Revista Sotaques nº 6 Novembro

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Novembro | 2014 Nº 06 | Gratuito

Carine Zanatta

uma modelo entre Brasil e Portugal

António Granja

O Lado Lunar da Moda

Hugo Bizarro, um profissional que

constrói a sua marca

Atlas Violeta

A União luso-brasileira faz a força na capital das artes

The Black Mamba A picada vital

Rui Pinho

“A moda não é fácil em Portugal”

A moda é um mundo-cão


Editorial Viagem ao coração da moda

que criam as suas coleções ao longo do ano, dos modelos que fazem viagens, produções e desfiles

Na revista Sotaques do mês de Novembro fazemos

intermináveis, dos fotógrafos que se afadigam num

uma viagem ao coração da moda. Sem precon-

corropio entre evento e evento, dos maquilhadores

ceitos, mas também sem favoritismos, procuramos

e cabeleireiros que são essenciais para que tudo fun-

saber como funciona esta actividade que movimenta

cione na perfeição.

milhões de euros, em todo o mundo e, no entanto,

Isto não significa, obviamente, que esta edição só

exibe desigualdades profundas, diferenças sócio-

louve os aspectos positivos. Também mostrámos aq-

económicas gritantes, classes e castas bastante difer-

uilo que é negativo, questionando os seus protago-

enciadas.

nistas sobre o que menos gostam no seu trabalho.

O coração de uma actividade está naqueles que a

A revista Sotaques de Novembro é um espaço de

sentem profundamente. Para o encontrar, afastamo-

reflexão sobre uma actividade que é tão diferente

nos das passarelas, e fomos ao encontro quer da jo-

e, ao mesmo tempo, tão igual a qualquer outra re-

vem geração que procura singrar no mercado, quer

alidade humana. Entrem connosco na realidade da

de profissionais com uma carreira já consolidada.

moda, e saibam mais sobre aqueles que a “ vestem”

Dessas vozes chegará a radiografia da moda em

todos os dias através do seu trabalho e dedicação.

Portugal. A moda a coração aberto, que se debate

O coração da moda bate nesta edição. Ouçam-no

com as suas próprias contradições, que catapulta

com atenção .

carreiras com a mesma facilidade com que destrói sonhos.

António Bernardini

Não faltam preconceitos sobre aqueles que se dedicam a esta actividade. Olhamos para os desfiles, para as luzes, para o glamour, e imaginamos uma vida de luxos, sem problemas, de festas intermináveis, uma vida acima do comum dos mortais. Não é totalmente verdade. Existe o brilho, existem as festas, existe o êxito, mas também os bastidores, o trabalho sincronizado, o esforço dos estilistas

Editor: António Bernardini Diretores: Rui Marques e António Bernardini Revisão: João Castro Paginação : Pedro Fonseca e Luís Vaz Colaboradores Portugal - Rui Marques , Arlequim Bernardini , António Granja ,Gonçalves Guerra ,António Santos , João Castro Brasil - Paulo César , Hernany Fedasi

Revista Sotaques Brasil Portugal Tel. 351 917 852 955 - 351 916622513 antonio.sotaques@gmail.com - rui.sotaques@gmail.com www.sotaques.pt - www.facebook.com/sotaques


Índice 04

O Lado Lunar da Moda

06

Carine Zanatta uma modelo entre Brasil e Portugal

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É de se lhe tirar o Chapéu

14

Gémeos Moreira: a moda como um modo de elegância

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Um desfile de encantar

18

Portugal Fashion descentraliza-se e ganha novas cores Primavera Verão

22

A picada vital dos The Black Mamba

26

Afinal qual é a verdadeira face da moda ?

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“A moda não é fácil em Portugal”

36

Sérgio Godinho : uma vida sob o signo da liberdade

42

Pedro Monteiro: um construtor de imagens de moda

44

Marlene Oliveira, uma estilista que veste Portugal de verde

50

Mural do poeta: um segredo cultural do Porto para descobrir

52

JAMBU

54

Hugo Bizarro, um profissional que constrói a sua marca

58

Frederico Lopez A dança da solidariedade

60

Patrícia Bastos, o canto da Amazónia que chega a Portugal

64

A União luso-brasileira faz a força na capital das artes


Crónica

O Lado Lunar da Moda “A moda é um mundo-cão.” Foi com esta afirmação que, há alguns anos atrás, eu e cerca de vinte colegas fomos recebidos na primeira aula da licenciatura em design de moda. Naquela altura, cheio de sonhos e de ilusões, não dei valor àquela frase.Hoje é uma das minhas expressões de eleição . Para o leigo, que assiste aos desfiles e aos eventos de carpete vermelha, que passeia o olhar pelas belas montras e que, dos criadores e das marcas, só conhece o trabalho final, é fácil deixar-se encantar por um meio em que tudo parece surgir em prol da beleza. O brilho encandeia os olhos, os corpos falam de perfeição. A miséria não existe. O glamour, esse conceito tão abstracto, é rei e senhor. Chamam-lhe arte. Mas esta imagem dura pouco, assim que se entra na corrente. Tudo parece fácil, mas não é. Fazer uns desenhos bonitos e ter umas ideias interessantes não chega. É preciso trabalhar duro. Mais importante que isso, e num país onde actualmente até para trabalhar num supermercado convém ter uma cunha, dá sempre jeito ter um padrinho já estabelecido na área. Ainda mais necessário, é um amor à moda tão grande que nos permita perder escrúpulos e horas de sono, ser perseverantes e completamente focados. E, às vezes, mesmo com todas estas condicionantes reunidas, chega-se ao fim e percebe-se que a selecção não é assim tão criteriosa: há muito joio no meio do trigo e há muito trigo que ficou para trás. Para citar o Rui Veloso, “chamemos-lhe apenas o lado lunar.” É a face obscura e difícil que quase todas as coisas boas escondem, o paradoxo que descobrimos em tantas realidades: é arte, mas também é um negócio. Louva a criatividade, mas só aquela que se submete. Fala de sonhos, mas fecha porta atrás de porta. Produz beleza, mas alimenta-se de fealdade. Peço desculpa aos devotados pelo meu desencantamento. A minha relação com a moda é de amor-ódio. Se ainda tenho momentos de inspiração febril e de contemplação vibrante, também há alturas em que só quero distância, em que o ambiente e tudo que nele se move me repugna, em que sinto não me encaixar. Devo admitir que não é fácil escrever esta crónica e nem o faço de ânimo leve. Não é minha intenção desencorajar ninguém, nem desacreditar um universo que, apesar de tudo, admiro. Mas pediram-me para escrever algo mais pessoal sobre o outro lado da moda e se, pelo menos, este meu testemunho servir para preparar alguém para trilhar o caminho que leva ao topo, já terá valido a pena. Texto : António Granja

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Entrevista

Carine Zanatta uma modelo entre Brasil e Portugal

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Ser modelo foi um destino para Carine Zanatta. Aos 11 anos foi descoberta pelo scouter brasileiro Dilson Stein, que revelou ao mundo modelos como Gisele Bündchen e Alexandra Ambrósio, e desde então não tem parado em desfiles entre o Brasil e Portugal. A revista Sotaques falou com esta modelo que persegue os seus sonhos com uma ambição de ser cada vez mais perfeita e mais profissional, e cujos horizontes de futuro abarcam o mundo e os locais mais exclusivos e requintados da moda. P - Como surgiu a moda na sua vida ? CZ -Tinha 11 anos quando fui abordada na escola pela equipa do Scouter Dilson Stein (descobridor de modelos como Gisele Bundchen e Alessandra Ambrosio). Desse dia em diante passei a ser acompanhada e preparada para entrar na carreira de modelo de forma profissional : foram 2 anos de acompanhamento intenso, cuidei do corpo, cabelo, dentição, ou seja, tudo que faz com que exista uma “Mulher Perfeita” se é que realmente essa mitificação existe. P -Trabalhar na moda sempre foi uma aspiração da Carine ? CZ - Acho que tudo foi acontecendo naturalmente, o processo de aprendizagem foi envolvendo-me de tal maneira que hoje por mais que tenha estudado outras coisas, tenha feito teatro e televisão, fica difícil escolher entre A e B, embora um dia seja uma escolha inevitável. P- Trabalhou nesta área no Brasil e Portugal. Quais foram as diferenças que sentiu entre a moda portuguesa e brasileira ? CZ - O mercado brasileiro é frenético, intenso. Todas as semanas chegam meninas com menos idade do que você, e que serão absorvidas pela indústria : isso faz com que tudo ganhe outra cara, seja mais duro, cruel e competitivo, mas ao mesmo tempo a adrenalina que esses sentimentos geram, faz com que tenhamos a certeza do caminho que escolhemos. Já o mercado português é mais delicado, compreensivo eu diria.

P - Quais são as suas principais referências na área da moda. As personalidades que mais admira ? CZ - Eu tenho diversas inspirações que vai desde a nossa querida brasileira Gisele Budchen aos italianos Domenico e Stefano. Cada um traz a sua história de vida e experiência. P - O que é que mais gosta e o que mais detesta na moda ? CZ - Não vejo pontos especificos, acredito que tudo nesta vida tem o seu lado positivo e o lado negativo. O que importa, realmente, é a maneira como lidamos com as situações no nosso dia a dia. P- Para a Carine que é ter estilo ? CZ - Ter estilo é ter carácter, ser uma pessoa livre de preconceitos e julgamentos, saber a diferença entre ser conhecido e ser amigo. Ter estilo é saber admitir os seus erros e conseguir corrigi-los, é cair, levantar e nunca esquecer quem realmente és.

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Entrevista

Carine Zanatta P - É apresentadora de um programa de televisão sobre moda. A televisão é um desafio diferente ou complementar ao seu trabalho de modelo ? CZ - Embora se complementem, são trabalhos e desafios distintos. Fiz televisão durante 2 anos consecutivos e aprendi muito com isso, tive a sorte de poder contar com profissionais fantásticos que, no início, ajudaram-me muito e que ainda hoje estão presentes no meu dia-a-dia. Na moda nem sempre preciso falar, expressar a minha opinião, na TV não há por onde “escapar”: de semana em semana o assunto central é alterado, e tens que entender completamente o que vais falar. No meu caso em particular, tive mais uma dificuldade, o sotaque, ser brasileira e apresentar um programa em Portugal exige que compreenda, antes de qualquer coisa, que os telespectadores precisam perceber tudo o que eu digo. Esse sem dúvida foi o meu maior desafio, espero ter sido bem sucedida na medida do possível. P - Fora da moda quais são os seus gostos pessoais ? CZ - Hun... Gosto de ouvir boa música, receber os meus amigos em casa, caminhar sozinha na praia, ler, em tempos gostava de pintar, mas hoje em dia não arranjo tempo para isso... hehehe.

Texto: João Castro Fotos: Adoldo Usier

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P - Que Projectos está a desenvolver actualmente na moda e em televisão? CZ - Em Maio afastei-me da televisão, conclui a 2ª temporada do programa que tinha na MVM TV “Universo Chic” para voltar a dedicar-me na totalidade à moda. Tenho propostas para avaliar, mas que para já não poderei divulgar. P -Qual seria a colecção, o estilista e o local ideal para desfilar se pudesse escolher ? CZ - Jean – Paul Gautier na semana de moda de Paris. P - Quais são os sonhos que gostaria de concretizar na moda nos próximos anos ? CZ - Poder deixar um pouco do que sou a cada lugar onde passar, e concretizar todos os meus objetivos profissionais que são muitos.


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Entrevista

P - O que é a estar na moda para Carine Zanatta ? CZ - É seguir as tendências não de uma forma ortodoxa, mas sim adaptando-a ao estilo de cada um, até porque nem sempre todas as peças de algumas coleções são usáveis no dia-a-dia.

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Sotaques

É de se

Estilo, Classe e Personalidade é teger do frio ou do sol dando um

O chapéu passou do destaque q porque as pessoas têm vindo a p

O modelo que mais sucesso está podendo transformar um look b

Pode ser usado em estações mai Contudo convém ter algum cuid , local de trabalho e templos rel

Dica: As mulheres baixas ou m pensar com alguns truques, par

Conjugue usando uma peça com Muitas mulheres, sem mesmo e

EXPERIMENTE pois é capaz de

Texto: Sónia Miranda Autora do blogue Taras e Manias - w

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e lhe tirar o Chapéu

é o que o chapéu acrescenta ao outfit de uma mulher, para além de um acessório, serve também para prom toque bem mais interessante ao look.

que tem vindo a ter em desfiles de moda, para os looks de dia-a-dia isso tem acontecido e ainda bem, perder cada vez mais, o receio de usar.

á a ter este ano é o Floppy/Boho, o chapéu de abas largas acrescenta um toque de extrema elegância, banal, num look Hippie-Chic.

is frias com belos casacos de pêlo por exemplo, ou no Verão com vestido ou saia compridos e fluídos. dado, pois há locais onde o chapéu deve ser retirado, como à refeição, locais fechados (cinema, teatro..) ligiosos.

mais volumosas, devem optar por abas médias ou pequenas, mas se adora tanto este modelo, pode comra deixar o outfit mais harmonioso.

m decote em V, demarcar a cintura, optando por um look monocromático e salto alto experimentar, acham que não ficam bem de chapéu ...

e mudar de ideias, teste várias cores até encontrar a perfeita para si.

www.tarasemanias.pt

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Entrevista

Gémeos Moreira: a moda como um modo de elegância

Para os gémeos Moreira - Nuno e Marco - a moda é uma forma de elegância exterior e interior. Modelos e dançarinos - responsáveis de uma conceituada Escola de dança no Norte do país - têm uma visão complementar destas duas actividades, que compatibilizam com a organização de eventos solidários como o recente "Porto a dançar" que organizaram na cidade Invicta.

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P - Como surgiu a moda nas vossas vidas ? GM- Desde sempre sentimos que o mundo do espetáculo fazia parte de nós. Começamos na dança de salão, com cerca de 7 anos de idade. Na moda começamos a trabalhar bastante mais tarde. Hoje em dia desenvolvemos as duas actividades, e sentimo-nos muito completos em ambas. P- A moda e a dança complementam-se ? GM- Sim, sem dúvida. As duas complementamse. Com a dança habituámo-nos a lidar com bastante público, e a estar expostos a muita gente. A moda ajudou-nos a perceber o tipo de expressões indicadas para o nosso rosto, enquanto dançamos. Para nós fazer moda também é fazer arte, assim como a dança. Dançar é uma arte. P - O que mais gostam do vosso trabalho na área da moda ? GM- Gostamos muito do momento da passerele e também adoramos fotografar . P - E quais os aspectos mais negativos ? GM- Tentamos sempre ser profissionais e não misturamos qualquer tipo de interesses que possam existir neste meio. P - Envolveram-se na organização de um evento solidário "Porto a dançar". Como é este projecto ? GM- O projecto Porto a Dançar é um novo projecto em que estamos inseridos e que somos os mentores. Escolhemos 10 figuras públicas da zona do Porto para dançarem com 10 profissionais da nossa escola. Parte do dinheiro reverte a favor da Liga rainha Maria Pia.

P - Fora da moda e da dança o que gostam de fazer no vosso tempo livre ? GM- Viajar, conhecer culturas diferentes. P- Qual é a vossa opinião sobre a Moda brasileira ? GM- Adoramos o trabalho de alguns manequins brasileiros. Achamos que eles têm um cuidado muito especial com o corpo. Adoramos a Adriana Lima. P- Gostavam de desfilar nas passarelas brasileiras ? GM- Sim, adoramos novos desafios. Já trabalhámos com manequins brasileiros mas nunca desfilamos no Brasil. Seria uma óptima experiência. P - Como vai ser a vossa agenda nos próximos meses ? GM- Os trabalhos de moda estão sempre a surgir. Temos vários agentes a tratar do nosso trabalho e da nossa imagem , cá em Portugal e lá fora também. P- Quais são as vossas grandes aspirações no mundo da moda ? GM- Neste momento e depois de termos feito os melhores eventos de moda cá em Portugal, estamos mais virados para a moda internacional. P- Como definem a elegância na moda ? GM- A moda é uma forma de estar. Achamos que, para além de vestir bem, é importante a atitude e o saber estar. Por isso, temos sempre um cuidado especial na forma como nos apresentamos.

P - É uma forma de retribuição à sociedade ? GM- Sim, sem dúvida alguma. Trabalhamos muito desde sempre e uma vez que tivemos um grande reconhecimento do nosso trabalho, pensamos em ajudar quem podemos é quem não tem esse apoio. Texto: Arlequim Bernardini

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Microconto

Um desfile de encantar Inês Castanheira é branca como a neve. O corpo derretese ao espelho sempre que os olhos de Pedro Sottomayor a vestem. Hoje, neste dia quente de Novembro, é apresentada a colecção Outono-Primavera. As travessuras do tempo mudam o ritmo das estações. Pedro combina as texturas das folhas de outono com os padrões da fruta primaveril. A Modelo observa os seus braços e pernas. Estendem-se ao sol como ramos floridos. A cabeça está adornada com uma maçã vermelha. Inês veste a inocência imprevista misturada com a decadência improvisada. Permanece imóvel junto ao espelho. Como uma deusa inacessível. As outras modelos não trazem nada vestido. Rodopiam em volta dela como o vento. Serpenteiam a maçã com estilo e languidez. Os flashes dos trovões iluminam a passerelle. Cada uma das modelos despe Inês e vestem-se com as suas roupas. Deixam-na só com a maçã carnuda… Inês olha para um lado e vê o inferno. Olha para o outro e vê o paraíso. Trinca a maçã e cai ...O público levanta-se e aplaude em pé como árvores perdidas no meio da floresta . Pedro entra em cena vestido de noiva. Aproxima-se de Inês e leva-a nos seus braços de volta à terra prometida, onde tudo é frágil e efémero como belo e imortal…

Texto: Jon Bagt Blog do autor: www.sopasdevogais.blogspot.pt 16


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Moda

Portugal Fashion

descentraliza-se e ganha novas cores Primavera Verão Foi um Portugal Fashion 2015, realizado entre os dias 22 e 25 de Outubro , que apostou forte na descentralização na apresentação da coleção Primavera/Verão. O Mosteiro de São Bento da Vitória, o Edifício dos CTT e o Conservatório de Música foram palco de vários desfiles complementando a tradicional Edíficio da Alfândega na cidade do Porto. Os criadores consagrados e jovens responderam a esta necessidade de renovação com propostas sedutoras. Anabela Baldaque fechou o primeiro dia do evento no Porto com um desfile de moda feminina sintomaticamente chamado Anywhere, inspirado nos anos 20 e 50, com rendas, brocados e filmes. Antes destacou-se Susana Bettencourt com o seu trabalho de branco de rendas, chamando a atenção para a dimensão artesanal e artística, Carla Pontes com a sua coleção PI apostando em tons invulgares como a lima, cinza e petróleo ou o designer Hugo Costa cuja coleção de calçado evidenciou uma identidade que cativou o público. Na sexta-feira foi o consagrado Luís Onofre a fechar os desfiles. A sua coleção de malas e sapatos rasos, leves, desportivos, inspirados no Oriente conquistaram a plateia com a sua elegância. De grande qualidade também foram as propostas de Katy Xiomara - colecção Wire Frame, com o preto e branco a predominar, vocacionada para a mulher urbana - Diogo Miranda com os seus tons vivos como o azulmarinho, o amarelo, o beje ou o preto, os tons leves e sofisticados de Ricardo Preto, a irreverência e criatividade da Vicri ou as cores urbanas e personalizadas de Júlio Torcato.

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O último dia do Portugal Fashion 2015 foi marcado pelo regresso à passarela de Nuno Baltazar. E o criador não defraudou as expectativas: a sua coleção intitulada " Le mépris" inspirada no imaginário cinéfilo, na mitologia clássica, nas cores vivas do mediterrâneo, na Ilha de Capri ou em figuras como Corto Maltese, trouxeram uma aura de sonho que inundou o evento. Fátima Lopes, por sua vez, encontrou inspiração nas artes gráficas e em figuras do rock. A sua coleção " ready to wear" modela a silhueta do homem e da mulher contemporânea, que se sente bem na sua pele. Miguel Vieira surpreendeu mais uma vez com a sua coleção " elegância descontraída". O luxo e a sofisticação foram as principais características de um desfile em que imperaram cores como o azul, o preto e o branco nuvem. Carlos Gil ofereceu-nos um delicioso " Mach Point" . Inspirado no jogo de ténis, com cores onde predominam o branco e o preto ou o pó rosa, enaltece os valores de uma mulher moderna e sofisticada, que gosta de desporto e de afirmar a sua personalidade. O espaço Bloom foi mais uma vez um laboratório que mostrou a irreverência dos novos criadores. Pedro Neto, João Rola, Catarina Santos e Eduardo Amorim foram os vencedores de um concurso que continua a dar frutos - desde 2010 já foram lançados 27 designers e 3 marcas para o mercado - e que foi mais uma vez um sucesso pela aposta na criatividade. O Portugal Fashion abriu novos horizontes na cidade do Porto. Aguardamos com expectativa a nova Estação cheia de sol e de moda elegante e criativa.


Anabela Baldaque

kattuy Xiomara

Daniela Barros

Industry

Texto: Arlequim Bernardini Fotos: Pedro Monteiro

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Moda

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Júlio Torcato

Carlos Gil

Vicri

Diogo Miranda


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Música

A picada vital dos Th 22


he Black Mamba 23


Música

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The Black Mamba É um veneno vital de música que já conquistou tanto portugueses como brasileiros . O trio Black Mamba formado pelos portugueses Pedro Tatanka e Miguel Casais e pelo brasileiro Ciro Cruz, tem novo álbum chamado " Dirty Little Brother", e promete regressar ao Brasil, depois do memorável concerto que deu no Rock in Rio 2013, no Rio de Janeiro, e que deixou uma legião de fãs no país irmão.

P - Que diferenças existem entre este segundo álbum "Dirty Little Brother" e o vosso primeiro álbum ? TBM- O álbum "Dirty Little brother" está cheio de surpresas e participações especiais e o seu processo de gravação foi feito com mais calma que o primeiro. P - Como definiriam o vosso estilo musical ? TBM- O nosso estilo musical é uma fusão de estilos. Cada um de nós na banda tem a sua influência musical e quando nos juntamos para tocar, compor, ensaiar, os estilos também se juntam, e foi assim formado o som dos The Black Mamba. Uma mistura de Soul, Blues, Funk, Swing carioca e mais... P - A Aurea participa também neste segundo álbum. É importante a continuidade desta parceria ? TBM- A parceria com a Aurea foi uma continuação da nossa apresentação com ela no Rock in Rio Brasil . Foi um processo natural que surgiu em conversas entre amigos, e que acabaram por se concretizar no estúdio.

P - Já actuaram no Palco Sunset no Rock in Rio Lisboa, no Rio de Janeiro. Como correu essa experiência ? TBM- Tocar no palco Sunset no RJ foi uma experiência maravilhosa. O público brasileiro aceitou muito bem o nosso som, e é para a banda uma honra fazer parte de um festival da grandeza do Rock in Rio. P - Quais são as vossas ligações à música brasileira ? TBM- O baixista da banda o Ciro Cruz é brasileiro e já tocou com muitos artistas brasileiros como Zeca baleiro, Fagner, Ed Motta ,Ivo Meireles, Gabriel o Pensador etc.. Para além de termos um membro da banda, o que é uma influência directa e imediata , conhecemos bem o som do Djavan: já tocámos um tema dele "Esquinas" , e admiramos outros músicos brasileiros como o Zé Ricardo , Gilberto Gil e muitos outros . P - Quando planeiam voltar ao Brasil para apresentar este novo trabalho ? TBM- Voltar ao Brasil ? Queremos voltar sempre que houver um convite. Seria muito bom fazer uma tour pelo Brasil. Um sonho!

Texto: Arlequim Bernardini

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Capa

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Afinal qual é a verdadeira face da moda ? Qual é a verdadeira face da moda ? Aquela que vemos, reluzente, nas passarelas, que ilumina os rostos dos modelos, vestidos por roupas desenhadas exclusivamente pelos grandes estilistas ? Ou será a face do imenso trabalho colectivo de todos aqueles que participam na organização e execução de um desfile, à frente das câmaras e dos flashes mas também a dos bastidores que prepara, minuciosamente, todos os pormenores ou dos jovens estilistas que têm dificuldade em conquistar um espaço no mercado ? Afinal qual é a verdadeira face da moda ? São todas estas e nenhuma em particular como deduzimos desta edição da revista Sotaques do mês de Novembro . Através de uma série de entrevistas e textos, quisemos mostrar que a moda tem o rosto dos seus protagonistas - modelos, estilistas, produtores de moda, maquilhadores ou o público em geral, que assiste aos desfiles e comenta sobre as novas criações, os modelos, a organização etc.

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Capa

Não pretendemos fazer uma apologia da moda, nem o contrário. Da leitura desta edição concluí-se que a moda não é uma autoestrada de via única para o sucesso - também há o fracasso, a frustração, a crítica dos seus protagonistas, a arrogância, a precariedade como em qualquer actividade humana. Espécie de conto de fadas moderno , a moda não é um microcosmo superficial que funciona pior que o resto da Humanidade. É construída por pessoas de carne e osso, com sonhos e aspirações, e nela as luzes da ribalta misturam-se com as sombras da competitividade extrema e desenfreada. Afinal qual é a verdadeira face da moda ? Leia com atenção esta edição, ouça com curiosidade as respostas dos seus protagonistas, e faça você mesmo, caro leitor, o retrato múltiplo e complexo do seu rosto. Texto: Rui Marques Fotos: Pedro Monteiro

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Entrevista

Rui Pinho “A moda não é fácil em Portugal”

Rui Pinho é um jovem produtor de moda que se tem evidenciado nos principais eventos da moda nacional - e já esteve presente em eventos internacionais como os desfiles de moda em Madrid. Falamos com ele para conhecer melhor o que o apaixona no mundo da moda, e quais são os aspectos menos positivos que encontra. Nesta entrevista fazemos uma retrato da moda pela voz da nova geração que trabalha na coordenação dos profissionais que desfilam nas passarelas.

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Entrevista

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P - O Rui Pinho é produtor de moda e eventos. Como tem sido o seu percurso profissional ? RP- A minha formação inicial foi na área da comunicação e marketing. Mas tive uma experiência marcante, numa agência de modelos, gostei e durante dois anos trabalhei com marcas nacionais. Durante esse período comecei a interessar-me pelo trabalho de coordenação dos modelos e decidi desenvolver esta actividade. Mais tarde criei o Fashion Day que em 2015 cumprirá a sua 4 edição, que revela jovens valores da moda, e passei a fazer trabalhos na área da produção.

P - Em que outros locais se devia expandir o Portugal Fashion ? RP- Estou a pensar, por exemplo, no Edifício Transparente, entre a Foz e Matosinhos que tem grandes potencialidades para organizar eventos de moda.

P- O que mais o apaixona na moda ? RP- O que mais prazer me dá são os pequenos detalhes: fazer uma programação dos desfiles, verificar pormenores como a maquilhagem e os cabelos, ver o que está bem e o que está mal.

P - Que conselhos lhes dá ? RP- Sobretudo que tenham um book onde possam mostrar os seus trabalhos, o seu portefólio, para que sejam credíveis junto daqueles que os podem recrutar.

P - E que aspectos menos gosta ? RP- A moda não é fácil em Portugal. É muito competitiva e é mais fácil ter sucesso cá dentro depois de termos êxito a nível internacional veja-se o caso da Sara Sampaio cuja carreira ganhou um novo impulso após desfilar na Victoria Secret. Por outro lado, há pessoas no meio que tem a mania, que são arrogantes e hipócritas. A moda não é apenas estar vestido por uma determinada marca, também é o comportamento que temos face aos outros, a forma de estar.

P - Onde gostava de organizar um desfile de moda na cidade do Porto ? RP- No Mercado Bolhão. Gostava de organizar um desfile que juntasse a moda, a gastronomia e as pessoas.

P -Esteve no Portugal Fashion Week e na moda Lisboa. O que achou desses dois eventos e o que mudaria na sua organização ? RP- Relativamente ao Portugal Fashion não concordo que o primeiro dia seja em Lisboa. Foi positivo o facto do evento deste ano se expandir para outros edifícios da cidade - gostei particularmente do edifício dos CTT e do Conservatório de música - embora o Mosteiro de São Bento da Vitória - que é um local belíssimo - tivesse muito pouca iluminação. Na moda Lisboa alteraria sobretudo o espaço creio que deve ser noutro local - o tratamento à imprensa e também ter mais cuidados a nível de organização e de condições para acolher os convidados.

P - Fora da Moda quais são os gostos pessoais de Rui Pinho ? RP- Gosto muito de correr pela marginal, de sair à noite com os amigos, estar na Internet - comunico muito com jovens que me pedem conselhos sobre o que fazer para trabalhar na moda.

P- Quais são as suas grandes referências na moda e qual seria o seu trabalho de sonho? RP- Admiro muito a modelo brasileira Adriana Lima- a sua pose, o seu olhar. Também gosto muito do trabalho do meu amigo, o modelo Rubem Rua. Uma figura com quem eu gostava muito trabalhar é o grande fotógrafo Francisco Martins. P -O que é ter estilo para o Rui Pinho ? RP- Ter estilo é sentir-se bem consigo próprio. Podes seguir ou não as tendências, mas tens de ser fiel a ti. P - Se não fosse produtor de moda, que profissão teria ? RP- Eu sempre gostei muito da comunicação social e de trabalhar na televisão.

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Entrevista

P -Actualmente que projectos está a desenvolver na moda ? RP- Estou a preparar com a minha equipa a 4 edição do Fashion Day 2015. Não posso revelar muita coisa, mas sigam-nos na nossa página do Facebook www.facebook.com/fashiondaypage para saber mais detalhes. P - Qual é o Sotaque do Rui Pinho ? RP- Eu diria que é um sotaque divertido e dinâmico.

Texto: Arlequim Bernardini Fotos: Carlos Cidade

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Música

Sérgio Godinho : uma vid sob o signo da liberdade

Não se pode escrever a história do século XX sem falar dos cantautores, e não podemos falar sob

esta geração de criadores de canções e utopias sem mencionar o nome de Sérgio Godinho. Entr mos o artista e o homem que tem feito da liberdade uma forma de viver e respirar música.

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da

bre

revistá-

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Música

P-O nome deste álbum chama-se Liberdade. A liberdade é muito importante na sua vida profi SG - Representa muito. É uma palavra de toque que está presente ao longo do minha vida e da minha Não uma liberdade que seja uma palavra oca, sem sentido. Aliás tenho uma canção onde falo nisso, na Este Disco, nasceu a partir de um convite do Teatro S. Luís, para fazer um espectáculo que evocasse os pode ser uma palavra oca, precisa de ter conteúdo, ser batalhada.

P - Quarenta anos depois: que balanço faz da evolução do país e da música portuguesa ? SG - Não tinha expectativas porque era difícil imaginar como evoluiria tudo. Foi um percurso acidentado, com avanços e recuos, o país continua a ter desigualdades em várias área Mas não era possível fazer previsões: é a mesma coisa que prever o que acontecerá nos próximos quare

P- Combater a censura e a Ditadura foi um desafio para o Sérgio Godinho antes do 25 de Abril SG - Sinceramente não acho que essa tivesse sido a motivação principal para criar. Conheço casos de c bem, sublinhe-se - mas a música foi uma forma de falar com as pessoas, de expressão através das canç O meu primeiro Disco é de 1971 e a música que criava era mais metafórica. As metáforas eram o meio

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fissional e pessoal ? criação, e que tenho procurado cumprir. a necessidade da liberdade nos proporcionar pão, educação ou justiça. s quarenta anos do 25 de Abril. Nasceu da convicção de que a liberdade não

as, mas o 25 de Abril foi uma data charneira. enta anos.

l? cantores como o Chico Buarque que desafiaram a Ditadura militar brasileira - e ções. o que utilizávamos para contornar a censura.

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Música

P - Regressa ao Porto com dois espectáculos no Teatro Rivoli. Como está a encarar este regresso a casa ? SG - De uma forma muito positiva: tenho uma ligação muito forte ao Rivoli, está no meu ADN . Vinha a esta sala, com os meus pais, assistir aos Concertos de música clássica, dei o último Concerto antes das obras e o primeiro após a reabertura. Inclusive tenho um Disco chamado "Rivoli" que foi parcialmente gravado no Rivoli. Unia-me também uma forte amizade com a minha comadre, Isabel Alves Costa, e tive muita pena quando, durante a gestão do Rui Rio, o teatro foi encerrado. P - Como olha actualmente para a dinâmica cultural da cidade do Porto ? SG - Eu fiz parte do Conselho Consultivo da Porto 2001, e já nessa altura se começavam a lançar sementes para esta evolução. Estive com grande prazer em vários espectáculos, na Casa da música - ela própria uma consequência do Porto 2001 - e essa pujança foi crescendo, apesar das dificuldades que afectam os artistas em todo o país. P - Fez parcerias com vários artistas brasileiros. Que recordações tem dessas colaborações ? SG - São diferentes porque foram em épocas diversas. Com o Caetano Veloso - que conheci nos anos 80 - enviei-lhe duas ou três canções para que ele escolhesse uma e desse voz no Disco " O irmão do meio - eu sabia que ele ia escolher "Lisboa que amanhece". Foi mais uma ponte entre sotaques a cantar Lisboa. Com o Chico Buarque, o Ivan Lins e o Milton Nascimento no "Coincidências" foi também muito frutuoso. É sempre muito interessante porque os artistas portugueses e brasileiros têm uma raiz comum. P - Quem lhe interessa na música brasileira ? SG - Não consigo acompanhar tudo o que se faz musicalmente no Brasil. Mas poderia referir os mais consagrados como o Caetano, o Chico Buarque, o Gilberto Gil ou o Milton Nascimento, ou novos valores como o Zeca Baleiro ou o Gabriel o Pensador, com os quais também já trabalhei. Curiosamente já tive a oportunidade de cantar canções brasileiras no disco "Caríssimas canções" em que cantei clássicos do Chico Buarque, do Caetano, do Pixinguinha, do Noel Rosa, quase todas com sotaque português. Tenho também ligações familiares ao Brasil pelo lado materno : a minha avô materna era brasileira e lembro-me que, sempre que almoçávamos na casa dos meus avós maternos, havia farofa à mesa. P- Gostava de apresentar este trabalho no Brasil ? SG - Parece-me muito difícil . O mercado brasileiro está muito virado para o Fado - e essa projecção é méritória - mas falta receptividade do Brasil para outros géneros musicais. Em teoria claro que gostava de mostrar a minha música no Brasil. P - O Sérgio Godinho lançou também recentemente um livro de contos “Vida dupla”. A escrita é um prolongamento do seu trabalho como músico? SG - Pode-se dizer que sim. Eu gosto é de criar - canções, ficções - criar sob os mais diversos aspectos.

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P - Que mensagem gostava de enviar aos brasileiros que queiram conhecer melhor este álbum e a música do Sérgio ? SG - Que este álbum celebra o 25 de Abril num sentido mais amplo, e que se podem identificar com o seu universo criativo. Um universo criativo que tem muitas afinidades com a música brasileira, a nível das frases, do ritmo. P - A música é liberdade para o Sérgio Godinho ? SG - É liberdade, criatividade, magia. É sobretudo uma palavra com sentido. Texto: Rui Marques

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Entrevista

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Pedro Monteiro:

um construtor de imagens de moda Sem os fotógrafos, a moda morreria na passarela: são eles que lhe pintam o rosto, que disponibilizam para a opinião pública as imagens que fazem sonhar homens e mulheres em todo o mundo . Falámos com o conceituado fotógrafo Pedro Monteiro, com uma dilatada carreira em eventos como o Portugal Fashion, para saber mais sobre esta actividade tão importante para definir o que é, afinal, a moda .

P- O que é mais fácil e mais difícil no seu trabalho ? PM-Para mim, não existe o mais facil ou o mais dificil, existem objectivos pessoais que têm de ser alcançados, mas se tivesse que definir o mais facil seria a comunicação entre fotógrafo e a modelo, o mais difícil seria fazer uma fotografia perfeita. P - Quem são as suas grandes referências a nível profissional ? PM-As minhas referência a nível de fotografia são os grandes fotógrafos de moda/beauty Fernando Bagnola, o Carlos Ramos, Max Moor e Fernanda Sá Motta P - Estabelecem-se relações de amizade entre quem trabalha na moda ou há uma distância entre as várias actividades - estilistas, modelos, fotógrafos, maquilhadores ou cabeleiros ? PM- A fotografia de moda/beauty é um trabalho de uma grande equipa, sem ela não há fotografia de moda. Assim, se a equipa funciona, começa haver uma relação de amizade, por outro lado, se a equipa não funciona não haverá esse relacionamento. P - Como é um dia típico de trabalho num evento . Quando começa e quando acaba ? PM- Fotografar eventos não é tarefa facil, primeiro tens de traçar os objectivos, se captas moda, se captas os estilistas, se captas figuras públicas ou se captas tudo. No meu caso, tento captar tudo. Gosto ser sempre

o primeiro a chegar, nalguns casos chego 3 horas antes do início do evento, para haver tempo de ver a luz, o ambiente entre outros pormenores . Normalmente somos um dos ultimos a sair. P-Em que eventos de moda vai trabalhar nos próximos meses ? PM- Ainda não tenho uma agenda definida, mas vem aí novidades . P - Que aspirações gostaria de realizar como fotógrafo de moda ? PM- Gostaria de trabalhar com a revista Vogue Italiana, fazer catálogos para o estilista Carlos Gil ou trabalhar com Jóias do Eugénio Campos. Ir à semana da moda Francesa ou de Nova Iorque .

Texto: João Castro

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Moda

Marlene Oliveira, uma est Inovar é a única resposta que a nova geração de estilistas pode dar para vencer

lo dessa perseverança: a estilista apresenta uma coleção de roupas com tecidos s

e quer continuar a vestir de verde o país com a sua criatividade e mostrá-la no Br

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tilista que veste Portugal de verde os desafios crescentes da moda contemporânea. Marlene Oliveira é um exemp-

sustentáveis e vegan, que já chamou a atenção do público no Portugal Fashion,

rasil, Nação que conhece e admira pelo seu apego aos valores da ecologia.

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Moda

P -O que define a moda que cria a Marlene Oliveira ? MO- As peças que crio são o reflexo de mim. Eu olho para um busto e para os tecidos, como um pintor olha para uma tela e para as tintas. Então vejo a moda como um meio para me expressar. Os tecidos, a máquina de costura, as linhas e agulhas, são as minhas ferramentas de comunicação. Através daquilo que crio eu procuro comunicar com o mundo. Sinto que o processo de criação é um momento de conexão com o Universo, momento em que deixo fluir todos meus sentimentos, emoções e sensações. Resultando em peças únicas, com uma forte essência experimental onde sobressaem as texturas e muito draping. Cada peça tem muito de mim. Por isso, a marca não podia ter outro nome, senão o meu próprio. P -Com que tecidos gosta de trabalhar ? MO- No campo dos materiais, eu acabo por me limitar ao que o mercado oferece dentro das linhas mais sustentáveis e 100% vegans. Dentro do disponível, tanto uso malhas como tecidos. Como a oferta ainda é reduzida sinto a necessidade de manipular manualmente os tecidos de forma a criar texturas únicas. P- Na sua biografia refere a importância da ecologia no seu percurso profissional. Considera que a moda é uma forma de ecologia humana, de nos despojarmos do assessório e vestirmos o essencial ? MO- Acima de tudo acho que devemos ser nós próprios ao vestirmo-nos. A roupa que usámos deve deixar transparecer aquilo que somos. Ou seja, não considero que se deva deixar o nosso estilo em prol da ecologia. Isto não é necessário! É possível termos o nosso estilo próprio, com todo o tipo de acessórios e adereços, desde que haja uma selecção consciente no momento da compra. Olhar para a etiqueta, dar atenção à origem do produto e às fibras constituintes, já está a tornar-se um hábito entre os consumidores.

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P-Essa consciência ecológica presente na sua actividade profissional. E na sua vida pessoal ? É algo que é importante para si ? MO- Sim, claro! Antes de existir a Marlene profissional sempre existiu a Marlene pessoa. A consciência ecológica sempre esteve presente no meu modo de vida, em primeiro lugar, e depois houve naturalmente uma extensão daquilo que sou para aquilo que faço ao nível profissional. P -Quem é a Marlene Oliveira fora da moda. Quais são os seus gostos pessoais ? MO- Na verdade o pessoal e o profissional são conceitos muito pouco separáveis em mim. Como digo, o que faço ao nível profissional é uma extensão daquilo que sou ao nível pessoal. Eu amo a natureza, amo os animais, amo a arte. Todos os tipos de arte. Adoro criar! Gosto de

cuidar de mim, do meu corpo físico, da minha saúde. Trabalho no meu desenvolvimento pessoal, e desejo contribuir para um mundo positivo. P -Quando olhamos para os desfiles, ficámos deslumbrados com as cores e os vestidos. Mas quais são os aspectos negativos que vê no mundo da moda ? Há algo com o qual não esteja de acordo ou que não a seduza ? MO- Hummm Nada. Está tudo óptimo! (risos) Muito sinceramente, tenho certa dificuldade em perceber os aspectos negativos das coisas, sou muito focada no positivo de tudo na vida. Quando tudo está bem, tudo melhora ainda mais !

P - A Marlene representou Portugal na IV Bienal de jovens criadores dos países da CPLP no Brasil . Como correu essa experiência ? MO- Foi uma experiência maravilhosa, muito enriquecedora. Numa só viagem tive contacto com muitas culturas diferentes, pois tive de organizar um desfile em conjunto com criadores de vários países. Foi muito giro perceber as diferentes linguagens da moda de cada país, a forma como se organizam, comunicam, etc . Fiz amigos de cada país . Ainda hoje comunicamos via facebook É muito bom! P - Que referências tem da moda brasileira ? Marlene Oliveira - Quando penso na moda brasileira, a primeira coisa que me vem à mente é a abertura que tem para a ecologia. Estão muito abertos. São fantásticos! Recebo muito feedback positivo de brasileiros, em relação à minha marca. É objectivo fazer chegar a marca ao Brasil. Tenho lojas interessadas em vender o meu produto lá. Vamos ver o que flui.

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Moda

P- Através de que canais ou redes sociais podemos conhecer melhor o seu trabalho ? MO- Tenho o site da marca, onde se pode encontrar a ligação para todas as redes sociais: www. marleneoliveira.pt Mas os canais principais são o Facebook, onde chego ao público de língua portuguesa é o Instagram, através do qual consigo abrangir o público internacional.

P -Em que projectos está a trabalhar neste momento ? MO- Estive 5 anos a desenvolver linhas ecológicas para outras marcas. Neste momento, estou 100% dedicada aos meus projectos pessoais. Nomeadamente o lançamento de uma linha de vestuário vegan e ecológica mais comercial. Anseio por ver as pessoas na rua vestindo a natureza, vestindo Marlene Oliveira. E tenho também o meu projecto da loja de tecidos e retrosaria ecológicos, que exige sempre muita dedicação da minha parte. (www.tecidosecologicos.com) P- Qual é a grande ambição da Marlene Oliveira na moda nos próximos anos. O que gostaria de realizar ? MO- A minha ambição é que a marca transmita a mensagem do seu propósito. A grande missão da marca,n e de todos os projectos em que me envolvo, é despertar a consciência das pessoas, para assuntos que sinto que devem ser trabalhados na nossa sociedade, no sentido da evolução. Texto: Arlequim Bernardini

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Mural do poeta: um segredo cultural do Porto para descobrir

Chama-se Mural do poeta e é um dos melhores segredos culturais da cidade do Porto. Um local com muito para degustar poeticamente e gastronomicamente e ....uma surpresa que só frequentando-o poderá descobrir. O Mural do poeta é um espaço cultural, localizado no centro do Porto, junto ao Jardim de São Lázaro, que tem ganho cada vez mais visibilidade. Lurdes Tavares, responsável do espaço, revela-nos que a clientela é constituída maioritariamente por " professores e estudantes da Universidade Lusófona ou a Faculdade de Belas Artes, funcionários da Biblioteca Municipal, artistas, poetas ou pessoas ligadas à moda e à alta costura". A presença de personalidades ligadas à moda, não espanta quem vê o design cuidado do Mural. Nas paredes vemos alusões aos poetas Fernando Pessoa ou Bocage, com poemas de ambos, que certamente cativam os amantes da moda e do design.


A gastronomia também se come aqui - como diria outra poetisa, Natália Correia. Entre os pratos típicos, Lurdes Tavares salienta " o pão à bocage, picante e saboroso como o poeta de Setúbal, ou a carne grelhada com queijo açoriano à Antero de Quental, ambos com muita saída entre os consumidores". No mural do poeta há muito para ver, ler e ouvir. Lurdes recomenda, no cardápio cultural ao dispor, as " tertúlias poéticas às sextas-feiras e ao longo da semana vários eventos de fado - de Coimbra ou Vadio - apresentação e lançamento de livros e novos autores, música africana e uma multiplicidade de eventos. O Brasil também está presente no Mural e na vida de Lurdes Tavares. No mural já houve um evento ligado ao país irmão - o lançamento de um livro sobre a história da literatura de cordel por um pelo escritor brasileiro Franklin Marcado e ela tem ligações familiares ao Rio de Janeiro. A clientela brasileira é, aliás, um dos públicos mais interessantes. Pela curiosidade por encontrar um espaço que enaltece a história e a poesia - nomeadamente a figura de Fernando Pessoa, reverenciada no Brasil - no centro do Porto. Outra grande vantagem do local é a proximidade a vários Hotéis e Hostels . O que ainda o valoriza mais . Lurdes Tavares assume, curiosamente, essa importância da poesia. Diz mesmo que " tem um sotaque poético" e convida os interessados a conhecerem mais do espaço "através do nosso facebook www. facebook.com/muraldopoeta". E, claro, a verem-no ao vivo. Por todas estas razões. E por mais uma " um segredo ligado à poesia que surpreenderá quem nos visitar", conclui a responsável do mural do poeta. Texto: Arlequim Bernardini


Sabores e Paladares

JAMBU Hortaliça típica da região Norte do Brasil, legado da cultura indígena, compõe vários pratos da culinária Paraense. Tem sabor exótico, deixa na boca uma sensação anestésica, tem propriedade expectorante, diurética, cicatrizante, antiviral, antifúngica, estimula o sistema imunológico, antisséptica, antiespasmódica, rejuvenescedora, rica em vitamina A e C, atua como antioxidante, previne a anemia e o câncer de estomago. Além disso, realça os sabores do Tacacá, Pato no Tucupi e do Caruru e é usado nas formas de Chás, Bombons, Licores e Cachaças. Está a despertar os olhares de Chefs de cozinha do mundo inteiro.

Texto:Águeda Maria Fotos: Hernany Fedasi

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Moda

Hugo Bizarro, um profissional constrói a sua marca 54


Hugo Bizarro é um jovem maquilhador, com 23 anos, que trabalha na área da moda e sonha criar a sua própria marca. Nesta entrevista revela-nos mais sobre a sua actividade, essencial para o sucesso de um trabalho de moda. P - O que é mais fácil e mais difícil no seu trabalho? HB - Sendo a maquilhagem uma paixão e o que realmente gosto de fazer, posso dizer que isto é a parte mais fácil do meu trabalho. A mais complicada é saber gerir o tempo. Eu sou uma pessoa muito perfeccionista e, por vezes, torna-se difícil maquilhar muitas pessoas num pequeno período de tempo. No entanto, isto ajuda-me a ganhar experiência e a crescer enquanto maquilhador profissional. P - Quem são as suas grandes referências a nível profissional? HB - Antónia Rosa e Cristina Gomes são ícones no mundo da maquilhagem, modelos a seguir que admiro muito e com os quais me identifico! Nick Chapman, Sam Chapman e Linda Hallbergs são maquilhadoras profissionais e o trabalho delas é, sem dúvida, uma inspiração. Chegar ao nivel delas e, quem sabe, mais longe é o meu objetivo.

que

P - Estabelecem-se relações de amizade entre quem trabalha na moda ou há uma distância entre as várias actividades - estilistas, modelos, fotógrafos, maquilhadores ou cabeleiros?

HB - Acaba-se sempre por criar uma ligação entre todos, alguns mais que outros, claro. Isto é bom pois o facto de gostarem do trabalho, ajuda a que apareçam propostas em grupo sobre produções como sessões fotográficas, desfiles de moda e outros eventos. Um(a) estilista, para um desfile de moda, precisa sempre de uma equipa de hair stylist e de make up artist, logo acabamos por estar sempre conectados. P - Como é um dia típico de trabalho num evento . Quando começa e quando acaba? HB - É um dia de loucura! Mas no bom sentido claro! Temos um tempo para cumprir, um grande número de modelos para maquilhar, e devemos saber conciliar tudo da melhor maneira para estarmos sempre preparados para pequenos improvistos que poderão aparecer, o que é normal. O mais importante é saber trabalhar em equipa, respeitar os colegas e estar com uma energia muito positiva e humildade, pois é assim que vamos longe e que o trabalho corre bem. O tempo passa tão rápido que nós, por vezes, nem temos noção, mas tudo depende da produção em si, temos sempre vários factores dos quais dependemos. Pode demorar 1 dia, 2, ou muito mais.

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Moda

P - Em que eventos de moda vai trabalhar nos próximos meses ? HB - Com toda a sinceridade, neste momento não tenho nada agendado, mas é algo que me aparece sempre quando eu menos espero, e por acaso gosto muito dessa maneira, causa mais ansiedade e vontade. Graças a deus, tenho tido vários trabalhos, esta semana foi de loucos, mas isso é que é importante, e nós só temos que dar valor ao que nos dão e saber tirar o melhor aproveito do mesmo. Se isto é a nossa vida, temos de estar sempre apoiados a ela e utilizá-la como um melhor amigo, pois vainos trazer muitas oportunidades, só temos é de acreditar.

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P - Que aspirações gostaria de realizar como maquilhador de moda? HB - Eu sou uma pessoa muito positiva, que acredita e que nunca desiste. Neste momento, quero chegar o mais longe possível na moda como Make up Artist, evoluir, aprender com os melhores, ter inúmeros trabalhos e, a partir daí, realizar o meu sonho, que é criar uma marca de maquilhagem com o meu nome “Hugo Bizarro Make Up”. Esse dia irá chegar, e será sem dúvida um sonho concretizado.

Texto: Arlequim Bernardini Fotos: Fernando Rocha Photography

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Entrevista

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Frederico Lopez

A dança da solidariedade

Juntar a dança à solidariedade foi o objectivo do evento "Porto a dançar", realizado no Ateneu do Porto, em duas galas que decorreram nos dias 26 de Outubro e 2 de Novembro. Várias figuras da moda, televisão e do design associaram-se ao evento, organizado pelos Escola de Dança Gémeos Moreira . A revista Sotaques falou com Frederico Lopez, dinamizador do evento e dançarino da Escola de dança Gémeos Moreira, que nos explicou mais sobre este projecto.

P - Como surgiu a ideia de trazer este evento para o Ateneu do Porto ? FL - O Ateneu é um espaço emblemático da cidade do Porto e tinha a ver com aquilo que queríamos organizar. Pela sua dimensão e beleza era o local ideal para realizar este espectáculo com a necessária visibilidade . P - Em que consistiu o "Porto a dançar" ? FL- O "Porto a dançar" inspirou-se no programa da TVI " Dança com as estrelas" e juntou várias figuras públicas do Norte a dançar com dançarinos da Escola Gémeos Moreira. Todas as pessoas que foram convidadas pela Escola associaram-se ao evento, até porque para além da divulgação da música e da dança, parte da receita das Galas reverteu para uma causa solidária a favor do Instituto Rainha D.Maria Pia.

P - Gosta de alguma dança brasileira ? FL - Gosto muito de Samba. Aprecio muito a ligação que os brasileiros têm com a dança e a música e adoraria dançar no Brasil. P - A dança e a música são indissociáveis ? FL - São os meus dois amores, usando uma expressão de uma canção do Marco Paulo. P - Como surgiu a oportunidade de dinamizar este evento ? FL - O " Porto a dançar" surgiu de um esforço colectrivo de todos os integrantes da Escola para fazer um evento desta dimensão, e para colaborarmos na divulgação da dança e na pomoção de causas solidárias.

P - O Frederico também é dançarino ? FL - Faço parte da Escola de dança Gémeos Moreira.Sou dançarino há um ano .

Texto: João Castro

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Música

Patrícia Bastos, o canto da Ama que chega a Portugal

Na Amazónia a música e a natureza andam de mãos dadas. A cantora brasileira Patrícia Bastos extraordinário reconhecimento nos prémios da música brasileira em 2014, chega a Portugal, no

val Misty Fest . Uma oportunidade única para conhecermos melhor uma artista que representa, or valores ancestrais da sua cultura e da História do Brasil. 60


azónia que obteve um âmbito do Festi-

rgulhamente, os

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Música

P -Foi premia de melhor álb mios da músi teve este reco PB- Tem o tam cantar. Eu cant fazer com que grandes centro É o meu reconh canta aquilo qu

P- Como carac PB- Um disco q sileiro. Mas um o mundo. Um á universal pelo verdade. P- O nome " Z origens indíg ligação na sua PB- Sentimos identidade, o ín sa, todos junto

P- A identidad trabalho. O q criadora? PB- Só de olha cantá-lo, a fala pela nossa cult musicais que e gente ignorar i

P- Quais são a PB- As primei Regina, Clara N trabalhos inova mim, como as tores Itamar As Procuro semp dade, e de certa sempre reinven Ná Ozzetti, Fel Jussara Marçal bém os compo Enrico de Mice

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ada pelo álbum " Zulusa" nas categorias bum e melhor cantora regional nos préica brasileira de 2014. Que importância onhecimento? manho de uma nação, de um motivo de to o Amapá, a amazónia, a nossa cultura, e eles possam chegar, de alguma maneira, aos os é o meu presente. hecimento como cantora, como artista que ue vive.

cteriza o álbum " Zulusa"? que canta a cultura do povo do norte bram norte que pode ser encontrado em todo álbum de música regional que se tornou tratamento dos arranjos, e por cantar uma

Zulusa" junta o nome Zulu e lusa - as genas e portuguesas do Brasil. Sente essa a região ? bastante, a nossa cultura é exatamente essa ndio, o negro, os pardos de origem portugueos no traço, no rosto do povo da Amazónia.

de regional está muito presente no seu que a inspira na sua terra e região como

ar o Rio Amazonas já me sinto inspirada a ar daquela região, do amor que a gente tem tura. São tantos poetas, são tantos sotaques existem na Amazónia, que é até um pecado a isso e não inserir no nosso trabalho.

as suas referências musicais no Brasil? iras referências foram as cantoras como Elis Nunes, depois passei a me interessar por adores, e que até hoje são referências para cantora Ná Ozzetti e Ceumar, os composissumpção e Vitor Ramil. pre estar atenta ao que acontece de novia forma me influencio por artistas que estão ntando a música brasileira como a própria lipe Cordeiro, Kiko Dinucci, Romulo Fróes, l, Criolo, Luiz Tatit, entre outros, mas tamositores da minha região, como Ronaldo Silva, eli, Paulo Bastos e Joãozinho Gomes.

P- Vem agora apresentar o seu trabalho em Portugal. Que expectativas tem em relação aos espectáculos no nosso país? PB- As melhores expectativas possíveis. Estou muito feliz. Portugal faz parte deste disco tanto quanto o índio. Fazem parte da nossa Nação. Então poder ir com o meu trabalho é um presente. P- Que referências têm da cultura portuguesa ? E da música ? PB- Sempre ouvi música portuguesa, desde criança, através de radios AM e de alguns Cds. O primeiro que conheci foi o Roberto Leal, que cantava nos programas de TV, aos sábados. Depois Amália Rodrigues e, na adolescência, passei a conhecer Dulce Pontes, Carlos do Carmo. E gosto muito da voz do António Pinto Basto, que já ouvi cantar ao vivo. P- Gostaria de fazer uma parceria com músicos portugueses ? PB- Com certeza. Seria um presente. P- Na sua biografia é referido que a Patrícia é património de Amapá, a sua terra natal. Podia falarnos um pouco deste Estado? PB- O Amapá é um estado que foi separado há pouco tempo do Estado do Pará. No Amapá, a cultura dos índios e do povo africano é ainda muito forte. Há quilombos e danças que mostram isso : é um povo simples, muito festeiro e temos um rio lindo, o rio amazonas. E lá só podemos chegar de avião ou de barco. É muita água ao redor! P- Em que projectos está a trabalhar neste momento ? PB- Estamos ainda na divulgação do CD Zulusa e já pensando na continuidade dessa proposta para o próximo CD. P - Podia enviar, através da revista Sotaques, uma mensagem aos portugueses sobre a sua música ? PB- Portugal, é com muita felicidade que vamos levar o nosso trabalho para vocês. Vamos celebrar o que também lhes pertence, a cultura de vocês faz parte da nossa e vai ser uma alegria mostrar a Amazónia pra vocês. Texto: Arlequim Bernardini

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Artes Plásticas

Atlas Violeta - A União luso-brasileira faz a força na capital das artes 64


A Atlas Violeta Associação cultural tem desenvolvido, no seu primeiro ano de existência, uma aproximação cultural e artística entre os artistas da língua portuguesa, incentivando iniciativas comuns . Fruto desse trabalho de perseverança surgiu a oportunidade de levar a Paris, ao célebre Carroussel deu Louvre, um conjunto de obras de artistas plásticos portugueses e brasileiros, que tiveram um assinalável reconhecimento entre o público e a crítica. Foi nos dias 24, 25 e 26 de Outubro que os artistas portugueses Aires Fumega, Carlos Teixeira, Dalila Silva, Dina Sache, Maria Helena Rocha, Margarida António e Santiago Belacqua, e os brasileiros Jayr Peny e Josafá Ferrer viram as suas obras expostas no Stand da Atlas Violeta. Esta embaixada da arte luso-brasileira, apadrinhada pela Atlas Violeta, mereceu rasgados elogios da comunidade artística parisiense, considerada a mais exigente do mundo. Jayr Pény vendeu a peça “ Cavalos Surreais” para um comprador da argentina no decorrer desta feira de arte no Carroussel deu Louvre .Trata-se de um artista com fortes ligações a Portugal - vive em Sintra - e que já fez mais de 40 exposições internacionais no Brasil, em Portugal e nos Estados-Unidos. Josafá Ferrer, o outro artista brasileiro presente nesta Exposição, vive também em Portugal, e destaca-se pelas suas obras que misturam o surrealismo com influências baianas e portuguesas. Recebeu, recentemente, uma menção honrosa nos prestigiosos prémios da Associação Internacional de artistas, em Bolonha, pelo seu quadro “ A fruteira da tentação”. A revista Sotaques cujo intuito também é informar e divulgar as parcerias luso-brasileiras, sobretudo quando estimuladas por uma Associação cultural portuguesa como a Atlas Violeta, entrevistou cada um dos artistas que participaram neste evento .Tomamos como ponto de partida esta Exposição para saber mais sobre estes artistas - o que os inspira, quais são as suas referências culturais, em que obras próprias se revêem, que importância tem a ligação à Atlas Violeta ou a presença no Carroussel deu Louvre. Esperemos que o resultado seja satisfatório. E que possamos dizer que a União luso-brasileira faz a força em qualquer parte do mundo, e torna possíveis objectivos que , se estivéssemos separados , não seriam alcançáveis.

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Artes Plásticas

Aires Fumega, um diálogo

profícuo entre a pintura e a escultura Do diálogo criativo entre a pintura e a escultura, nasce a luz artística do artista plástico Aires Fumega. A revista Sotaques falou com este criador que, sempre que cria, acrescenta novas dimensões à sua arte.

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P - Como caracteriza o seu estilo como artista plástico ? AF - O meu estilo pode considerar-se como a ponte entre a pintura e a escultura. Não é pintura por não utilizar tintas, mas foge da escultura tradicional. P - Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? AF -Todas as obras que transmitem algum tipo de sentimento. Durante o processo criativo, foram as que mais dificuldade técnica criaram. O desafio criado é sempre proporcional ao prazer que a obra transmite. P - Que temas aborda na sua obra ? AF -Essencialmente a mulher. Tento mostrar os dois lados da mulher. Aquele que a mulher gosta de tornar visível e um outro mais reservado que só entra quem está preparado para se perder. P- Está ligado a várias artes como a pintura, a escultura ou a fotografia. Existe alguma forma de arte pela qual tenha preferência ? AF - Para mim é quase como perguntar se gosto mais do meu braço direito ou perna esquerda. É difícil responder. Estas três formas de arte complementam-se. Todas mostram o mundo de uma forma única. O grande desafio é sempre transmitir um sentimento que pode ser bidimensional ou tridimensional. P - É natural de Vila Verde no Minho. De que forma a paisagem que o envolve, influenciou a sua obra artística? AF - A paisagem e o ambiente calmo favorecem o processo artístico. Num trabalho meticuloso como é a minha forma de arte, é necessário ter a envolvência certa. O artista está constantemente a receber sinais que podem ser invisíveis a muitas pessoas. O ambiente exerce pressão sobre o processo criativo.

P- Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico ? AF - Ao artista cabe a produção artística. Quanto mais se alhear ao processo de divulgação, mais disponibilidade física e mental terá para desenvolver novos projectos. É importante que a relação seja transparente e profissional, para que ambas as partes saiam a ganhar. P - Quais são as suas grandes referências artísticas? AF - As influências são variadas, mas sem dúvida destaco o Antoni Gaudi como referência artística. O seu trabalho enquanto arquitecto e artista sempre me fascinou. P- Participou no stand da Atlas Violeta na Feira de arte do Carrousel do Louvre em Paris. Que importância teve esta visibilidade internacional do seu trabalho ? AF -Paris é uma referência da arte a nível internacional. O Louvre é por excelência o seu ícone mais forte. Esta exposição tem um grande impacto no panorama de arte mundial. Todos os artistas beneficiam ao fazer parte deste evento. Texto: João Castro

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Artes Plásticas

Carlos Teixeira, um artista que pinta com as emoções

Carlos Teixeira faz da pintura um quadro de realismo espontâneo. O artista, que vive em Braga, falou-nos sobre o seu processo criativo, tão natural e colorido como o Minho onde vive e cria.

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P- Como caracteriza o seu estilo como artista plástico? CT - Pinto em vários estilos conforme as minhas emoções do momento, o meu estilo favorito é o realismo espontâneo! P- Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? CT - São sempre as mais atuais, as que estou a pintar no momento, confesso que com um sabor especial desta última que pintei para o carroussel du louvre, pois não é todos os dias que se tem esta oportunidade como artista, e se recebe um convite destes! P - Que temas aborda na sua obra ? CT - Depende do momento, são variados, desde o abstracto, paisagem, figurativo, tem tudo a ver com o momento! P - Está ligado a várias artes como a pintura, a escultura ou a fotografia. Existe alguma forma de arte pela qual tenha preferência? CT - Com certeza que é a pintura, sem dúvida alguma! Embora aprecie todas as outras.

P - Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico? CT - É fantástico porque sendo a Atlas violeta uma associação cultural de divulgação de artistas de língua portuguesa pelo mundo, dá-me a oportunidade de ver o meu trabalho exposto em vários países, o que é excelente, para me dar a conhecer como artista e ver o nosso trabalho reconhecido! P- Quais são as suas grandes referências artísticas? Carlos Teixeira -Os meus artistas preferidos sempre foram, da Vinci e Salvador Dali, que estavam à frente do seu tempo. P -Que importância tem o facto da sua obra integrar esta exposição no Carrousel do Louvre em Paris? CT - Não costumo criar expectativas, e neste caso só o facto de ter sido convidado pela Atlas violeta para estar presente é já uma vitória como artista, pois há uns tempos atrás era apenas um sonho!

P- Vive no Minho. De que forma a paisagem que o envolve, influenciou a sua obra artística? Carlos Teixeira -Sou natural de Luanda Angola, os meus pais são portugueses, mas vim com 4 anos de idade para Braga, muito novo, penso que o Minho acaba por influenciar a minha pintura em termos de cores, pois o Minho é mais colorido e alegre. Texto: João Castro

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Artes Plásticas

Dalila Silva, uma amante da abstração e da natureza 70


Para a artista plástica Dalila Silva pintar é conjugar as cores da abstração e da Natureza. Nesta entrevista descobrimos mais sobre um estilo muito próprio de uma artista invulgar. Quisemos saber mais sobre a arte invulgar que nos propõe Dalila Silva, nesta entrevista .

P - Como caracteriza o seu estilo como artista plástica ? DS - Após algum percurso e algumas tantas experiências, hoje o que mais me interessa é a pintura abstrata nas suas várias vertentes. P- Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar, e com as quais mais se identifica? DS - Todas as obras me deram alegria,nelas pus emoção e energia, não tendo deixado de ser especial a realização da obra "Ouro e Azul" . Participei com ela na Exposição colectiva que decorreu no Carrousel du Louvre de 24 a 26 do mês de Outubro, e foi-me surpreendendo ao longo da execução.

P - Quais são as suas grandes referências artísticas ? DS - Desde criança que me interesso por pintura. Os impressionistas foram os que mais me influenciaram de início. Hoje aprecio vários estilo mas o que mais me interessa é a pintura abstrata. P - Que importância teve a presença da sua obra exposição no Carrousel do Louvre em Paris ? DS - O meu trabalho foi divulgado e, penso que a exposição no Carrousel du Louvre, foi vista por muitos apreciadores de arte, o que trouxe visibilidade ao meu trabalho.

P - Que temas aborda na sua obra ? DS - Penso que, no final, de um modo ou outro, a natureza está sempre presente no meu trabalho. Revista Sotaques - Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico ? DS - Uma grande importância, visto que todo o artista espera ver divulgada a sua obra.

Texto: João Castro

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Artes Plásticas

Dina Sache, uma criadora sem fronteiras estéticas 72


Dina Sache é uma artista que faz da ligação ao fantástico e ao lado lúdico e onírico da arte um permanente desafio. Esta criadora multifacetada já ilustrou para crianças e participou no Porto Cartoon, e continua a desenvolver o seu percurso artístico sem balizas e fronteiras estéticas.

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Artes Plásticas

P- Como caracteriza o seu estilo como artista ? DS - O meu estilo passa por um processo de evolução pessoal e maturação artística. É um processo em constante mutação e eu simplesmente deixo fluir. A cor é um elemento sempre presente e eu gosto que as obras tenham profundidade, tanto a nível de conceito como visual. Por isso cada peça é feita de várias camadas que ora revelam ora ocultam parcialmente. Tenho um gosto particular pelas texturas. Uso diferentes técnicas e linguagens estéticas, consoante aquilo que quero “dizer” numa peça. Estou sempre à procura de aperfeiçoar as técnicas que uso para que possa acrescentar algo novo à minha Arte. Como cada peça que faço é sentida com o devido tempo, quando passo à concretização, ela fica marcada com um cunho muito pessoal. P - Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? DS - Mentiria se não dissesse todas. Nos últimos tempos, tenho-me dedicado à criação de objectos de arte e a perspectiva que obtenho da passagem do bidimensional do desenho à tridimensionalidade da escultura é indescritível. Por isso posso destacar dois trabalhos que me deram particular prazer a criar: o “Jardim Suspenso”, e as duas peças que criei para a cena do chá da história Alice no Pais das Maravilhas.O “Jardim Suspenso” é uma instalação composta por sete chávenas vintage todas diferentes e trabalhadas com motivos florais e pequenos personagens que as habitam, num mundo de fantasia. Quando montei a instalação na galeria e pude ver as chávenas suspensas a intervalos e alturas diferentes, é que tive a real noção do aspecto do que eu tinha idealizado. Toda a instalação resultou muito delicada e poética, e é um trabalho pelo qual tenho um carinho especial. As duas peças que idealizei para recriar a cena do chá da Alice no Pais das Maravilhas foram talvez as mais desafiantes e exigentes que já realizei. Quis captar a personagem do Mad Hatter (o Chapeleiro Louco) e explorar a irreverência e a loucura que lhe estão inerentes, na desproporcionalidade dos membros, no movimento, na expressão e na obscuridade que a peça pede porque não quer demasiada luz, precisa de uma certa penumbra para criar o ambiente de mistério, e depois ter ao lado uma gaveta que sai da parede, de uma outra dimensão e que, na realidade, é um cenário de floresta onde o pequeno Dormouse dorme tranquilamente num colorido bule, envolto de um cenário de fantasia. Neste trabalho pude explorar a teatralidade e o dramatismo em peças, que me elevaram a um nível de dificuldade técnica totalmente diferente. P- Que temas aborda na sua obra ? DS - Os temas que abordo estão ligados ao fantástico, ao imaginário dos Fairy Tales, a uma natureza etérea. Gosto de pincelar uma estética vitoriana, de representar uma beleza misteriosa.

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Sou muito observadora, vou acumu tempo, colecciono cheiros, cores, se memórias de infância, sentimentos estou a criar. No fundo, gosto de contar histórias meu universo pessoal, as minhas mu

P - Venceu em 2010 o prémio Ilus para o Porto Cartoon. Esperava e ? DS - Honestamente foi uma surpres desafios na esperança de um dia ven a perfeita noção que, quando se fala imediata de se poder corromper tod car” um vencedor, deixando pelo cam O Ilustra Futuro, foi um concurso d paixão para mim, e fiquei radiante c Cartoon explorei uma área da ilustra turado: criar um cartoon, com aque certa critica social e politica. Para primeira experiência foi muito seleccionada e ter feito parte da expo com orgulho o pormenor de ter sido artistas portugueses seleccionados

P - Tem uma experiência na ilustr Qual é o maior desafio que enfren DS - Ilustrar para crianças implica u tação de textos, para depois consegu adicionar-lhe algo mais e criar assim forma que, para além de materializa possa acrescentar algo novo ao próp história dentro da história. É esta riqueza visual, de pormenor, d e viver a história que alimenta o ima está à espera, de viver a história pela Ao contrário do que se possa pensar gente, pela sinceridade que é tão car desafio que encontro nos textos infa artista e senti-los com um coração d

P- Que importância tem esta liga divulgação do seu trabalho artíst DS - A relação com a Atlas Violeta é pude aperceber-me do dinamismo q tem uma filosofia de promessas mas sinergias para divulgar os artistas, pa


ulando imagens e, ao mesmo ensações, formas soltas, sabores, e uso todo esse material quando

s com imagens e esconder nelas o undividências.

relação de respeito para com a Arte e os artistas. Estou muito feliz com esta ligação, e é notória a divulgação que fazem do meu trabalho. Esta minha participação na exposição no Carroussel do Louvre é uma prova disso.

Revista Sotaques - Quais são as suas grandes referências artísticas ? stra Futuro e foi seleccionada DS - O surrealismo de Salvador Dali sempre me fascinou, pela criação este reconhecimento da sua obra de mundos diferentes feitos à base da distorção da própria realidade. Depois, claro, os grandes nomes como Leonardo da Vinci, Bosch, sa boa, isto porque me lancei e esses Picasso, e muitos outros que, para quem quer seguir a vertente Artes ncer por mérito e assim foi. Tenho Plásticas, tem por obrigação conhecer o obra. Afinal, o Futuro não se a em concursos, há ali a hipótese faz sem Passado. Como dou muito valor ao que é português, admiro do o propósito da iniciativa e “fabri- alguns ilustradores contemporâneos como, por exemplo, Teresa Lima, minho tantos bons talentos. André da Loba, Alice Geirinhas, João Vaz de Carvalho. Mas vou buscar, de ilustração, uma área que é uma também, referencias ao cinema, Tim Burton, à literatura em Florbela com o primeiro lugar, no Porto Espanca, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner. ação à qual nunca me tinha avenDepois há todo um universo de coisas que se podem converter em refela carga de humor sarcástico e uma erencias, os contos tradicionais que passam na tradição oral, a música, a dança, o teatro, os museus. Tenho formação em música clássica o gratificante o facto de ter sido (violino) e isso também me influencia na criação artística. Um artista osição e catálogo, acrescentando tem, na minha opinião, de procurar manter-se actual e absorver o máxo a única mulher, de entre os doze imo de experiências culturais para conseguir alimentar a inspiração.

ração de livros para crianças. nta neste trabalho ? uma boa capacidade de interpreuir sintetizar uma ideia chave, m uma narrativa visual rica de tal ar o texto que lhe está adjacente, prio texto, criando quase uma

do fazer sonhar e entrar na imagem aginário da criança. É disso que ela a imagem. r, o público infantil é muito exiracterística das crianças. É esse antis, olhar para eles com olhos de de criança.

P – Que importância tem esta oportunidade que teve de poder expor o seu trabalho no Stand da Atlas Violeta, numa exposição no Carrousel do Louvre em Paris ? DS - Estou bastante entusiasmada por esta oportunidade de ter duas peças minhas em Paris. É uma experiência nova, e é a primeira vez que o meu trabalho sai de Portugal e isso para mim é já muito gratificante. As expectativas que tenho é que o meu trabalho tenha boas críticas e seja reconhecido. Texto: João Castro

ação com a Atlas Violeta para a tico ? é recente, mas neste pouco tempo que existe nesta Associação. Não s sim de acções e, realmente, cria ara levar a Arte mais além. Há uma

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Artes Plásticas

Jayr Peny, um artista que se inspi

Artisticamente define-se como um geómetra figurativo ou um figurativo mágico. Radicado em Sintra

confessa-nos nesta entrevista que Portugal lhe dá tranquilidade e o inspira a nível das cores e do ri

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ira em Portugal

a, há anos, este artista plástico brasileiro

itmo da sua obra.

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P- Como caracteriza o seu estilo como artista plástico ? JP- Diria que o meu estilo se enquadra dentro do que se pode chamar de um geometrismo figurativista ou um figurativo mágico, a minha preocupação quando pinto é tentar captar um novo ângulo na figura humana e uso para isso uma estilização bem pessoal e característica, que dá uma sustentação mais autêntica ao meu trabalho . P- Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? JP- Na verdade gosto de todas, não há uma assim em especial, pois todas elas nasceram da necessidade de colocar para fora o que vai aqui dentro de mim. Claro que há um ou outro trabalho que se destaca, até mesmo pela dificuldade e o desafio que foi para mim fazê-lo nascer. Posso citar por exemplo, o o painel na sede da Casa da Indústria em Natal, que realizei em meados da década de noventa do século passado. O painel chama-se Operários brasileiros, foi muito desafiador para mim pintá-lo, mas consegui, e o resultado superou as expectativas. P- Que temas aborda na sua obra ? JP- Abordo o tema da Maternidade, do Arlequim, dos Cavalos, entre outros. Mas creio que a figura humana é o tema mais presente na minha Obra, que é acima de tudo uma homenagem à mulher e ao espírito feminino. Também divido as minhas temáticas em séries, posso destacar algumas: A série das Linhas e Formas, a série das Estruto-Figuras, a série das Brincadeiras Infantis e a série dos Vendedores de Pássaros”. Revista Sotaques - Reside em Sintra . De que forma a paisagem que o envolve todos os dias influenciou a sua obra artística ? JP- Não sou um pintor de paisagens, como falei sou um pintor figurativo. A minha pintura é de estúdio de atelier, não necessito de sair para trabalhar. Mas gosto,sim, do clima e do ambiente de Sintra, é um local tranquilo com pessoas pacatas, encontro aqui a tranquilidade ideal para conceber os meus quadros.. P- Portugal inspira-o artisticamente ? JP- Claro, Portugal é um paraíso a céu aberto. A maioria das pessoas que conheço, e que viajaram para Portugal, ficaram admiradas pela positiva com o que encontraram. Comigo não foi diferente, tudo é tradição aqui, em cada cidade, em cada vila que visitei fiquei maravilhado com tudo e com o belo que é esse país, além do povo que é bastante acolhedor e simpático. Tudo isso se refletiu e reflete até hoje nas cores que uso e no ritmo da minha Obra. Portugal inspira! P- A ligação artística luso-brasileira precisa de ser mais estimulada. Que acha que devia ser feito para aproximar mais os artistas brasileiros e portugueses ? JP- Mais intercâmbios culturais envolvendo empresas e instituições dos dois países. É fundamental hoje uma nova política cultural para o Brasil e para Portugal, também, que evolva os artistas e promotores. Essa troca é benéfica e aproxima mais o cidadão comum de novas horizontes culturais.

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P -Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico ? JP- Toda e total importância, pois a Atlas Violeta é hoje o veículo ideal para dar a conhecer o meu trabalho pela Europa a fora e não só. A Atlas violeta está de parabéns : essa parceria é para durar!! P -Quais são as suas grandes referências artísticas ? JP- Do Brasil: Cândido Portinari, Laerpe Motta, Vicente do Rêgo Monteiro, Di Cavalcante, Anita Malfati, João Câmara, Reynaldo Fonseca, entre outros... Da europa: Salvador Dalí, Pablo Picasso, Tâmara de Lempica, Leger entre outros... P - Que importância teve o facto das suas obras terem estado na exposição do Carrousel do Louvre em Paris ? JP- O mais importante para mim nessa iniciativa, já foi alcançado. Que é a possibilidade de expor mais uma vez o meu trabalho em Paris, cidade onde já realizei há alguns anos atrás, duas exposições individuais que foram muito bem aceites pelos parisienses. Tinha a certeza que esta exposição ia correr pelo melhor pela qualidade dos artistas envolvidos e pelo trabalho da Atlas Violeta nessa empreitada que é de louvar. Muito obrigado por essa possibilidade à Atlas Violeta.

Texto: João Castro

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Artes Plásticas

Josafá Ferrer traz um

Surrealismo baiano para o mundo O artista plástico baiano, Josafá Ferrer desenvolve uma arte que vai beber às fontes surrealistas, conciliando-as com múltiplos estilos e referências culturais como Salvador da Bahia e a influência portuguesa . Nesta entrevista traça-nos um retrato da sua arte 80


P - Como caracteriza o seu estilo como artista plástico ? JF- Inicialmente recebi a influência dos vários estilos pictóricos mas foi no neoclassicismo do século XIX que encontrei as minhas bases e referências , na teoria do novo belo ideal inspirada na cultura greco-romana. Aprendi assim a construir, mas faltava destruir com sabedoria, e fui buscar ao Surrealismo essa vertente contemporânea, que ainda hoje me fascina, estimulando a criatividade e o dinamismo das minhas personagens. Mas ainda estava inconformado, e voltei à arte flamenga e à pintura visionária de Jerónimo Bosch, percursor da arte onírica dos surrealistas, redefinindo-me com o estilo chamado Visionismo. P- Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram a criar ? JF- Executada recentemente " A fruteira da tentação" . Ainda por acabar, na minha óptica visionária sobre a influência da teoria da Simetria bipartida a obra " Desdobramento a partir da orelha" . P- A mulher está muito presente na sua obra. Qual o motivo desse fascínio ? JF- Resume-se ao facto das suas formas serem mais suaves e se adaptarem melhor ao contexto criativo. A mulher está em muitas coisas e isso faz dela o centro das atenções - no sentido comercial e não só. " A mulher aprecia mulher e compra mulher " .

Surrealismo baiano soft, com as suas típicas casas e monumentos de influência lisboeta . P- Que importância tem esta ligação à Atlas Violeta para a divulgação da sua obra ? JF-Permite um maior intercâmbio, facilitando a aproximação dos artistas a sítios que seriam inalcançáveis se agissem sozinhos. Dá a conhecer e divulga os nomes deles em Galerias e espaços alternativos de conhecimento público. P- Quais são as suas principais referências artísticas ? JF- Do passado posso citar o nome do génio da pintura barroca italiana, Caravaggio e Velásquez, o iniciador do realismo naturalista e capaz de, através de umas pinceladas, dar uma ideia fiel da fisionomia de uma roupagem ou de uma pessoa. Da nossa época contemporânea escolheria Salvador Dali, pela sua genialidade e criatividade, e Picasso. P- Que revelância teve a presença da sua obra da exposição do Carroussel deu Louvre em Paris ? JF-Permitiu-me dar a conhecer a minha obra e estabelecer novos contactos com Galerias, Marchands de arte, artistas etc .

P - Tem uma ligação muito forte à Bahia ao longo do seu percurso artística. Que importância tem a cultura baiana para si enquanto criador ? JF- A minha criatividade em Salvador foi posta à prova no Pelourinho perante os muitos artistas que têm ali um atelier fixo. Inspirei-me no souvenir baiano como arte naíve - nas suas cores policromadas e intensas - criando uma espécie de Texto: João Castro

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Margarida António ou a arte como filosofia de vida

Margarida António não distingue a arte da sua filosofia de vida. Quando cria exprime os seus valores éticos e morais como adepta do planetarismo, a crença numa visão global e plena da acção humana, que se prolonga na tela de pintura.

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P - Como definiria o seu estilo ? MA - O meu estilo enquanto Artista Plástica é um misto de surrealismo / simbolismo/ misticismo/expressionismo, onde ganhei um estilo muito único que se identifica com a pessoa que sou. P - Quais são as obras que criou com as quais mais se identifica ? MA - As minhas obras com as quais mais me identifico são as Séries dedicadas ao Douro : Reflexos in Douro ; Douro in Life; Dance in Douro . Estas séries apelavam ao Douro, enquanto processo regenerativo do espírito humano. A Série ..Ego ..construída no espaço expositivo no Palácio das Artes do Porto com interacção do público num período de três meses ,numa atitude completamente inovadora a nível mundial ,onde o ponto de partida se fundamentou nas garatujas de ...Pietá ... por mim criadas...tendo sido visitada por diferentes grupos da Europa ,Ásia e América . A série ...Sublimação ....exposta no Palacete Pinto Balsemão da Câmara do Porto ,estudada por vários grupos de estudantes do programa Erasmus .A série ....Margaridas versus Amoris exposta na galeria de Arte da Bienal de vila Nova de Cerveira. A série...Labirintos ....no Clube Literário do Porto ....onde acorreu muito público estrangeiro que comentou com testemunho da comunicação social : O Porto é muito bonito ..mas o mais bonito do Porto é esta exposição de Margarida António ! P- Quais são os temas que aborda na sua actividade artística ? MA -Os Temas que abordo na minha obra têm a haver com a minha consciência social e a vontade de criar um mundo melhor :mais voltados para os valores morais,éticos e humanos do indivíduo , daí a corrente da qual sou mentora. O Planetarismo enquanto tomada de consciência da necessidade de um mundo melhor. No jornal as "Artes entre as Letras" em Dezembro , onde fui capa em 2013 ,descrevo com detalhe os motivos e temas da minha Arte. P - Como vê o estado actual da arte em Portugal ? MA - O actual estado da Arte em Portugal é o reflexo das políticas económicas e culturais dos governos que têm vindo a decapitar o País ! Apesar de tudo hoje assiste- se já a outras formas mais dignas e lícitas de consagrar o Artista ,pois a corrupção de toda a ordem permitia que se estabeleceçam muitas horizontais...e se perdam valores ,dignidade e autenticidade na verdadeira Obra de Arte. Hoje já se assiste, a portas abertas aos jovens artistas, com transparência ,sem elitismos ou grupos de politiquices ! ...essa é uma pretensão do Planetarismo ou seja : transparência ,igualdade de oportunidades e autenticidade do verdadeiro Artista .

P-É natural do Minho. De que forma as suas origens influenciaram a sua arte ? MA - Sou natural do Minho, mas filha de pais nascidos no Douro . Cresci e formei-me cresci enquanto pessoa, nas suas paisagens ,pelo que muito me influenciou ! Todavia,o Minho paira em mim na medida em que vivo há algum tempo por lá...os seus verdes reflectem se na minha obra ! Sou por isso um misto ....Douro/Minho !.... Sendo estes a grande beleza de Portugal ! P - Que importância tem esta ligação à Atlas Violeta na divulgação da sua obra ? MA - A Atlas Violeta tem uma importância relativa às capacidades de divulgação da própria Associação ....esperando um intercâmbio de oportunidades, ao levar a minha Arte e a dos outros Artistas que fazem parte da Associação ao conhecimento dos verdadeiros amantes da Arte . P - Quais são as suas principais referências artísticas ? MA -As minhas referências artísticas são fundamentadas no pensamento de Kandinsky, nas bailarinas de Edgar Degas, no espírito de Leonard DaVinci e, naturalmente, nos mestres da Arte Contemporânea . P - Que relevância teve o facto de ter a sua obra na exposição do Caroussel du Louvre de Paris ? MA -- Nunca crio expectativas em relação a nada ! As coisas acontecem porque têm de acontecer...e fico a aguardar que tudo ou nada possa acontecer ! ...Deus saberá ! Apenas parto do princípio de que estou inserida no projecto da Atlas Violeta que acredito autêntico ,empenhado e empreendedor ! Texto: João Castro

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Artes Plásticas

Maria Helena Rocha, um procura da sinfonia das cores

Maria Helena Rocha descobre, no íntimo das formas, a sinfonia das cores. Interrogámos o silêncio

Angola, para sabermos mais sobre a sua arte subtil, que mistura o sonho, o devaneio, a fantasia, o 84


P -Como caracteriza o seu estilo como artista plástica ? MHR- Sempre tive a dúvida do estilo ou estilos. Nas minhas obras identifico diferentes áreas/famílias de comunicação. Criativa, e recreativa, aproveitando e transpondo o que sinto e o que imagino. Uma dicotomia entre a realidade, o sonho e a contemplação idealista. P -Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? MHR- Na verdade identifico –me com quase todas ( excepto com as pinturas abstractas ) Se observar o meu website www.mhchroa diria que são dois grandes temas: FANTASIAS E DEVANEIOS Revista Sotaques - Que temas aborda na sua obra ? Maria Helena Rocha - O meu trabalho é centrado numa diversidade de elementos inspirados na sintonia carismática de um dialogo intransponível entre agentes construtores de um significado e de um silêncio escondido na sinfonia de cores , nascendo assim espaços de lazer mágico-simbólicos, com uma leitura ou interpretação individual.

P - Como vê o atual estado da arte portuguesa? MHR- Em crise , apesar dos novos valores que vão surgindo , e que por isso mesmo raramente encontram receptividade Revista Sotaques - É natural de Angola . De que forma a paisagem angolana influenciou a sua obra artística ? Maria Helena Rocha - Talvez pela liberdade do pensamento, devido à grandiosidade da paisagem e de ter tido a oportunidade de coabitar com a natureza. P- Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico ? MHR- É um canal em que quero acreditar e para o qual estarei disponível para dar a minha modesta contribuição. P-Quais são as suas grandes referências artísticas ? MHR- O MUNDO DO M.C.ESCHER Revista Sotaques - Que relevância teve a participação nesta exposição no Carrousel do Louvre em Paris. Maria Helena Rocha - Embora com o mercado em baixa ,Paris é sempre Paris, uma grande aposta! Estou confiante que iluminará as artes!...

Texto: João Castro

ma artista à criativo desta artista plástica, nascida em

o prazer recreativo de pintar. 85


Artes Plásticas

Santiago Belacqua, o artista que fez regressar Amália a Paris

Santiago Belacqua é o mentor do projecto Portugal Monumental. Um projecto em que este artista p

tico mostra o património cultural e arquitectónico do país, com quadros de alguns dos maiores ícon culturais portugueses.Conheça melhor o artista que fez regressar Amália a Paris.

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P- Como caracteriza o seu estilo como artista plástico ? SB -O meu “estilo” é pintar o que tento encontrar nos olhares... de outros. Que sejam outros olhares a carecterizar o que pinto. P -Quais são as suas obras que mais prazer lhe deram criar e com as quais mais se identifica? SB - A maior paixão, e dedicação, é pintar Portugal Monumental. Tenho muito gosto em visitar as nossas terras, envolver os seus residentes, até mesmo autarcas, para desenvolver este conceito. Agora estou a pintar a “outra portugalidade”. P - Que temas aborda na sua obra ? SB - Vários : figuras públicas, heróis do nosso país, mas também o anónimo, e os meus amigos, a quem estou a dedicar um álbum: Os Intocáveis. Eu pinto o mundo que me rodeia, e o mundo é enorme! P - O projecto " Portugal Monumental" procura mostrar a cultura portuguesa ao mundo. Pode falar-nos deste projecto ? SB - Não pensei, nunca, mostrar a cultura portuguesa ao mundo! Quem sou eu para representar a cultura portuguesa?? Eu só mostro uma coisa da nossa cultura: o nosso património arquitectónico. Parcialmente, pois jamais terei oportunidade de retratar todo o país. Havendo convite consistente e sem prejuízo para mim de mostrar Portugal Monumental ao mundo, cá estarei!

P- Que importância tem esta ligação com a Atlas Violeta para a divulgação do seu trabalho artístico ? SB -Tendo a Atlas Violeta como objecto a projecção da cultura dos países lusófonos, tornou-se para mim de grande importância. Sendo que, quando aderi a esta associação, não a encarava como um mecanismo de divulgação do meu trabalho, zero, gostei, e gosto, muito das pessoas que a lideram! Achei o projecto de grande importância, que está a crescer, e notei que a Atlas tem um lema importante, também meu desde sempre: fazer. P - Quais são as suas grandes referências artísticas ? SB - Várias e nenhuma. A História mostranos trabalhos de muitos fantásticos artistas, mas também conheço artistas com belíssimas pinturas, que a História nunca revelará. E eu estou no seu meio. A minha referência artística é simples: Quando alguém diz sobre uma tela minha “isto é brutal”, sei que ao criar essa emoção num olhar me obriga a fazer melhor. P - Que importância teve a presença da sua obra na exposição no Carrousel do Louvre em Paris ? SB -A ida ao Carrousel du Louvre, que agradeço à Cristina Bernardini e à Atlas Violeta, prende-se com um ícone português: A Amália regressou, desta vez em tela, a Paris! Em off the record : vim com uma nova ideia que já estou a desenvolver...

Texto: João Castro

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