MarleneFranca_MariaDoRosarioCaetano

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tinha uma casa fixa, um lar, para criar os filhos. Estava sempre migrando. E, muitas vezes, moramos em alojamentos. Ela, quando não conseguia um emprego como faxineira, fazia doces, muitas vezes cocadas, que nós vendíamos para ajudar no reduzido orçamento doméstico. Em São Paulo, me lembro de duas cidades: Ourinhos e Martinópolis. Mais desta, pois nela minha mãe trabalhou como servente na Prefeitura e eu fiz o curso primário. Era ótima aluna, orgulho de minha professora, a Dona Abadia.

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Meu pai aprendeu, num determinado momento da vida dele, o ofício de alfaiate, ele era um bom alfaiate. Já chegando à adolescência, eu sonhava em ser atriz e marinheira. Atriz, porque via as revistas e me colocava na pele das artistas. Marinheira não sei bem o porquê. Talvez porque os navios me fascinassem, creio que fascinam todas as crianças, ou me induzissem a acreditar que num deles eu rodaria mundos. O mar exerce imenso fascínio em crianças sertanejas. Quando, nas noites de nossas casas humildes, eu falava dos meus sonhos, minha mãe ouvia, compreensiva. Meu pai, deitado na rede (como bom nordestino, ele gostava de uma rede e, além do mais, não tínhamos muitos móveis), estranhava meus sonhos. Muitas vezes eu o via


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