Onipresente Bel Borba

Page 1

Farra junina

Roteiro das festas mais concorridas Moda

O outono-inverno está no ar Entrevista

Daniel Oliveira, na reta de chegada w w w. l et sg o ba h i a . co m . b r

Gastronomia

Fantástico chocolate! Minha Cidade

Ingrid Guimarães, fisgada pelo Carnaval Noivas

Suítes para uma lua de mel inesquecível Barco

Requinte e conforto na Intermarine 65 Especial

Mães falam de filhos famosos ANO 4 . Nº20 . 2012 . R$ 14,90

Onipresente

BelBorba Artista plástico expõe obras ao ar livre em várias partes da capital baiana


capa BEL BORBA por CLAUDIA PEDREIRA FOTO SOLANGE ROSSINI

fotos ivan baldivieso

Mestre de obras Bel Borba é um ícone das artes plásticas baianas, com seu apego por projetos de grandes dimensões e sua disposição para expor a céu aberto

30

LET'S GO BAHIA


Antes que os operários partam para campo, o líder faz vistoria do equipamento de segurança dos funcionários – capacete, bota, óculos... tudo deve estar nos conformes. As duas equipes partem de Salvador e se encontram em um terreno de Simões Filho. Debaixo de um solão ardido começam a trabalhar em torno da carcaça de um barco que se esparrama sobre o mato. O mestre da obra se movimenta, pede que um funcionário meça a popa; solicita que uma peça seja colocada em outro lugar; aponta pra onde devem ser colocados pregos. Ele não para.

intervenções, lá estava a escultura com 14 metros de comprimento, na mostra do Centro Cultural dos Correios. Correr contra o tempo é algo a que o criador de 55 anos já se acostumou. “Durmo cinco horas por dia, é o bastante”, contabiliza Bel, acrescentando ainda a informação de que, nos últimos tempos, quando dorme, tem tido sonhos com riqueza de detalhes, minúcias com fundamentos científicos, estruturas muito além da sua “capacidade e conhecimento”. Isso é que é buscar utilidade para as 24 horas de um dia!

Bel Borba é um dos artistas mais conhecidos de Salvador, pois exibe várias produções pela cidade

O chefe do bando, ou melhor, o artista plástico Bel Borba, enxerga naquele saveiro avariado pelo tempo e pelo fogo um peixe de dimensões gigantescas. Por isso batalhou, por cinco anos, pelos restos da nau. E transportou para Salvador, “posta por posta”, a embarcação. Em poucos dias, feitas as devidas

re WWW . L E T S G O B A H I A . C O M . B R

31


capa BEL BORBA

Rio Vermelho “Meu lugar preferido em Salvador é o Rio Vermelho, quando saio à noite de casa, é para lá que vou”, informa o artista, mas nem precisava falar. Basta circular pelo bairro que se percebe que o lugar é o que abriga a maior concentração de produções que Bel Borba compartilha com a população da cidade. Quem vem de Ondina, a pé, de ônibus ou de carro, já pode ir se deleitando com a série de trabalhos artísticos, começando pela muralha da Paciência, onde Bel compôs um painel; seguindo pela calçada, o observador se depara com tanques em metal vazado; ao chegar no Largo da Dinha, um cachorro malhado chama atenção pelas grandes dimensões. “Não gosto de tudo o que faço, mas estou fazendo”, declara o autor.

“Meu lugar preferido em Salvador é o Rio Vermelho, quando saio à noite de casa, é para lá que vou” 32

LET'S GO BAHIA


O criador experimenta materiais como concreto e azulejo. No rodapé, iguana de metal no MAM

Grande e pequeno Além da quantidade, o tamanho dos trabalhos é outra marca de Bel Borba, que costuma utilizar guindastes para executar ideias artísticas. “Na realidade eu sempre tentei forçar a barra para fazer grandes projetos, mas sei que uma coisa pequena tem formato naturalmente mais comercial”, diz. E falando em dimensões impressionantes, convém citar a série de peças criadas com escombros da Fonte Nova e que compuseram uma das partes da exposição Aqui, em Sete Elementos, a já citada mostra do Palace das Artes Rodin Bahia. Na chegada ao museu, o visitante se espantava com os menires contemporâneos, lapidados com o estilo de Bel Borba e posicionados na área externa, numa convivência pacífica com as esculturas do mestre francês Auguste Rodin (estas em longa temporada no espaço baiano). Na mesma exposição, o artista deu amostras de que também burila miudezas. Não é que Bel inventou de criar próteses douradinhas para seus próprios dentes? Ele se fez fotografar com a “dentadura” postiça e incluiu a sua imagem na série de sorrisos de pessoas simples, pinçadas em meio à população de Salvador. Muitos dos fotografados exibiam banguelas ou dentaduras deformadas. “A vida lhes levou os dentes e o sorriso lhe devolveu a alma”, argumentou Bel. Muito provavelmente, tais modelos fotografados engrossam a fileira dos que todo os dias contemplam as obras do artista – obras que sem o relicário das galerias, ficam disponíveis ao olhar de qualquer um de nós, no vai e vem por Salvador.

WWW . L E T S G O B A H I A . C O M . B R

33


capa BEL BORBA

O valor das ideias Alberto José Costa Borba nasceu no dia 23 de janeiro de 1957. Quem acredita em astrologia diz que os aquarianos já chegam surpreendendo. Assim foi com Bel, o caçula dos advogados Norma de Castro Couto e Adalberto Borba. Com 8 anos o garoto começou a produzir arte, influenciado pelo irmão, que já era artista, e pela irmã, que fez um desenho em preto-e- branco, com símbolos africanos que o influencia até os dias de hoje. Era uma espécie de pato, que o rapazola pintou no muro de um vizinho do Canela, provocando certa animosidade. Logo lhe deram um ateliê formal no térreo da casa da família. Em 1976 Bel Borba fez um painel para uma loja de surf, com aerógrafo. A pistola de spray virou sua ferramenta profissional, até que encheu o saco - “Prometi a mim mesmo que não iria ficar preso a uma técnica só”. Ingressou na Escola de Belas Artes, mas como ainda não fazia as coisas com começo, meio e fim, deixou de concluir o curso pois optou por desfrutar de uma bolsa de estudos no exterior. Sempre gostou de viajar e continua assim, pois vive expondo pelo mundo. Na área privada, o artista plástico assina trabalhos como os coloridos painéis do Hospital Aliança, das esculturas para o Grand Palladium Imbassaí Resort & Spa e das aeronaves bimotores que pintou para a companhia Aero Star.

34

LET'S GO BAHIA

Todo material vira obra de arte nas mãos do artista. Nesta página, restos da Fonte Nova e prótese dentária


Decifrando o artista Bel Borba Aqui – Um Homem e Uma Cidade é o nome do documentário focado na relação do artista com a capital baiana. O filme dirigido e escrito por Burt Sun (também produtor) e André Constantini teve estreia mundial em março, no Cinequest, seguindo para exibições no Festival Internacional de Cinema de Boston e no Festival de Cinema de Phoenix. Ao retratar o trabalho de Bel Borba, o diretor Burt Sun observa nele mais do que as qualidades de um químico, detecta as qualidades de um alquimista. Já Murilo Ribeiro, diretor do Palacete das Artes Rodin Bahia, enxerga o artista plástico como irrequieto e inventivo. Inventivo, impetuoso e inquieto são os adjetivos que o galerista Paulo Darzé adota para tratar do autor. E o secretário da Cultura Albino Rubim destaca a rebeldia do artista multifacetado. “Eu não me acho nada extraordinário, genial”, desmitifica o próprio Bel, “sou determinado”.

“Salvador Dali é uma presença importante na história da pintura pela representação de delírios, de sonhos” WWW . L E T S G O B A H I A . C O M . B R

35


capa BEL BORBA

Escolhas pessoais Quem quiser ver Bel Borba se achando não deve perguntar sobre o time do coração, o Bahia, pois ele é sutil em sua torcida. Que lhe perguntem sobre o gosto pela matemática (“tiro onda”, avisa) ou pela gastronomia. O sujeito descreve com gosto seu famoso molho de tomate com charque e azeitona e sua receita de peixe com tamarindo. Na casa onde reside, em uma rua no Horto, faz suquinho de frutas para a equipe de reportagem. Mas quem abre o portão da casa com jardim, escritório, uma pequena piscina e um pequeno ateliê é a mulher, Mery, dona do salão de beleza infantil Miau. Com ela, o artista realizou a obra que pensava ser inimaginável: ter um filho. A pequena Bela chegou há um ano, tiquinho de gente que já se encanta quando lhe dão um lápis colorido e um papel. Será que puxou ao pai? O apego à família é algo que norteia a vida do artista. Ele perdeu a mãe, dona Norma, há meio ano. Foi dona Norma quem lhe entregou um caderninho com nomes de várias pessoas da família, para que não esquecesse do batismo de parentes. Mas quem disse que ele sabe responder como se chamava o bisavô com bigodes arrebitados, que ele vem imitando nos últimos tempos? Aquele bigodinho também lembra uma figura renomada das artes plásticas, Salvador Dali, “uma presença importante na história da pintura”, detalha Bel.

Bel Borba, 55 anos, é tema de documentário dirigido e escrito por Burt Sun e André Constantini que estreou nos EUA

“Eu não me acho nada extraordinário, genial. Mas não tenho o menor acanhamento de dizer que sou determinado” 36

LET'S GO BAHIA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.