Leilao de novembro de 2010

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Antônio Parreiras, desde o momento que decidiu trocar suas paisagens e nus pela pintura histórica, abordou diversas vezes o tema da Inconfidência Mineira e, nele, a figura maior de Tiradentes. Sem muito brilho. Foi com o painel “Suplício de Tiradentes”, encomendado pelo presidente da província de Minas Gerais, em 1901, que Parreiras inicia, de fato, sua carreira de pintor de História. Em 1914, pintou “Prisão de Tiradentes”, por encomenda do governo gaúcho e, em 1928, volta a insistir na temática levando para a tela o que chamou de Jornadas de Mártires sobre a transferência dos Inconfidentes presos para o Rio de Janeiro. Mas é certo que Parreiras, assoberbado de encomendas oficiais, cometeu frequentes erros, como mostrar Tiradentes de arma em punho na hora de sua prisão, ocorrida no Rio de Janeiro, em 10.05.1789, quando se sabe que ele não ofereceu qualquer resistência, da mesma maneira como os Inconfidentes não foram transferidos em bloco para o Rio de Janeiro, como sugere a tela. O primeiro historiador da Conjuração Mineira (1860), Joaquim Norberto de Souza e Silva, descreveu Tiradentes como “homem repelente, de olhar espantado, loquaz, leviano, imprudente, ressentido, exaltado e fanático”. Para outros historiadores, entretanto, apesar de feio e repelente, era homem galante e namorador, e o historiador mineiro Francisco Iglesias refere‑se à sua “extraordinária personalidade”. Jovem, imberbe e elegante, vestido como alferes da tropa de Minas Gerais, é assim que Tiradentes é retratado por José Wasth Rodrigues. Imberbe é também o Tiradentes de Clóvis Graciano, vestido como alferes e tendo à mão um livro. Em sua direção caminham dois jovens, certamente poetas, dispostos a cumprimentá‑lo. Um pouco atrás aparece uma figura soturna, quem sabe Joaquim Silvério dos Reis, que iria traí‑lo. Mais ao fundo, uma figura portinaresca ergue o braço, punho fechado, em protesto. No geral, composição rígida e pesada. Di Cavalcanti surpreende com uma pintura de envolvente atmosfera. Ele nos mostra Tiradentes profundamente humano, de rosto forte e decidido, que à frente de um grupo segue pelas ruas desertas e silenciosas de Ouro Preto. Decorridos dois séculos do enforcamento de Tiradentes, muitos de seus ideais foram alcançados. O que veio primeiro foi a independência política. A monarquia foi extinta, o país industrializou‑se com o aproveitamento de suas riquezas minerais, as universidades multiplicaram‑se, a população cresceu, e desde 1960 Brasília é a capital do país. Muita coisa, porém, precisa ser feito. Mas nada disso importa para Wellington Virgolino. Para ele, Tiradentes é o herói de todos, de adultos e crianças. Na visão deliberadamente ingênua do pintor, outrora um agudo crítico social, a própria forca se metamorfoseia em guirlanda de flores e o herói, infantilizado, pouco se diferencia dos escolares, dos engravatados e bem comportados burgueses. Diferentemente de seu colega pernambucano, onde tudo é redondo e roliço, as curvas estão ausentes da pintura de Djanira. Esta, apesar de sua origem proletária, não pode mais ser vista como uma artista naïf. Sua melhor produção é de caráter construtivo.

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