FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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calcio florentino que mobilizava multidões e produzia uma legião de feridos ao fim da contenda. Surge o dado econômico, contemporâneo: quem vende mais ingressos do que suporta a capacidade do estádio e assim coloca as pessoas em risco? Os torcedores são ouvidos, mas a voz em off assegura a interpretação final. O torcedor aspira ser invadido pelo jogo, mas, ao mesmo tempo, aprende a se adequar. No seu emprego ele não pode ser independente. E, no estádio, ele quer se confundir com a massa, com o todo. Aqui, como no trabalho, ele não será independente, afirma o narrador. É uma contradição que o documentário flagra, e não deixa de exprimir de forma categórica: o torcedor se afasta da realidade, ao mesmo tempo em que deseja misturar-se a ela, a ponto de perder a identidade própria. Em seguida, o filme historia a escalada da violência entre as torcidas e as medidas que foram sendo tomadas para tentar evitá-la, culminando com a separação dos torcedores nos anos 70. Segundo a narrativa, as torcidas são irreconciliáveis. Elas se unem apenas numa situação: quando têm de se voltar contra a figura da autoridade. O juiz ou o policial. Esse aumento de violência na arquibancada acompanha a crescente brutalidade em campo – o futebol-arte cede espaço para o futebol-força. No meio desse caos em que o jogo da bola está imerso – violência no campo e fora dele,

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