FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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também o jogo, introduzido pelo paulistano e filho de ingleses Charles Miller, aqui tornou-se outra coisa, sem deixar de ser o futebol, uma linguagem universal cuja gramática é regida pelas 17 regras estabelecidas pela International Board. O futebol brasileiro é uma variante dessa língua do mundo, acaso a variante mais rica, pelo menos até que os efeitos da globalização econômica começassem a se fazer sentir. Mas esta é outra história. De qualquer modo, essa história do estilo brasileiro é bastante difícil de definir. Todo mundo o reconhece, mas não se deixa apreender em conceitos. Parece com o que disse Santo Agostinho a respeito do tempo: Se não me perguntam, sei o que é; se me perguntam, já não sei mais. Futebol, de João Moreira Salles e Arthur Fontes, passa um pouco por essa questão, mas meio de lado. Pode-se dizer que esses elementos formadores do estilo já se disseminaram pela cultura, e, a cada vez que um menino se inicia na arte da bola, mira-se no jogador famoso de sua época que, por sua vez, é um depositário daquele estilo, cristalizado pelas gerações anteriores. E é nas classes populares, livres da influência das escolinhas de futebol dirigidas à classe média, que essa tradição de pai para filho passa com mais facilidade e naturalidade. Assim, a prática do futebol continua a (re)nascer nas ruas, nos campinhos de terra, nas ladeiras, jogada com uma bola precária e um gol formado

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