A Lavoura 700

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Ano 117 Nº 700/2014 R$ 12,00

Avicultura Como vencer os desafios do verão Uva de mesa Cultivares mais saudáveis e econômicas

Cogumelo Mais rentável in natura A Lavoura - Nº 700/2014

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A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ

Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)

Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.

www.timeagrobrasil.com.br 2

A Lavoura - Nº 700/2014


A LAVOURA

Ano 117 . Nº 700/2014

• 20

uva de mesa

Bonita e saborosa, BRS Núbia tem bom potencial

27 •

avicultura Conforto térmico e água fresca

bem-estar animal

• 47

Livres das celas?

33 62 •

pesquisa

Mais vida útil para a dedo-de-moça

Indicação geográfica

Certificada, sustentável e mais valorizada

14 •

Cogumelo

In natura rende mais

SNA 117 ANOS

06

PANORAMA 08

30 •

Pesquisa

Soja para todo o Brasil

SRB - Sociedade Rural Brasileira

40 •

Orgânicos

Alimentação & Nutrição 38

52 • 58 •

Produzindo para um mundo mais saudável

Bezerros

Como é o manejo dos primeiros dias?

Tecnologia

Tecnologia facilita monitoramento do risco agrícola

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SOBRAPA 43 FAO 50 animais de estimação

56

Organics Net

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EMPRESAS 64 OPINIÃO 66 A Lavoura - Nº 700/2014

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Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Almirante Ibsen de Gusmão Câmara Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta

Academia Nacional de Agricultura Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor

comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado

Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41

Presidente:

Roberto Rodrigues

TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen

ISSN 0023-9135 Diretor Responsável Antonio Mello Alvarenga Editora Cristina Baran editoria@sna.agr.br Reportagem e redação Gabriel Chiappini redacao.alavoura@sna.agr.br

Foto: Cláudio Bezerra - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia www.cenargen.embrapa.br É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos sem prévia autorização do editor. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura.

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Colaboradores desta edição Alicia Nascimento Aguiar Caio Albuquerque Carolina Galvani Charlene de Ávila Plaza Élio Sussumu Kokehara Fernanda Diniz Gabriel Chiappini Gabriel Faria Giovani Antonio Capra Ibsen de Gusmão Câmara Luís Alexandre Louzada Maria Aparecida Melo Iuspa Nadir Rodrigues Paulo Roque Renato Ponzio Scardoelli Ricardo Moura Vera Scholze Borges

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CARTA DA SNA

Qualificação no agronegócio O mercado de trabalho do agronegócio deverá passar por profunda transformação nos próximos anos. A administração das empresas do setor está cada vez mais sofisticada e demandará profissionais cada vez mais qualificados. Um pequeno ganho na produtividade ou no valor de venda do produto, poderá significar uma considerável elevação em sua lucratividade. De uma forma geral, há dois grupos de profissionais que trabalham nas empresas do agro: o pessoal da área técnica, formado por agrônomos,veterinários, zootecnistas, engenheiros agrícolas, florestais etc., e os profissionais que atuam na gestão. Estes são os administradores, economistas, advogados e contadores, entre outros. Na área técnica, os mais demandados nos próximos anos deverão ser aqueles que têm relação com a criação de animais, com o plantio e exploração de florestas, bem como com a sustentabilidade e o gerenciamento ambiental. Como se sabe, a produtividade da agricultura brasileira já alcançou níveis bastante elevados. Os ganhos daqui para frente serão menores, fruto de muita pesquisa e, provavelmente, elevados investimentos. Na pecuária, no entanto, ainda há enormes possibilidades de melhorias e ganhos, decorrentes da adoção de modernas técnicas de criação intensiva. Precisamos produzir mais carne em menor espaço. Dessa forma, além de auferir os resultados de uma melhor produtividade, conseguiremos liberar áreas que estão sendo utilizadas com pastagens extensivas para a produção de grãos. Esse processo de modernização de nossa pecuária extensiva ensejará a necessidade de profissionais especializados na área animal, notadamente os veterinários e zootecnistas, capazes de planejar e executar sistemas de confinamento, rotação de pastagens, alimentação e sanidade animal, melhoria de rebanhos, dentre outros importantes aspectos da criação intensiva de animais. Também são promissoras as profissões relacionadas à plantação e exploração de florestas – segmento que deverá ter crescimento acentuado nos próximos anos. Afi-

nal, o Brasil tem vocação natural e um enorme potencial para a produção de madeira, celulose, borracha e outros produtos florestais. No entanto, o maior desafio, e consequentemente as maiores oportunidades, estão nas áreas de gestão das empresas do setor, que apresentam, de uma forma geral, índices de rentabilidade muito reduzidos. O mercado do agronegócio tornou-se mais sofisticado. Há operações financeiras de diversos tipos. As flutuações dos mercados de commodities precisam ser cuidadosamente avaliadas, assim como há necessidade de acompanhar as projeções da produção. A logística, os estoques, a comercialização e o transporte são fatores decisivos na lucratividade das empresas do agro. A racionalização e o controle dos custos e da rentabilidade são essenciais. No campo jurídico, existem questões complexas relacionadas a contratos e propriedade intelectual. Isso sem falar na necessidade de cumprir diversos dispositivos legais, que se alteram e multiplicam freneticamente, nas esferas fundiária, ambiental e econômica. Em resumo, os empreendimentos do agronegócio deverão adotar, cada vez mais, melhores práticas de gestão para conquistar maior rentabilidade. Dessa forma, os profissionais relacionados à administração, informática, finanças, contabilidade e direito serão cada vez mais requisitados. A chave do sucesso é a capacitação. É preciso manter-se atualizado com as inovações tecnológicas, com as melhores práticas de gestão e permanecer “antenado” com os mercados. * * * Nesta edição de A Lavoura, iniciaremos a publicação de material exclusivo da FAO, em decorrência do convênio que firmamos com essa prestigiosa instituição internacional. Antonio

Alvarenga

Antonio Mello Alvarenga Neto

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SNA 117 anos

Paulo H. Carvalho/Casa Civil PR

Presidente da SNA entrega prêmio Destaque A Lavoura à ministra Gleisi Hoffman

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O diretor da SNA Rui Otávio Bernardes de Andrade, a ministra Gleisi Hoffmann e Antonio Alvarenga.

presidente da SNA, Antonio Alvarenga, entregou o prêmio Destaque A Lavoura 2013 à ministrachefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, durante encontro em Brasília, no dia 3 de dezembro. A honraria contempla o apoio concedido pela ministra às reivindicações do setor rural, com destaque especial para a elaboração do Plano Safra 2013/2014. “Viemos a Brasília fazer esta homenagem da área rural e manifestar nosso reconhecimento ao apoio prestado pela ministra Glesi ao setor neste ano, em que tivemos o melhor plano agrícola de todos”, justificou Alvarenga, que esteve acompanhado à ocasião por Rui Otávio Bernardes de Andrade, diretor da SNA e vice-presidente do Conselho Federal de Administração.

Durante a cerimônia, Gleisi Hoffman reforçou a proposta, em avaliação, de um plano plurianual do agro, e defendeu a continuidade dos estudos para o lançamento, ainda em 2014, de um programa do governo que irá definir a política para a produção de trigo no país. A ministra também se mostrou favorável à criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), que deverá entrar em operação no início deste ano.

CI Orgânicos inaugura sede na SNA

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rojeto nascido de uma parceria entre a Sociedade Nacional de Agricultura e o Sebrae, o Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) inaugurou sua sede, com cerimônia realizada em 10 de dezembro, no auditório da SNA, no centro do Rio de Janeiro. O CI Orgânicos (www.ciorganicos. com.br) é uma rede de geração e difusão de conhecimento, que reúne cerca de 500 publicações de vários pesquisadores do setor de orgânicos em diferentes categorias, mais de cem vídeos informativos e três mil fotos, além de estudos que apresentam novas tecnologias e informações, desde a escolha

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da semente, até formas de aumentar a competitividade no mercado.

“São quase dez anos de parceria com a SNA e ainda há muito o que fazer. Este projeto é uma iniciativa importante para a economia agrícola, porque permite aos pequenos produtores buscar conhecimento e apoio. E, para isso, a SNA e o Sebrae estarão preparados, atualizados com o que há de disponível no mundo em termos de informação”, afirmou Evandro Peçanha, diretor do Sebrae-RJ. O CI Orgânicos é coordenado por Sylvia Wachsner, que também está à frente de outro projeto da SNA no seg-

mento, o OrganicsNet. Segundo ela, “interessa para o Brasil que tenhamos cada vez mais produtores que utilizem processos agroecológicos e orgânicos”.

A força do agro

Em seu discurso, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, salientou que o projeto é um reforço bem-vindo para o setor, no momento em que o agronegócio mostra a sua força na economia nacional. Alvarenga lembra que o Brasil saiu de uma posição de importador de alimentos, que ocupava 40 anos atrás, para o posto de um dos maiores produtores globais.


Armando Araújo

3 Armando Araújo

Armando Araújo

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Foto 1 - Coordenadora do CI Orgânicos, Sylvia Wachsner, ao lado de Antônio Alvarenga e Cristina Baran, editora da Revista A Lavoura. Foto 2 - Cezar Kirszenblatt, gerente do Sebrae-RJ, Paulo Protásio e Claudine Bichara, diretores da SNA, e Evandro Peçanha, diretor do Sebrae-RJ. Foto 3 - Moacir Darolt, pesquisador do IAPAR.

perior e que comem menos carnes e mais vegetais. Elas começam a comprar e se tornam consumidoras fiéis”, relata Darolt.

Atrativos

“O agro está ‘segurando a peteca’ da nossa economia, que anda, muitas vezes, cambaleante por conta dos problemas internos e externos. 2014 será um ano de eleição e precisamos formar uma plataforma política que possa levar a importância do agro para todo o território nacional. Sem uma classe unida, não chegaremos a lugar nenhum”, pontuou.

Campo e cidade

Aumentar a conexão entre rural e urbano é um ponto fundamental para impulsionar o consumo de orgânicos, de acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Moacir Darolt, que ministrou palestra durante o evento. “As pessoas têm uma imagem do campo como algo atrasado. Mas, por outro lado, o campo tem o benefício de permitir contato com o meio ambiente, que as pessoas procuram muito para fugir do estresse da cidade. Já a cidade tem a imagem de poluída, mas também é onde moram 84% das pessoas no Brasil. A partir daí, a grande discussão é como aproximar o campo da cidade e escolher um modelo de consumo mais sustentável”, expôs o especialista.

Segundo ele, a agricultura orgânica pode estimular essa integração rural-urbana de diversas formas e, para isso, os processos de produção e os benefícios dos alimentos orgânicos precisam ser amplamente divulgados. Ele citou ainda que hoje, menos de 5% dos brasileiros sabem o que é um produto orgânico. “Os consumidores de orgânicos são, em sua maioria, mulheres com idade entre 31 e 50 anos, com instrução su-

Jardins comestíveis, hortas em casa – valendo também para pequenos espaços, visitas planejadas a propriedades que praticam a agricultura orgânica e adoção de orgânicos na merenda escolar, foram algumas das ações citadas por Darolt capazes de estimular o interesse dos consumidores por esse tipo de alimento.

Ele destacou também os chamados “circuitos curtos de comercialização”, modalidade que promove um canal direto entre o produtor e o consumidor, que tem a oportunidade de encontrar maior variedade de produtos e a preços mais justos.

“Um dos desafios é educar o consumidor e também deixar claro, nesta mudança de hábitos, que o alimento não é apenas para o corpo, mas também para a mente, e deve contemplar relacionamentos saudáveis”, complementou.

Nova visão

Durante debate que deu sequência à palestra de Darolt, Maria Célia Souza, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta) e uma das autoras do livro “Ações para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica em São Paulo”, (projeto realizado em parceria com o CI Orgânicos), defendeu que o modo orgânico de produção traz uma nova visão, ao integrar “não só a saúde de quem consome, mas também a de quem produz”. Maria Célia enfatizou que “os produtores também se contaminam com insumos que não deveriam ser usados”. Celso Merola Junger, chefe da Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário do Mapa-RJ, disse que o segmento “cresce mais do que os outros” e tem sido observado com atenção pelo ministério da Agricultura. “É um mercado em expansão que possui uma série de características importantes. Ainda temos de aprender muito com esse sistema de produção”, observou. A Lavoura - Nº 700/2014

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Luiz Humberto Gomes

Panorama

Fermentação das sementes de cacau garantem aroma e sabor do produto

Pelo bem do chocolate

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os processos produtivos de produtos agroindustriais como o queijo, vinho e cerveja, a etapa de fermentação está, em grande parte, estabelecida. “Estes processos utilizam microorganismos selecionados e/ou melhorados geneticamente para obter um rendimento maior do processo. Em comparação com esses produtos, a fermentação de sementes de cacau encontra-se em um estágio bastante rústico”, afirma Luiz Humberto Gomes, biólogo do setor de Química, do Departamento de Ciências Exatas (LCE), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Na ponta dessa cadeia produtiva, o chocolate paga a conta e, apesar de ser um produto nobre, deixa de ser oferecido a partir de um processo mais ágil, seguro e que possa representar, na prateleira, um produto com valor agregado, ou seja, com características de aroma e sabor de melhor qualidade. “Para obtenção da matéria prima do chocolate se faz necessária uma fermentação prévia das sementes, para que nesse processo ocorram modificações bioquímicas indispensáveis para a formação dos precursores do sabor e aroma do produto. Atualmente as fermentações conduzidas nas fazendas ainda são rústicas e sem qualquer controle, resultando em sementes fermentadas de baixa qualidade”, aponta Gomes.

Fermentação das sementes O biólogo, Marcos Pinto Monteiro de Oliveira, mestrando em Microbiologia Agrícola da ESALQ, desenvolve, sob orientação de Luiz Humberto Gomes, pesquisa na área de fermentação de cacau no laboratório de Química Orgânica e Produtos Naturais, localizado no setor de Química, do Departamento de Ciências Exatas 8

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(LCE) da ESALQ. “O objetivo desse projeto é isolar leveduras das fermentações naturais, avaliá-las através de um programa de seleção e reintroduzi-las em alta concentração no processo, de modo que essas sementes obtenham uma qualidade superior em menor tempo, aumentando o rendimento e eficácia da fermentação”, conta Marcos. A pesquisa é realizada com projeto CNPq, coordenado pelo professor Antonio Vargas de Oliveira Figueira, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da USP de Piracicaba, em colaboração com a professora Irene Coelho, da Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) e do professor Gildemberg L.A. Junior, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). “Nossos experimentos foram realizados em fazendas localizadas em Itabuna, no sul da Bahia, e os resultados obtidos se mostram extremamente promissores”, comenta Luiz Humberto Gomes, lembrando que fatores como maior efi-

Fermentação reduz umidade nas sementes, diminuindo o aparecimento de fungos ciência na drenagem do mel, redução do tempo de fermentação, diminuição da concentração de ácido lático e não aparecimento de bolores na semente durante a secagem (mesmo em período de chuva), apontam para a prática de inoculação de leveduras selecionadas como uma solução para a padronização das fermentações de cacau, bem como garantia de qualidade da semente. “Outro fator importante observado nas fermentações foi a redução da umidade nas sementes durante a secagem, reduzindo o aparecimento de fungos produtores de micotoxinas”, finaliza Gomes. Caio Albuquerque

USP/ESALQ


Jovenil da Silva

Produtores devem fazer o controle da mosca-branca para evitar prejuízos na safrinha

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o fim da safra de soja em Mato Grosso muitos produtores têm tido problemas com o aumento da população de mosca-branca (Bemisia tabaci), nas lavouras. Segundo especialistas, deve-se fazer o controle desta praga, uma vez que ela pode causar problemas na segunda safra de milho ou de algodão.

Adeney Bueno

De acordo com o pesquisador da área de entomologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Pitta, um dos motivos para o aumento da população de mosca-branca é o controle químico com produtos não seletivos feito no início da safra de soja com objetivo de combater a lagarta Helicoverpa armigera.

Excesso de inseticida “Aplicou-se muito inseticida de amplo impacto no começo da safra e eles acabaram atingindo também a mosca-branca e seus inimigos naturais. Como a praga consegue se reproduzir em maior velocidade e quantidade do que o inimigo natural, chega no fim da safra, a população dela aumenta, não tem inimigos naturais, e acaba gerando problemas”, explica Rafael, que ainda destaca situação semelhante ocorrida com a lagarta falsa medideira (Pseudoplusia). Além de sugar a seiva das plantas, reduzindo a produtividade da lavoura, a mosca-branca pode transmitir viroses para as plantas, sobretudo para o algodão. O inseto ainda excreta nas folhas uma substância que favorece a formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp. . Esta fumagina, de coloração preta, reduz a capacidade de fotossíntese da planta. Desta forma, o produtor deve fazer o controle da praga para garantir o antes de iniciar a segunda safra. “Temos uma imensidão de soja em Mato Grosso. É uma cultura em que o inseto se reproduz bem. Então conseguimos produzir uma quantidade muito grande de insetos. O problema vem agora na sequência. Apesar do milho não ser um hospedeiro natural, a população é tão grande que ela precisa se alimentar. Na safra pas-

Na sequência: Mosca branca na forma adulta e Ninfa da Bemisia tabaci

sada já vimos milho morrendo por causa da mosca-branca. E tem o algodão na sequência, que é um bom hospedeiro”, alerta o pesquisador da Embrapa.

Controle químico Com a redução da população de inimigos naturais no campo, responsáveis por fazer um controle biológico, a principal forma de controle da mosca-branca é com a aplicação de produtos químicos. “Hoje estamos dependentes basicamente do controle químico. Temos poucos produtos e são aqueles usados no controle do percevejo. Este, aliás, é um dos fatores que podem ter contribuído também para aumento da população de mosca-branca. Como a população de percevejo não foi muito alta, foi reduzida a quantidade de aplicações para percevejo e acabou sobrando mosca-branca”, analisa Rafael Pitta. Gabriel Faria

Embrapa Agrossilvipastoril

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Panorama

Chips ou palha, novas cultivares de batata para a indústria

A

s cultivares de batata BRS IPR-Bel e BRS Ana, da Embrapa, destacam-se pela adaptação às diversas regiões do país; elevado rendimento para processamento, tanto na forma de chips como de batata palha; alto potencial produtivo e rendimento de tubérculos comerciais com características de qualidade para a industrialização. Antonio Bortoletto, analista da Embrapa Produtos e Mercado, unidade responsável pela comercialização e inserção de tecnologias, produtos e serviços da Embrapa no mercado, explica que, devido à adaptação das variedades nas diferentes regiões de cultivo de batata no país, será possível a sua utilização e adoção tanto por pequenas, médias ou grandes indústrias.

Como parte do processo de promoção das cultivares, foram enviados cerca de 2.200 kg de tubérculos comerciais de Canoinhas, SC, para testes de fritura na linha de produção da Yoki, indústria parceira.

Parceria “O mais importante é que com o lançamento das novas variedades, estamos dando um passo à frente para obtermos estabilidade na bataticultura”, disse Tsutomu Massuda, presidente da Cooperativa Unicastro, parceira na pesquisa destas cultivares de batata há três anos. É fato que agricultura é uma atividade de alto risco e sujeita a diversos fatores surpresa como clima, aumento dos preços, de insumos, política cambial e econômica, marcos regulatórios trabalhistas e ambientais. Todos esses fatores fazem com que a produção de batata busque constantes mudanças, minimizando o risco e administrando custos em busca de modelos sustentáveis para a cadeia da bataticultura, refletiu o presidente da cooperativa. No caso da batata, devemos ressaltar ainda a forte dependência na importação de sementes. É imprescindível

Antônio Bartoletto

Antônio Bartoletto

BRS Ana possui grande qualidade de fritura

No detalhe: variedade frita na forma de palha

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Antônio Bartoletto

Antônio Bartoletto

No detalhe, o chips da nova cultivar

Batata BRS Ana

Colheita da BRS IPR Bel

o trabalho que vem sendo feito pelos órgãos de pesquisa como Embrapa e Iapar em parceria com o produtor e a indústria para atender melhor o nosso consumidor. “Após três anos de parceria com a pesquisa, instalando campos de teste nos produtores da Unicastro, avaliamos o desempenho das cultivares no campo e no processamento industrial, e os resultados foram surpreendentes tanto no aspecto industrial, como nas características agronômicas, com uma boa avaliação nos dados de aparência, cor, sabor e textura”, ressalta Massuda. A equipe da Unicastro tem acompanhado as mudanças que ocorrem com a globalização e as recentes tecnologias no setor do agronegócio. Nessa parceria, nascem duas novas opções, para a cadeia da bataticultura, afirma o presidente da Unicastro, as cultivares BRS IPR- Bel e BRS Ana. Na avaliação dos técnicos da Cooperativa, as cultivares merecem destaque pela superioridade agronômica e qualidade industrial, que agregam produtividade e resultados satisfatórios ao sistema, o que nos faz acreditar no potencial de adaptação às nossas condições climáticas e, com manejo adequado, se tornarem comercialmente competitivas, finaliza Massuda. Vera Scholze Borges

Embrapa Produtos e Mercado

BRS Ana é uma cultivar adequada para fritura à francesa (palitos), com potencial de processamento na forma de palitos pré-fritos congelados, palha e de flocos. Suas características de maior destaque são a aparência, o rendimento de tubérculos, peso específico e qualidade de fritura. Os tubérculos têm película vermelha, levemente áspera, polpa branca, formato oval e olhos rasos. Seu potencial produtivo é alto. No ecossistema subtropical, apresentou maior produtividade que as cultivares mais plantadas no país, quando cultivada no outono, e não diferiu na primavera. Apresenta, também, menor exigência em fertilizantes que as principais cultivares importadas e também mostra moderada tolerância à seca. A BRS Ana possui boa resistência à pinta preta, apresentando baixa degenerescência de sementes por viroses, conferida pela resistência ao vírus Y da batata, e baixa incidência ao vírus do enrolamento da folha da batata. Apresenta ciclo tardio de 110-120 dias.

Forma de comercialização: sementes Onde adquirir? Instituição: Escritório de Canoinhas Embrapa Produtos e Mercado Responsavel: Antonio César Bortoletto Telefone: (47) 3624-0127 • Cidade: Canoinhas • UF:SC E-mail: antonio.bortoletto@embrapa.br Instituição: Pedro Candido Rytsi Hayashi Responsavel: Pedro Candido Rytsi Hayashi Telefone: (19) 3641-3116 • Cidade: Vargem Grande do Sul UF: SP • E-mail: jarril@uol.com.br Instituição: Sergio Zanette Responsavel: Sergio Zanette Telefone: (54) 9998-2695 • Cidade: Ibiraiaras • UF: RS E-mail:helenalorenzet@hotmail.com • claudineiazanetti@gmail.com Instituição: Tecnoplanta Ltda Responsavel: Teruiko Watanabe Telefone: (41) 3673-1507 • Cidade: Piraquara • UF: PR E-mail: tecnoplanta@ig.com.br

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Panorama

Aumento de ácido fólico é preocupação no Brasil e em outros países

Alface com maior teor de ácido fólico As plantas biofortificadas têm até 15 vezes mais essa vitamina e podem ser consumidas cruas.

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anencefalia tem sido foco de discussões no Brasil, envolvendo médicos, cientistas, juristas, religiosos e a sociedade em geral. Polêmicas à parte, a má notícia é que a incidência de fetos anencéfalos vem aumentando nas últimas décadas. Hoje, já é de um em cada 700 no país, um índice relativamente alto. O Brasil é o quarto país do mundo com maior prevalência de nascimentos de bebês com anencefalia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No país, ocorrem cerca de 1.800 casos por ano. Apesar de a causa da anencefalia ainda não estar completamente definida — provavelmente é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais — já se sabe que a ingestão de ácido fólico meses antes da concepção pode prevenir em mais de 50% a ocorrência dessa doença. Por outro lado, a boa notícia é que a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia está desenvolvendo uma pesquisa para aumentar o teor de ácido fólico, ou vitamina B9, nas plantas de alface. A pesquisa, coordenada pelo pesquisador Francisco Aragão, começou em 2006 com o objetivo de desenvolver plantas de alface geneticamente modificadas com maior teor de ácido fólico. Segundo ele, a alface já produz essa vitamina, mas em pequenas quantidades. O que ele e sua equipe fizeram foi aumentar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico através da introdução de genes de Arabidopsis thaliana, que é uma planta-modelo, muito utilizada na biotecnologia vegetal.

Na verdade, a preocupação com o aumento do teor de ácido fólico na nutrição humana já é preocupação do Brasil e de outros países que, por isso, optaram pela suplementação dessa vitamina em farinhas. Nos Estados Unidos e Chile, por exemplo, que começaram a adotar essa medida há mais tempo, a má formação fetal diminuiu em 20 a 30%. No Brasil, a iniciativa começou no ano de 2002. As mulheres grávidas, normalmente, passam a ingerir mais quantidade de ácido fólico por recomendações médicas, já que a dose diária recomendada nesses casos é de 0.8 mg (=800µg), segundo a FDA - Food and Drug Administration dos EUA. O problema é que as más formações fetais, como a anencefalia, ocorrem bem no início da vida intra-uterina, por volta da terceira e quarta semana de gestação quando, muitas vezes, as mulheres sequer sabem que estão grávidas. Por isso, o ideal é que as mulheres em idade reprodutiva consumam regularmente essa vitamina. Aquelas que querem engravidar devem iniciar a suplementação três meses antes da concepção. Além da anencefalia, a deficiência de ácido fólico pode resultar em outras deformações congênitas, como a espinha bífida, lábio leporino e fenda palatina. Algumas ações de conscientização vêm sendo realizadas pelos órgãos de saúde no Brasil, como a Semana da Conscientização Sobre a Importância do Ácido Fólico, por exemplo. Outras doenças nervosas estão relacionadas à baixa ingestão de vitamina B9 Estudos recentes mostram que outras doenças nervosas, como a depressão, por exemplo, podem estar relacionadas ao baixo teor de ácido fólico na alimentação. Antigamente, esse índice era restrito a mulheres de baixo poder aquisitivo, mas hoje atinge mulheres de todas as classes e faixas etárias, especialmente em países em desenvolvimento.

Trinta vezes mais Os estudos foram realizados de duas maneiras: no primeiro caso, o gene foi inserido no genoma nuclear da planta e no segundo, no cloroplasto (parte da planta responsável pela fotossíntese). A primeira vertente resultou Cláudio Bezerra

Alface biofortificada

em linhagens de plantas com até 15 vezes mais ácido fólico e a segunda, com duas vezes mais. Aragão pretende iniciar o cruzamento entre as duas variedades para tentar alcançar índices ainda maiores da vitamina nas plantas. “Manipulando as duas rotas, pode ser que essa quantidade chegue a até 30 vezes mais, como indicam alguns estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos”, afirma. Mas, mesmo antes dos cruzamentos, os resultados da pesquisa são muito satisfatórios, como explica Aragão. A dose diária de ácido fólico recomendada para um adulto a partir de 15 anos é de 0.4 mg (=400µg), o que significa que a ingestão de apenas duas folinhas das alfaces GM desenvolvidas pela Embrapa representa 70% da vitamina que precisamos diariamente. “É uma perspectiva muito promissora, especialmente se levarmos em consideração que os programas de biofor-

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ingerida crua, o que é muito melhor para a absorção das vitaminas. As plantas modificadas pela Embrapa são de um tipo de alface crespa, que é muito apreciada pela população. “Mas, a pesquisa pode ser estendida a outras variedades”, diz Aragão.

tificação de alimentos, geralmente, consideram 30% uma quantidade suficiente. Conseguimos mais do que o dobro”, comemora o pesquisador. As plantas estão prontas nas casas de vegetação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, e começarão a ser submetidas ainda este ano a testes de avaliação agronômica. Os testes já foram autorizados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.

As plantas foram testadas com ratos para avaliar a capacidade da absorção do ácido fólico por mamíferos e os resultados foram muito bons. Na primeira semana em que receberam as folhas de alface geneticamente modificadas, os animais tiveram um crescimento significativo do teor da vitamina no sangue.

Vantagens: alface pode ser ingerida crua A vantagem da alface é que, além de ser uma hortaliça que faz parte da dieta da população brasileira, ela pode ser

Fernanda Diniz

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Queijo Coalho artesanal certificado tecnologia «Inovação na Agroindústria do Queijo de Coalho Artesanal da Agricultura Familiar», da Embrapa Agroindústria Tropical, foi certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil (FBB). Em todo o Brasil, 192 experiências já foram reconhecidas e certificadas como tecnologia social. Conforme a FBB, tecnologias sociais são produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social.

Tudo começou na Região dos Inhamuns, no sertão central cearense. A região é reconhecida e apreciada por seu queijo de coalho bovino. A falta de um padrão de qualidade na produção do produto, porém, coloca em risco a capacidade de permanência da atividade e a conquista de novos mercados. O projeto de melhoria da produção, processamento e comercialização do queijo coalho artesanal — desenvolvido em parceria com o Banco do Nordeste — teve como objetivo de avaliar os pontos críticos na produção e no processamento do leite bovino, além de implantar rotinas de boas práticas em todo o processo produtivo.

Ações de melhoria Para o desenvolvimento dessas ações, foi feito um diagnóstico, um estudo propositivo e a preparação de 40 multiplicadores para o acompanhamento das ações de melhoria dos processos produtivos. A tecnologia consiste na melhoria do processo de produção de queijo de coalho, por meio da realização de cursos de Boas Práticas Agrícolas (BPA), com foco na ordenha higiênica, e de Boas Práticas de Fabricação (BPF), e na melhoria do processo de produção através de práticas higiênicas. Foi ministrado ainda um curso de Plano de Negócios, com foco na melhoria da administração financeira da unidade familiar, e desenvolvidos dois kits,

Fotos: Leto Saraiva

A

Curso para preparação de multiplicadores, no Rio Grande do Norte No detalhe: Queijo coalho artesanal

sendo um para uso no curral visando a limpeza das tetas para ordenha e outro para a fabricação de queijo de coalho. A iniciativa foi bem-sucedida e se expandiu para os municípios de Currais Novos (RN) e Luís Correa (PI). Ao todo, mais de 300 produtores rurais participaram das capacitações e receberam os kits de fabricação. Eles passaram a ter acesso a informações sobre melhoria da produção, processamento e comercialização de queijo de coalho. A adoção das medidas tem gerado, em média, um incremento de 30 a 40% no valor obtido com o queijo. O conteúdo do projeto está disponível para download, no site da Embrapa Agroindústria Tropical (www.cnpat.embrapa. br) no menu superior direito, em “Publicações”, selecionar a opção “Série Documentos”. A publicação é a de número 150. Ricardo Moura Embrapa Agroindústria Tropical

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Cláudio Bezerra / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

cogumelo

In natura

rende mais

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Produtores de cogumelos podem aumentar renda em até 40% com nova tecnologia que agrega valor à cadeia

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T

rabalho inédito de transferência de tecnologia empreendido com produtores de cogumelos no leste paulista, que conseguiu aumentar em 40% os lucros, com o estímulo da venda de produtos frescos, acaba de ser realizado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento - SAA. Executado pelo pesquisador da APTA, Daniel Gomes, o estudo, inédito do Brasil, tem o intuito de modificar a visão desses fungicultores para o cultivo in natura e, assim, melhorar as condições da produção, agregando valor. Atualmente, a região possui cerca de 60 produtores de cogumelos com uma produção de 800 toneladas, anualmente.

Cláudio Bezerra / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

cogumelo

Os cogumelos mais populares entre os brasileiros são, o Shimeji...

Consumo Quando se compara o consumo de cogumelos comestíveis no Brasil com países europeus, pode-se perceber o quanto este é um alimento pouco consumido no País. Apesar de ser rico em nutrientes, o consumo por habitante no Brasil quase não alcança 160 gramas, enquanto na França esse valor se aproxima dos dois quilos, na Itália, a 1,3 quilos, e na Alemanha, a quatro quilos, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No Brasil, os cogumelos comestíveis mais comuns são o shiitake, shimeji e o champignon de Paris. O pesquisador da APTA explica que as qualidades nutritivas e medicinais são amplas, porque são alimentos ricos em vitaminas do complexo B, como o ácido fólico, essencial para mulheres durante a gravidez, por auxiliar o desenvolvimento do feto; a niacina, importante para a transformação de carboidratos, proteínas e gorduras em energia,

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... o Champignon de Paris, mais famoso e consumido no país... Cláudio Bezerra / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

De acordo com Daniel Gomes, esse aumento da renda foi possível graças às reduções de custos com a cocção, conservantes e mão de obra. “Produzir cogumelos in natura ainda exclui a concorrência do cogumelo importado (cozido), que vem gerando grandes transtornos aos produtores nacionais devido à concorrência desleal de preços”, afirma o pesquisador da APTA. Segundo ele, as vantagens do cogumelo fresco são inúmeras e garantem qualidade nutritiva e no sabor que oferece. “Porém, o produto dura, em média, uma semana, durabilidade muito semelhante a outros produtos do nosso dia a dia como folhosas e alguns legumes”, explica.

Assessoria de Imprensa APTA

Durante as pesquisas, Gomes percebeu a preferência dos produtores da região Leste paulista por produzir cogumelos em conserva, por ser prático, de fácil conservação e distribuição. No entanto, o cogumelo in natura se mostrou 40% mais rentável que a produção em conserva.

... e o Shiitake, popularizado com o sucesso da culinária japonesa.


Cláudio Bezerra / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Produzir in natura ainda exclui a concorrência do cogumelo importado

Consumo de cogumelos no Brasil ainda é pequeno se comparado a outros países

Saúde “Os cogumelos também trazem, em sua composição, riboflavina — a vitamina B2—, que é responsável por favorecer o metabolismo de gorduras, açúcares e proteínas, sendo importante para saúde de olhos, boca, pele e cabelos”, afirma Daniel Gomes. O alimento possui ainda baixo teor de carboidratos, gorduras e colesterol, sendo rico em fibras e sais minerais, o que auxilia no controle de peso, por garantir saciedade e, como consequência, menor ganho de peso. “Os cogumelos têm também antioxidantes, que auxiliam no sistema imunológico, além de terem alta atividade anticancerígena, contra o câncer de mama e câncer de próstata”, explica o pesquisador da APTA.

Pesquisa gastronômica Para demonstrar as vantagens do cultivo do cogumelo fresco e melhoria da qualidade dos cogumelos produzidos por esses fungicultores, foi realizado um jantar em que todos os pratos continham cogumelos, desde os aperitivos até a sobremesa. Assim, os produtores da região puderam perceber quais as possibilidades que os cogumelos ofereciam e demonstrar que as qualidades do produto in natura não estavam apenas no valor nutritivo.

quisas foi convidado o gastrônomo e consultor de gastronomia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/SP), Leonardo Paiva. Entre as receitas desenvolvidas pelo grupo, está sopa de cogumelos, cogumelo com carne suína, cogumelos com frango, carpaccio de cogumelos, feijão com cogumelos, bolinhos de arroz e cogumelos, entre outras. O resultado será publicado em um livro de receitas com cogumelos, assim como dicas para o manuseio e seleção.

Associação O Polo Regional do Leste Paulista da APTA também participa ativamente da constituição da Associação Nacional de Produtores de Cogumelo (ANPC), que possui o objetivo congregar os produtores de cogumelo do Brasil, defender e desenvolver a fungicultura e disseminar o consumo de cogumelos no País. Cerca de 80% dos fungicultores são compostos por pequenos e médios agricultores.

Cristina Baran

e o ácido pantatênico, que auxilia o metabolismo, produz anticorpos no combate às infecções e também reduz efeitos adversos e tóxicos de parte dos antibióticos.

Gomes também coordenou pesquisa gastronômica junto com chefes de cozinha —, profissionais responsáveis pela seleção dos ingredientes, pela preparação dos pratos —, para popularizar o consumo do cogumelo, adaptando a iguaria a receitas brasileiras. “A junção da pesquisa acadêmica com a gastronomia foi essencial e muitíssimo proveitosa”, conta. Para o desenvolvimento das pesOferta aumenta nas prateleiras

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Por que financiar a agricultura familiar é bom pra todos? Porque, se por um lado, aumenta a produtividade no campo, por meio do Pronaf, do Governo Federal, por outro, incentiva o comércio e melhora a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. E isso é bom pra todos.

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Danielle Pedroso Cliente da Agência Sto. Antônio da Platina (PR)

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uva de mesa

Cacho natural da cultivar BRS Núbia

Bonita e saborosa,

BRS Núbia tem bom potencial 20

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U

ma uva preta de mesa com sementes — a BRS Núbia — é a nova cultivar da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A nova variedade tem entre seus principais atributos a diminuição do uso de mão de obra no cultivo e sua uniformidade de cor — destaca o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, João Dimas Garcia Maia, um dos coordenadores do Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa. Em relação ao primeiro aspecto, ela tem como característica principal o fato de demandar menos mão de obra para manejo do cacho. Quanto à cor, sob condições de clima quente (subtropical, tropical úmido ou semiárido), para as quais é indicada, a nova cultivar expressa bem a coloração preta, apresentando uma uniformidade apreciada pelo consumidor.

João Dimas Garcia Maia)/Embrapa Uva e Vinho

Evolução A BRS Núbia é uma importante evolução na produção nacional de uva preta de mesa com sementes. Até o momento, explica Dimas, a única cultivar desse tipo produzida em maior escala no país é a Brasil, uma mutação genética espontânea a partir da variedade Benitaka. A Brasil, porém, apresenta pouca expressão de cor quando a maturação coincide com épocas de altas temperaturas. E, também, a produtividade não é muito elevada. Nestas condições, sua coloração fica em um meio-termo entre o preto e o vermelho. Além disso, o cultivo dela exige grande mão de obra para manejo do cacho. Já a BRS Núbia resolve os aspectos deficitários da Brasil e vai além.

Ciclo mais curto A pesquisadora Patricia Ritschel, coordenadora do Programa de Melhoramento Genético de Uva também ressalta que o grande tamanho de baga da nova cultivar (outro item considerado importante pelo mercado), com média de 24 milímetros por 34 milímetros, é obtido sem a utilização de reguladores de crescimento, como as giberelinas. Ou seja, a opulência das bagas de BRS Núbia alinha-se à perspectiva de produção mais sustentável.

Necessidade de menor mão de obra no cultivo e uniformidade de cor — preta, no caso — são alguns dos atributos da nova variedade de uva de mesa

A nova cultivar destaca-se, ainda, pelos índices de substâncias benéficas à saúde (confira mais abaixo), pelo fato de apresentar ciclo mais curto do que a Brasil — o que resulta também em economia na aplicação de fungicidas —e pela boa aptidão para conservação pós-colheita. A BRS Núbia foi testada em áreas de validação em Jales (noroeste paulista), Petrolina (PE, no Vale do Submédio São Francisco), Marialva (norte do Paraná) e Jaíba (norte de Minas Gerais), em propriedades de produtores e empresas parceiros. Pelo bom desempenho observado, é recomendada para todas essas regiões. Ela é resultante do cruzamento entre as cultivares Michele Palieri e Arkansas 2095, realizado em 2000, em Bento Gonçalves (RS).

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Nova variedade aprovada A BRS Núbia já despertou atenção. O engenheiro agrônomo Nedson Aparecido Ignácio da Silva, assistente agropecuário da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Marinópolis (SP), gostou do que viu na tarde de campo de apresentação da nova cultivar. “Vejo grande potencial nela, que tem chance real de ‘emplacar’, vindo a substituir a Brasil”, diz Silva. Isso, na avaliação dele, pela coloração “bastante atrativa” da BRS Núbia — enquanto “a Brasil gradualmente vem perdendo cor, característica que o mercado aprecia muito. O “sabor excelente, muito marcante”, e as informações de que o ciclo de produção da variedade é menor, além de sua maior tolerância ao míldio (dado apontado pelo produtor Paulo Siney Higa, no sítio de quem foi feita a tarde de campo), são outros elementos destacados pelo agrônomo. Silva afirma que os dois produtores de Marinópolis que acompanhou na apresentação, interessaram-se efetivamente pela nova cultivar, tendo adiantadolhe que vão implantá-la.

João Dimas Garcia Maia)/Embrapa Uva e Vinho

uva de mesa

O produtor Paulo Siney Higa, 70 anos, parceiro da Embrapa no processo de avaliação da BRS Núbia — cedeu área em sua propriedade, em Jales (SP), para testes de validação da variedade — vê nela uma possibilidade para manter-se na viticultura. Com o retorno de filhos e sobrinhos para o

Patricia Ritschel)/Embrapa Uva e Vinho

Detalhe do tamanho natural da baga de BRS Núbia, sem aplicação de reguladores de crescimento

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BRS Núbia em produção em Jales, noroeste de São Paulo


BRS Núbia contém mais substâncias benéficas à saúde Os atributos da BRS Núbia passam também pela maior presença de substâncias benéficas à saúde. Em comparação à Benitaka, a nova variedade da Embrapa apresenta um teor de antocianinas totais cinco vezes maior e um Índice de Polifenóis Totais (IPT) aproximadamente 60% maior. Os níveis das substâncias foram determinados na película de uvas das duas cultivares produzidas no norte do Paraná. Atribui-se o maior teor de antocianinas à cor mais escura e uniforme da nova cultivar.

Japão, nos últimos anos, foi reduzida, mais do que pela metade, a disponibilidade de mão de obra no Sítio Irmãos Higa. Lá trabalham Paulo, sua esposa, Cecília, o irmão dele, Luiz, e esposa, Maria, e o filho deste casal, Luiz Jr. Por conta disso, os vinhedos, de uvas de mesa (BRS Linda, Benifuji e, hoje, BRS Núbia), passaram de seis para apenas um hectare. “Como estamos envelhecendo, e nossa capacidade de trabalho diminuindo, enxergamos na BRS Núbia, que demanda menos mão de obra e tem custo de cultivo menor, uma alternativa para continuarmos com a produção de uva”, comemora Higa. Ele salienta que a cultivar apresenta um aspecto visual bonito e bom sabor, o que aumenta as possibilidades de ganhar espaço no mercado. Uma maior tolerância às doenças do míldio e do oídio, em relação a outras uvas cultivadas no sítio — e, em uma safra mais seca, também uma ocorrência mínima de podridão dos cachos causada pelo fungo Botrytis — são outras características da BRS Núbia observadas pelo produtor desde a implantação dos vinhedos da variedade, há dois anos. Estudos estão sendo conduzidos pela Embrapa para verificação dessas primeiras observações.

Características da BRS Núbia •

cachos médios (450 gramas, em média);

ciclo médio;

planta vigorosa;

produtividade entre 25 e 30 toneladas por hectare;

sabor neutro;

textura firme;

teor de açúcar entre 16° e 20° brix;

intensa camada de pruína (cera) na casca;

boa fertilidade. A Lavoura - Nº 700/2014

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uva de mesa

Uva de mesa

BRS Núbia: Opulência dos cachos e coloração são atrativos para o mercado

Sanidade do material A cultivar BRS Núbia foi testada para detecção de infecções virais. Nesse processo de indexação foram considerados alguns dos principais vírus que compõem as doenças do “enrolamento da folha” e do “complexo rugoso” da videira. Os testes diagnósticos foram baseados na técnica de hibridização molecular. A metodologia é muito sensível e permite detectar o ácido nucleico viral em plantas infectadas, as quais são descartadas do processo de formação de material propagativo de sanidade superior. Assim, somente as plantas identificadas como sadias foram usadas como matrizes para obtenção do material propagativo da BRS Núbia.

Comercialização Reservas de mudas da cultivar BRS Núbia, para plantio durante o ano de 2014, poderão ser feitas junto aos viveiros licenciados: – Beifiur Ltda. (Garibaldi/RS, telefone (54) 3388-9060), Rasip Agropastoril Ltda. (Vacaria/RS, (54) 3231-4700), Vitácea Brasil (Caldas/MG, (35) 9903-4726) e Clone Viveiros (Araucária/PR, (41) 3253-2940). Giovani Antonio Capra

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Vermelha e sem sementes, BRS Isis exige menos aplicações de fungicidas

A

cultivar BRS Isis, uva de mesa vermelha, sem sementes e resistente ao míldio, a mais danosa doença da videira em condições tropicais brasileiras, também foi lançada pela Embrapa. A resistência da BRS Isis ao míldio pode significar uma redução no número de aplicações de fungicidas tradicionalmente adotados para uvas finas de mesa. Ou seja, a cultivar se enquadra na perspectiva de promoção da agro sustentabilidade — conceito dentre os prioritários para o Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa, no qual a nova variedade foi desenvolvida. Segundo a pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, Patricia Ritschel, uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento, a resistência da BRS Isis foi registrada em diversos experimentos. Em avaliações de campo, realizadas em 2008, na Estação Experimental de Viticultura Tropical (EVT) da Embrapa Uva e Vinho, em Jales (SP), sob condições de temperatura e umidade favoráveis à ocorrência da doença, a Sidney Scharmone/Divulgação

João Dimas Garcia Maia)/Embrapa Uva e Vinho

resistente ao míldio

Cacho da nova cultivar em bandeja pronta para ser envolvida em filme plástico


João Dimas Garcia Maia/Embrapa Uva e Vinho

Produção de BRS Isis no Vale do Submédio São Francisco

nova cultivar recebeu nota como “altamente resistente”. O mesmo sucedeu-se em teste realizado em casas de vegetação, também em ambiente propício à disseminação de míldio, de maio a junho de 2013, durante 57 dias de avaliação.

Baga grande Outro atributo da BRS Isis é o tamanho grande de baga (18,5 milímetros de diâmetro por 28,5 milímetros de comprimento), “acima do mínimo exigido pelo mercado internacional”, assinala Patricia. Ela destaca que esse tamanho é obtido naturalmente, dispensando o uso de giberelina, um hormônio de crescimento — ou seja, também aqui a nova variedade alinha-se à perspectiva de agro sustentabilidade. A nova variedade é extremamente produtiva, ressalta a pesquisadora: no Vale do São Francisco, no Nordeste do Brasil, a BRS Isis alcançou produtividade de 26 toneladas por hectare por safra, em quatro colheitas sucessivas. Isso se traduz em uma produção de 52 toneladas por hectare anuais, diante da possibilidade de se fazer, na região, duas safras da cultivar por ano. “E com um nível de doçura bastante bom — de 16º a 21º brix — e textura crocante”, acrescenta Patricia.

Adaptação ao clima tropical brasileiro A BRS Isis adapta-se bem às condições de clima tropical do Brasil. Áreas de validação da cultivar foram implantadas em Curaçá (BA), em Petrolina (PE), em Jaíba (MG) e em Elias Fausto (SP). Ela também tem altos níveis de compostos fenólicos, presentes naturalmente na uva, e que têm sido destacados na literatura especializada por contribuir

na prevenção de doenças cardiovasculares. Nesse sentido, foi feita análise do índice de polifenóis totais (IPT) e de antocianinas totais na película das variedades BRS Isis e Crimson Seedless, ambas produzidas no Vale do Submédio São Francisco. A nova cultivar apresentou cerca de duas vezes e meia mais antocianinas totais, o que se atribui à sua cor mais escura e uniforme, enquanto o IPT foi cerca de 30% superior em comparação à Crimson Seedless. Material propagativo de BRS Isis poderá ser obtido, sob encomenda, para plantio em 2014, junto aos viveiristas licenciados pela Embrapa (Vitácea, pelo telefone (35) 9903-4726; Beifiur, pelo (54) 3388-9060; Rasip, (54) 32314700; e Clone, (41) 3253-2940). Mais informações junto à Embrapa Produtos e Mercado (pelo e-mail spm.sac@embrapa.br ou pelo telefone (19) 3749-8888). Giovani Antonio Capra

Embrapa Uva e Vinho

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Um dos desafios da OMC é avançar negociações na área agrícola

Fechar este acordo exigiu a introdução de flexibilidades adicionais nas regras existentes para subsídios agrícolas, um dos pontos de maior debate entre os países. A Índia liderou a campanha insistindo que deveria poder continuar a subsidiar grãos sob a égide de sua nova lei de segurança alimentar.

Roberto Carvalho de Azevêdo, Diretor Geral da Organização, discutirá o futuro do comércio internacional agrícola no GLOBAL AGRIBUSINESS FORUM

O Diretor Geral da OMC, Roberto Carvalho de Azevêdo, virá ao Brasil participar do GLOBAL AGRIBUSINESS FORUM 2014 nos dias 24 e 25 de Março, quando deverá fornecer sua avaliação sobre o atual cenário e traçar perspectivas.

N

Negociação As questões pertinentes à Rodada de Doha, que ainda estão em negociação, incluem subsídios agrícolas, tarifas sobre bens industriais e barreiras ao comércio internacional de serviços, dentre outros temas. Todos estes pontos são difíceis de concluir e estão entrelaçados com fatores políticos internos em muitos dos 159 países membros da Organização. Por esse motivo, o acordo de facilitação de comércio negociado em Bali, foi um grande avanço para destravar as negociações. SECOM/Paraná

o início de Dezembro de 2013, em um encontro em Bali, na Indonésia, ministros de 159 países assinaram o primeiro acordo global da Organização Mundial do Comércio (OMC). O acordo inclui uma pequena parte do

programa de negociação da Rodada de Doha, e tem como objetivo simplificar procedimentos administrativos e burocráticos em portos e alfândegas para operações de importação e exportação.

Após o acordo em Bali, Azevêdo indicou que a OMC traçará um mapa que permita prosseguir com a Rodada Doha. A ideia é usar a experiência adquirida em Bali e se debruçar sobre o assunto até o fim de 2014. O núcleo central das discussões de Doha será o tripé – agricultura, bens industriais e serviços. Saiba mais em www.globalagribusinessforum.com Subsídios agrícolas e barreiras ao comércio internacional serão temas discutidos durante o evento

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Embrapa Suínos e Aves

AVICULTURA

Conforto térmico

e água fresca Maria Aparecida Melo Iuspa Gerente Técnica Nacional para Avicultura Phibro Animal Health

Os desafios do verão para a avicultura são significativos e é preciso muito cuidado para evitar perdas na produção de frangos de corte A Lavoura - Nº 700/2014

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AVICULTURA

Produção de Calor p<0,05

Conforto térmico A zona de conforto térmico das aves é a faixa de temperatura ambiente onde a taxa metabólica é mínima e a homeotermia (propriedade do corpo manter a sua temperatura constante) é preservada com menor gasto energético possível. Dessa forma, na zona de conforto térmico (ou termoneutra), a fração de energia metabolizável utilizada para termogênese é reduzida, enquanto a energia líquida destinada à formação do organismo é aumentada. A temperatura ideal do ambiente depende da idade do frango. Por ser

a

SC

Não tratados

7000

6800

6400

6200

6000

5800

5600

b

15 ppm de Virginiamicina

Gráfico 1. Efeito de Stafac —15 ppm de virginiamicina — sobre a produção de calor(Kcal) em aves submetidas a condições termoneutras (TN) e de estresse por calor (SC)

Eficiência Calórica

p<0,05 b

TN

a b

SC

Não tratados

15 ppm de Virginiamicina

Gráfico 2. Efeito do Stafac sobre a eficiência calórica de frangos de corte alojados em ambiente termoneutro (TN) e de estresse por calor (SC).

homeotérmico, a ave exige, à medida em que vai crescendo, cada vez menos calor. Assim, esta faixa de temperatura de conforto baixa de 35ºC para 24ºC até as 4 semanas de idade das aves. Em seguida, diminui para 21-22ºC, até as 6 semanas de vida. Isso acontece por causa da redução da superfície corporal por grama de massa corporal, diminuição da capacidade de dissipação do calor devido ao isolamento térmico proporcionado pelas penas, aumento da reserva energética e expansão da produção de calor corporal devido ao metabolismo por causa do crescimento das aves. Para manter os animais o mais próximo possível de sua zona de conforto térmico, é necessário que sejam adotados uma série de cuidados, incluindo a utilização de tecnologias como ventiladores, aspersores, “coolers”, exaustores, entre outras.

Nutrição É preciso, também, fazer uso de estratégias no âmbito nutricional para reduzir os efeitos negativos do estresse por calor sobre a produção de carne. Sob temperatura superior a 30°C, o consumo de ração decresce rapidamente e as exigências energéticas aumentam, por conta da necessidade das aves em eliminar calor.

Tabela 1. Composição da flora duodenal às 4 semanas de idade de aves submetidas a 25ºC e 35ºC Média log de contagem bacteriana/g conteúdo

25 Cº

35 Cº

Streptococcus Staphylococcus Total aeróbicos Lactobacilos Clostridium Total anaeróbicos

3,30 a 2,73 a 4,01 a 7,25 a 2,82 a 7,21 a

6,09 b 6,21 b 6,72 b 6,96 a 5,10 b 7,02 a

* N.S não significativo Fonte: Suzuki et al, 1983.

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27,5

27

26,5

26

25,5

25

a

24,5

Mesmo com o alto nível tecnológico atualmente adotado pelas empresas produtoras de frangos de corte, alguns antigos desafios continuam a ser obstáculos para a obtenção de bons desempenhos. O período do verão, por exemplo, característico por suas altas temperaturas e umidade elevada, interfere negativamente sobre as aves, colocando-as fora de sua zona de conforto térmico, prejudicando, assim, sua produtividade.

b

6600

D

a

TN

e todos os segmentos da cadeia de produção de proteína animal, a avicultura é o que mais depende da adoção de elevados níveis tecnológicos. Um deles é a seleção de linhagens genéticas com alta eficiência produtiva para ganhar peso rápido e eficientemente, desde que as aves recebam as ferramentas apropriadas para expressar este alto potencial produtivo.

P<0.01 P<0.01 P<0.01 N.S P<0.05 N.S


Divulgação

Logo, a utilização de dietas nutricionalmente ajustadas à redução de consumo, tem objetivo de compensar as perdas de produtividade. Assim, as dietas devem ser ajustadas quanto aos níveis energéticos, de proteínas e de aminoácidos. Até mesmo o ambiente do galpão pode influenciar no consumo de ração.

Sanex

Já a água oferecida às aves nos bebedouros, precisa estar sempre fresca e preservada da radiação solar, o que irá auxiliar na eliminação do calor corporal.

Ajustes na dieta e melhoradores de desempenho diminuem perdas no verão

tra. Esta alteração causada pelo excesso de calor, seguramente, irá refletir sobre a quantidade de nutrientes que estarão disponíveis para o animal submetido ao efeito de estresse térmico. A virginiamicina, por exemplo, é um melhorador de desempenho que tem efeito economizador de nutrientes em animais submetidos a condições estressantes de calor. Estudos demonstraram que a virginiamicina reduziu o consumo calórico e a produção de calor, com simultâneo incremento do ganho e eficiência calóricos, quando os animais foram submetidos tanto ao estresse por calor, como à condição termoneutra. A limpeza e a desinfecção dos criadouros é, também, muito importante, bem como o vazio sanitário do alojamento entre os lotes, durante 15 dias. Animais selecionados geneticamente têm metabolismo intenso, o que gera maior produção de calor. Por isso, os locais de criação devem oferecer ambientes termoneutros, para evitar prejuízos. Ventilação para aliviar o calor das aves

Melhoradores de desempenho

Estratégias

O uso de melhoradores de desempenho que, de forma eficiente e seletiva, possam controlar a flora bacteriana intestinal, que compete pelos nutrientes que deveriam ser destinados apenas às aves, também é uma estratégia muito importante, uma vez que, sob efeito de estresse por calor, os frangos de corte aumentam sua demanda por nutrientes, especialmente energia. Há um aumento significativo na contagem bacteriana, por grama de conteúdo fecal, de bactérias aeróbias e clostridium spp. em aves submetidas à condição de estresse por calor, quando comparadas com aves em condição termoneu-

Existem diversas estratégias a serem adotadas no período do verão e que podem colaborar para que os efeitos negativos trazidos pelo estresse térmico sejam minimizados. Invariavelmente, os cuidados com o manejo ambiental, os ajustes nutricionais e a seleção de programas de melhoradores de desempenho e agentes anticoccidianos apropriados, devem ser priorizados, pois são peças importantes das estratégias que fazem parte das poucas opções disponíveis para diminuir as perdas, normalmente observadas durante os períodos de calor.

A produção de calor foi calculada como: •

Energia consumida (gramas de ração x kcal da ração) – Energia ganha através do ganho proteico – Energia ganha através do ganho de gordura

A eficiência calórica foi calculada como: •

Energia ganha (PB e Gordura) / Energia consumida

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Divulgação TMG

PESQUISA

O dr. Kiihl é um dos responsáveis pelo desenvolvimento da soja em todo o Brasil

Brasil tinha produzido 490 mil e poucas toneladas. Hoje, existe agricultor que produz essa quantidade”, conta o pesquisador.

Soja

para todo o Brasil

Originária do nordeste da China, com latitude ao redor de 45° norte, Dr. Kiihl esclarece que durante muitos anos a oleaginosa foi cultivada no meio oeste norte-americano, que tem latitude semelhante. Mas, em 1949, o Dr. Edgar E. Hartwig, que trabalhava no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na Carolina do Norte, foi transferido para Stoneville (Mississippi), com a missão de coordenar todo o programa de melhoramento de soja no sul dos Estados Unidos. “Acontece que Stoneville fica a 33° latitude, então já houve um distanciamento da latitude de origem da soja. Consideramos Hartwig o gênio dos gênios, o maior melhorista de soja do mundo e, para minha felicidade, foi meu orientador e tinha o interesse em adaptar a soja para as várias regiões do mundo”, conta.

Os estudos de Romeu Kiihl permitiram o cultivo Adaptação às latitudes Em 1966, Kiihl foi para os Estados da oleaginosa em todas as regiões do país

R

omeu Afonso de Souza Kiihl, 71 anos de idade, completa, em 2013, 50 de trabalhos na área de pesquisa em melhoramento da soja. Paulista de Caconde, engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, turma de 1965, M.S. (Agronomia, 1968) e Ph.D. (Agronomia, 1976) pela Mississippi State University, é um dos responsáveis pela adaptação da oleaginosa no Brasil. Uma das suas principais contribuições foi constatar a importância da latitude (23°) para produzi-la em todo o país. Foi agraciado com Prêmio Deusa Ceres, pela Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP), que o elegeu Agrônomo do Ano (2012) e, ao longo da sua carreira, recebeu dezenas de premiações e condecorações por suas pesquisas e trabalhos publicados. Atualmente, exerce o cargo de diretor científico e melhorista de germoplasma na TMG – Tropical Melhoramento e Genética. Kiihl conta que as primeiras observações com a soja no Brasil foram iniciadas no final do século XIX, na Bahia, por Gustavo Dutra e, no início do século XX, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) também realizou algumas pesquisas. Nos anos 30/40, já era cultivada no Rio Grande do Sul, porém, começou a se expandir na década de 60. “Quando fui para o IAC trabalhar com soja, em 1965, o

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Unidos fazer pós-graduação. Uma das recomendações de Hartwig era que o jovem estudante precisava compreender bem a importância do fotoperiodismo, a adaptação da soja às várias latitudes. Ele lembra que “o professor, então, disse que eu teria que desenvolver uma tese com ele, na qual eu estudaria a segregação para florescimento e altura de plantas nas condições de Stoneville, 33° de latitude, e nas condições simuladas de Campinas, 23º de latitude, onde eu iria trabalhar quando retornasse ao Brasil. Hartwig me deu o treinamento inicial, depois, eu fiz o mestrado e o Ph.D., com ele, em genética e melhoramento”. Ao retornar ao Brasil e ao seu trabalho no IAC, Kiihl encontrou dois


pesquisadores brilhantes, em sua opinião: Shiro Myiasaka, então chefe da Seção de Leguminosas, e Geraldo Guimarães, pesquisador em arroz, do Serviço do Vale do Paraíba, que tinha interesse em desenvolver soja para a entressafra de arroz, para cultivo em maio/junho, naquela região. Para lá, eles levaram uma coleção de soja para avaliar e, entre elas, tinha uma chamada Santa Maria, que se adaptava bem às condições de dias curtos. “Fui ver esse experimento e, como todo jovem impetuoso e entusiasmado, disse que, provavelmente, poderia desenvolver tipos melhores. Em 1971, levei minhas populações para Pindamonhagaba, no Vale do Paraíba, onde selecionamos linhagens para o plantio na entressafra de arroz. Eu sabia que conseguiria desenvolver soja adaptada aos dias curtos”, relembra.

Testes no NE No ano seguinte (1972), chegou à seção de Leguminosas do IAC um grupo do Nordeste, ligado à Sanbra, hoje Bunge, onde existia um órgão chamado Infaol (Instituto de Fomento ao Algodão e Oleaginosas). Recorda que tinha um pesquisador chamado Fernando, de quem não lembra o sobrenome, que trabalhava em Sapé, na Paraíba, que fica mais ou menos 8°de latitude, onde existiam boas condições de trabalho com irrigação. O pesquisador nordestino concordou em testar para Kiihl umas 50 linhagens que queria levantar data de floração, altura de planta, na floração e na maturação. Assim, iniciavam-se os estudos que permitiriam o cultivo da soja em todas as regiões brasileiras. “Enviei as linhagens que tinha selecionado em Pindamonhangaba, para dias curtos e baixas latitudes, mas também havia uma complicação: a temperatura muito baixa no inverno. Queria confirmar o comportamento em temperaturas mais altas. Quando o Fernando mandou os resultados, eu disse: opa, está pronto, nós fazemos soja para qualquer lugar do Brasil trabalhando na latitude de 23°. Esta passou a ser a latitude chave para fazer melhoramento no país, inclusive a Embrapa montou o seu Centro de Pesquisa de Soja em Londrina, que está próxima à latitude de 23º. A nossa empresa, a TMG, também está nessa região”, diz o pesquisador. Em 1974, Kiihl deixou o Agronômico de Campinas, transferindo-se para Londrina, para trabalhar no Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e, em 1978, na Embrapa Soja, onde ele e mais uma equipe de pesquisadores passaram a usar uma combinação de época de plantio, para selecionar material para adaptação ao Sul do Brasil, ao Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Período juvenil “Tínhamos o que chamávamos de Região Tradicional, que seria o Paraná e resto do Sul, Região de Expansão, que englobava o oeste de São Paulo, Mato Groso do Sul, Minas, Sul de Goiás e, finalmente, Região Potencial, que incluía o restante do Brasil. A prioridade era trabalhar por região, mas conseguiram desenvolver variedades para o país inteiro. Tinha equipes de pesquisa do Rio Grande do Sul até Maranhão, de Barreiras (BA) até Vilhena (RO). “Essa característica, que trabalhávamos desde os anos 60, nós a chamávamos de florescimento tardio em dias curtos, hoje, conhecida como período juvenil longo. Quase tudo que se planta no Centro-Oeste, Norte e Nordeste tem essa característica, período juvenil longo, que foi a grande chave para adaptação da soja às baixas latitudes”, explica Kiihl. Segundo ele, hoje, mais da metade da soja está no Centro-Oeste e “o pulo do gato” foi o período juvenil longo. E explica: “Começa-se qualquer estudo sobre comportamento de soja com 30 graus de temperatura diurna e 20° C noturna,

mais ou menos as condições encontradas na Chapada, temperatura amena à noite e boa distribuição de chuva no verão. Sempre achei que a Chapada era o ninho da soja, porque possui temperaturas ideais, a distribuição de chuvas é boa, os solos, no geral, são planos e próprios para a mecanização. O que há de ruim: os solos são ácidos e não têm boa fertilidade. Mas na Chapada o que não dá para consertar é bom; o que é ruim, dá para corrigir. Resumindo, o que não dava para arrumar era bom, o que faltava, era possível para fazer. Portanto, o Brasil tem condições ideais para a soja.”

Lavoura-pecuária-floresta Romeu Kiihl confessa que sempre sonhou e que hoje, em sua opinião, está se aproximando da realidade, com a integração lavoura e pecuária e, melhor ainda, lavoura, pecuária e floresta. “O nosso futuro está ligado a esta tecnologia”, diz ele, acrescentando que “se fosse estabelecer uma diretriz para a pesquisa no Brasil, seria a seguinte: trabalhar em sistemas, sempre que possível, combinados — floresta, agricultura e pecuária. O sistema de rotação. E, dentro da agricultura, fazer a rotação de culturas também. “Isso é o futuro, porque agricultura sustentável é assim, agricultura a mais limpa possível.” E o que seria mais limpa possível? Os programas de melhoramento sempre trabalhando com o sistema de manejo integrado de doenças e pragas, colocando o mínimo possível de defensivos. Quando Kiihl começou a trabalhar com soja, no Brasil, ele conta que eram produzidos 60 sacos por alqueire, 1.500 kg/ha. Hoje, a média brasileira é de 3 toneladas por hectare. “Há alguns anos desenvolvemos um trabalho para estimar a produtividade e tínhamos calculado que iríamos alcançar a média de 3 mil quilos por hectare no país em 2014, e atingimos isso em 2010”, diz. Paulo Roque

Sincronismo Comunicação

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Rural elege novo presidente Gustavo Diniz Junqueira assume a entidade para o período 2014 a 2017

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Sociedade Rural Brasileira (SRB) tem novo presidente. O jovem Gustavo Diniz Junqueira, 42 anos, foi eleito nesta segunda-feira (03) pelo Conselho Superior da entidade para comandá-la no período de 2014 a 2017. Ele sucede Cesario Ramalho da Silva, que esteve à frente da Rural, nos últimos sete anos. O pleito também renovou parte do Conselho da entidade. De vínculo familiar histórico com a agricultura, Junqueira, formado em administração de empresas, é mestre em finanças pela Thunderbird School of Management dos Estados Unidos. Trilhou carreira sólida na área financeira. “A construção de um projeto claro de nação para o Brasil passa pelo agro”, diz o novo presidente da Rural. Segundo Junqueira, está mais do que na hora do setor acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda pública nacional, de segurança pública, saúde, passando pela educação e combate à corrupção, por exemplo. No entanto, para ser ouvido, pondera o novo presidente da Rural, o agro precisa desenvolver sua visão do Brasil e seu projeto no contexto da economia como um todo. “Os mesmos problemas — senão piores — que atingem as cidades também atingem o campo”, ressalta, acrescentando: “até a falta de mobilidade — algo antes restrito às grandes cidades — avança pelo interior”. Junqueira assinala que o agro brasileiro é um grande produto de inovação, e que temos o que o mundo mais quer e precisa: alimento, fibras e energia renovável.

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“O Brasil tem a vantagem de poder contar com diversos “agronegócios” bem sucedidos. Nós temos o estilo norte-americano — da produção em larga escala tecnificada de commodities —, bem como o formato europeu — pautado por fazendas menores, especializadas em nichos de mercado e produtos de maior valor agregado”, mas lembra: “nós temos, também, que nos preocupar com o desenvolvimento dos produtores rurais que operam na margem da subsistência”. O novo presidente da Rural alerta que o estrangulamento da renda do produtor rural não é só um problema da classe, e sim um desafio para toda a sociedade que precisa comer, se vestir, e necessitará cada vez mais de novas fontes de energia limpa. De acordo com Junqueira, o agro brasileiro organizado, profissional e sério é comprometido com o tecido social e com o meio ambiente. Para o novo presidente da Rural, o Brasil tem que fazer escolhas e reformas. “O setor produtivo não pede ajuda, pede mudanças, que serão fundamentais para todos, e imprescindíveis para o nosso futuro.” Contudo, na avaliação de Junqueira, antes de pedir ou exigir mudanças, o próprio setor precisa fornecer projetos concretos já com avaliação dos seus impactos nos outros segmentos da economia e sociedade. “Ninguém melhor posicionado que a inteligência do agro (entidades, institutos, líderes) para formular o que se precisa a curto,

Gustavo Diniz Junqueira

médio e longo prazo dentro do setor (financiamento, seguro, legislação) e fora dele (infraestrutura, educação, formação profissional etc). Articular e integrar estes pensamentos e ações é o papel da Rural.” Segundo o novo presidente da Rural, para ser realmente um país desenvolvido, o Brasil vai precisar produzir tanto produtos agrícolas (commodities e de valor agregado), bem como ter uma indústria forte nos nichos onde isso for possível e um setor de serviços focado em inovação. “A correção de rota não passa pela negação, e sim pela afirmação de nossas instituições”, enfatiza. Acesse o site da Rural e conheça o perfil e as ideias de Gustavo Diniz Junqueira: www.srb.org.br

Sociedade Rural Brasileira Rua Formosa, 367 - 19º andar - Anhangabaú - Centro CEP: 01409-000 - São Paulo - SP Tel: (11) 3123-0666 . Fax: (11) 3223-1780 . www.srb.org.br Jornalista responsável: Renato Ponzio Scardoelli


Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional

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INPI

Certificada, sustentável e mais valorizada

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Embrapa Pecuária Sul

Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional

Produção bovina dos pampas tem reconhecimento internacional

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roduzida exclusivamente a partir das raças Angus e Hereford, ou do cruzamento entre elas, sob regime de criação extensivo de pastejo em áreas naturais, a carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional é a única produzida no Brasil com Indicação de Procedência-IP. Considerado um dos ecossistemas mais importantes do mundo, com temperatura média de 18°C, o Pampa oferece alimentação natural de qualidade aos animais dos rebanhos, que são rastreados e certificados. Os campos de relevo plano e levemente ondulado, conhecidos como coxilhas, e as várzeas baixas e úmidas pontuadas por matas ciliares, oferecem mais de 400 espécies de gramíneas e acima de duas centenas de leguminosas para a alimentação do gado.

Procedência Registro IG 200501 INPI Indicação de Procedência/2006 Área Geográfica Delimitada: 30.000 km2 (11 municípios do Sudoeste do Rio Grande do Sul) Altitude: inferior a 500m

Missões jesuíticas Tradição iniciada nos tempos da colonização, a pecuária extensiva do Pampa foi introduzida pelos Jesuítas, em 1634, e é considerada uma das atividades agropastoris mais antigas do continente. De clima temperado, sua latitude, altitude e fertilidade natural dos solos são únicas no mundo, favorecendo o crescimento de espécies naturais de crescimento estival e hibernal. Ao longo do tempo, passados os ciclos do couro e do charque, os últimos 50 anos foram marcados pelo desenvolvimento da indústria frigorífica. Com suas roupas típicas e tendo o cavalo como seu principal aliado, o gaúcho tornou-se praticamente sinônimo de excelência na lida no campo e na pecuária de corte. Fundada em 2006, a Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (Apropampa), reúne 109 associados, que juntos somam um rebanho de aproximadamente de 150 mil animais. Para o presidente da associação, José Carlos Paiva Severo, produzir sem agredir

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o meio ambiente, de maneira sustentável e utilizando os recursos naturais de forma eficiente, garante ao produto características ímpares. O estudo que atesta a qualidade da carne do pampa gaúcho da campanha meridional levou em conta vários aspectos como tipo de vegetação natural, solo e raças bovinas. Por isso, apenas o gado produzido em uma determinada área, pode ter sua carne certificada. Os municípios que a indicação


“Oferecemos um produto com garantia de origem, agregamos valor aos associados, incentivamos a pesquisa em pecuária de corte, desenvolvemos ações que promovem a preservação do pampa gaúcho da campanha meridional, e ainda é possível estimular o turismo na região”, destaca Severo, ao definir que esses são os principais objetivos da Apropampa.

Bônus aos produtores Desde janeiro de 2010, a Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional mantêm um convênio com o Frigorífico Marfrig, que paga de 1 a 2% de bônus aos produtores que fazem parte ou aderirem ao Marfrig Club. O Regulamento de Produção obedece a um rígido controle de qualidade, que impede diversos produtores de participar do projeto. Para atenuar este problema, a associação está propondo ao INPI mais liberdade, para que o Conselho Regulador possa decidir sobre as alternativas tecnológicas a serem adotadas pelos produtores. O objetivo é possibilitar o aumento do volume de animais a serem negociados com a indústria e, consequentemente, ampliar a oferta dessa carne diferenciada para o consumidor.

rem aos pré-requisitos estabelecidos pelas associações de Angus e Hereford&Braford em seus programas de carne certificada.

Reconhecimento internacional Um grande reconhecimento da Indicação de Procedência Pampa Gaúcho da Campanha Meridional foi dado pela BirdLife International, por meio da SAVE Brasil, dentro do projeto da Alianza del Pastizal. A Alianza del Pastizal é uma iniciativa da BirdLife atraApropampa

abrange são Aceguá, Bagé, Caçapava, Candiota, Dom Pedrito, Herval, Hulha Negra, Lavras do Sul, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul e Santana do Livramento. Segundo Severo, o rígido controle da produção é o que garante que a associação possa oferecer carne de qualidade reconhecida internacionalmente. “O manejo bem ajustado, que segue as diretrizes apontadas pela associação, nos dá a certeza de que o produto final vai ser realmente superior”, aponta.

Apropampa reúne 109 associados, que juntos somam um rebanho de aproximadamente 150 mil animais Os animais devem seguir uma série de especificações

Rastreabilidade Inserida inicialmente no regulamento de produção, a necessidade de utilização do sistema oficial de rastreabilidade (SISBOV) dificultou a identificação dos animais, desde o produtor até o consumidor. Diversas mudanças e ajustes no SISBOV dificultaram a venda de animais rastreados pelos produtores. Atualmente, o sistema já está mais consolidado e sendo utilizado apenas para os animais de exportação. Outra estratégia comercial deverá ser definida para o Brasil, disponibilizando novo sistema de rastreabilidade, a ser utilizado para garantir a origem do produto para o consumidor. Segundo dados da Marfrig Club, dos mais de 373 mil animais recebidos em 2013, das 1775 empresas associadas, 90,8% receberam bônus por atende-

vés da SAVE Brasil, Aves Argentinas, Aves Uruguai e Guyra Paraguai para a conservação dos campos nativos do Cone Sul da América do Sul. Como o objetivo da APROPAMPA é a produção de carne de forma sustentável, utilizando os campos nativos da região, a SAVE Brasil e a Alianza del Pastizal iniciaram um trabalho em conjunto para a identificação das práticas produtivas e seu impacto na avifauna local. Foram identificadas, nas A Lavoura - Nº 700/2014

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INPI

Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional Especificações Segundo o Regulamento Técnico de Qualidade da Indicação de Procedência da Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, em seu artigo 10º, os animais (machos castrados e fêmeas) devem ser abatidos com até 42 meses de idade, comprovados por rastreabilidade, correspondente à arcada dentária com seis dentes, sem queda nos cantos. O acabamento de gordura deve ser de, no mínimo, 3mm para machos e fêmeas; a conformação da carcaça — parâmetro obtido através da verificação dos perfis musculares, que definem a região da carcaça — pode ser convexa, subconvexa, retilínea e subretilínea. Não são aceitas carcaças côncavas. 

Tradição gaúcha aliada à produção sustentável

áreas utilizadas por associados da APROPAMPA para produção de gado, mais de duzentas espécies de aves, entre elas cinco ameaçadas de extinção. Isto comprova que a pecuária de corte é uma aliada da conservação do meio ambiente.

Capacitação O Sebrae é um importante parceiro da Apropampa na capacitação dos produtores por meio de viagens nacionais e internacionais para conhecer as iniciativas, cursos, palestras, seminários, visitas a produtores e contato com diversos órgãos governamentais e instituições. A Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, posteriormente, também apoiou na realização de visitas a campo, na promoção de dias de campo e seminários com o objetivo de captar novos produtores à associação. A SAVE Brasil, dentro do projeto Alianza del Pastizal, igualmente apoia a Apropampa, disponibilizando um técnico e um automóvel para o desenvolvimento das atividades da associação. A Embrapa Pecuária Sul fornece suporte técnico de pesquisadores e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desenvolveu as pesquisas e delimitou as áreas de produção, que consideraram a história, tradição e cultura, ambiente, produto e sustentabilidade.

Mais informações Apropampa (Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional). Tel. (53) 3242-8888. • www.carnedopampagaucho.com.br

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Peso mínimo das carcaças • Macho 2 dentes: 210 kg • Macho 4 dentes: 220 kg • Macho 6 dentes: 230 kg • Fêmeas 2,4 e 6 dentes: 180 kg

Características do Produto • Animais até 24 meses: cor vermelha rosada com gordura branca, textura fina • Animais de 24 a 42 meses: cor vermelha rosada com gordura de coloração cremosa, textura fina • A carne com acabamento recomendado possui moderado mamoreio intramuscular


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โ ข

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Assessoria de Imprensa APTA

Truta recheada com cogumelo

Cogumelo

Mais proteína do que a carne bovina 38

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A

s propriedades terapêuticas dos cogumelos eram conhecidas desde a antiguidade pelos egípcios e chineses, que acreditavam que a planta — sem raiz, nem clorofila —, “afinava o sangue”, reduzia infecções e era afrodisíaco. Pesquisas realizadas nas últimas décadas, dão conta que pelo menos 30 variedades de cogumelos possuem propriedades medicinais.


Assessoria de Imprensa APTA

Há séculos usados na alimentação, por diferentes culturas, os cogumelos apresentam elevado teor protéico e baixo teor de gordura; além de grande quantidade de arboidrato, fibras e vitaminas, como tiamina, riboflavina, ácido ascórbico, além de vitamina D2 (calciferol) e minerais.

Contra o envelhecimento Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estudaram o valor nutricional de dezessete espécies de cogumelos ao longo de dois anos. O fungo (desprovido de raiz e de clorofila), tem importante ação antioxidante, que previne o envelhecimento das células. Cada tipo de cogumelo apresenta determinada composição nutricional, que também varia conforme o método de cultivo. No geral, têm a vantagem de serem pouco calóricos: em 100 gramas de shitaki ou shimeji, por exemplo, há apenas 35 calorias. Riquíssimos em nutrientes, fortalecem o sistema imunológico, estimulando as células conhecidas como “natural killers”, que combatem infecções por vírus e células tumorais. Suas fibras solúveis ajudam na digestão e atuam na remoção de resíduos e toxinas intestinais.

Alimento funcional Considerado alimento funcional, o cogumelo ajuda a prevenir e reduzir o risco de doenças como câncer, cardiovasculares, infecções e doenças autoimunes como a artrite reumatóide e o lúpus, pois atua no sistema imunológico. São também usados para o desenvolvimento de medicamentos para a prevenção de câncer, diabetes, hiperlipidemias, arteriosclerose e hepatite crônica.

Espetos de champignons e legumes para churrasqueira

Benefícios do cogumelo: •

Fortalece o sistema imunológico;

Previne doenças infecciosas;

Previne resfriados e gripes;

Cem gramas de cogumelo têm mais folato (ácido fólico) do que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS) para um dia. O ácido fólico atua na formação de produtos intermediários do metabolismo, que, por sua vez, estão envolvidos na formação celular e atuam na formação e maturação das hemácias e leucócitos. Para melhor aproveitamento das suas propriedades, recomenda-se o consumo do cogumelo cru ou minimamente processado.

Combate alergias e inflamações;

Auxilia pessoas em processo quimioterápico;

Beneficia pessoas com doenças crônicas e diabetes;

Fornece energia para os atletas e praticantes de esporte;

Previne aterosclerose;

Proteína

Auxilia no processo de desintoxicação de álcool e cigarro;

Auxilia no funcionamento do intestino;

Fortalece a musculatura;

É antioxidante;

Estimula a memória;

Melhora a absorção de ferro e fósforo.

Além de rico em sais minerais, vitaminas, carboidrato e gordura insaturada, o cogumelo contém 21 aminoácidos essenciais para o corpo, e apresenta um número de proteínas duas vezes maior do que o encontrado na carne bovina. Os tipos de cogumelos comestíveis mais disponíveis no mercado são o shiitake e o shimeji, popularizados pela culinária japonesa, principalmente; o agaricus blazei, o funghi secchi e o champignon.

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ORGÂNICOS Luiz Henrique

Produzindo para um mundo mais saudável Produtores rurais de Mato Grosso do Sul conseguem competitividade no mercado, lucratividade e a família unida com desenvolvimento da tecnologia social “PAIS”.

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As hortaliças orgânicas são cultivadas em canteiros circulares


Em Mato Grosso do Sul (MS) as primeiras unidades foram implantadas em 2006 pela parceria entre Sebrae/MS, Fundação Banco do Brasil (FBB), DRS Banco do Brasil, e Prefeituras Municipais. Na época, o foco era fortalecer a subsistência das famílias rurais, que poderiam se alimentar das hortaliças cultivadas nos canteiros circulares, dos ovos e da carne das aves criadas no centro da unidade e, para diversificar a alimentação, havia um quintal agroecológico onde se produzia frutas, tubérculos e cereais.

Avanço Em 2010, um avanço significativo na produção agroecológica do PAIS foi alavancado pelas políticas públicas voltadas à pequena produção rural, como o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar. Foi visualizada na técnica de produção agroecológica a oportunidade de transformar a atividade rural de subsistência em um negócio rentável. O foco para as famílias beneficiárias do projeto PAIS passou então a ser a geração de renda. Com esta nova perspectiva, houve grande procura por parte dos agricultores familiares pela produção agroecológica. Pelo PAIS, tanto produtores rurais quanto seus familiares recebem orientação técnica para a produção agroecológica e preparação para ingressar no mundo dos negócios, com informações sobre associativismo, recomendações legais, gestão rural. Também participam de cursos sobre relação interpessoal, formação de preço de venda, atendimento ao cliente, higiene e manipulação de alimentos, NCR – Negócio Certo Rural, e outros.

tiva é em torno de R$ 5 mil, subsidiado pela FBB. Com este incentivo, hoje, o projeto PAIS no MS já conta com 353 unidades distribuídas, em grande parte, nas cidades de Campo Grande (122) e Sidrolândia (156), e nos municípios de Bandeirantes (20), Jaraguari (20), Terenos (25) e Três Lagoas (10). Outro passo na expansão do projeto foi a agregação de valor ao produto com a obtenção do selo de orgânico. O Sebrae auxiliou nesta conquista subsidiando em 80% o custo da certificação através do Sebraetec. A inauguração da Feira de Orgânicos de Campo Grande há três anos apresentou este selo à população, conferindo credibilidade ao discurso dos produtores por uma alimentação, livre de agrotóxicos; melhorando acesso da pequena produção ao mercado.

Uma história se destaca Em meio ao cenário de fortalecimento da produção agroecológica e orgânica no Mato Grosso do Sul, encontramos a produtora rural Zenir de Souza, de 71 anos, do Distrito de Rochedinho, a 50 km da Luiz Henrique

m todo o País, o cultivo de hortaliças sem agrotóxicos se expandiu com o projeto PAIS — Produção Agroecológica Integrada e Sustentável — uma tecnologia social, que reúne instrumentos, técnicas e processos de baixo custo de produção, com a participação de comunidades rurais. O modelo apresenta fácil reaplicação e impacto comprovado na transformação social no campo.

Dona Zenir comemora aumento no faturamento

Luiz Henrique

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Subsídios estimulam cultivo e venda Os agricultores beneficiados pelo projeto recebem o kit para implantação/produção, orientação técnica das prefeituras e apoio do Sebrae no processo de implantação e funcionamento da unidade PAIS. O investimento inicial por unidade produ-

Feiras e compras públicas alavancam produção

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Luiz Henrique

orgânicos

Produção agroecológica garante geração de renda para famílias rurais

capital. Ela, que começou sua trajetória no campo ainda menina, desenvolvia a atividade de bovinocultura de leite e cultivava alimentos apenas para consumo próprio. Em 2008, foi contemplada com o Projeto PAIS e começou a cultivar hortaliças a partir da metodologia de produção agroecológica. Quando surgiu a Feira de Orgânicos de Campo Grande, Dona Zenir saía cedo de casa, pegava carona com os produtores de sua comunidade. A notícia de novas oportunidades nos negócios chegou aos ouvidos de seu filho, Jeremias de Souza Curado, que havia saído do campo para fazer faculdade. Em 2010, ele voltou a morar na propriedade rural da família, juntamente de sua esposa, Heloisa de Oliveira Curado. Bacharéis em Turismo e desempregados, ambos encontraram trabalho no cultivo e venda de hortaliças e frutas na Feira. A renda média por feira era de R$ 150 a R$200. Como ela não tinha carro, ainda pagava o frete para levar a produção até o local. Com o passar do tempo, a família ampliou as atividades da propriedade na bovinocultura de leite, na criação de galinhas caipiras, no cultivo da banana, abacaxi, e o cultivo de hortaliças em quatro canteiros da unidade PAIS. Com a ampliação e melhoria das técnicas de cultivo, a produção de Dona Zenir aumentou. Atualmente a comercialização no PAA, PNAE e a participação na Feira de Orgânicos permitem o faturamento médio semanal em torno de R$ 600. Em maio deste ano, ela faturou R$ 4.250 com a atividade, sendo 80% proveniente da venda de hortaliças e frutas e 20% da venda de produtos de origem animal. A família está contente com o projeto PAIS e as atividades, em especial com os resultados da produção e o retorno econômico do cultivo de hortaliças e frutas orgânicas. A renda obtida pelas compras públicas e feira permitiu comprar um trator e implemento para preparo de solo; reformar os pastos da propriedade; perfurar um poço artesiano; ampliar o sistema de irrigação; aumentar o plantio de frutíferas como a banana e citros (laranja, ponkan e limão). 42

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Para continuar na propriedade, a família investiu na melhoria da casa. Um veículo com carreta foi comprado para levar a produção de hortaliças e frutas para a feira de orgânicos e fornecer ao PAA e PNAE. Jeremias pretende ampliar o plantio de frutíferas, como a banana, em uma área de dois hectares e o maracujá em uma área de um hectare em função da procura destas frutas pelo programa de alimentação escolar. Um sonho pessoal é investir na construção de uma nova casa para ele morar com a esposa e a filha e deixar a casa atual para a mãe, Dona Zenir, ter o seu espaço e descansar melhor.

Planos Futuros O projeto ainda conta com a instalação de mais 115 unidades PAIS, que encontram-se em processo de conclusão, sendo 105 com recursos da Fundação Banco do Brasil e 10 com investimentos da Eldorado Celulose, apoiados pelo Sebrae/MS. Élio Sussumu Kokehara Consultor do Sebrae/MS


Unidades de conservação, por que criá-las? O homem é um ser biológico e como tal depende da natureza, como qualquer outro, a começar pelo oxigênio que respiramos, gerado exclusivamente pela produção e acúmulo contínuos de biomassa vegetal, para os quais as florestas são essenciais. Obcecado e embevecido por suas invenções tecnológicas — algumas das quais deletérias para o próprio ser humano — ele correntemente se esquece dessa inevitável dependência e, em particular, da diversidade da vida que a permite. Por óbvio, o crescimento da produção agrícola é essencial para a humanidade, mas ela também é, em grande medida, dependente dos insetos e outros organismos polinizadores. Igualmente, outras dependências são indispensáveis: a regulação do fluxo dos rios pelas florestas; a geração das chuvas, em grande parte devida à evapotranspiração das matas; a retirada do gás carbônico (CO2) da atmosfera e o armazenamento do carbono na biomassa e no terreno; o pescado nativo, base alimentar de parte expressiva da população humana; ou ainda inúmeros produtos florestais, como madeira, insumos farmacológicos, fibras e resinas. Os exemplos são inúmeros. No limiar da engenharia genética, um aspecto a destacar é o potencial ainda mal conhecido existente nos animais, especialmente os marinhos, e em plantas nativas, recursos estes em grande maioria ainda pouco pesquisados para tal fim. Mas não apenas a visão utilitária da natureza deve ser considerada. As espécies existentes já conhecidas, que segundo a Ciência nos ensina somam perto de dois milhões, são decorrentes de cerca de 3,5 bilhões de anos do processo evolutivo, do qual nós humanos somos um produto recente dos últimos 200.000 anos. Não obstante, por suas ações inconsequentes, a diversidade da natureza enfrenta hoje uma de suas crises mais contundentes da sua longa história, com dezenas de espécies desaparecendo a cada dia; e cada um desses desaparecimentos significa a eliminação perene da espécie e também de todos os seus possíveis descendentes no porvir. Claro está que não poderíamos alimentar o sempre crescente número de seres humanos sem a ocupação ininterrupta dos espaços disponíveis na Terra, mas deveríamos também melhor pensar como preservar grandes amostras da diversidade de outras espécies, inclusive para atender às nossas próprias necessidades futuras. No texto da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade, é formalmente reconhecido o “valor intrínseco da diversidade biológica e dos valores ecológico, científico, educacional, cultural e recreativo da diversidade biológica e de seus componentes”, bem como sua importância para a “evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida da biosfera”. Em seu Artigo 8º, estabelece que os países deverão criar “um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisam ser tomadas para conservar a diversidade biológica.” Na Conferencia de Nairobi, em 2010, nosso País aceitou a meta de, até 2020, pre-

servar 17% de seu território e 10% das suas áreas jurisdicionais marinhas. À vista desses compromissos consensuais dos países que aderiram à Convenção, não se pode afirmar, sob pena de assumir desconhecimento profundo de que são e para que servem as unidades de conservação da natureza, que sejam aspirações ingênuas de ambientalista exagerados, mas, sim, um dos mais importantes meios para preservar amostras preciosas do patrimônio genético do planeta. A Ciência já constatou sobejamente que as reservas naturais de pequenas dimensões entram cedo em um processo de extinção gradativa das espécies nelas contidas, consequente da vulnerabilidade genética das populações contendo números reduzidos de indivíduos e do desbaratamento de suas redes de interdependências. Para serem duradouras, ou pelo menos para reduzir o número de extinções, as reservas precisam ser grandes. O Brasil, ainda possuidor de vastas áreas passíveis de preservação em seus diferentes biomas, é um dos poucos países em condições de fazê-lo. Portanto, criar unidades de conservação no País não é ocupar seu território com áreas improdutivas, mas cumprir seus compromissos internacionais e apresentar uma valiosíssima contribuição para toda humanidade. As gerações futuras, vivendo em um mundo empobrecido, saberão reconhecê-lo. Ibsen de Gusmão Câmara

Presidente

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Citações “É triste pensar que a natureza fala e o ser humano não escuta”. Victor Hugo (1802-1885), o grande escritor francês, estava certo quando há quase dois séculos apresentou este pensamento. Os indícios de que a humanidade abusa da natureza e que assim cria problemas cada vez mais graves para o futuro estão em toda parte, porém os homens, sempre preocupados somente com seus problemas imediatos, esquecem-se de que esse descaso irá tornar-los cada vez mais sérios no futuro. Mas, egoisticamente pensamos: que importa? Nossos descendentes que os resolvam.

Natureza em perigo O Brasil possui reconhecidas 43.448 espécies de plantas vasculares e estima-se que o total possa atingir cerca de 56.000. Em todo o planeta, conhecem-se 379.881 espécies, fazendo com que nosso País contenha entre 11% a 14% da flora mundial. De nossas plantas, 17.984, ou 41%, são endêmicas, ou seja, só existem dentro de nossos limites. E além desses números, descobre-se em média uma planta brasileira a cada dois dias. Essa impressionante riqueza de flora e as urgentes necessidades de sua preservação levaram a criar-se, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Centro Nacional de Conservação da Flora – CNPFlora com a missão de: coordenar os esforços nacionais de conservação das plantas, produzindo e revendo a lista oficial de espécies em risco de extinção, desenvolvendo ações para proteção e recuperação da flora, coordenando a implementação de ações direcionadas à conservação ex situ (isto é, nos jardins botânicos e instituições afins), e estimulando a produção de inventários de plantas em áreas prioritárias. No desempenho de suas atribuições, o CNPFlora realizou uma monumental avaliação da situação de parte de nossa flora conhecida, publicando em 2013 um livro com 1.100 páginas, denominado Livro Vermelho da Flora do Brasil, editado sob a direção de Gustavo Martinelli e Miguel Ávila Moraes, com a colaboração de um enorme número de especialistas. Alguns dados desse notável trabalho merecem destaque neste informativo. Foram avaliados 4.617 táxons, segundo critérios internacionais, resultando na indicação de que 10% dessas espécies estão “Criticamente Ameaçadas”, 25% encontram-se na categoria de “Em Perigo”e 11%, “Vulneráveis”. Em núme-

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ros absolutos, a maior quantidade das espécies consideradas ameaçadas classifica-se nas Famílias Bromeliacea (bromélias) e Orchidacea (orquídeas), mas enormes áreas do País permanecem ainda muito pouco pesquisadas. A principal causa das ameaças verificadas, dentre outras, é a perda de hábitats e, em percentual, as principais razões para isto são a Agricultura (36,1%), infraestrutura e desenvolvimento (23,5%) e extração de recursos (22,3%). Em diferentes biomas — Pantanal, Pampa, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga — a Agricultura mantém-se como a maior causa de perda de hábitat. Quanto à situação das medidas de conservação, em 69% das áreas pesquisadas elas foram consideradas “ausentes” ou “insatisfatórias”. Deve ser ressaltado que, no que pese a enorme abrangência do estudo, ele abarcou apenas 10,7% da nossa flora conhecida, evidenciando o muito que ainda está por se conhecer e fazer, enquanto a devastação continua avançando sem tréguas.

Regulando a aquicultura A aquicultura provê cerca de 50% do consumo mundial de pescado, no valor de US$ 125 bilhões, gera emprego para 24 milhões de pessoas e já alcança algo como 13% da proteína animal consumida, excetuando-se os laticínios e ovos. Com a produção mundial de pescado nativo praticamente estagnada e grande número de estoques sobrepescados, a aquicultura poderá ajudar a cobrir o déficit de proteínas previsto para 2020. Não obstante esse futuro promissor, ela tem deixado um rastro de agressões ambientais, como poluição aquática, problemas sociais, introdução de espécies exóticas, degradação de ecossistemas e, pelo menos no Brasil, destruição de manguezais, um importante berçário de pescado natural. Uma das maneiras de enfrentar tais problemas é o uso da certificação da produção, tendo sido lançado para isto o Conselho de Padronização da Aquicultura (ASC na sigla em inglês) destinada a supervisionar os padrões a serem usados na certificação. A certificação da sustentabilidade da produção de pescado cultivado envolve o estabelecimento desses padrões para interação ecológica e social, a auditagem do cumprimento desses padrões, e a emissão de certificados para as instituições destinadas a dar cumprimento a essas ações , tudo isso feito em geral por organizações privadas. As maiores demandas para a certificação de aquicultura provêm dos EUA e Europa, onde grandes supermercados e cadeias de restaurantes comprometeram-se a utilizar somente pescado certificado, até 2015. Contudo, na atualidade, somente 4,6% da produção pesqueira atende a essa


exigência, sendo que a maior parte se refere às 13 espécies da maior demanda no mercado global de exportação. Em alguns casos, porém, o procedimento se aplica também a um conjunto maior de espécies. A certificação, apesar de muito desejável, é um procedimento complexo e dispendioso, e exige um nível de capacidade administrativa geralmente acima da capacidade de muitos criadores dos países em desenvolvimento, mas é uma necessidade para controlar os graves impactos ambientais de uma indústria em franco desenvovimento. Fonte: Science, 06-09-2013

As origens da biodiversidade amazônica Durante longo tempo, mesmo para os cientistas, a diversidade de vida na Amazônia parecia indicar que a vasta e contínua floresta era um bioma extremamente antigo e estável, que com o passar do tempo teria acumulado gradativamente a sua biodiversidade. Não obstante, evidências geológicas apontaram para um quadro muito diferente. Entre 11 e 17 milhões de anos — esta data ainda é incerta — grande parte da atual bacia amazônica era uma imensa área alagada à qual os cientistas se referem como lago Pebas, e sua drenagem era feita para o Caribe. O rio Amazonas como o conhecemos não existia. Num certo tempo, cuja data ainda é discutida, as águas dessa área alagada começaram a correr para leste, vindo a formar o grande rio e sua rede de afluentes. Somente com a nova drenagem dessa área enorme, a floresta começou a se estruturar, propiciando o aparecimento da imensa variedade de espécies que hoje nela existe. Essa história indica que biodiversidade e complexidade biológica atuais são relativamente recentes — na perspectiva temporal geológica, é claro — o que exige uma nova imagem para que se compreenda como ela se formou. Com este objetivo, um programa de pesquisas multidisciplinar integrado foi imaginado, para o qual foi prevista a destinação, em cinco anos, de US$ 2 milhões por parte do governo dos EUA, com contrapartida igual do Estado de São Paulo. Prevê-se a necessidade de realizar-se um mapeamento detalhado da ocorrência dos primatas, aves e borboletas existentes, bem como de duas famílias de plantas, visando à interpretação de como e quando as divergências surgiram. Embora o programa destine-se basicamente a revelar a história da Amazônia, ele será extremamente útil para que os cientistas e tomadores de decisão estabeleçam como melhor defender o bioma, cada vez mais sob risco, focalizando os locais mais promissores para manter-se a con-

tinuidade da evolução, inclusive em face das mudanças climáticas previstas e seus impactos no meio ambiente. Fonte: Science, 19-07-2013

O drama dos tubarões Os tubarões são seres de extrema antiguidade. Suas formas mais primitivas datam de mais de 420 milhões de anos, e sempre ocuparam nos mares uma posição no topo das cadeias alimentares e, como tal, constituem elementos importantíssimos para o equilíbrio ecológico dos oceanos do mundo e o bom funcionamento de suas complexas redes alimentares. Sua fama de animais perigosos e, como tal, odiados é injusta porque apenas umas poucas espécies, dentre centenas de outras, são realmente agressivas para os seres humanos, quando estes invadem os seus domínios. No que pese sua função ecológica essencial, muitos deles estão sob ameaça de extinção devida à pesca descontrolada. Animais de maturação lenta e baixas taxas de reprodução, os tubarões e seus parentes próximos, as arraias, estão sendo dizimados por uma exploração insustentável. Estima-se que entre 70 a 100 milhões de tubarões e um número não quantificado de arraias, muitos ameaçados de extinção, estão sendo sacrificados a cada ano, basicamente só para a comercialização de suas nadadeiras, consideradas iguaria avidamente utilizada no Extremo Oriente, especialmente na China, sendo que por tal razão algumas espécies estão desaparecendo em ritmo preocupante. Essa utilização predatória contrasta-se com seu uso sustentável pela crescente atividade de “turismo” submarino para a observação dessas criaturas fascinantes em seus ambientes naturais, o que hoje rende aproximadamente um total de 230 milhões de dólares em diferentes regiões do globo, particularmente no Caribe, ilhas do Pacífico, África do Sul e Austrália. Nadar com os gigantescos e inofensivos tubarões-baleias e arraias-jamanta constitui, por exemplo, uma experiência única e memorável. No Brasil, a utilização dos tubarões e arraias serve quase exclusivamente para alimentação, sendo comercializados sob a denominação genérica de “cação”, sob a qual são englobadas distintas espécies em diferentes graus de ameaça, algumas delas nas listas de extinção. A prática da captura de tubarões somente para o aproveitamento das suas nadadeiras, conhecida com o nome de finning, envolve um procedimento cruel, pois eles são mutilados e lançados de volta ao mar para uma inevitável morte lenta e dolorosa. Não faz muito tempo, noticiou-se que foram confiscadas mais de sete toneladas de nadadeiA Lavoura - Nº 700/2014

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ras de tubarão no norte de nosso País, significando muitas centenas de indivíduos, capturas efetuadas em áreas supostamente protegidas de nosso litoral.

Introdução proposital de espécie causa desastre ecológico Agricultores introduziram na América do Norte e Europa o besouro “joaninha arlequim” (Harmonia axyridis), natural da Ásia e aparentemente inofensiva ao ambiente, para controlar afídios nocivos às plantações. Acontece que, o inseto rápida e misteriosamente começou a dizimar as joaninhas nativas. Estudando a causa dessa estranha e inesperada ocorrência, já que a espécie introduzida deveria apenas ajudar as espécies nativas na tarefa ecológica citada, pesquisadores na Alemanha descobriram que um parasita escondia-se no aparelho circulatório da joaninha exótica e em seus ovos, sem que lhe causasse danos, mas que vieram a ser fatais para as formas nativas. Quando a joaninha arlequim foi introduzida nos novos hábitats, esses parasitas ocultos se tornaram uma arma biológica que lhe permitiu eliminar seus competidores nos territórios ocupados. O fato demonstra os perigos ocultos da introdução de espécies exóticas para produzir controle biológico, pois sempre existe o risco de consequências desastrosas como essa, que pode passar de início totalmente ignorado.

tais e a doenças (BioScience 47, 747757(1997). Uma espécie nativa de tomate, Solanum pennellii, foi usada para dobrar a produção de tomates comercializados, e um arroz selvagem, Oryza rufipogon, permitiu aumentar em 25% a produção de distintas variedades de arroz cultivado. Uma colossal riqueza em informações genéticas foi esquecida ao serem as plantas domesticadas. As linhagens selvagens dessas plantas domesticadas representam fonte de novas variações para uso na agricultura; tais plantas, através dos tempos, sobreviveram repetidamente a extremas vicissitudes ambientais e sua capacidade de resistência e de adaptação em grande parte ainda existe e é pouco conhecida. Ela agora, face às necessidades de aumentar a produção de alimentos, deveria ser melhor explorada. Fonte: Nature, 04-08-20130

Fonte: Nature, 23-05-2013

Alimentos para o futuro A humanidade hoje depende de menos de uma dúzia de plantas, dentre as cerca de 380.000 espécies existentes, para atender a 80% de suas necessidades calóricas. E, além disto, usa apenas uma pequena parte da diversidade genética disponível em cada uma dessas espécies. Tais limitações se devem ao processo de seleção visando a um maior rendimento, mas, com isto, simultaneamente eliminou-se grande parte da diversidade genética existente e ficaram os cultivos mais vulneráveis a novas pragas e doenças, e, ainda, a eventuais mudanças nas condições ambientais. A esse fato, deve ser acrescida a necessidade de dobrar a produção de alimentos em 25 anos, não apenas para atender ao crescimento da população humana, mas também à melhoria das condições de vida ao redor do planeta. Torna-se, portanto, indispensável preservar a diversidade existente nas variedades “primitivas” das formas cultivadas, a fim de possibilitar futuros melhoramentos genéticos. Para este fim, bem como o de preservar a diversidade de outras espécies em risco de extinção, são mantidos em todo o mundo por diferentes países cerca de 1.700 bancos genéticos, contendo suas sementes. Destinam-se ainda, para este fim, 11 bancos internacionais, cada um deles custando anualmente 18 milhões de dólares para manutenção A biodiversidade mantida em tais bancos tem sido usada para melhoramentos genéticos que podem gerar bilhões de dólares de lucro e salvar muitas vidas. A título de exemplo, avaliou-se que em 1997 a economia mundial cresceu US$115 bilhões com o uso da diversidade das formas nativas como fonte de modificações para aumentar a resistência de cultivos a alterações ambien46

A Lavoura - Nº 700/2014

CONSELHO DIRETOR Presidente Ibsen de Gusmão Câmara Diretores Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho Conselho Fiscal Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin Suplentes Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond


Bem-estar animal HSI

Um método cruel: celas de gestação causam dor e sofrimento a porcas reprodutoras

Livres das celas? Carolina Galvani – Gerente Sênior de Campanhas de Animais de Produção da Humane Society International – HSI

Grandes produtores suínos anunciam progresso em aumentar restrições ao uso de celas de gestação. O que isso significa para o Brasil? A Lavoura - Nº 700/2014

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bem-estar animal

N

o mês de janeiro, produtores suínos de peso fizeram importantes anúncios que sinalizam progresso quanto a acabar com o uso das pequenas e restritivas gaiolas usadas para confinar matrizes suínas, conhecidas como celas de gestação.

A SmithfieldFoods, um dos maiores produtores suínos do mundo, informou aos fornecedores que, se eles fizerem planos para eliminar as celas de gestação, terão seus contratos estendidos; mas caso se recusarem a fazer a conversão para um sistema de alojamento livre de celas, será improvável que seus contratos sejam renovados. Os fornecedores terão oito anos para fazer a mudança, mas, se ela for feita em um período mais curto, resultará em melhores contratos.

Fim do confinamento Em 2007, a empresa inovou ao anunciar que, até 2017, 100% de suas instalações próprias não mais usarão celas de gestação. Mas, enquanto a maioria das matrizes suínas na cadeia de fornecimento da Smithfield é proveniente de unidades de produção próprias, uma grande proporção ainda vem de produtores contratados. Essa lacuna significava que uma quantidade substancial de porcos na cadeia da Smithfield permaneceria em celas de gestação indefinitivamente. Assim, a empresa acaba de anunciar que corrigirá essa deficiência ao pedir que seus fornecedores também façam a conversão até 2022, e sob a especificação de que conversões mais rápidas significarão melhores contratos. O progresso contínuo da Smithfield com relação ao fim do confinamento, por toda a vida de porcas reprodutoras, significa que outros grandes atores da indústria terão pouco espaço para manobra. Um dos maiores produtores globais está dizendo ao mundo que o abandono do uso de celas de gestação não é apenas uma aspiração, mas algo que está acontecendo, sendo economicamente viável e possível de ser atingido no curto prazo. Poucos dias depois do anúncio da Smithfield, a Tyson Foods, grande produtor suíno norte-americano, com operações no Brasil e sede em Curitiba, também deu passos na mesma direção. A empresa, cuja produção é primordialmente realizada por fornecedores contratados e independentes, enviou uma carta para todos os atores de sua cadeia de fornecimento ressaltando a necessidade de criação de melhorias desejáveis em seu programa de bem-estar animal. A carta contém vários aspectos promissores sobre diversos pontos relativos ao bem-estar animal, como o encorajamento do abandono da prática de sacrificar leitões doentes ou machucados por traumatismo causado por arremesso ou golpes; e a adoção de métodos para aliviar a dor durante os procedimentos de castração e corte de caudas. A Tyson também abordou o confinamento em celas de gestação. “Nós acreditamos que futuros sistemas de alojamento para matrizes suínas de todos os tamanhos devem permitir que os animais sejam capazes de se levantar, se virar, se deitar e esticar suas pernas”, escreveu a empresa. A afirmação indica que as celas de gestação — que impedem a realização desses comportamentos — devem ser substituídas por sistemas de alojamento alternativos. “Nós estamos pedindo que nossos fornecedores, que administram as matrizes de propriedade da Tyson, implementem melhores condições em termos de quantidade e qualidade de espaço no design de qualquer nova instalação ou em sistemas de alojamento reformados a partir de 2014. Nós também fortemente encorajamos que os produtores suínos independentes, que vendem porcos à Tyson, melhorem o tamanho e a qualidade do espaço destinado a matrizes suínas, quando eles ou seus fornecedores de leitões reformarem ou construírem novas instalações de gestação”, completou a Tyson. 48

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As celas têm praticamente o mesmo tamanho do corpo dos animais Grande passo Mesmo que a carta da Tyson não faça uma imposição concreta aos seus fornecedores, no que se refere ao alojamento de matrizes, e também não delimite um prazo para que sistemas alternativos sejam implementados, esse é um grande passo vindo de uma importante empresa. Ambos os anúncios — da Smithfield e da Tyson — acontecem depois que mais de 60 das maiores empresas alimentícias do mundo — como McDonald’s, Burger King, Safeway, Costco, Oscar Mayer e diversas outras —, anunciaram que eliminarão o uso de celas de suas cadeias de fornecimento nos EUA. Matrizes suínas são frequentemente confinadas em celas durante seus quatro meses de gestação. As celas têm praticamente o mesmo tamanho do corpo dos animais e são projetadas para impedir que eles possam até mesmo se virar dentro delas. Um pouco antes da parição, as porcas são transferidas para celas de parição, que são similarmente restritivas. Depois da parição, as porcas são re-inseminadas e colocadas novamente em celas de gestação, o que resulta em anos de imobilização quase total para esses animais. Esse sistema de confinamento tem sido criticado por veterinários, produtores, defensores do bem-estar animal, cientistas, consumidores e outros. Durante a última década, a Humane Society of the United States (HSUS) e seu braço global, a Humane Society International (HSI) — um dos maiores grupos de proteção animal


HSI

Espaços apertados impedem que os animais se virem ou se deitem, mantendo-os em uma única posição

do mundo — têm focado seus trabalhos em acabar com o uso de celas de gestação na indústria suína. A HSI trabalha com empresas alimentícias internacionais para que suas políticas de eliminar o uso de celas de gestação sejam estendidas ao Brasil. Nós continuaremos a ajudar grandes varejistas e produtores a se comprometer com políticas de compra ou produção livres de celas. E nós esperamos que mais uma série de novos anúncios aconteça, em nível global e também aqui no Brasil.

Sem sofrimento No Brasil, uma pesquisa conduzida pelo Instituto Akatu revelou que 87% dos consumidores preferem comprar produtos que não imponham sofrimento aos animais durante a produção, se eles tiverem a escolha. A ciência prova que as celas de gestação causam uma maior predisposição das porcas vivenciarem tédio, frustração, trauma psicológico e outros problemas de saúde, como infecções urinárias e paralisias nos pés ou pernas. Ambos os fatos, se analisados de forma conjunta, fortemente sugerem que varejistas e pro-

Curiosidade Pesquisa aponta que 87% dos consumidores brasileiros prefeririam comprar produtos que não causassem sofrimento aos animais.

dutores suínos brasileiros poderiam se beneficiar com a adoção de métodos de produção que não usam celas. Ao redor do mundo, governos também estão aprovando legislações que favorecem métodos de produção sem o uso de celas. O uso de celas de gestação — com exceção das primeiras quatro semanas de gravidez — foi proibido na União Europeia em 2013. A Nova Zelândia proibirá o uso de celas de gestação em 2015. O Canadá também está considerando uma proibição nacional. Associações de produtores da Austrália e África do Sul também se comprometeram a restringir o confinamento contínuo em celas de gestação até 2020. Nove estados dos EUA já baniram o confinamento em celas e diversos outros considerarão aprovar legislação similar este ano. Nós acreditamos que, em um futuro não muito distante, todas as pessoas reconhecerão que a era de imobilizar porcas em em celas, praticamente do mesmo tamanho de seus corpos, foi um triste capítulo na história da agropecuária. Quando essa transição for feita, muitas pessoas se perguntarão como os líderes da indústria defenderam essa condição de privação e miséria contínua por tanto tempo, e como os legisladores e outros em posições de poder não fizeram algo a respeito mais rapidamente. Carolina Galvani

é Gerente Sênior de Campanhas de Animais de Produção da Humane Society International – HSI no Brasil. Juntamente com suas organizações parceiras, a HSI constitui uma das maiores organizações de bem-estar animal do mundo. Na web: www.hsi.org/brasil.

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FAO/Simon Maina

Pequenos produtores no centro das discussões globais

ONU dedica 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Ações vão ser realizadas em centenas de países, entre eles o Brasil

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s agricultores familiares que lidam diretamente com a produção de seus alimentos diários, são também responsáveis por alimentar milhares de pessoas em países desenvolvidos, e igualmente nas nações em desenvolvimento. Estima-se que 70% dos alimentos vêm da agricultura familiar. Sendo assim, o setor exerce um papel importante na erradicação da probreza, contribui para a segurança alimentar, na proteção do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.

Ao escolher 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar, a Organização das Nações Unidas (ONU) pretende reposicionar o setor no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um densenvolvimento mais equitativo e equilibrado.

Forte presença na América Latina e Caribe

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A Lavoura - Nº 700/2014 700/2013

A agricultura familiar colabora no desenvolvimento econômico de comunidades, como Msanga, na Tanzânia

De acordo com o relatório Perspectivas da Agricultura e do Desenvolvimento Rural nas Américas 2014: uma visão para a América Latina e Caribe, elaborado pela FAO, em conjunto com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na América do Sul, a participação da atividade nos empregos agrícolas é significativa, oscilando nos países analisados entre 53% (Argentina) e 77% (Brasil). Já na América Central, a agricultura familiar representa mais de 50% dos


meio ambiente — e torne-se o celeiro do mundo”, observa Bojanic. Assim como o Brasil, 45 países já formaram seu comitê e preparam atividades em prol da agricultura local. Além dos grupos nacionais, existe um comitê formado pelo Brasil e países do Mercosul.

FAO/Sergey Kozmi

Eventos

No Quirguistão, mulheres colhem pepinos produzidos pela agricultura familiar

empregos no setor agrícola em todos os países, com exceção da Costa Rica (36%). No Panamá representa 71% e em Honduras 77%. “A presença forte dos pequenos agricultores na região, demonstra o quão importante tem sido a atividade desse setor para o desenvolvimento econômico dos países. Além de gerar postos de trabalho para milhares de famílias, a produção de alimentos dos agricultores familiares contribui para o crescimento econômico das nações”, ressalta o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.

Comitê Brasileiro Para coordenar as atividades do Ano Internacional da Agricultura Familar, o Brasil criou um comitê. A organização brasileira está composta por 32 entidades da sociedade civil e 18 órgãos de governo. A programação vai incluir atividades que ampliam a visibilidade da agricultura familiar e sua importância econômica. O objetivo é contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas aos pequenos produtores. No ano passado, a produção da agricultura familiar respondeu por 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e por 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (cerca de 12,3 milhões de pessoas). O setor também é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84% da mandioca, 67% do feijão; 54% do leite; 49% do milho, 40% de aves e ovos e 58% de suínos. No Nordeste, é responsável por 82,9% da ocupação de mão de obra no campo. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Avanço Nos últimos anos, o país avançou muito no apoio à agricultura familiar. A criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a implementação de diversas políticas públicas, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), o Programa Brasil Sem Miséria, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a Secretaria de Agricultura Familiar, o apoio da Assistência Técnica e Extensão Rural, contribuíram significadamente para que o Brasil entedesse que a agricultura familiar é parte da solução dos desafios para erradicar a pobreza no meio rural. “O Brasil está no caminho certo e serve como exemplo para outros países em desenvolvimento. O uso racional dos recusos naturais, a utilização de tecnologias apropriadas, a gerência profissionalizada das propriedades agrícolas, entre outros, podem fazer com que o país amplie sua produção — sem prejudicar o

Diversos eventos vão ser realizados, durante todo o ano em centenas de países, com o próposito de levar o tema ao centro das dicussões. Entre os eventos oficiais estão: o Fórum Global e Exposição da Agricultura Familiar, marcado para o começo de março em Budapeste, Hungria e o seminário A importância dos Processos de Comunicação na Agricultura Familiar e de Subsistência Rural Sustentável, agendado para os dias 27, 28 e 29 de março, em Roma, na Itália. Confira o calendário completo no site: http://www.fao. org/family-farming-2014/home/pt/

Mensagem de José Graziano, diretor-geral da FAO “A agricultura familiar tem um papel importante na luta contra a fome. O setor é um dos maiores produtores e fornecedores de alimentos no Brasil e na grande maioria dos países em desenvolvimento. Ainda assim, permanece, em muitos casos, uma grande brecha entre a produção e o potencial que pode ser explorado. O ano internacional da agricultura familiar oferece uma oportunidade de ouro para mostrar ao mundo como este setor contribui e pode colaborar ainda mais na segurança alimentar, para a adoção de dietas nutritivas e saudáveis e para a sustentabilidade da produção de alimentos.”

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Merial Saúde Animal

bezerros

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Como é o manejo

dos primeiros dias?

Bezerros recém-nascidos demandam grande atenção no manejo sanitário

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Merial Saúde Animal

bezerros

Bezerro recém nascido recebendo os primeiros cuidados

Segundo Roulber Silva, coordenador de Serviços Técnicos de Ruminantes da Merial Saúde Animal, os pecuaristas devem dar muita atenção ao bem-estar dos bezerros e das vacas. Na verdade, essa preocupação começa antes do nascimento, com áreas específicas para as vacas e novilhas parirem.

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Merial Saúde Animal

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cria é uma etapa crucial na pecuária de corte. Afinal, as vacas devem parir um bezerro por ano, que precisa crescer e ganhar o máximo de peso até o desmame. Em grande parte, o sucesso desse processo determina o resultado positivo ou negativo de uma propriedade. O manejo correto do bezerro ganha ainda mais importância quando se verifica que as taxas de mortalidade na primeira fase da vida dos bovinos giram em torno de 6% a 12%.

Detalhe da desinfeccção do umbigo


“O ideal é que a fazenda tenha pastos onde as vacas e novilhas irão parir (piquetes maternidade). Também é importante que as áreas das novilhas separadas dos espaços reservados para as vacas para evitar o abandono das crias, que ocorre especialmente no caso das primíparas”, ressalta médico veterinário. Além disso, a observação destas áreas no período das parições deverá ser diária. Por isso, elas devem ser de fácil acesso. É preciso também cuidar do excesso de lama e fezes, pois tais condições favorecem a infecção do umbigo, a contaminação dos tetos das vacas e as infecções uterinas pós-parto.

Taxas de mortalidade na primeira fase dos bovinos giram em torno de 6% a 12%

O coordenador da Merial lista os cuidados básicos para a saúde dos bezerros recém-nascidos: •

Assegurar a mamada do colostro (colostragem): Para que os bezerros recém-nascidos recebam proteção contra as principais doenças do meio onde vivem, nos primeiros dias de vida, é fundamental a “‘mamada do colostro” em até duas horas após o nascimento. As vacas recém-paridas e suas crias devem ser observadas, prestando atenção aos tetos e úbere das vacas e ao “vazio” dos bezerros. Vacas com tetos murchos e úbere vazio evidenciam já ter sido “mamadas”. Bezerros com “vazios” fundos demonstram que não mamaram adequadamente o colostro. Nesse caso, a vaca deverá ser levada ao curral, onde será devidamente contida para, então, colocar o bezerro para mamar. Desinfecção e cura do umbigo: Deve ser realizada no dia do nascimento do bezerro. Essa prática evita que o umbigo seja porta de entrada de agentes que podem causar diversos tipos de infecções nos bezerros, além de prevenir a instalação de bicheira (miíase) no umbigo.

Geralmente, emprega-se solução de iodo a 10% ou mesmo produtos que possuam ação antimicrobiana e contra bicheiras. O corte do coto umbilical só deverá ser realizado caso o mesmo seja muito comprido, sendo que o comprimento para o corte é de cerca de 4 cm (dois dedos) a partir da pele que inicia o coto umbilical. No caso de uso de solução iodada, o coto umbilical deverá ser mergulhado, usando-se frasco plástico ou de vidro com boca larga. Outro método eficiente para este manejo é a aplicação, no umbigo, de produtos mata-bicheiras à base de fipronil que também tenham ação antimicrobiana e cicatrizante, pois o umbigo mal curado é altamente atrativo para moscas varejeiras (mosca da bicheira). Assim, a realização da cura do umbigo apenas uma vez — como é frequentemente feito

nas fazendas de cria do gado de corte — pode não promover boa proteção contra a instalação de bicheiras no umbigo dos animais. Uma prática com excelentes resultados preventivos é a aplicação de 1 ml de produtos à base de Ivermectina a 1% quando a cura do umbigo for realizada. Quando houver bicheira no umbigo, deve-se também verificar a boca dos animais, pois os mesmos poderão ter bicheiras nas gengivas. Isso ocorre, pois os bezerros geralmente lambem as regiões do corpo afetadas pela bicheira e, com isso, podem carregar ovos e larvas desse parasita para a boca. No tratamento das bicheiras instaladas, a aplicação de um mata-bicheira com ação cicatrizante mostra ótimos resultados.

Como fazer a identificação do bezerro •

Identificação: No momento da cura e desinfecção do umbigo dos bezerros, os mesmos deverão ser identificados e pesados. A identificação pode ser realizada de diversas maneiras, como tatuagem, por brincos ou picote nas orelhas, por exemplo. Após a identificação, o número e o sexo do bezerro (a), o número da vaca (mãe) e, se possível, o peso vivo da cria, deverão ser anotados. A identificação dos animais é fundamental para avaliações de seu desempenho, além de informações referentes aos pais dos mesmos.

Após a identificação, os animais precisam receber produtos preventivos contra bicheira. A aplicação local de mata-bicheiras à base de fipronil, juntamente com a Ivermectina 1% via subcutânea, são ótimas opções. Mesmo que sejam realizados os tratamentos preventivos contra bicheira logo após a identificação dos animais, os mesmos precisam ser periodicamente observados, especialmente nos períodos chuvosos. Caso haja algum sinal de bicheira, a mesma deve ser convenientemente tratada.

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animais de estimação Como viajar com animais de estimação?

mais documentos exigidos pelo país de destino para o trânsito de animais. As exigências diferem de acordo com o destino pretendido

Em época de férias, viajar é sempre a melhor pedida. E sendo parte da família, os animais de estimação são companhias cada vez mais comuns. Mas, para não ter surpresas desagradáveis, é preciso tomar alguns cuidados e seguir as recomendações do Ministério da Agricultura, para poder se divertir com seu cão ou gato nesse verão.

É necessário levar o animal no momento de solicitar o CZI?

O que preciso fazer para levar meu cão ou gato em viagem ao exterior?

1•

Buscar informações sobre as normas sanitárias exigidas pelo país de destino. Para isso, consulte a lista dos países mais procurados ou solicite informações à embaixada/consulado de cada um.

2•

Providenciar a documentação necessária, no mínimo, dez dias antes da viagem, pois a vacina contra a raiva, por exemplo, precisa desse prazo para fazer efeito. No caso de primeira vacinação, são necessários 30 dias de antecedência.

3•

Você precisará do Certificado Zoosanitário Internacional (CZI), que é obtido nas unidades do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no aeroporto, porto ou posto de fronteira mais próximo e nas Superintendências Federais de Agricultura em cada estado.

O que é CZI? É o documento emitido, ou chancelado, pelo Serviço Veterinário Oficial do país de procedência dos animais, com o intuito de garantir não apenas a saúde do animal, como o cumprimento das condições sanitárias exigidas para o trânsito internacional até o país de destino

O CZI é utilizado por todos os países? Não. Mas todos os países possuem um documento oficial com o mesmo fim e que é aceito pelos demais países com os quais mantém relações diplomáticas e comerciais. Por exemplo, alguns países exigem a implantação de chips eletrônicos ou emitem passaportes animais para o controle de entrada e saída de cães e gatos.

O que é necessário para obter o CZI no Brasil? Dirigir-se à unidade do Vigiagro mais próxima, levando atestado de saúde do animal, assinado por um veterinário, e carteira de vacinação em dia, além dos de56

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Considerando a necessidade imposta por alguns países, é recomendável levar o animal no momento de solicitar o CZI. Nos demais casos, o proprietário e o médico veterinário constante no atestado são responsáveis pela fidelidade das informações, que serão fiscalizadas nos pontos de ingresso/egresso.

Quanto tempo o animal pode permanecer no exterior? O tempo de permanência do animal no exterior é ilimitado.

Qual a exigência brasileira para receber esses animais de volta? A exigência brasileira para receber um cão ou um gato é o CZI, emitido pelo serviço veterinário oficial do país de origem, comprovando a vacinação contra a raiva (vacina antirrábica). Nos casos em que os animais são provenientes de países que declaram oficialmente junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a presença em seu território de Peste Equina Africana e/ou Febre do Vale do Rift, no CZI devem constar informações adicionais, conforme a legislação vigente. (Portaria nº 429/97 e 430/97).

Quais os riscos de viajar sem o CZI? A certificação serve como atestado de saúde do animal para o ingresso no país desejado. Sem o documento, o animal está sujeito à apreensão e deportação ou sacrifício pelas autoridades sanitárias do destino. As vacinas exigidas, além disso, protegem seu cão ou gato contra doenças endêmicas.


O que é necessário conter no atestado de saúde do veterinário particular?

Em viagens nacionais o proprietário deve ter em mãos a carteira de vacinação do animal e atestado de saúde, emitido por um médico veterinário Há exigências sobre a caixa de viagem do cão ou gato? Essa informação deve ser obtida diretamente na companhia aérea responsável pelo transporte.

Posso viajar com o meu animal na cabine de passageiros? Depende do tamanho e peso do animal e também das regras internas da companhia área responsável pelo transporte.

O atestado deve atender às exigências sanitárias de acordo com o país de destino, por isso, é importante consultar a Embaixada, Consulado ou Serviço Veterinário Oficial do país que irá receber seu animal. Além disso, é fundamental atender à Resolução 844 de 20 de setembro de 2006, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, o que dispõe: Art. 3º: O atestado sanitário deverá conter, no mínimo: I - nome, espécie, raça, porte, sexo; II - pelagem, quando for o caso; III - idade real ou presumida; IV – informação sobre o estado de saúde do animal; V - declaração de que foram atendidas as medidas sanitárias definidas pelo serviço veterinário oficial e pelos órgãos de saúde pública; VI - informações sobre imunização anti-rábica; VII - identificação do médico veterinário: carimbo (legível) com o nome completo, número de inscrição no CRMV e assinatura; VIII - identificação do proprietário: nome, CPF e endereço completo; IX -data e o local. Fonte: Ministério da Agricultura

Para viajar dentro do Brasil, de avião, carro ou outro meio de transporte, é necessário levar alguma documentação do cão ou gato?

Divulgação

Em viagens nacionais, durante o deslocamento, o proprietário deve ter em mãos a carteira de vacinação do animal, atualizada para a vacina contra a raiva e atestado de saúde emitido pelo veterinário particular. Se no atestado constar que a vacinação antirrábica está em dia, basta o atestado.

E o que preciso fazer para viajar dentro do Brasil com outros animais de companhia? Qualquer animal que não seja cão ou gato precisa ter uma Guia de Trânsito Animal (GTA) para viagens dentro do país. O documento deve ser obtido na sede da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (Seappas) dos estados ou municípios.

Qualquer médico veterinário pode emitir o atestado de saúde ou é necessário possuir cadastro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)? Não existe cadastro no Ministério da Agricultura para emissão de atestado de saúde de cães e gatos, porém o médico veterinário deve estar registrado no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). A Lavoura - Nº 700/2014

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Neide Furukawa

TECNOLOGIA

Tecnologia facilita monitoramento do

risco agrícola O sistema funciona via web e é exclusivo do Ministério da Agricultura

O

monitoramento do risco agrícola no País vem se tornando mais eficiente com o apoio da tecnologia da informação. Para realizar uma análise mais precisa de todas as informações referentes a perdas na produção, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) conta com uma Central de Informação de Risco Agrícola (Cira). O sistema integra dados de diversas fontes, como crédito e seguro rural, indicadores socioeconômicos e zoneamento agrícola, permitindo gerar análises específicas. Por meio de gráficos, relatórios e tabelas, é possível traçar um panorama da situação atual e ainda produzir séries de dados históricos relativos a eventos climáticos, como seca, geada, vento, excesso de chuva, entre outros. Os comunicados de ocorrências relacionadas à seca, por exemplo, podem ser monitorados diariamente, por estado ou município. Os dados abrangem o território nacional, incluindo todas as culturas do zoneamento agrícola brasileiro. Com isso, os boletins de monitoramento da safra emitidos pelo Ministério também usam a Cira como fonte para a elaboração das análises e recomendações.

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Chuva em flor de laranjeira

Proagro Atualmente, a Central conta com informações de operações de crédito de custeio agrícola amparadas pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), de operações de seguro rural privado que contam com subvenção do governo federal e informações de indicadores relacionados à atividade agrícola provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o coordenador-geral de Zoneamento Agropecuário do Mapa, Gustavo Bracale, a Central faz parte de um esforço maior do Departamento de Risco de Gestão Rural do Ministério para mapear e melhor qualificar os riscos produtivos na agropecuária brasileira. “Existem muitos dados estatís-


Marcelino Ribeiro

ticos de diferentes instituições, ainda que dispersos, que podem e já estão auxiliando nesse objetivo”, afirmou.

Integração de dados Bracale ressalta que o projeto permite a integração dos dados relativos ao risco produtivo em uma base unificada, facilitando o cruzamento dessas informações e a geração de análises e estudos mais detalhados, que servem de orientação para ações conduzidas pelo Mapa no que tange à minimização de riscos de produção no campo. Como exemplo, aponta o estudo recente conduzido pelo Ministério para identificar áreas prioritárias para o programa de apoio ao seguro rural, visando otimizar a aplicação de recursos públicos destinados a essa política. A tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Mapa. O analista da Unidade, Luciano Vieira Koenigkan, conta que

Caprinos em vegetação seca da caatinga

a Central foi estruturada para que o usuário do sistema possa obter os dados da forma mais adequada às necessidades, propiciando análises especializadas. Esse sistema funciona via web e é exclusivo do Ministério da Agricultura.

A chuva de granizo é mais um dos eventos climáticos que podem ser monitorados pela nova tecnologia

Consulta desejada

Paulo Lanzetta

O uso de ferramentas de business intelligence (BI) possibilita extrair e integrar dados obtidos de variadas bases e diferentes formatos, como planilhas, bases de dados e outros sistemas, padronizando-os e permitindo a recuperação da forma mais apropriada, de acordo com o tipo de consulta que se deseja. “As ferramentas de BI ampliaram a quantidade e a variedade das informações. Assim, o usuário tem à sua disposição um conjunto de variáveis e pode combiná-las da melhor forma, para realizar suas análises”, explica Koenigkan. A Cira é um serviço que integra o Sistema de Monitoramento Agrometeorológico Agritempo, consórcio que organiza e administra dados de um conjunto de mais de 1.300 estações meteorológicas espalhadas pelo País, resultado de parceria entre diversas instituições nacionais. Os sistemas são mantidos com recursos do Mapa, por meio de convênios de cooperação técnica firmados com a Embrapa Informática Agropecuária. Nadir Rodrigues

Embrapa Informática Agropecuária

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Filosofia Ecológica uma chef criativa como parte da equipe! Nas mãos da Chef Ana Lemgruber estava o futuro da empresa”.

No coração da Mata Atlântica, são produzidos geleias, açúcares e sais de pimenta, que atendem ao paladar dos consumidores mais exigentes. Qualidade aliada à total integração com a natureza, faz do Ganesha Orgânico uma marca única no mercado.

Desenvolvimento dos produtos E das mãos criativas de Ana, nasceram os produtos Ganesha Orgânico: geleias de pimenta com ervas e frutas, sais de pimenta com ervas e flores, e açúcar de pimenta com flores. A base pimentas — malagueta, dedo-de-moça e jalapeño — , foi enriquecida com alecrim, alho-poró, capim limão, estragão, hortelã, manjericão, entre outras ervas aromáticas, além de flores comestíveis, como aster, calêndula, caliopsis e capuchinhas. “Entendemos que nossos clientes em potencial sejam pessoas de paladar refinado, acostumadas a adquirir produtos orgânicos de qualidade”, afirma Carlos, lembrando a originalidade dos produtos Ganesha, “Apesar de existirem inúmeras marcas de geleia de pimenta no mercado, ainda não conhecemos nenhuma que seja orgânica, com os ingredientes e a consistência que Ana alcançou, devido ao baixo teor de açúcar utilizado. Já com relação aos sais e ao açúcar, nossa linha ainda é totalmente original”.

Das páginas do livro Manejo Ecológico do Solo — A Agricultura em Regiões Tropicais, de Ana Maria Primavesi, brotou uma ideia: produzir organicamente. O lugar escolhido foi a fazenda do avô, na Serra da Ressaca, localizada no município de Cachoeiras de Macacu, RJ. Assim, Carlos Lemgruber, formado em zootecnia, e sua mulher, Ana Lemgruber, chef de cozinha, criaram, em 2009, a marca Ganesha Orgânico, a mais nova empresa parceira da rede OrganicsNet.

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Carlos, que nos anos 1980 abandonou o curso de engenharia elétrica para “tocar” a fazenda, na época com criação de gado de leite e de corte e lavouras de inhame, milho, feijão e aipim, explica que sua proposta de trabalho atualmente é sustentada por uma filosofia ecológica. Ana e Carlos Lemgruber posam ao lado dos funcionários. Ao fundo, a casa da fazenda e a produção de pimentas e ervas

Divulgação

“A motivação pelo cultivo orgânico surgiu nos idos de 1984, quando comprei o livro. Tentei, naquela época, aplicar sua técnica de manejo do solo aqui na fazenda, mas sem grande sucesso”, conta Carlos, que, em 1983 se casou com Ana, e, depois de passarem um tempo nos EUA, voltaram ao Brasil para, finalmente, em 2009, se fixarem na fazenda, desta vez, já com um projeto de agricultura orgânica. “Precisávamos de um produto não perecível, feito a partir da nossa produção de hortifruti, pois o projeto original de fornecermos verduras e legumes diretamente aos restaurantes não vingou. Nossa sorte: tínhamos

Filosofia orgânica


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Estão errados aqueles que optam pelo orgânico, visando apenas a oportunidades de maiores lucros resultantes de altos preços no varejo O jalapeño, pimenta originária do México, é um dos ingredientes das geleias Ganesha

“E vou além”, continua Carlos, “estão errados aqueles que optam pelo orgânico, visando apenas a oportunidades de maiores lucros resultantes de altos preços no varejo”.

Técnicas de produção Rodeada pela Mata Atlântica, a produção do Ganesha utiliza técnicas de manejo preconizadas pela Dra. Primavesi, estimulando o desenvolvimento de uma microvida do solo, por meio do uso de cobertura morta e do retorno sistemático da matéria orgânica. Segundo Carlos, “apenas com este tipo de coexistência entre as mais diversas espécies de micro e médios organismos, fungos, amebas, colêmbolos, nematóides, ácaros, larvas, moluscos, minhocas e etc, é que se obtém a tão desejada bioestrutura do solo”. Ele acredita que, somente com a manutenção desta integridade do solo, uma exploração agrícola pode ser verdadeiramente orgânica e sustentável. Com relação à produção pós-colheita, utiliza-se, principalmente, a técnica de desidratação na conservação das pimentas, ervas e flores para confecção dos sais de pimenta e do açúcar de pimenta, e assim como nas geleias, técnicas de infusão e cocção. É nesse momento que a experiência da Chef Ana entra em campo mais uma vez. “No curso de Gas-

tronomia, ela se especializou em métodos de controle de qualidade e higiene, que vieram enriquecer e completar toda uma vida dedicada à culinária”.

O Ganesha hoje A produção do Ganesha ainda é pequena. Conta, hoje, como cinco funcionários, que se dividem nas tarefas de campo, na operação dos desidratadores, na colheita das flores e envasamento dos sais e açúcares. Porém, já possuem representantes comerciais em cinco estados do Brasil: RJ, ES, SP, PR, SC. As vendas também são feitas via internet, com os pedidos enviados pelos Correios. “Não há como negar o crescimento do mercado dos produtos orgânicos, pois as pessoas estão cada vez mais preocupadas com sua saúde, mais bem informadas com relação à alimentação e sabem que a qualidade nutricional dos produtos orgânicos é inegavelmente superior”, avalia Carlos. “Uma produção orgânica mais eficiente e de menor custo para o agricultor será fundamental para o amadurecimento do setor”. Gabriel Chiappini

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“A opção pelo orgânico deve sempre considerar uma série de fatores imponderáveis que fogem a uma análise econômica imediatista da atividade”. Para justificar sua escolha, ele enumera diversos de fatores positivos da agricultura ecológica que irão se revelar apenas no médio prazo, tais como: ausência de erosão e de compactação do solo, inexistência de pragas significativas, melhora na fertilidade, gasto muito reduzido com insumos e consequente aumento do resultado líquido da atividade.

Produtos diferenciados do Ganesha Orgânicos

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Regina Célia Rodrigues de Miranda Milagres

pesquisa

Mais vida útil para a

dedo-de-moça O uso da técnica de irradiação deve prolongar a vida útil da polpa de pimenta sem causar grandes perdas nutricionais

Pimenta Dedo-de-moça

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ma das pimentas mais apreciadas pelos brasileiros, de picância e aroma suaves, é foco de pesquisa na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq) e no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (USP/CENA). A qualidade e os fatores que afetam a conservação da Capsicum baccatum var. Pendulum, conhecida popularmente como ‘Dedode-Moça’, ainda são pouco conhecidos, embora seu valor nutricional, econômico e social no Brasil e no mundo seja de grande importância. O estudo, que tem como objetivo prolongar a vida útil da pimenta in natura e em polpa pelo uso da irradiação, trabalha com a hipótese de que a técnica de irradiação — com aplicação da radiação Gam — é eficiente para prolongar a durabilidade, com alterações mínimas na qualidade sensorial e nutricional da pimenta. “As pimentas do gênero Capsicum estão entre as especiarias e temperos mais consumidos e mais valorizados na culinária mundial. Pesquisas têm indicado a irradiação como uma técnica economicamente viável, bem como fisicamente segura para a conservação de alimentos”, explica a doutoranda da USP/Esalq Regina Célia Rodrigues de Miranda Milagres, responsável pelo trabalho.

Influências Dois fatores influenciaram a pesquisa desenvolvida por Regina Célia. O primeiro, é que as pimentas são comercializadas, geralmente, na forma de conservas, molhos e desidratadas. À esses produtos são, normalmente, adicionados sal ou outros conservantes químicos que, se consumidos em grandes quantidades, podem ser nocivos à saúde. Dessa forma, a utilização de polpa de pimenta pura será uma alternativa para o consumidor que busca por produtos mais saudáveis. Um segundo, deve-se ao fato de que as conservas e os molhos de pimenta, normalmente, passam por processamento térmico, o que pode contribuir para a redução do valor nu-

Regina Célia Rodrigues de Miranda Milagres

U

Processamento da polpa de pimenta

tricional e sensorial. Assim, espera-se que o uso da técnica de irradiação prolongue a vida útil da polpa de pimenta sem causar grandes perdas nutricionais. Foram realizados testes para determinar a dose ideal de irradiação a ser empregada na pimenta in natura e em uma polpa elaborada a partir da pimenta Dedo-de-Moça pura. “Os frutos recém-colhidos foram selecionados, embalados, irradiados com as doses de 0,00; 0,25; 0,50; 0,75; 1,00; 1,25 e 1,50 kGy (unidade de radiação), armazenados a 5ºC e25ºC, por 15 dias, e avaliados quanto às suas características físico-químicas (teor de sólidos solúveis, pH, acidez total, titulável, ratio, cor, perda de peso e umidade) e visuais (incidência de doenças, turgidez e cor).

Foco A radiação gama, nas doses estudadas, não foi promissora para conservação da pimenta Dedo-de-Moça in natura. “O fator que mais contribuiu para manter a qualidade das pimentas durante a estocagem foi a refrigeração”, justificou a pesquisadora. Diante desses resultados, outro foco da pesquisa foi testar a técnica de irradiação na polpa da pimenta, onde foram realizados testes com doses entre 1 e 20 kGy e armazenamento a temperatura de 25º. “Os resultados indicaram que as doses de 7,5 a 10 kGy apresentam uma boa resposta quanto a conservação de polpa de pimenta”, explicou. Um próximo passo da pesquisa será a realização das análises físico-químicas, nutricionais, microbiológicas e sensoriais nas amostras que obtiveram os melhores resultados durante esta primeira fase. As análises laboratoriais do projeto, orientado pela professora Solange Guidolin Canniatti Brazaca, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN) da ESALQ, estão sendo realizadas em laboratórios da ESALQ e, a irradiação, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Regina Célia realiza a pesquisa pelo programa de pós-graduação (PPG) em Ciências, área de concentração Energia Nuclear na Agricultura e no Ambiente do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA). Alicia Nascimento Aguiar

USP/ESALQ

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EMPRESAS Produtos para o setor sucroalcooleiro

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ara fortalecer a sua atuação no setor sucroalcooleiro, a Beraca, empresa brasileira que investe no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, amplia o portfólio para atender todas as etapas do processo produtivo em usinas. Entre as novidades estão o Clarificante (Beraçúcar), os Anti -incrustrantes, o Antiespumante, o Dispersante e o Nutriente (Beralcool), soluções sustentáveis capazes de otimizar a produtividade, agregando valor ao cliente e ao mercado. A Beraca desenvolveu soluções para cada etapa da produção de álcool. Entre eles, o Antiespumante que, por possuir formulação balanceada, auxilia no controle da espuma formada no processo fermentativo, minimizando transbordamentos e aumentando o volume útil das dornas. Além disso, para o controle preventivo das espumas, foi desenvolvido também o Dispersante, que pode ser adicionado ao mosto, caldo de cana ou melaço misturado com água, cubas e dornas. Ainda para utilização no processo fermentativo, o Nutriente (Beralcool) supre as deficiências nutricionais do

substrato, estimulando e ativando as funções desenvolvidas pelas células. O produto ajuda a favorecer o metabolismo das leveduras, proporcionando uma fermentação mais eficiente. Faz parte também da nova linha o anti-incrustrante para coluna de destilação, com funções específicas no controle e eliminação de substâncias incrustrantes. Já para a produção do açúcar, a aposta da Beraca é o Clarificante (Beraçúcar), indicado para aplicação no caldo de obtenção do açúcar. Sua composição proporciona condições favoráveis para a precipitação de substâncias formadoras de cor, que podem ser facilmente retiradas por meio da decantação/flotação. Já para a etapa de concentração do caldo, o indicado é o Anti-incrustrante para evaporação. Seu uso durante o processo de evaporação do caldo permite a eliminação substâncias incrustrantes.

Sem fraude Autenticidade e rastreabilidade para produtos químicos protege meio ambiente

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A solução Global Product Authentication Service (GPAS), desenvolvida em parceria, pela Brady — líder mundial no desenvolvimento de soluções de identificação — e a HP, atende essas necessidades com facilidade, pois trabalha com códigos únicos, que podem ser agregados aos lacres dos produtos, garantindo também a proteção do conteúdo das embalagens.

Divulgação

indústria química com foco no agronegócio, da mesma forma que as fabricantes de fertilizantes, está investindo na autenticidade e na rastreabilidade de suas embalagens, visando, principalmente, ao combate a produtos falsificados e ao descarte apropriado, com benefícios para o meio ambiente.

na proteção de marcas e produtos, “a solução GPAS apresentada pela Brady e HP atende a todas às necessidades de monitoramento total da cadeia logística da indústria agroquímica, desde a produção até a destinação final da embalagem vazia. O consumidor também terá ganhos, pois poderá confirmar a autenticidade do produto com facilidade, uma vez que praticamente toda pessoa dispõe de um celular ou smartphone, que é o equipamento necessário para fazer a validação”, explica Fernando Mota, gerente da divisão BPS — Branding Protection Solutions da Brady no Brasil. O GPAS é uma solução flexível, baseada na “nuvem”, que permite aos clientes identificar produtos dos mais diversos segmentos da economia, fazendo a autenticação em tempo real.

Desenvolvido pela HP Software Professional Services, o GPAS gera códigos de seguranProduto pode ser rastreado por código QR ça possíveis de serem baixados e aplicados O diferencial da solução é que a verifipela Brady Corporation em suas etiquetas cação de autenticidade pode ser feita imediatamente com o de autenticação personalizadas. O processo de impressão e uso de um smartphone, seja via leitura de um código QR ou envio das etiquetas ocorre na própria infraestrutura de sevia SMS, dispensando um leitor especial de código de barras. gurança da Brady Corporation, que conta com instalações certificadas pela Organização Norte Americana de Produtos Proteção de marcas de Segurança (NASPO), organização sem fins lucrativos que Focada no mercado mundial de recurso “one-stop” para certifica os fornecedores de materiais de segurança sob um rastreamento e autenticação de produtos de modo a auxiliar conjunto de normas operacionais e protocolos de segurança. 64

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Sistema de geração Diox


Divulgação

Bebedouro exclusivo para frango de corte

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GSI Agromarau, empresa do grupo AGCO, acaba de lançar o Nipple Click2. O produto nasceu para acompanhar a evolução do segmento avícola e com o objetivo primordial de oferecer uma hidratação adequada às aves, especialmente nos primeiros dias de alojamento.

Atrelados à evolução genética das linhagens de matrizes e ao processo incubatório, os animais vêm apresentando diferentes características. “É comum ocorrer o alojamento de pintinhos fora do padrão considerado ideal por estudiosos: desidratados, nascidos de matrizes abaixo ou acima da idade indicada, com baixo peso inicial — pintinhos com até 30 gramas contra a faixa considerada ideal de 45 gramas — e, por consequência, com menor potencial de desenvolvimento, quando comparados aos pintinhos maiores”, explica a engenheira de produto da GSI Agromarau, Emilene Dalmolin. O Nipple Click2 chega ao mercado para ajudar a compensar essa diversidade e, ainda, melhorar os resultados zootécnicos. O equipamento tem um bico especialmente projetado para facilitar a liberação da água. Testes demonstraram que, com ele, os pintinhos fazem 60% menos esforço para empurrar o bico lateralmente e beber.

Mecanismo As peças (bucha metálica e pino inferior) do bico foram modificadas a fim de deixá-lo mais leve. O mecanismo exclusivo GSI Agromarau facilita tanto a liberação lateral da água (para os primeiros dias de vida do pintinho, quando algumas aves têm menos força para empurrar lateralmente o pino

Equipamento facilita a liberação de água para os pintinhos

inferior do bico do bebedouro), quanto a liberação vertical (quando, ao longo do desenvolvimento, a ave já consegue erguer o pino inferior para se hidratar). E a preocupação com a hidratação é assunto sério: se a ave não bebe, também acaba não comendo. Uma das consequências é a mortalidade, que faz o produtor amargar prejuízos. A hidratação e a nutrição adequadas dos pintinhos, aliadas à ambiência e ao manejo, entre outros fatores, agem de forma conjunta para o desenvolvimento pleno dos animais.

Versatilidade O produto está disponível em dois modelos: alta vazão (100ml/minuto) e altíssima vazão (160ml/minuto). Esse último deve ser instalado, obrigatoriamente, com a taça aparadora de gotas. A taça não deixa a água excedente cair no solo (o que pode gerar um problema sério de umidade de cama) e ainda evita o desperdício: o resquício de líquido no compartimento é consumido pelas aves.

Tecnologia para a piscicultura

“O Atomizador possui um reservatório de 28 litros e é ideal para criadores de médio porte. O seu uso também gera economia e redução de trabalho. O fluxo de saída dos grãos pode ser regulado de acordo com a necessidade e tamanho do tanque. Para se ter uma ideia, o equipamento em sua vazão máxima é capaz de lançar até 14 Kg de produto granu-

lado em apenas 1 minuto, a uma distância de 12 metros”, explica Paulo Figueiredo, Técnico de Produto da Husqvarna. Isso possibilita um aumento da produtividade do criador, à medida que o Atomizador lança a ração de maneira homogênea no tanque, minimizando a disputa dos peixes por alimento. Assim os peixes se alimentam melhor, ganhando mais peso e qualidade. Divulgação

A piscicultura, setor responsável pela criação de peixes e de outros animais aquáticos em cativeiro, é um dos mercados em expansão no Brasil. A Husqvarna, aposta na utilização do Atomizador 362D28 para o processo de alimentação dos peixes. A tecnologia do equipamento permite que o alimento seja lançado de maneira uniforme em todo o tanque de criação.

Atomizador para alimentação de peixes

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Opinião

Uma cultivar tem que ser nova para a obtenção do registro? Charlene de Ávila Plaza*

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novidade é um requisito comum para todos os direitos de exclusivas da propriedade intelectual. Entretanto, a novidade é coisa muito especial.

conhecimento intelectual — e não somente o comercial — para a verificação da novidade da criação. Lógico que, além de novidade, a cultivar deve ser distinta uma das outras pelos critérios agrotécnicos, i.e, distintividade, homogeneidade, estabilidade e novidade (comercial).

Como um dos elementos básicos do balanceamento de interesses constitucionais, a novidade quanto às patentes industriais importa em que o invento em questão jamais tenha sido dado conhecimento ao público, em qualquer parte, de qualquer maneira. Assim, é o conhecimento, que destrói a novidade das patentes industriais. Esse tipo de novidade não é que consta da norma dos cultivares, a Lei n° 9.456/1997.

Exige-se, assim, a novidade cognoscitiva absoluta nas patentes industriais, em oposição à novidade de mercado territorial, para as variedades vegetais:

Sobre as patentes industriais, os tribunais dizem: “A novidade exigida ao deferimento da exclusividade do uso de determinado invento deve ser apurada sob o aspecto global daquela solução tecnológica e não sob a ótica dos elementos que a compõem, que poderão, isoladamente, estar abrangidos pelo estado da técnica”. (Tribunal Regional Federal da 2° Região. 2° Turma Especializada. Des. André Fontes. AC 204.51.01.513998-3, DJ 02.07.2008). “A patente protege a invenção que apresente, em relação ao estado da técnica, uma novidade absoluta. Em outras palavras, a invenção deve ser diferente de tudo o que, até aquele momento, era do conhecimento do público”. (AC. 200151015366056, 2° Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2° Região, por maioria, 08 de agosto de 2007). Já para a Lei de Cultivares, haverá novidade quando a criação não foi disponibilizada no mercado territorial. É outra coisa. Diferentemente da Lei de Proteção de Cultivares, a Lei de Propriedade Intelectual clássica exige o 66

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Por que essa diferença? Para as patentes industriais, a descrição escrita e os desenhos são, em geral, suficientes para permitir a livre utilização da tecnologia relatada. Uma vez que a patente se extinga, torna-se legalmente possível copiar a tecnologia. A descrição da solução técnica, que possa induzir à livre cópia da solução patenteada, é um requisito essencial do sistema de patentes. No caso das variedades vegetais, não há descrição possível e a novidade pertinente é apurada quando há a disponibilidade da variedade ao público no mercado do território onde a proteção existe. Por exemplo, quando a semente começa a ser comercializada no Brasil. Na proteção das variedades vegetais, na proporção em que são excluídas da proteção as ideias, tecnologias etc., a novidade cognoscitiva é irrelevante ao equilíbrio de interesses. Desta forma, o requisito “novidade” para a Lei de Cultivares, é mais branda em comparação com a Lei n° 9.279/1996, que exige o “conhecimento intelectual” e não somente o comercial. A rigor, não exige sequer “invenção”, ou atuação humana direta para se obter a solução técnica desejada. Na lei brasileira, uma descoberta de uma semente, jamais posta no mercado, poderia — em tese — configurar a possibilidade de registro. Não há qualquer vedação para que isso aconteça no texto da lei. No entanto, Denis Barbosa afirma que: Nova cultivar, no que define a lei, será a comercialmente indisponível até a data do termo anterior ao pedido de proteção, mas entendo que, sob a Constituição, a novidade deva ser de uma criação e não de uma descoberta. Quem acha uma nova variedade no mato, não adquire dela a exclusividade. (...) embora a publicação dos elementos característicos da cultivar seja obrigação geral, nos termos da alínea anterior, não é tal publicidade que determina ou não a existência de um novo cultivar, mas a disponibilidade no mercado. Na verdade, a novidade própria das variedades vegetais resulta, de um lado, da noção de conhecimento “geral” e, de outro, do princípio da distintividade; mas, sem ofensa ao parâmetro da UPOV, pode haver completo abandono da noção intelectual de “conhecimento”, como aqui, em favor de outro critério, que é o de disponibilidade — e, precise-se, no mercado! Assim, o elemento relevante para o desenvolvimento tecnológico é a circulação da informação genética constante da própria planta, pois a simples divulgação de informação não genética sobre a planta, não permitindo a reprodução da tecnologia por todos, não fere o requisito da novidade. * Consultora de Denis Borges Barbosa, Advogados. Mestre em Direito Empresarial. Coorganizadora da obra Propriedade Intelectual na Agricultura (Del Nero, P. A. TARREGA, M. C. V e SANTOS, N.). e.mail: charlene@nbb.com.br


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