha.

Entardecer visto da Praia da Costa, Vila Velha.

Janela da Sacristia já iluminada bem cedinho, para a celebração da Primeira Missa do dia às da manhã.

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O Convento visto do Centro de Vila Velha.

Lembranças do Convento vendidas na entrada do Portão Principal.

Os primeiros devotos chegam para a missa das da manhã.

Religiosa assiste à missa no corredor.

Mulheres oram em frente à imagem da Santa após a romaria da Festa da Penha de 00 .

Religiosa descansa da subida admirando a paisagem. Festa da Penha 00 .

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Celebração da missa na Prainha ao final da Romaria das Mulheres. Festa da Penha 00 .

Capela e portão da ladeira antiga.

Fiéis da Romaria dos Homens assistem à missa na Catedral de Vitória, antes da caminhada até o Convento. Festa da Penha 00 .

Imagem de Nossa Senhora da Penha inicia a Romaria dos Homens carregada pelos fiéis. Festa da Penha 00 .

Romaria dos homens passa pelo Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual. Festa da Penha 00 .

Devotos carregam velas iluminando o trajeto. Festa da Penha 00 .

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Imagem da Santa é carregada até o Campinho do Convento. Romaria dos Homens, Festa da Penha 00 .

Missa no Campinho ao final de mais um dia da Festa da Penha, 00 .

Vista da missa campal das comemorações da Festa de Penha, 00 .

Grupo de Congo da Barra do Jucu homenageia a Santa. Festa da Penha 00 .

Grupo de Congo da Barra do Jucu subindo a ladeira. Festa da Penha 00 .

No Grupo de Congo da Barra do Jucu, gerações diversas tocam e cantam na Festa da Penha. 00 .

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Grupo de Congo da Barra do Jucu no Campinho. Festa da Penha 00 .

Fé, alegria e devoção na homenagem à Santa Padroeira. Festa da Penha 00 .

Homens e Mulheres da Banda de Congo saúdam a Padroeira. Festa da Penha 00 .

Ladeira nova do Convento.

Panorama da Baía de Vitória e da Terceira Ponte com o Convento ao entardecer.

Vista da janela onde fiéis contemplando a paisagem de Vitória.

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Devota reza em frente ao altar-mor.

Vista da ladeira e da mata que circundam o Convento.

Visão panorâmica da mata e do morro do Convento, com a cidade de Vitória ao fundo e a Praia da Costa à esquerda.

Ladeira e mata integram-se na harmonia da paisagem.

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Fiéis descem a ladeira do Convento, por entre o silêncio da mata.

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Visão do Convento a partir da Enseada do Suá, Vitória.

Vista aérea do Convento na década de 0.

Ladeira nova incorpora-se à Mata Atlântica.

Castanheira toca o prédio do Museu do Convento.

Convento iluminado durante a Festa da Penha 00 .

Vista aérea da CST.

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Pintura a óleo de Nossa Senhora das Alegrias, do século XIV, trazida por Frei Pedro Palácios. é considerada a pintura a óleo mais antiga do Brasil.

ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA PRIMAVERA DE 00 , EM HOMENAGEM AO MAIOR SÍMBOLO DA Fé E RELIGIOSIDADE DO POVO CAPIXABA.

Av. Brigadeiro Eduardo Gomes, 0 Jardim Limoeiro – Serra – ES CEP: - 0 | tel.: - www.arcelor.com/br/cst

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