FomeDeBola_LuizZaninOricchio

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e estabelecia com eles uma relação semifeudal, paternalista e pouco profissional. Mas também não é negligenciado o fato de que a paixão do futebol leva o torcedor à loucura e o distrai da condição de explorado social. O futebol é, de um lado, visto como espetáculo proporcionado por profissionais; de outro, como dispositivo de catarse e de conformismo social. Nessa estrutura, jogador e torcedor seriam verso e reverso da mesma moeda, ambos partes fracas de uma estrutura capitalista que os explora, de maneiras diferentes, porém complementares.

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Como acontecia com Garrincha, também em Sub­ terrâneos algo escapa a esse dispositivo analítico tão bem calibrado. E o que escapa parece muito claro quando depois ficamos sabendo do amor de Maurice Capovilla por esse esporte, que praticou seriamente, a ponto de quase se tornar atleta profissional, como o leitor poderá conferir em sua entrevista na parte final do livro. Então, a estrutura do documentário é bastante complexa: há, sem dúvida, o discurso sociológico. Mas há, também, a pura curtição do jogo. As cenas iniciais são muito plásticas e enfocam amorosamente o contato dos jogadores com a bola. O som de fundo é do berimbau e remete a uma das interpretações correntes sobre a origem do estilo brasileiro – a influência da dança e da capoeira sobre a plástica dos movimentos dos jogadores.


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