Revista Sotaques nº3 Agosto

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Agosto | 2014 Nº 03 | Gratuito

Tecno - Orixás Ou a arte moderna de Valer Nu

Telmo Pires

Um fadista com o mundo na alma

William Gavião O voo apaixonado pelo Teatro

António Granja

A nova moda portuguesa que se afirma com liberdade

À luz das clarabóias nasce uma nova parceria

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Luso-brasileira 1


Editorial Nesta edição de Agosto da revista Sotaques,

escritores – Mário e Oswald de Andrade – que

falamos da arte do invisível que se torna visível.

foram os ideólogos do movimento modernista

Das artes plásticas que nos revelam aquilo que o

brasileiro, sem o qual não conseguíriamos en-

nosso olhar descobre no mundo, avalia, projecta,

tender o trabalho vanguardista do artista plástico

transformando uma matéria-prima em bruto em

brasileiro, Valter Nu, e os tecno-orixás, esculturas

algo completamente diferente.

que juntam passado, presente e futuro, numa

Habitualmente, associamos a palavra cultura a

união inovadora e improvável.

literatura ou a cinema. É uma ligação forçada,

A arte do invisível que se torna visível – eis uma

mas deriva de um certo conceito livresco da nos-

definição acertada para as artes plásticas – tam-

sa actividade cultural, que remete as artes plás-

bém está presente no trabalho do casal de artistas

ticas, nomeadamente, a pintura, a arquitectura

portugueses Manuel António e Paula Dacosta,

ou a escultura, por exemplo, para uma posição

de nome artístico Alua Pólen, que transformaram

secundária.

o seu desejo de criar artisticamente, num novo

Na revista Sotaques, temos o entendimento con-

caminho de vida, que seguem há 30 anos.

trário. As artes plásticas, pela sua capacidade

Na rubrica “ Meu Porto brasileiro”, entrevistamos

de desvendarem novos caminhos, de mostrarem

o actor e encenador brasileiro, William Gavião,

a nossa criatividade subconsciente – e, nesse as-

cujo sonho e perseverança o trouxe a Portugal e

pecto, a arquitectura e a pintura são espelhos

o levou a criar novas parcerias, novas ligações e

reflectores da nossa imaginação – fornecem-nos

um novo entendimento da arte. Mais um exemplo

preciosas indicações sobre aquilo que caracteri-

de como a utopia do olhar pode recriar um novo

za uma cultura e uma civilização concreta.

mundo.A arte do visível que se torna visível. A

No caso desta edição, os exemplos abundam.

arte que nos estimula a criar uma revista como

O nosso tema de capa, as clarabóias do Porto,

a nossa, a pintar um quadro, a desenhar um pré-

são um símbolo da arte burguesa que moldou a

dio, a iluminar as nossas vidas com um projecto

imagem do Porto, uma arte detalhista em que se

que perdure no tempo para lá da morte.

procurava uma certa ideia de beleza e equilíbrio. Por outro lado, do Brasil chegam-nos ecos do pas-

António Bernardini

sado e do presente. Do passado, porque abordamos, na rubrica dedicada à Literatura, dois

Editor: António Bernardini Diretores: Rui Marques e António Bernardini Colaboradores Portugal - Rui Marques , Arlequim Bernardini , António Granja , Fátima Gonçalves ,Gonçalves Guerra ,António Santos Brasil - Paulo César , Hernany Fedasi

Revista Sotaques Brasil Portugal Tel. 351 917 852 955 - 351 916622513 antonio.sotaques@gmail.com - rui.sotaques@gmail.com www.sotaques.pt - www.facebook.com/sotaques


A arte do invisível que ilumina as nossas vidas

04 10 14 16 20 24 32 36 46 48 54 62 64 66 70

Tecno - Orixás A nova linguagem do artista plástico Valter Nu Manifesto Antropófago Túnel de Vizela Telmo Pires um fadista com o mundo na alma À luz das clarabóias nasce uma nova parceria Luso-brasileira A arte do invisível que ilumina o Porto Alua Pólen: um casal com 30 anos de amor à arte A arte uniu William Gavião a Portugal O voo apaixonado pelo Teatro A nova moda portuguesa que se afirma com liberdade Uma obra de arte no interior do Palácio da Bolsa A Arte Burguesa Almada Negreiros, um Leonardo da Vinci português Ilha dos Amores : Espelho d’água


Artes Plรกsticas

Tecno - Orixรกs ou a arte moderna de Valer Nu 4


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Artes Plásticas

Entre o artista plástico brasileiro, Valter Nu, e os modernistas que mudaram a

do Brasil, no século XX, há muito mais ligações que a nacionalidade. Há um

de espírito experimental que se prolonga pelas décadas, e que caracteriza a cl brasileira.

Multifacetado é uma palavra que se ajusta na perfeição à figura do artista p

Nu. Nascido em Santos, estudou artes visuais na Fundação das Artes em São Sul, com formação na área do audiovisual e pós-graduação em semiótica.

O seu percurso está ligado à Prefeitura de São Paulo, onde é artista orienta visuais e artes integradas do programa vocacional da Secretaria Municipal da

bém é Dj, produtor musical e , a nível das suas exposições, caracteriza-se por tr

esculturas feitas com reaproveitamentos de materiais descartados desde 1993.

Essa preocupação ecológica complementa-se com a junção entre o passado

entre a tecnologia e as figuras da cultura negra, dos orixás. O tecno-orixás é inovador que nos mostra esculturas tridimensionais inspiradas em divindades Candomblé. São imagens produzidas com restos de materiais tecnológicos descartados,

nas caçambas de entulho da cidade de São Paulo, entre 2010 e 2014. Ne

multicultural resgatam-se as tradições de oralidade da cultura afro-brasileira

divulgadas através das canções populares das canções da música popular bra

A música é omnipresente nestas instalações: existe mesmo um grupo “ Curimb

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face artística

ma comunhão

lasse artística

criado para a festa de inauguração do evento, que apresenta uma performance musical, com Djs e cantores que fazem leituras animadas da exposição. Na raiz da filosofia que está subjacente aos Tecno-orixás está o sincretismo cultural e religioso. Reunir figuras como Iansã/Santa Bárbara, Ogum/São Jorge, em formas esculturais que

plástico Valter

estimulam o diálogo entre as diferentes culturas, ou mostrar a riqueza da oralidade cultural

o Caetano do

afro-brasileira. Também é um projecto que visa alertar para a necessidade de revalorizar a importância da cultura africana nas escolas, nas comunidades, na sociedade.

ador de artes

Valter Nu, com a obra escultural Tecno-orixás, segue a mais rica via da arte brasileira dos

cultura. Tam-

séculos XX e XXI. Aquela que vem directamente da influência dos primeiros modernistas

rabalhar com

brasileiros, que não tinham medo de experimentar, e de pesquisar as origens da cultura

.

brasileira e a sua ligação às diferentes tradições africanas ou índias.

o e o futuro,

A melhor forma de conservar a tradição é fazê-la dialogar com o presente – só assim se

é um projecto

constrói o futuro. Na arte e na vida, como o prova o fascinante projecto dos Tecno-orixás

africanas do encontrados

de Valter Nu. Texto Paulo César

este trabalho

a, que foram

asileira.

ba eléctrica”,

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Artes Plรกsticas

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É um Atelier de artes que junta a produção artística com o design de produto, afirmando-se em múltiplas áreas criativas.

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Entrevista

Tecno-Orixás, a nova linguagem do artista plástico Valter Nu

Escultor, investigador e músico, não há linguagem artística que o brasileiro Valter Nu não fale com fluidez e inovação. A revista Sotaques Brasil/Portugal entrevistou o artista de São Paulo, um pioneiro da técnica escultural dos TecnoOrixás, que junta tradição e modernidade, e que deixou um repto aos artistas portugueses: fazer uma ocupação da arte urbana do Brasil e Portugal na Estação do Oriente, em Lisboa.

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P - O que o inspirou para criar esta colecção de esculturas “ Tecno Orixás” ?

do movimento, a cobra que se equilibra

VN -As canções de musicas brasileiras que falam dos orixás

feita com autos falantes, porque na cidade de São Paulo, as

e foram difundidas como musica pop no Brasil, a MPB.

únicas ondas que existem são as ondas sonoras do mar da

num skate, para

ser rápida e passar por entre os carros; Iansã, a rainha dos ventos, tem um vestidos de hélices de ventiladores; Iemanjá é

comunicação.

P - Como artista o que é que o seduz nos Orixás e na MPB como objectos artísticos?

VN -Nos orixás, eu gosto muito mais das histórias das lendas do que do aspecto religioso, gosto muito de mitologia, por um período estudei a cultura asteca e maia, depois a mitologia grega e a nórdica, fiquei seduzido pela cultura yoruba.Esta é

Estou

a todo o tempo atribuindo novos significados aos

símbolos dos orixás, dando-lhes novos sentidos para mantê-los conectados com a vida urbana.

P - É artista plástico e DJ . Como consegue ter um interesse por áreas tão diversificadas ?

a origem a mitologia dos orixás e, claro, o meu primeiro con-

VN - Não acho que sejam tão diversificadas assim. Eu tra-

tacto com esta mitologia veio pelos afros sambas, de Bande

balho num projecto na Prefeitura de São Paulo como artista

Pawell, depois as músicas de Clara Nunes, os orixás estão

orientador de artes integradas, ou seja, a minha plataforma

muito presentes na música de Caetano e Gil, Martinho da vila,

académica mistura linguagens.

Rita ribeiro ( agora Rita Benedito) e vários outros.

Gosto desta mistura

do lugar que tudo conversa, se borra,

na minha cabeça, as coisas estão juntas, eu penso música

P - A questão ecológica está muito presente nestas esculturas ?

quando crio as esculturas, estou a esculpir musicas, quando

VN - Sim, muito trabalho como artista de artes integradas

O tecno-orixás só aconteceu porque eu sou dj e tinha as

aqui em São Paulo, num projecto cultural da Secretaria de

músicas na cabeça o tempo todo, e mesmo no meu projecto

cultura. Discutimos estas coisas durante todo o tempo: a arte

de artes plástica anterior, o tecno -descartável, as peças eram

e as suas ramificações, vejo o artista sempre como um vi-

inspiradas em canções da mpb, por isso

sionário, o alguém que pensa para além das questões quo-

trabalho é sempre musical, antes de ser qualquer coisa.

tidianas, as questões ambientais são muito importante hoje. Quando comecei a fazer esculturas, nos anos 90, queria trabalhar com bronze , depois pedra, e por fim esbarrei na su-

estou a produzir ou a tocar também estou a esculpir.

a ideia do meu

P - Qual foi a reacção do público a esta instalação artística?

cata, nos resíduos sólidos que descartámos, então transformei

VN - Foi muito calorosa e surpreendente. Quando colocámos

estes resíduos na minha matéria-prima, não existe o discurso

a instalação numa estação de Metro muito movimentada, no

ecológico no meu trabalho, eu simplesmente uso o descarte do

centro de São Paulo, tive um certo receio, pois o tema orixás,

consumo, como matéria prima para criar o que eu faria com

embora esteja em outro contexto e contemporizado, ainda é

materiais extraídos da natureza, logo não existe um discurso,

um tema que é muito tabu no Brasil. Quando a ideia é religião

existe uma prática.

africana, torna-se

necessário a não demonizar

o tema, o

assunto: tinha receio de que não fosse bem aceite pelas pes-

P - Este conceito junta a tradição e a modernidade. Sente-se identificado com essa associação ?

soas, mas foi ao contrário, as pessoas curtiram, fotografaram,

VN - Sim, acho que toda tradição, se quiser manter-se viva de

bilhetinhos nos orixás com as pessoas a fazer pedidos; na

alguma forma, precisa flirtar com o contemporâneo. No caso

Iansã, tinha uma guia ( colar de contas ), que alguém pôs, os

da cultura dos orixás, no Brasil, ela já chega aqui e transfor-

seguranças contam que as pessoas fazem orações , pedidos,

ma-se para sobreviver, ouve o sincretismo religioso, uma forma

acho bonito, carinhoso.

da igreja católica atrair os negros para as suas comunidades. Eles criaram relações entre orixás e santos católicos, por exemplo, santa barbara =iansã, são Jorge =Ogum, e por aí fora No caso especifico do meu trabalho, eu tento trazer os orixás para uma cultura urbana: Ogum é feito de placas de computa-

souberam separar arte de religião, embora quando fui retirar a exposição do último local em que ela ficou exposta, tinha

P - A cultura afro-brasileira está em destaque neste trabalho. Que pesquisa fez para realizá-lo e o que descobriu sobre este universo ?

dores, é um hacker, e vem em cima de uma moto para abrir

VN - Eu pesquisei, primeiramente, as lendas Iorubá , e depois

caminhos e guerrear nas ruas de são Paulo; oxumare , o orixá

comecei a buscar similaridades entre os orixás e e o mundo

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Entrevista urbano. Também descobri que cada orixá tinha os seus el-

tocámos algumas vezes num evento ligado à Universidade, a

ementos, busquei colocar este elemento na confecção do orixá:

Queima de fitas, foi bem legal.

por exemplo, a Oxum é uma escultura feita com espelhos de discos rígidos de laptop, e um dos seus signos é a beleza e o espelho; para o Oxossi , usei varias lentes e armações de óculos descartáveis, pois queria fazer uma alusão aos muitos olhos que um caçador precisa ter.

P - A oralidade está muito presente no conceito destas instalações. Os sotaques e os vários modos de falar são muito importantes para definir a cultura afro-brasileira?

O universo dos orixás é muito rico, ao analisá–lo, lembra a

VN – Sim, totalmente. O primeiro sopro para criação das escul-

mitologia greco-romana, com a qual estabelece, algumas vezes

turas começa quando escuto músicas que falam dos orixás, da

, paralelismos, como o facto dos seres divinos demonstrarem

cultura e do folclore africano, difundido no Brasil através das

atitudes e necessidades humanas.

músicas cantadas , e dos vários sotaques. Os negros não tinham acesso aos livros: o Brasil foi o último

P - Como se define artisticamente ?

pais a sair do regime escravocrata, há pouco mais de 100

VN - Pergunta difícil. Penso que sou um artista contemporâneo,

anos, então a forma que os negros tinha para se expressarem

alguém conectado com as inúmeras possibilidades e lingua-

era falar das lendas do seu povo, da sua cultura, era através

gens que o fazer artístico oferece.

das músicas.

Gosto da palavra artista de multilinguagens, mas também sem-

Os sotaques são muito importantes no Brasil: já que existe uma

pre digo que sou só artista, e deixo para as pessoas a liberdade

unificação da língua portuguesa, coisa raríssima de se ver em

para me catalogarem. Nunca consigo cercear minha criação,

lugares com dimensões territoriais, como o Brasil, o que define

então não sei onde ela estará daqui a um mês , um ano, pode

as pessoas, e as identifica a região do pais de onde vem , é

ser na música, nas artes visuais, na literatura, no audiovisual, eu

o sotaque.

flirto com muitas linguagens, sempre foi assim, mas hoje estou mais artista plástico...

P - Como definiria o seu sotaque ?

VN – O meu sotaque é paulista: fui criado no abc paulista e

P - A revista Sotaques Brasil/Portugal faz, nesta edição de Agosto, uma abordagem ao movimento modernista brasileiro. Que importância teve este movimento para si ?

depois vim morar no centro da cidade , vibro muito o ere, coisa

VN - O movimento modernista é extremamente importante para

coisa de quem nasce no litoral, tanto o rio de Janeiro como

quem faz arte no Brasil, não só para mim, porque ele representa

Santos, tem este xiado na fala...

o fim da estética clássica europeia, como matriz artística no Brasil, e o início de um diálogo com a cultura brasileira. A semana de arte de 1922, ecoa até hoje, na vida do brasilei-

trazida pela cultura italiana para são Paulo, por outro lado, existe um xiado na minha fala por conta de ser santista de nascimento, e ter passado parte da primeira infância em Santos,

P - Quais são os projecto artísticos em que está a trabalhar actualmente ?

ro: ela vai-se desdobrar na Tropicália, depois na vanguarda

VN - Estou na segunda fase do tecno-orixás , que são mais

paulista, dos anos 80, o mangue beat dos 90 , na onda de

quatro 7 esculturas, de tamanhos entre 3m e 1.80m. Também

tropicalismo actual no pais, e redescobre, na minha geração,

estamos compondo com o curimba elétrica, o colectivo musical

ligações com géneros como os os afro –sambas, e começa

que acompanha a instalação, e estou a escrever o roteiro para

uma relação pop com a cultura ioruba.

uma mini-serie Web, chamada tecno orixás, com várias linguagens, mas tudo gravitando no mesmo tema.

P- Gostava de apresentar este trabalho para Portugal ? VN - Claro adoro Portugal, tenho muito carinho por Portugal.

P -Já desenvolveu parcerias com artistas portugueses ? VN -Apenas numa festa como DJ :em 2007 , estive em Portugal, em Évora, fazíamos uma festa num bar : o capitulo 8. Era uma festa que se chamava 3 vezes português : éramos três um brasileiro, eu, um português, o Wiil, e um DJ de cabo verde, 12

P - Como artista brasileiro, que mensagem gostaria de enviar aos artistas plásticos portugueses ?

VN - Vamos fazer uma ocupação de arte urbana do Brasil e Portugal na Estação do Oriente! TextoPaulo César


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Literatura

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Manifesto Antropófago Apesar do apelido comum, Mário e

gem dos movimentos portugueses, desde

e às várias classes sociais em trechos tão

Oswald não eram irmãos, nem parentes.

os “ Vencidos da vida” – Eça, Antero ou

chamativos como “ Ode ao burguês” ou

Mas foram, durante um breve lapso de

Oliveira Martins- ou dos seus contemporâ-

as “ Senectudes tremulinas”, uma referên-

tempo, amigos e parceiros num movimen-

neos do movimento Orpheu – Fernando

cia aos milionários e burgueses que acei-

to artístico que revolucionou a cultura bra-

Pessoa, Mário de Sá –Carneiro – a nova

tavam, acriticamente, tudo o que vinha

sileira, tal como a conhecemos.

geração brasileira queria marcar a sua

de fora, e defende as “ Juvenilidades au-

Primeiro as apresentações. Mário Raul de

posição e impor novos valores.

riverdes” que são os modernistas que que-

Morais de Andrade nasceu em São Paulo

O Teatro Municipal de São Paulo foi o

rem transformar a sociedade e a arte que

a 9 de Outubro de 1893, e foi aquilo que

epicentro da revolta. O Governador do

esta produz.

podemos definir como um polímato, um

Estado, Washington Luís, apoiou os jovens

Nesses três intensíssimos dias, o Brasil mu-

talento em múltiplas áreas culturais

que

artistas e, em três dias, personalidades da

dou. Da escultura à música, da literatura

se distinguia como poeta, escritor, musicól-

estatura de Mário de Andrade, Oswald de

à pintura, os modernistas desenharam os

ogo, folclorista e ensaísta, e que é consid-

Andrade, Victor Brecheret, Plínio Salgado,

novos rumos da cultura do país, mostrando

erado o pioneiro da etnomusicologia.

Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guil-

que havia algo muito mais rico que a mera

José Oswald de Sousa Andrade também

herme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor

cópia dos modelos europeus.

é nativo de São Paulo, cidade onde veio

Villa-Lobos, Tácito de Almeida ou Di Cav-

Sem estes dois irmãos génios da litera-

ao mundo no dia 11 de Janeiro de 1890.

alcanti, reuniram-se para discutir as bases

tura, Mário e Oswald de Andrade, irmãos

Poeta, romancista e dramaturgo, foi o au-

de uma nova arte brasileira.

de espírito, revolucionários com causa, o

tor dos dois manifestos mais importantes

Mário e Oswald de Andrade escreveram

Brasil nunca teria olhado, interiormente

do modernismo brasileiro – o Manifesto

os textos fundamentais do movimento :

para si, para as suas riquezas culturais, e

do Pau Brasil e o Manifesto antropófago

Oswald, como se disse anteriormente, foi

criado um discurso e uma prática afirma-

– influenciado pela mistura do futurismo

o autor do manifesto antropófago e do

tiva e personalizada do que é a cultura

e do cubismo, que descobriu em Paris, e

manifesto do Pau-Brasil, defendendo que

brasileira face ao mundo.

combinou numa mescla improvável com

era preciso deglutir a cultura brasileira,

elementos da cultura polinésia e africana.

indo aos seus valores mais ancestrais

Estes dois homens talentosos rebelaram-se

que se encontravam reflectidos na cultura

contra a velha República, controlada pe-

dos índios e dos negros; Mário redigiu “

las Oligarquias do café, que importava os

Pauliceia desvairada” que é um livro de

modelos estéticos e culturais e europeus, e

poemas onde faz uma crítica mordaz ao

os implantava no Brasil. Um pouco à ima-

conservadorismo da cidade de São Paulo,

Mário de Andrade

Texto António Santos

Oswald de Andrade

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Artes Plásticas

Túnel de Vizela

Uma obra à frente do seu tempo Chamam-lhe Túnel da cor e foi considerado, em 2006, o

formação a mais de 3000 crianças das Escolas para

maior Túnel de azulejos pintado por crianças do mundo.

criar um gigantesco Túnel pintado com 17 mil azulejos,

Com uma dimensão de cerca de 2000 metros, é uma

que se revela uma obra à frente .

obra que já foi premiada pelo seu arrojo e de vanguarda. Em 2011, a Confraria de São Bento das Peras foi disAlua Pólen, a dupla de artistas composta pelo casal de

tinguida na cerimónia “ Prémios Azulejos 2010”com o

artistas Manuel António e Paula Dacosta, está intimam-

prémio “ Acção Comunitária” no Palácio Fronteira-Lisboa.

ente associada ao apelidado Túnel da cor ou Túnel da Confraria de São Bento das Peras de Vizela. Foram eles, durante a estadia de 12 anos em Vizela, que deram a Texto António Santos

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MĂşsica

Telmo Pires

Um fadista com o mundo na alma 18


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Música

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Telmo Pires A nova geração do fado não pára de nos surpreender com o seu talento. Telmo Pires é um nome a ouvir com muita atenção: viveu anos na Alemanha, absorveu estímulos variados que influenciaram a sua música, e juntou toda esta versatilidade nas suas canções. Agora, no regresso a Lisboa, mostra-nos no álbum “ Fado promessa”, que é um fadista com o mundo na alma.

P - Como caracteriza o seu Fado ?

TP - Para ser sincero: não sei. É muito próprio. Não cresci em Lisboa, não frequentei casas de fado desde miúdo, os meus pais não estão ligados à arte ou musica. Portanto tive que percorrer sempre caminhos muito próprios, diferentes. Acho que se sente e ouve neste disco.

P - Que influências principais estão neste Disco Fado promessa?

TP -As minhas influências foram sempre as emoções que sinto na vida, o amor, a minha história, meu passado, meu presente, o que quero exprimir, o que me toca. Não gosto de me limitar ou ser limitado. Durante as gravações, aconteceram arranjos e ideias imprevistas, como trabalhar com várias vozes, mas que fazem sentido e depois ficaram.

P - Tem alguma música que prefira neste álbum. Qual e porquê ?

TP - Para mim são todas músicas preferidas. Mas há três que estão muito ligadas a mim e são bastante pessoais: ‘Meu amor’, ‘Morena’ e ‘Os navios’.

P- O Telmo viveu em Berlim 11 anos. Como essa vivência influenciou a sua música ?

TP - Aprendi que música é uma linguagem universal. Conheci tantos músicos, alemães e es-

trangeiros que vivem lá e com quais trabalhei, a quem mostrei o fado e que compreenderam, que se ligaram ao fado mesmo sem perceberem os poemas. Aprendi que tudo tem que fluir, que a música não conhece barreiras, e que temos de estar com a mente e coração aberto... na vida e na arte.

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Música

P - Os ouvintes alemães interessam-se pelo fado ?

P - Que outras músicas ouve para além do Fado

eu comecei a cantar português na Alemanha - antes de me mu-

clássica...

TP - Sim, há um público para fado, e está a crescer! Quando

dar para Berlim - em teatros frequentados quase só por público alemão, o fado ainda era bastante desconhecido. Os “Madredeus” eram vendidos como “Fado”. Felizmente isso mudou muito. Hoje ainda só ficam admirados, porque não se conhecem homens no fado.

TP - Muita coisa! Gosto de rock, de pop, da chanson, de música

P - A Revista Sotaques fala da diversidade dos Sotaques. Como é que é que caracteriza o seu sotaque ? TP - Briganenseboeta. Uma mistura de bracarense e lisboeta.

P - Quais são as suas principais referências neste género musical?

P - Gostava de apresentar este seu trabalho no Brasil ?

o caminho para o fado. Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e

família.

TP- Há três vozes que me levaram ao fado... que me abriram

Dulce Pontes. Sem o conhecimento destas vozes, a arte desta expressão, de certeza absoluta que hoje não cantaria fado.

P - Qual é a primeira memória que tem do Fado? TP -

É de ouvir falar o meu avô duma cantora que ele adora-

TP- Adorava ter concertos no Brasil! Nunca fui, apesar de ter lá

P - O que acha da música brasileira e do intercâmbio artístico entre os artistas portugueses e brasileiros ? TP - Gosto de tudo que sirva para comunicar e aprender uma cultura diferente, e aprendermos uns dos outros. Tudo que acon-

va, que “não havia ninguém que cantasse como ela”, que se

teça organicamente. Duetos de artistas que gostam mesmo um

chamava Amália. E de ouvir a voz de Carlos do Carmo, no

do outro, se admiram e juntam a sua arte... é lindo, sente-se a

carro dos meus pais, nas longas viagens da Alemanha para

vontade e energia! Há fusões muito ricas em som e expressão.

Portugal, quando era miúdo.

Seja fado com música brasileira, árabe, com musica electrónica

P - Como olha para o crescente interesse mundial na nossa música mais emblemática ?

TP - Acho que nós todos gostamos muito de ver. Mas também gosto de inovação e novas ideias. Não gosto de clichés, de ver fazer certas coisas “porque o fado é assim”. Isso para mim não existe: estamos em 2014, e uma música para ser autêntica, não

ou clássica. Tem que fazer sentido. Mas muita coisa está a ser dirigida pelas grandes editoras... aí o interesse é óbvio: é de conquistar novos mercados.

P - Em 2014 onde vamos poder ouvi-lo e como vai ser a sua agenda?

se pode referir e até nos prendermos só aos belos tempos pas-

TP - Estou ainda muito contente de ter tido o convite, e a minha

sados. Não podemos negar o dia de hoje, tudo que acontece

estreia no auditório do Museu do Fado, aqui em Lisboa em Julho.

tem influência no processo de criação. E nós somos criadores. É

Foi uma grande honra e privilégio e reconhecimento.

de nós que depende o futuro.

Este Outono vou entrar em novas gravações e há concertos marcados para a Alemanha, Áustria... e bastante ainda a acontecer.

P - Vive agora em Lisboa. A cidade inspira-o a criar novas músicas ?

TP - Lisboa é a minha maior paixão... desde que a pisei com

4 ou 5 anos pela primeira vez. Não nasci cá, nasci no norte em Bragança, onde vou muita vez. Toda a cidade é inspiradora, cheia de beleza, tristeza, de cores e paladares. Só aqui é que consigo fazer o que faço e ser quem sou.

Arlequim Bernardini

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Mas mais fora de Portugal.


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Capa

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À luz das clarabóias nasce uma nova parceria Luso-brasileira Paulo Gaspar Ferreira e Luciana Bignardi encontraram-se num

daquilo que podemos chamar de serviço público. Não foram as

daqueles caminhos da história que unem os brasileiros e portu-

autoridades governamentais ou camarárias que fizeram este tra-

gueses. O valor da sua parceria é um exemplo da enorme riqueza

balho como lhes competia – foram os particulares.

que alberga a cidade do Porto, transportando para o presente

Apoiar este livro “ Anima Luminaria” é um dever cultural de todos

uma arte, simultaneamente efémera e intemporal, fugaz e eterna.

nós. Sejam as autoridades públicas ou os mecenas privados, te-

Tinha de ser no Porto. A cidade que honra o grande herói da

mos a obrigação moral de levar para diante esta obra, e aprovei-

independência brasileira, D. Pedro, é um lugar privilegiado para

tar esta ideia de fazer das clarabóias um roteiro específico, que

que os atores culturais brasileiros e portugueses se unam na di-

cative a vinda de turistas nacionais e estrangeiros e a descoberta

vulgação de uma história que revela, a cada pormenor, imensos

da cidade do Porto.

pontos em comum.

Visitar, por exemplo, a espantosa clarabóia do Pátio das Nações,

Paulo Gaspar Ferreira é portuense, Luciana Bignardi é paulis-

no Palácio da Bolsa, com cerca de 200 metros quadrados, dá-

ta. Ambos são apaixonados pela cidade do Porto, pelos seus

nos um vislumbre da importância das clarabóias nesta cidade.

monumentos, pela sua história tão particular, por aquilo que só

Mas também outras clarabóias extraordinariamente belas como

a objectiva de uma máquina fotográfica consegue captar com

o Palacete Pinto Leite, o Colégio dos Maristas da Boavista ou o

precisão.

Edifício sede da Ordem dos Advogados e tantas outras, mais

O Porto é um tesouro artístico a céu aberto. E as clarabóias são

pequenas ou maiores, que se estendem pela malha urbana.

uma espécie de cereja em cima do topo do bolo: as belas casas

Esta parceria cheia de história está impregnada dos valores da

senhoriais

esse chapéu iluminado que lhes

cidade do Porto. No Porto, pela iniciativa de uma dupla luso-

confere uma graciosidade singular, e que as completam de um

brasileira bate, fortemente, o coração de D. Pedro iluminado,

modo perfeito.

certamente, por uma bela e escondida clarabóia.

não dispensam

Através de um trabalho moroso de levantamento do património existente, os dois fotógrafos reuniram cerca de 200 imagens, exibindo uma parte significativa das clarabóias que povoam os céus da cidade do Porto. Esse monumental acervo cultural será objecto de um livro “ Anima Luminaria”, que está em preparação e à procura de financiamento na actualidade. O que o projecto “ Anima Luminaria” nos mostra é a enorme importância que tem os agentes culturais privados, na realização

Texto Rui Marques

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Capa

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Capa

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Entrevista

A arte do invisĂ­vel q

O portuguĂŞs Paulo Gaspar Ferreira e a brasileira Luciana Bigna

Fruto desta parceria luso-brasileira nasceu um livro, que reĂşne a poes

Saiba mais, nesta entrevista, sobre a alma lumino

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que ilumina o Porto

ardi fotografaram, durante cinco meses, milhares de clarab贸ias.

sia visual desses objectos e as palavras que os poetas lhes dedicaram.

osa que se esconde atr谩s das clarab贸ias do Porto

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Entrevista

Paulo Gaspar Ferreira

P - Paulo : para compreender melhor este pro- P - Vai ter continuidade este projecto Anima jecto, é imprescindível conhecermos melhor a Luminaria ? vossa trajectória profissional. Qual foi o vosso PF – Reunimos um conjunto de milhares de fotografias de clarapercurso ? bóias, e surgiu a ideia de juntar esse registo fotográfico a poesia PF – Eu não sou apenas fotógrafo, sou várias coisas ao mesmo

ligada a este tema. Curiosamente, existe uma quantidade assi-

tempo. O meu pai era alfarrabista e, para mim, a livraria dele foi

nalável de poemas ligados a este assunto, o que mostra que a

uma Universidade, o local onde tirei o meu curso superior através

beleza das clarabóias não passou despercebida aos poetas.

dos contactos com pessoas ligadas às artes, e a minha actividade

Outra possibilidade que achamos interessante, é criar um roteiro

profissional está ligada aos livros antigos.

turístico ligado às clarabóias.

P - Como surgiu esta parceria ?

PF - Há trinta anos que comecei a interessar-me por registar visualmente as clarabóias. Essa actividade exigia muitas horas – porque temos de fotografar este objecto a uma determinada hora para captar a luz – e quando conheci a Luciana e o trabalho dela, achei que era a altura ideal para realizarmos, em conjunto, um projecto sobre as clarabóias do Porto.

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Luciana Bignardi

P- Luciana : para compreender melhor este projecto, é imprescindível conhecermos melhor a vossa trajectória profissional. Qual foi o vosso percurso ?

P - Vai ter continuidade este projecto Anima Luminaria ?

LB– Este é um legado que as pessoas têm de conhecer melhor. Por estarem escondidas, às vezes não nos apercebemos onde

LB– Eu sou natural de São Paulo e tenho uma formação li-

estão as clarabóias.Ainda há poucas semanas, encontrei por

gada ao Design de ambiente : a arquitectura, o urbanismo

acaso uma clarabóia num local bastante curioso, e avisei o

e a pintura eram áreas que me interessavam, mas aquilo que

Paulo. Esta parceria também pretende dar a conhecer, não

realmente me apaixonava era a fotografia.

só às pessoas que vivem na cidade, como aos estrangeiros e,

P - Como surgiu esta parceria ?

LB - Vivo há muitos anos em Portugal, e sinto um grande

naturalmente aos brasileiros, este traço da cultura burguesa que não encontramos num número tão esmagador em nenhuma outra cidade do mundo.

afecto pela cidade do Porto. As clarabóias são também parte dessa cidade que me diz muito. Quisemos mostrar estas jóias que o Porto tem, que merecem ser cuidadas e preservadas, porque muitas não estão num bom estado de conservação.

Rui Marques

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Artes Plásticas

Alua Pólen: um casal com 30 anos de amor à arte

Alua Pólen é um anagrama que junta os nomes do casal de artistas formado por Manuel António e Paula Dacosta. Uma união afectiva e artística com 30 anos de ligação, que nos tem deixado grandes obras como o famoso Túnel da Confraria de Vizela, em que formaram durante dois anos, mais de 3000 meninos Pólen éem um2007, anagrama os nomes dodo casal de artistas formado por Manuel António e Paula Dacosta. eAlua meninas, paraque criarjunta o maior Túnel mundo pintado por crianças. Uma união afectiva e artística com 30 anos de ligação, que nos tem deixado grandes obras como o famoso Túnel da de Vizela, em quecom formaram durante dois anos, maisPólen, de 3000 meninos meninas, em 2007, paraconsolicriar o AConfraria revista Sotaques falou o pintor Manuel António, sobre esteematrimónio artístico, maiorao Túnel do das mundo pintado por crianças.A revista Sotaques falou com o pintor Manuel António, Pólen, sobre este dado longo décadas. matrimónio artístico, consolidado ao longo das décadas.

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Artes Plรกsticas

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P -Como surgiu este projecto artístico e de vida com mais de 30 anos ?

P - Pode descrever-nos o vosso processo criativo ?

Eu, paralelamente, também desenvolvia a minha actividade artís-

de 360 graus, que transforma um quadro inicial em algo com-

tica, conheci-a e pedi-lhe que fosse a minha ajudante. Conversa-

pletamente distinto. Ou seja: juntamos duas ou três cores – o azul

mos muito sobre o futuro, e daí surgiu este projecto que continua

e o lilás, por exemplo - usamos a química e criamos livremente,

vigente até aos dias de hoje.

sem nenhuma imposição, um pouco à imagem do que faziam

AP – Tanto eu como a Paula éramos empregados de escritório.

AP - Nós partimos do abstracto para o simbólico, numa rotação

artistas como o Picasso. É algo intuitivo, uma herança cósmica

P - Que balanço fazem deste projecto ?

que sentimos dentro de nós, e que se vai manifestar numa forma

AP – Muito positivo. Em primeiro lugar, nunca sonhávamos que

final que nunca sabemos, à partida, como irá ser.

a arte nos desse a autonomia que temos actualmente.

Costumo dizer que eu não sei pintar: eu disfarço aquilo que sai.

Ao princípio, pintávamos em papel de embrulhar bacalhau, com poucos recursos, em locais pequenos como cafés ou gelatarias. Mas o nosso trabalho foi sendo reconhecido, pelo público e pela

P - Quais foram as suas grandes inspirações na pintura ?

crítica, e foi muito gratificante este reconhecimento.Em 2012,

AP – A minha principal referência foi o meu mestre, Moreira de

fizemos uma retrospectiva em Gondomar da nossa carreira artís-

Azevedo, um académico e artista português que tinha uma Esco-

tica, e foi emocionante ver quantas pessoas conheciam a nossa

la em Brasília, que nos dava- uma lavagem mística, desafiando-

obra.

nos sempre a seguirmos o nosso próprio caminho.

P - O túnel de Vizela foi um momento especial nessa carreira ?

P - O intercâmbio entre artistas portugueses e brasileiros é muito importante também nas artes plásticas ?

AP – Sem dúvida. Foi um projecto muito importante.

Vivemos durante 12 anos em Vizela, onde também estivemos li-

AP – É vital que os artistas circulem entre o Brasil e Portugal, que

gados à formação e ao ensino, e no âmbito dessa actividade,

dialoguem entre si. Isso só enriquecerá a sua arte.

surgiu o projecto de dar formação a mais de três mil crianças para pintarem o Túnel da Confraria de Pêras, nesta cidade. O Túnel demorou dois anos a estar pronto, com as pinturas acabadas, e quando foi inaugurado, em 2007, era o maior Túnel de azulejos pintado por crianças do mundo – com 2000 metros em pinturas. Foi um momento extraordinário pela experiência e pela autonomia financeira que nos proporcionou, permitindo-nos comprar uma casa no Parque Nacional da Peneda- Gerês, em Castro Laboreiro, onde vivemos.

P - Ensinar crianças é diferente ?

AP – Penso que as crianças são pequenos génios. A escola é muito formatadora, molda a sua criatividade, e eu acho que devemos dar liberdade criativa às crianças. Se o fizermos, elas são capazes de obras extraordinárias.

P - Vivem em Castro Laboreiro, uma zona com uma enorme beleza paisagística. Como é que este meio inspira o vosso trabalho ? AP – Castro Laboreiro tem moldado a minha arte. Quando olhamos à nossa volta, sentimos que o olhar do artista está em todo o lado: na textura de uma árvore, nas formas do granito, que são um capricho dos Deuses, e essa é uma engenharia positiva que impele o meu subconsciente a criar.

P - O que é a pintura para o Manuel António ?

AP– A pintura é uma forma de podermos sintetizar a forma poética de estarmos vivos. Desde os catorze anos trabalhei num escritório, mas mesmo nessa fase, eu tinha necessidade de me expressar através do papel, de desenhar, de tirar essa pressão de estar fechado num local de trabalho. Quando saio com amigos, não consigo estar mais de duas horas com eles. Tenho um desejo enorme de voltar a pintar. António Santos

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Artes Plรกsticas

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Artes Plรกsticas

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Artes Plรกsticas

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Publicidade

Vera World Fine Art Festival Sob a tutela da Fundação World Without Borders, com produção da Global Entertainment Group e sob a curadoria de Margarida Prieto e Vera Kiseleva, o VERA World Fine Art instala-se definitivamente no país para suprir uma lacuna no panorama artístico Português. O objeto principal do VERA World Fine Art é a exposição e celebração de artistas consagrados, bem como de novos talentos emergentes na área da pintura, escultura, desenho, fotografia, arte aplicada, instalação, arquitetura e museologia. Para atingir os objetivos propostos, o VERA World Fine Art Festival ‘14 associa o conceito de celebração artística global em dois momentos complementares: uma enriquecedora Exposição temporária anual de obras-primas dos mais variados campos artísticos – o VERA World Fine Art Festival; e uma Gala de projeção global dedicada à comemoração das belas-artes, majestosamente desenhada de forma a acompanhar os mais elevados standards de avaliação artística, com a entrega do prestigiado VERA Award – o VERA World Fine Art Awards. A sala de exposições ocupa uma área de 3.750 M2 e será dividida entre: Área de Galerias; Área de Artistas; Área de Sponsors; Área Lounge; Área de Formação e Leilão; e Restauração. Serão convidadas a participar no VERA World Fine Art Festival ‘14 importantes instituições e personalidades do circuito de arte internacional. A par da Exposição, serão desenvolvidas atividades complementares, tais como: palestras, conferências, master-classes e mesas redondas sobre a apreciação e coleção de arte a par com outras temáticas relacionadas; fóruns e seminários presididos pelos conceituados artistas expostos; e um leilão filantrópico cuja receita reverte para o serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia. Missão : Sustentando uma forte plataforma de intercâmbio cultural e artístico no mundo, e apoiados em sete anos de comprovado sucesso do festival, objetiva-se a cooperação em estreita relação com galerias, artistas, leiloeiras e outras instituições de arte especializadas, empresas criativas culturais e imprensa de arte, agentes governamentais e empresas de sucesso para padronizar a gestão cultural, promover operações nacionais e internacionais profissionais e orientadas para o mercado, bem como maximizar o efeito económico, social e cultural para Portugal e os seus habitantes. Objetivos : Em Lisboa, o VERA World Fine Art Festival ’14 propõe-se fomentar o mercado de arte e a ascensão de talentos de arte de nova geração, promover a mercantilização e internacionalização da arte e ampliar a comunicação e o intercâmbio cultural e artístico entre Portugal, os países de língua portuguesa e países estrangeiros. Durante os seis dias de duração, o festival permitirá aos visitantes do espaço de Exposição e da Cordoaria Nacional o contacto privilegiado com artistas e obras-primas, e premiará um conjunto de talentos com o VERA Award.

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Teatro

A arte uniu William Gavião a Portugal O teatro português e brasileiro sempre tiveram uma

gola, Moçambique, Cabo Verde ou Guiné Bissau,

relação muito forte. Desde o Teatro de revista portu-

e tem proporcionado um intenso intercâmbio, com

guês que influenciou o teatro brasileiro, nos primór-

várias companhias teatrais desses países a virem a

dios do século XX, até às companhias que circular-

Portugal e, por exemplo, o Brasil e Cabo Verde a

am entre o Atlântico, ou os atores que trabalharam

receberem estes espectáculos.

nos dois países. O actor e encenador brasileiro

Em 2014, o projecto entra na sua 11ª edição, com

William Gavião é um exemplo bem sucedido des-

novas parcerias e convidados. O que é uma óptima

sa ponte cultural que urge fortalecer.

notícia para todos aqueles , como a revista

Para muitos actores, o palco é o lugar sagrado. Uma

Sotaques Brasil/Portugal, que acreditam na im-

espécie de espaço religioso e cósmico que faz do

portância das artes como vínculo cultural entre os

actor um sacerdote, que transmite à sociedade as

povos.

verdades inconvenientes que ela procura esconder.

Além da sua actividade como actor e encenador,

William Gavião vive há 22 anos em Portugal, e

o nosso entrevistado descobriu em Portugal a sua

conserva bem presente essa chama da arte teatral.

vocação como docente. Como alguém que quer

Ouvi-lo nesta entrevista leva-nos a pensar na im-

deixar um legado e transmitir às novas gerações a

portância das artes na ligação luso-brasileira, e da

paixão pelo Teatro.

forma como ela quebra barreiras, junta homens e

William Gavião é, sobretudo, um apaixonado por

mulheres, aproxima-nos de um modo muito mais

Portugal. Alguém que encontrou na arte que ama

íntimo .

um elo de ligação ao nosso país.

O seu trabalho em projectos como “ Salvé a língua

Fortaleçamos esta união. Porque a arte e a língua

de Camões” é um notável exercício de enriqueci-

unem-nos nesta tarefa comum: tornar a nossa cultu-

mento da língua e da cultura. Criado pela sua com-

ra cada vez mais forte nas nossas fronteiras e fora

panhia Teatro Reactor de Matosinhos, já vai na 11ª

delas.

edição, com parcerias com a câmara municipal local e a Quinta de Santiago. Um projecto que se prolonga durante um ano, e decorre na última quinta de cada mês na Quinta de Santiago. Consiste na leitura de textos dramatizados de autores de países como Brasil, Portugal, An-

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Texto Rui Marques


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Entrevista

O voo apaixonado de William Gavião pelo Teatro

Actor, encenador, professor, o brasileiro William Gavião é uma das vozes mais respeitadas no meio teatral português. Vivendo em Matosinhos, elege esta cidade e o Porto como lugares de eleição, já entranhou o sotaque português, casou com uma portuguesa, e sente que descobriu no nosso país uma velha paixão: a arte de ensinar o amor pelo Teatro.

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P - William: pode fazer uma breve apresentação do seu trabalho profissional?

P - Que diferenças e semelhanças encontrou entre o Teatro português e brasileiro ?

tins Pena, Rio de Janeiro em 1986/7, a escola muito conceitu-

de carreira dos espectáculos : no Brasil podemos estar em cena

ada e a mais antiga da América Latina. Tive uma carreira con-

até mais de 1 ano com um espectáculo : quando este espectáculo

solidada como profissional no meu país, onde integrei diversos

consegue algum reconhecimento de público ou no mínimo 3 a 4

espectáculos e projectos teatrais. Vim ao FITEI (Festival Internac-

meses de temporada.Em Portugal, a carreira dos espectáculos é

ional de Teatro de Expressão Ibérica) no Porto, em 1986, com um

mais curta , raramente chega a mais de 1 mês num mesmo es-

espetáculo premiadíssimo no Brasil, foi quando conheci Portugal

paço / teatro. Mas a cultura e os mecanismos teatrais em Portugal

e minha esposa. Retornei ao Brasil, onde ainda participei como

são diferentes, sempre houve subsídios e apoios para o teatro e

actor em outros espetáculos, mas o Brasil vivia um momento muito

suas estruturas, independente da justiça e equidade dos governos

difícil economicamente, onde a arte e a cultura, como de costume

e organismos que os gerem. Em matéria da qualidade e do poder

nestes momentos de crise, sofria brutalmente. O país vivia uma de

artístico e intelectual, não vejo diferenças, pelo contrário, o teatro

suas maiores crises políticas e sociais, qua agravava ainda mais

português e alguns projetos e companhias em particular um pouco

qualquer vislumbre de futuro. Tinha ambições e planos maiores

por todo país, fazem um trabalho teatral de extrema qualidade e

de poder criar outras oportunidades de vida e, se para isso,

com grandes actores. Destaco também as novas companhias, que

fosse necessário mudar de país e recomeçar tudo de novo, estava

atualmente, desenvolvem um teatro de grande preocupação do

disposto a fazê-lo, tinha construído algumas pontes e amizades

diálogo com a modernidade e com grande responsabilidade e

em Portugal, o caminho estava feito, as oportunidades surgiram, e

envolvimento com a realidade que estamos inseridos. Um teatro

não pensei duas vezes, vim para Portugal de armas e bagagens.

em sintonia com o seu tempo.

WG - Me formei como actor no Brasil, na escola de teatro Mar-

Sem medo de me reinventar, fui construindo aqui, do zero a minha carreira no teatro. Dei continuidade ao meu trabalho como actor, e em Portugal também me descobri como encenador e professor

WG - Talvez a maior diferença que tenha sentido, é a duração

P - O que representam para o William, as cidades do Porto e de Matosinhos ?

de teatro. Fundei a minha própria companhias de Teatro de pes-

WG - São ambas o berço que me acolheu. Duas cidades bem

quisa – Teatro Reactor de Matosinhos, onde dei continuidade no

diferentes e igualmente belas, com encantos e recantos únicos.

meu trabalho e pude, de forma autónoma, ,construir meus espec-

Tanto no Porto, como em Matosinhos, sentimos o peso da suas

táculos, projetos e parcerias com o Brasil, estreitando sempre os

histórias e da sua gente, do poder avassalador de suas belezas

laços que nos unem e alimentam culturalmente estas duas pátrias,

naturais e patrimoniais, as ruelas, o Rio D’Ouro, o sol o mar

e lá se vão 22 anos de Portugal…

de Matosinhos. A luz…a penumbra…as texturas…as cores…o cheiro…de tão diferentes cidades…inseridas e parte, ambas, do

P - Vive desde 1992 em Portugal. Como foi a adaptação ao nosso país?

WG- Não posso dizer que tive uma adaptação difícil, pois a minha mulher é Portuguesa, tive desde sempre toda uma estrutura familiar, da parte dela, que me apoiou e acolheu. Tive também a sorte de conhecer pessoas e artistas interessantes do meio artís-

mesmo concelho, concelho do Porto ! Hoje Matosinhos tornou-se mais a minha cidade, pois nela resido e talvez seja bem suspeito para falar.

P - Quais são os seus lugares de eleição nestas cidades ?

tico, e sobretudo construir amizades sólidas.

WG- No Porto, sem dúvida é a Ribeira com vista para rio D’Ouro.

Pude construir e conquistar meu espaço pouco a pouco, e assim

Em Matosinhos, gosto de Leça da Palmeira, da luz, as cores, sua

continuar a exercer o teatro e dar corpo aos meus projetos. As

costa, suas praias e o Museu da Quinta de Santiago.

saudades do Brasil sempre foram as mais saudáveis, as minhas escolhas de vida e mudança de país, nunca trouxeram me arrependimentos. Pouco a pouco, e com o passar dos anos e dos

P - Encontrou muitas diferenças entre o sotaque brasileiro e português ?

trabalhos, também criei raízes aqui, raízes que hoje se confundem,

WG -Claro que sim…mas nada demais…que após alguns minutos

se entrelaçam com as de minha origem, raízes estas que me de-

a ouvir, não habitue o ouvido e tudo fique natural, sem problema

ram outra pátria para além da minha. Tornei- me hoje um homem

maior. O sotaque português e sua sonoridade, digamos ser um

duplamente patriado…e sei bem o profundo sentimento da frase

pouco mais dura, em comparação com o sotaque brasileiro, que

de Caetano Veloso, que diz, “Minha Pátria é minha Língua..”

é mais melodioso e musical. Mas hoje, meu sotaque brasileiro esta mais aportuguesado, natural, depois de tantos anos. Um amigo meu, dramaturgo paulista, disse-me há pouco tempo, quando cá

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Entrevista esteve, que não falo totalmente, nem com sotaque brasileiro e

experiência viva e única. Um gesto de amor à arte e ao teatro

nem com sotaque português, falo com um terceiro sotaque, só

que tenho vivido, intensamente, como professor. Creio que tornei

não sei como lhe chamar.

me um actor melhor, um homem ainda melhor, aprendi a ver me

P - Há alguma expressão ou palavras portuguesa que o tenha surpreendido?

WG - Prego em prato e a diferença no tratamento entre tu e você.

P -O William é ator e professor. Pode falarnos um pouco mais da sua actividade docente ?

melhor, vendo os outos.

P - Como olha para o ensino artístico em Portugal ?

WG - O ensino artístico em Portugal vem cada vez mais crescendo e criando raízes sólidas. Noto ao longo destes 22 anos que aqui estou, a enorme procura pelo aprendizado, nas mais

WG - Ora bem, aí está uma competência que descobri em

diversas faixas etárias, pela experiência teatral, seja nas escolas

Portugal, uma facilidade de transmitir “conhecimento”, uma ca-

de teatro, seja nas oficinas e Workshops que hoje alimentam esta

pacidade que estava adormecida, acredito que algo nato, que

enorme procura. Um sinal muito positivo para o universo do tea-

já existia, nesta comunicação, neste desejo e felicidade de poder

tro, um sinal de que hoje o teatro chega com mais força a muito

partilhar minha experiência de vida, que nunca esta separada de

mais pessoas, sejam elas amadoras, amantes, ou apenas curiosas

minha condição de actor. Algo que fui potencializando ao longo

pelo teatro. Hoje grande parte dos que procuram o teatro, sabem

dos anos. Ensinar é um ato de aprendizagem e generosidade

perfeitamente a complexidade, as inúmeras competências e feitos

infinda. O facto de que tudo aquilo que transmito, tenha vivido

que arte pode surtir e fomentar no individuo. Potencializando o

na pele, torna o ato da partilha e da troca de ensinamentos, uma

humano, numa libertação e descoberta de si mesmo, ante a vida

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e o mundo que o rodeia. O teatro é uma arma poderosa ante o pessimismo, e os limites que a realidade e a vida, muitas vezes,

har ?

WG - Neste momento, trabalho para a 11ª edição do Salvé a Lín-

nos impõem, aprisionando-nos .A arte e o teatro nos tornam mais

gua de Camões, que começa em fevereiro de 2015, como disse

fortes, críticos e atuantes ante a vida e nós mesmos.

anteriormente, com muitas novidades, colaborações e parcerias,

P - E no Brasil ?

para além da Câmara de Matosinhos e o Museu da Quinta de Santiago, os nossos parceiros de costume. Preparo um projeto

WG - O Brasil já tem uma grande cultura na procura do teatro,

de um novo espetáculo teatral adulto e para infância, e também

na arte da representação, muito à custa da grande indústria do

acolheremos outros projetos vindos do Brasil. Como professor de

entretenimento e do áudio visual. Novas escolas de teatro surgi-

teatro, virão novas oficinas de teatro, na ESAG (Escola Secundária

ram e cresceram nas últimas décadas. O teatro Brasileiro tem um

Augusto Gomes), onde leciono a 4 anos, a continuação do meu

grande legado, no início do século, com as grandes companhias

trabalho de 9 anos a dar teatro para as crianças, nas escolas do

de teatro e actores que fizeram história no teatro, com o teatro de

ensino básico do concelho de Matosinhos, nas actividades de

resistência política, na época da ditadura, e de todo processo que

Enriquecimento Curricular. Mais outros projectos estão a ser cozin-

foi travado. O Teatro pode se estabelecer, crescer, criando bases

hados nos melhores temperos…eu…estarei sempre em movimento

sólidas e alimentando esta grande indústria da cultura e da arte,

ininterrupto…sempre inquieto….assim vive e voa este Gavião.

um pouco por todo país. Para não dizer da grande cultura dramatúrgica e dos novos autores, que escrevem para teatro, novelas, cinema e outros formatos, uma verdadeira e valorosa safra de grandes autores e sobretudo grandes dramaturgos, a escreverem para teatro.

P - Criou o Projecto “ Salvé a língua de Camões. Em que consiste este projecto ?

P - O que representa o Teatro para o William ?

WG - O teatro é o que me move, o que torna minha existência possível e útil. O teatro para mim é como uma missão, de servir, comungar e partilhar com meus semelhantes, de comunicar e dialogar com meu tempo. O teatro reconstitui, dota o Homem – na afirmação total de seu poder de comunicação, expressão, sociabi-

WG - É um projecto da minha companhia Teatro Reactor Matos-

lização, crítica e consolidação de sua identidade cultural, política

inhos que já vai no seu 10º ano em parceria com a Câmara de

e social. O teatro é uma experiência divina, que leva mais do que

Matosinhos e o Museu da Quinta de Santiago. Este projeto acon-

uma vida inteira, para quiçá podermos alcança-lo, nas suas mais

tece durante todo o ano, sempre à última quinta-feira do mês, no

profundas entranhas. Precisaríamos voltar a nascer, recriarmo-nos,

Museu. É um projecto lusófono, que visa única e exclusivamente

reinventarmos -nos para viver totalmente o teatro.

divulgar os novos autores e dramaturgos, poucos conhecidos entre

Isso tentámos fazer, a cada noite, a cada momento que nos en-

nós, que escrevem em Língua Portuguesa, oriundos dos países lusó-

tregámos a esta arte. Para resumir tudo isso, lembro - me de como

fonos. Através de leituras dramatizadas dos textos teatrais destes

os Gregos se saudavam uns aos outros antes de entrar em cena,

autores, contribuímos para uma nova visão do teatro e da dram-

naqueles anfiteatros: cada noite que entravam naquela arena

aturgia contemporânea de Angola, Moçambique, Cabo Verde,

e enfrentavam aqueles milhares de pessoas e imperadores na

Guiné Bissau, Portugal e Brasil. Um projeto que criou parcerias

plateia, diziam simplesmente; “CONHEÇE-TE A TI PRÓPRIO!”. É

com estes diversos países, que se estendem até hoje, para além

exatamente isso que venho praticando a 50 anos….

da escrita, e que tem estimulado um intercâmbio real em projetos e iniciativas culturais de grande valia para o fortalecimento da língua portuguesa e do teatro. Deste projecto, resultou em 2009, a realização do 1º Festival Lusófono de Teatro Intimista, que tive a felicidade de conceber e realizar com o apoio da Câmara de Matosinhos, onde pudemos receber em Matosinhos companhias de teatro vindas destes países, no então recém aberto teatro Constantino Nery – Matosinhos. Também nos proporcionou apresentarmos

os nossos espectáculos no Brasil e em Cabo Verde. Este

ano de 2014, entramos no 11º ano do projeto, com inúmeras surpresas e parcerias…e a aguardar pelas boas novas.

P - Quais são projectos em que está a trabalRui Marques

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Moda

Roupa - Colecção Roseira Brava SS 2013 Modelo - José Luís Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Fotografia - António Granja

António Granja

a nova moda portuguesa que se afirma com liberdade 54


O estilista português António Granja é um exemplo do gosto pelo risco e inovação da nova Moda portuguesa. Natural do Porto, licenciou-se pela ESAD, e abriu em 2013 um atelier em nome próprio, e revela-nos, nas suas criações, uma vontade desassombrada de criar com liberdade. Moda é antes de mais atitude. Capacidade para mostrar cores diferentes, criativas, originais, de transgredir tabus e preconceitos. E também é cultura: o estilista e designer português, António Granja, é um dos novos valores que despontam no panorama nacional. Com colecções diversificadas, que vão das colecções de vestidos que exploram motivos naturais como a roseira brava - que exalta o espírito do sofrimento das mães - à aposta em elementos como os ilhós com peças pretas, mais clássicas, este jovem designer nacional mostra uma versatilidade invulgar. A preocupação em ligar moda e cultura, é uma constante na sua obra. Outro exemplo disso são os belíssimos marcadores de livros, em tecido, que conferem uma estética especial e apaixonam, por igual, os amantes da literatura e da moda. A democratização da moda é outra das grandes preocupações de António Granja. Levar a moda de qualidade ao maior número de pessoas, a preços acessíveis, é um compromisso ético que faz parte do seu quadro de valores e princípios. Para além do atelier, António Granja está presente nas plataformas virtuais e o seu trabalho pode ser melhor conhecido através do site www.antoniogranjaatelier.weebly.com. A nova moda portuguesa, com preocupações estéticas e éticas, encontra neste jovem estilista um exemplo de arrojo e gosto pela inovação. Texto Rui Marques

Roupa - Coecção Roseira Bava SS 2013 Modelo José Luís Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Fotografia - António Granja

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Moda

Roupa - Colecção Assi Hole SS 2013 Modelo - Paula Azevedo Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Fotografia - António Granja

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Roupa - Colecção Assi-Hole SS 2013 Modelo - Paula Azevedo Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Forografia - António Granja

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Moda

Roupa - Colecção Assi-Hole SS 2013 Modelo - Paula Azevedo Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Fotografia - António Granja (2)

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Roupa - Colecção Roseira Brava SS 2013 Modelo - Paula Azevedo Cabelo Maquilhagem - Isabel Ferreira Fotografia - António Granja

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Moda

Roupa - Colecção Tops & T´s 2014 Modelo - Paula Azevedo Cabelo Maquilhagem - Paula Azevedo F Fotografia - António Granja

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Roupa - Colecção Tops & T´s 2014 Modelo - Paula Azevedo Cabelo e Maquilhagem - Paula Azevedo Forografia - António Granja

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Arquitetura

Uma obra de arte no interior do Palรกcio da Bolsa 62


Visitar o Palácio da Bolsa já é, por si, uma

lar ornamentada com elementos jónicos e

viagem ao interior de uma obra-prima.

coríntios. A nível de estilos descobrimos

Está decorado com o escudo nacional e

Agora é impossível ficarmos indiferentes à

uma mistura da arquitectura toscana e do

as armas de vinte países com os quais Por-

belíssima e gigante Clarabóia que é uma

neoclássico oitocentista, passando pelos

tugal mantinha as mais estreitas relações

das imagens de marca deste monumento.

primórdios policromáticos no Salão árabe

de amizade e de comércio. Países com o

O Palácio da Bolsa nasceu de uma inicia-

ou por influências do gosto neopalaciano

Brasil, a a Itália, o Saxe, a Pérsia, a Ar-

tiva dos mercadores do Porto, que tinham

inglês.

gentina, a Rússia, a Inglaterra, a Aleman-

perdido a Casa de Bolsa do Comércio, e

O vestíbulo da fachada principal dá aces-

ha, a Suíça, a Dinamarca, o México, a

se viam obrigados a discutir os seus negó-

so ao Pátio das Nações, onde encontra-

França, dos EUA, a Grécia, a Noruega,a

cios ao ar livre, na rua dos ingleses. Para

mos uma das mais extraordinárias, senão

Suécia, da Áustria, a Espanha, a Bélgica

colmatar essa falta de um espaço digno,

mesmo a mais excecional clarabóia da

e a Holanda.

iniciou-se a construção,

a 6 de Outubro

cidade do Porto, sustentada por uma ad-

Neste lugar iluminado, a gigantesca clara-

de 1842, de um edifício que juntava a

mirável estrutura arquitectónica. Este é

bóia que paira no ar, majestaticamente, é

funcionalidade e a beleza, com uma var-

um local muito especial no contexto do

um exemplo de como estes objectos são

iedade de estilos invulgar.

Palácio:

ostenta uma imponente cúpula

indiscutíveis obras de arte. Uma obra de

A planta do Palácio é a fachada principal

metálica envidraçada, de onde jorra uma

arte dentro da obra de arte que é o Palá-

encontra-se dividida em três corpos de or-

imensa luz, que transmite uma sensação

cio da Bolsa do Porto.

dem dórica: o corpo principal é guarneci-

de beleza

do por uma escadaria paralela ao edifício

verticalidade, acentuada pelas colunas

que termina numa larga torre quadrangu-

pompeanas em ferro forjado e pelo porte

e uma nítida impressão de

elevado das portadas e janelas.

Texto Rui Marques

63


Arquitetura

64


A Arte Burguesa Esta edição da revista Sotaques entrevista

São Paulo, locais de nascimento desta

Em São Paulo também descobrimos te-

um artista português e uma artista bra-

dupla que se juntou para fotografar as

souros arquitectónicos inspirados nesta

sileira – o portuense Paulo Gaspar Fer-

clarabóias na Invicta, são duas urbes que

corrente: por exemplo, o Teatro Munici-

reira e a paulista Luciana Bignardi – que

revelam os sinais dessa presença artística

pal de São Paulo, inaugurado em 1911,

se reúnem numa parceria luso-brasileira

poderosa, em muitos dos seus mais em-

tem uma influência clara de edifícios

para desvendar um dos tesouros da arte

blemáticos edifícios públicos e privados.

como a Ópera de Paris; a Estação da

burguesa – as clarabóias da cidade do

Do Porto temos óbvias referências: do

Luz, construída em 1867 e que alberga

Porto.

Palácio da Bolsa ao Palácio de Cristal,

actualmente o Museu da língua portugue-

o notável escritor francês

da Casa da Feitoria Inglesa, do Edifí-

sa, é outro espaço que tem as marcas da

Gustave Flaubert, no século XIX, os mem-

cio da Alfândega Nova ao Hospital de

arte burguesa; o Museu do Ipiranga ou

bros ou aspirantes a esta classe social

Santo António, passando pelo Palácio do

a Pinacoteca de São Paulo também rev-

“ vive como um burguês para que pos-

Freixo ou pela Torre dos Clérigos. Provav-

elam os traços característicos desta arte

sas reservar toda a radicalidade para a

elmente os dois edifícios mais caracterís-

cuja influência atravessou séculos.

tua arte”. A arte burguesa é certamente o

ticos deste entendimento da arte sejam o

Isto para não falarmos dos Palacetes e

mais refinado produto cultural que a bur-

Palácio da Bolsa e o antigo Palácio de

casas antigas privadas,

guesia criou – e as ramificações dessa

Cristal – o Palácio da Bolsa, por motivos

em Portugal e no Brasil, em cidades com

arte atravessaram os mares, tornando-se

óbvios, porque foi mandado construir pe-

o Porto ou São Paulo, com as suas belís-

num dos grandes movimentos globais nos

los burgueses, em 1842, para ser o local

simas clarabóias. No passado, no pre-

séculos XVIII, XIX e inícios do século XX.

onde pudessem discutir os seus negóci-

sente e no futuro, a arte burguesa con-

Portugal e o Brasil foram dois intensos

os; o Palácio de Cristal, inaugurado em

tinua a unir o Brasil e Portugal.

focos dessa vontade de deixar um legado

1861 com uma estrutura de ferro, granito

arquitectónico e cultural, baseado numa

e vidro,

certa ideia de beleza e de lazer. Curiosa-

inglês Thomas Dillen Jones, tendo como

mente, a cidade do Porto e a cidade de

modelo o Crystal Palace de Londres.

Aconselhava

que proliferam

foi projectado pelo arquitecto

Texto Rui Marques

65


Artes PlĂĄsticas

Almada Negreiros, um Leonardo da Vinci portuguĂŞs 66


67


Artes Plásticas

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hum artista nacional, no século XX, fez

Orpheu, que é objecto de uma crítica mordaz

Afonso, é o autor do selo para a emissão

e em tantas áreas como Almada Negrei-

de Júlio Dantas, que acusa os autores de serem

comemorativa da 1ª Exposição colonial, um

Pintor, escritor, ilustrador, cenógrafo, não

pessoas sem juízo. Almada terá a sua vingança

cartaz para o álbum “Portugal 1934 e ilus-

e praticamente arte onde não deixasse a

intelectual com o famoso manifesto anti-Dantas,

trações para o programa das festas de Lisboa.

marca indelével.

em que demolirá os argumentos deste escritor

Inicia também os estudos para a colocação dos

go de Fernando Pessoa, ultrapassou-o na

que era uma espécie de patriarca das letras

vitrais na Igreja de Nossa Senhora de Fátima

onímia das artes, na capacidade de se

portuguesas da época.

em Lisboa. No ano de 1941 é organizada a

obrar em múltiplos talentos, sempre com a

Outras artes movem o seu insaciável génio. Em

exposição “ Almada – trinta anos de desenho”

ma voracidade criativa. Curiosamente, Al-

1915 realiza o bailado “ O sonho da rosa”. A

e é convidado pelo Secretariado Nacional a

a e Fernando Pessoa morreram na mesma

21 de Outubro desse ano, Almada desfere o

participar na 6ª Exposição de Arte Moderna e

a , no Hospital São Francisco dos franceses,

golpe contra o conservadorismo nacional e a

na Exposição “ Artistas portugueses” apresen-

inal do destino destes dois geniais amigos

figura de Júlio Dantas. O “ Manifesto anti-Dan-

tada no Rio de Janeiro, atribuindo-lhe em 1942

se tratavam por tu.

tas e por extenso” é uma afirmação da geração

o prémio Columbano.

ndo José Sobral de Almada Negreiros nas-

moderna aglutinada à volta da revista Orpheu

De 1943 a 1948, a sua actividade criativa

parafraseando-o, já se tinham inventado

contra o Portugal imóvel, separado da Europa.

centra-se na realização dos fescos das Gares

s as palavras que haveriam de salvar o

Júlio Dantas, escritor conceituado, médico, jor-

Marítimas de Alcântara e da Rocha do Con-

do, só faltava salvar o mundo. Corria o ano

nalista e académico, era a cabeça visível do

de de Óbidos, vencendo o prémio Domingos

893, na Trindade, em São Tomé e Príncipe,

velho regime das letras e da cultura nacional.

Cerqueira. Da década de 50 até à década

fim de século XIX que anunciava uma nova

Sublime manifestação de ironia, o texto origi-

de 70, quando morre, Almada desenha obras

em que o futuro seria uma afirmação plena

nal é um dos tesouros da Literatura portuguesa.

tão notáveis como os vitrais da Igreja do Santo

potencialidades do homem.

Tanto impacto causou, aquém e além fronteiras,

Contestável, da Capela de S. Gabriel, e pinta

tista, neste contexto, era o profeta da mu-

que Almada se correspondeu, na altura com So-

o célebre retrato de Fernando Pessoa. Ou obras

a. E Almada, desde jovem, sentiu esse cha-

nia Delanunay, que estava refugiada em Portu-

como os painéis para o bloco do edifício das

ento profundo da arte.

gal com o marido, e esta acabou por conseguir

Águas livres e fescos para a Escola Patrício

essado a Portugal com a família, Almada

a sua publicação nos meios artísticos europeus

Prazeres ( 1956), a decoração das fachadas da

ou pelo Colégio de Jesuítas de Campolide

com o título “ Primeira Descoberta de Portugal”

Cidade Universitária ( 1957), o Hotel de Santa

o Liceu de Coimbra, antes de ingressar na

Fascinado pelo futurismo italiano,

Almada

Luzia ( 1958) ou o Palácio de Justiça de Aveiro

a Internacional de Lisboa. Esta Instituição

surge, em 1917, vestido de operário, e dá uma

( 1962). Em 1969, despede-se com duas obras

ecisiva na sua formação artística: servindo-

conferência “ Ultimatum futurista às gerações

– o painel do átrio da Fundação Calouste de

como oficina, foi lá que desenhou o primei-

portuguesas do século XX”. Paralelamente, es-

Gulbenkian e os frescos na Faculdade de Ciên-

esenho “n’A Sátira” e, em 1912, redigiu in-

creve a novela “ K4 O quadrado azul”, inspira-

cias da Universidade de Coimbra. Duas das

almente o jornal Manuscrito A Paródia, que

da no bailado. Em 1921, começa a colabo-

suas obras mais importantes, mostrando uma

s no I Salão dos Humoristas portugueses.

rar com António Ferro, máximo responsável

qualidade extraordinária que não decaiu com

realiza a sua primeira exposição

da propaganda nacional do regime de Salazar

o passar dos anos.

nacional, na qual apresenta cerca de 90

mas, igualmente, um protector das artes e dos

Morre em 1970. José de Almada Negreiros, um

nhos da Escola Internacional. A fazer a

artistas. Este apresenta a sua conferência

Leonardo da Vinci português, artista de mil e

rtura da exposição está Fernando Pes-

A invenção do corpo” como “ o imaginário na

que escreve para a revista “Águia” uma

terra de cegos”, e convida-o a desenhar para

a – e desse primeiro contacto entre estes

a ilustração portuguesa. Desenhará a capa do

génios da cultura nacional nascerá uma

livro de António Ferro “ A arte de bem mor-

1913,

ade inquebrantável, e um célebre quadro

rer”, continuando a produzir ilustrações para

Almada pinta de Pessoa.

revistas, cartazes para empresas e publicando

ada continua o seu percurso como ilustra-

peças como “ Pierrot e Arlequim” ( 1924), ro-

– colabora em várias publicações e, em

mances como “ Nome de guerra” ( 1925) e en-

4, torna-se director artístico do semanário

saios como “ A questão dos painéis: a história

agaio real”. Mas a sua criatividade não se

de um acaso de uma importante descoberta do

pelo desenho e a ilustração – em 1917,

seu autor” em 1926.

ve a novela “A engomadeira”, com cara-

Entre 1927 e 1932, vive em Espanha, persist-

sticas eminentemente surrealistas. Integra

indo na sua actividade artístico e merecendo

Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Amadeo

os mais rasgados elogios da crítica espanhola.

ousa Cardoso, a primeira edição da revista

Casa em 1934 com a também pintora Sarah

uma artes, um génio do século XX. Texto Rui Marques

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Ilha dos Amores

Ilha dos Amores :

Nesta rubrica abordamos o tema da relação entre o homem e a natureza. O poeta e professor universitário Adriano Eysen, transporta-nos numa viagem às origens, à terra que nos alimenta e nos torna mais humanos. A natureza vê-se como um espelho de água que reflecte, integralmente, o homem nas sua grandezas e misérias, cabendo-lhe escrever nessa geografia natural aquilo que ele é, qual é a sua identidade, as palavras que o definem no mundo. Gonçalves Guerra

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Espelho d’água à cidade de Cachoeira O ondear da onda embala o enigma dos homens. É sempre África nesta cidade. E as águas serpenteiam antigas calçadas e ruas. Para além da ponte, para além dos mangues. O ondear da onda Golpeia o sono das pedras. É sempre solar este rio. E a maresia orvalha As ruínas dos engenhos. Há um poente em cada janela. O ondear da onda vem de outras margens. É sempre ontem nas torres das igrejas. E tarda o trem que passa anunciando abismos e manhãs. Há sonhos e rumores nas jangadas.

O ondear da onda avança sobre o tempo. É preciso escrever no espelho d’água.

Poema Adriano Eysen

Adriano Eysen Rego (1976), poeta, contista e crítico literário, é natural de Salvador. Licenciado em Letras Vernáculas pela UEFS, Especialista em Estudos Literários pela UNEB, professor de Literatura Portuguesa e Brasileira da UNEB, Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC-Minas e membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O autor publicou, dentre outros livros, Imagens do Sertão na poética de Castro Alves (2005/06 – ensaio - UESB), Cicatriz do silêncio (vencedor do concurso de poesia Banco Capital, 2007) e Assombros Solares (2011 – poesia – Via Litterarum).

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