FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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cinema não está só nessa alienação. Leiam e ouçam os comentaristas esportivos, sempre dispostos a condenar a falta de estrutura do futebol brasileiro, o despreparo dos dirigentes, etc., mas também sempre omissos em relação às desiguais relações de poder do futebol internacional. Nesse particular, Nelson Rodrigues ainda é atual, e o brasileiro continua sendo um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Diante do sinhozinho europeu, só nos cabe submissão e deslumbramento. Enfim, esse parece ser o estágio atual da história do futebol brasileiro. Nascido na elite, foi a duras penas apropriado pelo povo, que, no final de um longo processo, dos anos 1990 em diante, viu-se novamente desapropriado do que conquistara, pelo menos dos seus maiores ídolos, também eles vindos do povo. Um círculo que se fecha. E que poderia conduzir ao pessimismo, não fosse essa uma desapropriação parcial, uma vez que o futebol continua a ser praticado em toda parte, por gente de todas as classes sociais. E, se somos privados do tal futebol de alto nível, que agora se joga alhures e com jogadores saídos daqui, sempre podemos bater a nossa bolinha por aqui mesmo e nos divertirmos e emocionarmos com os boleiros remanescentes. Os que não têm mercado lá fora, ou porque ainda são jovens demais ou porque passaram da idade. Ou porque não têm bola para tanto.

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