Ponto Final 24

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Projeto Experimental dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da UNIMEP

Sábado, 17 de novembro de 2012

Ilustração: Rodrigo Harder

Fortunato Losso Netto 1910 - 1985

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MUNDOMÍDIA JORNALISMO

SOCIEDADE

RÁDIO

PRIVACIDADE

EDUCAÇÃO

Excesso de informação marca sociedade contemporânea e desafia produtores de conteúdo

Ícone do século XX, TV se moderniza, mantém influência e dita comportamentos

Sintonia AM conserva proximidade entre os radialistas e seus ouvintes

Facebook cresce no país, mas receio de exposição afasta muitos usuários

Formação cultural amplia participação e potencializa acesso à cidadania plena

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Tecnologia e Ambiente Digital

Paulo Roberto Botão *

Belarmino Cesar Guimarães da Costa *

orma e conteúdo são, cada vez mais, faces de uma mesma moeda e a sua perfeita combinação consiste desafio para aqueles que hoje atuam como produtores de mensagens e, no final das contas, batalham a cada momento pela atenção do público. O acesso à informação foi potencializado por tecnologias sofisticadas e ao mesmo tempo fluidas, de interface intuitiva, e este movimento incita produtores de conteúdo relevante a aprimorarem os seus processos de leitura da realidade. Somente deste modo a comunicação que produzem irá agregar conhecimento a ajudar as pessoas a compreenderem o mundo. Neste contexto, o jornalismo mantém vitalidade, reinventa-se, busca novas práticas e formatos, mas esforça-se sobretudo para manter sua identidade. A atividade jornalística não pode sucumbir no mundo das aparências, pois se nutre da capacidade justamente de ir além da superfície, de atribuir sentido aos fatos, de mostrar suas implicações para a sociedade e de avaliar estes fatos em perspectiva. Os novos meios de comunicação e os novos espaços de interação, por seu lado, exigem também do jornalismo novas formas de narrar, que incorporem os novos paradigmas de pensamento do mundo contemporâneo. Novos conteúdos, portanto, implicam também novas formas, pois os espaços de vida são cada vez mais espaços de comunicação, relacionamento e convivência. Novas esferas públicas, definidas pelo mundo digital, sugerem novos modos de pensar e comunicar. Esta 24ª edição do Ponto Final trata destas reflexões, a partir da aproximação com faces deste mundo informativo e digital hoje (re)configurado. E as reportagens abordam fenômenos recentes e ainda a serem melhor explicados, como as mídias sociais, e suportes consagrados como a televisão e o rádio. Também exploram o debate sobre o futuro do próprio jornalismo e avaliam o potencial formativo da cultura. Num contexto em que forma e conteúdo se articulam, aprofunda-se também nesta edição a cooperação entre os estudantes de Jornalismo e Design Gráfico da Unimep. Os resultados são páginas enriquecidas em suas mensagens e que estimulam a reflexão sobre os temas apresentados.

inha viagem e aventura pelos (des) caminhos da vida têm início no ano de construção do Muro de Berlim e quando Iuri Gagarin se tornava o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, portanto época de representações contraditórias: uma associada ao aprisionamento, à separação, às cercas da intolerância étnico-racial e cultural; outra metaforicamente expressando o alargamento das possibilidades do deslocamento para lugares inimagináveis e com a condição de expandir as noções de territorialidade e de pertencimento. As duas passagens percorrem memórias de uma época de encanto pela tecnologia e de suspeita sobre o fato dela necessariamente produzir condições de esclarecimento. De 1961 para cá, a humanidade se encontra nas fronteiras entre transformar positivamente os conhecimentos científicos em força para criar a fissão nuclear e melhorar as condições de vida; ao mesmo tempo, depara-se com o enriquecimento do urânio e crianças nuas fugindo das bombas de napalm, como nas tristes imagens da Guerra do Vietnã. Em cinco técnicas, a tecnologia foi capaz de modificar as condições de transportes, comunicações e a maneira como se organiza o trabalho, a esfera do lazer e do entretenimento, sendo este demarcado pelas superexposições das sensações e imagens. Contudo, ainda Chaplin, com seus “Tempos Modernos”, nos convida a pensar sobre a dissonância entre o trabalho industrial, monótono e sem criatividade. A metáfora no filme é da condição humana que se forja quando a liberdade e a expressão deixam de ser cultivadas como dimensões ontológicas e formativas.

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* Coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep

EXPEDIENTE: Ponto Final: Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Reitor: Clóvis Pinto de Castro – Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães de Costa. – Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão – Orientador e Editor Responsável: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585). Repórteres: Ana Carolina Miotto, Antonio Corazza Netto, Fernando Galvão Pellini, Laura Cerri Tesseti e Sabrina Dilio Franzol. Produção Gráfica e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico). Ilustrações: Rodrigo Harder (Capa e Página 2), Alexandre Polastri Neto (Página 3), Fernando Bueno e Giovana Gilberti Palermo (Página 4), Érico San Juan (Página 6) alunos do Curso de Design Gráfico da Unimep, sob orientação do professor Camilo Riani. Versão digital: soureporter.com.br. Correspondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rodovia do Açúcar, Km 156 – Caixa Postal 68 – Telefone: (19) 3124.1676 – E-mail: prbotao@unimep.br – Impressão: Jornal de Piracicaba.

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Sintonia com as novas linguagens e tecnologias de comunicação. Compromisso com a ética e a qualidade da informação.

Lab. Plan. Gráfico/Serginho - Foto: Thiago Barros

Jornalismo Unimep Acesse nossos sites: unimep.br/jornalismo soureporter.com.br jornalunimep.blogspot.com.br

Curso avaliado com 4 estrelas pelo Guia do Estudante e Conceito 4 no Enade/MEC.

Informações: (19) 3124.1676 prbotao@unimep.br

escrita e da descoberta de meios de reprodução audiovisual, como no cinema e na televisão, hoje vivemos uma profunda transformação nas formas de pensar e de relacionamento humano, não só em termos de processamento de conteúdos e de sua armazenagem, mas nas condições de memória, imaginário, complexidade sensório-intelectiva, e ainda nas formas de produção, distribuição e consumo de produtos culturais industrializados. Ainda é incerto se o aprimoramento ético-moral e a condição formativa do homem evoluíram com a mesma velocidade e transformações no campo das sensações. Nos anos sessenta, um pensador visionário, Marshall McLuhan, sustentava a hipótese - hoje plenamente percebida - de que os meios de comunicação criam uma aldeia global e que se postam como suportes de extensão sensorial do homem, fazendo com que houvesse mudanças na ordem do pensamento, da memória, da imaginação. As rupturas provocadas na experiência e na forma de relatar e tecer a vida, ainda mais quando a velocidade se torna um imperativo nas relações de produção, sociabilidade e nos momentos de tempo livre, geram tensões entre gerações, lugares e civilizações. Aqueles que percorreram no tempo as transformações tecnológicas, e que não nasceram com as habilidades aparentemente naturalizadas das novas gerações, são tidos como “migrantes digitais”: seres lendários e inconformados, cujo dilema é existir integrado a um mundo permanentemente outro a cada atualização de página. Ilustração: Rodrigo Harder

Forma, conteúdo e atenção na mídia

Sábado, 17 de novembro de 2012

Há pouco o termo tecnologia foi utilizado como sujeito que é capaz de modificar estruturas e vidas humanas com o propósito de demarcar que silenciosamente seu uso foi sendo naturalizado na sociedade. Não se pode perder a condição de que a tecnologia é um objeto produzido e que decorre de necessidades humanas historicamente forjadas pelas contradições econômicas, sociais, culturais, e também demarcadas pelos traços de época e das civilizações. Na tecnologia não está apenas o componente funcional. É preciso extrair dela, desde sua concepção e uso, as dimensões éticas e ideológicas. Ou seja, um objeto que foi criado para vigiar e controlar em momentos de conflitos e de guerras, quando utilizado em outro contexto, ainda atua em suas demarcações de origem. Assim se dá com a computação e a Internet, e com toda transformação tecnológica de passagem do mundo analógico/tipográfico/eletrônico para o espectro da digitalização da informação que, nas últimas cinco décadas, transformaram as condições de trabalho, lazer e entretenimento. É sensato imaginar que, a exemplo da

* Belarmino Cesar Guimarães da Costa, Jornalista e Diretor da Facom/Unimep


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Sábado, 17 de novembro de 2012

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É MUITO SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO PROVOCA A SENSAÇÃO DE QUE É POSSÍVEL SABER TUDO E, AO MESMO TEMPO, NÃO SABER NADA Sabrina Franzol

sabrina_franzol@hotmail.com

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le lê diariamente dois jornais de Limeira, cidade onde mora, e os matutinos O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Acessa a rede social Twitter, busca informações em portais de notícias como G1 e R7 e, para acompanhar os bastidores políticos da ‘capital da laranja’, recebe SMSs (sigla em inglês para “serviço de mensagens curtas”) de amigos. Esta é a rotina de Pablo Augusto Biazotto, estudante de direito de apenas 20 anos. E tem mais. Todas as manhãs, antes de sair de casa, e à tarde, antes de ir à faculdade, ele assiste ao canal de notícias Globo News. “Por mais que eu saiba que, geralmente, tudo que assisti no início do dia verei novamente no fim da tarde, não consigo ficar sem. Quando não tenho tempo de assistir, fico chateado, parece que não estou completo, que estou desinformado. Acho que é medo de não ficar sabendo de alguma coisa, podemos dizer que sofremos bullying se não estamos antenados com o que está acontecendo no mundo”, diz Biazotto. Parece loucura? Ele discorda. “Acho que nunca fiz loucuras para me informar. No máximo, fico acordado, aguardando a atualização do site do Jornal de Limeira”, conta o rapaz, que se admite nomofóbico – o termo vem do inglês nomophobia (junção de no+móbile+phobia) e designa pessoas que ficam angustiadas quando estão sem conexão móvel. Mas Biazotto é apenas um dos quase 7 bilhões de pessoas que vivem na chamada Sociedade da Informação ou Sociedade do

Conhecimento, expressões que surgiram no fim do século 20 e nasceram com a globalização. Nesta era, a informação flui em velocidade e quantidade jamais imaginadas. Devido ao avanço tecnológico, há aceleração nos processos de produção e de difusão dos acontecimentos e múltiplas possibilidades de se informar. Além dos meios tradicionais, como TV, rádio, revistas e jornais impressos, hoje existem os chamados dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Todas estas mídias concorrem pela audiência e tempo das pessoas. A atenção depositada aqui, agora, na leitura deste jornal, pode estar dividida, por exemplo, com o noticiário da TV que, além das notícias apresentadas pelos âncoras, traz, em letras menores e na parte inferior da tela, mais notícias. Outra “vítima” da Sociedade da Informação é o engenheiro agrônomo e professor aposentado Evaristo Marzabal Neves, 71. Ele consulta três jornais diariamente, lê revistas técnico-científicas, assiste telejornais e acessa sites como o UOL (Universo On Line). “Do jornal, o que me interessa para atualização de disciplinas faço clipping. Eu dependo da informação, por isso, se algum dia eu ficar sem ela, ficarei parado no tempo”, afirma. A mestranda em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde, Carolina Lopes Zanatta, 26, também busca se atualizar constantemente. “Hoje em dia, na velocidade em que as coisas acontecem

e se disseminam, é imprescindível se manter informada. Todas as manhãs leio as principais notícias disponíveis no jornal Folha Online. Acesso, também, sites com notícias da minha área de atuação, como o Saúde Business Web. Além disso, todos os dias leio religiosamente o Blog do Reinaldo Azevedo, que faz análise crítica sobre as principais notícias em destaque”, conta ela, que, semanalmente, lê, ainda, (sobra tempo?) a revista Veja e, quinzenalmente, a revista Exame. “Hoje em dia, você consegue acesso à internet em muitos lugares. Portanto, só não se informa quem não quer”, diz. Todas essas facilidades, segundo a psicóloga Keise Guarnieri, criam nas pessoas a necessidade de sempre estarem “antenadas”. Ela explica que, quando alguém faz um comentário sobre um assunto qualquer e o interlocutor não está sabendo dos fatos, logo aparece a pergunta: nossa, como você não sabe? Em que mundo você vive? “Para não passar por esse ‘constrangimento’, as

pessoas se sentem obrigadas a saber tudo o tempo todo e, com isso, criamos um novo vício, o vício da informação. Se, por algum motivo a pessoa precisar ficar distante das notícias por um período, ela sofre. É uma verdadeira crise de abstinência”, comenta. É isso o que confirma a também psicóloga Thais Barros, pesquisadora do Cidade do Conhecimento, grupo da ECA /USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), que estuda o uso da tecnologia a favor da construção do conhecimento. “Cria-se uma falsa ideia de completude,

que te leva a uma expectativa de dar conta de tudo de maneira muito intensa. Quanto mais eu possuir informação, mais vou estar atualizada. Mas isso é ilusão, porque o ser humano sempre tem mais para conhecer. O problema é que essa cobrança tira a pessoa do eixo e acaba deixando-a frustrada, com sentimento de incompetência”, explica. Sabrina Franzol

20 minutos para...

DICAS PARA CONTER A ANSIEDADE DE SE INFORMAR

Jornais impressos se adaptam, mas mantêm princípios do bom jornalismo O que você faz em 20 minutos? Dá para ler um jornal durante este tempo? A resposta é sim. Pelo menos, é isso o que promete o tablóide sueco Metro, de distribuição gratuita que, hoje, é lido em mais de 20 países, inclusive no Brasil, onde existe desde 2007. E o Metro não está sozinho, afinal, a competição é acirrada. Na disputa por espaço e leitores, o jornal impresso, o mais antigo e tradicional meio de informação jornalística, precisa criar diferentes estratégias para alcançar o destaque desejado diante da TV, do rádio e dos portais de notícias. “Hoje, o que nós buscamos nas pessoas é a atenção delas. O nosso principal concorrente é tudo o que

a pessoa pode fazer em 20 minutos, como comer um sanduíche, tomar um banho. E a idéia do Metro é a de ser um jornal conciso, porém não superficial, que possa ser lido de ponta a ponta em 20 minutos”, diz o diretor de redação do diário, Fábio Cunha. Ele acrescenta que o desafio do jornal impresso, diante da tecnologia, é avançar nas histórias, trazer personagens, opiniões dos leitores e análises. “É mostrar um viés que ninguém viu ou falou sobre o assunto”. A Folha de S. Paulo, um dos jornais mais influentes do Brasil, tem a Folha Corrida, página na qual é possível saber, em poucos minutos, os assuntos tratados na edição do dia, como se fosse um breve passeio pelos fatos. “O

Ser “bombardeado” pelas mais variadas informações, segundo a cientista social Dora Tedrus, só é benéfico quando comparado a tempos anteriores. “Os benefícios existem em relação a gerações passadas, que demandavam muito tempo para saber aquilo que, hoje, é possível acompanhar no mesmo momento em que ocorre”, diz.

Como conter a ansiedade diante deste mundo que não reserva tempo para atividades diferentes de consumir informações? Confira as dicas da psicóloga Keise Guarnieri • Estipule uma rotina para se informar • Imponha limites a você • Selecione as notícias/ informações imprescindíveis • Anote as informações que julgar necessárias para uso posterior

objetivo da página é oferecer ao leitor uma leitura rápida do jornal, com os destaques da edição do dia”, confirma Suzana Singer, ombudsman do matutino. Por outro lado, o jornal O Estado de S. Paulo aposta em matérias mais aprofun-

dadas, textos maiores, com o intuito de produzir conhecimento. Segundo Lourival Sant’Anna - autor de O Destino do Jornal e repórter d’O Estado - na Sociedade da Informação, o papel do jornalista é dar as notícias e organizá-las por grau de

importância. “As pessoas têm pouco tempo para dedicar à informação. Então, quando elas vão se informar, elas querem, primeiro, que a informação seja verdadeira, que esteja completa, que faça sentido e que seja o mais importante”, explica.

• Nos fins de semana, quebre a rotina. Fique longe do celular, da internet • Entenda que você não é obrigado a saber tudo o tempo todo. Se você não estiver por dentro do assunto, diga sem medo: “Não fiquei sabendo. O que foi que aconteceu?”


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Sábado, 17 de novembro de 2012

Antonio Corazza

tonycorazza@gmail.com

H

á quase 80 anos era realizada na Europa, a primeira transmissão televisiva. No Brasil, o debut aconteceu na década de 50, com a estréia da extinta TV Tupi e, mais de meio século depois, a TV continua sendo um dos maiores, senão o mais poderoso meio de comunicação de massa do mundo, capaz de influenciar a opinião pública, transmitir debates e ideias políticas e promover ações sociais benéficas à sociedade. O veículo informa, dita moda e estabelece novos comportamentos. Apesar da internet crescer cada vez mais e ocupar o tempo e atenção das pessoas, a televisão mantém seu prestígio e também amplia seu alcance. O serviço de televisão por assinatura é um exemplo de como a TV cresce e vem atraindo cada vez mais consumidores. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) essa modalidade chegou, em setembro de 2012, a 25,5% das residências brasileiras e a aproximadamente 50 milhões de pessoas. Em um período de 12 meses o número de assinantes cresceu 305%. Pesquisa realizada este ano pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Publica e Estatística) mostra que o brasileiro assiste em média 5 horas e meia de televisão por dia em 2012; 10 minutos a mais que em 2010 e 20 minutos a mais que em 2009. Desde o ano passado a pesquisa mostra que todos os segmentos etários e econômicos mostraram aumento no tempo de permanência com o televisor ligado. O tamanho da influência do meio sobre as pessoas, entretanto, divide a opinião de especialistas. O psicólogo Neto Guidotti explica que existem pessoas que são mais, menos ou nem um pouco influenciadas pela televisão. Um homem que possua boa informação, seja emocionalmente equilibrado, seguro e tenha um bom nível de satisfação pessoal, pode assistir e não se influenciar com o que vê. “Há casos em que a utilização da TV é apenas para assistir filmes e nada mais. O mesmo acontece com o público fanático por documentários e assim vai”, observa.

O PODER DA

‘TELONA’ EM TEMPOS DE TECNOLOGIA E MUITAS ‘TELINHAS’, TV MANTÉM INFLUÊNCIA Ricardo Gonçalves

Folha de S. Paulo, um dos jornais mais tradicionais do país, inova ao investir em um programa de televisão, o TV FOLHA, exibido na TV Cultura

Jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense, Felipe Pena diz que no passado, quando não havia internet, talvez a TV alienasse as pessoas. Hoje, Tony Corazza

Novos aparelhos de TV, modernos e inovadores, seduzem os consumidores

acha mais difícil, embora ainda possa produzir distorções. “Mas as empresas são organizações profissionais. Sabem que dependem do público”, explica. Guidotti chama a atenção para outro aspecto, o da exposição de determinados estilos de vida. “Podemos observar o número de programas mostrando a vida de pessoas milionárias, mostrando um estilo de vida que enche os olhos de quem assiste”, alerta. E também manifesta outra preocupação: “Em relação à política, a TV é um grande formador de opinião, uma rede de massa pode eleger um candidato, por exemplo, como aconteceu com a eleição onde Collor foi eleito. Não acho esta situação benéfica,

pois sempre atende às necessidades de uma minoria que detém o poder”, avalia Guidotti. O sociólogo e crítico de mídia Jefferson Goulart concorda e destaca a importân-

cia de que a TV seja mantida com autonomia em relação às esferas de poder político e econômico. Na sua opinião, uma mídia livre e pluralista ajuda a democracia. “Ela contribui para um ambiente de livre circulação de idéias porque exprime a diversidade de opiniões que compõem o universo social”, diz. Mas, ele defende políticas de regulação. “No caso da radiodifusão, contudo, como se trata de um bem público (uma concessão do Estado), é preciso haver, sim, determinado grau de regulação, isto é, políticas públicas que, no caso brasileiro, respeitem os princípios constitucionais da liberdade e da complementaridade entre os sistemas estatal, público e comercial”, completa. Uma lista divulgada este ano no site do Ministério das Comunicações intitulada como “caixa preta” revelou que em 2011 56 congressistas eram sócios ou tinham parentes em emissoras de radio e televisão. O fato se explica, em grande medida, segundo Felipe Pena, por uma política de concessões televisivas que é herança do governo do presidente José Sarney que além de sócio da Rede Mirante de Televisão do estado do Maranhão (afiliada a Rede Globo e outras emissoras) distribuiu canais em troca de apoio no congresso. Comportamento Existem casos em que as pessoas, através das mini-series, novelas, programa de auditórios e propagandas modificam seu comportamento e personalidade. “Até mesmo a estética, como

Pais, filhos & televisão Confira as dicas da pedagoga Márcia Marcos para os pais orientarem os filhos em relação à TV • Estabelecer que o horário de estudo é prioridade • Não permitir a realização de tarefas e estudo escolar com a TV ligada • Escolher programas adequados à idade dos filhos • Sempre que possível, assistir programas junto com os filhos e conversar sobre o conteúdo visto

deve ser o corpo da mulher, é algo que a mídia determina”, salienta Guidotti. E em geral, o que a mídia sugere é impossível, afirma o psiquiatra e professor colaborador da USP Taki Cordás, especialista em transtornos alimentares. “Existem coisas que sugerem essa influencia como a maciça propaganda de ideais de beleza e corpo ideal que faz com que muitas mulheres e meninas queiram se encaixar nesse modelo, o que só alcançado com prejuízos físicos e emocionais” explica o especialista. Cordás não acredita num efeito direto, mas na complementação desse estimulo de comunicação em pessoas com traços prévios de insatisfação corporal, depressão e ansiedade. “Ou seja uma conjunção de genética e aspectos biológicos, familiares e mídia”, afirma A atriz Dayenne Mesquita, da Rede Globo, que interpreta a personagem Stela na novela Cheia de Charme), explica que se preocuparia com os efeitos de uma personagem que interpretasse somente em casos mais graves, que envolvesse por exemplo apologia a alguma coisa que ela não concordasse ou transmitisse uma imagem ruim. Na sua opinião, a TV é um veículo de muito poder e as emissoras deveriam se preocupar um pouco mais em que tipos de programas que produzem, pois muitos que menosprezam a inteligência do público e vulgarizam certos temas. “Os personagens que fiz e as obras que participei sempre foram ‘politicamente corretos’, nunca fui convidada para um papel em que eu precisasse analisar essa questão. Mas se isso acontecesse me preocuparia sim e isso poderia fazer com que eu não aceitasse participar de uma obra”, completa Dayenne. Diante destas questões, limitar o tempo que crianças e adolescentes passam em frente à televisão é importante. A pedagoga Márcia Marcos explica que as crianças não separam o que são fantasias e o que é realidade e, por isso, o cuidado por parte dos pais é essencial. Além disto, segundo a pedagoga, há diversas pesquisas que relacionam o tempo gasto em frente ao aparelho com sintomas como obesidade e baixo rendimento escolar. O assunto também preocupa os telespectadores como a nutricionista e mãe de dois filhos, Adriana Daibes. Ela acha importante saber o que seus filhos estão assistindo. “Não vejo problema em meus filhos assistirem televisão. Apenas acho errado algumas mães permitirem crianças e pré-adolescentes assistirem programas adultos, como novelas e filmes violentos. Se isso for controlado, a verdadeira educação quem transmite é a família”, opina.


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Sábado, 17 de novembro de 2012

FIÉIS

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COMUNICADORES POPULARES MANTÉM TRADIÇÃO NO RÁDIO AM

COMPANHEIROS Fernando Galvão Pellini fpellini@gmail.com

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rádio AM piracicabano possui história, tradição e já revelou nomes de conhecidos comunicadores brasileiros. Léo Batista (Globo), Francisco Milani (Escolinha do Professor Raimundo) e Carlos Nascimento (apresentador de telejornal), fazem parte deste elenco de notáveis do cenário nacional que passaram por aqui. A sintonia AM conserva ouvintes fiéis na cidade e mesmo sofrendo queda constante de audiência nas últimas décadas, graças à concorrência da TV e da internet, o rádio piracicabano mantém o estilo, conta com comunicadores diários e com audiência fiel. Exemplo desta audiência cativa é Dona Maria Pompermayer, 88 anos, que mantém seu vínculo e confiança nas informações que ouve no rádio. “Escuto todos os dias. Ligo de manhã e fico informada de tudo. Não troco o rádio pela televisão”, diz. Ela garante que não perde um programa do Titio Luiz, da rádio Educadora. Comunicadores como Titio Luiz, aliás, têm papel destacado na formação da sociedade. Muitas vezes são porta-vozes da comunidade, orientadores em decisões importantes, enfim, pontos de referência e exemplos a serem seguidos. Titio Luiz Aos 65 anos, Luiz Antônio Copoli é um homem do rádio. Reservado, Titio Luiz, como é conhecido, explica porque não gosta de tirar fotos: “Acho que perde a magia, mas quando me pedem não consigo dizer não”. O radialista começou a carreira quase por acaso. No início da década de 70, fazia leituras nas missas do monsenhor Jorge Simão Miguel, na Vila Rezende. Os proprietários da Rádio Educadora, Ana e Jairo Mattos, frequentavam a igreja, gostaram da voz e convidaram o então torneiro mecânico da Metalúrgica Mausa para fazer um programa infantil. Titio Luiz diz que o rádio AM de hoje em dia é Roberto Moraes mescla a vida política com trabalho diário no rádio AM

Fotos: Fernando Galvão

lamentável e que a audiência é muito pequena e não se renova. Segundo ele, o formato do seu programa vai acabar quando ele parar. “Por mim já tinha parado de trabalhar, só faço pelos meus ouvintes que são fiéis e pela Dona Ana que muito me ajudou”, comenta. Mesmo com todos os problemas, o prazer de sentar em frente ao microfone e falar para seus ouvintes persiste. Para ele, o comunicador tem uma responsabilidade muito grande. “Quantas vezes já me falaram que eu salvei uma vida pelas minhas mensagens. Isso é muito gratificante”, conclui. Roberto Moraes Diferente do Titio Luiz, Roberto Moraes, sempre quis fazer rádio. Desde criança, quando morava no bairro do Recreio, em Charqueada, ficava na mercearia do pai usando as latinhas de extrato de tomate como microfones. Em 1977, teve o sonho realizado e foi trabalhar na Rádio Difusora de Piracicaba. Tempos depois transferiu-se para a Rádio Gazeta, em São Paulo e por lá ficou até o retorno à Piracicaba, em 1985. Motivado a ingressar na vida política, voltou para a Rádio Difusora. Eleito duas vezes para vereador e três para deputado, ele cita o veículo de comunicação como um dos responsáveis por sua vida política. “O rádio me deixou conhecido e me deu credibilidade. Foi consequência de um bom trabalho de comunicador, que precisa destas características para ter sucesso”, explica. Moraes afirma que o rádio AM de hoje não é como antigamente e que a chegada da FM mudou ainda mais o panorama. “Rádio era muito romantismo. Hoje é fácil fazer. Pouco se vê repórter na rua, grande parte está na frente do computador. Na minha opinião, repórter bom é aquele que pesquisa e vai atrás da informação”, ressalva. Segundo Moraes, a tradição do rádio AM de Piracicaba ainda garante boa quantidade de ouvintes. “A digitalização pode melhorar

Titio Luiz (acima), lamenta a queda da qualidade do rádio AM; Garcia e a filha Lucilene (direita), dona da voz de um dos jargões mais famosos do rádio piracicabano

muito o panorama. A qualidade do som da AM pode ser de FM e vai crescer a demanda por notícias. No esporte temos uma renovação, pois os jovens nos ouvem e a divulgação da notícia regional tem espaço a qualquer hora”, finaliza. Garcia Natural de São José do Rio Preto, Domingos Roberto Garcia, 78, viveu muitas aventuras até se aposentar há cerca de dois anos. Foi pasteleiro, guarda noturno e empregado doméstico, mas sua vontade sempre foi a de ser cantor. No início da década de 50, Garcia deixou a família no interior e foi tentar a

vida na cidade de São Paulo. Sem profissão e semianalfabeto, teve um início complicado. Graças a amizade que fez com funcionários da rádio Tupi, conseguiu espaço para se apresentar, como convidado, nos programas da emissora. Sua vida mudou no dia em que ele e seu companheiro de dupla, Zé Matão, foram até o programa Capitão Furtado, da Rádio Bandeirantes. “Eu e o Zé Matão cantamos e o diretor da Phillips estava ouvindo, gostou da nossa dupla e nos chamou para gravar um disco”, conta. Consolidava-se a dupla Garcia e Zé Matão, que teve 33 discos gravados e muitos sucessos

Aos 88 anos, dona Maria não abandona a companhia do rádio

até hoje lembrados. A vida de radialista começou em virtude do falecimento de seu filho. “Fiquei muito triste e não conseguia mais cantar e só chorava. Não tinha mais aquela alegria e decidi largar tudo e ir embora”, lembra. Garcia conheceu Piracicaba através do amigo e empresário piracicabano Jaime Pereira, que o levou até a Difusora e o apresentou ao seu proprietário, José Soave. Quando ficou sabendo da história de Garcia, e da dupla com Zé Matão, não pensou duas vezes em contratá-lo. “Comecei com o programa diário ‘Uma viola na cidade’, das 17 às 19 horas e quatro meses depois estava fazendo também

o ‘Rancho do Garcia’, das 4 às 7 horas, e este foi um grande sucesso”, afirma. O radialista também trabalhou nas rádios Educadora e Brasil (Santa Bárbara D’Oeste) e encerrou sua carreira na Onda Livre AM. “Garcia fala as horas” é um dos jargões gravados pela sua filha Lucilene, quando ela tinha dois anos de idade. Ele lembra que a ideia surgiu naturalmente. “Não gostava de ouvir locutor de rádio que não falava as horas. No rádio você precisa marcar sempre o horário, e minha filha gravou esta frase, que entrou para história de Piracicaba e região”, comemora. Sobre a rádio AM, Garcia afirma que nunca acabará, mesmo com a diminuição da audiência. “Com certeza mudou para pior a qualidade do que é transmitido, mas como prestação de serviço, a AM ainda é muito forte, principalmente em Piracicaba”, avalia.

Novas plataformas abrem caminhos Muito se discute sobre o que irá acontecer com a rádio AM, que segundo pesquisa do Ibope realizada em agosto deste ano, sofre queda de audiência gradual. Profissionais desta modalidade admitem o fato. “Hoje não temos o mesmo público de antes. É clara a queda que vem tendo o rádio AM”, afirma o radialista da Educadora de Piracicaba, Mário Luis. No entanto, pesquisadores de comunicação possuem opiniões divergentes sobre o tema.

Para a jornalista Maria Elisa Porchat, ombudsman da Rádio Bandeirantes durante cinco anos, o rádio ainda tem seu espaço perante o público e as novas tecnologias como tablets e smarphones ajudam o veículo a se propagar. “O rádio AM está na internet e, com isso, ganhou uma nova característica: a interação com o público, que participa desde a pauta até a transmissão no estúdio. Essa interação não se vê só no rádio, mas em todos os outros veículos, mas nele, com a rapidez que

se tem, é mais sentida. A participação do público veio firmar ainda mais o papel do rádio como o grande aliado da população e essa característica tende a aumentar no futuro”, avalia. Já para o professor Adolpho Queiroz, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a televisão marcou o início da queda do rádio AM. “Com a TV, a mudança no modo de receber a informação e de se divertir mudou muito. O rádio não se atualizou e continuou com o mesmo for-

mato de músicas, jornalismo e esporte. Desta forma, o público fiel do rádio migrou para TV”, explica. O panorama deverá sofre alterações com a era da digitalização do rádio e da TV, e a previsão é de que isso ocorra já em 2013. A mudança vai exigir adaptação e apresentar novos desafios ao setor radiofônico e para o rádio AM a melhoria na qualidade de som e inserção das novas tecnologias tendem a ser alternativas para que ele não caia no esquecimento.


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Sábado, 17 de novembro de 2012

HÁ VIDA FORA DO facebook UMA EM CADA SETE PESSOAS DO PLANETA TEM UM PERFIL NA REDE. PORÉM, AINDA HÁ AQUELES QUE RESISTEM

E

pesquisa realizada pelo Cetic (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação), no Brasil 70% das crianças e jovens entre 9 e 16 anos têm um perfil em alguma rede social. Porém, mesmo entre os

adolescentes, há aqueles que sofrem com a exposição. Os números mostram que, das crianças que recentemente passaram por alguma situação ofensiva, 47% disseram que isso se deu via internet. O estudante Felipe Pe-

Jovens que tiveram contato com estranhos pela internet

Alessandra divulga seu trabalho no Facebook, mas evita exposição de sua vida pessoal

89%

Tipos de informações compartilhadas pelos jovens no perfil da rede social

69% 57%

12% 23% 65%

reira Milão, 15, integra os 30% dos jovens brasileiros ‘não conectados’, depois de, recentemente, deletar sua conta no Facebook. Os motivos foram vários, mas o principal está ligado ao problema da privacidade. “Não me considero uma pessoa tímida, mas reservada, e não me agrada a forma como, nas redes sociais, a exposição da vida íntima das pessoas é grande”. O rapaz afirma que quando criou o perfil gostava, mas com o tempo perdeu o interesse. “As pessoas postavam coisas irrelevantes na maioria das vezes. Isso tirava a minha atenção quando eu deveria estudar ou fazer trabalhos da escola”, observa. De acordo com o psicólogo Vitor Muramatsu, pesquisador da USP, a preocupação com a exposição excessiva é relevante. “Restringir dados pessoais é uma tarefa propositadamente dificultada. A era digital impõe compartilhamento total em tempo real”, afirma. Segundo pesquisa que desenvolveu no Instituto de Psicologia da USP, a revolução digital imprimiu grandes mudanças na ma-

Divulgação

ra uma manhã normal, como qualquer outra, quando o jornalista Alexandre Matias, editor do Caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo, foi checar, como sempre, suas atualizações no Facebook. Para sua surpresa, o portal havia desativado sua conta. Após alguns segundos de pânico, Matias passou a refletir sobre como seria sua vida sem a rede. O resultado do conturbado dia foi um artigo em seu blog, no qual lista motivos para não manter um perfil na rede. Em pleno século XXI, por mais surpreendente que seja, algumas pessoas acreditam que os argumentos listados por Matias são boas razões para não criarem, ou até mesmo deletarem seus perfis no Facebook, que recentemente atingiu a marca de 1 bilhão de usuários ativos por mês. A preocupação com a excessiva exposição da vida íntima é praticamente unânime entre os ‘não conectados’. O esforço para manter a privacidade levou o comerciante Fauze Semaan a proibir seus parentes e amigos de postarem fotos de sua família na internet. Dono de uma rede de lojas no Brás, em São Paulo, ele já recebeu ameaças de seqüestro e tem medo da exposição. “Certa vez, assistindo ao noticiário, vi um seqüestrador contar que consegue informações nas redes sociais para facilitar seus crimes. Não tenho Facebook, não quero que minha filha tenha ou que meus parentes postem fotos nossas”, ressalta. Semaan não está sozinho no grupo dos “desconectados”. Apesar de trabalhar na área de comunicação, Alicia Nascimento Aguiar acredita que a ferramenta não faz falta na sua vida pessoal e em seu trabalho. A jornalista, que trabalhou durante 20 anos na rádio Educativa FM, de Piracicaba, atualmente é analista de comunicação da Esalq/ USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo). “A excessiva exposição na rede é desnecessária”, afirma Alicia, que nunca criou um perfil no Facebook. Seus colegas de trabalho sempre a incentivaram a ter uma página, mas a jornalista recusa. “As informações e fotos sobre a minha vida pessoal ficariam muito expostas. Eu realmente não gosto disso”.­­­ Atualmente, a maior parte dos membros do Facebook são jovens. De acordo com

já tiveram contato

28%

Equilíbrio Além dos xiitas, como Milão, Alicia e Semaan, que cancelam suas contas e não criam perfis no Facebook, há aqueles que tentam fazer um uso “parcial” da rede, sem expor fotos ou dados da vida pessoal. É o caso de Alessandra Blanco. Editora executiva do site IG e apresentadora do programa de TV Cozinha Caseira, no canal Bem Simples, a jornalista mantém há sete anos o blog Comidinhas, cujo conteúdo foi publicado, em 2009, no livro “O Melhor do Comidinhas”. Graças a sua ampla presença na mídia, Alessandra possui mais de 5 mil amigos no Facebook e mais de 200

13%

A comunicadora Alicia não usa as redes sociais e diz que não sente necessidade

Tipo de Configuração 2%

45%

35% foto que mostra o rosto

nome idade completo falsa

sua escola

sua idade

seu seu endereço telefone

Privado - só meus amigos conseguem ver Parcialmente privado amigos de amigos conseguem ver

12%

não responderam

pessoas na lista da espera para serem adicionadas. “Quando um perfil tem mais de 5 mil amigos o Facebook bloqueia e não aceita mais amizades. Descobri isso quando tentei adicionar meu marido e não consegui!”, conta. Foi nesse momento que ela decidiu ‘faxinar’ sua página eliminando os menos conhecidos. “Por causa do blog e do programa na TV as pessoas me adicionam e conversam comigo, me contam suas opiniões sobre o programa. Foi assim que o perfil ficou tão lotado”. Apesar de usar a página com frequência para divulgar as atualizações em seu blog, Alessandra têm receio de postar informações pessoais. “Certa vez um rapaz de outro país me adicionou por causa do blog e do programa. Após alguns dias, ele postou uma montagem com fotos minhas em seu Facebook, me marcando e dizendo que eu era sua princesa. Fiquei assustada, me desmarquei das fotos e bloqueei perfil dele”, relata. Quando sua filha nasceu, seus parentes que moram distante ficaram curiosos para que ela postasse as fotos da menina no Facebook. Porém, Alessandra não postou e não quer que qualquer amigo faça isso. “Fico pensando naquela história da falsa grávida de quadrigêmeos de Itu. Ela roubou o raio-X de um perfil no Facebook. Se as pessoas roubam raios X, o que não fariam com a foto de uma criança?”, argumenta. Seu marido, Ricardo Pieralini, também é jornalista e tem a mesma opinião. Até pouco tempo ele não tinha Facebook, e o criou esse semestre por pressão dos amigos. “Ele também não gosta que postem fotos da nossa filha. Uma amiga veio nos visitar e colocou uma foto dela no instagram, aplicativo do Facebook. Quando ele viu, pediu a ela que apagasse”, conta Alessandra. Ana Carolina Miotto

25%

27%

não tiveram contato

neira como as pessoas vivem. “A velocidade praticamente instantânea da troca de informações e o grande volume de dados acessíveis, a todo momento e em qualquer lugar, aparentemente colocam em xeque o modus vivendi em que as coisas dependiam de um tempo que passava em um lugar com materialidade determinada”, explica. Para Muramatsu, o fato de as empresas rastrearem os dados de navegação dos internautas e, baseados em seus gostos e hábitos, enviar a eles propagandas direcionadas é grave. “O modo como esses dados têm sido utilizados, para oferecer aos navegantes um mundo de consumo alienado, altamente alinhado com seus gostos e preferências e baseados em suas buscas e hábitos de navegação, é um problema ainda mais imperativo nesse contexto”, conclui o pesquisador. A exposição desses dados também preocupa Alexandre Matias. O jornalista afirma que o Facebook se tornou uma máquina de publicidade. “Acredito que, no futuro, acessar o site será como assistir um canal de TV cuja programação é formada apenas por comerciais”, diz.

Público - todos conseguem ver Não responderam

Fonte: Tic Kids Online Brasil 2012/CETIC

Ana Carolina Miotto


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Sábado, 17 de novembro de 2012

7

Fotos: Divulgação/Grupo Auê

FORMAÇÃO CULTURAL É DESAFIO E PODE TRANSFORMAR A VIDA DAS PESSOAS

‘A GENTE NÃO QUER SÓ

Laura Tesseti

Acima, apresentações do Grupo Auê, que privilegia locais públicos e em regiões periféricas de Rio Claro; ao lado, apresentação em praça da cidade divulga produção de crianças

COMIDA’ denadora do FolkComunicação, grupo que estuda os processos de comunicação nas culturas marginalizadas, explica que procura fugir destes rótulos. “Quando falo em diferentes modos culturais, eu procuro fugir das definições estanques de cultura de massa, popular e erudita. Não se pode compreender cultura com essa classificação. Os modos culturais são transculturais, dinâmicos, diversos, simultâneos”, afirma. Participante do Fórum de Tradições Populares de Piracicaba, Filogênio Junior também vê a cultura como base do ser humano. E ressalta a importância do diálogo entre as diferentes manifestações: “A cultura é essencial, o homem não vive sem cultura. Ele só é homem mediante ao estado da cultura. Ela, oriunda dos mais diferentes povos, das mais diferentes produções culturais, precisa ser constantemente dialogada para encontrarmos os diferentes caminhos”. Cultura popular, segundo Júnior, é o conjunto amplo de saberes e fazeres que surgem espontaneamente com o povo. “Muitos dos ensinamentos que temos com pessoas mais velhas, por exemplo, levaremos para nossa vida e isso também é cultura e uma forma de aprendizagem”, ressalta.

Laura Tesseti

laura.tesseti@hotmail.com

Laura Tesseti

“A

gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”, cantam os Titãs na música “Comida”, do álbum “Jesus não tem dentes no país dos banguelos”, de 1987. E o refrão se aplica de forma evidente na sociedade atual, pois mais do que nunca é possível perceber a importância da cultura na formação das pessoas, é possível ver que “bem servida” ela pode mudar a vida de gente de todas as idades e classes sociais. Para Marcelo Rocha, editor de cultura do Jornal de Piracicaba, a cultura tem poder de transformar. “Do ponto de vista humano, o convívio com projetos culturais faz bem para a alma, amplia horizontes de existência, nos torna pessoas melhores, menos pragmáticas e mais sonhadoras e livres. E, claro, também é uma ferramenta poderosa nas áreas de educação, democratização da informação e inclusão social.” O ponto de vista é ampliado pelo maestro Ernst Mahle, alemão que veio para o Brasil ainda muito jovem, para quem a cultura serve para separar o ser humano do animal. “Segundo Thomas de Aquino, o homem situa-se entre o animal e o anjo. Certamente faz a diferença entre o animal e o ser humano que desenvolve religião, arte e ciência”, opina. Mas, tão importante na formação dos cidadãos, a cultura abriga diversidade, manifestações que vão do erudito ao popular e que possuem significados às vezes muito diferentes. Esta pluralidade leva especialistas a tentarem rotular as diferentes vertentes culturais, dividi-las em campos diferenciados e muitas vezes atribuir mais valor a um ou outro tipo de fenômeno. Cristina Schimidt, coor-

Formação Inserir a cultura na formação do ser humano pode ser, segundo educadores e especialistas nesta área, um divisor de águas em relação ao futuro das comunidades e da sociedade. E isso pode ser feito de muitas formas, não somente através a escola e da chamada educação formal. O jornalista Marcelo Rocha cita um exemplo desta possibilidade. “A cultura, enquanto forma de consumo, produção, expressão ou difusão de manifestações artísticas é elemento essencial. Um grupo de rap, por exemplo, pode conscientizar jovens de subúrbio sobre o problema do tráfico de drogas em determinada comunidade ou levar sua mensagem social a outras esferas, por meio do ritmo e das rimas.” Para o maestro Mahle, também é um erro achar que somente a cultura erudita possui esta dimensão educativa. O trabalho, segundo ele, depende do maior contato possível com todas as partes dela. “A cultura que nos é deixada pelos antepassados é um vasto instrumento para nossa formação. Um dos meus professores disse certa vez que o maior gênio tem que percorrer todo o caminho”, diz. Cristina Schimidt avalia a formação das pessoas como forma essencial de incorpo-

ração de expressões culturais. E explica: “Formar-se pessoa é incorporar expressões das mais variadas. De acordo com a participação de cada uma em diferentes grupos, ela pode aprimorar esse arcabouço cultural, incorporando cultura científica e/ou erudita. Portanto, não há formação humana separada da produção cultural, o que existe são formas diferenciadas de cultura”. Em Rio Claro, interior de São Paulo, o Grupo Auê, formado por jornalistas, produtores culturais e artistas, é exemplo desta prática. Busca suprir a necessidade das pessoas através da cultura e levar conhecimento através das artes. “Nós trabalhamos no intuito de produzir e difundir. Realizamos um trabalho de formiguinha, pois acreditamos que é fundamental o contato com esse

universo”, pontua Favari Filho, jornalista, produtor cultural e presidente do Auê. Em Piracicaba, o Fórum de Tradições Populares busca de amplas maneiras retomar e cultivar o que existe de cultura popular na cidade. “O Fórum busca o resgate das tradições que fazem parte da história de Piracicaba, mas que se perderam ao longo do tempo. Muitas destas tradições se perderam porque seus ‘mestres’, pessoas simples, que não têm condições financeiras e muitas vezes nem físicas, devido à idade, de manter (ensinar, apresentar, preservar). E também devido à população mais jovem inebriada por tantas novidades do mundo contemporâneo não se sentir atraída pelas tradições de sua família, seu bairro”, explica Joceli Cerqueira Lazier, integrante do Fórum, diretora do Centro Cultural Martha Watts e coordenadora do Núcleo Universitário de Cultura, da Unimep. Jornalismo A divulgação da cultura através dos meios de comunicação também é importante, pois permite ampliar o alcance das manifestações e do seu significado. Para Cristina Schimidt o jornalismo deve informar de modo abrangente, sem restringir-se à classificação ou ao status. “O jornalismo tradicional abre suas coberturas para culturas Música é a porta de entrada para as crianças no universo cultural

‘marginalizadas’ quando estas já assumem uma posição mercadológica – seja como algo extraordinário, ou economicamente importante. O jornalismo comunitário ou alternativo já tem caráter mais formativo/orgânico e sempre se vinculam às causas as quais pertencem”, analisa. Rocha, responsável pela editoria de cultura do Jornal de Piracicaba, explica que o veículo segue a linha regional e transforma em notícia o que é cultura dentro do município. “O Jornal de Piracicaba, assim como a maioria das mídias distantes dos grandes eixos, das grandes metrópoles, naturalmente trata o jornalismo com uma abordagem mais regional. Ou seja, reporta com prioridade os temas/ assuntos de maior interesse da comunidade local. E no caso do caderno Cultura, especificamente as manifestações que se desenvolvem no município (música, teatro, dança, literatura, artes plásticas e outras possibilidades)”, informa. A cobertura, entretanto, não despreza eventos de repercussão nacional ou internacional e também eventos ligados à agenda do mercado cultural. “Eventualmente, também, tomamos um assunto de interesse nacional — por exemplo, um filme ‘blockbuster’ que vai estrear por aqui ou uma questão de política cultural — e o repercutimos em Piracicaba, junto aos artistas, produtores culturais da cidade, autoridades e ao público consumidor de cultura”, conclui.


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Sábado, 17 de novembro de 2012

Informação de qualidade Sarah Lao

Página 3

Mariana Neves, Ronald Gonçales, Sabrina Franzol, Leonardo Belquiman, Cíntia Tavares, Caroline Solano, Nayara Oliveira e Lucas Calore

Informar-se é imprescindível para o convívio social, mas as novas tecnologias têm despertado nas pessoas uma necessidade extrema de buscar informações. Ler dois jornais, hoje em dia, é para os “fracos”. O ideal na chamada Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento é, além de ler os dois tais jornais, acessar portais de notícias e redes sociais e acompanhar programas jornalísticos no rádio e na TV. É claro que quanto mais informação e conhecimento melhor, entretanto, é preciso que sejam de qualidade, porque só assim contribuem de forma positiva na vida das pessoas. (Sabrina Franzol)

Televisão, jornalismo e serviço público Levar ao público informações necessárias ao exercício da cidadania e garantir, portanto, a informação como direito fundamental, é dever da imprensa enquanto atividade que fortalece a existência de uma sociedade democrática. O que nem todos sabem é que, assim como segurança, educação e saúde, a comunicação também deve ser prestação de serviço. A análise da cobertura jornalística e da sua qualidade informativa, principalmente aquela realizada pela televisão, maior difusora de informação de massa, é legítima quando avalia em que medida o interesse público está presente nela. (Antonio Corazza)

Laís Araújo

Página 5

Luiz Felipe, Fernando Galvão, Vanessa Carvalho, Saulo Neto, Rafaela Gazeta, Felipe Abraão e Vladimir Catarino

Passado, presente e futuro Com tantas tecnologias disponíveis, as plataformas de consumo de entretenimento e informação aumentaram de maneira significativa. Esta ampla gama de opções obriga os veículos de comunicação a cativarem ainda mais o seu público. Este é um desafio também para o rádio, principalmente a sintonia AM, que ainda apaixona seus cativos ouvintes pela sua simplicidade, pela comodidade e pela capacidade de promover o diálogo. O passado do rádio é riquíssimo, o presente marcado por incertezas, e o futuro deverá ser construído a partir da inovação tecnológica e na sua linguagem. (Fernando Galvão)

Thiago Sanchez Gasparetto

Página 4

Em pé: Carla Rossignolli, Suzana Storolli, Arthur Belotto, Cláudia Assêncio, Josiane Joveli; sentados: Ricardo Gonçalves, Tony Corazza e Jackson Rossi

Muito além da diversão Kauê Reis

Página 7

Karina Iório, José Alexandre, Laura Tesseti, Luana Rodrigues, Natalia Goltara e Valéria Spinelli

Tratar a cultura com o propósito de apenas divertir e distrair já não é, há muito tempo, uma prática comum em diversos segmentos da sociedade. A importância de inserções culturais em diversos âmbitos de uma comunidade é amplamente discutida por profissionais da área. E então, por que não usar da cultura como forma de obter conhecimento maior sobre o que somos, de onde viemos e o que fazemos aqui? Inteirá-la na formação do cidadão seja na escola, na comunidade, ou em qualquer outro grupo é a melhor maneira de fazer com que cada um enxergue a importância do segmento. (Laura Tesseti)

Página 6

Michaella Frasson, Ana Carolina, Raphael Justino, Flavia Ribeiro e Angelyca Paiva

Êxodo nas redes sociais Apesar de o Facebook contar com 1 bilhão de usuários ativos, a preocupação com a excessiva exposição tem feito algumas pessoas usarem a ferramenta moderadamente, ou até deletarem seus perfis. A questão nos faz pensar se essas pessoas é que são muito restritivas, ou se realmente a rede está nos expondo demais. Afinal, até que ponto da sua vida íntima você publica no perfil? Em um mundo onde as leis sobre crimes na internet são vagas, é preciso saber para onde estão indo as informações que publicamos e quem pode ter acesso a elas. (Ana Carolina Miotto)


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