Ebook Congresso Portalegre - 2020

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X Congresso Internacional d´ASPESM

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EDIÇÃO E PROPRIEDADE: A SOCIEDADE PORTUGUESA DE ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL TÍTULO: E-book: X Congresso Internacional d´ASPESM Sub-Título: “Desafios em Saúde Mental” III Seminário Internacional de Investigação em Saúde Mental COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO: Carlos Sequeira José Carlos Carvalho Luís Sá Paulo Seabra Mafalda Silva Odete Araújo COMISSÃO EDITORIAL: Bruno Santos Francisco Sampaio Lia Sousa Luís Silva Divulgação: ASPESM Suporte: E-book (formato. pdf) ISBN: 978-989-54826-2-7

Nota: Todos os artigos publicados são propriedade d’ASPESM, pelo que não podem ser reproduzidos para fins comerciais, sem a devida autorização da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental. A responsabilidade pela idoneidade e conteúdo dos artigos é única e exclusiva dos seus autores. A opção do texto com o novo acordo ortográfico ficou a cargo de cada autor. Citação - APA Style: 1. Sequeira, C., Carvalho, J.C., Sá, L., Seabra, P., Silva, M. & Araujo, O. (Eds.) (2019). X Congresso Internacional ASPESM: Desafios em Saúde Mental. Porto: ASPESM.

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Conteúdos

Introdução ................................................................................................................................ 4 Resumos .................................................................................................................................. 8 Qualidade de vida na percepção dos universitários de um Centro de Ciências da Saúde de uma universidade pública ........................................................................................................ 8 Ato criativo – benefícios para a saúde mental ....................................................................... 18 Abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da doença inflamatória intestinal ............................................................................................................. 26 Projeto INcluir - um desafio em Saúde Mental....................................................................... 36 A eficácia das terapias de relaxamento na redução da ansiedade: revisão da literatura ...... 44 Avaliação da usabilidade das TIC na comunidade sénior: uma experiência em living lab recorrendo a metodologia observacional ............................................................................... 54 A Literacia em Saúde Mental dos Jovens Estudantes ........................................................... 64 O desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro: revisão integrativa ............................................................................................................................... 73

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Introdução Neste e-book os leitores tomam conhecimento dos trabalhos científicos apresentados no Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (ASPEMS), que este ano comemorou a sua 10ª Edição, mais uma vez, associado ao III Seminário Internacional de Investigação em Saúde Mental. Este evento, em cada ano, reforça a sua importância nos eventos científicos na área da enfermagem, cada vez mais na Península Ibérica e com uma ligação maior ao Brasil, na presença de múltiplos investigadores e participantes de diferentes proveniências O interesse neste evento vai sendo renovando, o que é percebido pela procura de muitos profissionais da área da saúde mental e cada vez menos, apenas para enfermeiros. No entanto, reforça-se por ser o “momento de encontro e discussão” de boas práticas em Enfermagem de Saúde Mental. Este ano com o título “Desafios em Saúde Mental”, a ASPESM decide dinamizar a discussão sobre como fazer face aos desafios cada vez maiores provocados pelas necessidades crescentes das populações em cuidados para a sua saúde mental. A sobrecarga da doença crónica é cada vez maior e a possibilidade de prevenir é um desafio de todos, neste ano especialmente dedicado à prevenção do suicídio, pela Organização Mundial da Saúde. O programa iniciou-se com um conjunto de cursos pré-congresso, desde logo direcionados para a promoção da saúde mental, a prevenção da doença em crianças vítimas de trauma e a possibilidade de intervenção com pessoas com doença oncológica. A experiência e competências dos dinamizadores dos cursos contribuíram significativamente para o sucesso do congresso. As mesas temáticas despertaram-nos para as temáticas da saúde mental nos idosos, os cuidados de enfermagem nas pessoas com doença mental grave e os processos de autonomia e funcionalidade, as intervenções psicoterapêuticas e os indicadores de menor saúde mental nas populações mais jovens. Foram partilhadas experiências e investigação de diferentes países. Pelas presenças e trabalhos apresentados após os processos de submissão, cada vez mais se sente a presença de interesses e atenção à saúde mental em múltiplos contextos de saúde, sociais, educativos e até na perspetiva das políticas de saúde. Verifica-se uma afirmação da capacidade das intervenções autónomas e do trabalho interprofissional e interdisciplinar. Reforça-se o interesse do evento para divulgação de trabalhos de equipas clínicas, investigadores e estudantes de diferentes ciclos de estudo. Um olhar pelo programa das apresentações aceites, permite a perceção da variabilidade e riqueza das mesmas. Trabalhos sobre: literacia em saúde mental; saúde mental positiva; qualidade de vida e bem-estar; intervenções terapêuticas com múltiplos referenciais e com abordagens cada vez mais inovadoras; a necessidade de avaliação das pessoas, a criação e 4


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adaptação de instrumentos de medida; a saúde mental e bem estar dos profissionais de saúde, de estudantes adolescentes e jovens adultos, de idosos, de cuidadores; consumo de substâncias psicoativas em diferentes populações, suas consequências e tratamento; intervenção comunitária; cuidados na doença crónica. Destaca-se ainda que cada vez mais estudos nos trazem a evidência dos resultados. Verifica-se o desenvolvimento da enfermagem de saúde mental. A edição deste e-book, pretende despertar a curiosidade e estímulo para mais partilha de resultados da investigação e das experiências do dia a dia. Espera-se um contributo para a criação de redes de ligação entre profissionais. Os e-books dos nossos congressos e as revistas estão disponíveis em http://www.aspesm.org/. Agradecemos às instituições que deram o seu apoio para realização do congresso: Instituto Politécnico de Portalegre, Secção Regional sul da Ordem dos Enfermeiros; Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano; Câmara Municipal de Castelo de Vide; Instituto das irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.

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CURSOS DE CURTA DURAÇÃO Curso 1 – Intervenção de Enfermagem em Saúde Mental em Crianças Vítimas de Trauma Moderadores: Genoveva Carvalho & Pedro Amaro Dinamizador: António Nabais, Claúdia Calças e Lurdes Simeão Curso 2 – Saúde Mental Positiva Moderadores: Isilda Ribeira & João Garcia Dinamizadores: Sónia Teixeira Curso 3 – Saúde Mental em Contexto Escolar Moderadores: Paula Oliveira & Joana Nobre Dinamizador: Tânia Morgado e Andreia Magina Curso 4 – Ansiedade, Stress e Regulação Emocional em Donetes Oncológicos Moderador: Maria de Fátima Marques & Daniela Martins Dinamizador: Dora Franco e Catarina Carrola

I CICLO DE CONFERÊNCIAS Moderador: Lia Sousa & Artur Lopes Adaptação aos desafios do envelhecimento – solidão e depressão | Ricardo Pocinho (Associação Nacional de Gerontologia Social) Ética na anciania | Lucília Nunes (Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria) Maus tratos a pessoas idosas: estratégias de intervenção | Mauro Paulino (Mind-Instituto de Psicologia Clínica e Forense) Cuidados continuados e paliativos em saúde mental | Manuel Lopes (Escola Superior de Saúde da Universidade de Évora)

II CICLO DE CONFERÊNCIAS Moderador: José Carlos Carvalho & Flávia Portugal Fatores protetores de vulnerabilidade em adolescentes e jovens adultos | Maria José Nogueira (Universidade Atlântica) Monitorização e avaliação de indicadores de saúde mental em crinaças e adolescentes | Rosa Martins (Escola Superior de Saúde do instituto Politécnico de Viseu) Terapias de terceira geração |

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III CICLO DE CONFERÊNCIAS Moderador: Laura Muñoz Bermejo & Luís Sá Terapia da esperança para cuidadores de pessoas com doença crónica | Ana Querido (Escola Superior de Saúde de Leiria) Intervenções Psicoterapêuticas em Enfermagem: do modelo à sua implementação na prática | Francisco Sampaio (Universidade Fernando Pessoa) Validação do diagnóstico de Enfermagem “Alteración de los Processos de Pensamiento | Paula Escalada Hernandez (Universidad Pública de Navarra)

IV CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO Moderador: Maria do Carmo Novos Desafios em Enfermagem de Saúde Mental Regulação Profissional | Sérgio Branco (Ordem dos Enfermeiros) A Produção de Evidências:Perspetivas para o Futuro | Raúl Cordeiro (ESS(IPP) Das Necessidades das Pessoas à formação dos Profissionais | Carlos Sequeira (ASPESM) Desafios nos Contextos da Prática Clínica | André Maravilha (Hospital D. Estefânia)

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Resumos Qualidade de vida na percepção dos universitários de um Centro de Ciências da Saúde de uma universidade pública Rayane Cristina Souza*, Laerson Andrade*, Monique Moraes**, Flávia Portugal***, & Marluce Siqueira**** s

*Enfº . Mestres em Saúde Coletiva; Doutorandos em Saúde Coletiva no Programa de Pósgraduação em Saúde Coletiva (PPGSC); Pesquisadores no Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Álcool e outras Drogas (CEPAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Av. Marechal Campos, 1468, 29040-090 e Vitória, Brasil. E-mail: raycrissouza@gmail.com & laersonsilva1@gmail.com **Fisioterapeuta; Mestranda em Saúde Coletiva no PPGSC; Pesquisadora do CEPAD da UFES, 29040-090 e Vitória, Brasil. E-mail: moniquernmoraes@gmail.com ***Profª Adjunta no Deptº de Enfermagem (DENF) e Programas de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF) e Saúde Coletiva (PPGSC); Coordenadora do CEPAD da UFES, 29040-090 e Vitória, Brasil. E-mail: flavia.portugal@ufes.br ****Profª Titular no DENF, PPGENF e PPGSC; Coordenadora de Pesquisa do CEPAD da UFES, 29040-090 e Vitória, Brasil. E-mail: marluce.siqueira@outlook.com.br RESUMO CONTEXTO: Vivenciar o ambiente acadêmico permite mudanças influenciadoras na percepção sobre qualidade de vida pessoal e acadêmica dos universitários. OBJETIVO(S): Conhecer a percepção sobre a qualidade de vida universitária entre estudantes de um Centro de Ciências da Saúde de uma universidade pública. MÉTODOS: Pesquisa qualitativa utilizando a técnica do grupo focal, com emprego da análise de conteúdo proposta por Bardin. RESULTADOS: Definiram-se os eixos categóricos e as categorias empíricas: (1) Qualidade de vida no meio acadêmico - estrutura física; sobrecarga; reformulação da carga horária; (2) Saúde - saúde biopsicossocial espiritual; (3) Relações no meio acadêmico - interação interpessoal. CONCLUSÕES: Observou-se, no geral, que os estudantes não tiveram percepção positiva em relação à qualidade de vida universitária. Eles, ressaltaram a necessidade de revisão da grade curricular e a importância da interação entre docentesdiscentes como impactantes na qualidade de vida acadêmica. E, ainda destacaram, conhecer o que pensam no cotidiano da universidade, poderá subsidiar intervenções efetivas que auxiliem na melhoria da qualidade de vida, sendo fundamental para crescimento acadêmico como profissional. Palavras-Chave: Qualidade de Vida; Estudante; Estudantes de Profissões em Saúde. 8


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ABSTRACT BACKGROUND: Experiencing the academic environment allows influential changes in the perception of students' personal and academic quality of life. AIM: Know the perception about the university quality of life among students of a Health Sciences Center of a public university. METHODS: Qualitative research using the focus group technique and analyzed from the content analysis proposed by Bardin. RESULTS: Categorical axes and empirical categories were defined: (1) Quality of life in academia - physical structure; overload; reformulation of the workload; (2) Health – spiritual biopsychosocial health; (3) Relations in academia interpersonal interaction. CONCLUSIONS: It was observed, in general, that the students did not have a positive perception regarding the university quality of life. They stressed the need to review the curriculum and the importance of interaction between teacher-students as impacting the quality of academic life. And, they also pointed out, knowing what they think about the university's daily life may subsidize effective interventions that help improve the quality of life, being fundamental for academic and professional growth. Keywords: Quality of life; Students; Health Occupations Students. RESUMEN CONTEXTO: Experimentar el ambiente académico permite el cambio influyentes en la percepción sobre la calidad de vida personal y académica de los estudiantes universitarios. OBJETIVO(S): Conocer la percepción sobre la calidad de vida universitaria entre los estudiantes de un Centro de Ciências de la Salud de una universidad pública. METODOLOGÍA: Investigación cualitativa utilizando la técnica del grupo focal y analizada a partir del análisis de contenido propuesto por Bardin. RESULTADOS: Se definieron ejes categóricos y categorías empíricas: (1) Calidad de vida en la academia - estructura física; sobrecarga reformulación de la carga de trabajo; (2) Salud: salud biopsicosocial espiritual; (3) Relaciones en la academia - interacción interpersonal. CONCLUSIONES: En general, se observó que los estudiantes no tenían una percepción positiva con respecto a la calidad de vida universitaria. Hicieron hincapié en la necesidad de revisar el plan de estudios y la importancia de la interacción entre maestros y estudiantes como un impacto en la calidad de la vida académica. Y también señalaron que saber lo que piensan acerca de la vida diaria de la universidad puede subsidiar intervenciones efectivas que ayudan a mejorar la calidad de vida, siendo fundamentales para el crecimiento académico como profesional. Palabras Clave: Calidad de vida; Estudiantes; Profesiones de salud Estudiantes.

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INTRODUÇÃO O termo qualidade de vida (QV) tem entendimento amplo no qual se encontra inúmeras definições, resultante do carater multidisciplinar que envolve várias dimensões como aspectos físicos, psicológicos, meio ambientes e relações sociais (Bampi, Baraldi, Guilhem, Araújo, Campos, 2013). No que se refere ao campo da saúde, o termo QV, baseia-se na compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais, cujo foco mais relevante situase no conceito de promoção da saúde, e, de forma mais direcionada, relaciona-se à capacidade de viver sem doenças ou de superar as dificuldades decorrentes destas (Bampi, Baraldi, Guilhem, Araújo, Campos, 2013). A vida universitária, geralmente faz parte do ciclo de vida dos jovens e possui características que repercutem na QV e saúde de todos os envolvidos. O ingresso na vida acadêmica pode interferir em vários fatores relacionados ao estilo de vida dos estudantes, como os hábitos alimentares, a prática de atividades físicas, o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, o comportamento sexual, entre outros, que podem comprometer tanto sua saúde quanto sua QV (Carleto, Cornélio, Nardelli, Gaudenci, Haas, Pedrosa, 2019). Divervos fatores podem contribuir para redução da QV do estudante universitário, dentre eles estão o excesso de pressões acadêmicas, falta de tempo para lazer e convívio com a família e amigos, competição com os colegas, obsessão pelo trabalho técnico, dificuldade de adaptação à nova realidade, dificuldades inerentes à relação professor-aluno, dificuldade financeira, estresse e fadiga excessiva, além de eventuais problemas clínicos, psíquicos e/ou psicológicos (Cunha, Moraes, Benjamin, Santos, 2017). Nessa transição do ensino médio para a vida acadêmica, o estudante passa a conviver com novos colegas e professores, os quais podem exercer um importante papel na sua adaptação acadêmica (Oliveira, Santos, Dias, 2016; Pinho, Souza, Portugal, Siqueira, no prelo). Os docentes também são vistos pelos estudantes universitários como modelos profissionais e fontes de apoio e aconselhamento (Oliveira, Santos, Dias, 2016). Prover o apoio pedagógico, social e psicológico a estes estudantes, de modo integral, é essencial num contexto de inclusão social e de multidiversidade cultural, presente cada vez mais nas universidades brasileiras (Raquel, Kuroish, Mandrá, 2016). Nesse contexto, conhecer a percepção da QV pelos universitários do Centro da Saúde é relevante para o delineamento de estratégias que possibilitam identificar as dificuldades vivenciadas e a criação de intervenções para solucioná-las, favorecendo, portanto, a melhoria da saúde, QV e desenvolvimento da potencialidade dessas referida população.

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MÉTODOS Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, utilizando a técnica do grupo focal. Realizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS) de uma Universidade Pública, no mês de junho de 2019, e utilizando como instrumento de coleta um roteiro norteador para as questões abertas. Os participantes do estudo foram recrutados, de forma aleatória, por meio de convites. E seguiram os seguintes critérios de inclusão: estudantes do curso de graduação da área da saúde, regularmente matriculados e ativos na universidade, e tendo realizado pelo menos 01 (um) ano de graduação. Assim, a amostra contou com o total de sete estudantes dos cursos de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia ocupacional e Nutrição que se disponibilizaram, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No dia do grupo focal, os dados foram coletados com uso de gravador e armazenados. As gravações se deram mediante prévia autorização dos sujeitos pesquisados. Posteriormente, as falas foram transcritas para o Office Word® e analisadas a partir do método da análise de conteúdos de Bardin (2011), no qual emergiram eixos categóricos de análise: QV no meio acadêmico; Saúde; Relações no meio acadêmico e; Fatores que interferem na QV. A pesquisa foi conduzida de acordo com a Resolução nº466/2012 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa com Seres Humanos e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do referido Centro, com o parecer nº 3.277.358. RESULTADOS A análise de conteúdo permite relacionar unidades de registro de opiniões e motivações cuja formação consiste em significar valores para determinado tema (Bardin, 2011). Assim, após exploração do material, definiram-se os eixos categóricos: (1) QV no meio acadêmico; (2) Saúde; (3) Relações no meio acadêmico e; (4) Fatores que interferem na QV. A partir de então, emergiram-se as categorias empíricas (Quadro 01). Quadro 1 – Apresentação dos eixos categóricos e as suas categorias empíricas. Eixo Categórico (1) QV no meio acadêmico (2) Saúde (3) Relações no meio acadêmico Fonte: o autor.

Categorias Empíricas Estrutura física; Sobrecarga; Reformulação da carga horária. Saúde biopsicossocial espiritual. Interação interpessoal.

DISCUSSÃO Nesta pesquisa, apresentou predominância do sexo feminino (57,14%) com idade média de 22 anos e tempo médio de vivência no ensino superior de 3,64 anos. Caracteristicas semelhante encontrado na pesquisa do perfil dos graduandos das universidades federais

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brasileiras, no ano de 2018, no qual 54,6% da populção eram do sexo feminino e a idade média dos estudantes era de 24,43 anos, predominando faixa etária entre 20 a 24 anos (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018). É fato a predominancia de adultos jovens no ambiente universitário, sendo essa população vulnerável por diversos fatores, podendo comprometer a QV (Carleto, Cornélio, Nardelli, Gaudenci, Haas, Pedrosa, 2019). Assim, pesquisas foram sendo necessário para verificar a situação do estudante universitário, enfatizando as condições vivenciadas, seu perfil e a sua qualidade de vida (Cunha, Moraes, Benjamin, Santos, 2017; Toledo, Oliveira, Padovani, 2018; Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018). Deste modo, seguindo a vertente de avaliar a QV do universitário, ponderou analisar as falas dos acadêmicos, obtendo os eixos categóricos de análise e suas categorias empíricas. No eixo categórico 1 (Qualidade de vida no meio acadêmico) observaram relatos expressivos em relação à vivência acadêmica, sendo indetificadas categorias empíricas quanto à estrutura física, a sobrecarga das atividades durante a graduação e a necessidade da reformulação da carga horária. Eu sinto muita falta de um local de vivência pra gente ficar entre as aulas, pra gente fazer exercícios e outras coisas, que não seja a biblioteca. [...] a gente já não tem onde ficar aqui. Não tem, por exemplo, um vestiário pra você tomar um banho. A gente fica, literalmente, “jogado” pela faculdade, sem ter onde ficar (Acadêmico Fi5). “Eu não consigo ver aqui como um espaço que realmente sinta à vontade e sinta acolhido para ficar” (Acadêmica TO6). As falas apresentadas corroboram com os graduandos das universidades federais brasileiras, que é evidenciado por cerca de 30%, quanto à precaridade de estrutura física que forneça um espaço acolhedor e que estimule a promoção da saúde e bem-estar dentro das universidades (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018). A ausência de uma estrutura física para a prática de atividades de lazer pode desencandear fatores de risco para o adoecimento físico e/ ou mental dos estudantes universitários, visto o intenso tempo que o discente passa dentro da universidade, em alguns momentos, sacrificando atividades lúdicas, recreativas e pessoais. Essas atividades poderiam funcionar como uma válvula de escape para a tensão e pressão percebida em relação às exigências acadêmicas. Portanto, o fator “tensão emocional” também pode ser entendido nesse contexto, como sendo consequência da sobrecarga de estudos em contraponto à falta de tempo livre para si (Souza, Caldas, De Antoni, 2017). Frente à análise dos relatos, observam-se, também, referências sobre a extensa carga-horária do curso, levando o acadêmico da área da saúde há passar muito tempo na Universidade, favorecendo alterações na condução da vida, podendo atrapalhar o desenvolvimento das atividades rotineiras (alimentação, higiene, atividade física, sono) para atender a carga

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excessiva de trabalhos, aulas, provas, atividades de pesquisa e extensão. “[...] a gente tem e precisa de um momento em casa também, a gente tem uma vida fora da universidade, sabe” (Acadêmica TO1). Eu acho que o nosso tempo, o tempo livre [...] acaba de volta pra faculdade. Assim, porque, mil coisas pra resolver, mil provas, mil matérias e não tem outro jeito a gente tem que dar conta. E aí eu acho que nossa qualidade de vida fica bem prejudicada (Acadêmica N2). Eu entendo que a gente esta aqui, estudou bastante para passar [...] só que a gente não consegue se manter tão bem assim, entendeu?! [...] Os professores deveriam conversar melhor sobre os prazos, sobre prova, sobre as entregas, pra mesmo pensar na gente também. É um ajudando o outro, né (Acadêmica N3). A necessidade de realizar diversas atividades (intra e extracurriculares) é enfatizada pelas exigências de experiências profissionais além do que são proporcionadas dentro da Universidade. Ademais, há uma sobrecarga quanto às cargas excessivas de trabalho estudantis, o que interferem negativamente no desempenho acadêmico (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018; Pinho, Souza, Portugal, Siqueira, no prelo). Além desse excesso de atividade, fica evidenciada a insatisfação em relação à organização curricular, com exigências que extrapolam o limite da faculdade, conforme as falas a seguir: [...] é extremamente necessária uma reformulação da grade [...] pra que a gente consiga se dedicar mais, porque isso afeta muito nosso conhecimento. Às vezes a gente tem que fazer uma coisa tão na correria [...] para acabar aquilo logo que às vezes a gente não se dedica da forma necessária para que a gente consiga aplicar lá na frente, aquilo na prática (Acadêmica N2). “[...] a falta de organização da grade por parte da coordenação, atrapalha muito. E os professores, achar que tudo é teoria que tudo se resume a lattes, que a vida cabe no lattes, que a vida cabe no trabalho” (Acadêmica Fo7). De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a formação universitária ideal, é aquela que permite a participação ativa do discente perante o conhecimento, do pensamento reflexivo quanto ao desenvolvimento da sociedade brasileira (Lei n. 9394, 1996). Todavia, tem-se evidenciado que alguns curriculos universitários e docentes ainda mantém planejamento pedagógico antigo. Ao passo que, o estudante, sabendo o quanto o mercado de trabalho está exigente e o quanto se torna necessário à busca por conhecimentos extracurriculares, tem que atender as demandas dos docentes, do mercado de trabalho e pessoais (Nóvoa, 2019). É importante que haja um equilíbrio quanto às necessidades acadêmicas e do mercado de trabalho, adaptando-se ao novo cenário em prol da qualidade do ensino e da vida no ambiente universitário (Nóvoa, 2019). Em relação ao eixo categórico 2 (Saúde) são relatados aspectos sobre a pecepção da saúde

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biopsicossocial espiritual dos universitários, no qual ponderou os seguintes relatos: “[...] minha saúde mental de quando eu entrei, até hoje, oscila bastante. [...] a faculdade, ela adoece muito a gente [...]”. (Acadêmica TO6). [...] Depois que entrei no curso, eu ganhei 28 quilos. Deixei de fazer atividade física, deixei de conviver com meus amigos e o pessoal de casa [...]. Eu vivia para a iniciação científica, para monitoria e para as aulas. [...] hoje estou melhor! Por conta disso, [...] eu tive que desistir da vida acadêmica, em geral. [...]Se eu for reprovado eu não me importo, porque a esse ponto decidi que se a faculdade não liga para mim, eu não vou ligar para a faculdade. (Acadêmico Fi5) “[...] é uma carga muito grande [...]. Eu não procurei terapia, porque não tinha tempo para fazer [...]. Eu sempre tive conexão com Deus e é a minha válvula de escape”. (Acadêmica Fo4). “A saúde [...] vendo como um todo me agrada atualmente. Parece que sou contrário. Eu iniciei o curso todo errado [...]. Em relação ao meu curso e o apoio dos professores, eu sou muito grato porque eu vejo que eles se mostraram preparados e empáticos para mim”. (Acadêmico Fo7). A vida universitária, a mudança de rotina, novos obstáculos interferem diretamente na saúde do estudante, tanto de forma positiva quanto negativa (Andrade, 2019; Pinho, Souza, Portugal, Siqueira, no prelo). Estudos mostram o aumento da procura desses estudantes por tratamento terapêutico, especialmente, pela crescente presença de sintomas relacionados ao sofrimento psíquico e pensamento suicida (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018). Outra questão é a vida social, as quais estão expostas, gerando expressões particulares de manifestações do processo saúde-doença nos indivíduos que os compõem que se materializam em doenças como gastrite, ansiedade, enxaquecas, distúrbios do sono, estresse entre outras, que merecem ser consideradas, para que sejam traçadas as formas de enfrentamento (Borini, Wanderley, Bassitti, 2015). Em contrapartida, desses sofrimentos biopsicossociais, há uma relação positiva para a espiritualidade, conforme reltado pela acadêmica Fo4, no qual a utiliza como um suporte. De acordo com Chaves, Iunes, Moura, Carvalho, Silva, Carvalho (2015) que correlaciona, positivamente, espiritualidade e promoção / prevenção da saúde dos universitários, sendo que não precisa estar relacionada a religiosidade, apenas pela fé. Outro ponto é que a maioria dos universitários dessa pesquisa refere-se possuir a saúde desequilibrada, ao contrário do Acadêmico Fo7, que enfatiza o apoio e o preparo dos docentes perante o percurso universitário. Este dado salienta a importância da escuta ativa dos docentes para com os estudantes buscando alternativas plauzíveis e, especialmente, o encaminhamento para profissionais habilitados desenvolver um plano terapêutico. Condutas como essas, tornam-se necessárias para um diálogo aberto e uma possibilidade de resgate para a melhoria da saúde desse universitário e de seu desempenho acadêmico (Maurell,

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Jardim, 2019). Não atentar-se para a saúde biopsicossocial espiritual pode repercutir negativamente na QV do discente e, consequentemente, na formação e rendimento acadêmicos (Toledo, Oliveira, Padovani, 2018). Por fim, no eixo categórico 3 (Relações no meio acadêmico) sucedeu em categoria empírica como relação interpessoal. A integração acadêmica entre docentes, discentes e servidores influencia no quadro de motivação e desempenho acadêmico (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis, 2018), conforme as narrativas a seguir: […] acho que se houvesse uma interação, uma conversa, uma disponibilidade maior dos professores para com os alunos [...] já diminuiria o peso (Acadêmica TO6). “Não senti nenhuma cobrança por parte dos professores. Sentia uma cobrança em relação à turma [...] meio que competição” (Acadêmico Fo7). “[...] relação aos professores e profissionais, [...] podem te ajudar. Então assim, eu acho que a “política da boa vizinhança”, de você ajudar outra pessoa, acho que isso é bastante importante” (Acadêmica N3). Os relatos dos entrevistados evidenciam a grande importância atribuída pelos estudantes universitários aos professores e ao relacionamento que com eles estabelecem. A relação entre docente e o estudante pode tanto facilitar quanto dificultar a adaptação do discente ao ensino superior, através dos comportamentos, postura e didática dos professores (Oliveira, Santos, Dias, 2016). A boa relação com os professores contribui para uma melhor adequação ao curso pelos estudantes, para uma melhor adaptação, bem como ameniza as pressões que a faculdade exerce nos universitários. É de suma importância essa interação entre professor e o estudante, para que a aprendizagem ocorra como uma troca de conhecimentos, onde ambos possam estar aprendendo (Oliveira, Santos, Dias, 2016; Andrade, 2019). CONCLUSÃO A vivência na graduação leva a momentos de satisfação, crescimento e prazer, assim como a momentos de desgaste, sofrimento e alterações na saúde. Portanto, observou-se que os estudantes não tiveram uma percepção positiva em relação a sua QV universitária, no geral. Eles relataram que a grade curricular extensa, afeta o rendimento acadêmico e a saúde biopsicossocial, de forma unâmine. Além disso, o excesso de atividade intra-extracurricular sendo determinantes para dificultar o rednimento acadêmico. E, a importância da interação entre docentes e discentes, especialmente, pelos docentes serem referência profissional para os estudantes.

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Logo, conhecer o que os discentes pensam a respeito da QV universitária poderá subsidiar intervenções efetivas que auxiliem no processo de formação profissional e na própria melhoria da QV, consequentemente, é fundamental para o crescimento acadêmico. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A pesquisa torna-se relevante para a prática clínica, já que pretende oportunizar um ambiente universitário com qualidade, formando profissionais mais capacitados e com a saúde, especialmente, preservada. Para isso, torna-se fundamental conhecer a atual vivência acadêmica sob ótica dos universitários e oportunizar medidas assertivas para a sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, L. S. (2019). Uso de álcool e tabaco entre universitários de nutrição de uma universidade pública (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Vitória. Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Bampi, L. N. S., Baraldi, S., Guilhem, D., & Araújo, M. P., Campos, A. C. O. (2013). Qualidade de Vida de Estudantes de Medicina da Universidade de Brasília. Revista Brasileira de Educação Médica, 37(2), 217-225. Borini, R.C.C., Wanderley, K.S., & Bassitti, D.P. (2015). Relação entre a qualidade de vida e o estresse em acadêmicos da área da saúde. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 6(1). Carleto, C. T., Cornélio, M. P. M., Nardelli, G. G., Gaudenci, E. M., Haas, V. J., & Pedrosa, L. A. K. (2019). Saúde e qualidade de vida de universitários da área da saúde. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, 7(1), 53-63. Chaves, E. C. L.; Iunes, D. H.; Moura, C. C.; Carvalho, L. C.; Silva, A. M.; Carvalho, E. C. (2015). Ansiedade e espiritualidade em estudantes universitários: um estudo transversal. Revista Brasileira de Enfermagem, 68(3), p. 444-9. Cunha, D. H. F., Moraes, M. A., Benjamin, M. R., & Santos, A. M. N. (2017). Percepção da qualidade de vida e fatores associados aos escores de qualidade de vida de alunos de uma escola de medicina. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 66(4), 189-196. Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis. (2018). V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural de Estudantes da Graduação: das Instituições Federais de Ensino Superior Brasileiras. Uberlândia: Observatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Recuperado

de

https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1996/lei-9394-20-

dezembro-1996-362578-publicacaooriginal-1-pl.html 16


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Ato criativo – benefícios para a saúde mental Helena Major* & Magda Cordas** * Doutoramento; Professor Adjunto e Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Portalegre, Departamento de Artes, Design e Animação, Campus Politécnico, 10, Portalegre, Portugal. E-mail: hmajor@ipportalegre.pt ** Doutoramento; Professor Adjunto e Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Portalegre, Departamento de Artes, Design e Animação, Campus Politécnico, 10, Portalegre, Portugal. Email: magdacordas@ipportalegre.pt RESUMO É reconhecido, quer pela história da humanidade quer pela história do próprio indivíduo, que a expressão criativa ocupa um lugar de primazia no desenvolvimento e bem estar do ser humano. Esta necessidade inerente a cada um, manifesta por uma linguagem expressiva própria, é reveladora do seu modo de interpretar e gerir emocionalmente a realidade física, mas também a vivência profunda do eu. Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo compreender a importância da atividade criativa livre para o desenvolvimento integral e saudável do indivíduo. Considerando tais benefícios da prática artística e entendendo que a área das artes se encontra desvalorizada no atual sistema de ensino em Portugal, pretende-se que este trabalho seja um convite à reflexão sobre as possíveis consequências deste modus operandi. No que diz respeito à metodologia, esta consistiu essencialmente em três etapas: (1) estabeleceu a relação entre a história da humanidade e a sua necessidade de comunicar através da arte; (2) evidenciou os benefícios da expressão artística para o bem estar da pessoa fundamentando com exemplos da vida e obra de artistas. E concluiu, (3) com uma análise ao atual sistema educativo português onde o investimento na prática artística é diminuto, não contribuindo para o crescimento do aluno enquanto ser multifacetado. Ao nível dos resultados, constatou-se que o domínio da comunicação verbal é precedido pela expressão criativa. Compreendeu-se que este processo intuitivo conduz o indivíduo a redescobrir-se a si mesmo, aos outros e ao mundo. E que, consequentemente, é promotor do seu desenvolvimento integral e bem estar. Sendo assim, é com preocupação que se verifica que o modelo de ensino atual, se encontra desajustado a esta realidade. Palavras-Chave: expressão artística; saúde mental; criatividade; educação RESUMEN Se reconoce, tanto en la historia de la humanidad como en la historia del individuo mismo, que la expresión creativa ocupa un lugar de primacía en el desarrollo y el bienestar del ser humano. Esta necesidad inherente a cada uno, manifestada por su propio lenguaje expresivo,

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revela su forma de interpretar y manejar emocionalmente la realidad física, pero también la profunda experiencia del yo. En este contexto, el presente estudio tiene como objetivo comprender la importancia de la actividad creativa libre para el desarrollo integral y saludable del individuo. Teniendo en cuenta estos beneficios de la práctica artística y la comprensión de que el área de las artes está infravalorada en el sistema educativo actual en Portugal, se pretende que este trabajo sea una invitación a reflexionar sobre las posibles consecuencias de este modus operandi. En cuanto a la metodología, consistió esencialmente en tres etapas: (1) estableció la relación entre la historia de la humanidad y su necesidad de comunicarse a través del arte; (2) evidenció los beneficios de la expresión artística para el bienestar de la persona basándose en ejemplos de la vida y obra de artistas. Y concluyó, (3) con un análisis del sistema educativo portugués actual donde la inversión en la práctica artística es pequeña, no contribuye al crecimiento de los estudiantes como una persona multifacética. A nivel de los resultados, se encontró que el dominio de la comunicación verbal está precedido por la expresión creativa. Se entiende que este proceso intuitivo lleva al individuo a redescubrirse a sí mismo, a los demás y al mundo. Y eso, en consecuencia, es promotor de su desarrollo integral y bienestar. Por lo tanto, es preocupante que el modelo de enseñanza actual se encuentra inadaptado con esta realidad. Palabras Clave: expresión artística; salud mental; creatividad; educacion ABSTRACT It is recognized from the history of humankind and from the history of the individual himself that creative expression occupies a place of primacy in the development and welfare of the human being. This inherent need of each one of us, is manifested by self expressive language and reveals ones way of interpreting emotionally the reality, physical but also the profound experience of oneself. In this context, the present study aims to understand the importance of free creative activity for the integral and healthy development of the individual. The benefits of artistic practice and the understanding that the art field is undervalued in the current Portuguese education system, is an invitation to reflect on possible consequences of this mode of operation. Regarding methodology, it consists of three steps: (1) established a relationship between the history of humanity and its need to communicate through art; (2) evidenced the benefits of artistic expression for the well-being of the person based on examples of the life and work of artists. And concluded, (3) with an analysis of the current Portuguese educational system where investment in artistic practice is diminished, not contributing to student growth while being multifaceted. At the conclusions, was found that the domain of verbal communication is preceded by creative expression. It is understood that this intuitive process leads the individual to rediscover himself, others and the surrounding world,

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and consequently is the promoter of his integral development and well-being. Therefore, seems clear that the current teaching model is inadequate to this reality. Keywords: artistic expression; mental health; creativity; education

INTRODUÇÃO Uma das características distintivas que definem o ser o humano e que o separam da restante criação é a sua necessidade e capacidade de se exprimir por formas de expressão artística. Esta singularidade é manifesta desde os primórdios da história da humanidade, bem como na história do próprio indivíduo. Será oportuno relembrar que é intrínseco à natureza humana, num primeiro estágio do seu desenvolvimento, o recurso primordial a uma comunicação que não assente no discurso verbal consciente e estruturado, mas sim na utilização de outras dimensões criativas como, por exemplo a expressão gráfica e corporal. Inerente à necessidade de expressão e comunicação do ser humano podem ser apontados alguns factores: é através do gesto criativo que o homem se apropria progressivamente da realidade que percepciona, tornando-a sua a interpreta criando códigos visuais e atribuindo-lhe novos significados. Por exemplo, no caso de uma representação visual é no processo de desenhar uma realidade visível que o seu autor vai redescobrindo o mundo e a si próprio, num diálogo interior, construindo desse modo uma nova forma de ver, pensar e sentir. É sabido que o homem também, de forma intuitiva, para gerir as suas emoções muitas vezes associadas a conflitos interiores, memórias, mais ou menos conscientes, e circunstâncias complexas vividas, expressa criativamente toda essa carga emocional. Este facto não é só um canal para exteriorizar uma vivência interior fecunda, mas muitas vezes o permite compreender também o que sente, encontrando assim o seu equilíbrio emocional ao mesmo tempo que se redescobre e reinventa. No processo artístico de exteriorização do mais profundo do seu mundo, o criador, de uma forma autêntica, revela as suas fragilidades e inseguranças mas também todo o seu potencial enquanto indivíduo. Esta prática de liberdade expressiva é propiciadora de um forte sentimento de identidade e realização pessoal contribuindo grandemente para uma revitalização do indivíduo. Segundo Eurico Gonçalves (1991): A expressão livre constitui um dos factores imprescindíveis para o desenvolvimento harmónico do indivíduo; praticada na mais tenra idade, cedo prepara a criança para ao longo dos anos do seu crescimento, encontrar um modo saudável de se comportar criativamente nas mais diversas situações que lhe surgem (p.3). 20


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Compreendendo os benefícios desta prática artística como ferramenta de auxílio para o conhecimento da psique humana e técnica terapêutica foi, principalmente, a partir do início do século XX, através de Sigmund Freud e Carl Jung que foram estabelecidos os alicerces científicos que deram origem à disciplina de Arte terapia. Neste contexto de Arte terapia, e a título de exemplo, no ano de 2017 surgiu uma reportagem no Jornal Expresso, intitulada - “Anabela, a mulher que arranca monstros do barro”. Este trabalho jornalístico retratou Anabela Soares (doente mental, 50 anos), que desenvolve no atelier do Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos (Lisboa), o seu trabalho criativo. Através da técnica em barro, a autora revela um interior sofrido, povoado de seres míticos e memórias de dor causadas pela doença que desde cedo se manifestou. Nesta publicação torna-se evidente a importância da expressão artística como meio terapêutico para a gestão do seu complexo mundo interior: “Violentamente, Anabela retira monstros do barro cinzento, pequenos golens, representações de medos, vozes, anseios. Liberta-os a eles e a ela” (Beleza, Martins & Roberto, 2017). Mais recentemente, numa entrevista recente ao Jornal i, em março de 2019, Anabela Soares confidencia: “Se o barro não me tivesse libertado eu já não existia” (Reis, 2019).

Figura 1 – Autora em processo criativo - atelier do Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos

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Figura 2 – Trabalho artístico de Anabela Soares Uma pintora consagrada em que a vida e a obra expressa bem esta relação entre os benefícios da prática artística e a saúde, é Frida Kahlo (1907-1954). A sua obra reflete de uma forma explícita a maneira como gere os vários episódios traumáticos que sucederam na sua vida e mais do que isso, ajudam-na a transcender sofrimentos e perdas. Num estilo próprio e numa linguagem muito genuína, Kahlo descreve visualmente de uma forma crua, quase visceral, momentos da sua intimidade: as suas pinturas são catarses interiores, lamentos e expressão de dores decorrentes dos seus traumas. “I paint self-portraits, because I paint my own reality. I paint what I need to. Painting completed my life. I lost three children and painting substituted for all of this.” Frida Kahlo escreveu ainda num dos seus diários: “I am not sick, I am broken. But I am happy to be alive as long as I can paint” (Phillips, 2018).

Figura 3 – Frida Kahlo “Painting in bed”, 1940

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À semelhança de Frida Kahlo outros artistas, como Francisco Goya (1746-1828), Vincent Van Gogh (1853-1890), Edvard Munch (1863-1944), Georg Baselitz (1938-...), também espelharam na sua arte a trajetória dolorosa e intensa num trabalho que reflete os lados mais obscuros da sua existência. Isto permitiu-lhes aliviar a carga emocional das suas agonias, trazendo-lhes algum conforto e lançando pontes de comunicação com o mundo exterior. Como refere Carl Jung (1920, citado por ARAGÃO, 2015), "Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida." Sabendo que a escola é um espaço privilegiado de formação e crescimento do indivíduo, e compreendendo a importância da expressão artística como um veículo determinante nos seus processos psicológicos básicos, verifica-se com preocupação que a área das expressões artísticas não tem ocupado um lugar de relevância no plano curricular da generalidade dos diferentes graus de ensino, limitando de alguma forma o desenvolvimento da criação ao jovem adulto. O atual sistema de educação vinculado por uma sociedade racional, capitalista e massificadora, proporciona um modelo educativo desintegrador do indivíduo. Métodos pedagógicos convencionais, de certo modo obsoletos, que na realidade da prática profissional não privilegiam a pessoa na suas múltiplas valências, mas que se encontram centrados no recurso ao pensamento puramente lógico. Em consequência, ao longo dos anos, tem-se constatado que este modelo têm vindo a gerar indivíduos cada vez mais fragmentados, desconectados de si próprios e do mundo e pouco criativos. Em suma, limitados no seu desenvolvimento integral e bem estar. Ao defender que a Educação Expressiva, deve ser, integrada nos currículos pedagógicos, alertamos que o homem moderno necessita despertar capacidades actualmente marginalizadas

e

menosprezadas,

como

a

intuição,

a

inteligência

emocional,

sensibilidade, alofilia, o amor, afectividade, empatia, entre tantas outras competências humanas, que estão cerceadas dentro da casca rígida, que transformou o homem moderno. (...) Verificamos que somente quando exploramos outras formas de comunicação, expressão e interacção, intrapessoal e interpessoal, é que levamos o expressante a esse novo patamar consciencial (Ferraz, 2011, p.45). Demonstrando que a Educação Artística é parte integrante e imprescindível da formação global e equilibrada do indivíduo, independentemente do destino profissional que este venha a optar, este estudo evidencia, por um lado, a elevada prioridade de se refletir sobre as possíveis consequências da atual desvalorização da expressão pela arte no sistema de ensino em Portugal, e as possíveis consequências dessa depreciação deferida pelo Ministério da Educação. Por outro lado, a necessidade de se implementar no atual sistema de ensino, desde a Educação Pré-escolar ao Ensino Superior, um modelo educacional integrador que 23


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contemple a expressão livre e criativa do pensamento e das emoções no processo de ensino aprendizagem, visando o desenvolvimento individual do aluno em todas as suas dimensões intelectual, física, emocional e social. Neste contexto, surge a necessidade de uma tomada de atitude e consciencialização por parte de todo os agentes envolvidos no sistema educacional. METODOLOGIA A metodologia consistiu primeiramente na compreensão do papel fundamental que a criação artística teve e continua a ter no desenvolvimento da humanidade e do próprio indivíduo. Abordou-se, seguidamente, a importância dos benefícios da expressão e da criatividade para o amadurecimento e bem estar mental do indivíduo revelando como a arte é um meio eficaz no auxílio de conflitos interiores. Contextualizou-se assim, a importância da Arte terapia como processo facilitador da comunicação e gestão do paciente consigo mesmo e com o outro. Este estudo foi fundamentado com exemplos de artistas, do passado e da atualidade, que evidenciam a relação existente entre a arte e a saúde, a prática e o bem estar. Esta primeira etapa metodológica serviu de base a uma análise geral e empírica da prática artística no sistema de ensino em Portugal, finalizando com um convite à reflexão sobre o percurso e consequências do atual modelo que parece limitar e marginalizar a importância da expressão pela arte na prática pedagógica para o desenvolvimento integral e bem estar, físico e mental, do indivíduo. RESULTADOS E CONCLUSÕES É interessante constatar que o domínio da linguagem verbal e escrita é precedido pelo ato criativo de expressão livre. Este facto pode ser constatado no desenvolvimento da criança revelando-se fundamental a vários níveis: cognitivo, motor, linguagem, afetivo e social, à semelhança do que aconteceu na evolução da espécie humana. Neste ato de expressão livre, não controlado pela razão, o indivíduo encontra-se consigo próprio e com os outros num processo intuitivo e envolvente de auto descoberta, como lugar propício à exteriorização de sensações, sentimentos, vivências e memórias. Esta importância da expressão criativa como uma atividade continuada e libertadora, contribui para o desenvolvimento harmonioso do indivíduo, gerando uma personalidade mais estruturada, responsável, autoconfiante, com maior sentido crítico e poder de iniciativa. Reconhecendo-se assim, a importância do ato criativo na formação e equilíbrio emocional do indivíduo, é com preocupação que se constata que ao nível do sistema educacional português é minimizado e até por vezes discriminado, o papel da expressão artística em comparação com disciplinas que são consideradas nucleares, como é o caso da matemática e do português. Por outro lado, verifica-se que as metodologias e estratégias de ensino e aprendizagem adoptadas nesta área são, na maior parte dos casos, demasiado rígidas, 24


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estereotipadas e condicionadoras da expressão individual do aluno. O estímulo à criatividade e técnicas de experimentação neste modelo de ensino é praticamente nulo. Da análise feita, pode-se concluir que no sistema vigente, o indivíduo está sujeito a progressivamente se desconectar de si próprio, com consequências negativas de ordem psicológica e emocional, que o podem tornar mais empobrecido, menos adaptado e menos saudável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aragão, Soraya R. (2015). A Arte como expressão de sentimentos e catarse emocional nos processos terapêuticos. Artigo publicado no Portal dos Psicólogos - Psicologia.pt. Acedido em:

https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?a-arte-como-expressao-de-

sentimentos-e-catarse-emocional-nos-processos-terapeuticos&codigo=AOP0370 Beleza, Joana; Martins, Christiana & Roberto, João (2017). Anabela, a mulher que arranca monstros do barro. Reportagem publicada no Jornal Expresso online. Acedido em: https://expresso.pt/multimedia-expresso/2017-05-19-Anabela-a-mulher-que-arrancamonstros-do-barro Carvalho, Álvaro A.; Domingos, Paula; Faria, Álvaro L. & Jardim, Ricardo F. (2013). Saúde Mental e Arte - Formas de Expressão. Programa Nacional para a Saúde Mental – DireçãoGeral da Saúde. Acedido em: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/saude-mental-earte-pdf.aspx Ferraz, Marcelli (2011) Educação Expressiva – Um Novo Paradigma Educativo. Colecção: Expressão em terapia. Tuttirév Editorial. Gonçalves, Eurico (1991). A Arte descobre a criança. Amadora: Raiz Editora. Janson, H. W. (1998). História da Arte. 6ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Lee, Patina (2016). What is art therapy. Acedido em: https://www.widewalls.ch/what-is-art-therapy/ Phillips, Renee (2018). Artist Frida Kahlo Transcended Suffering through Art. Acedido em: https://www.healing-power-of-art.org/frida-kahlo-created-art-that-transcended-her-suffering/ Reis, Marta F. (2019). Manicómio. Artigo publicado no Jornal i Digital. Acedido em: https://ionline.sapo.pt/artigo/650802/manicomio-se-o-barro-nao-me-tivesse-libertado-eu-janao-existia?seccao=Portugal

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Abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da doença inflamatória intestinal Diogo Caetano*, Duarte Cruz**, Rui Joaquim***, & Rosa Lopes**** * Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; SCMV - UCC António Francisco Guimarães, Av. Bombeiros Voluntários, Apartado 48, 4815-394 Vizela, Portugal. diogocae@gmail.com ** Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; Clínica Reequilibra, 3020-088 Coimbra, Portugal. duartecruz7@hotmail.com *** Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; Unidade de Saúde de Coimbra, 3000-176 Coimbra, Portugal. joaquim.rui97@gmail.com ****Doutora em Ciências de Enfermagem; Professora adjunta; ESEnfC, Avenida Bissaya Barreto, Apartado 7001, 3046-851 Coimbra, Portugal. rlopes@esenfc.pt RESUMO CONTEXTO: Doença Inflamatória Intestinal (DII) desencadeia múltiplas repercussões na saúde da pessoa, nomeadamente na dimensão psicológica. O impacto psicológico pode funcionar como variável na evolução da doença, potenciando a exacerbação de sintomatologia aguda da doença. OBJETIVOS: Identificar necessidades percecionadas pela pessoa

com

DII;

Conhecer

instrumentos

de

avaliação

que

permitem

a

identificação/monitorização de alterações da dimensão psicológica; Avaliar efeitos da abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII; Identificar a função do enfermeiro enquanto elemento da equipa multidisciplinar e Compreender a intervenção do enfermeiro na promoção da saúde da pessoa com DII. MÉTODOS: Revisão Integrativa de Literatura (RIL), com estratégia metodológica P[I][C]OD na questão investigação: Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?. Pesquisa bibliográfica: maio 2019; bases de dados: MedicLatina, MEDLINE, Psichology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, através plataforma EBSCOhost; horizonte temporal: janeiro 2010 a maio 2019. Amostra: 5 artigos. RESULTADOS: Iliteracia é fator indutor de sofrimento psicológico, sendo informação em saúde relevante para adoção de estratégias de coping; utilização de instrumentos de avaliação simples permite ao enfermeiro a identificação de fatores de risco para alterações do foro psicológico; Mindfulness-based Cognitive Therapy(MBCT) produz efeitos psicoterapêuticos; enfermeiro deve adotar competências relacionais promotoras de respeito, empatia e confiança gerando parceria nos cuidados. CONCLUSÕES: A avaliação clínica holística, respeitando individualidade da pessoa, fornecendo cuidados de enfermagem

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de qualidade e atribuindo igual relevância à dimensão psicológica, oferece desta forma uma abordagem psicoterapêutica na prevenção da agudização da DII obtendo ganhos em saúde. Palavras-Chave: Doença inflamatória intestinal; enfermeiros; adaptação psicológica; stress. ABSTRACT BACKGROUND: Inflammatory Bowel Disease (IBD) triggers multiple repercussions on a person's health, including the psychological dimension. Psychological impact may function as a variable in the evolution of the disease, potentiating the exacerbation of acute symptomatology of the disease. AIM: To identify needs perceived by the person with IBD; Know assessment tools that allow the identification/monitoring of changes in the psychological dimension; To evaluate the effects of the psychological approach focused on the prevention of acute IBD; Identify the nurse's role as a multidisciplinary team member and Understand the nurse's intervention in promoting the health of people with IBD. METHODS: Integrative Literature Review (RIL), with methodological strategy P[I][C]OD in the research question: What is the approach focused on the psychological dimension in the prevention of acute IBD in adults?. Bibliographic search: May 2019; databases: MedicLatina, MEDLINE, Psychology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, through the EBSCOhost platform; time horizon: January 2010 to May 2019. Sample: 5 articles. RESULTS: Illiteracy is a factor that induces psychological distress, being relevant health information for the adoption of coping strategies; the use of simple assessment tools allows nurses to identify risk factors for psychological

disorders;

Mindfulness-based

Cognitive

Therapy(MBCT)

produces

psychotherapeutic effects; the nurse must adopt relational skills that promote respect, empathy and trust, generating partnership in care. CONCLUSIONS: The holistic clinical evaluation, respecting the individuality of the person, providing quality nursing care and giving equal importance to the psychological dimension, thus offers a psychotherapeutic approach to preventing the acute onset of IBD and achieving health gains. Keywords: Inflammatory bowel disease; nurses; psychological adaptation; stress. RESUMEN CONTEXTO: La enfermedad inflamatoria intestinal (EII) desencadena múltiples repercusiones en la salud de una persona, incluida la dimensión psicológica. El impacto psicológico puede funcionar como una variable en la evolución de la enfermedad, potenciando la exacerbación de la sintomatología aguda de la enfermedad. OBJETIVO(S): Identificar las necesidades percibidas por la persona con EII; Conocer herramientas de evaluación que permitan identificar/monitorear cambios en la dimensión psicológica; Evaluar los efectos del enfoque psicológico centrado en la prevención de la EII aguda; Identifique el papel de la enfermera como miembro del equipo multidisciplinario y comprenda la intervención de la enfermera para 27


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promover la salud de las personas con EII. METODOLOGÍA: Revisión Integral de Literatura (RIL), con estrategia metodológica P[I][C]OD en la pregunta de investigación: Cuál es el enfoque centrado en la dimensión psicológica en la prevención de la EII aguda en adultos?. Búsqueda bibliográfica: mayo de 2019; bases de datos: MedicLatina, MEDLINE, Psychology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, através de la plataforma EBSCOhost; horizonte temporal: enero de 2010 a mayo de 2019. Muestra: 5 artículos. RESULTADOS: El analfabetismo es un factor que induce angustia psicológica, siendo información de salud relevante para la adopción de estrategias de afrontamiento; El uso de herramientas de evaluación simples permite a las enfermeras identificar factores de riesgo para trastornos psicológicos; La terapia cognitiva basada en la atención plena (MBCT) produce efectos psicoterapéuticos; La enfermera debe adoptar habilidades relacionales que promuevan el respeto, la empatía y la confianza, generando una asociación en la atención. CONCLUSIONES: La evaluación clínica holística, respetando la individualidad de la persona, brindando atención de enfermería de calidad y otorgando la misma importancia a la dimensión psicológica, ofrece un enfoque psicoterapéutico para prevenir la aparición aguda de EII y lograr beneficios para la salud. Palabras Clave: Enfermedad inflamatoria del intestino; enfermeras; adaptación psicológica; estrés. INTRODUÇÃO A DII da qual a doença de Crohn (DC), a colite ulcerosa (CU) e a colite indeterminada são subtipos, é uma condição gastrointestinal crónica, cuja etiologia envolve resposta imune desregulada da mucosa intestinal, desencadeada por fatores ambientais associados à predisposição genética (Mikocka-Walus, Pittet, Rossel & von Känel, 2016) Tem-se assistido a um aumento da incidência a nível mundial da DC e da CU, com especial destaque para os países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. “Em Portugal estimase que existam cerca de 150 pessoas com DII por cada 100.000 habitantes, distribuídos igualmente por ambas as doenças, com predomínio no sexo feminino, atingindo na maioria o escalão etário 17-39 anos na DC e 40-64 anos na CU. Esta prevalência é intermédia entre os países em que a doença é mais frequente e os países de mais baixa frequência, embora exista a perceção de que os novos casos estão a aumentar” (Cotter, 2016, p.40). Ambos os subtipos da patologia são caracterizados por períodos sintomáticos (surtos), combinados com períodos menos sintomáticos (remissão). A sintomatologia é caracterizada por episódios inflamatórios agudos, por vezes imprevisíveis, que incluem dores intestinais intensas, diarreia, tenesmo, incontinência fecal, hematoquesias, perda de peso, alterações do humor, fadiga, estenoses, fístulas e/ou abcessos (Burkhalter, Birgit & Lorenz, 2015).

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Friedli, Johnson, Price, Swart, & Wood (2014) referem que cerca de 30% de pessoas com DII revelam sofrimento psicológico. Na maioria das circunstâncias é temporário, mas pode permanecer descontrolado, tendo potencial de evolução para uma condição psicológica ou doença mental mais debilitante e grave. Este estudo teve como objetivos: identificar as necessidades percecionadas pela pessoa com DII; conhecer instrumentos de avaliação que permitem a identificação/monitorização de alterações da dimensão psicológica; avaliar os efeitos da abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII; identificar a função do enfermeiro enquanto elemento da equipa multidisciplinar; compreender a intervenção do enfermeiro na promoção da saúde da pessoa com DII. MÉTODOS Foi realizada uma RIL, com recurso à estratégia metodológica P[I][C]OD (Tabela 1) na elaboração da questão de investigação: Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?. Tabela 1 - Questão de investigação segundo a metodologia P[I][C]OD P

Participantes

Pessoas de idade adulta com DII

I

Intervenção

Abordagem centrada na dimensão psicológica

C

Comparação

Não se aplica

O

Resultados

Prevenção da agudização da DII

D

Desenho de estudo

Primário, qualitativo e/ou quantitativo

A pesquisa bibliográfica foi realizada durante o mês de maio de 2019, nas bases de dados: MedicLatina, MEDLINE, Psichology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL e Academic Search, disponíveis na plataforma EBSCOhost, com horizonte temporal de janeiro de 2010 a maio de 2019, mediante a combinação de expressões booleanas OR e AND, utilizando Descritores em Ciências da Saúde - DeCS (compatível com Medical Subject Headings MeSH), construiu-se a seguinte expressão de pesquisa: (inflammatory bowel diseases) AND (nurs*) AND (psycholog* OR psychological distress OR psychological adaptation OR emotion* OR mental health OR anxiety OR mood disorders OR depression OR intervention). No motor de busca EBSCO, foram selecionadas as bases de dados supramencionadas e inserida a expressão de pesquisa formulada, tendo sido obtidos 512 artigos. De forma a cumprir os critérios de inclusão, foi utilizado o cursor para definir a janela temporal (20102019), resultando em 376 artigos. De seguida, selecionou-se a opção “Revistas Académicas”,

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o que se traduziu em 337 Artigos. Por fim, aquando da seleção do cursor “Full Text”, obtivemos 236 artigos, tendo passado a 161 após a exclusão dos repetidos. A partir dos resultados da pesquisa, iniciou-se por dois investigadores a primeira análise dos documentos, pelo seu título, tendo sido selecionados 64 artigos. Após esta seleção, foi analisado o resumo dos mesmos, tendo sido apurados 27. Posteriormente, após realizada a leitura integral dos documentos restantes, foram selecionados para a presente RIL 5 artigos. RESULTADOS A síntese dos resultados de cada artigo da amostra é apresentada em tabela. Tabela 2-Disease-specific knowledge, coping and adherence in patients with inflammatory bowel disease (Estudo1) Autores: Dudley-Brown, S., Kerwin, L., Moradkhani, A., & Tabibian J. Local e data: Estados Unidos da América, 2011 Objetivo: investigar relação entre conhecimento da DII e uso de estratégias de coping com a adesão ao regime terapêutico. Participantes

111 adultos com DII, residentes nos Estados Unidos da América, recrutados online.

Intervenção/

Variável independente: conhecimento sobre DII – avaliação: questionário CCKNOW;

Instrumentos

Variáveis dependentes: coping e adesão ao regime terapêutico – avaliação: Brief COPE e Morisky Adherence Scale, respetivamente.

Comparador

Não aplicável

Outcomes

- Relação significativa entre conhecimento de DII e coping ativo, suporte instrumental, planeamento e apoio emocional. - Relação significativa entre apoio instrumental e género; uso de substâncias e emprego; uso de substâncias e estado civil; auto culpabilização e auto perceção da doença.

Desenho

Estudo quantitativo, de corte transversal

Tabela 3 – Early identification of patients with psychological distress: the role of inflammatory bowel disease nurses (Estudo 2) Autores: Friedli, K, Johnson, M., Price, T., Swart, N., & Wood, G. Local e data: Inglaterra, 2014 Objetivo: apresentar um conjunto útil de ferramentas de rastreio que possam ser usadas para identificar sofrimento psicológico e ajudar na decisão sobre encaminhamento para profissional de saúde complementar. Participantes

Um participante (n=1) diagnosticado com DII.

Intervenção/

The Patient Health Questionnaire-2- avalia a presença de sintomas de depressão;

Instrumentos

Distress Thermometer - avalia o seu nível de sofrimento na última semana; Generalized Anxiety Disorder-2 - avalia transtornos de ansiedade; The Acceptance and Action Questionnaire - avalia a aceitação e adaptação à doença.

Comparador

Não aplicável

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X Congresso Internacional d´ASPESM Outcomes

As ferramentas utilizadas, por enfermeiro especialista em DII, permitiram a identificação de um caso de sofrimento psicológico; a discussão entre o profissional e a pessoa sobre os seus problemas psicológicos; e o encaminhamento para outro profissional de saúde.

Desenho

Estudo quali-quantitativo e descritivo.

Tabela 4 – Mindfulness-based cognitive therapy for inflammatory bowel disease patients: findings from an exploratory pilot randomised controlled trial (Estudo 3) Autores: Atherton I., Schoultz M., & Watson A. Local e data: Escócia, 2015 Objetivo: Testar a eficácia da Mindfulness-based Cognitive Therapy (MBCT) na DII e avaliar a viabilidade da realização de um estudo aleatório controlado em maior escala. Participantes

24 participantes com DII distribuídos aleatoriamente - grupo alvo (grupo MBCT) e grupo controlo (grupo lista de espera) numa proporção direta de 1:1; randomização informática estratificada em duas variáveis - tipo de doença e sexo

Intervenção/

O programa MBCT baseou-se no manual de 8 semanas MBCT, desenvolvido por Segal et al.

Instrumentos

como referido por Atherton, Schoultz, & Watson (2015). Estudo avaliado em três momentos (inicio, final da intervenção e 6 meses após a intervenção) em: depressão, ansiedade, mindfulness disposicional (que expressa importância e disposição para a terapia), atividade da doença e qualidade de vida.

Comparador

Grupo controlo (GC)

Outcomes

- Melhoria no score de depressão no grupo MBCT no pós-intervenção e 6 meses após; - Melhoria no score de ansiedade-estado no grupo MBCT durante o período de pós-intervenção e 6 meses após (embora sem diferença estatisticamente significativa); - Relação estatisticamente significativa no grupo MBCT entre o tempo de mindfulness disposicional e a ansiedade traço; - Embora no grupo MBCT a atividade da doença tenha apresentado melhorias, não foi significativa entre o tempo de MBCT e o tempo nos scores de atividade das DII’s; - Houve evolução positiva na qualidade de vida nas pessoas com DII (6 meses após), que não foi estatisticamente significativa entre o grupo MBCT e a variável ‘tempo’, que pudesse ter impacto nos scores de qualidade de vida.

Desenho

Estudo quantitativo, experimental e longitudinal

Tabela 5 – Stress, coping and support needs of patients with ulcerative colitis or Crohn’s disease: a qualitative descriptive study (Estudo 4) Autores: Larsson, K., Lööf, L. & Nordin, K. Local e data: Suécia, 2016 Objetivo: Examinar o stress relacionado à doença, as estratégias de coping e a necessidade de informação/apoio em pessoas com DII. Participantes

15 pessoas com UC ou DC, mulheres e homens de várias idades e duração da doença, recrutados em serviço de gastroenterologia de hospital universitário sueco.

31


X Congresso Internacional d´ASPESM Intervenção/

Realizadas entrevistas, duração 50-60 minutos, gravadas e transcritas pelo autor principal.

Instrumentos

Análise qualitativa de conteúdo: leitura analítica das entrevistas; identificação de conteúdo relevante e organização em três áreas de conteúdo (stress, coping e necessidade de apoio).

Comparações

Não aplicável.

Resultados

Evidenciaram temas ligados às três áreas centrais: Stress: relacionado à doença e relações com os outros; Coping: estratégias comportamentais, estratégias sociais e estratégias emocionais; Necessidade de ajuda/apoio: apoio instrumental e apoio emocional.

Desenho

Estudo qualitativo com abordagem descritiva.

Tabela 6 – Health care as perceived by persons with inflammatory bowel disease – a focus group study (Estudo 5) Autores: Borjesson, S., Frisman G., Hjelm, K., Hjortswang H., & Lesnovska K. Local e data: Suécia, 2017 Objetivo: Explorar as perceções de cuidados de saúde nas pessoas com DII. Participantes

26 pessoas com DII (igual distribuição entre DC e CU) maiores de 18 anos, recrutados por uma enfermeira, com base no sexo, diagnóstico, tempo desde o diagnóstico e idade. Participaram 14 homens e 12 mulheres com idade entre 19 e 76 anos; média de idades de 62 anos. Os dados foram colhidos entre janeiro e junho de 2014.

Intervenção/

Foi elaborado um guia com 5 questões para orientar a entrevista.

Instrumentos

Todas as entrevistas foram conduzidas pelos investigadores principais e enfermeira especialista em DII. As entrevistas foram gravadas e transcritas na integra, duração entrevista do grupo focal 15 minutos, entrevistas individuais duração de 30 minutos.

Comparador

Não aplicável

Outcomes

Emergiram duas categorias: atitudes do profissional de saúde nas instituições de saúde e estrutura organizacional das instituições de saúde. A primeira categoria inclui: respeito, confiança mútua, receção de informações no momento certo, tomada de decisão compartilhada, competência do profissional e comunicação. A segunda categoria inclui: acesso aos cuidados de saúde, acomodação, continuidade de cuidados e prós e contras dos cuidados especializados.

Desenho

Estudo qualitativo de caracter exploratório.

DISCUSSÃO Os estudos 4 e 5 referem necessidades associadas à DII: receber informações, opções ou estratégias de gestão/tratamento da doença e possíveis impactos nas suas vidas. O estudo 4 mostra que a falta de conhecimento relativa à condição de saúde da pessoa é um preditor de sofrimento psicológico, comprometendo a capacidade de coping perante a patologia e, consequentemente, a adesão ao tratamento e adoção de comportamentos promotores de saúde. Também o estudo 1 evidencia que pessoas com DII com maior literacia relacionada à doença são mais propensas a empregar estratégias de coping. No entanto, não foi encontrada relação entre o conhecimento sobre a DII e a adesão ao tratamento.

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O estudo 4 ao investigar sobre as estratégias de coping, revelou que as mais utilizadas são as focadas no problema (DII) e as focadas nas emoções. Foram relatadas outras estratégias: pensamento positivo, distração, comparações sociais e aceitação da doença. Ficou claro neste estudo, que os participantes empregaram e combinaram uma ampla variedade de estratégias, no sentido de enfrentar a situação indutora de stress, a DII. No entanto, não foi examinada, na referida investigação, a eficácia do coping ou a existência de relação entre as estratégias e o bem-estar dos participantes. Assim, a promoção da literacia terá um efeito psicoterapêutico na pessoa, permitindo atuar na prevenção de sofrimento psicológico, através da aprendizagem/promoção das estratégias eficazes de coping. Deste modo, serão fomentados, ganhos em saúde. Uma das estratégias, descritas no estudo 1, é a criação de cursos/módulos on-line educacionais. Outro dos métodos defendidos pelos autores é o encaminhamento para profissionais relacionados com a saúde mental. Estes profissionais possuem conhecimentos e competências especializadas para ajudar pessoas com doenças crónicas, de modo a melhorar as estratégias de coping e providenciando suporte emocional/psicológico. Devido a este aumento do consumo de informações on-line, os autores afirmam que uma melhor utilização da internet, com o apoio dos profissionais relacionados com a saúde mental, poderá ser uma mais valia, contribuindo para uma melhor compreensão da DII. Friedli et al. (2014), estudo 2, referem que, pelas características da doença, as pessoas com DII são particularmente suscetíveis a transtornos de ordem psicológica. O sofrimento psicológico aparentou encurtar o tempo até um evento de recorrência clínica, resultando em exacerbações/complicações. Salientam o potencial benefício da identificação precoce da pessoa com sofrimento psicológico. A utilização de ferramentas de rastreio que avaliam os potenciais indicadores de doença, pesquisando fatores de risco (sintomáticos ou não), permitem ao enfermeiro detetar objetivamente fatores de risco para alterações psicológicas. Desta forma, é possível uma maior comunicação e articulação com as várias equipas disciplinares, a fim de decidir sobre um possível encaminhamento da pessoa para cuidados especializados de saúde mental. Os resultados obtidos pelos investigadores demonstraram a eficácia destes instrumentos, proporcionando uma compreensão da problemática e facilitando, consequentemente, ao enfermeiro o diagnóstico e encaminhamento da pessoa. No estudo 3, Atherton et al. (2015) desenvolveram um programa de intervenção psicoterapêutica em grupo baseada no mindfulness. Os scores de depressão no grupo MBCT melhoraram a longo prazo, comparados ao GC. Além disso, a terapia teve efeito significativo na ansiedade-traço (embora sem efeito significativo na ansiedade-estado). A longo prazo, considerando a DII é uma condição cronica com sintomas angustiantes, o potencial da MBCT em ajudar a pessoa a responder a situações quotidianas poder ser relevante, produzindo efeitos psicoterapêuticos e promovendo a qualidade de vida das pessoas com DII. 33


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O estudo evidenciou a necessidade de uma equipa de saúde multidisciplinar especializada, para obter suporte emocional e psicológico, discutindo e partilhando estratégias facilitadoras para viver com a doença, com especial enfoque nos momentos do diagnóstico e recidivas. O estudo 3 salientou a importância de estabelecer um relacionamento de respeito, confiança e empatia, é, sendo um fator facilitador para que a equipa multidisciplinar e a pessoa com DII consigam trabalhar em cooperação, atendendo às suas necessidades. Esta relação é fundamental para a formação de uma parceria de cuidados e, por sua vez, a tomada de decisão em conjunto não só otimiza as decisões, como combina as preferências individuais de cada pessoa, conferindo satisfação, adesão e qualidade aos cuidados de saúde. CONCLUSÃO A exploração da evidência permitiu, nesta RIL, expor respostas à questão de investigação formulada “Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?”, assim como aos objetivos formulados. A DII origina necessidades para a pessoa ao longo da sua vida, nos períodos de agudização e na fase de remissão. Destaque para a necessidade de informação/conhecimento, sendo a iliteracia um fator indutor de stress e sofrimento psicológico, passível de desencadear transtornos psicológicos. O aumento da literacia relacionada com a doença e as estratégias de coping produzem efeitos psicoterapêuticos. As estratégias focadas no problema (DII) têm maior eficácia, aumentando o bem-estar/qualidade de vida da pessoa. As fontes de informação em saúde, no meio eletrónico, têm a potencialidade de aumentar a literacia das pessoas, providenciando ferramentas que as ajudam a tomar decisões, bem como oportunidades de gestão pessoal do estado de saúde. Os estudos revelam a necessidade de uma equipa especializada de saúde para obter apoio emocional e psicológico, discutindo e partilhando estratégias facilitadoras para viver com a doença, que tenha especial enfoque nos momentos do diagnóstico e recidiva. A utilização de instrumentos de avaliação simples e intuitivos para a prática de Enfermagem, permitem o entendimento básico da temática e a identificação/compreensão objetiva das necessidades da pessoa, detetando fatores de risco para alterações psicológicas. Estes instrumentos potenciam melhorias na atuação interdisciplinar e decisão sobre um possível encaminhamento da pessoa para cuidados mais especializados em Saúde Mental. Assim, a prevenção e deteção precoce de sofrimento psicológico, permite ganhos em saúde para a pessoa/família, pela otimização de custos associados aos cuidados de saúde. Em complementaridade às terapêuticas ‘convencionais’, existem terapias focadas no controlo de fatores indutores de stress e sofrimento psicológico da pessoa. A MBCT revelou ganhos para a pessoa, nomeadamente a longo prazo, produzindo efeitos psicoterapêuticos e melhoria da gestão dos sintomas e da qualidade de vida. 34


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IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A evidência confirma a importância dada pela pessoa/família ao respeito, empatia e confiança na relação com o enfermeiro/profissional de saúde, com efeitos positivos para a sua saúde. Deve-se proporcionada uma avaliação clínica global, respeitando sempre a individualidade da pessoa, tal como preconiza o modelo biopsicossocial, fornecendo cuidados de enfermagem de qualidade, centrados na pessoa/família. Através da prática baseada na evidência, avaliação e raciocínio clínico, o enfermeiro deverá ponderar o encaminhamento da pessoa para cuidados especializados, no sentido de maximizar ganhos em saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Atherton, I., Schoultz, M., & Watson, A. (2015). Mindfulness-based cognitive therapy for inflammatory bowel disease patients: Findings from an exploratory pilot randomised controlled trial. Trials, 16(1), 1–14. https://doi.org/10.1186/s13063-015-0909-5 Borjeson, S., Frisman, G. H., Hjelm, K., Hjortswang, H., & Lesnovska, K. P. (2017). Health care as perceived by persons with inflammatory bowel disease – a focus group study. 3677– 3687. https://doi.org/10.1111/jocn.13740 Burkhalter, H., Birgit, S., & Lorenz, S. (2015). Assessment of Inflammatory Bowel Disease Patient’

s

Needs

and

Problems

from

a

Nursing

Perspective.

3,

128–141.

https://doi.org/10.1159/000371654 Cotter, J. (2016). Doença inflamatória intestinal – realidade atual. Jornal Médico.pt, 40–46. Dudley-Brown, S., Kerwin, L., Moradkhani, A., & Tabibian, J. (2011). Disease-Specific Knowledge, Coping, and Adherence in Patients with Inflammatory Bowel Disease. 2972–2977. https://doi.org/10.1007/s10620-011-1714-y Friedli, K., Johnson, M., Price, T., Swart, N., & Wood, G. (2014). Early identification of patients with psychological distress: the role of inflammatory bowel disease nurses. Gastrointestinal Nursing, 12(1), 36–43. https://doi.org/10.12968/gasn.2014.12.1.36 Larsson, K., Loof, L., & Nordin, K. (2016). Stress, coping and support needs of patients with ulcerative

colitis

or

Crohn’s

disease:

a

qualitative

descriptive

study.

648–657.

https://doi.org/10.1111/jocn.13581 Mikocka-Walus, A., Pittet, V., Rossel, J. B., & von Känel, R. (2016). Symptoms of Depression and Anxiety Are Independently Associated with Clinical Recurrence of Inflammatory Bowel Disease.

Clinical

Gastroenterology

and

Hepatology,

14(6),

829–835.e1.

https://doi.org/10.1016/j.cgh.2015.12.045

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Projeto INcluir - um desafio em Saúde Mental Carla Ferreira*, Ana Castelo** Ricardo São João***, Teresa Coelho****, Nuno Fernandes***** & Teresa Massano****** * Mestre e Especialista em Enfermagem de Saúde Mental, Enfermeira Especialista no Hospital Distrital de Santarém, Avenida Grupo de Forcados Amadores de Santarém, nº12 2º Dt, Santarém. E-mail: carla.ferreira@hds.min-saude.pt ** Licenciatura em Psicologia, Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e com Especialidade Avançada em Psicologia da Justiça, Hospital Distrital de Santarém. E-mail: ana.castelo@hds.min-saude.pt *** Doutor em Ciências da Vida na especialidade de Saúde das Populações/Bioestatística, Professor Adjunto, Escola Superior de Gestão e Tecnologia-Instituto Politécnico de Santarém & CEAUL-Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa, E-mail: ricardo.sjoao@esg.ipsantarem.pt **** Doutora em Ciências de Enfermagem; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Professora Adjunta, Escola Superior de Saúde de Santarém- Instituto Politécnico de Santarém. E-mail: teresa.coelho@essaude.ipsantarem.pt *****Mestrado em Medicina; Interno Formação Especifica de Psiquiatria; Médico Psiquiatra no Hospital Distrital de Santarém, Santarém. E-mail: nuno.fernandes@hds.min-saude.pt ******Mestrado e Especialista em Enfermagem de Saúde Mental, Enfermeira Chefe no Hospital Distrital de Santarém, Santarém. E-mail: teresa.massano@hds.min-saude.pt RESUMO CONTEXTO: No ano de 2017 foi implementado o Projeto INcluir “Oficinas para todos e para cada um” no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Distrital de Santarém com o objetivo de reabilitação da pessoa com doença mental e sua inclusão social. O Projeto, alicerçado na criação de “oficinas artísticas”, potencia a criação de um ambiente de criatividade, partilha, crescimento pessoal, mediado pela Arte, através da aquisição de um conjunto de competências técnicas de Pintura, Escultura e Desenho. Indivíduos com Doença Mental são frequentemente confrontados com estigma e preconceito e sujeitos à exclusão social. Reconhece-se que a participação artística de pessoas com doença mental pode oferecer uma série de benefícios terapêuticos e facilitar o processo de recuperação através

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da inclusão na comunidade com a redução do estigma. O Projeto contou com o financiamento da Fundação EDP-Inclusão Social 2016. OBJETIVO(S): Avaliar o impacto do projeto INcluir no estigma e na autoestima das pessoas com Doença Mental. MÉTODOS: Aplicação da escala de autoestima de Rosenberg e da escala de classificação de estigma AQ-9 proposta por Corrigan nos participantes das oficinas. RESULTADOS: Melhoria a nível da autoestima após a participação nas oficinas artísticas nos dez itens que integram a escala de Rosemberg, relacionadas com desempenho e satisfação consigo próprio. O grupo que frequentou as oficinas obteve uma melhoria de 66% na avaliação do Estigma da doença mental. CONCLUSÕES: A participação no Projeto INcluir, contribuiu positivamente para a redução do estigma da doença mental e para o aumento da autoestima. Palavras-Chave: INcluir; Doença Mental; Autoestima; Estigma. ABSTRACT BACKGROUND: In 2017, the INcluir Project "Workshops for everyone" was implemented in the Department of Psychiatry and Mental Health of the Santarém District Hospital with the objective of rehabilitating the mentally ill and their social inclusion. The Project, based on the creation of "artistic workshops", enhances the creation of an environment of creativity, sharing, personal growth, mediated by Art, through the acquisition of a set of technical skills in Painting, Sculpture and Drawing. Individuals with Mental Illness are often confronted with stigma and prejudice and subject to social exclusion. It is recognized that artistic participation by people with Mental Illness can offer a range of therapeutic benefits and facilitate the recovery process through community inclusion with the reduction of stigma. The Project was funded by the EDP Foundation- Social Inclusion 2016. AIM: Evaluate the impact of the INcluir project on the stigma and self-esteem of people with Mental Illness. METHODS: Application of Rosenberg's self-esteem scale and the AQ-9 stigma rating scale proposed by Corrigan to workshop participants. RESULTS: Improvement in self-esteem after participating in the artistic workshops in the ten items that make up the Rosemberg scale, related to performance and satisfaction with oneself. The group that attended the workshops achieved a 66% improvement in the assessment of the Stigma of Mental Illness. CONCLUSIONS: Participation in the INcluir Project has contributed positively to reducing the stigma of mental illness and increasing self-esteem. Keywords: INcluir; Mental Illness; Self-esteem; Stigma. RESUMEN CONTEXTO: En 2017, se implementó el Proyecto INcluir "Talleres para todos" en el Departamento de Psiquiatría y Salud Mental del Hospital Distrital de Santarém con el objetivo

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de rehabilitar a los enfermos mentales y su inclusión social. El proyecto, basado en la creación de "talleres artísticos", favorece la creación de un ambiente de creatividad, de compartir, de crecimiento personal, mediado por el Arte, a través de la adquisición de un conjunto de competencias técnicas en Pintura, Escultura y Dibujo. Los individuos con enfermedades mentales se enfrentan a menudo al estigma y a los prejuicios y están sujetos a la exclusión social. Se reconoce que la participación artística de las personas con enfermedades mentales puede ofrecer una serie de beneficios terapéuticos y facilitar el proceso de recuperación a través de la inclusión en la comunidad con la reducción del estigma. El proyecto fue financiado por la Fundación EDP - Inclusión Social 2016. OBJETIVO(S): Evaluar el impacto del proyecto INcluir en el estigma y la autoestima de las personas con Enfermedad Mental. METODOLOGÍA: Aplicación de la escala de autoestima de Rosenberg y de la escala de clasificación de estigma AQ-9 propuesta por Corrigan a los participantes del taller. RESULTADOS: Mejora de la autoestima después de participar en los talleres artísticos en los diez ítems que componen la escala de Rosemberg, relacionados con la actuación y la satisfacción con uno mismo. El grupo que asistió a los talleres logró una mejora del 66% en la evaluación del estigma de la enfermedad mental. CONCLUSIONES: La participación en el Proyecto INcluir ha contribuido positivamente a reducir el estigma de la enfermedad mental y a aumentar la autoestima. Palabras Clave: INcluir; Enfermedad mental; Autoestima; Estigma. INTRODUÇÃO Portugal é o país da Europa com maior prevalência de doença mental na população adulta: em 2016, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença mental (DGS, 2018). O Plano Nacional para a Saúde Mental definiu como prioridade “reduzir o impacto das perturbações mentais e contribuir para a promoção da saúde mental das populações”, através de ações/medidas de reabilitação, apoio ao emprego e à promoção da saúde mental nos locais de trabalho. Para operacionalizar este objetivo, preconiza promover a descentralização dos serviços de saúde mental, de modo a permitir a prestação de cuidados mais próximos das pessoas e facilitar uma maior participação das comunidades, dos utentes e das famílias. Para tal é necessária a diferenciação de grupos alvo específicos dentro da população com problemas de saúde mental, de forma a contribuir efetivamente para a prestação de cuidados de saúde mental de qualidade. Estes grupos são as pessoas com DM em acompanhamento psiquiátrico e que frequentam as unidades sócio ocupacionais ou em hospitais de dia de Psiquiatria de Adultos, no âmbito da reabilitação psicossocial através da Arte. O Diagnóstico Social no Município de Santarém (CLASS, 2013) identifica a saúde mental como um dos eixos no qual é necessário atuar, facto igualmente corroborado no Relatório Saúde Mental na Lezíria e Médio Tejo (Rede Social, 2015) que ainda aponta a escassez de 38


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soluções de inclusão para essa patologia. Neste Diagnóstico são reconhecidos diversos problemas na área da saúde mental: falta de uma intervenção integrada (indivíduo, família e comunidade), falta de respostas para a reabilitação de adultos e de jovens, estigmatização e dificuldades de inserção social, laboral e escolar. O mesmo diagnóstico faz referência à falta de respostas institucionais na região, concretamente nas regiões da Lezíria e Médio Tejo e face ao crescente número de casos de diagnóstico de doença mental nos diversos serviços tornando-se um problema cada vez mais discutido nos diversos contextos de organização social do território. O Projeto de “OficINas artísticas”, em colaboração com parceiros locais, proporciona um ambiente de criatividade, partilha e desenvolvimento pessoal, mediado pela arte, através da aquisição de um conjunto de competências técnicas de pintura, escultura e desenho, e simultaneamente,

de

competências

relacionais

com

a

consequente

aceitação

e

reconhecimento pela comunidade do valor de cada pessoa com doença mental. Trata-se de um Projeto com impacto na vida dos participantes e de todos os envolvidos, comprovado com um estudo de investigação desenvolvido, em parceria com o Instituto Politécnico de Santarém. Ainda no âmbito deste Projeto, foi concebido o livro intitulado “INcluir – 26 histórias de banda desenhada”, com histórias de vida elaboradas pelos participantes. As Oficinas são dinamizadas por um professor de artes, num espaço na comunidade cedido pela Câmara Municipal de Santarém e monitorizadas por um técnico do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Distrital de Santarém. MÉTODOS No presente estudo – experimental, participaram todas as pessoas que frequentaram as oficinas INcluir. Os participantes, com idades superiores a 18 anos, do sexo feminino e masculino, frequentaram as oficinas INcluir durante um semestre, com uma frequência semanal de duas sessões de 120 minutos cada. Estiveram envolvidas 15 pessoas, por grupo/semestre. O estudo refere-se a um ano de desenvolvimento do projeto, com a participação de 30 pessoas. O primeiro grupo decorreu de dezembro de 2016 a maio de 2017 e o segundo grupo de junho a novembro de 2017. Aos participantes das oficinas foi realizada: a. 1ª Avaliação – Antes do início das oficinas com base nos seguintes instrumentos: Questionário sócio-demográfico | Escala de Auto-estima de Rosenberg (Rosenberg, 1965), versão portuguesa, traduzida e adaptada por Santos e Maia (2003) |Questionário do Estigma da Doença Mental AQ-9 (traduzido por Oliveira & Azevedo, 2014), versão reduzida do Questionário de Atribuição – AQ-27 (Corrigan, 2012). b. 2ª Avaliação – Após 6 meses de participação nas oficinas, tendo como suporte os mesmos instrumentos. 39


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A análise dos dados obtidos foi efetuada com recurso ao software estatístico R (R Core Team, 2018). Antes da aplicação das escalas, solicitou-se a colaboração dos participantes de forma oral e por escrito, com informação prévia relativamente ao estudo e respetivo objetivo, garantia de confidencialidade e anonimato e ainda da possibilidade de desistência a qualquer momento do desenvolvimento do projeto, assim como da inexistência de respostas corretas ou incorretas. O protocolo do projeto foi submetido para avaliação e foi autorizado pela Comissão de Ética do Hospital Distrital de Santarém. RESULTADOS No gráfico 1 são apresentados os resultados no que diz respeito aos valores médios das respostas obtidas, para o grupo de participantes nas oficinas, em cada item da escala de Rosenberg. Verifica-se que todos os aspetos avaliados apresentam valores mais elevados depois da participação nas oficinas Incluir. Salienta-se ainda que as melhorias mais evidentes entre a primeira e a segunda avaliação estão relacionadas com o desempenho e satisfação consigo próprio [PP1-Globalmente estou satisfeito(a) comigo próprio(a): 2,13 vs 1,87; PP4Sou capaz de fazer as coisas tão bem como a maioria das pessoas: 2,2 vs 1,73; PN5-Sinto que não tenho muito de que me orgulhar: 1,93 vs 1,53; PN6-Por vezes sinto-me, de facto, um(a) inútil: 1,87 vs 1,47 e PN8-Gostaria de ter mais respeito por mim próprio(a):1,6 vs 1,2].

Gráfico 1- Resultados da aplicação da escala Rosenberg Auto-estima aos Participantes nas Oficinas INcluir - 1ª e 2ª Avaliação Relativamente às respostas obtidas no AQ-9 verificou-se melhorias estatisticamente significativas em 8 dos 9 domínios avaliados no que diz respeito ao estigma na doença mental no grupo que frequentou as oficinas (quadro 1). Constatou-se ainda uma melhoria de 66% na avaliação do Estigma na doença mental.

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Quadro 1- Resultados da aplicação da escala AQ-9 aos Participantes nas Oficinas INcluir 1ª e 2ª Avaliação

Para além dos resultados obtidos com a aplicação das referidas escalas salienta-se que ao longo de 1 ano de implementação do projeto, foi possível: a redução de 60% dos reinternamentos; a realização de 96 OficINas artísticas INDOOR; a realização de 10 OficINas artísticas OUTDOOR; a realização de 4 exposições em espaços públicos e galerias de arte; a criação de 95 obras de arte; a criação de 1 escultura “TINtas”, evidenciando-se o envolvimento e abertura à comunidade, e a realização das primeiras Jornadas de Saúde Mental “Arte & Inclusão” com o apoio da Direção Geral da Saúde. DISCUSSÃO A relação entre a arte, aqui retratada pelas oficinas artísticas, e a saúde mental não é recente, encontram-se relatos do século XIX onde estes dois campos coexistiam, sendo a arte mobilizada como recurso terapêutica. Os resultados aferidos no estudo, surgem no âmbito do desenvolvimento de oficinas artísticas em que, como referem Moro e Guazina (2016) e Palma, Barriga, Cruz & Gama (2017), a arte é utilizada como possibilidade e recurso terapêutico no âmbito do cuidado à pessoa com doença mental. As oficinas artísticas foram desenvolvidas em grupo, por acreditarmos que as atividades grupais proporcionam a cada participante a elevação da autoestima (Nunes, Montibeller, Oliveira, Arrabaca, Theiss, 2013), o que se reflete no facto de que tanto no primeiro como no segundo grupo houve globalmente melhorias no nível de autoestima após a frequência das oficinas. Adicionalmente, maiores níveis de literacia bem como o contacto com a doença mental têm um impacto positivo na redução do estigma para com o doente mental corroborando o estudo de Corrigan et al. (2012). 41


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CONCLUSÃO O Projeto INcluir, com a implementação das oficinas artísticas em grupo, potencia as competências pessoais, relacionais e artísticas dos participantes, manifestando-se no aumento da sua autoestima e redução do estigma da doença mental, o que ilustra bem a importância da utilização da arte na sua dimensão terapêutica. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O projeto INcluir é um desafio nos cuidados em Saúde Mental, promotor de melhoria nos níveis de autoestima e do combate ao estigma e exclusão social da pessoa com doença mental. A aposta na arte como ferramenta terapêutica no processo de reabilitação psicossocial da pessoa com doença mental, deverá ser parte integrante na implementação de estratégias do Plano Ilustração 1- Autoria do artista João Maria Ferreira

Nacional de Saúde Mental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLASS (2013). Diagnóstico Social do Concelho de Santarém 2014/2017, Conselho Local de Acção Social de Santarém. Consultado em 19 abril de 2017. Disponível em http://www.cmsantarem.pt/images/santarem/pdf/DiagnosticoSocial2014_2017.pdf Corrigan, P. (2012). A toolkit for evaluating programs meant to erase the stigma of mental illness. Illinois Institute ofTechnology. Moro, L; Guazina, F. (2016). Arte e Experiência: Relações da arte no contexto de Saúde Mental. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, v. 8, n. 18. Nunes, M; Montibeller, C.; Oliveira, K.; Arrabaca, R.; Theiss, S. (2013). Autoestima e saúde mental: Relato de experiência de um projeto de extensão. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 31, n. 73, p. 283-289, abr./jun. Palma, V; Barriga, L; Cruz, S & Gama; P. (2017). Modelando a Sintomatologia Psicótica: A arte como recurso terapêutico. Psicologia, Saúde & Doenças, 18 (1), 19-28. R Core Team (2018). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. URL http://www.R-project.org/ Rede Social (2015). Saúde Mental - Avaliação Setembro de 2015, Plataformas Supra Concelhias da Lezíria e do Médio Tejo. Consultado em 20 abril de 2017. Disponível em http://www.app.com.pt/wpcontent/uploads/2016/04/Santarém_Relatório-Saúde-Mental-LT-eMT-v.-15-set-2015.pdf Rosenberg, M. (1965). Society and the adolescent self-image. Princeton: Princeton University Press.

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Santos, P. & Maia, J. (2003). Análise factorial confirmatória e validação preliminar de uma versão portuguesa da escala de auto-estima de rosenberg. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, 2, 253-268. Sousa, S., Queirós, C., Marques, A., Rocha, N., & Fernandes, A. (2008). Versão preliminar portuguesa do Attribution Questionnaire (AQ-27). Porto, Portugal: Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto/ESTSP-IPP.

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A eficácia das terapias de relaxamento na redução da ansiedade: revisão da literatura Alexandra Leitão*, Diana Cerqueira**, Sara Barbosa***, Tatiana Rocha****, Luís Sá*****, & Rosa Silva ****** *Aluna da Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto, 226196242; Enfermeira; Hospital de Magalhães Lemos, EPE, Rua Professor Álvaro Rodrigues 4149-003 Porto, Portugal, 226192400. E-mail: alexandraleitao@hmlemos.min-saude.pt **Aluna da Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto; Enfermeira; Centro Hospitalar Universitário de São João, Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 4200-319 Porto, Portugal, 225512100. E-mail: diana.cerqueira@chsj.min-saude.pt ***Aluna da Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto; Enfermeira; Hospital de Magalhães Lemos, EPE, Rua Professor Álvaro Rodrigues 4149-003 Porto, Portugal. E-mail: sarabarbosa@hmlemos.min-saude.pt ****Aluna da Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto; Enfermeira; Hospital de Magalhães Lemos, EPE, Rua Professor Álvaro Rodrigues 4149-003 Porto, Portugal. E-mail: tatianarocha@hmlemos.min-saude.pt *****Doutor em Ciências de Enfermagem; Professor Auxiliar e Investigador integrado no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde da Universidade Católica Portuguesa, Rua de Diogo Botelho 1327, 4169-005 Porto, Portugal. E-mail: lsa@porto.ucp.pt ******Mestre em Enfermagem; Professora Assistente da Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde, Rua de Diogo Botelho 1327, 4169-005 Porto e Investigadora integrada na UICISA: E - Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem ESEnfC, Coimbra, Portugal. E-mail: rcgsilva@porto.ucp.pt

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RESUMO CONTEXTO: As perturbações de ansiedade estão entre as perturbações mentais mais comuns e caracterizam-se por uma resposta de ansiedade exagerada e não adaptativa a algum estímulo, o que implica considerar a implementação de intervenções psicoterapêuticas, onde se incluem as técnicas de relaxamento. OBJETIVO: Avaliar a eficácia das terapias de relaxamento na redução da ansiedade, através de uma revisão da literatura. MÉTODOS: Revisão integrativa da literatura, através da pesquisa em bases de dados eletrónicas, com o recurso ao motor de busca EBSCOhost (CINAHL; MEDLINE; MedicLatina), utilizando como descritores: anxiety disorders, relaxation therapy, nursing. A pesquisa incluiu publicações entre 2013 e 2019. RESULTADOS: Inicialmente foi obtido um total de 49 produções científicas que, após a análise segundo os critérios de inclusão, ficou resumido a um conjunto de cinco artigos. A análise da evidência científica obtida mostra que, após a exposição a terapias de relaxamento, o nível de ansiedade diminui. Independentemente da técnica, o relaxamento pode ser usado como forma de tratamento não farmacológico para reduzir a gravidade dos sintomas em pessoas com perturbação de ansiedade, depressão e fobia. Perante a ausência de eficácia da farmacoterapia no autocontrolo da ansiedade, a combinação com esta intervenção psicoterapêutica apresenta ganhos significativos. CONCLUSÕES: Podemos concluir que a implementação de diversas terapias de relaxamento tem a capacidade de melhorar significativamente os níveis de ansiedade, sendo que este efeito é potenciado através da contínua exposição à intervenção. Palavras-Chave: perturbação de ansiedade; terapia de relaxamento; enfermagem. ABSTRACT BACKGROUND: Anxiety disorders are among the most common disorders and are characterized by an exaggerated and non-adaptive anxiety response to some stimulus, which implies a greater attention to the need for relaxation therapies. AIM: To assess the effectiveness of relaxation therapies in the reduction of anxiety through a literature review. METHODS: Integrative literature review through EBSCOhost (CINAHL; MEDLINE; MedicLatina), using as descriptors: anxiety disorders; relaxation therapy; nursing. The research included publications between 2013 and 2019. RESULTS: A total of 49 scientific papers were obtained which after analysis according to the inclusion criteria, was summarized to a set of five articles. Analysis of the scientific evidence obtained shows that after exposure to relaxation therapies the anxiety level decreases. Regardless of the technique, relaxation can be used as a non-pharmacological treatment to reduce the severity of symptoms in people with anxiety, depression and phobia disorders. Given the lack of efficacy of pharmacotherapy in self-control of anxiety, the combination with this nursing psychotherapeutic intervention has significant gains. CONCLUSIONS: We can conclude that the practice of several relaxation 45


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therapies has the capacity to significantly improve anxiety levels, making it even more enhancer in its continued practice. Keywords: anxiety disorders; relaxation therapy; nursing RESUMEN CONTEXTO: Los disturbios de ansiedad están entre las perturbaciones mentales más comunes y se caracterizan por una respuesta ansiosa excesiva y inadaptada a cualquier estimulo, el que implica considerar la implementación de intervenciones psicoterapéuticas, donde se incluyen las técnicas de relajación. OBJETIVO: Evaluar la eficacia de las terapias de relajación en la reducción de la ansiedad, a través de revisión literaria. METODOLOGÍA: Revisión integradora en las bases de datos de salud EBSCOhost (CINAHL; MEDLINE; MedicLatina), utilizando como descriptores: disturbios de ansiedad, terapia de relajación y enfermería. La busque da incluyó estudios publicados entre 2013 y 2019. RESULTADOS: Inicialmente, se obtuvieron 49 producciones científicas. Del análisis, basado en los criterios, extrajimos cinco artículos científicos. El análisis de la evidencia científica obtenida muestra que después de la exposición a terapias de relajación el nivel de ansiedad disminuye. Independientemente de la técnica, la relajación se puede utilizar como una forma de tratamiento no farmacológico para reducir la gravedad de los síntomas en personas con trastornos de ansiedad, depresión y fobia. Dada la falta de eficacia de la farmacoterapia en el autocontrol de la ansiedad, la combinación con esta intervención de enfermería psicoterapéutica presenta ganancias significativas. CONCLUSIONES: Se puede concluir que las más variadas terapias de relajación influyen positivamente en la reducción de los niveles de ansiedad. Su efecto es logrado por la práctica continuada. Palabras Clave: disturbio de ansiedad; terapia de relajación; enfermería INTRODUÇÃO Segundo dados do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, as perturbações psiquiátricas afetam mais de um quinto da população portuguesa e as taxas de prevalência são das mais elevadas a nível europeu (Almeida e Xavier, 2013). Entre as perturbações psiquiátricas, as perturbações de ansiedade são as que apresentam maior prevalência (16,5%). É consensual que as doenças mentais representam uma das principais causas de morbilidade e incapacidade nas sociedades atuais, daí a importância de abordar esses problemas de saúde com a atenção exigida (Almeida e Xavier, 2013). De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5), muitas das perturbações de ansiedade desenvolvem-se na infância e tendem a persistir se não forem tratadas, o que se tem verificado no aumento das taxas de prevalência ao longo do tempo. Esta classificação descreve a ansiedade como a antecipação de ameaça futura, sendo 46


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frequentemente associada a tensão muscular, a um estado de vigilância perante um perigo futuro, assim como a comportamentos de evitamento. Caracteriza-se ainda por uma preocupação persistente e excessiva em domínios pessoais e profissionais, que a pessoa apresenta dificuldade em controlar (American Psychiatric Association [APA], 2014). A ansiedade é assim descrita como um estado emocional aversivo sem fatores precipitantes bem definidos, sendo uma mistura de emoções que pode variar ao longo do tempo e/ou de acordo com estes mesmos fatores precipitantes, que obviamente não podem ser evitados pelas pessoas (Coelho, 2014). As perturbações de ansiedade surgem quando o seu nível se eleva e permanece para além daquele que é essencial para a ação e reação normal do indivíduo perante determinada situação, vivência diária e interação com o meio envolvente. A ansiedade manifesta-se de forma variável, mas quando em níveis patológicos está associada a um conjunto de respostas humanas incapacitantes, tais como alterações do padrão do sono e do apetite, dificuldades de concentração, inquietação e sintomas físicos como o aumento da frequência cardíaca (APA, 2014; Coelho, 2014). Portanto, quando estes sintomas permanecem, excluindo os casos orgânicos ou induzidos por substâncias, poderá enquadrarse numa perturbação de ansiedade, interferindo frequentemente na funcionalidade normal do indivíduo (APA, 2014; Coelho, 2014). A abordagem terapêutica da ansiedade inclui a terapia farmacológica, mais comumente com benzodiazepinas e antidepressivos. Paralelamente, as terapias não farmacológicas como a terapia de relaxamento poderá ser uma intervenção psicoterapêutica eficaz e útil que os enfermeiros podem aplicar a doentes com perturbações da ansiedade (Kim & Kim, 2018). As técnicas de relaxamento são intervenções passíveis de serem bem-sucedidas, podendo ser facilmente mobilizadas sem grande preparação prévia, uma vez que são de fácil aprendizagem (Klainin-Yobas, Oo, & Yew, 2015; Payne, 2003). A Ordem dos Enfermeiros [OE] (2015, p.17040) define o relaxamento como “um método, processo, procedimento ou atividade que ajuda a pessoa a relaxar, para atingir um estado de calma aumentado; ou reduzir os níveis de stresse, ansiedade ou raiva”; neste sentido, entende-se que a terapia de relaxamento pode envolver intervenções como: relaxamento físico, imaginação guiada, meditação, massagens, entre outras (Payne, 2003). O relaxamento refere-se ao sentimento de paz e conforto com a ausência de tensão no corpo e na mente (Klainin-Yobas et al., 2015). Um estado de relaxamento é muitas vezes acompanhado por uma reduzida estimulação neurológica e um incremento de emoções positivas como sentir-se mentalmente relaxado, calmo, alegre, otimista, com energia, agradecido e revigorado (KlaininYobas et al., 2015). Tal estado é explicado pelo facto do relaxamento implicar uma resposta hipotalâmica, havendo depressão generalizada do sistema nervoso simpático (Coelho, 2014; Kim & Kim, 2018).

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Apesar dos fármacos serem eficazes enquanto tratamento sintomático, o seu uso deve ser limitado devido aos efeitos adversos. Neste sentido, é importante disponibilizar outras formas de tratamento, como as intervenções não farmacológicas, que ajudem e capacitem as pessoas a controlarem os seus sentimentos. Esta revisão da literatura tem como objetivo conhecer o nível de evidência sobre as terapias de relaxamento, mais concretamente pretende-se avaliar a eficácia das terapias de relaxamento na diminuição da ansiedade. MÉTODOS O método utilizado foi a revisão integrativa da literatura, de acordo com as fases apresentadas por Souza, Silva e Carvalho (2010), com o objetivo de responder à questão de investigação: “Qual a eficácia das terapias de relaxamento na redução da ansiedade?”. Os descritores utilizados foram “anxiety disorders”, “relaxation therapy” e “nursing”, sendo a pesquisa realizada durante o mês de março de 2019 na EBSCOhost (CINAHL Plus with Full Text; MEDLINE with Full Text e MedicLatina), com a seguinte combinação booleana: (“anxiety disorders” [MeSH Terms] [All Fields]) AND (“relaxation therapy” [MeSH Terms] [All Fields]) AND (“nursing” [MeSH Terms] [All Fields]). De seguida, para a seleção dos artigos utilizaram-se como critérios de inclusão: i) a data de publicação entre janeiro de 2013 e março de 2019; ii) idioma em inglês e o acesso livre ao texto integral; iii) estudos cujo terapeuta fosse enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental, cuja amostra dos artigos fossem pessoas diagnosticadas com ansiedade, independentemente do sexo ou idade; iv) e que estudasse a eficácia da terapia de relaxamento em ambiente hospitalar ou comunitário. RESULTADOS No total foram identificados 49 artigos, sendo que os duplicados foram automaticamente eliminados através da plataforma EBSCOhost. Após a leitura do título, excluíram-se 39 artigos e, dos restantes, foram removidos três após leitura do resumo. Dos sete artigos selecionados, dois foram eliminados após leitura integral do texto, pelo que foram considerados cinco artigos nesta revisão. A amostra final dos estudos selecionados para a revisão é diversificada no que concerne ao desenho dos mesmos e aos métodos utilizados: dos cinco artigos analisados, incluem-se duas revisões integrativas da literatura, dois estudos randomizados controlados e um estudo quantitativo quasi-experimental, desenvolvidos em diferentes países. Apesar desta diversidade, todos os trabalhos de investigação analisados são consensuais quanto ao benefício das terapias de relaxamento no controlo da ansiedade.

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Para organizar os dados recolhidos criou-se uma tabela de evidências com os itens a extrair de cada estudo, que foi preenchida durante a análise dos artigos selecionados. A tabela 1 corresponde à tabela de evidências. Tabela 1 – Síntese das evidências Autores, Ano

Origem

Objetivos

Metodologia

Avaliar a eficácia das intervenções de enfermagem em grupo, em mulheres com o diagnóstico de enfermagem ansiedade, mediante o resultado NOC autocontrolo da ansiedade. Avaliar a eficácia na redução de ansiedade através de exercícios de relaxamento respiratório diafragmático.

Desenho do estudo: Estudo quantitativo quasi-experimental. Amostra: Grupo de 12 mulheres adultas com o diagnóstico de enfermagem ansiedade. Instrumentos: Nursing Outcomes Classification (NOC).

Pastor, Tomás, & García (2017)

Espanha

Chen, Huang, Chien, & Cheng (2017)

China

Kim & Kim (2018)

República da Coreia

Determinar a eficácia da terapia de relaxamento aplicada a pessoas com distúrbios de ansiedade.

KlaininYobas et al. (2015)

Singapura

Analisar a evidência empírica dos efeitos das intervenções de relaxamento na ansiedade e depressão nos idosos.

Sampaio et al. (2018)

Portugal

Avaliar a eficácia a curto prazo da intervenção psicoterapêutica de enfermagem em doentes psiquiátricos adultos portugueses com o diagnóstico de enfermagem ansiedade.

Desenho do estudo: Estudo randomizado controlado. Amostra: 46 participantes divididos pelo grupo experimental e grupo de controlo. Instrumentos: Inventário de Ansiedade de Beck; Testes de biofeedback. Desenho do estudo: Revisão sistemática da literatura com metaanálise. Amostra: 16 ensaios clínicos randomizados controlados. Desenho do estudo: Revisão sistemática da literatura com metaanálise. Amostra: 12 ensaios clínicos randomizados controlados e três ensaios clínicos não randomizados controlados. Desenho do estudo: Estudo randomizado controlado. Amostra: 60 participantes divididos pelo grupo experimental e pelo grupo de controlo. Instrumentos: Nursing Interventions Classification (NIC).

Resultados: eficácia das terapias de relaxamento na diminuição da ansiedade O estado, comportamento e perceção dos doentes melhoraram com as intervenções de enfermagem recebidas. A análise do resultado NOC autocontrolo da ansiedade mostrou diferenças significativas antes e após as intervenções, com melhoria da resposta dos doentes à ansiedade. Os resultados indicam que os participantes do grupo experimental apresentaram níveis de ansiedade significativamente menores do que os seus pares do grupo de controlo. A prática de exercícios de relaxamento respiratório diafragmático adquire um efeito potenciador aquando uma prática continuada. A terapia de relaxamento revelouse útil na redução de emoções negativas nas pessoas com distúrbios de ansiedade, pelo que existe evidência da eficácia desta intervenção. A terapia de relaxamento reduziu os sintomas de ansiedade e depressão nos idosos, sendo que a musicoterapia, o ioga e o relaxamento combinado foram as intervenções mais eficazes para a ansiedade. O efeito de algumas terapias de relaxamento permaneceu entre 14 e 24 semanas após as intervenções. O modelo de intervenção psicoterapêutica em enfermagem demonstrou ser eficaz a curto prazo na diminuição do nível de ansiedade e na melhoria do autocontrolo da ansiedade no grupo experimental.

49

T S e


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DISCUSSÃO A literatura sublinha os resultados de estudos sobre a eficácia de intervenções psicoterapêuticas, onde se inclui a terapia de relaxamento (Kim & Kim, 2018; Sampaio et al., 2018). A investigação conduzida por Chen et al. (2017) fornece orientação para a prestação de cuidados de qualidade e assistências às pessoas com sintomatologia ansiosa, com o objetivo de reduzir os níveis de ansiedade em ambientes clínicos e comunitários. Por sua vez, as guidelines do Instituto Nacional para a Saúde e Excelência dos Cuidados do Reino Unido reforçam o uso de intervenções psicoterapêuticas como tratamentos de primeira linha antes do tratamento farmacológico (Kim & Kim, 2018). Estas indicações são corroboradas por outro estudo que conclui que a terapia de relaxamento, independentemente da técnica, pode ser usada como uma forma de tratamento não farmacológico para reduzir a gravidade dos sintomas em pessoas com perturbações de ansiedade (Kim & Kim, 2018). Alguns investigadores consideram que a terapia de relaxamento pode ser feita através do relaxamento muscular progressivo, relaxamento aplicado, treino autogénico, mindfulness e meditação (Kim & Kim, 2018). Por sua vez, Klainin-Yobas et al. (2015) acrescentam a respiração abdominal, ioga, massagem e musicoterapia. No estudo de Pastor et al. (2017) os planos de cuidados usam, entre outras, as seguintes intervenções: estratégias de coping, controlo da respiração, tensão e relaxamento muscular. É importante reforçar que todas estas intervenções são estratégias eficazes para ajudar os doentes a controlar e melhorar os sintomas de ansiedade. Os resultados obtidos demonstram que a eficácia não é moderada pelo tipo de intervenção e que, quanto maior for o número de sessões, maior será o efeito, ainda que não seja estatisticamente significativo. A meta-análise elaborada por Kim & Kim (2018) fornece evidências de que a terapia de relaxamento reduz os sintomas de ansiedade, depressão, fobia ou preocupação em doentes com perturbações de ansiedade. Em

particular,

a

música

tem

impacto

nos

componentes

sensoriais,

cognitivos,

comportamentais e afetivos, atenuando a tensão psicológica e modificando o sentimento de ansiedade e depressão (Klainin-Yobas et al., 2015). Já o ioga consiste numa abordagem holística, incorporando mente, corpo e espírito, podendo ajudar a contrabalançar os efeitos negativos do envelhecimento, melhorar o funcionamento físico, adiar a incapacidade, diminuir a morbilidade e a mortalidade, estimular a mente e aumentar a esperança, reduzindo o risco de ansiedade e depressão (Klainin-Yobas et al., 2015). A nível muscular, o relaxamento progressivo tem um efeito tranquilizante, ajuda os participantes a abstraírem-se mentalmente do seu problema e diminui os pensamentos negativos, reduzindo os sintomas depressivos e ansiosos (Klainin-Yobas et al., 2015). A nível fisiológico, a redução da ansiedade foi também validada nos estudos incluídos nesta revisão. Segundo Chen et al. (2017), o relaxamento respiratório diafragmático ajuda a 50


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estabilizar a frequência cardíaca e respiratória, assim como a tensão arterial. Para além disso, aumenta a condutividade da pele, a concentração e o relaxamento. Na investigação conduzida por Pastor et al. (2017), antes das intervenções de enfermagem, a resposta dos doentes ao seu processo de ansiedade era pautada por: aumento da tensão arterial, dificuldades respiratórias, preocupação, insónia, irritabilidade, dificuldade de concentração e outras características definidoras da ansiedade. Após as intervenções, houve uma melhoria na resposta dos doentes à ansiedade, demonstrada através de um aumento nas pontuações dos critérios de resultados de enfermagem de autocontrolo da ansiedade (Pastor et al., 2017). A terapia de relaxamento incluída no plano de cuidados dos participantes potenciou a aquisição de um procedimento para aplicar quando necessário, com o objetivo de produzir uma reação oposta ao seu estado de ansiedade e, portanto, houve ganhos em saúde, quer por redução dos níveis de ansiedade, quer por melhoria das habilidades para enfrentar a ansiedade Pastor et al. (2017). Estes resultados vão ao encontro do estudo realizado por Sampaio et al. (2018) que apontam para a ausência de eficácia da farmacoterapia no autocontrolo da ansiedade, enquanto que a combinação da intervenção psicoterapêutica de enfermagem com psicofármacos apresenta ganhos significativos a esse nível. De acordo com Sampaio et al., (2018), muitos doentes com ansiedade apresentam frequentemente fracos mecanismos de gestão da situação, sendo que a inclusão de psicoterapia adjunta ao seu tratamento pode ser benéfica. Estes dados parecem ser particularmente relevantes, pois a capacidade de controlar a ansiedade pode ser útil na prevenção de recaídas, o que pode concorrer para melhores resultados a longo prazo. Como já foi referido, existem várias terapias indicadas para o tratamento da ansiedade, tais como a terapia cognitivo-comportamental. Contudo, alguns estudos demonstram que a terapia de relaxamento é mais eficaz na redução da ansiedade, quando comparada com a terapia cognitivo-comportamental (Kim & Kim, 2018). Apesar desta ser a mais estudada, nem todas as pessoas respondem de forma positiva e, nestes casos, a terapia de relaxamento é mais indicada (Kim & Kim, 2018). Outros autores fazem ainda referência aos exercícios de relaxamento respiratório diafragmático, demonstrando serem eficazes na redução da perceção e sintomas de ansiedade, pelo que este tipo de relaxamento oferece várias vantagens sobre as terapias (Chen et al., 2017), mostrando-se, por vezes, mais eficaz na diminuição da tensão muscular do que o tratamento farmacológico, no caso de doentes com perturbação de ansiedade generalizada (Kim & Kim, 2018). Tais resultados são comprovados por Sampaio et al. (2018) que concluíram que a combinação de intervenção psicoterapêutica e farmacoterapia revelou ganhos significativos na diminuição do nível de ansiedade, quando comparado apenas com a utilização de psicofármacos. Por último, um estudo refere que as terapias de relaxamento não têm de ser necessariamente aplicadas de forma individual, pelo que a intervenção em grupo tem apresentado, de igual 51


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forma, resultados positivos (Pastor et al., 2017). É importante salientar que a preferência dos participantes, os contextos organizacionais e a política de cuidados de saúde devem ser tidos em consideração aquando da utilização destas terapias (Klainin-Yobas et al., 2015). CONCLUSÃO As perturbações de ansiedade apresentam a maior taxa de prevalência dentro dos transtornos psiquiátricos, sendo que surge a necessidade de utilizar intervenções não farmacológicas, devido aos efeitos adversos dos psicofármacos. Conclui-se, desta forma, que as intervenções que podem ser desenvolvidas no contexto das terapias de relaxamento são simples, facilmente aplicáveis, económica e socialmente bem aceites. Tendo isto em consideração, o presente artigo incluiu a análise de cinco estudos com o objetivo de ampliar a compreensão sobre a eficácia das terapias de relaxamento na redução da ansiedade. A partir da revisão dos artigos foi possível obter dados que respondem à questão

de

investigação

previamente

formulada,

emergindo

resultados

positivos

relativamente à utilização das terapias de relaxamento na redução da ansiedade. Todos os resultados encontrados e os contributos da investigação desenvolvida nesta área sugerem que existem diversas intervenções que podem ser categorizadas como terapias de relaxamento e todas têm como objetivo comum diminuir a ansiedade. Deve ser dado ênfase à escolha destas intervenções em detrimento do tratamento farmacológico isolado, ainda que este possa ser utilizado em associação nalguns casos particulares. Os critérios de inclusão aplicados podem ter constituído uma limitação desta revisão. A utilização de artigos apenas em inglês com acesso livre ao texto integral, e o facto de termos considerado apenas os trabalhos relativos a perturbações de ansiedade, excluindo a ansiedade como sintoma, também presente na doença oncológica, no pré-operatório e na depressão poderá ter condicionado o acesso a outras investigações relevantes na área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Psychiatric Association [APA] (2014). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – DSM-5. Lisboa: Climepsi Editores, 5ª ed. Almeida, J. M.C., e Xavier, M. (2013). Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental (Vol. 1). Lisboa: Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa Chen, Y., Huang, X., Chien, C., & Cheng, J. (2017). The Effectiveness of Diaphragmatic Breathing Relaxation Training for Reducing Anxiety. Perspectives in Psychiatric Care, 53 (4), 329-336. doi: 10.1111/ppc.12184 Coelho, N. (2014). Intervenções de enfermagem na gestão da ansiedade num grupo de pessoas com doença mental. Dissertação de Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria,

Escola

Superior

de

Enfermagem de

Lisboa,

Lisboa.

Disponível

em 52


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https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/16 324/1/tese%20mestrado%20Neuza%20Coelh o%20N%c2%ba4708.pdf Kim, H., & Kim, E. J. (2018). Effects of Relaxation Therapy on Anxiety Disorders: A Systematic Review

and

Meta-analysis.

Archives

of

Psychiatric

Nursing,

32,

278-284.

doi:

10.1016/j.apnu.2017.11.015 Klainin-Yobas, P., Oo, W. N., Yew, P. Y. S., & Lau, Y. (2015). Effects of relaxation interventions on depression and anxiety among older adults: a systematic review. Aging & Mental Health, 19 (12), 1043-1055. doi: 10.1080/13607863.2014.997191 Ordem dos Enfermeiros (2015). Regulamento n.º 356/2015. Diário da República, 2ª série. Nº 122, 25 de junho de 2015. Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Saúde Mental. pp. 17034-17041 Pastor, M.A., Tomás, M. A.C., & García, I.D. (2017). How can the application of the nursing process help to women with anxiety nursing diagnosis? Enfermería Global, 46, 398-405. doi: 10.6018/eglobal.16.2.259881 Payne, R. (2003). Técnicas de relaxamento – um guia prático para profissionais de saúde. Loures: Lusociência Sampaio, F. M. C., Araújo, O., Sequeira, C., Lluch Canut, M. T., e Martins, T. (2018). A randomized controlled trial of a nursing psychotherapeutic intervention for anxiety in adult psychiatric outpatients. Journal of Advanced Nursing, 74, 1114-1126. doi: 10.1111/jan.13520 Souza, M. T., Silva, M. D., e Carvalho, R. (2010). Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein, 8 (1 Pt 1), 102–106. doi: 10.1590/s1679-45082010rw1134

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Avaliação da usabilidade das TIC na comunidade sénior: uma experiência em living lab recorrendo a metodologia observacional João Silva*, Mariana Carvalho**, Mário Basto*** & Ricardo Simoes**** *Mestrado; Professor Convidado; Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, CAMPUS DO IPCA 4750-810 Barcelos, Portugal. E-mail: joao.silva@ipca.pt **Doutoramento; Professora Adjunta; Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, CAMPUS DO IPCA 4750-810 Barcelos, Portugal. E-mail: mcarvalho@ipca.pt ***Doutoramento; Professor Adjunto; Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, CAMPUS DO IPCA 4750-810 Barcelos, Portugal. E-mail: mbasto@ipca.pt ****Doutoramento; Professor Coordenador; Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, CAMPUS DO IPCA 4750-810 Barcelos, Portugal. E-mail: rsimoes@ipca.pt RESUMO CONTEXTO: Teste de usabilidade de um dispositivo médico de reabilitação física integrando TIC, realizado com pacientes idosos em ambiente real e monitorizado por profissionais de cuidados de saúde. OBJETIVO(S): Analisar a usabilidade dos produtos em ambiente real, avaliando a recetividade dos utentes. MÉTODOS: Introdução da utilização dos dispositivos na rotina. Observação e classificação de comportamentos durante a utilização. RESULTADOS: Foram sistematizados dois parâmetros, aptidão e empenho, partindo de cinco inicialmente identificados, para classificar padrões de comportamento na utilização pelos seniores do produto em estudo. CONCLUSÕES: O ensaio e a metodologia permitem obter indicadores relevantes, aptidão e empenho, relativos à facilidade de utilização da tecnologia pelos idosos. Palavras-Chave: Comportamento de idosos; Living Lab; Teste de usabilidade; TIC. ABSTRACT BACKGROUND: Usability testing of a physical rehabilitation medical device integrating ICT, performed with elderly patients in a living lab and monitored by healthcare professionals. AIM: To analyze the usability of products in real environment, evaluating the receptivity of users. METHODS: Establishment of device use in the routine. Observation and classification of behaviors during use. RESULTS: Starting from five parameters initially identified, two parameters were systematized, ability and persistence, to classify behavior patterns of the elderly in the use of the product under study. CONCLUSIONS: The test and methodology provide relevant indicators, aptitude and persistence, regarding the ease of use of technology by the elderly. Keywords: Behaviour of the elderly; ICT; Living lab; Usability test.

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RESUMEN CONTEXTO: Pruebas de usabilidad de un dispositivo médico de rehabilitación física que integra las TIC, realizado con pacientes mayores en un entorno real y supervisado por profesionales de la salud. OBJETIVO(S): Analizar la usabilidad de los productos en un escenario real, evaluando la receptividad de los usuarios. METODOLOGÍA: Introducción del uso del dispositivo en la rutina. Observación y clasificación de comportamientos durante el uso. RESULTADOS: Se sistematizaron dos parámetros, aptitud y empeño, a partir de cinco inicialmente identificados, para clasificar los patrones de comportamiento en el uso por parte de los ancianos del producto en estudio. CONCLUSIONES: La prueba y la metodología proporcionan indicadores relevantes, aptitud y empeño, con respecto a la facilidad de uso de la tecnología por parte de los ancianos. Palabras Clave: Comportamiento de los ancianos; Living Lab; Pruebas de usabilidad; TIC. INTRODUÇÃO I.

Enquadramento

No contexto do projeto ICT4SILVER (financiado pelo programa Interreg Sudoe, cujo objetivo é acompanhar as PMEs do sudoeste europeu que produzem soluções digitais para a Silver Economy), foram realizadas avaliações de usabilidade de várias soluções tecnológicas com relevância no bem-estar sénior, em ambiente real. Estas avaliações pretenderam auscultar o consumidor partindo de uma experiência em ambiente real (Gaskin, Griffin, Hauser, Katz, & Klein, 2009), recolhendo o seu testemunho e observando indicadores comportamentais durante a utilização, quer de pacientes quer de profissionais. Em particular, a plataforma Physiosensing, desenvolvida pela empresa portuguesa Sensing Future Technologies, foi submetida a um estudo de utilização junto de potenciais utilizadores, pretendendo avaliar quer a facilidade de utilização por utentes e profissionais, quer a utilidade da solução na avaliação e terapias. Esta ação decorreu em França, em Espanha e em Portugal, tendo sido selecionada a Santa Casa da Misericórdia de Barcelos (SCMB), para os estudos em Portugal, dada a pluralidade dos seus serviços, pacientes e profissionais. O PhysioSensing é uma plataforma portátil de balança e pressão, com tecnologia de biofeedback visual (Figura 1), associada a um software que permite aceder a exercícios práticos (Figura 2), e faz parte de uma nova geração de produtos para a reabilitação física. A tecnologia subjacente integra um dispositivo médico indicado para as atividades de fisioterapia e reabilitação física, com as seguintes funções principais: avaliação do equilíbrio postural e da repartição da carga natural; avaliação da pressão plantar; objetivação da prática clínica; e treino pessoal baseado na estabilidade e na correção da postura.

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Figura 1- Plataforma portátil

Figura 2- Exemplos de exercícios práticos

PhysioSensing e biofeedback visual

para o utilizador

O PhysioSensing é, assim, indicado para auxiliar atividades de fisioterapia, reabilitação física e vestibular e neuro-reabilitação, especialmente na reabilitação precoce de AVC e condições neuromúsculo-esqueléticas associadas a reabilitação de membros inferiores e de marcha. Os objetivos deste estudo consistem, por um lado, em apresentar uma metodologia de ensaio de avaliação de usabilidade de produtos em ambiente real com recolha de informação de forma direta e indireta (por observação) e, por outro, em avaliar a recetividade dos utentes, em contexto real e quotidiano, aos exercícios propostos no seu caso em particular, assim como à plataforma no seu todo, aferindo então acerca da utilidade da solução. II. Ambiente de acolhimento dos testes - Santa Casa da Misericórdia de Barcelos A SCMB, instituição parceira para acolher estes ensaios, tem como missão promover o desenvolvimento de respostas sociais direcionadas para a Terceira Idade, Infância, Saúde, Social e Religião, privilegiando os grupos mais vulneráveis. A resposta Terceira idade conta com um conjunto de infraestruturas e serviços, tais como 5 lares residenciais com capacidade para 248 utentes, 2 centros de dia e apoio domiciliário. A resposta Saúde conta com o Centro de Medicina Física e de Reabilitação (CMFR) com capacidade para 800 utentes, e com a Unidade de Cuidados Continuados (UCC). As competências e necessidades da atividade do CMFR beneficiam das funcionalidades oferecidas pelo Physiosensing, além disso, o Centro de Dia proporciona o contacto diário com utentes idosos ativos, possibilitando o conhecimento das suas dificuldades e patologias, que poderão reconhecer benefícios na utilização do Physiosensing. Assim, o ensaio foi conduzido por fisioterapeutas do CMFR com utentes do Centro de Dia, estando a caracterização deste apresentada na Tabela 1. Tabela 1 - Caracterização do Centro de Dia da SCMB Centro de Dia Capacidade Utentes atuais Idade Utente mais antigo no CD

Utentes 35 26

Homens

Mulheres

9

17

Idade min

Idade Max

37

92 18

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III. Exercícios Physiosensing em teste Os exercícios disponíveis no Physiosensing são destinados à avaliação e ao treino do equilíbrio, sendo alguns orientados para o controlo de equilíbrio numa posição específica, e outros orientados para o deslocamento do centro de pressão para pontos pré-definidos nas interfaces, com recurso a biofeedback visual. Durante o treino dos profissionais, na fase de preparação do piloto, o conjunto de exercícios foi revisto e foram selecionados aqueles que, na opinião dos profissionais, melhor se adequam aos pacientes, tendo em vista a melhoria da condição e bem-estar dos utentes e o conhecimento do estado relacionado com as patologias mais comuns nos idosos. Acredita-se, por isso, que esta ferramenta possa constituir especial vantagem quando utilizada com idosos. Métodos I.

Piloto

Um piloto (Thabane et al., 2010) é um teste de utilização de um produto com a pretensão de verificar a usabilidade do produto, assim como identificar melhorias que o fabricante deverá considerar na conceção de futuras versões do produto (Wright, 2018). Este estudo adota uma metodologia sistematizada que se define como Modelo do Piloto. I.1

Modelo do piloto

A organização do modelo conceptual de piloto contempla três fases: Fase 1 - Preparação - que considera: a) a apresentação do produto e os objetivos do piloto; b) o convite e treino dos profissionais; c) e o convite, seleção e entrevistas aos utentes da instituição que irão testar o produto; Fase 2 - Execução do piloto - a equipa de profissionais utiliza os equipamentos no ambiente real com os pacientes. Os dados de observação e equipamentos são recolhidos para processamento futuro; e Fase 3 - Conclusão - esta fase encerra o piloto e inclui duas etapas: a) a captura das impressões dos utilizadores e dos profissionais no final da experiência, através de entrevista individual e reunião do grupo; e b) a análise e compilação das informações capturadas e produção do Relatório do Piloto, incluindo sentimentos e recomendações ao fabricante do produto. O presente documento sobre a experiência irá focar-se na análise dos efeitos observados que cada exercício do Physiosensing provocou em cada utilizador, assim como na possível relevância que os sentimentos do utilizador possam ter nesses efeitos. II.

Experiência

A experiência foi realizada em contexto real na SCMB, durante um mês. O estudo utilizou uma metodologia observacional, atendendo a que não existiu manipulação de intervenções diretas

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sobre os participantes, limitando-se à sua observação e às suas características (Cunha, Martins, Sousa, & Oliveira, 2007). II.1

Ética, privacidade e proteção de dados

Os princípios éticos e as normas regulamentares vigentes foram considerados na redação do protocolo de parceria firmado entre o consórcio ICT4Silver, a SCMB e o IPCA. Assim, este estudo respeita o direito à não participação, ao anonimato e à confidencialidade, garantindo aos participantes que os seus dados de identificação pessoal não figurem em qualquer parte acessível dos documentos resultantes de processos de investigação (Freixo, 2010, p.180), utilizando-se uma codificação especificamente criada para o efeito. II.2

Definição da amostra

Os testes foram implementados numa amostra, que foi definida tendo por base o universo de todos os utentes do Centro de Dia, no período de 6 de julho a 2 de agosto de 2018. O Centro de Dia tinha, à data, 26 utentes, sendo que 17 eram mulheres e 9 homens, com idades compreendidas entre 37 e 92 anos. Foi recolhida de forma não aleatória uma amostra constituída por nove utentes, com idades entre os 65 e os 85 anos, utilizando o método da amostragem por conveniência, por motivos de ordem prática e de acessibilidade aos utentes, uma vez que existiam condicionantes, nomeadamente a indisponibilidade do utente em participar na experiência. A realização dos testes teve o acompanhamento sistemático de dois profissionais de saúde (fisioterapeutas) da instituição. II.3

Exercícios e testes

Na totalidade, os nove utentes realizaram 27 exercícios repetidos um número variado de vezes, num total 262 execuções. O Gráfico 1 apresenta a distribuição do número de testes efetuados em cada um dos exercícios propostos.

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Weight Bearing Squat Unilateral Stance Transferencia de carga- Antero-Posterior Segue-me Sagital Dinamico Sagital Risco de Queda Rhythmic Weight Shift Quadrado Pong Percurso Quadrado Percurso Expiral Percurso Barras Oscilação do Centro de Pressão Oito Mapa de pressão – Distribuiçao de Pressão Limites de Estabilidade Global Distribuição de Carga - Global CTSIB Circulo Bart Ball Balance Armadilhas Antero-Posterior Dinamico Antero-Posterior 2D 0

5

10

15

20

25

30

35

40

Gráfico 1- Distribuição do número de testes pelos exercícios Em todos os testes, foram quantificados cinco parâmetros - compreensão, facilidade, conforto, satisfação e empenho - que se acredita avaliarem o grau de recetividade de cada um dos utentes a cada um dos exercícios. A Tabela 1 mostra a escala dessa parametrização. Tabela 1- Escala para medição dos parâmetros Compreensão Muita Alguma Nenhuma

Facilidade Muita Alguma Nenhuma

Conforto Muito Algum Nenhum

Satisfação Muita Alguma Nenhuma

Empenho Muito Algum Nenhum

Escala 1 0,5 0

Deste modo, a cada utente e exercício foi atribuída uma pontuação, respeitante a cada parâmetro sob avaliação. Por forma a garantir a independência da amostra, a cada parâmetro foi atribuída uma pontuação média a partir das pontuações dos indivíduos que executaram essa tarefa pelo menos uma vez. Assim, cada sujeito e cada exercício têm uma pontuação atribuída. No entanto, neste estudo só são considerados os exercícios que foram executados por, pelo menos, quatro dos indivíduos da amostra. RESULTADOS Tendo como princípio a metodologia descrita no capítulo anterior, foi construída uma base de dados de 16 exercícios com uma pontuação atribuída para cada um dos cinco parâmetros (compreensão, facilidade, conforto, satisfação e empenho). Todos os parâmetros foram

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medidos no sentido mais positivo (maior compreensão, maior facilidade, maior conforto, maior satisfação e maior empenho). A Tabela 2 apresenta os resultados dessa avaliação. Tabela 2- Pontuações atribuídas por exercício Exercício 2D Antero-Posterior Armadilhas Ball Balance Circulo CTSIB Global Limites de estabilidade Distribuição de Pressão Oito Pong Quadrado Risco de Queda Sagital Segue-me Weight Bearing Squat

Compreensão 0,69 0,86 0,63 0,65 0,85 0,88 0,85 0,63 0,94 0,82 0,43 0,94 0,94 0,9 0,73 0,68

Facilidade 0,56 0,73 0,38 0,55 0,56 0,88 0,63 0,25 0,85 0,63 0,3 0,38 0,69 0,79 0,45 0,54

Pontuação Conforto 0,5 0,67 0,63 0,78 0,89 1 0,67 0,88 0,81 0,89 0,45 0,88 0,69 0,72 0,72 0,71

Satisfação 0,88 0,93 0,96 0,89 0,97 1 1 1 1 1 0,84 1 1 0,92 0,95 0,93

Empenho 0,75 0,6 0,66 0,55 0,56 0,5 0,57 0,38 0,53 0,61 0,67 0,63 0,63 0,63 0,66 0,57

DISCUSSÃO Uma avaliação inicial aponta para uma correlação negativa do empenho com as outras variáveis de avaliação, resultado este que, de alguma forma, indicia que o empenho tende a ser maior para os exercícios que mais obstáculos apresentam (isto é, cuja compreensão, facilidade, conforto e satisfação são menores). No sentido de estudar a possibilidade de as avaliações serem o reflexo de uma estrutura latente de menor dimensão, efetuou-se uma análise fatorial exploratória. Para tal recorreu-se ao software IBM SPSS Statistics e ao menu o SPSS R-Menu (Basto & Pereira, 2012). Para determinar a dimensionalidade dos dados recorreu-se à análise paralela e ao critério de Velicer, atendendo a que são os que mais frequentemente são descritos na literatura como os melhores critérios para este fim (Ruscio & Roche, 2012; Wood, Tataryn, & Gorsuch, 1996; Zwick & Velicer, 1986). O critério do Mínimo Parcial Médio de Velicer consiste em determinar o passo k, cujo valor varia de zero até um valor máximo igual ao número de variáveis menos um, em que o valor mínimo das médias dos quadrados ou da quarta potência das correlações parciais ajustadas sucessivamente à extração das primeiras k componentes principais, se verifica (Velicer, 1976; Velicer, Eaton, & Fava, 2000). A análise paralela utiliza dados simulados ou permutação dos dados originais e compara os valores próprios dos fatores obtidos a partir dos dados, com alguma medida de localização dos valores próprios dos dados simulados ou permutados, retendo-se unicamente os fatores cujos valores próprios são superiores aos obtidos desta forma (Horn, 1965; Ruscio & Roche, 2012). No caso presente, a medida de localização usada foi o percentil 90. 60


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Os valores obtidos apontam para a retenção de um único fator. A extração desse fator conduz a um peso fatorial (loading) da variável “Empenho” com sinal contrário a todos os outros quatro pesos fatoriais. Este resultado era expectável face à correlação negativa do empenho com as outras variáveis. Eliminando a variável empenho os critérios usados apontam de igual modo para um fator e todos os pesos fatoriais apresentam o mesmo sinal. Assim, por esta razão, optou-se por resumir as quatro avaliações (compreensão, facilidade, conforto e satisfação) num único fator a que se atribuiu uma pontuação média, e que se denominou de Aptidão. A outra pontuação representa o Empenho. A Tabela 3 faz o resumo das pontuações obtidas nestes dois parâmetros. O Gráfico 4 apresenta o diagrama de dispersão e reta de regressão dos parâmetros aptidão e empenho, evidenciando a correlação negativa existente. Tabela 3- Catalogação e Pontuações atribuídas por exercício nos parâmetros Aptidão e Empenho

0,9 0,8 Aptidão

Pontuação Objetivo Exercício Empenho Aptidão Avaliação CTSIB 0,5 0,94 Distribuiçao de Pressão 0,53 0,9 Risco de Queda 0,63 0,83 Weight Bearing Squat 0,57 0,72 Limites de estabilidade 0,38 0,69 Treino Oito 0,61 0,84 Sagital 0,63 0,83 Circulo 0,56 0,82 Quadrado 0,63 0,8 Antero-Posterior 0,6 0,8 Global 0,57 0,79 Ball Balance 0,55 0,72 Segue-me 0,66 0,71 2D 0,75 0,66 Armadilhas 0,66 0,65 Pong 0,67 0,51

1

0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

Empenho

Gráfico 4- Diagrama de dispersão e reta de regressão da aptidão e do empenho

Dos 16 exercícios em análise, e atendendo à sua finalidade, sabe-se que cinco deles são exercícios para avaliação de desempenho do doente, enquanto os restantes são exercícios para treino, conforme especificado na Tabela 3. O Gráfico 5 mostra o diagrama de dispersão das pontuações dos parâmetros para os exercícios de treino. A análise do gráfico manifesta a mesma tendência decrescente entre os parâmetros aptidão e empenho. No que concerne aos exercícios para avaliação de desempenho, o cenário aparenta ser diferente, atendendo a que as pontuações dos parâmetros aptidão e empenho tendem a variar no mesmo sentido, indiciando que em exercícios de avaliação os doentes tendem a empenhar-se mais, conforme apresentado no Gráfico 6. Embora a análise dos gráficos 5 e 6 indiciem que os utentes assumem diferentes comportamentos, consoante a finalidade - treino ou avaliação - do exercício, não foi possível

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fazer uma análise fatorial para cada um desses subconjuntos, uma vez que a dimensão das amostras em cada caso é reduzida. Assim, os resultados obtidos só podem ser considerados para as amostras em causa, não sendo possível generalizar os resultados. 0,9

1

0,85

0,95 0,9 0,85

0,75

Aptidão

Aptidão

0,8

0,7 0,65

0,8 0,75 0,7 0,65

0,6

0,6 0,55

0,55 0,5

0,5 0,5

0,55

0,6

0,65

0,7

0,75

0,8

0,3

0,35

0,4

0,45

0,5

0,55

0,6

0,65

Empenho Empenho

Gráfico 5- Diagrama de dispersão e reta de regressão

Gráfico 6- Diagrama de dispersão e reta de regressão

da aptidão e do empenho para os exercícios de treino.

da aptidão vs empenho para os exercícios de avaliação.

CONCLUSÕES Neste artigo foi descrito o ensaio do Physiosensing, com o objetivo de avaliar a adesão de seniores à utilização do equipamento. Com esta missão, foram analisados os comportamentos e foi proposta uma classificação com a agregação das reações observadas. Uma avaliação inicial apontava para uma correlação negativa do Empenho com as outras variáveis de avaliação (compreensão, facilidade, conforto e satisfação), resultando, desta forma, que o empenho tende a ser maior para os exercícios que mais obstáculos apresentam (isto é, cuja compreensão, facilidade, conforto e satisfação são menores). Assim, com suporte estatístico, resultou a agregação das quatro avaliações (compreensão, facilidade, conforto e satisfação) num único fator, que se denominou de Aptidão. No entanto, a análise dos exercícios consoante a finalidade (treino ou avaliação) indiciou que, nos exercícios para avaliação de desempenho, o cenário aparenta ser diferente, atendendo a que as pontuações dos parâmetros aptidão e empenho tendem a variar no mesmo sentido, indicando que, em exercícios de avaliação, os utentes tendem a empenhar-se mais. Estes indícios de uma eventual diferença de resposta comportamental dos pacientes, consoante o objetivo dos exercícios, constituirão a base de um trabalho futuro, considerando um ensaio num contexto estatisticamente mais representativo e significativo, dada a relevância destes indicadores para o fabricante. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Esta metodologia para avaliação da usabilidade produz uma orientação relevante para suporte da decisão da utilização dos equipamentos em ambiente real, o que pode estimular ou desaconselhar a adoção de um equipamento num cenário real.

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Por outro lado, a mesma metodologia pode ser utilizada para obter uma avaliação de novos equipamentos ou de equipamentos já em utilização, permitindo refinar a interface com o utilizador, paciente ou profissional, procurando a melhor experiência na utilização das tecnologias e promovendo as melhores práticas das equipas de profissionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Basto, M., & Pereira, J. M. (2012). An SPSS R-menu for ordinal factor analysis. Journal of Statistical Software, 46(4). https://doi.org/10.18637/jss.v046.i04 Cunha, G., Martins, M. R., Sousa, R., & Oliveira, F. F. (2007). Estatística Aplicada às Ciências e Tecnologias da Saúde. Lisboa: Lidel – Edições Técnicas, Lda. Freixo, M. J. V. (2010). Metodologia científica – fundamentos, métodos e técnicas. Lisboa: Instituto Piaget. Gaskin, S. P., Griffin, A., Hauser, J. R., Katz, G. M., & Klein, R. L. (2009). The Voice of the Customer (Vol. 8). Horn, J. L. (1965). A rationale and test for the number of factors in factor analysis. Psychometrika, 30(2), 179–185. https://doi.org/10.1007/BF02289447 Ruscio, J., & Roche, B. (2012). Determining the number of factors to retain in an exploratory factor analysis using comparison data of known factorial structure. Psychological Assessment, 24(2), 282–292. https://doi.org/10.1037/a0025697 Thabane, L., Ma, J., Chu, R., Cheng, J., Ismaila, A., Rios, L. P., … Goldsmith, C. H. (2010). A tutorial on pilot studies: the what, why and how. BMC Medical Research Methodology, 10, 1. https://doi.org/10.1186/1471-2288-10-1 Velicer, W. F. (1976). Determining the number of components from the matrix of partial correlations. Psychometrika, 41(3), 321–327. https://doi.org/10.1007/BF02293557 Velicer, W. F., Eaton, C. A., & Fava, J. L. (2000). Construct Explication through Factor or Component Analysis: A Review and Evaluation of Alternative Procedures for Determining the Number of Factors or Components. In Problems and Solutions in Human Assessment (pp. 41– 71). Boston, MA: Springer US. https://doi.org/10.1007/978-1-4615-4397-8_3 Wood, J. M., Tataryn, D. J., & Gorsuch, R. L. (1996). Effects of under- and overextraction on principal axis factor analysis with varimax rotation. Psychological Methods, 1(4), 354–365. https://doi.org/10.1037/1082-989X.1.4.354 Wright, M. (2018). How pilot testing can dramatically improve your user research. Wider Funnel Blog. Retrieved from https://www.widerfunnel.com/pilot-testing-user-research/ Zwick, W. R., & Velicer, W. F. (1986). Comparison of Five Rules for Determining the Number of Components to Retain. Psychological Bulletin, 99(3), 432–442.

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A Literacia em Saúde Mental dos Jovens Estudantes Joana Andrade*, Ângela Vieira**, Juliana Leal***, Bruno Santos ****, & Nuno Araújo ***** * Licenciatura; Enfermeira de Cuidados Gerais; Enfermeira; Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, Rua José António Vidal, 4760-409 Vila Nova de Famalicão, Portugal. joanandrade15@gmail.com ** Licenciatura; Enfermeira de Cuidados Gerais; Enfermeira; Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, Rua José António Vidal, 4760-409 Vila Nova de Famalicão, Portugal. angelaji@live.com.pt *** Licenciatura; Enfermeira de Cuidados Gerais; Enfermeira; Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, Rua José António Vidal, 4760-409 Vila Nova de Famalicão, Portugal. julianafilipa36@gmail.com ****Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria; Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica; Enfermeiro Chefe da unidade de curto internamento da CSBJ (5) -Irmãs Hospitaleiras – Braga, Rua Dr. António Alves Palha, n.2, 4715-308 Braga., Portugal. santosbmc@gmail.com ***** Mestre em Ciências Empresariais e Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação; Professor Adjunto na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, Rua José António Vidal, 4760-409 Vila Nova de Famalicão, Portugal. nuno.araujo@ipsn.cespu.pt

RESUMO CONTEXTO: O baixo nível de Literacia em Saúde Mental é um fator que determina o atraso na procura de ajuda profissional. Sendo os jovens um grupo de maior suscetibilidade para os problemas de Saúde Mental, torna-se importante a implementação de medidas de Educação Para a Saúde (EPS) em jovens estudantes, para que no futuro saibam identificar os problemas associados à sua saúde mental (Loureiro, et al., 2013). OBJETIVO: Avaliar o nível de literacia em saúde, nos estudantes do Ensino Superior, sobre as perturbações da Saúde Mental, nomeadamente, a depressão. MÉTODO: Foi realizado um estudo descritivo-exploratório transversal, com estudantes de uma instituição de ensino superior, da região norte de Portugal ( Estudantes de Enfermagem, Fisioterapia e Osteopatia); recorreu-se a uma amostra probabilística (n=337). Foi utilizado um questionário organizado em três grupos: grupo I – caracterização sociodemográfica; grupo II – caracterização clínica; grupo III – escala MentaHiS-D (Rosa,2018). RESULTADOS: Evidenciou-se que os estudantes apresentam um elevado nível médio de literacia em saúde mental. Observou-se, também, que o sexo feminino apresenta um nível médio mais elevado de literacia em saúde mental e que os indivíduos inscritos no curso de Licenciatura em Enfermagem têm um maior nível médio de literacia em

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saúde mental. CONCLUSÕES: A promoção da literacia em saúde mental tem impacto significativo nos jovens, deste modo, é importante incentivá-los para a literacia em saúde mental, sendo que o desconhecimento nesta área afeta o seu desenvolvimento. Palavras-chave: Alfabetização em Saúde; Depressão; Educação Superior; Saúde Mental. ABSTRACT BACKGROUND: The low level of Mental Health Literacy is a factor that determines the delay in the search for professional help, being the young people a group with great susceptibility to Mental Health problems, it becomes important to implement Health Education measures in young students, so that in the future they can identify the problems associated with their mental health (Loureiro, et al., 2013). AIM: Assessing the level of literacy in health, in higher education students, about disturbs of mental health. METHOD: It was held a cross-sectional descriptiveexploratory study, with students from higher education, from the northern region oh Portugal; it was resorted to a probabilistic sample. It was used a questionnaire organized by three groups: group I - characterization socialdemografic; group II- clinical characterization; group III - Likert scale. RESULTS: It was evident that students show a level medium of literacy in mental health superior to the media. It was observed in female sex a medium level higher of literacy in mental health and the people subscribed in the undergraduate courseIn the in undergraduate course of nursing has a medium level of literacy in mental health higher. CONCLUSIONS: It's important encourage the youngest people to the knowledge about the various areas of health, don't forgetting the mental health that sometimes is stigmatized by these. Keywords: Literacy in Health; Depression; Higher Education; Mental Health.

RESUMEN CONTEXTO: El bajo nivel de alfabetización en salud mental es un factor que determina el retraso en la búsqueda de ayuda profesional, y los jóvenes son un grupo más susceptible a los problemas de salud mental. La implementación de medidas de Educación para la Salud (EPS) en jóvenes estudiantes se convierte importante, para que en el futuro puedan identificar los problemas asociados con su salud mental (Loureiro, et al., 2013). OBJETIVO: Evaluar el nivel de alfabetización en salud en estudiantes de educación superior sobre trastornos de salud mental. METODOLOGÍA: Se realizó un estudio exploratorio descriptivo de corte transversal con estudiantes de una institución de educación superior en el norte de Portugal.Se utilizó una muestra probabilística (n = 337). Se utilizó un cuestionario organizado en tres grupos: grupo I - caracterización sociodemográfica; grupo II - caracterización clínica; grupo III - escala Likert. 65


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RESULTADOS: La investigación mostró que los estudiantes tienen un mayor nivel de alfabetización en salud mental que el promedio. También se observó que las mujeres tienen un nivel promedio más alto de alfabetización en salud mental y que las personas inscritas en el curso de Grado en Enfermería tienen un nivel promedio más alto de alfabetización en salud mental. CONCLUSIONES: Es importante alentar a los jóvenes a conocer las diversas áreas de la salud, sin olvidar la salud mental que por veces es estigmatizada. Palabras Clave: Alfabetización en salud; Depresión; Educación Universitaria; Salud mental.

INTRODUÇÃO O conceito de Literacia em Saúde, ao longo do tempo, foi progredindo de uma definição meramente cognitiva para uma definição que engloba as componentes pessoal e social do indivíduo, assumindo-se como a capacidade de tomar decisões fundamentadas no seu quotidiano. Este conceito desempenha um papel determinante na manutenção e na melhoria das condições de saúde, sendo de extrema importância, sobretudo, na área de cuidados de saúde primários e de saúde pública (Martins, 2017). Deste modo, o indivíduo adquire capacidade para tomar decisões sobre o seu processo de saúde, de forma a adquirir qualidade de vida, tornando-o o mais autónomo e responsável em relação à sua saúde (Pedro, Amaral e Escoval, 2016 e Martins, 2017). Assim sendo, indivíduos com níveis mais elevados de Literacia em Saúde, são capazes de promover um uso mais eficiente dos serviços de saúde, o que tem impacto a nível social, e que está relacionado com o número de hospitalizações, medidas globais de saúde e doenças crónicas (Nutbeam, 2000). O conceito de Literacia em Saúde Mental, surge do conceito mais abrangente de Literacia em Saúde, que para além de incluir a capacidade funcional do indivíduo para ler, escrever e compreender termos médicos, também engloba a capacidade e conhecimento, para usar a informação e promover a sua saúde (Nutbeam, 2000). O baixo nível de Literacia em Saúde Mental é um fator que determina o atraso na procura de ajuda profissional, sendo os jovens um grupo de maior suscetibilidade para os problemas de Saúde Mental, torna-se importante a implementação de medidas de Educação Para a Saúde (EPS) em jovens estudantes, para que no futuro saibam identificar os problemas associados à sua saúde mental (Loureiro, et al., 2013). A saúde mental assume um papel fundamental no equilíbrio dos jovens, que possibilita a sua integração no meio social, o que interfere com o seu bem-estar individual e social (Rosa, 2018).

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A perturbação mental compreende uma alteração do pensamento e das emoções resultante de um inadequado funcionamento psicossocial, que depende de fatores psicológicos, biológicos e sociais (Sousa, 2017). A nível mundial 12% das doenças correspondem a patologias do foro mental, valor que sobe para os 23% nos países desenvolvidos. Cerca de 165 milhões de pessoas na Europa são afetadas por uma doença ou perturbação mental, anualmente, sendo que, apenas um quarto desses indivíduos recebe tratamento e só 10% têm tratamento considerado adequado (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, n.d.). Segundo Carvalho (2017), as perturbações depressivas apresentaram um aumento de 5,34% em 2011, para 9,32% em 2016, o que se torna significativo a nível nacional. Estas perturbações depressivas afetam cerca de 20% da população portuguesa, sendo que desta, cerca de metade desenvolve uma perturbação psiquiátrica com reflexo na idade adulta, implicando incapacidade, perda de anos de vida saudáveis e por conseguinte aumento do consumo de cuidados (Rosa, Loureiro e Sequeira, 2014), sendo que uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou vai sofrer de depressão (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, n.d.). Os jovens têm uma maior suscetibilidade para as perturbações mentais (Loureiro, et al., 2013), sendo que a experiência universitária constitui um momento de transição, podendo ocorrer de forma problemática e levar a alterações à saúde mental, causando sofrimento e incapacidade ao longo da vida (Rosa, 2013 e Oliveira, Varela, Rodrigues, Esteves, Henriques e Ribeiro, 2017 e Pereira et al., 2006). Face ao exposto, foi pertinente realizar um estudo, que respondesse à questão: Qual o nível de literacia em saúde mental, relacionada com a depressão, dos estudantes de uma instituição de ensino superior, da região norte de Portugal? Cujo objetivo é: avaliar o nível de literacia em saúde, nos estudantes do Ensino Superior, acerca das perturbações da Saúde Mental. MÉTODOS Foi realizado um estudo descritivo-exploratório transversal, com os objetivos de descrever qual o nível de literacia em saúde mental, relacionado com a depressão, dos estudantes de uma instituição de ensino superior, da região norte de Portugal e avaliar a relação desta variável com outras variáveis em estudo. A amostra foi probabilística aleatória (n=337). A colheita de informação foi realizada, após consentimento informado dos estudantes, entre os meses de dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. Foi garantido o respeito de todos os princípios deontológicos pertencentes à ética de investigação com seres humanos.

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Recorreu-se a um questionário organizado em três grupos. O primeiro grupo foi composto por um conjunto de questões para a caracterização sociodemográfica dos inquiridos (sexo, idade, nacionalidade, meio em que vive e curso). O segundo grupo pretendeu explorar a caracterização clínica dos participantes. O último grupo, por sua vez, foi composto pela escala de Likert referente à escala MentaHiS-D (Rosa, 2018). A escala avalia as cinco dimensões: “Reconhecimento do problema”, “Recursos e opções de ajuda”, “Crenças e intenções para prestar a primeira ajuda”, “Barreiras e facilitadores na procura de ajuda” e “Estilos de vida e comportamentos de saúde” A pontuação da escala varia de 37 a 185, sendo que 37 é o valor mínimo do nível médio de literacia em saúde mental e, por sua vez, 185 é o valor máximo. Contudo, esta pontuação foi convertida numa média padronizada, sendo o valor mínimo do nível médio de literacia em saúde mental 1 e 5 o valor máximo, para ser possível uma melhor interpretação dos dados de acordo com a escala de Likert. A informação recolhida foi analisada recorrendo a análise estatística descritiva (contagens, percentagens, médias e desvio padrão) e inferencial (Teste T e Teste de Kruskal-Wallis), através do programa Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS) versão 25.

RESULTADOS Apresentamos num primeiro instante a caracterização sociodemográfica dos participantes, seguidamente a caracterização clínica e por fim o nível de literacia em saúde mental dos estudantes. Caracterização sociodemográfica Neste estudo a amostra foi constituída por 78,3% do sexo feminino e 21,7% do sexo masculino. A média de idade dos estudantes é de 22 anos. O meio em que vivem é, predominantemente, o meio rural (54,6%), sendo que relativamente à nacionalidade predominam as nacionalidades Portuguesa e Francesa, com 85,2% e 8,9%, respetivamente. Sobre o curso foi possível apurar uma maior prevalência de participantes inscritos no curso de Licenciatura em Enfermagem (48,4%). Caracterização Clínica Relativamente às variáveis clínicas, apenas 3,7% dos participantes, apresenta patologia do foro mental, contudo 12,8% tem acompanhamento em programas de saúde, o que demonstra que alguns participantes aferiram ter acompanhamento, no entanto este, não é no âmbito da saúde mental. No que respeita à presença de patologia do foro mental, na família/ amigos do inquirido, verifica-se que, não há relação entre a variável e o nível médio de literacia em saúde mental,

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uma vez que, apenas 60 indivíduos (18%), respondeu afirmativamente à questão, sendo que os restantes 82%, deram como resposta a opção “não”, pelo que esta diferença, não é estatisticamente significativa, pois o valor de prova é de 0,56. De acordo com Lopez e Murray (1998), citado por Rosa (2018), após realizarem o estudo “Global Burden of Disease”, verificaram que as perturbações mentais, contribuem para 12% da carga global da doença, tendo a depressão maior destaque. Todavia, no que respeita à nossa amostra em estudo, podemos comprovar que apenas 3,7% dos inquiridos apresenta patologia mental, o que contrapõe os resultados da literatura. Tal facto pode evidenciar a existência de um nível médio elevado de literacia em saúde mental da amostra em estudo. No entanto, o estudo realizado pelos autores suprarreferidos foi realizado com uma amostra superior à nossa, e com características distintas, não sendo, apenas, realizado a jovens. Também a presença, dos inquiridos, em programas de vigilância, pode indicar um nível elevado literacia em saúde, que por si só engloba, igualmente, a literacia em saúde mental. Pela análise do gráfico 1, verificamos que o nível médio de literacia em saúde mental é de 4,26. Observou-se que os indivíduos apresentam um nível médio mais elevado de literacia em saúde mental no que compete à dimensão “estilos de vida”, com uma média de 4,32. Por sua vez a dimensão “opções de ajuda” é aquela que corresponde a um maior défice de literacia em saúde mental, com uma média de 4,19. Contudo pode-se afirmar que a amostra em estudo apresenta um nível de literacia em saúde mental superior à média (2,5). Tal facto contraria, Rosa (2018), pois este refere, em relação à literacia em saúde mental, que os jovens apresentam baixos níveis de literacia em saúde mental. Contudo, os estudos deste mesmo autor foram elaborados num contexto diferente com uma amostra de adolescentes dos 2º e 3º ciclos e secundário, pelo que não integram a área da saúde, tendo assim, características distintas às da nossa amostra em estudo.

Gráfico 1- Nível médio de LSM da amostra em estudo, de acordo com as diferentes dimensões da escala

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Da análise da dimensão, “Reconhecimento do problema”, foi possível apurar que, a maioria dos inquiridos selecionou a depressão, como opção de resposta (0,8 ou seja, 80%). Contudo, cerca de 50% da amostra em estudo considerou que a Inês apresentava também nervosismo e tristeza. Em relação à ansiedade e baixa autoestima, estes diagnósticos, foram selecionados por 45% dos inquiridos. Já a reação de perda, o vício e os problemas com a bebida, foram os menos selecionados. Então, sendo assim, quando confrontados com a história clínica da Inês, há uma compreensão, por parte da maioria dos inquiridos. Na análise da relação entre o nível médio de literacia em saúde mental e as variáveis sociodemográficas, verificou-se, para a amostra em estudo, que há existência de relação entre o sexo e a literacia em saúde mental, sendo o sexo feminino o que apresenta o maior nível médio de literacia em saúde mental (4,28). Esta diferença é validada pelo valor p=0,014, após a realização do Teste T. Também existe relação entre a variável curso e a variável literacia em saúde mental, pois o valor de prova é inferior a 0,05, sendo este p=0,029, através da aplicação do Teste de Kruskal-Wallis. Já em relação às restantes variáveis sociodemográficas estas não apresentam relação com a variável literacia em saúde mental, uma vez que não apresentam resultado estatisticamente significativo. Estes resultados vão ao encontro dos estudos da OMS (2017), que refere a maior prevalência da perturbação depressiva no sexo feminino (5,1%), comparativamente com o sexo masculino (3,6%), a nível mundial. Também Basílio, Figueira e Nunes (2015), afirmavam que as mulheres são mais propícias à manifestação dos sintomas, uma vez que estão mais suscetíveis à expressão das emoções. Assim, ao procurarem ajuda profissional de forma precoce, demonstram conhecimento acerca da identificação dos sinais e sintomas da perturbação mental, o que pode comprovar um nível médio mais elevado de literacia em saúde mental. CONCLUSÃO A escola e a sociedade desempenham um papel fundamental, no crescimento, desenvolvimento e maturação dos jovens, para que tenham uma participação ativa a nível da sua saúde mental, e, por conseguinte, um nível de literacia em saúde mental acima da média (Loureiro, Mendes, Barroso, Santos, Oliveira e Ferreira, 2012). O reconhecimento de comportamentos promotores de saúde é determinante para a adoção de estilos de vida saudável. Assim sendo, é importante que os jovens, recebam toda a informação necessária sobre as perturbações mentais de modo a atuarem precocemente. Relativamente aos resultados obtidos podemos concluir que o nível médio de literacia em saúde mental nos jovens é elevado; que o sexo feminino apresenta um nível médio de literacia em saúde mental superior; os estudantes pertencentes ao curso de Licenciatura em Enfermagem apresentam um nível médio de literacia em saúde mental superior.

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De certa forma, é importante ter em conta algumas limitações, como proximidade de idades entre os inquiridos e a extensão do questionário. Em suma, a literacia em saúde deve ser adquirida fundamentalmente em família e na escola. Se estas não o conseguirem de forma satisfatória, as dificuldades existirão no dia-a-dia das pessoas nas mais diversas áreas e afetarão o seu desenvolvimento socioeconómico. Assim sendo, é importante incentivar os jovens para o conhecimento sobre as diversas áreas da saúde, não esquecendo a saúde mental que por vezes é estigmatizada por estes. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A enfermagem tem um grande contributo em saúde mental, uma vez que, tende a desenvolver programas e estratégias de promoção de saúde mental, de forma a alterar comportamentos e implementar estilos de vida saudáveis (Vasconcelos, 2016). Desta forma, uma vez que, o processo de transição é considerado um momento da intervenção da enfermagem, o decurso do desenvolvimento dos jovens é uma necessidade de promoção da literacia em saúde mental, de forma a prevenir a doença, através da adoção de estratégias, que permitam a tomada de decisão consciente, acerca do seu processo de saúde/doença, o que torna imprescindível a atuação dos enfermeiros (Rosa, 2018).

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O desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro: revisão integrativa Thainá Oliveira Lima1 & Cláudia Mara de Melo Tavares2 1

Enfermeira, Mestre em ciências do cuidado em saúde pela Universidade Federal Fluminense.

Doutoranda do Programa de ciências do cuidado em saúde da Universidade Federal Fluminense. Endereço profissional: Rua Doutor Celestino número 74 - Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Telefone: 021979434650. E-mail: oliveira.thina@hotmail.com 2

Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiatria da Escola

de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense. Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo - USP. Endereço profissional: Rua Doutor Celestino número 74 - Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Telefone: 02199191-5906 E-mail: claudiamarauff@gmail.com Estudo de revisão integrante da tese intitulada: A sociopoética como dispositivo de desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro (em andamento) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil. RESUMO Contexto: a noção de competência surge quando a construção de aprendizados vai além da aquisição formal de conhecimentos academicamente validados e se constrói saberes também a partir das mais diversificadas experiências que o acadêmico de enfermagem enfrenta, seja nos estudos ou ao longo da vida. A oportunidade de investigar e discutir acerca do desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro configura uma possibilidade de lidar com as diversas questões que a temática pode desencadear. Objetivo: identificar como se dá o desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro. Método: revisão integrativa de literatura, através das bases de dados Lilacs, Medline, Scielo, Ibecs, Bdenf, utilizando como descritores: Enfermagem, Ensino, Emoções e Educação baseada em competências. A pesquisa incluiu publicações entre 2004 e 2018, sendo identificado 8 artigos para a revisão que obedeciam aos critérios de inclusão. Resultados: identifica-se que os processos em relação as emoções dos estudantes de enfermagem ainda não iniciais, os estudos apontam discussões junto aos estudantes sobre a premência do desenvolvimento da dimensão emocional, mas não apontam claramente estratégias que viabilizem este desenvolvimento. Conclusões: a proposta dos estudos encontrados é de desenvolver uma gestão emocional que traga uma resposta/expressão

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emocional adequada as situações, a crítica que aqui se apresenta é se é possível controlar as emoções a tal ponto. Estudos dentro desta perspectiva por mais que ressaltem a necessidade de quebra com o modelo cartesiano, ainda seguem o norte de buscar uma conduta pronta, identificável, conduzindo para racionalização de questões que são da dimensão humana, como as emoções. Palavras-chave: Enfermagem, Ensino, Emoções, Educação Baseada em Competências. ABSTRACT Context: The notion of competence arises when the construction of learning goes beyond the formal acquisition of academically validated knowledge and builds knowledge also from the most diverse experiences that the nursing student faces, whether in studies or throughout life. The opportunity to investigate and discuss about the development of socio-emotional skills in nursing education constitutes a possibility to deal with the various issues that the theme can trigger. Objective: To identify how the development of socio-emotional skills in nursing education takes place. Method: integrative literature review through the databases Lilacs, Medline, Scielo, Ibecs, Bdenf, using as descriptors: Nursing, Teaching, Emotions and Education based on competences. The research included publications between 2004 and 2018, and 8 articles for the review that met the inclusion criteria were identified. Results: It is identified that the processes in relation to the emotions of nursing students not yet initial, the studies point discussions with students about the urgency of the development of emotional dimension, but do not clearly indicate strategies that enable this development. Conclusions: The purpose of the studies found is to develop emotional management that brings an appropriate emotional response / expression to situations, the criticism presented here is whether it is possible to control emotions to such an extent. Studies within this perspective, while emphasizing the need to break with the Cartesian model, still follow the north of seeking a ready, identifiable conduct, leading to rationalization of issues that are of the human dimension, such as emotions. Keywords: Nursing, Teaching, Emotions, Competency-Based Education.

RESUMEN Contexto: la noción de competencia surge cuando la construcción del aprendizaje va más allá de la adquisición formal de conocimiento académicamente validado y construye conocimiento también a partir de las experiencias más diversas que enfrenta el estudiante de enfermería, ya sea en estudios o durante toda la vida. La oportunidad de investigar y debatir sobre el desarrollo de las habilidades socioemocionales en la educación de enfermería constituye una posibilidad para abordar los diversos problemas que el tema puede desencadenar. Objetivo: identificar cómo se desarrolla el desarrollo de habilidades

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socioemocionales en la educación de enfermería. Método: revisión integral de la literatura a través de las bases de datos Lilacs, Medline, Scielo, Ibecs, Bdenf, utilizando como descriptores: Enfermería, Docencia, Emociones y Educación en base a competencias. La investigación incluyó publicaciones entre 2004 y 2018, y se identificaron 8 artículos para revisión que cumplieron con los criterios de inclusión. Resultados: se identifica que los procesos en relación con las emociones de los estudiantes de enfermería aún no iniciales, los estudios señalan discusiones con los estudiantes sobre la urgencia del desarrollo de la dimensión emocional, pero no indican claramente estrategias que permitan este desarrollo. Conclusiones: El propósito de los estudios encontrados es desarrollar un manejo emocional que brinde una respuesta / expresión emocional adecuada a las situaciones, la crítica presentada aquí es si es posible controlar las emociones hasta tal punto. Los estudios dentro de esta perspectiva, si bien enfatizan la necesidad de romper con el modelo cartesiano, siguen el norte de buscar una conducta lista e identificable, que conduzca a la racionalización de temas que son de la dimensión humana, como las emociones. Palabras clave: enfermería, enseñanza, emociones, educación basada en competencias

INTRODUÇÃO A universidade tem papel ímpar nas modificações no sistema social, político, econômico e cultural dos indivíduos e da sociedade. De acordo com cada época, a universidade que ensinava nos moldes tradicionais, ou seja, nos padrões teológico-jurídico-filosófico vai se transformando segundo as necessidades do humanismo e das ciências, transpondo esse padrão tradicional para os padrões da universidade moderna do século XXI. Com o avanço tecnológico e científico atuais, faz-se necessária a busca por caminhos que consolidem projetos pedagógicos coerentes com tais avanços, ou seja, preparar profissionais capazes de cumprir os desafios da modernidade, sem perder de vista as perspectivas de sua dimensão pessoal e emocional (Padovani e Corrêa, 2017). A necessidade de mudar a formação na enfermagem esta atrelada às necessidades sociais vigentes, relativas às condições de saúde do país, ou seja, indica a necessidade de romper com a formação baseada apenas no modelo clínico (flexeneriano/curativista), surgindo a necessidade de formar para atender a saúde de forma integral. A maioria das universidades que faz reformulações dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) dos cursos de enfermagem e consequentemente de seus currículos segue o modelo da formação crítico-reflexiva o qual pretende formar um profissional generalista, crítico e reflexivo, capaz de trabalhar em equipe, tomar decisões e intervir no processo saúde-doença, considerando o perfil epidemiológico local e promovendo cuidados de enfermagem de forma humanizada tendo como responsabilidade a atualização de suas

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competências, por consequência as competências socioemocionais (Padovani e Corrêa, 2017). Os jovens constituem um grupo social com características específicas, e por estarem saindo da adolescência e entrando na idade adulta, apresentam muitas vezes uma cobrança interna grande principalmente na forma como percebem a vida e uma externa representada em como a sociedade o considera. A cobrança sociocultural que essa classe sofre é evidente e ainda é um tabu na atualidade, o que acaba, diversas vezes, repercutindo em suas atitudes, os levando a um estilo de vida prejudicial à saúde em vários aspectos (Almeida, Benedito e Ferreira, 2017). Os jovens universitários são uma classe específica que frequentemente lidam com desafios particulares, por estarem inseridos em um ambiente acadêmico em que sofrem grande pressão psicossocial, onde estão expostos a exigências constantes, que por vezes acabam levando a disfunções no seu bem-estar, podendo originar vários processos patológicos, inclusive os neuropsíquicos. Este problema é relatado por Cremasco e Baptista (2017) em sua pesquisa, que revela um percentual de 15% a 25% dos estudantes de graduação desenvolvem algum tipo de transtorno mental durante a sua formação, sendo a depressão um dos transtornos mais prevalentes. Já o suicídio é a segunda maior causa de mortes entre os universitários, estimativas afirmam que cerca de um milhão de pessoas comentem suicídio a cada ano no mundo, equivalente a uma morte por suicídio a cada 40 segundos (Teruel, Martínez e León, 2014). Nos estudos de Almeida, Benedito e Ferreira (2017) fatores como a separação do núcleo familiar, aumento das responsabilidades e reavaliação das atividades, que devem ser enfrentados em especial por universitários, podem causar tais instabilidades emocionais e físicas, tendo como consequência altos níveis de ansiedade. Com isso passou a ser identificado a suscetibilidade dos universitários a adquirirem depressão e a suicidar-se. Portanto, essa situação representa um desafio às universidades, dificultando a realização de seu dever, exemplificado pela influência significativa dessas patologias no desempenho estudantil dos universitários, cabendo à instituição desenvolver diagnósticos e medidas de intervenção (Cremasco e Baptista, 2017). A noção de competência surge quando a construção de aprendizados vai além da aquisição formal de conhecimentos academicamente validados e se constrói saberes também a partir das mais diversificadas experiências que o sujeito enfrenta, seja nos estudos ou ao longo da vida (Souza, Cavalcanti, Monteiro e Silva, 2003). Destacando-se as competências socioemocionais, que diferentemente das habilidades próprias da inteligência emocional, faz referência à capacidade transformadora que resulta no aparecimento ou no desenvolvimento de um conjunto de qualidades na pessoa. Enquanto a inteligência emocional consiste na aquisição de destrezas com relação a suas próprias emoções e as outras, a competência emocional implica não apenas a incorporação de habilidades, como inclui, além disso, um 76


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processo de transformação no qual a pessoa incorpora a consciência e a compreensão emocional. Uma pessoa competente emocionalmente apresenta características tais como a compaixão, a equanimidade, o otimismo, a empatia, a perseverança. Uma pessoa com competência emocional é uma pessoa em transformação que incorpora novas características em sua personalidade (Casassus, 2009). A formação acadêmica com ênfase nos aspectos emocionais é responsável por fortalecer o indivíduo e mostrá-lo ao mundo, com toda a competência que se espera de um profissional que saiba lidar com situações e conflitos que eventualmente possam aparecer. Para tanto, é vital que percebamos o mundo que nos cerca, que despertemos o sentido crítico, a curiosidade intelectual e o desenvolvimento da capacidade para comunicar, especialmente na interação socioprofissional no trabalho em enfermagem, que visa proporcionar ao profissional enfermeiro saberes inerentes às relações interpessoais e competências interpessoais e emocionais (Ferla, 2013). Importa ainda salientar que a qualidade dos cuidados será fortemente marcada pelas atitudes e pelos comportamentos de quem cuida e que, o desempenho profissional competente requer um saber mobilizar, integrar e transmitir os conhecimentos adquiridos no âmbito da formação, o que poderá ser possibilitado pelo desenvolvimento de competências mediante novas oportunidades pedagógicas durante a formação acadêmica inicial (Lopes, 2012). Com essa perspectiva, a formação passa a ter outros significados que não aqueles atribuídos pelas dimensões científicas, pois é preciso sentir a necessidade de se recuperar um ser humano que seja capaz de voltar a cultivar suas paixões, seus instintos e sua emoção (Lima, 2017). METODOLOGIA O método utilizado foi a revisão integrativa da literatura, de acordo com as 6 etapas propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2008) - identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão, estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos, avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, interpretação dos resultados, apresentação síntese do conhecimento, a fim de responder os seguintes questionamentos: ‘’Como se dá o desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro?’’ ‘’Quais as estratégias utilizadas para o desenvolvimento dessas competências?’’. Os descritores utilizados em pareamento para a busca foram ‘’ Enfermagem’’ AND ‘’Ensino’’ AND ‘’Emoções’’ AND ‘’Educação Baseada em Competências’’ e a pesquisa foi realizada entre Setembro e Outubro de 2019 nas bases de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências da Saúde (IBECS), Base de

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dados de enfermagem (BDENF). Para a seleção dos artigos utilizaram-se os seguintes critérios de inclusão: artigos desenvolvidos nos últimos 15 anos (2004 a 2019), nos idiomas português, inglês e espanhol, na íntegra nas bases de dados (com acesso livre) e que abordassem o tema sobre as emoções na formação do enfermeiro. Os critérios de exclusão estabelecidos foram: artigos que abordassem a temática das emoções fora do âmbito da formação acadêmica do enfermeiro. Deste modo foram encontrados 548 trabalhos. Após a leitura dos títulos e resumos foram selecionados 18 artigos. Na tabela 1 pode verificar-se o processo de seleção dos artigos. Tabela 1- Pareamento dos descritores nas bases de dados e artigos selecionados nas bases de acordo com os critérios estabelecidos (os artigos selecionados nas bases encontram-se entre parênteses) / observar-se os resultados das pesquisas nas diferentes bases de dados. DESCRITORES

LILACS

MEDLINE

SCIELO

IBECS

BDENF

TOTAL

/ FONTES

SELECIO NADOS

Enfermagem

52 (5)

140 (0)

19 (2)

2 (0)

55 (0)

268

7

Enfermagem

144

0

32 (0)

23 (0)

78(0)

277

11

and Ensino and

(11)

1 (1)

0

0

0

0

1

1

2 (0)

0

0

0

0

2

0

548

19

and Ensino and Emoções

Educação baseada

em

competências Enfermagem and

Emoções

and

Educação

baseada

em

competências Ensino and Emoções and Educação baseada em competências

A revisão dos artigos foi realizada de forma criteriosa pelos autores, que para verificarem a aplicação dos critérios de inclusão descritos anteriormente realizaram a leitura dos artigos na íntegra, totalizando ao final 8 artigos Os artigos selecionados cumpriam todos os requisitos desta revisão. A figura 1 sintetiza o processo de seleção/eliminação dos artigos.

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Figura 1- Processo de seleção/eliminação dos artigos. Na Tabela 2 podem observar-se os resultados das pesquisas nas diferentes bases de dados. Tabela 2 - Resultados obtidos na pesquisa nas bases de dados Bases de dados

Artigos encontrados

LILACS SCIELO Total

199 51 250

Artigos selecionados após a leitura dos títulos e resumos 17 2 19

Artigos selecionados após a leitura integral do artigo 6 2 8

RESULTADOS Dos 8 (100%) estudos encontrados 2 (25%) são portugueses e 6 (75 %) são brasileiros, não foram encontrado estudos em outros países. Os métodos utilizados são diversos e as amostras variam de 560 a 10 estudantes, em alguns estudos inclui-se professores e profissionais enfermeiros e estudantes de outras áreas como da tecnologias e da educação. Diante dos dados citados acima cabe ressaltar que os estudos sobre as emoções na formação do enfermeiro estão entre Brasil e Portugal. Os participantes do estudo são em maioria jovens. Em relação ao ano o artigo mais antigo é de 2004 e o mais recente é de 2018, configurando um recorte temporal de 14 anos para os estudos selecionados. Para facilitar a compreensão dos dados criou-se um quadro com os itens extraídos de cada estudo, que foi preenchido à medida que os artigos selecionados foram analisados. Os itens extraídos dos artigos incluíram nome dos autores, país do estudo, ano, método e amostra e principais achados/ estratégias identificadas. A análise e a apresentação dos dados foram realizadas de forma descritiva. Na Tabela 3 podem-se observar detalhadamente os resultados encontrados.

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Tabela 3 - Resumo dos Resultados da Revisão Integrativa da Literatura Autores

País

Ano

Método e Amostra

Achados/Estratégias sobre o desenvolvimento das

competências

socioemocionais

na

formação do enfermeiro Diogo,

Portugal

2016

Este

estudo

exploratório,

Rodrigues,

descritivo e correlacional, de

Sousa;

abordagem mista. N = 168

Martins,

estudantes e 25 enfermeiros.

Fernandes

supervisores de ensino clínico

Ferreira;

Portugal

2018

Estudo

quantitativo,

Duarte;

transversal,

Cardoso;

correlacional, com recurso ao

Cabral;

inquérito por questionário. N=

Guiné,

560 estudantes (do ensino

Campos;

superior

Alves

educação*)

Lima,

tecnologia

e

qualitativo

que

Galavote,

privilegia

o

das

Schwartz,

subjetividades.

Ramos,

realizadas

Prado,

coleta dos dados. N = 90

Maciel

estudantes.

Brasil

2011

de

e

Estudo

Perbone,

Brasil

descritivo

2011

Carvalho

Estudo

universo

Foram

oficinas

de

descritivo,

para

a

delineamento empregada

a

Técnica dos Incidentes Crítico, trata-se de obter opiniões e julgamentos

simples

do

observador. N= 80 estudantes Esperidião, Munari

Brasil

2004

Estudo qualitativo, a técnica utilizada para a coleta de

-O enfermeiro supervisor como suporte, implementando intervenções que visam transformar positivamente as vivências intensas e perturbadores dos clientes (e dos próprios estudantes/enfermeiros) -Desenvolvimento da pessoa humana na sua integralidade e das competências emocionais, gestão das próprias emoções e dos indivíduos sob cuidados. -Reflete sobre o abandono escolar e as questões que influenciam e contribuem para este abandono, relacionando as competências socioemocionais -Foram identificadas dimensões que podem levar ao abandono do ensino superior, tais como: percepção emocional, gestão de vida, relacional, profissão e carreira entre outras. -O estudo revela que o pensamento crítico, uma adequada gestão do tempo e a motivação estão relacionados com o sucesso académico e, consequentemente, com o abandono escolar. *Este estudo não inclui estudantes de enfermagem, mas trata da dimensão da formação acadêmica relacionando as competências emocionais, sendo relevante para esta revisão. -Criação da disciplina obrigatória ‘’Enfermagem e Sociedade’’, que busca compreender o homem na sua integralidade na perspectiva histórico-social, privilegiando o universo de significados, motivos, aspirações e as relações sociais na interação com crenças, valores, atitudes e subjetividades. -Os alunos puderam refletir e se expressar sobre o sentido de suas vidas e a escolha pela saúde em particular pela enfermagem -As oficinas estimularam o estudante a trabalhar sentidos de alteridade, a se colocar no lugar do outro, na condição de estudante, de professor, de profissional e de usuário dos serviços de saúde. -Crítica à formação centrada nos conhecimentos técnicos científicos. -O estudo permitiu identificar os incidentes críticos referentes ao primeiro contato significativo com o paciente, e identificar as situações percebidas como positivas ou negativas. -Foram verificados sentimentos relacionados ao próprio estudante, ao paciente e à disciplina que estava cursando. -Reflete sobre a dimensão bio-psicosocial que valoriza o cuidado à pessoa

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X Congresso Internacional d´ASPESM dados foi a entrevista semiestruturada.

N

=

21

estudantes.

Pereira,

Brasil

2013

Estudo

de

abordagem

Ribeiro,

qualitativa, utilizado o estudo

Depes,

de caso. N= 44 docentes e 90

Santos

estudantes.

Carraro,

Brasil

2011

Estudo qualitativo de cunho

Prado,

exploratório

descritivo,

Silva,

fundamentado na abordagem

Radünz,

descritiva. N=10 estudantes.

Kempfer, Sebold

Lopes,

Portugal

2012

Estudo

qualitativo

Azeredo,

característica

Rodrigues

descritiva.

com

exploratório-

Insere-se

numa

investigação de desenho e método quasi-experimental, de carácter longitudinal. N= 166 estudantes.

-Investiga a percepção dos estudantes de enfermagem sobre sua formação, como o curso comtempla sua formação, quais são os sentimentos e experiências durante a formação, identificando se existe apoio do professor, se é levado em consideração a questão do autoconhecimento e destaque dos aspectos pessoais. -Destacou-se o contato e apoio do professor e o curso da disciplina de saúde mental para lidar com diferentes sentimentos que permeiam a formação. -Destacam das neurociências, as competências mais exigidas no nível cerebral, para que se possa aprender, são denominadas cognitivas, técnicas, relacionais e emocionais. -Percepção de docentes e discentes de graduação em enfermagem, aspectos da interação que ocorrem entre o sentir e o aprender. -Criação do espaço de socialização entre os estudantes, com base nas metodologias ativas (espaço coletivo, onde os alunos compartilham as sínteses coletivas dos conteúdos desenvolvidos, as vivências de aprendizagem, as situações saúde-doença). - Grupos de tutores realizando trabalhos de simulação realística da prática de enfermagem - Para os estudantes a atividade de socialização permite a integração, interação e inter-subjetividade no processo de formação crítica e comprometida com a realidade. -Destaca as competências relacionais e relações interpessoais como pilares do cuidado de enfermagem -Supervalorização dos estudantes pelo saber fazer ao invés do saber ser cientificamente, ressalta a perspectiva dos estudantes sobre o conhecimento de si para melhor cuidar bem como do saber fazer relacional, pautado nos princípios de ajuda, humanistas e comunicacionais.

DISCUSSÕES O desenvolvimento das competências socioemocionais na formação do enfermeiro centra-se em estratégias e abordagens que não são declaradas como para o desenvolvimento socioemocional, percebe-se nos estudos que isto ocorre de forma indireta ou por vezes não intencional, à medida que trabalha os aspectos da vida, da formação acadêmica e da reestruturação curricular para moldes mais humanizados com ênfase na integralidade do ensino e do cuidado. Os estudos apontam discussões junto aos estudantes sobre a premência do desenvolvimento da dimensão emocional, mas não apontam claramente estratégias que viabilizem este desenvolvimento. Os estudos em sua grande partem trazem críticas ao modelo

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de formação pautado nos aspectos técnicos científicos, que não levam em consideração as dimensões do campo emocional na formação. Um dos estudos encontrado na busca trata do desenvolvimento das competências emocionais e dos aspectos da formação dos estudantes de forma mais direta, o mesmo é um estudo português que trata do suporte do enfermeiro supervisor/orientador para o desenvolvimento de competências objetivando o desempenho do trabalho emocional e os demais como dito anteriormente tangenciam as emoções à medida que trabalham com os aspectos da dimensão humana na formação acadêmica. A seguir podemos destacar 2 eixos temáticos para discussão dos artigos encontrados. Necessidade de ressiginificar o modelo de ensino pautado na formação biomédica e conhecimentos técnicos científicos para mobilizar o desenvolvimento de competências socioemocionais De acordo com o estudo de Lima ( et al., 2011) a incorporação das demandas sociais no processo de ensino-aprendizagem se apresenta como um desafio, pois requer a reconstrução de um modelo que tenha o estudante como cerne, valorizando seus saberes e práticas, e ressignificando a relação trabalhador-estudante-usuário. Nesse contexto, destaca-se a importância de se consolidar redes institucionais que permitam a abertura de novos cenários de aprendizagem e que se constituam em espaços ricos de formação de sujeitos, implicados e apropriados dos seus processos reais de trabalho. Pesquisas feitas para identificar e analisar as percepções e os sentimentos do aluno do curso de graduação em enfermagem, com relação à sua formação como pessoa/ profissional, revelam que a formação acadêmica está centrada em conhecimento técnico-científicos, voltados especialmente ao atendimento das necessidades daqueles que serão assistidos, sem considerar a pessoa que os assiste, além de sinalizar que a trajetória acadêmica é permeada por vários sentimentos que aparecem em função das experiências ocorridas ao longo dela (Perbone e Carvalho 2011). Outro estudo aponta pouca habilidade em estabelecer uma relação terapêutica que dê conta das diversas dimensões do sofrimento humano. Podem surgir, portanto, possíveis consequências que acompanharão o estudante durante todo o seu curso ou até mesmo durante sua prática profissional Sendo assim estratégias como a criação da disciplina Enfermagem e Sociedade presente no estudo de Lima ( et al., 2011) se torna indispensável, pois cria a possibilidade de romper com o modelo técnico cientifico recriando formas e de desenvolvimento de competências por meio de oficinas que permitem refletir sobre o sentido da vida e sobre o significado da formação em enfermagem, consequentemente contribuindo para o desenvolvimento das competências socioemocionais. Isto também pode se verificado no estudo de Carraro (et al., 2011) que também apresenta a criação do momento de socialização dentro da disciplina de fundamentos de enfermagem com base nas metoldologias ativas criando um espaço de simulação realística, caracterizando-se como um 82


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momento de troca, de reflexão e de análise do seu desempenho e seu crescimento pessoal e profissional. Estes dispositivos criam novas formas de obtenção de conhecimento, possibilitando a construção de competências pelos estudantes de enfermagem não antes alcançáveis pelo modelo tradicional de ensino. Como expõe o estudo de Pereira, Ribeiro, Depes e Santos ( 2013), do ponto de vista das neurociências, as competências mais exigidas a

nível cerebral, para que se possa aprender, são denominadas cognitivas, técnicas,

relacionais e as emocionais. O desenvolvimento da dimensão humana dos acadêmicos de enfermagem, implicações para o desenvolvimento das competências socioemocionais O estudo de Esperidião e Munari (2004) apresenta os sentimentos vivenciados pelos estudantes durante o curso, os quais manifestaram de forma diversificada, modificando-se e alternando-se desde a euforia pela passagem no vestibular, realização, alegria, curiosidade, interesse em crescer, orgulho por fazer Enfermagem, até sentimentos de angústia, tristeza, medo, terror, fracasso, solidão, sensação de desamparo, inferioridade, incapacidade, decepção, vontade de desistir, raiva, revolta, insegurança, pena, sofrimento e dor Ferreira (et al., 2018) Neste estudo foi identificada a dificuldade dos estudantes em falar de suas emoções ou em apreender o sentido das perguntas durante a entrevista que se relacionavam com esse aspecto. O autor Damásio (2011) defende que o desenvolvimento emocional faz parte integrante do processo de tomada de decisões e funciona como um vetor de ações e ideias, consolidando a reflexão e o discernimento. Neste sentido é importante destacar o estudo de Diogo, Rodrigues, Sousa, Martins e Fernandes (2016) que se configura como uma estratégia para dar apoio aos estudantes de enfermagem contribuindo para o desenvolvimento das competências emocionais, através da supervisão clínica, visto que o curso clínico é permeado de situações que geram emoções positivas e negativas, sendo a proposta do estudo orientar os estudantes para a gestão de suas emoções e do cliente para respostas emocionais mais adequadas de acordo com Hochschild (1983, p. 36) e Smith (2012). Os resultados do estudo em termos de desenvolvimento de competências nos estudantes demonstram que a função de suporte do enfermeiro supervisor potencia o desempenho do trabalho emocional e promove o crescimento pessoal, conduzindo a mudanças de atitude (postura, discurso, análise, adaptação e tranquilidade), ao desenvolvimento de confiança, iniciativa e autonomia, ao reconhecimento das dificuldades e à aceitação da crítica de modo construtivo. Mas também conduz à aquisição de conhecimentos teóricos resultantes da confrontação com outras formas de interpretação das circunstâncias, exigindo uma adaptação a novas experiências e a um domínio de em termos científicos (Diogo, Rodrigues, Sousa, Martins e Fernandes, 2016). Assim sendo, a formação em enfermagem “não se deve confinar ao processo técnico e científico, mas também sublinhar o desenvolvimento pessoal do estudante pelo papel gerador que tem em todas as competências” (Rabiais 2010, p. 36), ou seja, não é 83


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possível separar as dimensões cognitivas, sociais, afetivas e emocionais quando se pretende clarificar os fatores que estão na base do desenvolvimento da aprendizagem do Cuidar de Enfermagem (Lopes, Azeredo e Rodrigues, 2012) CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Os estudos tratam do desenvolvimento das competências socioemocionais de forma a buscar a melhor expressão das emoções no momento do cuidado, a proposta dos estudos é de desenvolver uma gestão emocional que traga uma resposta/expressão emocional adequada as situações, a crítica que aqui se apresenta é se é possível controlar as emoções a tal ponto. É possível desenvolver um comportamento emocional gerenciado a cada situação? Estudos dentro desta perspectiva por mais que ressaltem a necessidade de quebra com o modelo cartesiano, ainda seguem o norte de buscar uma conduta pronta, identificável, conduzindo para racionalização das questões que são da dimensão humana, como as emoções. É importante que em estudos futuros o enfoque sobre os aspectos emocionais permita o trabalho emocional de forma a não limitar para uma conduta emocional aceita, é preciso dimensionar as reais necessidades da formação do enfermeiro e fortalecer emocionalmente os estudantes para o exercício da prática de enfermagem. Além do exposto é possível acrescentar que a condição emocional e o desenvolvimento das competências socioemocionais estão para além da academia, pois sofre influências das diversas dimensões da vida. O desenvolvimento de competências socioemocionais deveria existir no ensino desde o ciclo básico, a dimensão de uma formação emocionalmente competente requerer a compressão e trabalho das outras dimensões da vida dos estudantes, isto aponta para necessidade de uma reestruturação curricular deste os ciclos iniciais de formação (ensino fundamental e médio). Em suma, a relevância desse estudo está em possibilitar a elaboração de subsídios que contribuam com reflexões acerca das competências socioemocionais, permitindo ressignificar a formação acadêmica do enfermeiro. Além disso, busca-se contribuir para que as experiências emocionais do acadêmico de enfermagem sejam percebidas e vivenciadas como dispositivos potentes da criatividade/sensibilidade, tanto do aluno como do paciente, além de contribuir para a fundamentação da sua integração nos programas curriculares dos cursos de enfermagem desde a formação inicial com impacto futuro na prática de cuidados.

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Revista de Pesquisa Interdisciplinar, 2

(suplementar) 647 – 659.

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