Mas mesmo uma resenha tão favorável quanto a de Ely Azeredo não podia ignorar que o filme passa como gato em cima de água fria sobre um dos episódios mais polêmicos da copa de 1970 – a substituição de João Saldanha, comunista de carteirinha, por Zagallo, às vésperas da competição. Enfim, deter-se nesse ponto poderia ser bastante incômodo num país que vivia sob ditadura militar, em sua fase mais violenta, além de politizar alguma coisa que, em tese, deveria ficar além ou aquém da política – o bom e popular futebol brasileiro e a sua maior expressão, a seleção nacional. 144
Mas até as marquises do Maracanã sabem que não é assim e que não existe esporte mais propenso à utilização política do que o futebol, cuja história, aliás, poderia ser contada seguindo-se a sua apropriação pelos poderosos de cada hora. Da ênfase nacionalista de Getúlio Vargas às metáforas boleiras do presidente Lula, o esporte bretão sempre se prestou muito bem à função de ponte entre governantes e o povo. Digamos assim: o futebol assume o papel de uma linguagem comum entre os de cima e os de baixo. Uma espécie de esperanto social. E aquela seleção de 1970 – eleita em 2005 pelos ouvintes da BBC o mais perfeito conjunto esportivo de todos os tempos – se prestava às mil